Promovendo Práticas Ambientais nas Escolas: Superando os Desafios em Busca da Conscientização.

Qual é o papel da escola no contexto das práticas ambientais e como ela pode contribuir para a conscientização ambiental dos alunos?

Por Rosiane Alves (pedagoga) – rosianerosalina03@gmail.com

O uso desmedido e inconsciente dos recursos naturais, bem como a poluição ambiental, vem ocasionando mudanças drásticas no meio ambiente. Sérios problemas podem levar à extinção de todas as espécies, incluindo a espécie humana. A questão é que a conscientização da preservação ambiental tornou-se uma preocupação quando o problema já havia se instalado de maneira expansiva. E para iniciar a conscientização, seria necessário uma reeducação quanto aos valores e hábitos, o que se torna ainda mais desafiador, uma vez que vivemos em uma era consumista, na qual, a cada momento, os objetos se tornam substituíveis, impulsionando o consumismo e a disputa pela igualdade e equiparação na obtenção de bens.

O crescimento das grandes metrópoles, indústrias, o desmatamento ilegal em grandes dimensões, o aumento da atividade agropecuária, e as plantações, todos esses são fatores agravantes e altamente lesivos ao planeta. No entanto, são justamente essas as atividades que vêm gerando riquezas e faturamento para as nações. Isso nos leva a refletir mais uma vez acerca de valores e princípios, pois a cultura humana foi ensinada a disputar, ser melhor que o outro em termos financeiros, e a perceberem que nunca estão satisfeitos, querendo sempre mais, mesmo que isso, inconscientemente, custe a extinção de outras espécies e até mesmo a própria vida.

Para Medina et al. (2011, p.33),

“o que cabe dizer é que o humano não possui, nos  padrões éticos tradicionais, qualquer responsabilidade ética com relação a um ente natural: árvore, alga, pássaro, cervo, mar.”

Nossos valores morais estão diretamente ligados às nossas vivências e aprendizados ao longo da vida. A construção dos nossos princípios se iniciou no nosso lar, e, infelizmente, a Educação Ambiental não era uma pauta nas gerações passadas, nem mesmo nas escolas. Isso se deve à errônea e equivocada percepção de que os recursos naturais são finitos e de que o planeta suportaria tantas agressões.

                                                                                                                                          Fonte: Freepik/fotos

 

Para Santos et al (2022, p.9)

” O grande aumento nos níveis de gases poluentes lançados na atmosfera em grande parte, é devido à produção industrial mundial relacionada aos hábitos de consumo da sociedade humana. O aquecimento global e seus sinais, tais como a redução da água doce, constantes secas e inundações ao redor do mundo tem preocupado os cientistas, surgindo consequências difíceis de serem revertidas se mudanças socioambientais significativas não forem feitas. Não há tempo para irresponsabilidade, é preciso um comprometimento coletivo, população e governo trabalhando juntos na construção de políticas, programas de conscientização e (re)educação ambiental.”

Para minimizar os impactos ambientais, foram criadas políticas públicas, como programas de conscientização para a preservação do planeta. No entanto, essa abordagem surgiu tardiamente na educação. A efetividade da educação ambiental requer que todo o corpo escolar se reeduque em práticas ambientais saudáveis, estudando, vivenciando, aprendendo para, posteriormente, ensinar. Conforme WULF (2021), mais importantes são “as leis não escritas” do comportamento moral que são executadas em contextos e práticas sociais.

A Educação Ambiental surge como uma ferramenta de transformação do paradigma social. No entanto, com ela vêm os desafios, pois, para ser efetiva, é necessário o comprometimento de colocar em prática, não apenas teoricamente. Quando falamos em agir, são necessários recursos e, principalmente, mentes abertas e dispostas a trabalhar para mudar concepções já estabelecidas.

A escola tem o papel de transformar mentes, que, por sua vez, transformam a realidade. Criar projetos que vão além dos muros da escola, impactando a realidade do aluno, do seu lar, bairro e podendo ir muito mais além, é fundamental. Esses projetos têm o potencial de impactar a sociedade em que o aluno está inserido. Além das leis e projetos, a escola tem um papel que exige tanto empenho quanto elevar vozes e ações daqueles que antes eram considerados coadjuvantes. Hoje, os alunos são protagonistas e devem discutir e solucionar problemas do seu próprio meio social.

Não há como mudar o mundo se não houver mudança em si mesmo. Levantar discussões e reflexões sobre a necessidade de mudar o próprio contexto para mudar o do próximo é essencial. Atualmente, vivemos na chamada era digital, uma geração tecnológica, imediatista e altamente consumista. A escola é desafiada a se adequar a essa nova realidade e usar a tecnologia como aliada para engajar jovens e crianças na criação de ideias e projetos para o bem comum. É importante desmistificar a ideia de que só devemos falar em Educação Ambiental em datas comemorativas, como o Dia da Água e o Dia da Árvore, por exemplo.

Observamos que os papéis estão se invertendo, e os filhos têm alertado os pais quanto às mudanças de hábitos, sendo a escola um dos fatores que tem motivado essa transformação. Pequenos hábitos, como fechar a torneira na hora da escovação, fechar o chuveiro na hora de ensaboar, o inofensivo papel de balinha jogado no chão, e atentar às luzes acesas sem necessidade, são pequenas atitudes que podem gerar impactos positivos, minimizando os danos causados e evitando a expansão dos mesmos.

                                                                                                                            Fonte: guiainfantil.com

Quando falamos em pais e filhos, trabalho e conscientização em conjunto, imediatamente nos remete à herança, e quando falamos de herança, não nos referimos somente à financeira, mas sim à herança de valores. Em que estado deixaremos o planeta para as futuras gerações? O que nos leva a refletir sobre respeito e empatia em relação aos que vêm depois de nós. Repensar os hábitos e valores não é apenas por si mesmo, não é só pelo hoje, mas pensando no amanhã. É sobre empatia, é sobre respeitar e amar quem vem depois.

É importante não nos esquecermos dos outros seres que estão deixando de existir pela ação de um ser que se acha supremo e no direito de destruir o lar de todos e de si mesmo, por pensar de maneira egoísta e mesquinha, esquecendo-se de que fazem parte do mesmo ecossistema e que ambos sobrevivem dos mesmos recursos naturais. Se não houver um equilíbrio entre as espécies, todas estarão correndo o risco de serem extintas. A escola também tem esse papel de conscientização quanto à ética, respeito e empatia pelo outro, orientando-os sobre a importância de cada espécie para o equilíbrio do ecossistema.

A Educação Ambiental no Brasil tem raízes históricas, sendo impulsionada por movimentos sociais e ambientalistas a partir da década de 1970. O país viu um marco significativo com a Política Nacional de Meio Ambiente em 1981, que destacou a importância da Educação Ambiental. Em 1992, foi criado o Ministério do Meio Ambiente pelo Governo Federal, e no mesmo ano, o Brasil sediou a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, conhecida como a Rio 92. Esse evento foi de grande relevância para as discussões ambientais no Brasil, resultando em documentos importantes, como o Protocolo de Florestas, a Carta da Terra e a Convenção da Diversidade Biológica, entre outros. A Rio 92 abriu caminhos para a criação de leis e documentos voltados para a Educação Ambiental no Brasil.

Em paralelo à Rio 92, o Fórum Global estabeleceu o Tratado de Educação Ambiental para Sociedades Sustentáveis, traçando o marco político para o projeto pedagógico da Educação Ambiental. Segundo Branco et al. (2018), esse tratado está na base da formação da Rede Brasileira de Educação Ambiental, bem como das diversas redes estaduais que formam uma grande articulação de entidades não governamentais, escolas, universidades e pessoas que buscam fortalecer as diferentes ações, atividades, programas e políticas em Educação Ambiental. Em 1996, foi criada a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, reforçando esse compromisso e exigindo a inclusão da temática nos currículos escolares.

No entanto, apesar dos avanços normativos, desafios persistem na implementação efetiva, incluindo a capacitação de professores e a integração da Educação Ambiental de maneira transversal nos diversos níveis de ensino. Um dos maiores desafios enfrentados pelos professores em relação à implementação da EA em sala de aula é a necessidade de integração efetiva dos princípios ambientais em diferentes disciplinas, tornando-a assim uma abordagem transversal. Isso demanda não só conhecimento especializado por parte dos educadores, mas também a habilidade de conectar conceitos ambientais como conteúdo curricular, promovendo uma aprendizagem significativa para os alunos. Além disso, a falta de recursos e materiais específicos pode ser uma barreira, exigindo criatividade e adaptação por parte dos professores.

“A Educação Ambiental não deve apenas informar, deve transformar” (FREIRE, Paulo, 1992). Ao promover a compreensão dos impactos das ações humanas na natureza, a Educação Ambiental busca cultivar atitudes sustentáveis e a responsabilidade coletiva pela preservação do planeta. Essa conscientização é fundamental para enfrentar desafios ambientais, como mudanças climáticas e perda da biodiversidade, construindo sociedades mais equilibradas, resilientes e empáticas, preservando hoje para garantir o futuro saudável das gerações do amanhã. Não é apenas sobre um, mas sobre todas as espécies.

REFERÊNCIAS:

BRANCO, Emerson Pereira; ROYER, Márcia Regina; BRANCO, Alessandra Batista de Godoi. A Abordagem da Educação Ambiental nos PCN’S, nas DCNs e na BNCC. Nuances, Estudos sobre a Educação. Presidente Prudente, São Paulo. 2018. p. 185- 203 v.1

FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia. Paz e Terra, São Paulo. 1996.

MEDINA, Patrícia. OLIVEIRA, Gustavo Paschoal Teixeira de Castro. MESQUITA, Marcia. BARROS, Graciela Maria. Princípios vida e responsabilidade: o agir humano na contemporaneidade a partir das ideias de Hans Jonas. Revista ESMAT v. 9, n.12, pp. 51-74. 2017.

WULF, Christoph. Educação como Conhecimento do Ser Humano na Era do Antropoceno: uma perspectiva antropológica. Cortez Editora. São Paulo. 2021