Tratamento de Depressão e o Preconceito contra os Antidepressivos

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Vivemos em um tempo onde cada vez mais se torna comum termos contato com o adoecimento psíquico, seja porque nós mesmos estamos vivenciando, ou temos pessoas próximas que passam por estes desafios e assim afetam também a vida dos que os rodeiam, gerando muitas vezes busca por conhecimento acerca do que são os transtornos, como se manifestam, como podem ser tratados, e nos perguntamos qual o melhor tipo de tratamento para cada um, se realmente precisa de remédio, ou às vezes se basta somente tratar com remédio.

Um dos transtornos mais comuns que se vê na atualidade é a depressão, onde temos como características mais comuns o humor deprimido, a falta de interesse em atividade cotidianas, isolamento, e em casos mais graves pode levar até a ideação suicida. A depressão coloca o indivíduo em um sofrimento que pode chegar a níveis extremos, que pode dificultar a vivência das relações, trabalho, estudos, todas as realidades daqueles que a vivenciam.

Para falarmos sobre o tratamento mais adequado e eficaz para este adoecimento, precisamos compreender como ele acontece, suas causas, e como se dá o aprofundamento dos sintomas, e um consenso de que a depressão pode se desenvolver por diversos fatores, sendo alguns deles a predisposição genética, acontecimentos traumáticos, personalidade, sociais e de relacionamentos interpessoais, não pode ser atribuída a uma única (BARROSO, 2018).

No nosso cérebro por algum ou mais um destes motivos os neurônios para de produzir um ou mais dos seguintes neurotransmissores: serotonina, noradrenalina e dopamina, conforme Lage (2011), e com a diminuição na produção desses neurotransmissores começa a diminuir a quantidade de sinapses realizadas, e os neurônios vão sendo cada vez menos estimulados, a partir deste momento já aparecem os primeiros sintomas. É importantíssimo que desde os primeiros sintomas procure ajuda, pois a tendência é de que com o passar do tempo os sintomas se aprofundem, os neurônios que estão sendo pouco estimulados, param de produzir uma vitamina chamada BDNF, vitamina que é alimento dos neurônios, e passam a diminuir a quantidade de suas conexões, e chegando ao ponto destes neurônios deixarem de existir.

Figura 1 – Esquema de neurônios com e sem a vitamina BDNF que só é produzida em neurônios que são frequentemente estimulados.

 

Uma breve analogia para entendermos este processo natural do organismo é quando praticamos alguma atividade física, e nosso corpo vai ganhando mais músculos nas áreas mais estimuladas e vai se fortalecendo, no entanto quando deixamos de fazer atividade física tudo aquilo que havia sido adquirido de massa muscular e preparo físico logo desaparecem, dessa mesma forma se dá no cérebro humano, a medida que uma parte deixa de ser estimulada ela começa a diminuir e por fim os neurônios vão deixando de existir. Assim é possível observar os casos mais profundos de depressão que os indivíduos apresentam muita dificuldade de melhora, se dá justamente por esta perda de massa cerebral.

Partindo deste entendimento da depressão, como traçar a melhor forma de tratamento? Para este, como para muitos transtornos não há uma resposta certa que contemple todos as pessoas, cada pessoa que vive com este transtorno o experimenta de uma forma, apresenta sinais e sintomas diferentes, e isto afeta suas realidades também de formas diferentes. Por isso o tratamento para cada paciente é único, mas podemos aqui trazer aspectos essenciais para o tratamento, como ao perceber os primeiros sintomas já buscar ajuda profissional, procurar terapia para trabalhar suas questões de sofrimento e fazer psicoeducação aprendendo a identificar e lidar com os sintomas, percebendo a necessidade buscar o tratamento medicamentoso, procurar criar hábitos saudáveis, tanto em nível de alimentação quanto a atividade física, e contar com o apoio da rede de apoio, pessoas próximas com se tem bom vínculo de confiança.

Como falado para cada pessoa existe um tratamento específico, estes aspectos citados são os basilares de qualquer tratamento deste transtorno, e para além deste entram as estratégias específicas para cada realidade encontrada. E aqui nesse processo de tratamento podemos encontrar muitos desafios relacionados à adesão ao tratamento, tanto a resistência das pessoas em buscarem a terapia para trabalhar suas questões pessoais, quanto o preconceito quanto ao tratamento medicamentoso quando ele é evidenciado como necessário no caso em questão.

Trazemos ainda como marca da sociedade media certa resistência quanto a terapia, que por gerações foi tido como coisa para ‘loucos’, comportamento este que expõe os indivíduos a se permitirem sofrer muito mais do que precisam e por vezes esperar que seus sofrimentos cheguem a níveis que já atrapalham todas as áreas de suas vidas para só neste momento buscarem ajuda para lidar e manejar seus problemas. 

Outro grande problema frequente no tratamento da depressão está no preconceito ligado ao uso do medicamento, que pode se dar por diversos motivos como por não ser bem explicado aos indivíduos que começam este tipo de tratamento que ele demora certo tempo para começar a apresentar o efeito desejado de melhora nos sintomas da depressão, e que, no entanto os efeitos adversos podem começar no dia seguinte ao início do tratamento. 

Questão comum também ligada ao tratamento medicamentoso no tratamento é o medo de se tornarem dependentes pelo resto de suas vidas do remédio, no entanto não a menor parte das pessoas que fazem tratamento com antidepressivos acaba tendo que fazer uso por tempo muito mais prolongado do medicamento, justamente por estar vivenciando uma depressão mais profunda com perda de massa encefálica, o que dificulta a recuperação do indivíduo. 

Faz-se necessário compreender o porquê da demora do medicamento em trazer a melhora em relação a velocidade em trazer seus efeitos colaterais. Como visto a depressão altera o processo de produção de um ou mais dos neurotransmissores, serotonina, noradrenalina e dopamina, então a maioria dos antidepressivos age nos neurônios impedindo que ele recolha os neurotransmissores que ainda não se uniram aos receptores do outro neurônio fazendo que estes neurotransmissores passem mais tempo na fenda e possam se ligar e produzam assim a quantidade normal de sinapses (comunicação elétrica entre neurônios), com a quantidade baixa que está sendo produzida pelos neurônios.

No entanto, os mesmos neurotransmissores importantes na depressão, também estão diretamente ligados a outros processos no corpo humano, como olhos, glândulas salivares, intestino, pâncreas, rins, fígado, coração, pênis. O remédio que faz efeito nas sinapses cerebrais também faz nestes sistemas, pois usam os mesmos neurotransmissores, o que explica os efeitos colaterais dos medicamentos, algo importante a ressaltar é que estes efeitos são considerados efeitos leves que o organismo do indivíduo a curto prazo ou deixam de existir ou são assimilados pelo organismo e o indivíduo encontra meios para lidar com os efeitos no cotidiano, como a sensação de boca seca, que faz com que a pessoa passe a tomar mais água em vista de diminuir esta sensação.

Mas por que o antidepressivo não tem ação rápida, e eficaz já no primeiro dia? O cérebro tem seu sistema de segurança e Feedback, cada neurônio tem uma estrutura que analisa a quantidade de neurotransmissores lançados na fenda sináptica e envia um Feedback para o próprio neurônio, ou indicando que esta tudo normal ou esta estrutura percebe que tem um volume muito elevado de neurotransmissores e começa a agir diminuindo ainda mais a produção de neurotransmissor e diminuindo a quantidade que é lançada na fenda, só depois de alguns dias ou semanas fazendo o uso da medicação é que esta estrutura desiste de inibir a produção e as sinapses voltam à normalidade e assim a pessoa passa a sentir a melhora com o uso do remédio. 

Figura 2 – Neurônio serotoninérgico, auto receptor é destaque em roxo.

Com o passar de alguns meses fazendo o uso corretamente da medicação o neurônio que foi muito estimulado, voltou a produzir sua vitamina e pode voltar a produzir em quantidade normal os neurotransmissores que estavam sendo produzidos em baixos níveis, paralelo a este tratamento medicamentoso que trata os sintomas, se o indivíduo buscou a terapia tratou também as possíveis causas do transtorno, podendo fazer com que estes níveis de neurotransmissores não voltem a diminuir, e se organizou em relação a hábitos saudáveis, esta pessoa tem grandes chances de ter uma vida melhor sem sofrer com sintomas de depressão, e poderá deixar de fazer o uso do medicamento, fazendo o desmame de forma correta junto ao profissional competente.

Portanto, diante da percepção dos sintomas, se faz necessário buscar ajuda, fazer terapia, buscar hábitos saudáveis, e se necessário viver o processo de tratamento medicamentoso para que tão logo quanto possível o organismo possa voltar a normalidade e que possa bem viver cada aspecto da vida. 

Referências 

BARROSO, Sabrina Martins; BAPTISTA, Makilim Nunes; ZANON, Cristian. Solidão como variável preditora na depressão em adultos. Estudos Interdisciplinares em Psicologia, v. 9, n. 3, p. 26-37, 2018.

LAGE, Jorge Teixeira. Neurobiologia da depressão. 2011.

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Psicologia Hospitalar – Trabalhando com a subjetividade no processo de adoecimento

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A psicologia hospitalar é uma área de atuação da psicologia que busca entender e tratar o indivíduo e sua relação com o adoecimento, levando em conta os aspectos psicológicos que envolvem o adoecer sendo eles físicos, biológicos, psíquicos e subjetivos. O aspecto subjetivo pode ser expresso em sentimentos, pensamentos, falas e etc, o que pode reverberar em efeitos também nas suas relações com família, amigos íntimos e a equipe médica. A psicologia hospitalar fala sobre o adoecer subjetivo, tendo em vista que o biológico já está em evidência nos tratamentos de outras áreas da saúde como por exemplo a medicina e a enfermagem (TRUCHARTE; KNIJNIK; SEBASTIANI, 2003).

A psicologia hospitalar tem como seus clientes o paciente que está relacionado ao adoecimento, a família e os amigos íntimos desse indivíduo, e a equipe médica. O psicólogo hospitalar deve se atentar às demandas que podem surgir com o enfrentamento da doença no caso do indivíduo e de sua família, comportamentos alterados, emoções e sentimentos exacerbados, frustração, estresse, lidar com possíveis sequelas de tratamentos ou da doença, relacionamentos fragilizados e etc. Na equipe médica seu atendimento pode ocorrer em situações de sobrecarga, estresse ou mesmo sobre questões sobre como lidar com as escolhas do paciente ou de sua família. Ressalta-se ainda que o atendimento pode acontecer por uma solicitação ou quando o profissional perceber a necessidade de atender a alguma demanda (SIMONETTI, 2004).

Fonte: encurtador.com.br/fuzGN

O setting terapêutico do psicólogo hospitalar é dinâmico e exige manejo do profissional para lidar com as interferências e particularidades, pois o mesmo pode se encontrar em qualquer lugar dentro de um hospital, o atendimento ocorre quando necessário e no momento em que surge a demanda pois as mesmas são mutáveis e estão relacionadas aos acontecimentos ou a própria relação com a doença, levando em conta a necessidade por parte do paciente, família ou equipe médica. Preferencialmente o melhor horário para os atendimentos são durante o período vespertino devido a rotina hospitalar agitada durante a manhã, e respeitando o período de descanso e visitas à noite. A alta psicológica ocorre apenas quando não há mais demanda, ou quando o paciente recebe alta médica (SIMONETTI, 2004; TRUCHARTE; KNIJNIK; SEBASTIANI, 2003).

O adoecimento pode afetar o psicológico desencadeando doenças, inseguranças, medos, fragilidades, podendo também agravar situações que já estavam presentes como baixa auto-estima, depressão, ansiedade, crenças de valor. O campo psíquico também pode ser a causa da doença, como no caso das doenças psicossomáticas. Apesar disso, a doença também pode causar no psicológico a manutenção de pensamentos e enfrentamentos, pode tornar o indivíduo resiliente, e mudar seu modo de agir e suas perspectivas tanto nas suas relações, como sobre si e sua relação com todas as áreas da sua vida, e ser assim consequência de mudanças boas ou ruins (TRUCHARTE; KNIJNIK; SEBASTIANI, 2003).

O papel do profissional da psicologia hospitalar é auxiliar o indivíduo no processo do adoecimento, atendendo as demandas que surgem, podendo usar técnicas e estratégias a fim de promover a compreensão, o enfrentamento, ressignificar ou dar significados ao que se sente diante ao adoecer, trabalhando tanto com o sujeito como com as pessoas envolvidas nesse processo, com uma prática que evidencia o sujeito que está passando por um momento da sua vida e não o despersonaliza perante sua doença (SIMONETTI, 2004).

REFERÊNCIAS

SIMONETTI, A. Manual de Psicologia Hospitalar: O mapa da doença. Casa do Psicólogo, São Paulo, 2004.

TRUCHARTE, F.A.R.; KNIJNIK, R.B.; SEBASTIANI, R.W. Psicologia Hospitalar: Teoria e Prática. Augusto Angerami – Camon (org.), Pioneira Thomson Learning, São Paulo, 2003.

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A ansiedade e o trabalho

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Psicóloga Clínica com abordagem em Cognitivo Comportamental com foco em emoções, Coaching de bem-estar e carreira, Professora de pós-graduação, Palestrante e Escritora. É pós-graduada em Gestão Estratégica de Recursos Humanos e em Gestão Empresarial

A Organização Mundial da Saúde (OMS) alerta que o Brasil vive uma epidemia de ansiedade. De acordo com o órgão, nosso país possui o maior número de ansiosos do mundo: são 18,6 milhões de pessoas, o que representa 9,3% da população. As mulheres são as que mais sofrem: 7,7% das brasileiras são afetadas. Os afastamentos de profissionais por conta da doença custaram R$ 1,3 bilhão, em 2016, à Secretaria de Previdência. No mundo, há mais de 260 milhões de indivíduos com o transtorno.

encurtador.com.br/kAB25

Algumas questões relacionadas à saúde psíquica começam a aparecer após anos de trabalho. Caso falarmos da síndrome de burnout, isso é uma verdade, pois não aparece repentinamente como resposta a um estressor determinado. Ela emerge numa sequência determinada de tempo. Mas existem outros transtornos como depressão e ansiedade que são comuns nos trabalhadores brasileiros que não existe uma determinação de anos para ocorrer. 

O trabalho atual está focado na transição da força física para a intelectual. O grande diferencial do trabalhador está na capacidade de resiliência e aprendizagem acelerada. É exatamente neste ponto que muitas empresas se perdem, com uma exigência intensa na questão emocional gerando uma pressão interna e um aumento de estresse, que pode levar aos transtornos psíquicos.

A saúde mental é responsável pela qualidade de vida, ou seja, o equilíbrio entre a vida profissional , que são  os resultados e produtividade;  a vida amorosa, relacionamentos amorosos; a vida familiar, que são questões ligadas ao relacionamento familiar; e a vida social, que é composta pelo relacionamento com amigos e comunidade.  Sem equilíbrio o nosso senso de felicidade é diretamente afetado.

encurtador.com.br/kHL01

Nosso corpo nos dá sinais quando algo não vai bem. Existem sintomas fisiológicos e psicológico quando o trabalho está gerando ansiedade no colaborador.  Nos sintomas fisiológicos, vemos falta de apetite, cansaço, insônia, dor na coluna, problemas digestivos, taquicardia, entre outros. Já nos sintomas psicológicos é comum perceber alta irritabilidade, frustração, falta de vontade de realizar tarefas, isolamento, fadiga emocional, entre outros. 

A dificuldade de quem está passando por esse problema é exatamente identificá-lo, pois a maioria das pessoas acredita que é apenas uma fase de estresse intenso e que irá passar.

O sintoma típico da síndrome de burnout é a sensação de esgotamento físico e emocional e isso irá refletir em atitudes negativas, como ausências no trabalho, agressividade, isolamento, mudanças bruscas de humor, irritabilidade, dificuldade de concentração, lapsos de memória, aumento de ansiedade e depressão, e sintomas físicos como dor de cabeça, cansaço intermitente, sudorese, palpitação, pressão alta, dores musculares, insônia, entre outros.

A partir do momento que existe prejuízo na vida devido ao trabalho, é hora de procurar uma avaliação. A base do tratamento para a ansiedade inclui o uso de antidepressivos e psicoterapia.

encurtador.com.br/eBIN7

Algumas estratégias para relaxar e diminuir os sintomas da ansiedade, além da psicoterapia, são a inclusão de atividades físicas, exercícios de relaxamento e mindfulnessque é a consciência plena. A técnica consiste em tratar experiências livre de julgamentos. Isso requer que você desenvolva suas próprias percepções sobre as situações, através de um conjunto de práticas, como técnicas de respiração e meditação.

 

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11 de agosto: vida estudantil e adoecimento psíquico

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O espaço escolar e acadêmico se torna um ambiente comprometedor e adoecedor, por fatores sociais, que pode trazer à tona uma “atmosfera” competitiva

Neste 11/08 se comemora o dia do estudante. A data foi sugerida em 11 de agosto de 1927 para homenagear os primeiros cursos de ciência jurídica implementados no Brasil. Relembrar e repercutir o dia do estudante é uma maneira de não olvidar  importantes pesquisas científicas que surgem das universidades, assim como a construção do conhecimento que molda um futuro mais abrangente para a realidade de crianças, adolescentes e adultos. 

Mais que nunca a educação se encontra sucateada, assim como desvinculada como prioridade. O governo demonstrou seu descaso ao anunciar corte de R$ 5,8 bilhões nas verbas destinadas às universidades públicas e programas de fomento à pesquisa, com a desculpa de que tais recursos seriam investidos na educação básica, entretanto, além de não cumprir, retalhou investimentos em programas de apoio a educação em tempo integral, construção de creches, alfabetização e ensino técnico. Os dados foram obtidos por meio da Lei de Acesso à Informação (LAI) e Sistema Integrado de Planejamento e Orçamento do Governo (Siop) (REDAÇÃO RBA, 2019). 

encurtador.com.br/DKO04

Além dos problemas externos resultantes do cenário político, realidades internas, ou melhor, estados psíquicos, também estão em evidência. A psicóloga  Karen Graner,  atualmente, participa de projetos de pesquisa em Psicologia da Saúde e Saúde Coletiva com enfoque na saúde mental de estudantes universitários (sofrimento psicológico e uso de substâncias, e fatores associados). Ela dirigiu uma pesquisa que levanta dados sobre o adoecimento psíquico, sendo que 30% dos brasileiros encontram-se nessa realidade; em escala mundial, os números aumentam em 49,1%, sendo que em cada dois estudantes, um se encontra afetado por questões diretamente relacionadas com a saúde mental (REDAÇÃO G1, 2018).

Em 2016, a “Pesquisa Censo e Opinião Discente” na Universidade Federal do ABC (UFABC) mostrou que 17,92% dos trancamentos durante o ano foram por “questões psicológicas” (REDAÇÃO G1, 2018). De alguma maneira a saúde dos estudantes vem sendo comprometida por fatores em comum. 

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Quando se abre brechas para a fala desses alunos, percebe-se que o espaço escolar e acadêmico se torna um ambiente comprometedor e adoecedor, por fatores sociais, que traz à tona uma “atmosfera” competitiva, pela qual não estar na frente, é perder um status, uma boa nota, e até um futuro promissor. “É muito complicado, porque existe uma cobrança da sociedade e da gente mesmo”, relatou uma ex estudante do ensino superior,  que não quis ser identificada, que pausou os estudos por estar lidando com premissas que a fizeram entrar em adoecimento psíquico. 

Por vezes esses alunos se cobram como se fossem uma “máquina de resultados”, e aos poucos não mais é necessário que alguém os pressione, pois a autocobrança se torna um pensamento constante e excessivo, como defende Eliane Brum, do jornal El País, “Exaustos-e-correndo-e-dopados”. Na mesma linha, segundo Han: “somos ao mesmo tempo prisioneiro e vigia, vítima e agressor. Assim, acabamos explorando a nós mesmos. Com isso, a exploração é possível mesmo sem senhorio”. Sobre uma suposta liberdade de conhecimento, sucesso, estabilidade financeira, os indivíduos acabam por se tornar escravos de seus objetivos, e o custo em nossa atualidade, de tantos desdobramentos em torno de esforços que por vezes nem sequer passam pela nossa consciência, é o adoecimento. 

encurtador.com.br/ostGL

Em poucas culturas se incita o autoconhecimento e autocontrole, as esferas emocionais acabam sendo “deixadas de lado” quando na verdade, se conhecer profundamente e saber lidar com questões internas acaba reverberando de forma positiva nas relações sociais. Os indivíduos não teriam de adoecer para perceber o quão a saúde mental é importante para esferas do trabalho, da família, e das demais relações. A realidade de muitos se insere em uma compreensão de mundo que não compete o criticismo, tornando os seres altamente manipuláveis, fazendo com que se tornem uma peça que move a engrenagem que ajudará nesse contexto competitivo, que ignora fatores emocionais, a mercê de um “futuro brilhante”. 

Para mudar as alarmantes estatísticas, é preciso trazer à tona a necessidade de olhar para dentro de si, compreender limitações, feridas passadas, inserir no contexto infantil a importância da frustração para o desenvolvimento da autoestima, assim como a criticidade social. Tudo isso para se contrapor a uma sociedade narcísica, com uma positividade tóxica, que por vezes não valoriza a internalização e o entendimento dos sentimentos negativos. A marginalização desses sentimentos se somatizam no corpo em forma de dores e doenças físicas, tornando estudantes, e futuros trabalhadores, adoecidos. 

REFERÊNCIAS:

BRUM, ELIANE. Exautos-e-correndo-e-dopados (2016). Disponível em: https://brasil.elpais.com/brasil/2016/07/04/politica/1467642464_246482.html Acesso em: 05 ago. 2019.

GRANER, Karen Mendes. Biblioteca virtual Da FAPESP. Disponível em: https://bv.fapesp.br/pt/pesquisador/104707/karen-mendes-graner/ . Acesso em: 05 ago. 2019.

QUERO BOLSA. Saúde Mental é Problema Frequente em estudantes no Brasil (2018). Disponível em: https://g1.globo.com/sp/vale-do-paraiba-regiao/especial-publicitario/quero-bolsa/bolsas-de-estudo/noticia/2018/08/31/saude-mental-e-problema-frequente-entre-estudantes-no-brasil.ghtml Acesso em: 05 ago. 2019.

REDAÇÃO RBA. Governo Bolsonaro Corta Recursos Da Educação Básica (2019). Disponível em: https://www.redebrasilatual.com.br/educacao/2019/07/governo-bolsonaro-corta-recursos-da-educacao-basica/ Acesso em: 05 ago. 2019.

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O surgimento da clínica psicanalítica

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É sabido que clínica remete a características médicas e por isto as raízes do modelo biomédico são bem marcantes, mas esta dinâmica muda a partir da Psicanálise

A palavra Clínica é de origem grega –kline– que significa leito, ou seja, é a prática médica a beira do leito, um conceito totalmente biomédico. No entanto, outros autores conceituaram a atividade clínica visando o biopsicossocial. Canguilhem (1995, p. 16) afirma que a atividade clínica “[…] é uma técnica ou uma arte situada na confluência de várias ciências, mais do que uma ciência propriamente dita”.

É sabido que clínica remete a características médicas e por isto as raízes do modelo biomédico são bem marcantes. Procedimentos como escutar, observar, hipotetizar e diagnosticar provam tais raízes. Tanto que a clínica psicanalítica foi construída e dissipada por um médico, Sigmund Freud, que teve interesse em estudar diversos fenômenos que influenciavam no adoecimento do sujeito.

Freud iniciou sua carreira profissional na neurologia, realizando pesquisas em Viena, no laboratório de Ernst Brücke. Em seguida, no ano de 1882, foi trabalhar no setor de psiquiatria do Hospital Geral de Viena, adquirindo grande experiência técnica e prática com a psicopatologias. Sigmund passou um período em Paris, trabalhando com o neurologista Jean Martin Charcot, no Hospital Salpêtrière. Pouco tempo depois retornou a Viena, abriu um consultório particular e passou a atender doenças nervosas. Desta forma, mulheres histéricas chegaram até ele, sendo um marco importantíssimo e que abriria porta para uma nova ciência, a Psicologia. (Zimerman, 1999).

Fonte: encurtador.com.br/eBGJZ

Freud passou a ter interesse por doenças vistas como intratáveis por alguns médicos da época, o que lhe possibilitou a iniciar pesquisas sobre a histeria, estendendo-se a outras patologias e questões culturais. Sigmund conceituou o inconsciente, e hipotetizou que algumas patologias poderiam ter cura através da tomada de consciência. Logo, passou a estudar manifestações através de experiências traumática dos sujeitos, estas que eram recalcadas, de forma inconsciente. Com o objetivo de romper o recalcamento trazendo a consciência, e para isto passou a fazer uso do hipnotismo, técnica que aprendeu durante a experiência que teve com Charcot (Freud, 1913).

Em 1880 Freud conheceu Josef Breuer e teve a oportunidade de adquirir experiência sobre hipnose, que era aplicada em doentes nervosos, no laboratório de Bücke. A histeria deixou de ser classificada orgânica – “doença do útero” –  e passou a ser classificada como doença psíquica – “doença nervosa sem lesão anatômica apreciável” (Ferreira e Motta, 2014).  Freud intensificou sua investigação na histeria, afim de descobrir suas possíveis causas etiológicas, chegando a neurose, que chamou de “modificação patológica funcional”, tendo a vida sexual do sujeito como a etiologia do problema (Freud, 1896a).

No decorrer de seus estudos, Freud começou a desacreditar da hipnose, já que esta técnica não trazia resultados permanentes e nem sempre era bem-sucedida, sendo importante um bom vínculo entre médico e paciente (Freud, 1924).  A partir de então, Sigmund passou a fazer uso da escuta terapêutica, que é uma técnica muito importante para que se tenha um atendimento clínico eficaz.

Freud: além da alma. Fonte: encurtador.com.br/lyzSW

Os pacientes eram convidados a se acomodarem em um divã, e Freud ficava atrás do paciente, desta forma o paciente poderia falar o que viesse a mente, sem vê-lo, ou preso a algum tipo de campo visual e sem julgamento moral (Freud, 1904). Este método chama-se “associação-livre”, e partir dele tornou-se necessário a elaboração de uma técnica de interpretação das falas dos pacientes, de conteúdos latentes, isto por que a resistência impedia que o conteúdo viesse a consciência (Freud, 1913).

Assim, a partir da associação livre, os pacientes falavam de modo espontâneo, de forma a abster-se de reflexões conscientes. Em seguida Freud interpretava alguns conteúdos, isto porque muitas coisas ditas faziam parte do que era esquecido, em forma de alusões. (Freud, 1924). Baseado em estudos, Freud hipotetizou que o material recalcado está relacionado a conteúdos de satisfação proibida. Logo, os sintomas são substitutos de tais desejos de satisfação, que normalmente vai contra a moral social e religiosa do sujeito (Freud, 1924).

É importante ressaltar que ao avançar em suas pesquisas, Freud afirmou que determinados aspectos e fenômenos, de um indivíduo, se respaldam em vivências desde a tenra infância e de como tal sujeito simboliza e significa no momento atual em que vive. Dessa forma Freud (1940/2014) conceituou a constituição da nossa psique humana, e denominou três instâncias: Id, Ego e Superego.

Fonte: encurtador.com.br/kqTUV

Segundo Freud o id é constituído por um conjunto de conteúdos de natureza pulsional e de ordem inconsciente, funcionando como uma reserva inconsciente dos desejos e impulsos de origem genética, com o intuito de preservar e propagar a vida. Parte dos conteúdos do id são hereditário e inato, assim como podem ser adquiridos e recalcados. Do ponto de vista “econômico”, o id é que opera o ego e o superego, pois é a fonte e o reservatório de toda a energia psíquica do indivíduo. Do ponto de vista “dinâmico”, o id interage tanto com a realidade exterior (ego), como com a introjetada (superego).  Do ponto de vista “funcional”, o id é procura resposta imediata pelo prazer, logo é regido por ele e tem a função de descarregar as funções biológicas.

O ego é o resultado da capacidade de diferenciação do real e do imaginário. Sendo parte consciente e parte pré-consciente.  Como sua capacidade de diferenciação incube diferenciação, seu objetivo é ajusta-se ao ambiente. De modo a solucionar conflitos entre o organismo e a realidade. Assim, o ego tem o papel de mediar o id e o mundo exterior, assim como lidar com o superego e suas memórias e necessidades físicas corporais. É como viver em um duelo, em que por um lado é pressionado pelos desejos insaciáveis do id e por outro pela repressão severa do superego, assim como as ameaças de ordem social do mundo exterior.

Fonte: encurtador.com.br/ceB24

O superego é o órgão psíquico da repressão, e se desenvolve a partir do ego, em um período situado entre a infância e o início da adolescência, em que Freud conceitua como período de latência. Isto por que de acordo com o psicanalista, é neste período que a personalidade moral e social é formada. Logo, o superego atua como uma espécie de juiz, que julga o certo e o errado. Desta forma é estabelecida uma censura de impulsos que a sociedade, a cultura e a religião proíbem ao id. O que impede o sujeito de satisfazer plenamente seus desejos e instintos.

Diante do exposto é possível ver que Freud saiu da postura de ´´dono do saber“, passando a escutar seus pacientes, e descobriu que apesar de o sujeito sofrer por algo que não sabe, o saber está contido em seus discursos de associações livres. Logo, é importante destacar que a construção da clínica psicanalítica foi dissipada por Freud, decorrente de sua experiência clínica, ao dar importância a etiologias psicológicas, e para isto formulou métodos clínicos como o de a associação livre, escuta flutuante, transferência e interpretações.

Fonte: encurtador.com.br/mnF14

Dessa forma, na visão psicanalítica, o ser humano é visto como “sujeito”, pois detém consciência de seu processo histórico, capaz de fazer reflexões sobre o espaço-tempo vivido, assim como se reconhecer e ser o protagonista de sua própria narrativa.

Referências

CANGUILHEM, Georges. O normal e o patológico. 4. ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1995.

FREUD, Sigmund. O ego e o id. Londres, Inglaterra, Imago, 1927.

FREUD, Sigmund. Compêndio de Psicanálise e outros escritos inacabados. 1 ed. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2014. Tradução de Pedro Heliodoro Tavares.

FREUD, S. (1940 [1938]). Compêndio de Psicanálise e outros escritos inacabados: edição bilíngue. Obras Incompletas de Sigmund Freud. V. 3. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2014.

ZIMERMAN, David. E. Fundamentos psicanalíticos. Porto Alegre, Artmed, 1999.

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Relações de Trabalho no Novo Capitalismo

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No dia 03 de maio de 2017 ocorreu mais um Psicologia em Debate. O encontro foi voltado a questão das consequências que o capitalismo, traz ao indivíduo inserido no contexto do trabalho. O sociólogo e historiador Richard Sennett, autor do livro A corrosão do caráter: consequências pessoais do trabalho no novo capitalismo, aborda em sua obra o modelo capitalista e a influência que este exerce sobre a vida dos indivíduos.

Na esfera do trabalho, percebe-se que há duas formas de o sujeito se apropriar desse universo. Na primeira ele é visto como um trabalhador disciplinado, onde tem como características uma busca de informações para melhoria no trabalho; este estabelece vínculos duradouros, porém há certa dificuldade para se adequar a mudanças abruptas. No outro caso tem-se o trabalhador flexível, onde este possui uma visão ampla, facilidade para se adequar a novas oportunidades; porém as relações que este estabelece são líquidas.

Fonte: http://zip.net/bqtKGl

Os sujeitos inseridos nas duas dinâmicas de trabalho colocam o trabalho no centro de suas vidas, o que os diferenciam é a forma como o conduzem. Sennett (2009) ressalta que “(…), a flexibilidade dá às pessoas mais liberdade para moldar suas vidas. Na verdade, a nova ordem impõe novos controles, em vez de simplesmente abolir as regras do passado — mas também esses novos controles são difíceis de entender”.

Fonte: http://zip.net/bttKqP

Para se compreender o impacto que o trabalho causa na vida psíquica do sujeito, até que ponto esse ambiente é saudável e a partir de que momento se torna um espaço adoecido para esse ser humano, deve-se analisar o conjunto de fatores relacionados à conduta, valores, prioridades que ele agrega. “O termo caráter concentra-se sobretudo no aspecto alongo prazo de nossa experiência emocional. É expresso pela lealdade e o compromisso mútuo, pela busca de metas a longo prazo, ou pela prática de adiar a satisfação em troca de um fim futuro” (SENNETT, 2009, p. 11).

Fonte: http://zip.net/brtJJW

Agir de acordo com um modelo implantado por uma instituição, pode por vezes mexer com a estrutura física e psicológica do indivíduo pelo fato de ir de encontro com seus princípios. Sennett (2009) diz que “talvez o aspecto da flexibilidade que mais confusão causa seja seu impacto sobre o caráter pessoal”. Quando o caráter flexível na esfera do trabalho impacta em outras áreas, pode-se acarretar em um adoecimento psíquico.

REFERÊNCIA: 

SENNETT, Richard. A corrosão do caráter: as consequências pessoais do trabalho no novo capitalismo. Rio de Janeiro, 2009.

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