CAOS traz caminhos contra a violência – (En)Cena entrevista Clea Ballão

O (En)Cena entrevista a Psicóloga Clea Ballão que fará a abertura do CAOS na segunda 21 de agosto às 19h no Ceulp

Durante os dias 21 a 25 de agosto de 2017, semana em que se comemora o Dia do Profissional de Psicologia, o Caos – Congresso Acadêmico de Saberes da Psicologia – será realizado no Ceulp/Ulbra e contará com uma série de atividades que irão se debruçar sobre um dos temas mais emergentes da contemporaneidade, a violência. Temas como ‘Manejo clínico de vítimas de violência doméstica’, ‘Violência no Trânsito’, ‘Prevenção ao Suicídio e automutilação’, ‘Violência nas redes: em que momento nos tornamos tão insensíveis ao outro?’, ‘Alienação Parental no contexto sociojurídico’, ‘Violência e Sofrimento Psíquico no Trabalho’, ‘Arquétipos da violência nos contos de fada’ e ‘Mídia, Corpo e Violência’ serão alguns assuntos abordados, dentro de uma programação que envolve aproximadamente 30 atividades.

Clea Ballão. Foto: arquivo pessoal.

Uma das palestrantes confirmadas no evento é a professora e psicóloga Clea Maria Ballão Lopes, que possui graduação em Psicologia pela Universidade Tuiuti do Paraná, mestrado em Psicologia Clínica com ênfase em Psicanálise pela Universidade Federal do Paraná e atua como professora da Universidade Estadual do Centro-Oeste. Além disso, Clea tem experiência na área da Psicanálise atuando principalmente nos seguintes temas: clínica mãe-bebê e supervisão de estágios. Abaixo, confira a entrevista concedida ao portal (En)Cena.

(En)Cena – Recentemente a imprensa norte americana relatou que vem crescendo os casos de tentativas de suicídio entre crianças. Parece que a infância – que nem sempre, historicamente, era protegida – volta a ficar na linha de frente de uma dinâmica que, em tese, pertence ao mundo adulto, a violência. Como a Psicologia deve encarar esta problemática?

Clea Ballão – Penso que a psicologia deve encarar esta problemática com a mesma seriedade que vem enfrentando tudo aquilo que lhe concerne. De fato, alguns estudos têm apontado que a ocorrência de suicídio entre crianças vem crescendo também no Brasil. Então, me parece que devemos tratar deste assunto em eventos como este, mas também, enquanto professores responsáveis pela formação de psicólogos devemos levar ao conhecimento de nossos alunos, ferramentas que lhes permitam fazer a avaliação e promover o tratamento de crianças que estão sob o risco de suicídio ou que já tentaram se matar.

(En)Cena – Quais as principais consequências enfrentadas por uma criança exposta a atos de violência (violência simbólica, inclusive)?

Clea Ballão – As consequências estão relacionadas a problemas orgânicos, psicológicos e sociais. No âmbito orgânico observamos sequelas provenientes de lesões que podem ser abdominais, oculares, fraturas de membros superiores e inferiores e/ou crânio, de queimaduras com cigarro, ferro de passar roupas ou óleo quente, que poderão causar invalidez permanente ou temporária e, em alguns casos, culminar com a morte da criança, que é, muitas vezes, subestimada em função das dificuldades de se detectar as reais causas de morte. Na esfera psicológica são comuns sentimentos de raiva, de medo quanto ao agressor, isolamento, quadros de dificuldades escolares, dificuldade de confiar nos outros, autoritarismo, violência doméstica, parricídio ou matricídio, gravidez precoce e suicídio. No domínio social podem apresentar dificuldade de interagir com adultos e, mesmo, de estabelecer relações com seus pares. Como podemos perceber as consequências são devastadoras.

(En)Cena – Há uma literatura razoável sobre este tema? Se sim, quais os principais autores? 

Clea Ballão – Sim. Sobre o tema da violência temos grandes autores, estudiosos de diferentes áreas que nos ajudam a compreender este fenômeno que é tão complexo. Vou citar três autores bastante conhecidos, mas com certeza existem muitos outros.  Hannah Arendt, filósofa política alemã,escreveu um livro chamado “Da Violência” no qual ela tece uma investigação acerca da natureza e das causas da violência. Slavoj Zizek, sociólogo esloveno, que em seu livro “Violência”, faz uma crítica a pós-modernidade, o capitalismo, a globalização, a religião e expõe diversas formas de violência, esclarecendo que existe violência que é ocultada pelo sistema político e econômico. E, naturalmente, Freud, psicanalista austríaco, que se dedicou a compreender o psiquismo humano e, portanto, vários textos de sua autoria, podem nos auxiliar no entendimento acerca dos atos violentos praticados contra o outro. Mas, como eu disse existem vários autores que estudam o fenômeno da violência e que, certamente, muito contribuem para a sua compreensão.

(En)Cena – O que esperar, no futuro, de uma sociedade que parece viver uma epidemia de violência? O que está por trás disso?

Clea Ballão – Creio que esperamos encontrar caminhos possíveis para a diminuição da violência indo as suas causas. No que se refere especificamente a violência contra criança, acredito que um desses caminhos pode ser a resposta advinda de uma comunidade que se mantenha permanentemente unida e não dispense seu lugar de adulto, não abdique de sua autoridade e seja capaz de conter as angustias e o desamparo das crianças para que elas possam realizar suas revoltas e conquistarem a autonomia.

(En)Cena – Qual a sua expectativa de participar do CAOS, cuja temática é a violência em suas várias facetas? Pessoalmente, como você avalia a possibilidade de discutir este tema com acadêmicos de Psicologia?

Clea Ballão  Minha expectativa é das melhores. Voltar a Palmas para trocar conhecimentos na área da psicologia e da psicanálise, neste evento sobre a questão da violência, é uma honra. Penso que trata-se um tema muito importante, que deve ser discutido e estudado profundamente por profissionais e estudantes do campo da psicologia porque, certamente, na vida profissional nos deparamos diariamente com casos que envolvem a violência.

Por que CAOS?

A subversão de conceitos aparentemente fechados é uma das marcas das mentes mais invejáveis de todos os tempos. E pensar de forma subversiva é também quebrar com a linearidade das considerações pré-concebidas. Assim, resignificar e despir as “verdades” são a tônica de toda a produção científica, de toda a produção de saberes. Caso contrário, não se estaria produzindo ciência, mas, antes, dogmas.

A palavra CAOS, neste contexto, ganha especial sentido, já que remete à possibilidade do princípio da impermanência e da criatividade. A Física diz que é do princípio do CAOS que surge parte dos fenômenos imprevisíveis, cuja beleza se materializa na vida que se desnuda a todo instante.

É neste sentido que, também, para a Psicologia, o CAOS possibilita pensar sobre uma maneira de enxergar o Ser para além de rótulos ou de concepções a priori. Este microcosmo humano que é objeto de escrutínio do profissional de Psicologia guarda uma gama de imprevisibilidade e de originalidade que representam a própria riqueza da existência. Afinal, pelo CAOS pode-se iniciar intensos processos de mudanças, autossuperações e singularidades. É pelo princípio do imprevisível e do radicalmente distinto que se vislumbra a beleza da diferença. Estas são, em súmula, as bandeiras da Psicologia, área da ciência calcada essencialmente no Humanismo, que busca elevar a condição humana em toda a sua excentricidade, sem amarras, sem julgamentos. Esse é o princípio do CAOS, o Congresso Acadêmico de Saberes em Psicologia do Ceulp/Ulbra.

Mais informações:

Coordenação de Psicologia: Irenides Teixeira (63) 99994.3446
Assessoria do Ceulp/Ulbra: 3219 8029/ 3219 8100

Inscrições: http://ulbra-to.br/caos/

Psicólogo. Mestre em Comunicação e Sociedade (UFT). Pós-graduado em Docência Universitária, Comunicação e Novas Tecnologias (UNITINS) e em Psicologia Analítica (UNYLEYA-DF). Filósofo, pela Universidade Católica de Brasília. Bacharel em Comunicação Social (CEULP/ULBRA), com enfoque em Jornalismo Cultural; é editor do jornal e site O GIRASSOL, Coordenador Editorial do Portal (En)Cena.