Morte real

Era sexta-feira à noite, como qualquer outra, na saída de uma pizzaria em Palmas. Pai, mãe, um garoto de sete e uma menina de dois anos: trata-se de uma família que se divertiu com uma pizza frugal. Seu destino imediato é o carro há aproximadamente cinqüenta metros da porta do comércio. O pai caminhava devagar, comia um picolé comprado na saída do restaurante. Desejava apenas terminar a sobremesa antes de entrar no carro. A mãe segurava a mão da menina em passos lentos devido às pernas curtas da criança. O garoto falava de jogos eletrônicos ao pai.

Enquanto caminhavam, quase num passeio, o pai encarou um homem suspeito do outro lado do estacionamento. Seu coração acelerou e suas mãos começaram a suar frio. Uma grande tensão se estabeleceu. O homem de olhos escuros, com barba por fazer, vestia-se de forma simples, trajava bermuda, camiseta, chinelos e boné. O olhar era duro, fixo e acompanhava o pai com a família na forma de um animal predador. O pai percebeu que o homem começou a rumar no mesmo sentido que eles. Assim, diminuiu os passos com a intenção de frear ainda mais a caminhada da família e observar o que faria o homem. Neste momento, percebendo tal manobra, o suspeito sincronizou seus passos aos de suas vítimas e encarou novamente o pai, que a esta hora já não entendia mais nada do que o filho falava. O menino notou que o pai desacelerou e lhe perguntou qual o motivo do retardamento. A mãe desprevenida desconversou o filho com outro assunto. O pai não sabia mais para onde levar sua família, tudo o que tem de mais caro: para o carro ou de volta ao restaurante. Olhou a sua volta procurando um segurança, um cúmplice ou alguém que servisse posteriormente de testemunha. Estava perdido. Pressentia que algo ruim aconteceria.  Pensava nos filhos pequenos, na esposa, o que carregava nos bolsos que poderia ser entregue, como negociar de forma a reduzir os riscos para todos os seus, como acalmar as crianças em situação tão perigosa, como acalmar o bandido, como não se sentir incompetente diante de todos… Sem perceber conduziu em frente. O homem acelerou os passos e em movimento abrupto abordou o pai e a família na lateral do automóvel: __ Tem algo para mim Senhor? Seu carro ficou bem cuidado.

As figuras avistadas nas nuvens só existem na cabeça de quem as vê?