Viva – A Vida é uma Festa: a influência da família na subjetividade

Concorre com 2 indicações ao OSCAR:

Melhor Animação, Melhor Canção Original.

 

Lembre de mim, hoje eu tenho que partir

Lembre de mim, se esforce pra sorrir

O novo longa da Pixar, Viva – A Vida é uma Festa (Coco), é um filme de 2017 dirigido por Lee Unkrich, que surpreende pela estética encantadora e trilha sonora envolvente. A recente compra da Pixar pela Disney gera um filme com o melhor dos dois “mundos”, a leveza da Pixar e o grande apelo emocional da Disney.

O sonho do pequeno Miguel, de 12 anos, é se tornar um grande músico. Porém é reprimido por sua família, que repudia música devido a um abandono sofrido pela sua tataravó, que foi deixada com uma filha quando seu marido decidiu seguir seu sonho de uma grande carreira musical. Tudo isso em um contexto de uma pequena cidade do México, que celebra o “dia de los muertos”.

Fonte: https://goo.gl/zBf6gi

No México, o dia dos mortos é uma celebração que honra os falecidos no dia 2 de novembro. Acredita-se que nesse dia, os antepassados ganham permissão divina para visitar seus parentes. Por isso, a data é festejada com comida, bolos, festa, música, e as casas enfeitadas com flores, velas e incensos, e preparam as comidas preferidas dos que já partiram.

Após quebrar um porta-retrato, Miguel descobre uma foto de família incompleta de sua tataravó, faltando a figura do musico misterioso que a abandonou. Ao ver um violão familiar na fotografia, o jovem investiga e se convence que pertence ao seu cantor favorito: o magnífico Ernesto de La Cruz, um ícone nacional. Inspirado pela história de seu ídolo, Miguel decide se apresentar na praça da cidade em um festival de talentos em comemoração ao Dia dos Mortos, porém é retaliado por sua avó, que quebra seu violão. Para Peres (2005), as necessidades da criança seriam constituintes das emoções e motivariam o desenvolvimento, e por isso deveriam ser organizadas inicialmente na família por meio da comunicação entre os membros. Porém, isso seria dificultado devido aos vários modelos de família, influenciados por situações socioculturais.

Frustrado com o modelo imposto por sua família e desesperado, o jovem decide roubar o violão de quem acredita ser seu antepassado, De La Cruz, que fica em um memorial no cemitério. Invadindo o recinto, ele toca o violão, sendo surpreendido com uma grande reviravolta: ele passou para o mundo dos mortos. Surpreso com a nova forma, Miguel encontra seus parentes falecidos e descobre que a única forma de sair daquele mundo é com a benção de um parente. Sua tataravó decide lhe conceber a bênção, porém com a condição de que ele nunca mais se envolva com a música. Novamente, o garoto se encontra revoltado, mas dessa vez decidido a pedir a bênção a outro parente naquele mundo, o próprio Ernesto de La Cruz.

Fonte: https://goo.gl/7biQxa

A família é dinamicamente baseada em uma dicotomia, pois presa conservação e ao mesmo tempo, expansão (SAWAIA, 2005). Devido à necessidade de qualidade e sensibilidade nos seus vínculos, Sawaia (2005) aponta a afetividade como característica com um potencial perigo, uma vez que pode ser mantenedora de poder, tornando a ordem emocional algo político. Existem vários riscos, como a associação de amor com submissão; confusão de intimidade e democracia; e ainda idealizações da vida em família.

Os papéis iniciais assumidos pela criança na família, oriundos da afetividade necessária, seriam gradualmente diferenciados e singularizados e também se tornariam mais complexos. A formação da subjetividade seria dependente da afetividade, tornando as condutas dependentes do social. Portanto, a compreensão do caráter intersubjetivo dos papéis auxiliaria o desenvolvimento de um autoconceito, sendo a família um lugar de possível produção de subjetividades individuais, construindo um sujeito (PERES, 2005).

Fonte: https://goo.gl/fJiTQ8

Com a sua própria subjetividade em construção, Miguel encontra apoio na figura de De La Cruz, e a afetividade é o catalisador de sua motivação para se auto-desafiar. A instituição familiar se torna, portanto, um lugar de segurança e acalento ao indivíduo gerado nela, por meio de um atendimento mais atencioso e empoderador, favorecendo seu desenvolvimento.

Com muita música e um visual acalentador, Viva – A Vida é uma Festa pode arrancar lágrimas de qualquer um que o assista, pois salienta uma das capacidades mais nobres do ser humano: o amor.

Fonte: https://goo.gl/47js9L

FICHA TÉCNICA

                VIVA – A VIDA É UMA FESTA

Diretor:  Lee Unkrich
Elenco: Anthony Gonzalez, Gael García Bernal, Benjamin Bratt, Renée Victor;
Gênero: Fantasia
Ano: 2017

Referências:

PEREZ, Vannúzia L. A. O Estudo da Subjetividade na Família: Desafios Metodológicos. In: F. González Rey. (Org.). Subjetividade, Complexidade e Pesquisa em Psicologia. São Paulo: Thomson, 2005.

SAWAIA, B. B. Família e afetividade: a configuração de uma práxis ético-política, perigos e oportunidades. In COSTA, A; VITALE, M. (org). Família: redes, lações e políticas. 4 ed. São Paulo: IEE/PUC-SP e Cortez, 2005. p. 39 a 50.

Psicóloga egressa do CEULP/ULBRA, especialista em Saúde da Família e Comunidade pela FESP.