Sobre gordura, maconha e cenouras

O texto “Histérica e Magérrima” de Hudson Eygo, publicado no EnCena, sobre a questão da forma como lidamos com a gordura é fantástico. Instiga o debate e a reflexão sobre a vida. Eu acho que, de fato, a gordura no corpo é desprezada. Mas, ao mesmo tempo, ela é muito disseminada. Na culinária é bastante usada e na publicidade lhe é criada uma aura de delícia; basta ver as fotos de filés, o uso de manteigas, margarinas e óleos diversos, além de outros alimentos constituídos também por ela; por esses motivos e por que é boa mesmo, tanto no sabor quanto para o uso do próprio corpo, que acho que ela, antes de ser menosprezada quando depositada no corpo, é tão badalada; se não fossem as gorduras, mulher nenhuma teria a beleza das curvas do corpo. Junto à aura de delícia tem a aura de prejudicial, nas propagandas que abominam as gorduras de maneira obsessiva, por vezes preconceituosa acerca da subjetividade de quem é ou se sente gordo e também nas propagandas burocráticas de Secretarias de Saúde. Ou seja, fica, por fim, como se fosse um fruto proibido que ninguém pode chegar perto, mas todo mundo chega, pecando ou não.

É muito parecido com o que ocorre com o uso de drogas. Por exemplo, é comum nas discussões sobre o uso de drogas, associá-las à desorganização mental e à perda da razão, ou seja, é comum associarmos as drogas à loucura e, por herança histórica associada a esse termo, ao pecado, que é, em sua gênese, o acesso ao fruto proibido. De forma bem resumida e grosseira resumo que o meu envolvimento como psicólogo com relação às drogas é permeado de, ainda, um receio de falar sobre o tema e tabus quase que mitológicos sobre o tema; completaria ainda com uma ideia que escuto muito no meio da psicologia: a loucura ocasionada pela droga é uma loucura diferente da ocasionada pelas doenças mentais e que, pra essa loucura das drogas, o psicólogo é quase impotente e que sem uma medicação (outra droga) a pessoa não vai “melhorar”.

Pouco discutimos acerca do fato de que costurar ou implantar elementos técnico-terapêuticos no milenar uso que o homem faz de drogas é muito difícil; pouco discutimos acerca do fato de que algumas drogas lícitas possuem efeitos colaterais danosos; pouco falamos sobre o absurdo que é um governo, seja ele qual for, monopolizar o acesso e o cultivo de uma planta, seja ela qual for, como o é com a Canabis Sativa e a Canabis Indica, duas espécies da maconha. Sinto que filosoficamente encontro-me, na minha profissão, num estado embrionário de análise com relação a essa temática sempre empolgante. Já identifico que, em nosso cotidiano profissional, devemos esclarecer acerca de que drogas falamos, quando delas falarmos, pois uma coisa é falar de cafeína, outra de maconha e outra bem diferente sobre sertralina, todas pareadas no grupo das drogas, mas cada uma com seus próprios gêneros e espécies, cada qual com seus receptores cerebrais e princípios ativos.

Portanto, eu gostaria de falar, aqui nesse espaço, sobre a maconha, lembrando que estava falando sobre gordura e cheguei na conclusão de que a forma como temos convivido com ela parece com a forma como convivendo estamos com as drogas. Daí a necessidade de falar mais sobre as drogas para então falar sobre a gordura.

Descobri coisas fantásticas sobre a maconha. Primeiramente que se trata de uma espécie de planta da divisão Magnoliophyta e da ordem das Rosales. Com isso vemos que, como qualquer coisa viva nesse planeta, as espécies do gênero Cannabis possuem uma família. A maconha faz parte da mesma ordem das rosas, flores que, juntamente com as magnólias, dividem o posto de primeiras flores que surgiram no planeta, de acordo com o Instituto Ciência Hoje (conforme o próprio site “é uma sociedade civil sem fins lucrativos responsável por uma série de publicações e projetos de divulgação científica e por um programa inovador de apoio à educação em ciências.” (http://cienciahoje.uol.com.br/instituto-ch). Isso liga a erva a um tempo em que nem se precisava discutir a questão do cuidado ao planeta, o homem ainda não tinha descoberto o seu devir-câncer na Terra. Ou seja, controlar de forma governamental o plantio e o uso dessa planta é, como dito acima, um absurdo.

Outra coisa interessante é que a maconha consta como planta medicinal na enciclopédia de plantas intitulada Pen Ts’ao Ching do Imperador Shen Nung, considerado o Pai da Agricultura e da Medicina na China, de acordo com o sítio do Bihrmann’s Caudicifoms no endereçohttp://www.bihrmann.com//. Ou seja, há um acúmulo de conhecimento milenar sobre essa droga e ligá-la de forma hegemônica aos males modernos como a violência e a desordem mental é, no mínimo, ignorância. Logicamente que os fatores envolvidos à proibição da posse de uma planta, seja ela qual for, certamente ultrapassa a falta de informação e, certamente também, deve englobar fatores econômicos, sociais, todos eles políticos.

O aproveitamento da maconha vai muito além de seus efeitos psicoativos. Sua ligação com a sustentabilidade é incrível. De acordo com o site “Planeta Maconha”, acessado pelo endereçohttp://www.planetamaconha.com/2011/11/maconha-sustentabilidade-e-economia.html, a maconha é uma ótima alternativa contra o desmatamento de matas, pois produz, no mesmo espaço, uma quantidade quatro vezes maior de papel que uma plantação de eucaliptos. A fibra da maconha, chamada cânhamo, é usada para produzir um “material semelhante á fibra de carbono, porém mais leve, o que reduziria o peso dos carros, proporcionando menor esforço do motor e, consequentemente, menor gasto de combustível fóssil.” Além disso: “O Cânhamo também pode produzir biocombustíveis, menos poluentes e muito mais baratos, pois sua queima não produz resíduos, é renovável e não contribui na formação de chuva ácida.” O site ainda aponta a importância do cânhamo para a indústria têxtil na produção de uma fibra mais resistente que o algodão, podendo ser usada na confecção de lonas, cordas e jeans.

André Barros e Marta Peres, no texto “Proibição da maconha no Brasil e suas raízes escravocratas”, publicado na Revista Periferia, no segundo número de seu terceiro volume, afirmam que os 135 primeiros exemplares da Bíblia, impressos por Gutemberg, foram impressos com cânhamo. Além disso, as telas usadas por muitos artistas do movimento Renascentista europeu eram feitas da mesma fibra bem como as velas e cordas necessárias para a expansão européia ao Novo Mundo.

Incluindo velame, cordas e outros materiais, havia 80 toneladas de cânhamo no barco comandado por Cristóvão Colombo, em 1496 (Robinson, 1999). O cultivo de cânhamo em terras lusas tornou-se massivo à época das Grandes Descobertas, pois fornecia o material das embarcações portuguesas. Decreto do rei D. João V, de 1656, comprova que o incentivo à produção de maconha era uma política de Estado.(Barros e Peres, s/d, s/p).

Os mesmos autores, ao tratarem sobre a criminalização da maconha, expõem que o Brasil foi

(…) o primeiro país do mundo a editar uma lei contra a maconha: em 4 de outubro de 1830, a Câmara Municipal do Rio de Janeiro penalizava o `pito de pango`, denominação da maconha, no § 7º da postura que regulamentava a venda de gêneros e remédios pelos boticários: “É proibida a venda e o uso do pito do pango, bem como a conservação dele em casas públicas. Os contraventores serão multados, a saber: o vendedor em 20$000, e os escravos e mais pessoas, que dele usarem, em três dias de cadeia.” (Mott in Henman e Pessoa Jr., 1986). Barros e Peres, s/d, sem página.

O dado fornecido por Barros e Peres é divergente com o dado exposto pelo jornalista Tarso Araújo, em seu trabalho “Drogas: proibir é legal?”. Para este, quem primeiramente proibiu a maconha foi Napoleão, em 1789, na conquista do Egito, como forma de interromper o fornecimento do cânhamo para a inimiga Inglaterra fazer seus barcos, velas e cordas, ou seja, para enfraquecer o poderio militar da ilha. Para Araújo, a proibição

(…) saiu pela culatra. Os egípcios ignoraram a lei e continuaram fumando como sempre fizeram. Em compensação, os europeus ouviram falar da droga e ela rapidamente virou moda na Europa, principalmente entre os intelectuais. “O haxixe está substituindo o champagne”, disse o escritor Théophile Gautier em 1845, depois da conquista da Argélia, que, na época, era outro grande consumidor de THC.

Divergências à parte, a conclusão a que Barros e Peres chegam, convincente e argumentada, é a de que a polícia no Brasil surgiu na primeira metade do século XIX com o intuito, dentre outros, de controlar as manifestações culturais dos africanos trazidos para o Brasil como escravos e de seus descendentes, dentre os quais havia o uso da maconha, ou seja, uma atitude oriunda de uma política preconceituosa, moralista e higienista.

Contudo, Elisaldo Carlini em entrevista concedida para Dráuzio Varela afirma que “(…) em 1905, a Gazeta Médica de São Paulo publicava um encarte de propaganda a respeito de cigarros de maconha importados da França: Cigarros Índios (outro nome da maconha) importados da França”. O encarte segue abaixo:

Logicamente que os cigarros importados da França para o Brasil, em 1905, não eram para uso popular e sim para elites. Notem a “bula” do cigarro. Os efeitos medicinais da maconha serão tratados ao longo desse texto.

Mesmo com as políticas repressivas, no mundo todo, o uso da maconha não foi, não é e nem será extinto. A maconha está ligada a muitas práticas sociais e culturais que são tão complexas em simbologia e promoção de relações afetivas quanto rituais das igrejas cristãs. Danilo Rabelo, em sua tese “Rastafari: identidade e hibridismo cultural na Jamaica” fala da ligação que os adeptos à religião fazem entre a maconha e a vida espiritual, entre a maconha e a paz. Bob Marley, cantor nascido jamaicano, mas ligado politicamente à Etiópia, grande difusor do Rastafari, promoveu, ao longo de sua vida, não somente músicas que promovem a paz, como também eventos pacifistas. Em junho de 1978, as Nações Unidas o condecorou com a Medalha de Paz do Terceiro Mundo, prêmio sobre o qual não achei nenhuma outra referência de outro condecorado. Nunca foi indicado ao Prêmio Nobel da Paz, o do primeiro mundo. Em 1999, a Revista Times elegeu o seu álbum EXODUS como o melhor álbum do século XX. Sua canção ONE LOVE foi eleita pela BBC (a Corporação Britânica de Radiodifusão) como a canção do milênio. Em resumo, Bob Marley era defensor da maconha e sua vida reverberou mundialmente em prol da paz; isso não é decorrência direta daquilo, mas nos serve de um claro exemplo que defender e fumar maconha não é coisa do demônio e nem de pervertidos criminosos que querem corromper as pessoas e o Estado. A maconha está mais intimamente relacionada à paz do que à guerra (que é legal e é política de Estado de qualquer estado).

Ao longo dos anos até os dias atuais, alguns mitos foram criados em torno da maconha. O site “Diário da Erva” (http://www.diariodaerva.com/2011/12/11-mitos-sobre-maconha.html) ressalta, de maneira bem didática e clara, 11 deles:

1- De que a maconha é perigosa;

2- De que é inofensiva;

3- De que ninguém nunca morreu por fumar maconha;

4- De que os efeitos de um baseado dura semanas;

5- De que maconha é causadora de acidentes de trânsito;

6- De que a maconha de hoje é mais perigosa do que a da época de nossos pais;

7- De que a maconha mata células do cérebro;

8- De que a maconha causa infertilidade e diminui a produção de testosterona;

9- De que promove mal-formação fetal;

10- De que prejudica o sistema imunológico;

11- E de que é porta de entrada para outras drogas.

Kátia Honório e Albérico da Silva, no artigo “Aspectos terapêuticos de compostos da plantaCannabis Sativa”, relatam o uso da erva no alívio dos sintomas decorrentes do tratamento de câncer, AIDS, esclerose múltipla e síndrome de Tourette. Relatam ainda sobre o uso da planta no tratamento de glaucoma por seu efeito de diminuição da pressão ocular, sendo, contudo, necessária uma dose grande da droga para os efeitos esperados. Explicam que os compostos psicoativos da maconha são chamados de canabilóides e são o Δ9-THC e o Δ8-THC. Os medicamentos Marinol e Cesamet desenvolvidos nos EUA e com uso permitido no Reino Unido são à base de canabilóides e usados para

“(…) tratamentos de quimioterapia e como estimulantes do apetite, durante processos de anorexia desenvolvidos em pacientes com síndrome da imunodeficiência adquirida (AIDS).” (p.320).

O Δ9-THC aumenta o apetite. O documentário “Dirijo”, disponível no endereço eletrônicohttp://www.youtube.com/watch?v=QgMIbL_NZXI, relata a vida de uma comunidade indígena da Amazônia que fazia uso da maconha em situações de falta de apetite e desânimo para o trabalho além de espantar mosquitos na hora da pesca e de servir como instrumento de compartilhamento coletivo em roda. O documentário relata ainda acerca da forma como a proibição chegou à tribo. O filme me passa a mensagem do quanto, a essa tribo, uma lei surgiu e modificou um hábito quiçá centenário, mas sem produção de sentido coletivo além da simples frase repetida por alguns: “o capitão mandou parar de usar”.

Quanto à dependência, a pessoa pode apresentar agitação, insônia, náusea e caimbras. De acordo com Kátia Honório e Albérico da Silva, na pesquisa citada acima, “a Cannabis não causa dependência física (como cocaína, heroína, cafeína e nicotina) e que a suspensão do uso não causa síndrome de abstinência (como o álcool e a heroína).” (p. 319).

Em entrevista concedida a Dráuzio Varela, Elisaldo Carlini revela um estudo interessante sobre a questão da dependência. Primeiramente, parece haver uma relação direta entre a dependência de maconha (não comum) e pessoas diagnosticadas com esquizofrenia, em especial as que experimentam o sintoma de embotamento afetivo. A hipótese das pesquisas diz que isso se dá, pois o uso da maconha evoca sentimentos e sensações que, no curso da esquizofrenia, essas pessoas ou perderam ou nunca acessaram. Como se vê, o tema da dependência é em si polêmico como bem fala Elisaldo Carlini:

Quanto ao problema da dependência, é importante considerar as conclusões de alguns estudos sobre o fenômeno da dependência. Pode parecer incrível, mas há trabalhos descritos na literatura sobre a dependência, por exemplo, da cenoura. As pessoas comem tanta cenoura que ficam com a pele amarelada e, por alguma razão, impedidas de comer, entram em crise de abstinência. Há também descrição de dependência, inclusive com síndrome de abstinência, entre pessoas que tomam placebo, substância inócua que não deveria causar alteração nenhuma nesse mecanismo (s/d).

Em relação à maconha, há casos registrados de dependência, mas eles não são freqüentes, se considerarmos a imensa população mundial de usuários. Além disso, comparada com outras drogas, a maconha é muito menos indutora de dependência química.

De acordo com o “Guia Prático sobre uso, abuso e Dependência de Substâncias Psicotrópicas para Educadores e Profissionais da Saúde”, organizado por Ana Cecília Petta Roselli Marques e Marcelo Ribeiro de Araújo, “Uma recente revisão da literatura não encontrou evidências acerca da existência de uma síndrome de abstinência específica para a maconha, preferindo denominar os sintomas observados de sintomas de rebote”, dentre os quais se encontram a irritabilidade, nervosismo, inquietação, insônia, cefaléia e falta de apetite.

Algo interessante é acerca de um dos recorrentes efeitos oriundo do uso da maconha como fumo: pessoas que usam maconha relatam o aguçamento dos sentidos além dos acessos de risos (que muitas pessoas insistem em descrever como um sintoma); talvez isso diga um pouco da relação que há entre a maconha e as rosas (juntamente com as magnólias): enquanto essas são, em tese, a origem primitiva das flores, aquela faz o homem acessar o seu lado mais primitivo, fluido e comunitário, pois desburocratizado do contrato social, promovendo mais desenvolvimento nessa dimensão humana. Tal dimensão é nomeada por Deleuze e Guatarri de molecular. O molecular abarca uma dimensão das relações que se conecta com a dimensão molar. A dimensão molecular é caracterizada pela flexibilidade, pelo primitivo e pelo micropolítico. Distingue-se do aspecto segmentar, duro e moderno do molar, mas coexistem, atravessam-se, sem valores morais que as distingam. De acordo com Liliana da Escóssia e Virgínia Kastrup, no artigo “O conceito de coletivo como superação da dicotomia indivíduo-sociedade”, publicado em 2005 pela revista “Psicologia em Estudo”,

Deleuze e Guattari advertem que, ao distinguir as duas séries, devem-se evitar três erros: o axiológico, que consiste em positivar a molecularização em detrimento da molarização, uma vez que as duas podem ser extremamente perigosas, como é o caso do fascismo, que se apresenta também sob a forma de microfascismo; o psicológico, que consiste em confundir molecular com individual ou interindividual e reduzir o molar ao domínio social; e finalmente, tomar o tamanho como critério de distinção e considerar a forma molecular como pequena e a molar como uma forma grande. A distinção deve ser buscada na natureza do sistema de referência a que se remetem o molar e o molecular. Isto leva a reservar as palavras “linhas” e “segmentos” para tratar da organização molar, enquanto a palavra “fluxo” passa a ser utilizada para tratar da composição molecular (p. 300).

Portanto, pode-se dizer, por aquilo do aguçamento dos sentidos e do afrouxamento do riso, que a maconha pode promover uma vida mais fluida, menos burocrática, mais criativa e mais solidária, afinal o riso é instrumento de cuidado e de afeto solidário.

Atualmente, o tema da legalização e-ou da discriminalização da maconha está em pauta no Brasil. Mas esse tema não cabe aqui a essa reflexão.

Volto agora ao tema inicial que é o valor que damos à gordura em nossa sociedade. Disse, no início, que a forma como lidamos com a gordura é semelhante à forma com que lidamos com as drogas (no caso deste artigo, refiro-me, à maconha), criando um fetiche e uma polêmica em torno de algo que se encontra na natureza em estado bruto. Por essa forma, pipocam receitas e prescrições sobre como lidar com essas coisas, as drogas, as gorduras e as cenouras também. Existem vários tipos de gorduras e pouco sabemos sobre os efeitos de cada uma delas como não o sabemos também sobre os da maconha; as gorduras movimentam muito capital, como também o faz a maconha, basta ver a quantidade de gordura que comemos nos restaurantes, em casa, nas escolas, nas prisões, na rua, nos hospitais…em todo lugar comemos gordura. A sociedade depende de gorduras. Ainda podemos contabilizar o preço de cada cirurgia de lipoaspiração para retirar a mesma gordura que comemos e a produção e comercialização de saponáceos em geral. E, em contrapartida, uma política midiática fortíssima de eudeusamente do formato esquelético, que, de qualquer maneira, gira em torno da gordura. Concordo com Hudson quando diz que

A imagem pré-concebida e difundida pelas mídias atuais é a de pessoas morbidamente gordas e depressivas. Essa imagem está embutida em minha cabeça quando penso em x-burguer ou em uma porção de batata frita, por exemplo. Não se pode mais sentir prazer em comer, assim como não existe mais felicidade, beleza e nem saúde fora de um corpo magro.

A forma que a indústria da moda arrumou para fechar a boca de suas modelos é endemoniando a gordura, da mesma forma como se faz com a maconha. Concordo ainda com Hudson quando afirma que

É fácil perceber esse movimento social em busca do corpo perfeito, basta nós nos atentarmos para o crescente número de pessoas, nas mais variadas faixas etárias, que frequentam as academias e se matam fazendo exercícios físicos, usam anabolizantes, tomam inibidores de apetite e mergulham em dietas milagrosas muitas vezes sem preparo algum, outras vezes, apoiados em dietas e na orientação profissional de pessoas que se justificam na ciência ao proclamar: Abaixo ao gordo!

E, se no papel a gordura é legalizada, na prática há a tendência (mesmo que remota) de se tornar algo proibido e controlado, da mesma maneira como ocorreu com a maconha, o que seria mais um dos absurdos inventados pelo homem. Para encerrar, deixo aqui minha singela opinião: legalize já, a gordura, a maconha, a reflexão, a educação e as cenouras.

Referências:

BARROS, André e PERES, Marta. Proibição da maconha no Brasil e suas raízes escravocratas, in Revista Periferia, número dois, volume III, s/d.

ARAÚJO, Tarso. Drogas: proibir é legal? Será que a legalização das drogas pode acabar com o ciclo de tráfico e violência que afeta a todos?, in Super Interessante, outubro de 2007.

ESCÓSSIA, Liliana e KASTRUO, Virgínia. O conceito de coletivo como superação da dicotomia indivíduo-sociedade, in Psicologia em Estudo, Maringá, v 10, n 2, p. 295-304, mai./ago, 2005.

HONÓRIO, K. Et al. Aspectos terapêuticos de compostos da planta Cannabis sativa.Química Nova, vol. 29, n.2, 2006. p.318-325.

MARQUES, ACPR & RIBEIRO, M. Guia prático sobre uso, abuso e dependência de substâncias psicotrópicas para educadores e profissionais da saúde. Prefeitura da Cidade de São Paulo, Secretaria Municipal de Participação e Conselho Municipal de Políticas Públicas de Drogas e Álcool de São Paulo – COMUDA, 2006.

RABELO, Danilo. Rastafari: identidade e hibridismo cultural na Jamaica, 1930-1981. 2006. 119 f. Tese (Doutorado em História)-Universidade de Brasília, Brasília, 2006.

Saiba mais:
Entrevista de Elisaldo Carlini a Dráuzio Varela: http://drauziovarella.com.br/dependencia-quimica/maconha/