A luz do sol invade o vidro da porta, enquanto o reflexo forma outra porta menos nítida no chão, sob o qual a garota despeja o rosto. Por que o sol da tarde é tão brilhante?
Ela rasteja morosamente e olha para o teto somente para se dar conta do que jamais admitira:
“Nada é certo nessa casa…”
O forro de madeira se curva para o centro de cada cômodo em alturas desiguais. A frequência da cerca elétrica parece a de um relógio. O relógio de parede, muito bonito, nunca funcionou. Nem lhe botaram pilhas.
A garota revira seu olhar de tédio e raiva por tanta imperfeição.
E dá de cara o rodapé manchado de tinta. E a tinta da parede manchada pelas batidas dos três modelos de cadeiras que jazem na mesa. De plástico.
Seu celular certamente a livraria desses pensamentos improdutivos. A tela acende. Seis minutos. Somente seis minutos se passaram, o sol da tarde deve ter derretido o tempo. E esse foi o maior tempo que a garota já teve pra pensar sobre si.
Oprimida pelo ar quente, ela respira fundo enquanto é tomada por um vigor incontrolável. Ela levanta do chão, bate suas roupas.
Está na hora de uma limpeza. Da casa.