A clínica do encontro

Ao pensar nos campos que iria estagiar, a clínica talvez fosse minha última escolha. Por sorte consultei alguns professores e colegas já formados. A maioria foi unânime em me dizer que essa experiência me ajudaria como profissional independente de onde optasse atuar, acrescentando assim, muito à minha formação. Ponderei as colocações e escutei a voz dos que tinham mais experiência. E como foi bom ter feito essa opção!

A cada encontro uma surpresa! Ás vezes a angústia pelo silêncio (o que fazer com ele?), de não saber o que dizer frente ao sofrimento do outro (como posso ajudá-lo nesse momento tão difícil?), ou por perceber que o vínculo não rolou (será que sou eu o problema?)… Ou a satisfação de poder ouvir, de me colocar ao lado, de sentir e perceber que isso faz toda a diferença para ele. De vê-los em constante transformação e aprimoramento, ou não, mas – se lapidando, em busca de fazê-los. De dar sentido ao que antes era só teoria… Sentimentos meio misturados, incontidos, mas que tinham que ser contidos…

Quanta confusão!!!

Quanto aprendizado!!!

Senti-me assim no início dos atendimentos, meio insegura (pra não dizer totalmente, rsrsrsrs), sem saber ao certo como proceder. Tudo era muito novo, e enfim, a responsabilidade e postura profissional eram exigidas de mim, e eu precisava está pronta.

Encontrei nos momentos de supervisão, o refúgio para as minhas angústias, dúvidas, incertezas… E fez toda a diferença a disponibilidade da professora em me ouvir, em não me entregar respostas prontas, em me fazer refletir, mesmo quando algumas vezes não me sentia capaz. E claro as contribuições das colegas de Ênfase Clínica e de supervisão e de outros professores que também me ouviram atentos e me auxiliaram, foram de grande importância.

Gradativamente fui me sentindo mais segura, e hoje percebo em mim, uma escuta de maior qualidade, a minha presença a maior parte do tempo no aqui-e-agora (e não tentando elaborar teoricamente o que estava acontecendo) e maior capacidade de exercer a empatia e autenticidade.

Sei que meu caminho é pequenino, que ainda tenho muito a aprender e me aperfeiçoar como pessoa e profissional no âmbito clínico. Porém já fico muito feliz com o que aprendi nesse quase um ano de estágio, tão intenso que parece que durou bem mais – e com a possibilidade de colocar em prática as leituras e reflexões desses anos de estudo, e principalmente de experimentar esses sentimentos ainda na graduação, sob a supervisão acadêmica. E o que espero do meu futuro? Que eu nunca deixe de aprender, de me aperfeiçoar, de promover encontros, de me colocar ao lado e crescer junto com o outro. E que a humildade e paixão por essa profissão jamais me abandone.