Nascido no Rio de Janeiro, RJ, em 1961, Marcos Prado é fotógrafo documentarista, produtor, diretor e roteirista de grande renome no Brasil. Sua formação iniciou com os estudos de fotografia no Brooks Institute of Photography de Santa Bárbara, nos Estados Unidos. E em seu retorno às terras brasileiras trabalho para a revista Trip (1987-1892) como fotojornalista, que lhe rendeu a Série Free Tibet (COLEÇÃO PIRELLI, s/d, s/p).
Dentre as características marcantes do seu trabalho é perceptível o uso das cores, seus trabalhos estão, predominantemente, no Preto & Branco. Prado usas-o com o intuito de impactar, principalmente, quando se refere aos fatos já vividos; realidades que chocam, que se camuflam na invisibilidade do colorido do dia-a-dia. Nesse contexto, Almeida (2010) ressalta que:
Os fotógrafos modernos, tiveram a eles transmitido o bastão da fotografia, e nessa transmissão (tradição), receberam um modelo que foi gerado, em partes muito importantes dele, pela fotografia em Preto e Branco. Quando o fotógrafo contemporâneo produz em Preto e Branco, quando ele faz das suas fotografias digitais cópias em Preto e Branco, ele está dialogando com essa tradição histórica nascida de uma limitação tecnológica.
É neste diálogo que suas produções nos fazem entrar. A tradição e contemporaneidade se tencionam e nos incomoda. Quem disse que Os Carvoeiros, Estamira e O curumim seriam fáceis de ver, de assistir? Eles nos tiram da zona de conforto, ainda mais quando se descobre que os documentários foram realizados ao longo de muitos anos, entranhados nesses contextos marginalizados.
Nessa perspectiva, a fotografia vai ao encontro da psicologia nas produções de Prado, pois o mesmo assume uma postura clínica que é argumentada, estudada e desejada por muitos psicólogos, inclusive no que se tange ao contexto brasileiro. As práticas clínicas na realidade atual, na perspectiva de Dutra (2004), devem acolher o sofrimento contido na existência humana, de forma que as experiências subjetivas e reveladoras de sentido se tornem uma forma de acessá-lo, utilizando-se do cuidado e da aprendizagem.
Frente aos documentários, Prado pratica a epoché, faz suspensão de valores sobre os personagens que captura em suas lentes. Sua intenção não é a rotulação de pessoas enraizadas na grande miséria da necessidade de trabalhar numa quase escravidão; nem de uma mulher com transtorno mental; ou de um traficante brasileiro na fila de espera da morte em outro país. Essa visão estigmatizada nós, telespectadores, já possuímos. A desconstrução dessa visão egoísta torna-se seu objetivo. O seu trabalho mostra a subjetividade dos seus personagens, seus discursos, seus pontos de vista, sua realidade nua, as dimensões sociais e históricas em que estão inseridos e todos os ensinamentos que eles podem proporcionar aos espectadores.
Ademais, a habilidade de acolher o sofrimento através das lentes e da atenção contribui no processo de subjetivação das pessoas documentadas, onde: “[…], o ato clínico passa, então, a representar a acolhida a essa demanda, através de um olhar que possa contemplar e alcançar a singularidade das existências, que se vão construindo nos caminhos traçados pelos desejos humanos e seus quereres, e reveladores da sua condição de ser-no-mundo”. (DUTRA, p. 385, 2004).
Nesse panorama, infere-se que as produções de Prado nos levam a refletir nosso fazer quanto a acadêmicos, profissionais e até mesmo seres humanos. Estamos atentos à realidade do outro, sobretudo, àqueles que estão marginalizados? Quiçá acolhendo-os?! Ou apenas estamos vivendo num prisma individualista que nos venda para que não percebamos o outro? Estas reflexões você pode respondê-las ou aguçá-las após o contato com as obras deste documentarista e retratista.
Trabalhos produzidos por Marcos Prado, segundo a Coleção Pirelli / MASP (s/d, s/p):
Mostras Individuais
1992 – Os Carvoeiros, Fundação Progresso, Rio de Janeiro
1994 – Espaço Cultural Banco Nacional, Rio de Janeiro
1995 – Free Tibet, Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro
2005 – Jardim Gramacho, Casa França Brasil, Rio de Janeiro
Exposições Coletivas
1994 – 1ª. Bienal Internacional de Fotografia Cidade de Curitiba
1993 – Fotografia Brasileira Contemporânea: anos 80 a 90, 1º. Mês Internacional da Fotografia, Sesc Pompéia, São Paulo
1994 – Documentaristas Contemporâneos Brasileiros, Centro Cultural Banco do Brasil, Rio de Janeiro
1998 – Criança de Fibra, Museu da Imagem e do Som, São Paulo
2000 – Brasil em branco e preto: 50 fotografias da Coleção do MAM, Museu de Arte Moderna de São Paulo
Publicações:
– Os carvoeiros. [s.i]: [s.n.], 1999
– Jardim Gramacho. Rio de Janeiro: Argumento/Fosfertil, 2005
Referências
ALMEIDA, Ivan de. (2010). O Paradoxo da Fotografia Digital em Preto e Branco Parte 1 – A estética PB, origem e características. Disponível em: <https://fotografiaempalavras.wordpress.com/2010/11/02/o-paradoxo-da-fotografia-digital-em-preto-e-branco-parte-1/>. Acesso em 27 de maio de 2017.
Coleção Pirelli / MASP de Fotografia. Marcos Prado. Disponível em: <http://www.colecaopirellimasp.art.br/autores/88/obra/308>. Acesso em 09 de março de 2017.
DUTRA, Elza. Considerações sobre as significações da psicologia clínica na contemporaneidade. Estudos de Psicologia, v. 9, n. 2, p. 381-387, 2004.