Em uma noite qualquer, um casal se dirige para um restaurante requintado de uma capital brasileira. A cidade estava em seu humor noturno resplandecendo várias luzes e vultos de carros, com seus faróis chamativos. O casal já se encontrava trajados apropriadamente para o evento superestimado, que era o jantar para comemorar os cinco anos de relacionamento.
Já estando no local, uma das parceiras estava ansiosa para escolher o prato. Olhavam atentamente a composição de cada opção do menu e se perguntavam já havia experimentado um mix de sabores semelhantes. Atentou-se também para as opções de sobremesa, e tentou combinar os sabores do prato principal à sobremesa, na qual buscava certo equilíbrio de sabores. Perguntou à sua companheira se já havia feito a sua opção – ela negou.
Esta, por sua vez, estava concentrada e pensando sobre o assunto que iria abordar com a sua amada.
Reparava em seus cabelos, em seu cheiro, em suas vestes, em sua pele, no detalhe das suas unhas e de como ela manuseava o menu, como fazia as expressões faciais ao se interrogar sobre as opções. E em seguida voltava a pensar como iria abordar o assunto que queria revelar, e mordia o lábio inferior com rigidez, além de apertar os dedos de forma inflexível, o que demonstrava seu nervosismo.
Quando enfim a parceira que segurava o menu escolheu o prato, esticou-o para a outra, que não passou cinco minutos escolhendo, e pediu ao garçom anotar. Ele anotou e em seguida, a outra indagou:
-Ah meu bem! Estamos esquecendo-se de um detalhe importante, o vinho! Por favor, pode me trazer a Carta de Vinhos de vocês por gentileza? Direcionou-se ao garçom. Este confirmou e foi buscar.
A que estava preocupada sobre o assunto que iriam conversar, demonstrou novamente aflição ao morder os lábios com mais força. A outra, que finalmente percebeu, perguntou:
– Amor, o que foi? Parece tão nervosa! Vai me pedir em casamento é? Riu disfarçadamente.
A sua ouvinte esboçou uma cara de tremendo espanto, arregalando os olhos. E exclamou gaguejando nas palavras:
-Nossa! Bom.É…Então…Queria falar algo, mas vamos esperar o prato chegar, né? Riu nervosamente.
Inesperadamente, o garçom chega servindo os pratos na mesa do casal. Em seguida, a moça que demorou escolher os pratos, complementa:
- Enfim, você pode falar!
O que a parceira nervosa iria falar era que queria terminar a relação. Que queria um tempo para pensar no que ela realmente pretendia no relacionamento. Mas com o apontamento inesperado da sua companheira, ficou apreensiva a ponto de aceitar a proposta hipotética dela e disse:
- Sim amor, é isso mesmo! Você aceita se casar comigo? Riu tão forçadamente e nervoso que começou a transpirar pela sua testa.
A sua companheira esboçou um comprido sorriso, e deu várias tapinhas no ar de alegria, assim como baixos grunhidos. E em seguida exclamou
- Já era hora! Claro que aceito! ENFIM NOIVAS!
Sua parceira retirou um lenço que estava na mesa e começou a enxugar as gotículas de suor em sua testa e rosto. A sua companheira disparou em falar sobre detalhes do evento do noivado, de como seria a vida delas morando juntas e de como iria anunciar a notícia aos familiares.
A outra ficou extremamente pensativa e em uma postura introspectiva, apenas de corpo presente e em um profundo silêncio, e passando longos segundos sem até mesmo piscar seus olhos. Perguntou repetidamente em seus pensamentos o que estava fazendo, o que que ela acabou de fazer, o que que faria agora.
Sem entender ou compreender, apenas absteve-se de falar ou de expressar qualquer expressão ou emoções. Ficou apenas imersa em seus pensamentos e com corpo de forma de estátua. A companheira, depois de passar algum tempo falando como forma de monólogo, percebeu a paralisação da sua companheira, e a perguntou:
- O que foi? Nem para você a ficha caiu ainda? Aconteceu alguma coisa?
Rapidamente a companheira voltou em si e respondeu:
- Ah, não, não. Só estou pensando como a comunicação falha.