Participar do Psicologia em Debate é sempre um grande aprendizado, já que o evento sempre traz temáticas relevantes para nossa formação acadêmica. Trata-se de uma ação que acontece semanalmente (quartas-feiras) no Ceulp/Ulbra, entretanto, a do dia 03/05/17 teve uma novidade, aconteceu às 08h da manhã, ou seja, uma oportunidade a mais para aqueles que não podem estar presentes no período da tarde.
Cabe ressaltar que o Psicologia em Debate nos permite trocas valiosíssimas, especialmente para os alunos. São apresentados conteúdos que irão agregar a nossa constituição enquanto acadêmicos. Nos mobiliza, e nos faz pensar sobre outra perspectiva. O nosso poder de argumento, de tomada de decisão frente aos acontecimentos é sem dúvida aperfeiçoado, passamos a ter a delicadeza de observar o que nos rodeia com outro olhar. Respectivamente, adquirimos conhecimento, ou seja, é uma viagem por esferas antes desconhecidas.
E o simples fato de estarmos no mesmo barco: alunos X alunos, é extremamente enriquecedor. Exemplo disto, os acadêmicos Erismar Araújo e Fabrício Veríssimo ministraram o debate deste dia, com o tema: ‘A CORROSÃO DO CARÁTER – Consequências Pessoais do Trabalho no Novo Capitalismo’. O embasamento teórico foi fundamentado no conceito do Richard Sennett, educador de sociologia da Universidade de Nova York e da London School of Economics, músico e romancista. Tornou-se famoso nos meios acadêmicos brasileiros por seu livro ‘O declínio do homem público’. (SIQUEIRA, 2002). Lembrando que houve participação de alguns professores, com um ambiente repleto de alunos. Ocorreu na sala 203, prédio 2, no CEUPL/ULBRA.
Este evento trouxe uma temática muito discutida em sala de aula, principalmente no que diz respeito às patologias ocasionadas pelo trabalho. Esta flexibilidade proposta por esse novo capitalismo traz risco, e com isso insegurança. Para o autor “há uma perda do senso de comunidade e a tentativa de transformar em seu correlato as comunicações eletrônicas, que se caracterizam por sua brevidade, pressa e inconsistência.” (SIQUEIRA, 2002). Concomitantemente, engloba situações diversas, o novo capitalismo chamado de flexível por Sennett, é por sua vez imediatista, os efeitos deste fenômeno mercadológico é desorientador, resultando em malefícios a saúde mental e física do indivíduo. Cobra-se postura, tempo, disciplina, qualidade, perfeição, prazo, enfim, o sujeito que trabalha tem que se reinventar a todo o momento.
Muitos fatores são comprometidos, perde-se a noção de valores, de tempo e de espaço. E com isso o caráter sofre mutações, ou seja, segundo o autor há uma corrosão. Como decidimos o que tem valor duradouro em nós numa sociedade impaciente, que se concentra no momento imediato? Como se podem buscar metas de longo prazo numa economia dedicada ao curto prazo? Como se podem manter lealdades e compromissos mútuos em instituições que vivem se desfazendo ou sendo continuamente reprojetadas? Estas as questões sobre o caráter impostas pelo novo capitalismo flexível. (SENNETT, 1999, p.11)
A sociedade vivencia o processo acelerado da globalização, e por sua vez traz benefícios, o que cabe nesse discurso é como o sujeito enfrenta esse dinamismo, quais as causas que provocam patologias, e o porquê de tanto desequilíbrio pessoal e profissional. Aproveitando o ensejo, cabe a nós futuros psicólogos adentrar a este universo sem medo, e buscar alternativas que possam colaborar com a promoção da saúde mental desses sujeitos fragilizados e a mercê do sistema capitalista, que por sua vez não perdoa.
REFERÊNCIA:
SENNETT, Richard. O Declínio do Homem Público: as tiranias da intimidade. Tradução: Lygia Araújo Watanabe. São Paulo: Companhia das Letras, 1999.