A Política Nacional de Humanização da Atenção e Gestão do SUS (PNH) aposta na indissociabilidade entre os modos de produzir saúde e os modos de gerir os processos de trabalho. Os valores que norteiam essa política são a autonomia e protagonismo dos sujeitos, a corresponsabilidade entre eles, os vínculos solidários e a participação coletiva nas práticas de saúde.
“Acolhimento em Rede”, evento sobre saúde pública, organizado pelo portal (En)Cena.
Foto: Walter Riedlinger
Até o dia 09 de maio, ocorrem as oficinas com o tema “Acolhimento em Rede”, no miniauditório do Complexo Laboratorial, no CEULP/ULBRA, em Palmas. O evento é promovido pela Política Nacional de Humanização – PNH do Ministério da Saúde, em parceria com a Secretaria de Estado de Saúde e com o apoio do portal (En)Cena, que possibilitou a vinda dos consultores e demais profissionais da área da saúde. As mesas-redondas acontecem pela manhã. Já pela tarde, há trabalhos em grupo para maior socialização dos conteúdos.
O acolhimento
Fábio Alves, coordenador nacional da Política Nacional de Humanização – PNH
Foto: Walter Riedlinger
O conceito de acolhimento agrega muita experiência em diversos serviços da saúde pública. Esta experiência é heterogênea, assim como o SUS, e tem acúmulos positivos e negativos. Compreender esta longa caminhada ao falarmos de acolhimento possibilita legitimar que grande parte do que sabemos hoje é fruto das experimentação nos ambientes de trabalho. O acolhimento como ação ou efeito de acolher expresa uma aproximação, uma atitude de inclusão, de estar em relação com algo ou alguém.
“O evento é para entendermos melhor o acolhimento, todo o processo que pode melhorar o atendimento na rede pública. Então, o engajamento com os profissionais é fundamental. Tem que haver um bom acolhimento para dar continuidade ao trabalho desenvolvido pelos profissionais”, afirmou Fábio Alves, consultor nacional da Política Nacional de Humanização.
O discurso sobre a implementação das políticas de humanização parece bem difundido. O que se pode perceber nas oficinas não são pensamentos isolados, mas coletivos. Isso demonstra o envolvimento dos consultores com o tema proposto.
“Viemos aqui para implementar as políticas de humanização. O “Acolhimento em Rede” contribui, reforça o conhecimento profissional dos participantes, intervindo na formação dos profissionais”, diz Alexsandra Cardoso, coordenadora da Política Nacional de Humanização, na Região Norte do Brasil.
Além das políticas de humanização, é preciso destacar que as oficinas tratam o acolhimento como parte de um processo na rede pública de saúde.
“Discutimos, aqui, sobre a produção de saúde, o modo de organização dos processos de saúde. Acolhimento tem a ver com ‘como tolerar as diferenças do outro’ na hora do atendimento”, explica Jamison Nascimento, consultor da Política Nacional de Humanização, no Tocantins.
Humanizar
Alexsandra Cardoso, consultora da Política Nacional de Humanização – PNH, na Região Norte do Brasil.
Foto: Walter Riedlinger
Humanizar é garantir à palavra a sua dignidade ética. Ou seja, para que o sentimento humano, as percepções de dor ou de prazer sejam humanizadas, é preciso que as palavras que o sujeito expressa sejam reconhecidas pelo outro. Todo este processo é, de certa forma, complexo, na prática. Mas chega a ser um problema? De acordo com Alexsandra Cardoso, não.
“Humanizar não é um problema. Humanizar é desmistificar o processo de atendimento, é estabelecer novos critérios. Os profissionais precisam se ver dentro deste processo” explica.
A ciência e tecnologia se tornam desumanizantes quando somos reduzidos a objetos despersonalizados de nossa própria técnica, de uma investigação fria e objetiva. Ao preencher uma ficha de histórico clínico de um paciente, quem atende pode não estar escutando a palavra do paciente. As informações são indispensáveis, sem dúvida. Mas o lado humano ficou excluído.
“A humanização provoca a desnaturalização dos processos. Porque o profissional trata o paciente de forma muito natural, sem um cuidado ou atenção especial, de acordo com a necessidade”, conta o consultor Jamison Nascimento.
Por isso a importância do diálogo, não apenas entre atendente e paciente, mas entre os profissionais, para a conscientização dos integrantes sobre a humanização.
“Este evento é muito importante para conseguirmos discutir sobre as políticas de humanização. Temos a oportunidade de poder implementar essas políticas para os trabalhadores”, enfatiza Fábio Alves.
Acolhimento em Rede
Jamison Nascimento, consultor da Política Nacional de Humanização – PNH, no Tocantins.
Foto: Walter Riedlinger
Ok. Entendemos o que é acolhimento e o que é humanização. Este são os temas centrais. Mas que outros aspectos o evento “Acolhimento em Rede” nos possibilita debater.
“Em um evento como esse discute-se sobre financiamento, modelo de gestão e atenção para com os indivíduos. Então, nós precisamos discutir a saúde também como um direito do cidadão”, explica Fábio Alves.
Além de saber acolher e tornar mais humanos os processos na saúde pública, os profissionais são alertados sobre as responsabilidades que têm junto ao público que necessita de atendimento pelo Sistema Único de Saúde.
“Além de oficinas e seminários, o bom é termos rodas de conversa. Precisamos conscientizar os profissionais, até para se sentirem responsáveis pelos processos que discutimos aqui”, diz Alexsandra Cardoso.
Vale sempre enfatizar que, toda a oficina traz a discussão não para uma ou outra unidade de saúde, mas para toda a rede nacional. Ou seja, a saúde pública deve ser pensada assim como é praticada: em equipe. Isso contribui para que os profissionais vencer os desafios encontrados.
“Essa oficina dá abertura para mudanças. Porque o grande desafio nosso, hoje, é “Conseguimos produzir saúde em rede?”. Mas os desafios e as demandas mudam o tempo todo. Vamos organizando e produzindo em rede, mas aí, aparecem outras questões a serem resolvidas”, concluiu o consultor Jamison Nascimento.