O SUS e a formação profissional

O presente relato é fruto de minha experiência no SUS (Sistema único de Saúde). Para início de conversa vou falar um pouco da formação acadêmica vivenciada na primeira turma de Psicologia do CEULP/ULBRA Palmas. Na grade curricular não existiam disciplinas diretamente relacionadas ao SUS. Apesar de o nosso curso ter se iniciado em 2000 a discussão sobre a formação dos profissionais de saúde é bem mais antiga.

A história começa há algumas décadas, pois a partir da instalação do Conselho Federal de Educação, fica definida a tramitação para a autorização de funcionamento dos cursos superiores. A Lei Federal n° 5.540, de 12/11/1968 (Lei de Diretrizes e Bases da Educação Superior), definiu o conceito de currículo mínimo, o que deu espaço para a atual Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), Lei Federal n. 9.394, de 20/12/1996. O currículo mínimo, em regime disciplinar, representava um conjunto de estudos e atividades correspondentes a um programa de formação que deveria ser desenvolvido seguindo critérios pré-fixados. Em 1997, em decorrência da nova LDB, esse arranjo disciplinar começou a ser revisto (CECCIM; CARVALHO, 2006).

Fonte: https://goo.gl/C7WCDt

Entre 2001 e 2004, foram aprovadas as Diretrizes Curriculares Nacionais para os cursos de graduação da área de saúde, considerando as necessidades sociais da população, a integração com o SUS, a prevenção e promoção da saúde e a humanização, entre outros aspectos (CECCIM; CARVALHO, 2006).

A minha graduação se deu em 2005 e fui aprovada no mesmo ano em dois concursos públicos como Psicóloga, no Estado do Tocantins e no Município de Palmas. No Estado fui lotada no IML, onde já trabalhava antes como Assistente Administrativo. Na prefeitura primeiramente fui lotada em Taquaralto e depois na Policlínica do Aureny I. Essa unidade de saúde, ambulatorial de especialidades, já contava com psicólogos desde 1998. Essa experiência foi impactante, apesar de ter feito estágios numa unidade de saúde enquanto acadêmica, na função profissional fiquei muito perdida, pois tudo que tinha visto na faculdade era muito diferente dos desafios profissionais da minha realidade. Em Taquaralto eu dividia a sala com o serviço social e a passadeira, o armário não trancava, a mesa não possuía mais as gavetas, as cadeiras rasgadas, as paredes da sala contava com janelas de vidros enormes e não possuía cortinas, sendo atravessada pelo calor ardente do sol tocantinense. A fila de espera de pacientes para atendimento psicológico era tão gigantesca, sinceramente eu não soube o que fazer. A antiga psicóloga fui informada que teria levado os arquivos para casa por não ter onde guardar. Nessa situação eu pedi um prazo para iniciar e fui embora, fiquei com vontade de não voltar mais. Na verdade, não dormi a noite inteira.

No dia seguinte me ligaram dizendo que havia surgido uma vaga na Policlínica do Aureny I. Ao chegar à Policlínica havia um consultório apenas para psicólogo, uma das minhas professoras da faculdade, Kathia Nemeth Perez já atuava no local como psicóloga, me orientou no que eu precisava. Conseguimos montar um serviço que em menos de seis meses se tornou referência de atendimento ambulatorial para a Capital, havia diálogo entre as profissionais, porém vivíamos muitas dificuldades materiais, institucionais e profissionais. Um dos norteadores de nossa ação foi à criação de protocolos de atendimentos, que esclareciam as funções e metas do trabalho específico de psicologia na unidade. Em paralelo a esta atividade municipal, participei como representante do CRP-09 no Conselho Municipal de Saúde, como trabalhadora e esta experiência foi importante para consolidar minha compreensão do sistema único de saúde, vencendo embaraços, incompreensões e o movimento contraditório de várias tendências que discutem nessa instancia representativa de governo, usuários e trabalhadores, não somente toma ciência, mas delibera sobre as ações de saúde do município de Palmas.

Policlínica do Jardim Aureny I. Fonte: https://goo.gl/WMxUYz

Mesmo assim as dificuldades eram muitas e desafiadoras, por isso procurei me especializar, onde me dediquei a duas especializações, uma em Saúde Pública com Ênfase em Saúde Coletiva e da Família pelo ITOP e outra em Processos Educacionais em Saúde, pela FIOCRUZ.

Permaneci na prefeitura durante três anos, concomitante ao trabalho desenvolvido no IML como psicóloga. Por motivos pessoais houve uma mudança de município para Gurupi e no novo local, optei em pedir a exoneração do cargo da prefeitura. Quanto ao Estado foi possível uma transferência e fui lotada no Hospital Regional de Gurupi.

No novo município participei de uma seleção para professor na UNIRG e me tornei professora das disciplinas de Saúde Pública, entre outras. Na área hospitalar a partir dessa nova experiência em Gurupi, procurei e realizei diversos cursos de formação. Permaneci em Gurupi de 2008 até o ano de 2017.

Ao retornar para Palmas no ano de 2017, fui lotada pelo Estado no Hospital Infantil de Palmas, onde permaneço atuando como Psicóloga e participei de uma seleção para preceptor do PET (Programa de Educação pelo Trabalho). Nos dias atuais faço parte do grupo de psicologia (no PET) e no ampliado da região Xerente. Espero ainda poder contribuir com o SUS, nas atividades atuais no nível hospitalar público e com o PET, pois o SUS para mim é o melhor sistema de saúde, apesar de necessitar de muitos ajustes do setor governamental.

Fonte: https://goo.gl/wVPSMD

REFERÊNCIAS:

 BRASIL, Ministério da Educação. Lei n° 9.394/1996. Estabelece as diretrizes e Bases da educação nacional. Brasília, 1996. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/lei9394_ldbn1.pdf. Acesso em: 02 Jan. 2018.

CECCIM, R. B.; CARVALHO, Y. M. Ensino da saúde como projeto da integralidade: a educação dos profissionais de saúde no SUS. In: PINHEIRO, R.; CECCIM, R. B., MATTOS, R. A. (Org.). Ensinar Saúde: a integralidade e o SUS nos cursos de graduação na área da saúde. 2.ed. Rio de Janeiro: IMS/UERJ: CEPESQ: ABRASCO, 2006. p.69-92.