Inacreditável: a violência psicológica mascarada pelo medo

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A minissérie americana de drama intitulada- Inacreditável (Unbelievable) de 2019, conta uma história em volta de três mulheres: duas investigadoras e uma jovem de 18 anos que se chama Marie. Ela cresceu em vários lares adotivos e por ser muito introvertida, não tem muitos amigos. Esta minissérie é baseada em fatos reais e na reportagem de 2015 “Uma inacreditável história de estupro”.

A vida de Marie muda completamente quando ela passa por uma situação de violência, pois um homem invade seu apartamento e a estupra.  Ela foi submetida a passar por constrangimentos e foi fotografada durante o ataque.

Marie resolve dar queixa da violência sofrida, mas não foram recolhidas provas da agressão e durante o interrogatório Marie começa a apresentar algumas falas inconstantes que fazem com que os investigadores comecem a desconfiar se ela estava mesmo dizendo a verdade. Essa dúvida não parte apenas dos policiais, mas também dos seus pais adotivos que suspeitam do discurso. Pois, segundo eles, ela estava apresentando poucas reações emocionais diante do fato que ela disse ter ocorrido e que poderia estar apenas chamando a atenção, já que Marie sempre foi considerada “problemática”.

Devido aos comentários das pessoas, à enorme pressão, sofrimento e medo que começou a vivenciar, Marie decide assumir que mentiu aos investigadores e que tudo foi apenas invenção da sua mente ou que poderia ter sido um sonho. Estes fatos remetem que a violência psicológica pode ser conceituada como a forma mais pessoal de agressão contra a mulher, através da qual as palavras provocam sofrimento, pressão, poder para ferir, fragilizar e impactar a autoestima da mulher (SIQUEIRA, ROCHA, 2019).

Fonte: encurtador.com.br/iDIP4

Siqueira e Rocha, (2019) mencionam que as causas deste tipo de violência podem ser ocasionadas por ciúmes, influência cultural, bebidas alcoólicas, políticas públicas, visão conservadora, histórico de violência familiar do agressor e interrupção do apoio da família.

Em Inacreditável, Marie não conseguiu apoio de seus pais adotivos que a pressionaram para contar o que realmente aconteceu, sempre remetendo ao seu comportamento do passado, o que a fazia se sentir culpada e até mesmo duvidar se ela mesma não teria inventado toda a história. Fonseca e Lucas (2006) afirmam que quando a mulher não consegue apoio dos seus familiares e tem a dinâmica familiar interrompida, ela entra em um estado de vulnerabilidade maior, pois se sente sozinha, contribuindo para que o agressor continue com os episódios de violência. E neste caso da minissérie os próprios pensamentos, sentimentos e lembranças da agressão sexual vivida se tornaram o motivo que a deixou muito vulnerável e mais retraída.

Enquanto os investigadores decidem arquivar o caso, já que Marie confessou que havia mentido, em Colorado outra investigadora chamada Karen Duvall investiga outro estupro e decide unir forças com Grace Rasmussen do Departamento de Polícia de Westminster ao descobrir que as duas estavam com um caso de estuprador em série em mãos, pois vários casos de estupro com as mesmas características do caso de Marie foram denunciados.

Fonte: encurtador.com.br/ctCKV

Em cada um dos casos, as vítimas foram submetidas a constrangimentos e também foram fotografadas. Ao finalizar a agressão, o criminoso conseguiu não deixar pistas para que fossem recolhidas provas do crime. Marie continuou sofrendo as consequências da agressão por três anos, e foi taxada de mentirosa pela sua família e amigos. Ela tentou seguir sua vida. As autoras Siqueira e Rocha (2019) citam que a mulher em situação de violência sofre consequências como o esgotamento emocional, se sente cansada, perde o interesse em cuidar de si mesma, isola-se e sofre perdas significativas na qualidade de vida. A minissérie retrata todas estas consequências na vida de Marie, onde ela se encontra completamente sozinha, amedrontada, e sem esperança de conquistar algo melhor na vida.

Em 2011, após reunirem pistas e provas, as investigadoras Grace e Karen conseguem prender Chris McCarthy, um ex-militar que estuprava mulheres que moravam sozinhas e na sua casa escondia provas das violências cometidas, inclusive fotos que comprovavam as agressões. Durante a análise das fotos, as investigadoras conseguiram encontrar a foto de Marie e dessa forma conseguiram reabrir o caso dela, que posteriormente foi inocentada da acusação de falso testemunho.

A minissérie finaliza com Marie agradecendo as investigadoras por terem contribuído para que voltasse a se sentir segura, mesmo que não tenha tido nenhum contato com as duas. 

Esta história nos faz pensar em quantos casos acontecem em que as vítimas permanecem caladas por causa do medo e do sofrimento e tem que seguir a vida tentando esquecer. Em muitos casos o agressor é uma pessoa próxima, como pai, irmão, cunhado, tio, mãe, cônjuge ou um amigo.

Fonte: encurtador.com.br/mCEKZ

Recentemente foi sancionada a Lei 14.188 que inclui ao Código Penal Brasileiro o crime de violência psicológica contra a Mulher.

A Lei 14.188/21, inseriu o artigo 147-B no Código Penal:

Causar dano emocional à mulher que a prejudique e perturbe seu pleno desenvolvimento ou que vise a degradar ou a controlar suas ações, comportamentos, crenças e decisões, mediante ameaça, constrangimento, humilhação, manipulação, isolamento, chantagem, ridicularização, limitação do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que cause prejuízo à sua saúde psicológica e autodeterminação. (BRASIL, 2021, Art. 147-B)

A pena para este crime é de seis meses a dois anos e também tem uma multa. A violência psicológica contra a mulher tem crescido muito e esta lei surge como uma forma de proteger e trazer mais segurança para as mulheres. Mesmo com a lei em vigor, os danos à saúde mental das vítimas são muitos e faz-se necessário um acompanhamento psicológico e intervenções com as redes de apoio das vítimas que também sofrem com efeitos da agressão (SIQUEIRA, ROCHA, 2019).

Esta minissérie nos mostra como a violência contra a mulher está inserida culturalmente. Marie não teve o apoio de sua própria família pois por ela ter tido comportamentos “problemáticos”, não acreditaram no que ela disse. A história nos leva a refletir que muitas pessoas que passam por situação de violência sexual tem seu sofrimento intensificado quando não conseguem a confiança e credibilidade da família, cônjuge e amigos. Marie passou por momentos de tristeza e culpa por ter que ouvir as pessoas de sua rede de apoio não acreditarem no seu relato.

Ressalto que a culpa pela violência cometida não é da mulher e que existem redes de apoio para acolhimento de mulheres que estão nesta situação e que elas têm direito a assistência em saúde e que nos casos de violência sexual há medidas específicas para evitar gravidez indesejada e ISTs. As redes de apoio que mulheres em situação de violência podem procurar são o Centro de Referência Especializado em Assistência Social (CREAS), a Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher, através do número telefônico 180 e nas situações em que há agressão física, são resguardadas pela Lei Maria da Penha. A lei assegura que qualquer mulher, independente da classe, raça, etnia, orientação sexual, religião, cultura, devem ter direito, oportunidades e facilidades de viver sem violência familiar e doméstica e também o direito de preservar sua saúde física, mental, moral, intelectual e social. (BRASIL, 2006).

Faz-se necessário que os profissionais de saúde, assistência social e segurança pública sejam treinados para realizar um atendimento mais humanizado a fim de garantir acolhimento, direitos civis e a dignidade das mulheres.

FICHA TÉCNICA

Título: Inacreditável (Unbelievable)

Ano: 2019

Gênero: Drama/Crime

Emissora: Netflix

1 temporada

REFERÊNCIAS

BRASIL. Constituição (2021). Lei nº 14.188, de 28 de julho de 2021. Define o programa de cooperação Sinal Vermelho contra a Violência Doméstica como uma das medidas de enfrentamento da violência doméstica e familiar contra a mulher previstas na Lei nº 11.340, de 7 de agosto de 2006 (Lei Maria da Penha), e no Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal), em todo o território nacional; e altera o Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal), para modificar a modalidade da pena da lesão corporal simples cometida contra a mulher por razões da condição do sexo feminino e para criar o tipo penal de violência psicológica contra a mulher.. Lex. Diário Oficial da União, 28 jul. 2021. Disponível em: https://legis.senado.leg.br/norma/3462817. Acesso em: 04 set. 2021

BRASIL. Constituição (2006). Lei nº 11.340/2006, de 07 de agosto de 2006. Lex. Diário Oficial da União, 07 ago. 2006. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2006/lei/l11340.htm. Acesso em: 04 set. 2021.

DA FONSECA, P. M.; LUCAS, T. N. S. Violência doméstica contra a mulher e suas consequências psicológicas. Disponível em: http://newpsi.bvs-psi.org.br/tcc/152.pdf. Acesso em 01 set. 2021

SIQUEIRA, C A; ROCHA, E S S. Violência psicológica contra a mulher: Uma  análise  bibliográfica  sobre causa e consequência desse fenômeno. Disponível em: https://arqcientificosimmes.emnuvens.com.br/abi/article/view/107/63. Acesso em 01 set. 2021

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Combatendo a violência contra a mulher

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Na pandemia, houve o triste aumento de casos de violência contra a mulher. Devemos reforçar que violência é qualquer tipo de agressão, seja ela física, psicológica, sexual, patrimonial ou moral e deve ser combatida.

Alguns fatores como o aumento do consumo de álcool e drogas, problemas financeiros e com a saúde mental, podem ser gatilhos para revelar indivíduos agressivos ou expor mais o lado violento da pessoa. Temos que levar em consideração que o indivíduo não se tornou violento ou agressor durante a pandemia. A violência é um comportamento aprendido em casa ou na sociedade.

Muitos acreditam que no período pós-pandemia as agressões vão diminuir, caso isso ocorra, a queda não corresponde à realidade. Em lares que ocorrem essas agressões, as relações e os laços familiares já apresentam fragilidades, muitas vezes por conta de históricos de violência verbal e até física.

Fonte: encurtador.com.br/artOR

Para combater é importante dar voz e credibilidade a vítima. Muitas vezes, ela fica desacreditada, pois parte dos agressores são sociáveis, bons amigos e prestativos. Isso faz com que estejam acima de suspeitas, mas em seu lar são opressores, violentos e agressores. Também é importante que vizinhos não se calem ao perceber algo, porque a vítima, em geral, sente vergonha ou medo de buscar ajuda.

Alguns serviços acessíveis são a DEAM (Delegacia Especializada no Atendimento à Mulher) com atendimento voltado para demanda da violência doméstica, dando o suporte e encaminhando a vítima para a rede de apoio, também às medidas protetivas e aos abrigos sigilosos. Além disso, tem a campanha “sinal vermelho”, que a mulher pode receber auxílio em farmácias imediatamente ao exibir um “X” na mão.

Fonte: encurtador.com.br/gnvI7

No artigo 35 da Lei nº 11.340/06 prevê que a União, o Distrito Federal, os Estados e os Municípios poderão criar e promover, no limite de suas competências, centros de educação e de reabilitação para os agressores; e o artigo 45 estabelece que nos casos de violência doméstica contra a mulher, o juiz poderá determinar o comparecimento obrigatório do agressor aos programas de recuperação e reeducação. Para casos urgentes, existem o Disque 180, da Central de Atendimento à Mulher em Situação de Violência, e o 190, da Polícia Militar.

Dedico parte do meu tempo divulgando esses serviços em minhas redes sociais, sendo voluntária do Projeto Justiceiras, acolhendo, auxiliando, empoderando e fazendo com que essa vítima perceba que pode estar em situação de violência. Para combater a violência precisamos de uma rede de apoio, com medidas e ações educacionais, sociais e jurídicas. Denuncie qualquer tipo de violência contra a mulher.

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Koi no Katachi: a voz do silêncio

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“Naquela época, se pudéssemos ter ouvido as vozes um do outro, tudo teria sido muito melhor”. (Shouya Ishida)

O bullying nas escolas é um fenômeno bastante antigo e conhecido; para muitos autores são brincadeiras de mau gosto, num cenário em que os alunos são motivados pelo preconceito, por atenção, e pelo poder sobre o mais fraco. Tudo isso são motivos que os “bullys” utilizam para agredir, intimidar e perseguir de modo repetido seus colegas, também utilizam de agressões verbais, físicas e psicológicas para subjugar as vítimas consideradas por eles “diferentes”.

Para Silva e Borges (2018), o bullying envolve ainda atitudes hostis, intimidadoras sem nenhum motivo aparente, na maioria dos casos em relações de desigualdade entre agressores e vítimas, marcada pelo uso da força física, também na maioria dos casos, em que se estabelece uma relação de poder. No Brasil tem sido estudado a partir de 2005, quando os casos de agressões nas escolas se intensificaram de modo mais aparente. Embora os estudos sobre o bullying escolar no Brasil sejam recentes, o fenômeno é antigo e preocupante, sobretudo em função de seus efeitos nocivos (LOPES, 2005; TREVISOL & DRESCH, 2011). Um exemplo desses efeitos desastrosos do bullying nas escolas foi o atentado de 1999 na escola de Columbine nos Estados Unidos, que ganhou grande repercussão mundial, pois dois jovens abriram fogo contra os colegas de escola. Depois de doze anos foi a vez do Brasil em 2011 presenciar o massacre de Realengo, na Escola Municipal Tasso da Silveira, quando um ex-aluno abriu fogo contra os alunos da escola e matou doze deles. Em 2019 outro grande massacre, agora em Suzano, chocou o Brasil, onde dois jovens mataram cinco estudantes e duas funcionárias da escola. O que todos esses fatos têm em comum? Todos esses jovens sofreram bullying nas escolas e isso pode ter sido um dos maiores fatores que os levaram ao ato, além disso todos se suicidaram em seguida.

Fonte: encurtador.com.br/aipMW

Segundo Oliveira e Antonio (2006), nota-se que o bullying se origina a partir de intimidações discriminatórias e prática frequente de violência no cotidiano escolar, versando sobre exclusão social intimidadora, opressora que machuca sem ter sido declarada de fato.

O bullying causa sérias consequências as vítimas e as famílias, como por exemplo: depressão, baixo autoestima, angústia, isolamento, evasão escolar, autodeflagração, muitas apresentam comportamento agressivo, déficit de concentração, prejuízos no processo socioeducativo e nos casos mais extremos o suicídio (SILVA, BORGES, p. 31, 2018).

Observa-se que a maioria das vítimas de bullying pode ter sentimentos de raiva e vingança, podendo atingir pessoas próximas ou estranhas da mesma forma que foram afetadas. Mas nem todos fazem isso, há pessoas que sofrem sozinhos calados, e suas vozes podem nunca ser ouvidas.

Fonte: encurtador.com.br/glm09

Esse tipo de história é retratado no filme Koe no Katachi, do qual Nishimya Shoto é uma garota com deficiência auditiva. Ela se muda ainda no ensino fundamental para uma escola nova; além dela ter que se adaptar ao novo ambiente seus colegas se deparam com algo diferente, pois Shoto não consegue se comunicar com eles a não ser pela linguagem de sinais. A escola passa então a oferecer a disciplina para que os colegas possam interagir melhor com a nova colega, mas alguns alunos se incomodam com ela e começam a tratá-la mal. Dessa forma, a menina passa a ser alvo de bullying e o principal responsável por isso é o aluno Ishida Shoya, ele é típico aluno que gosta de pregar peças nos colegas, mas com a aluna nova é ainda mais cruel, passa a infernizar a vida da menina jogando seus materiais escolares em uma fonte, coloca frases maldosas no quadro da sala e fala mal dela junto com os amigos. Vendo que suas atitudes não afastam a menina do ambiente escolar, ele passa a jogar fora seus equipamentos auditivos.

Percebendo a dificuldade da filha com a escola, a mãe de Shoto vai ao estabelecimento saber o que está acontecendo; o diretor investiga e descobre que Shoya e seus amigos maltratam Shoto por ela ser diferente deles. O rapaz não aceita ser punido sozinho e acaba delatando seus companheiros, depois disso Shoya passa a receber o mesmo tipo de tratamento dado a Shoto, passando pelas mesmas situações que a colega.

Fonte: encurtador.com.br/eqH08

Anos depois os dois se mudam de escola e passam a viver de modo diferente, mas uma coisa que nunca mudou foi que Shoya passou ser um aluno letárgico, não possuía mais amigos, se culpava pelo o que tinha feito com Shoto e tinha sintomas depressivos que lhe levavam a ideação suicida. Já Shoto não guardava rancor do colega, tudo que queria era ser amiga dele e de alguma forma queria ser ouvida. Eles se passam a ser bons amigos, a aprender juntos as formas de curar as feridas passadas e tornam-se responsáveis pelos sentimentos um do outro.

Mesmo o bullying sendo um fenômeno ruim e perigoso para quem sofre, ele pode ser enfrentado de inúmeras maneiras e uma delas é o combate dele pela escola, pela família e sociedade. Muitas crianças sofrem caladas por medo de serem ainda mais punidas e no caso da personagem do anime por não poder falar tudo o que queria. Não legitimar qualquer tipo de violência contra o ser humano é algo a ser valorizado, mesmo se tratando de “brincadeiras” não deixa de ser algo com finalidade maldosa de atingir a pessoa. Dessa forma, não existe motivos que justifiquem a prática do bullying, pois as pessoas merecem ser tratadas com dignidade e suas vozes não devem estar preenchidas pelo silêncio.

REFERÊNCIAS

LOPES, A. A., NETO. Bullying – comportamento agressivo entre estudantesJornal de Pediatria81(5), 164-172. 2005.

SILVA, L. O.; BORGES, B. S. BULLYING NAS ESCOLAS. Direito & Realidade, v.6, n.5, p.27-40/2018.

OLIVEIRA, A. S.; ANTONIO, P. S. Sentimentos do adolescente relacionados ao fenômeno bullying: possibilidades para a assistência da enfermagem nesse contexto. Revista eletrônica de enfermagem, v.08, n.01, p.30-41. 2006.

TREVISOL, M. T., & DRESCH, D. (2011). Escola e bullying: a compreensão dos educadores. Revista Múltiplas Leituras4(2), 41-55.

FICHA TÉCNICA

Título: Koi no Katachi (Original)

Ano produção: 2016

Direção: Naoko Yamada

Gênero: Anime, Drama, Romance

País de Origem: Japão

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As redes sociais e a autoestima

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Homens e mulheres nunca estiveram em tanto “pé de igualdade”. Isso se deu, pois, entendemos melhor que a cultura se utilizava de um discurso social da desigualdade de gênero como algo natural, o que mantinha as diferenças entre homens e mulheres. As mulheres sempre estavam em lugares menos privilegiados e os homens como os detentores de poder, podiam ocupar qualquer lugar na sociedade.

Apesar de hoje as mulheres terem conseguido galgar um lugar respeitoso na sociedade, ainda são muito julgadas e enquadradas em múltiplos estereótipos. Por conta dessa pressão cultural para que sigam padrões impostos, acabam sofrendo muito mais com problemas de autoestima. Elas aprendem desde crianças que “devem estar sempre bonitas, magras e apresentáveis, caso contrário, não ninguém as irá querer” ou “mulher mandona nenhum homem gosta, você tem que ser meiga”. 

Observado o cenário acima, várias garotas, ao acessarem as redes sociais, como o Instagram, por exemplo, buscam se sentirem aceitas, amadas e reconhecidas. Muitas vezes, num resultado contrário, acabam ficando completamente arrasadas e frustradas ao “não receberem o mesmo número de curtidas que aquela amiga popular” ou sentem-se horríveis ao notarem a barriga de tanquinho de uma blogueira fitness que elas não têm. 

Fonte: encurtador.com.br/lsBC2

Com isso, as redes sociais se tornam uma armadilha para as mulheres e um campo minado para a sua autoestima. Essas plataformas digitais se transformam em um campo de disputa entre perfis e uma lembrança eterna de que “eu poderia estar/ser mais bonita, mais rica, mais competente”.

As pessoas que têm dificuldades de desenvolver um amor próprio e uma autoestima, em geral, são aquelas que já passaram por situações como, por exemplo, negligência ou castigos frequentes na infância; abuso constante, pais severos, autoritários ou superprotetores; ausência de confiança nos filhos; intimidações constantes; contextos violentos ou estressantes; falta de elogios; e ambiente preconceituoso. 

Quem passa por isso cresce num ambiente tóxico. Geralmente, são pessoas que passam a se comparar com outros constantemente, coloca-se em relacionamentos abusivos ou permite abusos no campo profissional, sempre se diminuindo. Tudo isto prejudica ainda mais o amor próprio, tornando-o praticamente inexistente. 

A baixa autoestima pode gerar inúmeros problemas psicológicos como, depressão, ansiedade, fobias, transtornos de personalidade, compulsões e transtornos alimentares, TOC (transtorno obsessivo compulsivo), vícios em geral (dependência química, vícios em jogos), entre outros. Basicamente, a autoestima baixa pode ser um dos fatores envolvidos para o surgimento de quase todos os principais problemas e transtornos psicológicos. 

Fonte: encurtador.com.br/cI347

O momento ideal de procurar ajuda psicológica é quando a pessoa começa a perceber diversos problemas em sua vida devido à baixa autoestima, atrapalhando até mesmo na sua rotina diária e de seus relacionamentos. Começa-se a notar situações como, por exemplo, o hábito de não assumir responsabilidade pelos seus erros; a ausência de respeito dos seus próprios limites; a necessidade de sempre agradar os outros e o perfeccionismo; a procrastinação, entre outros sinais. 

Hoje em dia, já existe até uma expressão para quando deixamos de seguir pessoas que não têm nada a ver conosco, perfis que sugerem o seguimento de um padrão ou que não nos trazem um bem estar, é o que se chama de “unfollow saudável”.

Deixar de ter esses perfis no seu “feed” pode ser bastante positivo para sua autoestima, formação de identidade e autoaceitação. Além disso, indica também uma observação crítica daquilo que consumimos “contra” o que queremos e valorizamos. Fazer uma faxina nas redes sociais pode indicar uma saúde mental em dia e uma autoestima “em ordem”.

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Preciosa: reflexões sobre o abuso sexual e a educação como instrumento de ressignificação do sofrimento

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Carregado de um conteúdo extremamente dramático e pesado emocionalmente, o filme trata explícita e implicitamente sobre diversos temas, como gordofobia, violência intrafamiliar e estupro

Lançado em fevereiro de 2010, sob a direção de Lee Daniels, o filme Precious, “Preciosa”, em português, aborda a vida de Claireece “Preciosa” Jones, uma jovem de 16 anos inserida num contexto familiar extremamente abusivo desde a sua infância. Violentada pelo próprio pai e abusada fisicamente e psicologicamente pela mãe, Preciosa cresce permeada por traumas e questões psicológicas oriundas das situações vivenciadas durante toda a sua vida, incluindo o nascimento de duas crianças, fruto de uma série de abusos sexuais.

Carregado de um conteúdo extremamente dramático e pesado emocionalmente, o filme trata explícita e implicitamente sobre diversos temas, como gordofobia, violência intrafamiliar e estupro, além de questões referentes à psiquê do sujeito, como problemas de autoestima e as consequências psicológicas e comportamentais de abusos de diversas naturezas. Durante o filme, somos convidados a mergulhar a fundo na história da personagem e em sua profundidade psicológica, e, em determinado ponto da trama, somos apresentados a uma nova dinâmica na vida da jovem a partir da educação, aspecto que será discutido ao longo dessa análise juntamente dos outros mencionados anteriormente.

Fonte: https://bit.ly/2DWoLHs

Resumo do Filme

Preciosa mora no bairro do Harlem, em Nova York com sua mãe e sua história se passa no ano de 1987. As primeiras cenas do filme mostram a jovem em seu ambiente escolar, onde não interage com os colegas nem com os professores, além de sofrer provocações por conta de seu peso e aparência. Após uma situação na sala de aula, ela recebe um chamado da diretora, que demonstra preocupação com a jovem por conta da gravidez, por não ser a sua primeira, algo preocupante devido principalmente a sua idade.

Preciosa acaba sendo retirada do ambiente escolar por decisão da diretora, que a visita posteriormente em casa apresentando a oportunidade de estudo em uma escola alternativa, chamada “Cada Um Ensina Um”. Nessa cena, conhecemos a dinâmica familiar problemática de Preciosa, que é humilhada pela mãe pelas coisas mais triviais possíveis. Flashbacks mostram as memórias da personagem do estupro sofrido por ela. É o primeiro contato que temos com o fato de que as duas gestações da jovem foram oriundas dos abusos de seu próprio pai.

A visita da diretora desperta na jovem, que já era interessada nos estudos, principalmente em matemática, a vontade de se matricular na escola, mas sua mãe, irritada com a visita, a ofende de diversas maneiras, até mesmo colocando em pauta o abuso sexual sofrido pela filha, culpando-a pelo acontecido e alegando que ela havia “roubado seu marido”.

A desaprovação da mãe não impede Preciosa de buscar a escola sugerida pela diretora. Ela visita o local e faz a prova para se inscrever. Em outra cena, pela manhã, Claireece não encontra nada na geladeira. A fome e a indiferença da mãe a levam a roubar uma lanchonete, fugindo logo após para a escola em que havia se matriculado. No local, Preciosa é chamada pela professora para a sala e inicialmente relutante em participar da aula, a jovem acaba cedendo e conhece suas colegas, todas mulheres com histórias de vida diferentes. Chegando em casa, a jovem segue sendo humilhada pela mãe, que recusa a comida preparada por ela e obriga a própria filha a comer. Somos apresentados ao fato de que o peso de Claireece pode ter, inclusive, influência dos abusos da mãe.

Fonte: https://bit.ly/2T5Ijmg

Não bastando o contexto familiar desorganizado e problemático, a mãe de Preciosa, conforme mostrado em flashbacks, ensaia uma vida perfeita para receber a visita da assistência social, de modo a não perder o auxílio financeiro. O teatro organizado por ela é desmontado pela jovem, que, a pedido da mãe, vai à assistência social, mas é clara com a assistente quanto aos problemas em sua casa. Descobrimos também que a filha de Claireece nem mesmo mora em sua casa, sendo criada pela avó, que age passivamente frente aos comportamentos da filha, ou seja, mãe de Preciosa.

Várias cenas são exibidas ao longo do filme retratando a jovem imersa em introspecções e sonhos onde ela se vê feliz com o próprio corpo e aparência. Em uma delas, a imagem que ela vê refletida no espelho é completamente diferente da sua, mostrando uma mulher totalmente encaixada nos padrões de beleza. Entretanto, a baixa autoestima, o histórico de abusos e agressões e a dinâmica familiar desestruturada tornam-se cargas mais leves à medida que a jovem passa a frequentar mais as aulas em sua nova escola.

A empatia da professora com Claireece abre portas para a aprendizagem, e a jovem começa não só a ler melhor como também a produzir textos. No auge de sua gravidez, ela entra em trabalho de parto durante uma aula e é levada ao hospital. A assistência de sua professora e de suas colegas durante todo o processo mostra a força dos laços construídos durante as aulas. Apaixonada por sua criança, mas ainda sem uma estrutura familiar adequada para criá-la, Preciosa se vê em mais um impasse em sua vida. Ela retorna, um tempo depois, a sua casa, levando consigo seu filho recém nascido. A reação de sua mãe é extrema, mais do que nunca. Ela chega ao ponto de jogar a criança no chão e agredir fisicamente a jovem, que foge com o filho nas mãos. Num último ato de loucura, a mulher joga uma televisão nos dois, que conseguem escapar do ataque. Então Blu Rain, sua professora, num dos gestos mais humanos exibidos durante o filme, entra em contato com vários números e encontra um lar, ao menos provisório, para a jovem, na casa de um casal de mulheres, que a acolhem junto da criança.

A dedicação de Preciosa na escola, cada vez mais, começa a lhe trazer frutos. Ela chega a ser premiada por sua história e evolução por meio da educação. Entretanto, pendências de seu passado continuam a permear seu presente, com o agravante de uma notícia certamente perturbadora: a de que o pai da jovem, seu estuprador, havia falecido com o vírus da AIDS. Um exame acaba por revelar que Claireece também é portadora do vírus. Ao desabafar sobre isso em sala de aula, sua professora oferece a ela seu apoio e a jovem rebate dizendo que o amor em sua vida só lhe trouxe coisas ruins. A professora então, em uma das cenas mais belas e simbólicas do filme, desconstrói o conceito de amor trazido por Preciosa, difereciando o sentimento dos abusos sofridos por ela durante toda a sua vida.

Fonte: https://bit.ly/2IrDTSv

Nas cenas finais, numa das últimas visitas à assistência social, Claireece recebe a visita de sua mãe, que confessa na frente da filha e da assistente que era ciente dos abusos sexuais que ocorriam sob o seu teto, além de dizer que esses abusos já aconteciam quando Preciosa ainda era uma criança de três anos. Seu discurso, totalmente carregado de mágoa e rancor, culpabiliza a jovem pelos abusos, como se Claireece fosse a responsável pela separação dos pais. A chocante cena encontra seu desfecho quando a jovem decide fechar a porta do seu passado, levando consigo suas duas crianças e uma série de vivências e sofrimentos resignificados.

Análise

Apesar de se passar nos Estados Unidos, a história de Claireece, uma jovem negra e pobre, representa uma parte da população brasileira ainda à mercê de situações de abusos sexual, da mesma faixa etária da personagem. O contexto familiar de Preciosa não é uma realidade distante: pode estar mais perto do que imaginamos. Uma pesquisa realizada por Dos Santos (2014) apontou que o perfil de crianças que sofrem abusos sexuais é predominantemente feminino. Dados da pesquisa também expressam que, na maioria das vezes, a violência é intrafamiliar e tendo o pai da vítima como o agressor, o que vai de encontro com a história. Considerando o contexto histórico do filme, pouco se falava sobre educação sexual nas escolas. Atualmente, muito se discute em relação a isso, principalmente no uso como ferramenta de trabalho na escola, visto que, no âmbito escolar, há a possibilidade do assunto ser abordado de maneira profissional e lúdica.

Conforme Spaziani e Maia (2015), o processo de educação sexual parte do pressuposto que a criança é um sujeito de direitos, principalmente no que tange à informação. Educar crianças e adolescentes nesse viés seria prevenir doenças, possíveis gravidezes precoces e abusos sexuais. A importância desse processo nas escolas é indiscutível. Trazendo para o contexto do filme, se o momento histórico e o ambiente escolar de Preciosa fossem propícios para a instauração de um debate acerca da educação sexual, sua situação de vulnerabilidade poderia ser investigada e repassada o quanto antes aos dispositivos de assistência social e psicológica. Esse tipo de discussão também é necessária no âmbito familiar, mas não deve ser de exclusividade deste, visto que, infelizmente, ainda em muitas famílias, a desinformação sobre o assunto é enorme, além dos inúmeros casos de abusos dentro do próprio contexto familiar, como no de Claireece.

Entendendo o ser humano como um organismo moldado por suas interações, é fácil compreender que abusos sexuais trazem inúmeras consequências para o desenvolvimento, principalmente em crianças. Tais consequências abrangem aspectos físicos, sociais, psicológicos e sexuais, e podem variar de intensidade de acordo com determinados fatores (FLORENTINO, 2015). O vínculo entre a vítima e o abusador, por exemplo, pode ser um agravante dessas consequências. Outro fator é a diferença de idade entre vítima e agressor. Deve-se considerar outros aspectos, como se houve uso de violência física além da violação sexual durante os abusos. De toda forma, as consequências são inevitáveis – apenas mudam de vítima para vítima e de caso para caso.

Fonte: https://bit.ly/2SMiPuS

No filme, Preciosa é abusada pelo próprio pai. De acordo com Florentino (2015), as consequências psicológicas do abuso intrafamiliar também são diversas e até mais duradouras, isso porque há uma alteração das imagens parentais. Não só a imagem do pai é modificada como também a da mãe. No caso de Claireece, sua relação com a mãe tornou-se ainda mais confusa e problemática, visto que ela era conivente e omissa com a violência e ainda assumia uma postura de culpabilizar a jovem. Para a criança ou adolescente vítima de abuso sexual intrafamiliar, o núcleo familiar deixa de ter uma conotação de segurança e afeto para ser um espaço de relações conflituosas, dor e sentimentos confusos, o que acarreta sérias consequências no desenvolvimento psicológico e social. Entre os prejuízos observados em crianças e jovens vítimas de abuso sexual, como a própria Claireece, está o retraimento social e a dificuldade em estabelecer vínculos e em confiar nas pessoas. (FLORENTINO, 2015). Isso é observado na personagem ao longo do filme, que não possuía relações sociais saudáveis e não se sentia confortável em compartilhar seus pensamentos e sua individualidade com as demais pessoas, como exemplificado na cena em que ela deveria se apresentar para as colegas de sua nova escola.

Gottardi (2016) também ressalta algumas consequências no âmbito psicológico. Entre elas, a baixa autoestima, característica também percebida na personagem. A relação da jovem com sua imagem corporal é de desprezo e insatisfação, não só como consequência dos abusos sexuais como também resultado das situações de violência psicológica sofridas por ela durante sua história de vida. Sua mãe, assim como várias pessoas ao seu redor, contribuíram para o desgaste emocional de Claireece, ao ponto de que a adolescente chegou a ver sua imagem alterada no espelho, em uma distorção que a encaixava nos padrões de beleza estabelecidos pela sociedade.

No filme, a jovem Claireece, inserida num novo contexto escolar, desenvolveu novas habilidades, percepções e ressignificou várias vivências. Conforme Gonçalves (2014), o papel da escola no que se refere à educação de crianças e adolescentes vítimas de abuso sexual é imprescindível. O ambiente escolar é tido como uma extensão da família, e, quando a criança está inserida em um ambiente familiar problemático, é na escola que ela deve ter uma referência de apoio e afeto, muito além da relação professor-aluno de ensinar e aprender. A postura do profissional de educação nesse contexto é essencial para que os impactos dos abusos sejam minimizados, visto que as consequências dessa violência se estendem no contexto escolar, às vezes representadas por dificuldades de aprendizagem e concentração, outras vezes por problemas de socialização e conduta (GONÇALVES, 2014). A professora de Preciosa, Blu Rain, comprometeu-se com a jovem não só em prol de sua educação, mas pensando em trabalhar suas habilidades pessoais de modo a reduzir os danos do abuso. É visível o desenvolvimento da personagem durante o filme, que consegue formar vínculos e ressignificar várias situações de sua vida, inclusive seguir com a criação de seus dois filhos, frutos do abuso, e conviver com o HIV, numa época em que pouco se sabia sobre a doença.

Fonte: https://bit.ly/2Vbg1UW

Muito além de apenas um veículo de entretenimento, o cinema pode ser uma ferramenta despertadora de insights e reflexões. Esse caso se aplica a Preciosa – Uma História de Esperança, um filme carregado de lições e discussões sobre violência, educação e família. Trazendo para o contexto brasileiro, muito se precisa discutir ainda sobre esses temas, de modo que a vida de jovens e crianças vítimas de abuso não seja eternamente definida e marcada pela violência, mas pela esperança de um futuro transformado pela educação.

FICHA TÉCNICA DO FILME:

PRECIOSA – UMA HISTÓRIA DE ESPERANÇA

Título Original: Precious
Direção:
Lee Daniels
Elenco:
Gabourey Sidibe, Mariah Carey, Mo’nique, Paula Patton;
País:
EUA
Ano:
2010
Gênero:
Drama

REFERÊNCIAS:

DOS SANTOS, Creusa Teles. Abuso sexual com criança: uma demanda para o serviço social. 2014. 201f. Dissertação de Mestrado – Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, Brasil, 2014.

FLORENTINO, Bruno Ricardo Bérgamo. As possíveis consequências do abuso sexual praticado contra crianças e adolescentes. Revista de Psicologia. v. 27, n. 2, p. 139-144, maio-ago. 2015. São João Del-Rei, Minas Gerais, Brasil.

GONÇALVES, Cássia de Oliveira. Implicações do abuso sexual no processo educacional: um olhar para a criança. 2014. 92f. Monografia – Universidade de Brasília, Brasília, Brasil, 2014.

GOTTARDI, Thaíse. Violência sexual infanto-juvenil: causas e consequências. 2016. 71f. Monografia – Centro Universitário UNIVATES, Lajeado, Rio Grande do Sul, Brasil, 2016.

SPAZIANI, Raquel Baptista; MAIA, Ana Cláudia Bortolozzi. Educação para a sexualidade e prevenção da violência sexual na infância: concepções de professores. Rev. Psicopedagogia, Bauru – SP. pg 61-71, 2015.

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CAOS: Manejo clínico de vítimas de violência doméstica

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Nesta terça, 22 de agosto, ocorreu no Ceulp/Ulbra o minicurso “Manejo clínico de vítimas de violência doméstica”, ministrado pela Psicóloga Verônica Ribeiro Franco Vilela, como parte da programação do Congresso Acadêmico de Saberes da Psicologia (Caos). Verônica é Psicóloga clínica, foi psicóloga Forense na Vara de Violência Doméstica de Palmas – TO (2010 a 2016), coordenadora da equipe multidisciplinar da Vara de Violência Doméstica de Palmas – TO (2013 a 2016) e Supervisora de campo na Ênfase Prevenção e Promoção de Saúde para os Acadêmicos de Psicologia do CEULP (2013 a 2016).

A psicóloga, que adota o viés psicanalítico, contou com a colaboração do Psicólogo egresso do Ceulp/Ulbra Eliézio Feitosa Freitas. Juntos apresentaram informações sobre as configurações e dinâmicas da violência doméstica, ilustrando com suas experiências na Vara de Violência Doméstica de Palmas, na qual ela atuou com Psicóloga e ele como estagiário.

Verônica iniciou sua fala com o panorama atual da mulher violentada na sociedade, no qual julgamentos inadequados são recorrentes, juntamente culpabilização e estereotipagem. A profissional alerta que não se utilize somente os termos ‘vítima’ e ‘agressor’, uma vez que essas pessoas ‘estão’ em situação de violência, e não ‘são’ a violência propriamente dita. Segundo ela, devido à estigmatização de papéis, muitos processos de recuperação teriam sido afetados.

De acordo com a ministrante, a violência doméstica pode ser definida como qualquer conduta de ação ou omissão de discriminação, agressão ou coerção, e que cause dano à mulher, sendo eles: morte, constrangimento, limitação sofrimento físico, sexual, moral, psicológico social, político, econômico e material. Para se configurar como tal uma agressão deve acorrer nas seguintes circunstâncias: no âmbito da unidade doméstica, no âmbito da família ou em qualquer relação íntima de afeto.

Fortemente abordada, a progressão nas formas de violência doméstica e familiar, segundo a psicóloga, tem o ápice de denúncias com a violência física, porém pode ser psicológica, sexual, patrimonial e moral. Eliézio e Verônica compartilharam situações ocorridas nos atendimentos, de modo que o os participantes puderam estabelecer conexões entre as teorias e a prática.

Para o acadêmico de psicologia Eduardo Busquets, que participou do minicurso, pôde-se perceber a apresentação do viés da atuação na Psicologia Forense ou Judiciária com suas possibilidades e limitações práticas, “além da discussão e apresentação de conceitos teóricos da psicologia, foi possível perceber que esse aporte tem que caminhar articulado à interpretação da legislação”, pontua.

Em pesquisa realizada sobre violência doméstica e familiar contra as mulheres no Brasil, divulgada no mês de Junho, revela-se um aumento no número de mulheres que declaram ter sofrido algum tipo de violência doméstica: o percentual passou de 18%, em 2015, para 29%, em 2017. Mais de 212 mil processos registrando casos de violência doméstica e familiar foram abertos no Brasil em 2016.

O Congresso

Durante os dias 21 a 25 de agosto de 2017, semana em que se comemora o Dia do Profissional de Psicologia, o Congresso Acadêmico de Saberes da Psicologia (Caos) acontece no Ceulp/Ulbra contando com uma série de atividades que se debruçam sobre um dos temas mais emergentes da contemporaneidade, a violência. Temas como ‘Manejo clínico de vítimas de violência doméstica’, ‘Violência no Trânsito’, ‘Prevenção ao Suicídio e automutilação’, ‘Violência nas redes: em que momento nos tornamos tão insensíveis ao outro?’, ‘Alienação Parental no contexto sociojurídico’, ‘Violência e Sofrimento Psíquico no Trabalho’ e ‘Mídia, Corpo e Violência’ serão alguns assuntos abordados, dentro de uma programação que envolve aproximadamente 30 atividades.

Serviço:

O que: Palestra e mesas-redondas

Quando: 21 a 25 de agosto de 2017
Onde: Auditório Central do Ceulp/Ulbra

Realização: Curso de Psicologia do Ceulp/Ulbra

Apoio: Conselho Regional de Psicologia – CRP-23, Prefeitura de Palmas, Jornal O Girassol, Psicotestes, GM Turismo, Coordenação de Extensão do Ceulp/Ulbra, Coordenação de Pesquisa do Ceulp/Ulbra.

Mais informações:

Coordenação de Psicologia: Irenides Teixeira (63) 999943446
Assessoria do Ceulp/Ulbra: 3219 8029/ 3219 8100
Programação e Inscrições: http://ulbra-to.br/caos/

Notícias do Evento: http://encenasaudemental.com/mural

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