Por que escrever?

Quando fui escrever esta crônica estava pensando nas razões que me fazem escrever. ‘Por que escrever?’ foi o título que dei a esta. Poderia ser: ‘por que escrevo?’ ou ‘por que escrevi?’ Só dei este título para que outras pessoas possam fazer como eu: colocar no papel uma crônica de no máximo uma lauda e meia. Não importa se outros vão ler. O maior beneficiado é quem escreve.

Escrever crônicas talvez seja um ato narcisista: por no papel o que se pensa; tentar convencer as pessoas a refletirem como você; argumentar sua opinião. Tudo isto infla o ego de quem escreve.

Mas, na verdade escrevo porque um amigo me convenceu que eu poderia por meus pensamentos em ordem escrevendo. Nas palavras dele, é um processo ‘criativo-terapêutico’. Hoje posso confessar que ele estava certo – apesar de acreditar que o processo seja mais terapêutico que criativo. Em 2015 alguém ainda cria alguma coisa fazendo crônica? Sinceramente não penso que isto seja muito possível. Talvez fosse mais inteligente apenas ficar citando. Assim, seríamos forçados a ler mais o que os outros escreveram e o ato de escrever crônicas seria menos narcisista. Quanta inveja de Eduardo Giannetti que criou “O livro das citações”. O livro é todo de citações.

As citações só tem um problema: elas não criam nada. De resto servem para quase tudo: demonstram quanto pesquisou quem cita; revela argumentos; identifica como aquele que cita costura o texto com as citações; dá notoriedade ao que se fala – segundo o importante fulano de tal, abre aspas e aí se vão repetições.

 Voltemos à pergunta do título: por que escrever?

Depois que se começa a escrever você vai encontrando ou lembrando de motivos para fazê-lo. Primeiro é um ato narcisista; depois é um processo criativo-terapêutico; serve para organizar as idéias; é no fundo um ato de descoberta interior – heurístico/maiêutico mesmo. No fim os temas acabam sendo um bom motivo. Não que tenhamos que ter uma opinião sobre tudo. Muito menos que nossa opinião seja final e não possa ser alterada. De forma alguma isto.

Os temas tornam-se um bom motivo por que liberta quem escreve. Neste sentido, vale tudo em uma crônica. Um tema batido, velho, chato, inconfessável, dramas, ciência: tudo é um excelente assunto.

Um tema, mesmo velho, pode ser um mundo novo para quem o descobre.

Não importa se você é um escrevinhador. Que seu alento seja o que disse Popper no prefácio de “a lógica da pesquisa científica” de 1934 a respeito do cientista e do filósofo. Não abrirei aspas para não cair em descrédito. Resumidamente, Popper argumenta que o cientista conta sempre com uma estrutura de doutrinas científicas já existentes e com uma situação-problema que é reconhecida como problema nessa estrutura. Sua tarefa é tentar contribuir para reorganizar a estrutura resolvendo pelo menos em parte a situação-problema. O filósofo não encontra uma estrutura organizada, mas um amontoado de ruínas (onde pode haver tesouros ocultos). Ele não tem uma situação-problema reconhecida como tal em uma estrutura.

Popper quer neste prefácio dizer que a filosofia talvez nunca coloque um problema genuíno. Assim, o cronista se consola: se há 2500 anos tantos filósofos apenas conjecturaram, por que o escrevinhador também não pode?

Francamente, cabe-lhe divertir-se.

Em tempo: as citações, quando torturadas, confessam muitas mentiras.

Divirta-se!!

Tempus fugit, carpe diem!