Um olhar sobre as grandes áreas da Psicologia

Psicologia Clínica

Originalmente fazer clínica ou clinicar referia-se em o médico se debruçar sobre a cabeceira do leito do paciente, fazendo uso da observação, atentava-se para um quadro de sintomas, classificando-os. A origem da palavra clínica vem do grego kliné, significa leito, cama, denotando a postura do profissional de examinar “as manifestações da doença para fazer um diagnóstico, um prognóstico e prescrever um tratamento” (DORON; PAROT, 1998, pp.144-145 apud MOREIRA; ROMAGNOLI; NEVES, 2007, p. 610).,

O modelo clínico modificou-se ao longo dos séculos, com contribuições de importantes de teóricos, dentro os quais se destacam Sigmund Freud, visto que este introduziu o termo psicologia clínica; Freud escreveu uma carta no ano de 1899 endereçado a Fleus, na qual se utilizou do termo pela primeira vez (MOREIRA; ROMAGNOLI; NEVES, 2007).

Tradicionalmente a clínica consistia em uma psicoterapia individual, limitada ao consultório, mas foi se desconstruindo devido à necessidade do papel social, como também da valorização do olhar biopsicossocial ao sujeito, a clínica inseriu-se na rede pública e em outros cenários, sendo agora extramuros.

Moreira, Romagnoli e Neves (2007, p. 615.) evidencia que:

Dessa forma, o contexto social passou a adentrar os consultórios de forma a convocar os psicólogos a saírem dele, ou seja, para responder às novas formas de subjetivação e de adoecimento psíquico, o psicólogo deveria compreender a realidade local. A Psicologia “tradicional” é “obrigada” a se redesenhar, tornando-se mais crítica e engajada socialmente.

Nesse novo cenário a clínica busca ressignificar o “fazer” psicologia através de práticas como: grupo terapêutico, visitas institucionais, trabalho em rede, prática que possibilita a avaliação e um diagnóstico diferencial da situação e da história do sujeito, buscando um atendimento clínico integral e a superação do sofrimento psíquico.

Moreira, Romagnoli e Neves (2007) ao citar Figueiredo (1996), salientam que a psicologia clínica não se caracteriza pela sala, pelo espaço físico, e sim pela forma de escuta e da acolhida que oferece ao sujeito, “a escuta e a acolhida do excluído do discurso. Portanto, ser psicólogo clínico implica determinada postura diante do outro” (2007, p. 617).

Assinala-se, portanto, que a clínica vai muito além do consultório, da psicoterapia individual, se faz presente em hospitais, serviços públicos, enfim, em ambientes fora do contexto clínico instigando a prevenção e promoção de saúde.

 

Psicologia Hospitalar

A psicologia hospitalar no Brasil é datada desde os anos 50, mas somente no final da década de 80, que a mesma passa a ser uma especialidade, se concretizando em dezembro de 2000, quando o Conselho Federal de Psicologia promulgou a Resolução nº 014 (ROSA, 2005).

Rosa (2005) apresenta as atribuições que são funções do psicólogo especialista em Psicologia Hospitalar, o CFP (2001)aponta seis importantes tarefas, sendo elas:

1)atuar em instituições de saúde de nível secundário ou terciário;

2) atuar em instituições de ensino superior ou centros de estudo e de pesquisa voltado para o aperfeiçoamento de profissionais ligados à sua área de atuação;

3) atender a pacientes, familiares, comunidade, equipe, e instituiçãovisando o bem estar físico e mental do paciente;

4) atender a pacientes clínicos ou cirúrgicos, nas diferentes especialidades médicas;

5) realizar avaliação e acompanhamento em diferentes níveis do tratamento para promover e ou recuperar saúde física e mental do paciente; e

6) intervir quando necessário na relação do paciente com a equipe, a família, os demais pacientes, a doença e a hospitalização (ROSA, 2005, p. 12).

Quando se fala de psicologia hospitalar, remete-se ao trabalho do profissional psicólogo no âmbito da saúde privada ou pública, no que se refere a hospitais públicos, vale ressaltar que política que gere os mesmos no Brasil, é o Sistema Único de Saúde (SUS), este, porém é um sistema falho, não garante o que suas diretrizes e princípios idealizam, sendo um ideal utópico (MATTOS, 2009). Sendo assim, com o intuito de “melhorar” o trabalho nesse cenário, o Programa Nacional de Humanização da Assistência Hospitalar (PNHAH) foi proposto, como uma medida para lidar, tratar com os “erros” do SUS (BRASIL – MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2001).

A PNHAH tem por objetivo, de forma mais ampla, a produção da saúde e produção do Sujeito (Brasil – Ministério da Saúde, 2004, p. 7), para isso decide “aumentar o grau de co-responsabilidade dos diferentes atores que constituem a rede SUS”.

Ressalta ainda que a produção da saúde incida sobre a Mudança na cultura da atenção dos usuários e da gestão dos processos de trabalho implica mudança na cultura da atenção dos usuários e da gestão dos processos de trabalho. Tomar a saúde como valor de uso é ter como padrão na atenção o vínculo com os usuários, é garantir os direitos dos usuários e seus familiares, é estimular a que eles se coloquem como atores do sistema de saúde por meio de sua ação de controle social, mas é também ter melhores condições para que os profissionais efetuem seu trabalho de modo digno e criador de novas ações e que possam participar como co-gestores de seu processo de trabalho (BRASIL – MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2004, p. 7).

A proposta da humanização é mais que resolver problemas interpessoais, vai além, atenta-se para a “produção de uma grupalidade que sustente construções coletivas, que suponha mudança pelos encontros entre seus componentes” (BRASIL – MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2004, p. 8).

Nesse ínterim Rosa (2005) afirma que o papel do psicólogo hospitalar é de suporte, oferece a escuta especializada, acolhe o sujeito em seu sofrimento, almejando à minimização do sofrimento causado pela descoberta da doença, o tratamento e a hospitalização. O profissional auxilia ainda, os familiares e presta assistência à equipe médica. Desta forma, enquanto a medicina volta-se para cura da patologia, a psicologia hospitalar procura a ressignificação do sujeito frente à doença.

 


Psicologia Organizacional

Essa área da psicologia é marcada pela competitividade no mercado de trabalho, no entanto, muitos profissionais não buscam ocupar as vagas nesse cenário. Braga Filho (2003) aponta que isso ocorre devido a pouca qualificação que a graduação proporciona, fomentando a insegurança, ao adentrar a organização o psicólogo não desempenha a função que lhe foi atribuída, pois não compreende com clareza seu papel nas organizações.

O profissional psicólogo desta área tem por função: realizar avaliações psicológicas, descriminar cargo, faz pesquisa de clima da instituição, promove a integração dos colaboradores, faz treinamento da equipe profissional, como também acompanhamento, realiza intervenção e encaminhamentos e ainda processos seletivos, sendo seu público alvo os profissionais da instituição.

Pereira (2008), afirma que a atuação do psicólogo está voltada eminentemente para a seleção, treinamento e recrutamento de pessoas. Por tanto, busca-se superar esse entrave, mas por falta de clareza do real papel do profissional na instituição, o modelo tradicional supracitado é o mais recorrente.
No que tange as dificuldades, observa-se que estão relacionadas à formação, a pouca experiência profissional, consiste também na carga horária exaustiva. Braga Filho (2003) aponta que o psicólogo que desempenha sua função em um R. H. não deve trabalhar sozinho, o mesmo necessita de uma equipe que lhe forneça suporte, sendo então possível a partir desse trabalho em equipe colaborar de forma significativa no desenvolvimento da instituição.

 

REFERÊNCIAS

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Assistência à Saúde. Programa Nacional de Humanização da Assistência Hospitalar. Brasília, 2001. Acesso em: 08 de outubro de 2015.

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria-Executiva. Núcleo Técnico da Política Nacional de Humanização. HumanizaSUS: Política Nacional de Humanização: a humanização como eixo norteador das práticas de atenção e gestão em todas as instâncias do SUS / Ministério da Saúde, SecretariaExecutiva, Núcleo Técnico da Política Nacional de Humanização. – Brasília: Ministério da Saúde, 2004. Disponível em: <http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/humanizasus_2004.pdf>. Acesso em: 08 de outubro de 2015.

BRAGA FILHO, A. P. Docente da UFSCS. O papel do psicólogo nas organizações do Município de Varginha MG.72f. Dissertação (mestrado em engenharia de Produção) Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção, 2003.

MATTOS, R. A. Princípios do Sistema Único de Saúde (SUS) e a humanização das práticas de saúde. Interface- Comunicação, Saúde, Educação. Vol (03), Rio de Janeiro, p. 1-9, 2009.

MOREIRA, J. O. ; ROMAGNOLI, R. C.; NEVES, E. O. O surgimento da clínica psicológica: da prática curativa aos dispositivos de promoção da saúde. Psicologia ciência e profissão,  Brasília,  v. 27, n. 4, p. 608- 621, dec. 2007.

PEREIRA, A. S. Práxis da psicologia organizacional: atuação do psicólogo organizacional na cidade de Terezina-PI. Universidade Estadual do Piauí-UESPI, p. 1-10, 2008.

OLIVEIRA, A. 50% – Um equilíbrio entre a Vida e a Doença. [S.I.]: (En)Cena- Saúde Mental em Movimento, 2014. Disponível em: <http://ulbra-to.br/encena/2014/07/28/50-Um-equilibrio-entre-a-Vida-e-a-Doenca>. Acesso em: 05 de outubro de 2015.

ROSA, A. M. T. Docente da UFRGS: Competências e habilidades em psicologia hospitalar.Dissertação (Mestrado em psicologia)- Instituto de Psicologia, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Rio Grande do Sul, 2005.

SOUZA et al.O papel da visita técnica na educação profissional: estudo de casono campus Araguatins do instituto federal do Tocantins. Ciência, tecnologia e inovação: ações sustentáveis para o desenvolvimento Regional, In:VII CONNEPI- Congresso Norte Nordeste de Pesquisa e Inovação, Palmas, Tocantins, p. 1-5, out. 2012.