O filme Boa Sorte, Leo Grande (2022), dirigido por Sophie Hyde, apresenta um encontro transformador entre Nancy Stokes, uma professora de religião aposentada que nunca experimentou prazer sexual pleno, e Leo Grande, um jovem garoto de programa que a acompanha nessa jornada de descoberta. O longa aborda, de forma sensível e profunda, questões como a sexualidade feminina madura, repressão, tabus e a busca pelo autoconhecimento. A relação entre os dois personagens pode ser interpretada sob a ótica da psicologia junguiana, especialmente no que se refere à jornada de individuação.
Nancy, ao contratar os serviços de Leo, inicia um processo de confronto com suas sombras, conceito central para Carl Gustav Jung. A sombra representa os aspectos reprimidos da psique, muitas vezes influenciados por convenções sociais, educação rígida e padrões morais internalizados. A personagem, que viveu uma vida de repressão e culpa, passa a se confrontar com seus desejos e frustrações, permitindo-se uma nova experiência de integração psíquica. O corpo, até então um território reprimido, torna-se um espaço de descoberta e reconciliação consigo mesma.
Por outro lado, Leo, apesar de sua aparente segurança e controle sobre a situação, também é atravessado pela relação com Nancy. Seu personagem carrega uma persona, outra noção junguiana fundamental, que é a máscara social que usamos para nos adequarmos ao mundo. Ao longo do filme, sua fachada de jovem confiante e bem-resolvido se desfaz aos poucos, revelando suas vulnerabilidades e um passado marcado por feridas emocionais. Nancy, ao enxergar além da persona de Leo, o coloca diante de suas próprias questões internas, promovendo um encontro genuíno entre dois seres humanos que se despem não apenas fisicamente, mas emocionalmente.
Cena do filme “Boa Sorte, Leo Grande”, direção Sophie Hyde.
A conexão entre os dois permite que Leo confronte sua própria sombra, trazendo à tona sua história familiar conturbada e o peso do julgamento social sobre sua profissão. Ao longo da trama, fica evidente que ele também carrega inseguranças e traumas não resolvidos, muitas vezes escondidos sob sua atitude profissional. O contato com Nancy o faz questionar a própria identidade e os significados que atribui ao seu trabalho, além de desvelar sua necessidade de aceitação e validação. Esse encontro inesperado, portanto, não apenas auxilia Nancy em sua individuação, mas também impulsiona Leo a olhar para dentro e buscar sua própria autenticidade.
A dinâmica entre Nancy e Leo ilustra a necessidade de integrar os aspectos renegados da psique para alcançar um estado mais pleno de autenticidade e autonomia. O filme, assim, não apenas discute a sexualidade da mulher madura, mas também a importância do reconhecimento e da aceitação das próprias sombras para a jornada de individuação. Boa Sorte, Leo Grande convida o espectador a refletir sobre como o encontro com o outro pode ser um espelho para o autoconhecimento, um tema central na obra de Jung.
Ficha Técnica
Título original: Good Luck to You, Leo Grande (2023)
Direção: Sophie Hyde
Gênero: Comédia dramática
Duração: 100 minutos
Elenco: Emma Thompson, Daryl McCormack, Isabella Laughland
Produção: Debbie Gray, Adrian Politowski, Julian Gleek, Mark Gooder, Nadia Khamlichi, Martin Metz, Alison Thompson
Distribuição: Paris Filmes