O silencioso movimento do frio de Palmas

Frio em Palmas? Sim. O App do tablet indica 21°, que para quem mora aqui pode ser sentido em uma temperatura bem menor… Estamos começando a sentir nossa neve! Só que à revelia do frio do gelo, o frio das chuvas no sertão indica para uma mudança diferente. É tempo de mudanças, é tempo de a vida aparecer e de sentimentos florescerem!

Na graciosa capital Tocantinense, no coração do Brasil, dia de chuva é dia de recolhimento. Aqui, as ruas normalmente movimentadas até o começo da madrugada cedem à calmaria com que as ruas são frequentadas nesse momento. A cidade está calma! Todos se recolhem de forma quase ritualística, como se respeitassem um rito de transformação do ambiente e de si (não há dissociar essas duas). Há aqui uma espera pelos dias que virão, onde o recolhimento e o cultivo interior são as formas mais festivas de sentinela. A paisagem urbana está a beira da transformação com as oscilações entre temperaturas quentes e menos quentes, com um clima, agora, bem mais úmido.

Os nossos hábitos, próprios de dias quentes, começam a pedir descanso e por mais que nos demandem as mesmas rotinas, o cotidiano não consegue se manter na mesmice. Há com nosso frio uma necessidade primária de proteção e aconchego, de reclusão. A baixa da temperatura que sente o corpo emana também de uma necessidade de receber energia e calor, características que estamos habituados a distribuir.

Sem perceber, começamos um movimento que indica uma necessidade de reflexão, de imersão em nossas casas, relacionamentos e em nós mesmos. Vem de nós um dado medo de que a vida não seja eternamente solitária, como são características dos dias frios, e ainda que reclusos, cada um em sua casa, estamos juntos pela necessidade de vida social. É a partir de agora que todo esse movimento íntimo se prepara para ver a sorrir a cidade que por meses ficou sedenta.

Aqui a grama que recobre parte dos canteiros das avenidas, praças e logradouros começam a mostrar o verde que expressa vida. A paisagem cheia de preto-asfalto e cinza-concreto começa a deixar a companhia do amarelo-palha e tem consigo a intensidade do verde-grama. A Serra que em sua grandiosidade nos protege, começa a muitas vezes se esconder em meio ao nevoeiro como se dissesse “não olhem pra mim, olhe pra vocês”. A beleza citadina nos dias de chuva começa a ser mais graciosa do que grandiosa. Não é que ambiência do frio seja melhor do que a paisagem dos dias de calor, mas mostra as transformações dos lugares, dos homens e da vida. E nós nas noites frias, reclusos, introspectos e às vezes apenas preguiçosos, estamos unidos pela epifania da transformação.

O frio envolve nossa pele e desperta novos pensamentos, sentimentos, ações e percepções sobre o mundo. Não há ser humano, especialmente em Palmas, que não o sinta, que não demande com ele a necessidade primária de proteção. O frio, corporalmente, aproxima pessoas próximas e afasta pessoas distantes, no entanto ele nos une em nossa humanidade e une mostra quão os vários aspectos de nossa vida são integrados. Num movimento possivelmente harmoniosos mudam-se nossos hábitos, nossa movimentação e nossa ambiente. O frio há de nos unir, até porque mesmo em períodos frios, haverá dias quentes, ou podemos deixar quentes os dias.