Muito se tem debatido acerca do tema Medicalização e Uso de Psicofármacos, e após pesquisa foi possível encontrar diversos textos que abarcam o assunto e trazem críticas pertinentes ao campo da saúde mental. A banalização dos psicofármacos evidenciou-se na contemporaneidade, no qual a felicidade é vendida em embalagens plastificadas e coloridas, com rótulo vermelho ou preto, que são fortemente reforçadas pela sociedade capitalista que lhe impõem o modelo de normalidade, que busca transformá-los em indivíduos domesticados para consumir e aprisionar no padrão pré-estabelecido. Reduzimo-nos ao neurobiológico, deixamos de ser indivíduos biopsicossociais e tornamo-nos bipolares, depressivos, neuróticos, e outros. E, para transtornos/doenças, medicam-se remédios.
O problema reside na prescrição indiscriminada e precoce de medicamentos para soluções rápidas de patologias ou de sentimentos que por nós são vistos como “ruins” e esquecemo-nos de que faz parte do processo natural do homo sapiens, de sentir e viver.E quando o remédio torna-se ou produz o problema? Ora, sua principal função é solucionar os males que ameaçam nosso organismo a nível psico-biológico. Estamos marcados constantemente pela terrível ideiado adoecer, o que consequentemente ocasiona o uso abusivo de medicamentos.
Na geração em que vivemos, no qual os transtornos psíquicos são diagnosticados indiscriminadamente, tendemos a fazer uso dos psicofármacos de maneira abusiva, podendo assim, chamá-los literalmente de drogas.Conforme explicitado por Oliveira (2013) necessitamos “entender até que ponto a vida humana deixa de ser natural e passa a ser controlada por substâncias que prometem uma paz e um conforto que acaba em questão de horas, caso a medicação não seja novamente administrada”.
A promessa de findar nossos problemas através de medicamentos é tentadora e somos acometidos por uma insegurança ao fim de seu efeito, partindo da lógica que nossa saúde deriva-se do efeito daquele que fizemos uso.Por outro lado, podemos concordar com o inferido pela autora quando diz que “não se pretende a abolição dos medicamentos, uma vez que é de extrema importância o uso de remédios como fator benéfico e auxiliar na qualidade de vida do indivíduo” (OLIVEIRA, 2013).
Nota-se, ainda, que as propagandas e mídias que prometem fórmulas milagrosas para combater ansiedade, insônia, hábitos indesejáveis entre uma infinidade de problemas, são inúmeras. Um exemplo pode ser encontrado em uma matéria de capa da revista veja de 2004 que promete remédios para conter esses indesejáveis problemas.
As pessoas hoje já chegam a um consultório do médico ou do psicólogo com o nome do medicamento que elas querem e que acreditam ser a solução de seus problemas. Com as indústrias farmacêuticas cada vez mais crescentes e a influência cada vez maior dos recursos da mídia que alcançam mais pessoas a cada dia,criou-se uma geração que precisa de um medicamento para todo tipo de angústia, ou seja, uma geração incapaz de suportar sofrimentos.
Em decorrência do uso indiscriminado dos psicofármacos estão sendo criados trabalhos que buscam a conscientização tanto de profissionais da saúde quanto da população em geral. Como por exemplo, na cidade do Rio de Janeiro, no ano de 2006, o programa de saúde mental da SMS/ Rio de Janeiro que tem como objetivo o uso racional dos benzodiazepínicos.
Vale citar, também, o quanto é corriqueiro encontrar diversos pressupostos críticos, inclusive, relativo ao DSM V (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos mentais), que se encontra na 5° edição. É interessante evidenciar que nesse manual estão listados os diversos transtornos psicológicos e suas sintomatologias, objetivando uniformizar a linguagem utilizada no que tange à classificação das perturbações mentais.
O DSM teve um papel importante ao tornar a linguagem referente à classificação dos transtornos mentais consensuais, a princípio nos Estados Unidos e, por consequente, em outros países. No decorrer dos tempos ocorreram mudanças, pertinentes ao contexto histórico e transformações sociais, termos foram modificados ou retirados e diversas patologias pertinentes aos comportamentos foram acrescidas.
Os conflitos fundamentam-se no fato de comportamentos até então tido como “normais” tornarem-se patológicos e, por conseguinte, ser necessário o uso de psicofármacos. Nesse ínterim, questiona-se sobre o lobby da indústria farmacêutica que tem interesse nesse processo por ter um aumento na demanda do uso de medicações; há uma preocupação dos profissionais que trabalham com enfoque na Saúde Mental, em relação ao limite de enquadramento de comportamentos sendo anormal ou desviante, ocasionando assim, um aumento exacerbado no que é considerado transtorno. De acordo com (Martins, 1999) citado por (Burkle, 2009) qualquer sinal de dor é vista como ultrajante e, portanto, devendo ser aniquilado; qualquer diferença em relação a um ideal é vista como um desvio, um distanciamento maior, e insuportável, da perfeição colimada, devendo ser ‘corrigida’.
A título de exemplo do uso exacerbado de medicamentos, tem-se o pressuposto do sofrimento ocasionado pelo luto,um conflito pertinente à vida,ser diagnosticado como transtorno.A princípio o luto passa por diversos processos de elaboração de acordo com diversos estudiosos.Não há consenso com relação à sua duração, mas a partir dos comportamentos desencadeados é que se observa a necessidade ou não de uma atenção especializada, e o que preconiza o DSM V, é que a partir de três meses de sofrimento já se torne patológico. Segundo (Zisook; Shear, 2009), referenciado por (Manfrinato, 2011), o processo de reorganização do luto acontece de diferentes modos e intensidades a depender da pessoa e da cultura a qual ela pertence, não é apenas “aprender como” se separar da pessoa falecida; é também procurar maneiras novas de manter o laço que existia.
No que se referem aos benefícios do uso desses recursos bioquímicos, estes não isentam os efeitos colaterais, como dependências químicas, físicas bem como psicológicas. O que verifica é que os psicofármacos ora podem ajudar, ora atrapalhar as pessoas que necessitam fazer uso desse tipo de remédio. Logo, tudo dependerá de cada caso, tanto a necessidade do uso, bem como sua dosagem, ou seja, cada pessoa é um ser individual e traz consigo uma situação especifica.
Por fim, cabe ressaltar que há quem aprecie os efeitos dos psicofármacos e não leve tão em conta seus efeitos colaterais, o que seria importante, tendo em vista que o uso destes podem tanto ajudar como atrapalhar na recuperação de quem faz seu uso. É de grande valia levar em consideração se os diagnósticos foram feitos de maneira adequada e precisa, assim como se as prescrições dessas substâncias foram de maneira correta e ilesa. Devemos colocar na balança: o risco versus o benefício.