Barbie: uma jornada pelo padrão de beleza, feminismo e a diversidade

“Eu… eu… nem eu mesmo sei, nesse momento… eu… enfim, sei quem eu era, quando me levantei hoje de manhã, mas acho que já me transformei várias vezes desde então”— Lewis Carroll, no livro Alice no País das Maravilhas.

Ana Paula Abreu Dos Anjos – anapaulaabreu@rede.ulbra.br

Bárbara Millicent Roberts, mundialmente conhecida como Barbie, a boneca criada pela co-fundadora da empresa norte americana Mattel, Ruth Handler, veio ao mundo como a representação de uma jovem modelo fashionista, alcançando o posto de boneca mais vendida do mundo, Ruth, teve sua inspiração ao observar sua filha Bárbara brincar, já na adolescência, com bonecas, demonstrando mais interesse por suas bonecas de papel, que tinha a estrutura similar a de uma mulher adulta, além de uma variedade de roupas para trocar, uma vez que naquela época as bonecas produzidas nos EUA representavam bebês, e durante uma viagem em família à Europa, Ruth presenteou sua filha com a boneca Lilli, a personagem criada pelo autor Reinhard Beuthien para o jornal alemão Bild, que devido ao seu sucesso virou boneca em 1955, visualizando assim a criação da Barbie.

Oficialmente lançada durante a Feira Anual de Brinquedos de Nova Iorque, no dia 9 de março de 1959, a boneca que possuía trinta centímetros de altura, uma cintura acentuada, em um corpo de proporções sem muitas curvas, usando um maiô listrado em preto e branco, com salto alto e maquiagem, em pouco tempo a Barbie foi transformada em uma personagem glamorosa, com uma vida perfeita, e ainda que as primeiras Barbies tivessem opções disponíveis com cabelos castanhos, a boneca de longos cabelos loiros e medidas corporais impossíveis, se estabeleceu no imaginário popular, o que contribuiu na construção de um inalcançável padrão de beleza, as imagens publicitárias da Barbie estavam intrinsecamente associada a juventude, moda e beleza, em um perfeito mundo cor de rosa.

Fonte:Pixabay 

Ao longo de sua jornada, Barbie deixou de ser apenas um simples brinquedo, se transformando em um modelo que inspirava. No entanto, nem sempre positivamente, um exemplo a ser observado seria as denominadas “Barbies humanas”, pessoas que buscam por meio de inúmeras cirurgias plásticas, procedimentos estéticos e dietas mirabolantes, transfigurando o corpo de forma obsessiva, com o objetivo de ser uma versão da vida real da boneca, o que por vezes se constitui em uma busca incansável por um ideal de perfeição que não existe, ainda que o padrão de beleza seja anterior a criação da Barbie, ela acabou por se um fruto desse meio, além de ferramenta desse mecanismo de idealização.

Para além de questões relacionadas a perpetuação de um padrão hegemônico de beleza, o empoderamento feminino sempre esteve associado a Barbie em seu marketing, com o clássico slogan “you can be anything” (você pode ser tudo que quiser), e inúmeras animações protagonizadas por personagens femininas no papel de heroínas que salvam o dia. Outro fator relevante é, poucos anos após seu lançamento, durante a década de 70 foram disponibilizadas no mercado bonecas Barbies como a representação de inúmeras profissões, como astronauta, médica e professora, já tendo atualmente mais de 200 carreiras, personificando um modelo de independência feminina.

A Barbie pode ser considerada como um fenômeno cultural que “atuou” e acompanhou vários momentos da história. No que concerne ao feminismo, Barbie esteve ao lado de causas feministas, surgiu em um período pós guerra exercendo uma profissão, totalmente o oposto das mulheres daquele período que eram “adestradas” a cuidar do lar. (SILVA, 2014).

No ano de 1980 foi lançada a primeira boneca “Barbie” negra, e ao longo dos anos a diversidade foi crescendo na linha de bonecas, em 2019 e 2020, com a coleção “Barbie Fashionista” foram incluídas na linha bonecas Barbies de pessoas com deficiência, vitiligo e sem cabelo, além de proporções corporais diversificadas, se alinhado a busca por inclusão social, e a conexão por intermédio da representatividade com o consumidor, mudanças como essas podem ser um forte sinal de que atualmente existe um crescente movimento por identificação em andamento na sociedade.

A publicidade não inventa coisas; seu discurso, suas representações estão sempre relacionados com o conhecimento que circula na sociedade. Suas imagens trazem sempre signos, significantes e significados que nos são familiares. A representação é um dos processos sociais por meio dos quais diferenças são construídas ou modificadas. As representações são produzidas com base em características específicas a cada grupo social, e sua materialização vem de fora. Elas têm um papel ativo na produção de categorias sociais, tais como gênero, raça/etnia, classe, sexualidade, geração. (TEIXEIRA, 2009).

O aguardado filme “Barbie” dirigido por Greta Gerwig, com lançamento no Brasil previsto para 20 de Julho de 2023, vem mantendo seu enredo em segredo, porém em sua divulgação através de pôsteres e o teaser do trailer, o que pode ser vislumbrado é uma diversidade de Barbies, interpretadas por diferentes atrizes, trazendo também o personagem Ken (o namorado da Barbie) com a mesma proposta; nas imagens individuais dos personagens, além da diversidade, o que chama a atenção é o humor ácido, ao apresentar cada Barbie como “essa Barbie tem um prêmio Nobel de física”, “essa Barbie é presidente”, as imagens contento os personagens Kens tem frases como, por exemplo, “ele é só o Ken” e “ele é outro Ken”, aparentemente invertendo o papel de esposa troféu, comumente associado às mulheres.

Fonte: Warner Bros/divulgação.

Os pôsteres do filme Barbie (2023) apresentam diversas versões do personagem Barbie.

Bárbara Millicent Roberts, mais conhecida como Barbie, trilhou uma longa jornada, se constituindo em um complexo personagem, com camadas, caminhando entre, o estereótipo de beleza estabelecido pela sociedade, um ícone feminista, a diversidade, inclusão e representatividade, atualmente a personagem parece inclinada a modificar sua imagem, ainda fortemente associada a manutenção de um padrão social de beleza, para algo que abrace, valorize e respeite a diversidade, inspirando seus fãs, e sua pluralidade, a serem o que quiserem ser.

 

 

Referências:

GERBER. Barbie e Ruth: a história da mulher que criou a boneca mais famosa do mundo e fundou a maior empresa de brinquedos do século XX. São Paulo: Ediouro, 2009.

SILVA, Rosângela Barbosa da. Boneca Barbie: apocalíptica ou integrada. Universitas: Arquitetura e Comunicação Social, v. 11, n. 2, p. 39-46, jul./dez. 2014. Disponível em: https://www.publicacoesacademicas.uniceub.br/arqcom/article/view/2779. Acesso em: 13 de Abr. 2023.

TEIXEIRA, Níncia Cecília Ribas Borges. Discurso publicitário e a pedagogia do gênero:

representações do feminino. Comunicação, Mídia e Consumo, São Paulo, v. 6, n. 17, p.37-

48, nov. 2009.