Sempre quis ser atriz, interpretar grandes papeis. O meu preferido era uma menina feliz, destemida, independente e sociável. Lembro que entrei em vários grupos de teatro e cheguei a fazer protagonistas e quando os aplausos vinham pensava que estava no lugar certo.
Quando voltava para casa vivia os bastidores da vida real e aquela menina feliz, destemida, independente e sociável, dava lugar a tristeza, solidão e o medo. Escrevia roteiros de socorro orando para que alguém encontrasse. Para a sociedade tinha uma vida perfeita. Na escola era até a dita “popularzinha”. Uma mãe tranquila, um pai com um bom emprego e respeitado na cidade, irmãs com boas notas na escola e elogiada pelos professores, rodeada de pessoas.
Interpretava tantos papeis tentando escolher qual era o que realmente me encaixava. Protagonista? Figurante? Vilã? Mocinha? Nunca soube. Hoje vivo em filme de terror, no qual sou a única personagem. Cheio de monstros. Cheio de medos. Cheio de labirintos que não consigo sair, aguardando o que em todos os filmes de terror acontece, nenhum sobrevivente ou vencerei tudo?
Hoje não tenho muitas pessoas, nem interpreto moças felizes e destemidas. Estou presa nos bastidores da vida real ecoando “Luz, câmera e ação”.