Suicídio, um mal que se alastra entre a Juventude

A vida sempre foi um tema complicado, não é de hoje que se analisa o valor de tudo que cerca o ser humano, qual o sentido de existir e se há algum objetivo em viver o ciclo eterno de prazer e desprazer que dá significado a passagem do tempo. A maioria das respostas para essas perguntas giram em torno de algo para conquistar, o sentido é chegar a algum lugar, atingir um objetivo, dependendo do subdesenvolvimento do raciocínio, até provar algo a alguém. Independente da resposta, a conclusão é que vale a pena, apesar do ônus, desistir por conta própria da vida é algo impensável.

Então por que cometer suicídio? Por que desistir de algo que apesar da cultura, da religião ou da localização geográfica, é certo que vale a pena? A resposta não reside em apenas um fator, ou uma ideologia, um acontecimento traumático. É preciso considerar o grupo social, o passado, a cultura, as maneiras de se relacionar com o meio, genética em certa proporção.

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Cerca de nove a cada 10 pessoas que cometem suicídio sofrem de alguma patologia de ordem mental, as que figuram com mais frequência nesses casos são os transtornos de humor, os transtornos de personalidade e a dependência de substâncias químicas. A partir destes dados, é completamente derrubada a ideia de que quem comete suicídio, o faz no pleno controle de suas faculdades mentais e no exercício de seu livre arbítrio.

Isolamento social também tem uma parcela de culpa considerável pela decisão de autoextermínio. O homem é um ser social e isso não vai mudar tão cedo, a interação saudável com o grupo e com o meio são necessidades que não podem de maneira alguma ser negadas, uma vez que isso acontece a pessoa se sente deslocada, e aos poucos, suas ideias do sentido ou objetivo da vida começam a ser alteradas. A certeza de que o bônus é maior que o ônus começa a desmoronar, contribuindo imensamente para o surgimento de ideias suicidas.

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É impressionante o fato de o grupo com maior índice de suicídios ser o de jovens de 15 a 29 anos. Parece contraditório que o suicídio, um impulso originado de sensações de impotência, insatisfação com o próprio corpo ou personalidade, possa atingir com mais frequência quem passa pela época da vida tida como o auge da disposição e felicidade. O jovem tem energia para tudo, trabalha, estuda, sai aos finais de semana com os amigos, chega em casa depois do amanhecer. No entanto, estas mesmas pessoas são cercadas de responsabilidades e expectativas que excedem em muito o tolerável para um ser humano saudável.

O que dizem as estatísticas

Segundo a Organização Mundial da Saúde, dependências química ou psicológica, abusos, acontecimentos traumáticos e transtornos mentais, são os maiores contribuintes para os altos índices de suicídio entre os jovens. Ainda segundo a OMS, mais 800 mil pessoas no mundo morrem vítimas de suicídio todos os anos, o que resulta em uma média de 11,4 suicídios a cada 100 mil habitantes. O Brasil por sua vez tem índices bem mais baixos do que a média mundial, 6 para cada 100 mil habitantes, no entanto antes de comemorar é necessário lembrar que aqui os dados são mais incertos. No Brasil ainda há casos em que a certidão de óbito de um suicida é preenchida constando acidente de trabalho ou doméstico, até mesmo homicídio em alguns casos. Em algumas regiões o corpo é velado sem sequer um médico legista para assinar a certidão de óbito.

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O suicídio representa 1,4% das mortes no mundo, mas lidera o ranking de mortes violentas com 56% do total. Apesar de atingir com mais frequências pessoas acima de 70 anos, é com preocupação que se constata que essa é a causa de morte de 8,5% das pessoas que tem de 15 a 29 anos, ficando atrás apenas de mortes no trânsito, o que representa 6 vezes a média de todas as faixas etárias. Para ter uma noção mais clara de como o suicídio se distribui e preciso olhar para números absolutos e proporções. 75,5% dos suicídios registrados ocorrem em países de renda média ou baixa, porém em países de renda alta, o suicídio representa 81% das mortes violentas.

O sociólogo polonês Zygmund Bauman traz em seus livros “Amor Líquido” e “Modernidade Líquida”, um conceito que define segundo ele a instabilidade da sociedade pós-guerra fria. Onde os valores adquirem uma plasticidade cada vez maior, e as relações seguem este mesmo caminho, se tornando algo mais adaptável e ao mesmo tempo superficial. É uma época de imediatismo, trocas rápidas, relacionamentos do tipo “macarrão instantâneo” (rápido para fazer, rápido para consumir, rápido para jogar fora). Há uma ausência de padrões nos quais as pessoas possam se apoiar, e o gozo desse novo nível de liberdade traz consigo a insegurança e o vazio de não ter nada sólido para recorrer em tempos de crise. Mas este estilo de vida é necessário para que a máquina capitalista funcione a todo vapor.

Os jovens indígenas

Segundo uma pesquisa do Estadão de 07/06/2014, “nos últimos dez anos, entre 2002 e 2012, o Amazonas foi o estado onde o suicídio de jovens mais cresceu (134%)”. No Amazonas a população indígena segundo as pesquisas da folha representa 4,9% da população em geral, ou seja, 20,9% dos suicídios foram praticamente indígenas, a folha ressalta que no Mato Grosso do Sul a situação não é diferente, afirma que “onde a proporção de índios entre os que se mataram é sete vezes maior do que a fatia deles na população”. Mas porque isso acontece? Infelizmente, em muitos países a população indígena esta desgarrada, afastada de sua cultura, pois não possui espaços ou terra para praticar seus costumes e ritos, um grande exemplo é os Estados Unidos, por conta do progresso acabou matando e expulsando os índios de suas terras.

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No Brasil ainda não chegamos a essa realidade, mas há várias notícias de confronto entre fazendeiros e índios pela posse de terra. Os jovens indígenas muitas vezes optam por uma vida urbana, longe de suas aldeias, pois muitas vezes ficam encantados com as cidades, quando isso a aldeia passa a vê-los como não-índios, como alguém que cresceu e participou de sua cultura, mas a população urbana não é dessa forma, muitas pessoas discriminam esse “ex-indígena” e por consequência ele mesmo acaba tendo um pensamento de não pertencer a lugar algum.

Influência do sistema socioeconômico no suicídio

Hoje em dia, sabemos que o sistema geopolítico e socioeconômico hegemônico no mundo, é baseado no acúmulo gradativo de capital e no consumo das massas, ele é chamado de neoliberal. Por mais que muitos teóricos defendam que este modelo garanta liberdade individual, vemos que cada vez mais os indivíduos se prendem a valores e práticas superficiais para preencherem seus vazios existenciais ou para se sentirem aceitos: uso de drogas, o consumismo e adesão aos padrões estéticos, são exemplos de comportamentos que podem levar os sujeitos a sentimentos depressivos.

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Segundo o banco Credit Suisse, em 2015, 1% da população mais rica do mundo concentrou metade de toda riqueza do planeta. Tal fato só se tornou possível graças ao modelo de consumo desenfreado que sustenta a economia. As pessoas procuram no ato de comprar uma alegria rasa e momentânea. Para aqueles que transferem aos objetos a condição para serem felizes, isso é extremamente perigoso, pois nunca irão se sentir saciados e plenos. Além disso, os meios de publicidade bombardeiam pessoas de todas as idades com ideias superficiais sobre o sentido da vida, restringindo seus horizontes e determinando o modelo de que nosso valor é medido pelo que possuímos. Numa sociedade onde se vale o que se tem, quem tem pouco tende a se sentir inferiorizado.

A publicidade influencia a vida dos indivíduos em sociedade de várias formas, tudo para leva-los a consumir os milhões de produtos disponíveis no mercado. No que se trata de estética, a padronização de modelos de beleza determina que tipos de pessoas sejam mais aceitas, com seus rostos ou corpos. Acontece que a grande maioria da população não atende a esses quesitos e então, procuram formas de se moldarem nos padrões, comprando produtos que se dizem milagrosos e regulando suas práticas de alimentação e exercícios. Cuidar da saúde e do corpo não é algo negativo, o problema é que existem aqueles que se sentem extremamente tristes por não atenderem aos valores estéticos e a não aceitação em sociedade pode levar á casos mais graves, como a depressão e até mesmo ao suicídio.

As drogas são um dos fatores que também aumentam a chance de suicídio na vida de alguém, boa parte dos países possuem políticas de proibição e repressão a alguns tipos destas, acontece que as legalizadas também contribuem para este fator, por exemplo, o álcool. 15 a 25% dos suicídios no mundo são causados por esta droga, porém as políticas de controle são mínimas por parte dos governos, mesmo que seja sabido que 11,2% da população mundial é alcoólatra. Antidepressivos e tranquilizantes não ficam de fora, pois alteram comportamento, humor e cognição dos usuários, tornando-os dependentes químicos e agravando seus quadros depressivos.

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Vimos exemplos de problemas que contribuem para ansiedade, depressão e sentimentos autodestrutivos, os pilares que sustentam um possível suicídio. Todos eles possuem raízes na dinâmica econômica e social do sistema capitalista neoliberal, nos mostrando que por mais que hoje tenhamos avanços tecnológicos e conforto para viver nossas vidas, é necessário também que se rompam os agentes de controle que afastam o ser humano de sua plenitude existencial e o mergulham numa ilusória e superficial realidade.

Considerações Finais

A partir deste estudo foi possível analisar a amplitude do suicídio, e como se torna complexo estudá-lo, principalmente tratando-se do adolescente. Trabalhar o suicídio é um assunto delicado, já que a temática é um tabu e desperta medo nas pessoas. Ao estudar os livros “Amor e sobrevivência”, “Viver é a melhor opção” e “O suicídio”, ampliamos nossos conhecimentos sobre a temática e compreendemos que é necessário amparar a saúde mental nas pessoas com profissionais que possuam mais capacitação para esse cuidado.

Fonte: http://zip.net/bstLN5

As internações com os profissionais de saúde, considerando a importância da enfermagem em saúde mental, são cruciais, para proporcionar o cuidado ao ser humano e atender suas necessidades psicossociais, servem como uma ferramenta para disseminar informações aos pacientes e também aos familiares e agir na sociedade, fornecendo orientações sobre o suicídio e assim poder identificar riscos e preveni-los. Para que isso ocorra, é necessário não somente estar baseado nos recursos técnicos e teóricos, mas sensibilizar e humanizar nossos sentidos. Os preconceitos e até mesmo as dificuldades pessoais fazem com que o profissional da área da saúde, apresente dificuldades em manejar estes casos. Ocorrendo com certa frequência até menosprezo para com o jovem suicida.

REFERÊNCIAS:

DURKHEIM, Émile. O suicídio: estudo de sociologia. 1. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2000. 513 p., il.

MENDES, André Trigueiro. Viver é a melhor opção. 3. ed. São Bernardo do Campo, SP: Correio Fraterno, 2017. 190 p., il.

ORNISH, Dean. Amor & sobrevivência: a base científica para o poder curativo da intimidade. Rio de Janeiro: Rocco, 1998. 263 p., il.