Crenças e valores pessoais

Estar na sala de aula para a disciplina de Gênero e sexualidade é um anseio semanal. A professora é inovadora e audaciosa. Logo nas primeiras semanas após a discussão do texto WEEKS, Jeffrey:  O corpo e a sexualidade, ela solicita para a turma que traga na a próxima semana um objeto pequeno de valor sentimental que a gente possa deixar com ela durante o decorrer do semestre. – Mas o que tem a ver esse objeto com a disciplina? – Perguntei a mim mesma. Não tentei responder, pois confio nela. É experiente, linda e, como já dito, audaciosa. Fiquei tão tranquila que me esqueci da atividade, mas no dia predestinado uma colega nos lembrou no grupo da turma (Bendita seja!) – Putz! O que levo? – Me ocorreu na mente vários objetos: um dominó musical, o véu que usava na igreja, os pares de meias dos sobrinho quando bebês, um copo de côco vindo da Serra Umã/PE, o menor livro legível do mundo, outros objetos, e todos foram descartados. E de repente me lembrei de um – Tomara que eu encontre, pensei. Revirei a estante de livros, as gavetas no armário, mas só o encontrei numa caixinha de objetos que não consigo desfazer. Assim quando o peguei tive certeza que era ele: um diapasão de garfo. O diapasão de garfo é um instrumento metálico em forma de forquilha (garfo de dois dentes), que serve para afinar instrumentos e vozes através da vibração de um som musical de determinada altura.

Pensar em um objeto que tenha valor sentimental e que eu possa “emprestar” para alguém por uns tempos, mesmo que seja para ficar guardado, é um exercício que nos força a pensar o desapego, pois por uma ironia do destino esse objeto pode não voltar para você. Então escolher o diapasão para esta atividade teve haver com a facilidade que eu teria para encontrar outro no mercado e pôr de volta na minha caixinha e que me remetesse às mesmas lembranças. Este garfo, para mim, me faz lembrar da minha adolescência onde se deu minha iniciação na música fazendo parte de uma orquestra juntamente com meus irmãos (que são 5), meu pai e outros parentes. Eu não o usava, pois meu instrumento era de teclas, órgão eletrônico, mas os demais instrumentistas sim. Também me lembro de um tempo não muito distante, exatamente um semestre antes de ingressar na universidade, onde eu participei do coral municipal da Capital do Tocantins. A maestrina regia com maestria!

Fonte: encurtador.com.br/bpPVY

Depois da exposição individual de cada um chegou a hora de abrir mão do apego. Fui a primeira a deixar o objeto na caixa – se não voltar eu compro outro- pensei. E depois fiquei pensando nessa afeição que nos faz ter objetos que não nos servem mais, mas que não conseguimos desfazer. Daí me lembrei da pergunta inicial: “Mas o que tem a ver esse objeto com a disciplina?” Valores e crenças enraigados em demasia, sem reflexão, nos fazem ter um conceito formado antecipadamente nos causando cegueira moral, o que é conhecido por pré-conceitos. Faz sentido, pois para quem era acostumada a ouvir instrumentais e gospel na adolescência eu tive dificuldade para aprender a ouvir determinados ritmos populares. O mesmo vem acontecer a temas tão melindrosos como os da sexualidade. Se não tivesse me despido de opiniões pré-formadas em outros tempos, hoje estaria apontando para determinados grupos e pessoas e os considerando impuros, patológicos, imoral e doente. Penso que estou em um momento de formação de novas opiniões, mas consciente de não abrir mão de meus princípios. Para surpresa da turma passados 15 dias do dia em que a professora recolheu nossos pertences ela os trouxe de volta, devolveu a todos. Ninguém precisou ficar longe de seu objeto de estimação! Mas cientes que precisamos nos distanciar de opiniões julgadoras e estigmatizadas.

Gestora de Recursos Humanos pela UNOPAR, graduanda em Psicologia 9° período pelo CEULP/ULBRA.