Brasil registra queda de óbitos por aids, mas doença ainda mata mais pessoas negras do que brancas

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Dezembro Vermelho

Ministério da Saúde divulga boletim epidemiológico sobre HIV/aids nesta quinta (30). Houve aumento de casos entre pretos e pardos, representando mais da metade das ocorrências desde 2015

Nos últimos dez anos, o Brasil registrou queda de 25,5% no coeficiente de mortalidade por aids, que passou de 5,5 para 4,1 óbitos por 100 mil habitantes. Em 2022, o Ministério da Saúde registrou 10.994 óbitos tendo o HIV ou aids como causa básica, 8,5% menos do que os 12.019 óbitos registrados em 2012. Apesar da redução, cerca de 30 pessoas morreram de aids por dia no ano passado. Do total, de acordo com o novo Boletim Epidemiológico sobre HIV/aids apresentado pelo Ministério da Saúde, 61,7% dos óbitos foram entre pessoas negras (47% em pardos e 14,7% em pretos) e 35,6% entre brancos.

Os dados reforçam a necessidade de considerar os determinantes sociais para respostas efetivas à infecção e à doença, além de incluir populações chave e prioritárias esquecidas pelas políticas públicas nos últimos anos. Nesta quinta-feira (30), a pasta também lança na TV aberta, nas redes sociais e em locais de grande circulação de pessoas em todo país a campanha de conscientização com o tema “Existem vários jeitos de amar e vários de se proteger do HIV”, reiterando a importância do cuidado.

Ainda segundo o boletim, na análise da variável raça/cor, observou-se que, até 2013, a cor de pele branca representava a maior parte dos casos de infecção pelo HIV. Nos anos subsequentes, houve um aumento de casos notificados entre pretos e, principalmente, em pardos, representando mais da metade das ocorrências desde 2015.

Estima-se que, atualmente, um milhão de pessoas vivam com HIV no Brasil. Desse total, 650 mil são do sexo masculino e 350 mil do sexo feminino. De acordo com o Relatório de Monitoramento Clínico do HIV, na análise considerando o sexo atribuído no nascimento, as mulheres apresentam piores desfechos em todas as etapas do cuidado. Enquanto 92% dos homens estão diagnosticados, apenas 86% das mulheres possuem diagnóstico; 82% dos homens recebem tratamento antirretroviral, mas 79% das mulheres estão em tratamento; e 96% dos homens estão com a carga viral suprimida – quando o risco de transmitir o vírus é igual a zero – mas o número fica em 94% entre as mulheres.

Para acabar com a aids como problema de saúde pública, a Organização das Nações Unidas (ONU) definiu metas globais: ter 95% das pessoas vivendo com HIV diagnosticadas; ter 95% dessas pessoas em tratamento antirretroviral; e, dessas em tratamento, ter 95% com carga viral controlada. Hoje, em números gerais, o Brasil possui, respectivamente, 90%, 81% e 95% de alcance. O Ministério da Saúde reafirma que possui os insumos necessários e já aumentou, neste ano, 5% a quantidade total de pessoas em tratamento antirretroviral em relação a 2022, totalizando 770 mil pessoas.

Em 2022, entre os casos de infecção pelo HIV notificados no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan), 29,9% ocorreram entre brancos e 62,8% entre negros (13% de pretos e 49,8% de pardos). No mesmo ano, entre os homens, 30,4% dos casos notificados ocorreram em brancos e 62,4% em negros (12,8% de pretos e 49,6% de pardos); entre as mulheres, 28,7% dos casos se verificaram em brancas e 64,1% em negras (13,8% de pretas e 50,3% de pardas). Para os casos notificados de aids, o cenário também preocupa: dos 36.753 diagnosticados, 60,1% estão entre a população negra.

Para aprimorar os indicadores de saúde e guiar políticas públicas de combate ao racismo, redução das desigualdades e promoção da saúde ao longo dos próximos anos, o Ministério da Saúde tornou obrigatório o preenchimento do campo raça/cor no Cartão Nacional de Saúde, o cadastro do cidadão no SUS. A partir de 2023, os sistemas não permitem mais o registro ‘sem informação’, em mais um passo pela igualdade racial no país, uma das prioridades do governo federal.

Confira a apresentação de slides na íntegra

Uso da Profilaxia Pré-Exposição no Brasil

Uma das formas de se prevenir contra o HIV é fazendo uso da PrEP, método que consiste em tomar comprimidos antes da relação sexual, que permitem ao organismo estar preparado para enfrentar um possível contato com o HIV. A pessoa em PrEP realiza acompanhamento regular de saúde, com testagem para o HIV e outras infecções sexualmente transmissíveis. Entre os avanços conquistados no primeiro semestre de 2023, também está a disponibilização da profilaxia nos ambulatórios que acompanham a saúde de pessoas trans. Em todos os estados há serviços de saúde ofertando a PrEP.

De acordo com o boletim epidemiológico, a Profilaxia Pré-Exposição é mais acessada pela população branca (55,6%), em comparação com as pessoas pardas (31,4%), pretas (12,6%) e indígenas (0,4%), dado que reforça a importância do detalhamento dos registros no SUS e a necessidade de ampliação de acesso para pessoas pretas e pardas. Nesse contexto, a pasta garantiu que 5.533 novos usuários entrassem em PrEP até outubro de 2023, 77% a mais do que em outubro de 2022. Com isso, 73.537 usuários estão em PrEP atualmente, o que representa aumento de 45% comparado com o ano anterior. Entre os usuários de PrEP em 2023, há somente 12,6% de população preta, 3,3% de mulheres transexuais, 2% de homens trans, 0,4% de população indígena e 0,3% de travestis.

Recorte raça/cor também preocupa entre as gestantes

Em 2022, houve um predomínio de casos de gestantes com infecção pelo HIV entre pardas (52,1%), seguidas de brancas (28,5%). As gestantes pretas corresponderam a 14% nesse mesmo ano. O diagnóstico do HIV em gestantes é muito importante para que as medidas de prevenção possam ser aplicadas de forma eficaz e consigam evitar a transmissão vertical do vírus. A maior parte das gestantes notificadas já é sabidamente HIV positiva antes do pré-natal e, em 2022, essas mulheres representaram quase 60% dos casos. É importante que essas gestantes estejam em uso regular de terapia antirretroviral (Tarv) e tenham suas cargas virais indetectáveis no momento do parto.

O percentual de realização de pré-natal é elevado entre as gestantes/parturientes/puérperas com HIV e tem se mantido em torno de 90% em todo o período analisado. No entanto, em 2022, o uso de Tarv durante o pré-natal foi relatado em apenas 66,8% dos casos. Essa informação é importante e necessária para a certificação de eliminação da transmissão vertical do HIV, cuja meta é atingir cobertura de Tarv igual ou superior a 95%. O percentual de gestantes/parturientes/puérperas sem uso de Tarv foi de 13,5%, e em 19,7% a informação sobre o uso da terapia era ignorada em 2022, segundo dados do Sinan.

Ações de resposta do Ministério da Saúde

Segundo a Secretaria de Vigilância em Saúde e Ambiente, 900 mil pessoas vivendo com HIV conhecem seu diagnóstico, ou seja, aproximadamente 100 mil pessoas ainda precisam ser diagnosticadas para que, então, iniciem tratamento. Para ampliar essa linha de cuidado, o Ministério da Saúde garantiu, em 2023, R$ 27 milhões na compra de 4 milhões de unidades de um teste rápido que detecta, simultaneamente, sífilis e HIV. A inclusão do teste inédito no SUS fortalece o rastreio e tratamento mais ágil para a população.

Inicialmente, o duo teste será direcionado para o rastreio em mulheres grávidas, trabalhadoras do sexo e homens que fazem sexo com homens. As demais pessoas serão testadas com a tecnologia que já é ofertada atualmente. Entre as vantagens do novo teste, estão a simplificação do processo de execução, que exige apenas um reagente, e a redução do espaço necessário para armazenamento nos postos de atendimento. Assim como o rastreio que já é feito, a leitura de resultado do duo teste será de até 30 minutos, sem a necessidade de estrutura laboratorial.

Outro importante anúncio do governo federal neste ano foi a diminuição da quantidade de comprimidos ingeridos diariamente para as pessoas que vivem com o vírus. Em vez de dois, será um. O medicamento combina dois antirretrovirais, ambos fornecidos pelo SUS: lamivudina e dolutegravir. O remédio facilita a vida do usuário, evita efeitos colaterais e mantém a carga viral controlada. A troca desse esquema terapêutico será realizada de forma gradual.

Como demonstração de compromisso com a causa, o Ministério da Saúde publicou, ainda, um novo Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas (PCDT) para Manejo da Infecção pelo HIV. O documento é uma espécie de guia de cuidado e assistência.

O Comitê Interministerial para Eliminação da Tuberculose e Outras Doenças Determinadas Socialmente (CIEDDS) também integra as novidades anunciadas durante 2023. Coordenado pelo Ministério da Saúde, o grupo é inédito e vai funcionar até janeiro de 2030. Dados da pasta apontam que, entre 2017 e 2021, as doenças determinadas socialmente foram responsáveis pela morte de mais de 59 mil pessoas no Brasil. O plano de trabalho inicial inclui enfrentar 11 dessas enfermidades. A meta é que a maioria das doenças sejam eliminadas como problema de saúde pública. Para o HIV e a aids, o objetivo é atingir as metas operacionais de eliminação pactuadas internacionalmente, incluindo a eliminação da transmissão vertical de HIV, sífilis e hepatite B, quando a infecção é passada de mãe para filho.

Para o início de 2024, como ação de incremento, o Ministério da Saúde prevê investir mais R$40 milhões em um edital nacional com o objetivo de envolver a sociedade civil na ampliação da prevenção e diagnóstico, chamando movimentos sociais, universidades, fundações, sociedades científicas e Organizações Não-Governamentais (ONGs) em uma grande mobilização de saúde.

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A sexualidade e os estereótipos estabelecidos na velhice

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O medo de envelhecer e de se relacionar é decorrente da quantidade de mitos que foram impostos ao longo dos séculos

O envelhecimento é um evento natural e, segundo Duarte (2008), “[…] é universal, por ser natural, não depende da vontade do indivíduo, todo ser nasce, se desenvolve, cresce, envelhece e morre. É irreversível, apesar de todo o avanço da medicina […]”, de modo que é carregado de mudanças biológicas, psicológicas e sociais, ainda que os estereótipos nessa fase permeiam um imaginário social, no qual o corpo novo, branco, sadio e com uma sexualidade voltada exclusivamente para o aparelho genital, assumem uma prepotência no que diz respeito a sexualidade na velhice. Logo,  a sexualidade é um termo abrangente e se mantém em um processo contínuo, apesar de cada indivíduo possuir um modo de coletar informações e assimilá-las de acordo com a sua história.

Ao longo da vida, o corpo passa por uma série de transformações, chegando na fase de senescência com paradigmas formados, de maneira que os conteúdos e pensamentos já adquiridos, em alguns casos, se encontram fechados e com difícil acesso em decorrência das dificuldades estabelecidas durante tal formação, acarretando a complexidade em falar sobre o assunto.

É difícil imaginar algum familiar praticando o ato sexual como, por exemplo, os avós; de certa forma se torna algo constrangedor, e este tipo de fator se atrela aos fantasmas existentes na sociedade, pois o desejo de se expressar, e o pertencimento corporal se tornam ponderações, e a vergonha, o medo de sentir desejo já nesta fase da velhice, reflete nos preconceitos socioculturais.

Fonte: encurtador.com.br/aeyBM

Bosi (2001) retrata muito bem esse fator, ele afirma que cada sociedade vive de forma diferente e que “a sociedade industrial é maléfica para a velhice […]”,  uma vez que a sociedade não aceita o idoso pela dificuldade corporal de produção. Para uma maior análise se faz relevante enfatizar como esse processo sociocultural foi determinado, e como tais representações culminam na gerontofobia. Na Idade Média, a sexualidade feminina segundo a Igreja era considerada um ato divergente para o meio social, pois a mulher teria que se manter virgem e pura até o casamento e após este, eram influenciadas a não sentir prazer, sendo sua utilidade somente a de procriação, criação dos filhos e manutenção do lar.

Dalarun (1993) afirma que “o prazer é antes e mais, o prazer do homem”, e nesse contexto de domínio patriarcal, cabendo aos homens ser o provedor e protetor do lar, direitos lhe eram garantidos, como a liberdade de garantir seu prazer com outras mulheres fora do casamento.

Embora estejamos na sociedade contemporânea, muitos dos valores impostos naquela época, se perpetuam até hoje, principalmente os que se referem à sexualidade de um casal, ainda mais se estes forem idosos. Tabus que se desenvolveram e se transformaram em estereótipos, insistem no padrão jovem sexual, e ao idoso atribui a vulnerabilidade corporal e mental.

Fonte: encurtador.com.br/kzW07

Partindo desse pressuposto, Martins e Rodrigues (2004) enfatizam que “no caso dos idosos a valorização dos estereótipos, projeta sobre a velhice uma representação social gerontofóbica, contribuindo para uma imagem que eles têm de si próprio”, ou seja, o medo de envelhecer e de se relacionar é decorrente da quantidade de mitos que foram impostos ao longo dos séculos.

A sexualidade do homem nesta fase da senescência torna-se um pouco mais complexa que a da mulher em detrimento de questões culturais, como citado nos parágrafos anteriores. De acordo com Nascimento (2019), a ereção e a sustentação do pênis são características e autorreferência dos homens, no entanto ao perceberem a dificuldade em se desenvolver sexualmente e a debilidade em se manter erétil acaba gerando sentimentos de angústia e medo; vale ressaltar que para chegar a tal esfera não irá depender somente da idade, como também da genética e fisiologia do indivíduo. Ainda que na sexualidade masculina haja essa complexidade, as mulheres também passam por impasses que de certo modo tem um impacto significativo em suas vidas. Autoestima baixa, mudanças hormonais, são alguma delas, e assim como no homem são capazes de gerar angústia e sofrimento.

E para que haja um maior entendimento sobre temas que estão relacionados à velhice, se faz necessário que estes idosos tenham acesso a essas discussões, e assim consigam integrar a mente e o corpo auxiliando no sistema de automonitoramento e até mesmo de prevenção. É entender que a estimulação sexual pode ser alterada naturalmente, é ter um conhecimento sobre o próprio corpo no que se refere à sexualidade de forma ampla.

Tais compreensões se tornam formas de suavizar atos afetivos com o companheiro (a), de maneira que o desejo seja expresso em sua totalidade e a comunicação sobre a sexualidade não seja apenas um tabu dentro da relação. Ainda que haja um medo de se relacionar sexualmente com outra pessoa nesta etapa da vida, a ampliação dos avanços tecnológicos e a busca por medicações que diminuem a impotência e consequentemente aumentam a libido, vêm trazendo uma série de riscos e um aumento significativo de doenças. Como dizem Dornelas Neto et al. (2015) […] “a ocorrência de práticas sexuais inseguras contribui para que essa população se torne mais vulnerável às infecções pelo Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV) e outras doenças sexualmente transmissíveis (DST)”.

Segundo os autores, o Brasil desenvolveu estratégias voltadas para este público, porém campanhas preventivas e estudos mais aprofundados não são repassados da maneira que deveriam. Dessa forma, o baixo nível de informações passadas a essas pessoas, ações preventivas do uso e da importância de preservativos, pode contribuir para um aumento ainda maior de casos tornando-se uma questão de saúde pública.

Assim como são feitos exames de rotina, a busca por um profissional que possua uma escuta científica permitirá relacionamentos sociais e sexuais saudáveis, independente de ser ou não acompanhada de um conjugue, visto que em alguns casos o indivíduo é viúvo, mas que ainda sim sente a necessidade de prolongar o desejo sexual com outros parceiros.

Fonte: encurtador.com.br/a0469

É importante destacar que nem todo ser tem o desejo sexual como a maior parte da população, estas pessoas se denominam como assexuadas. Uma das explicações se pauta em traumas e desequilíbrios de cunho hormonal. Rocha (2018) enfatiza que a […] “assexualidade não é uma escolha. Além disso, essas pessoas também podem se apaixonar normalmente, tendo como diferença das relações tradicionais apenas o fato de não sentir atração sexual.”, no entanto estas demonstram sentimentos através do afeto, do toque, do beijo etc., e elas se sentem bem assim.

A sexualidade se encontra presente ao longo da vida, e os idosos não devem se privar e atrelarem o fato as questões biológicas e sociais, tornando-se gerontofóbicos, com medo dessas relações. No entanto deve-se considerar a história de vida desses indivíduos e o modo que a sexualidade venha interferir, se de forma positiva ou negativa. Podendo acreditar na mudança e trabalhar os medos e os processos que o constituem com um profissional adequado, ou até mesmo dentro do grupo que estão inseridos, desmistificando o poder midiático socialmente exposto diariamente de que na velhice não há a prática sexual ,quebrando deste modo os tabus transgeracionais.

REFERÊNCIAS:

BOSI, E. Memória e sociedade: lembranças de velhos. São Paulo: Companhia das Letras, 2001.

DALARUN, Jacques. Olhares de clérigos. In: DUBY, Georges; PERROT, Michelle (dir). História das mulheres no ocidente: a média. Porto: Afrontamento, 1993, 2v.

DORNELAS NETO, Jader et al. Doenças sexualmente transmissíveis em idosos: uma revisão sistemática. Ciência & Saúde Coletiva, [s.l.], v. 20, n. 12, p.3853-3864, dez. 2015. FapUNIFESP (SciELO). http://dx.doi.org/10.1590/1413-812320152012.17602014.

DUARTE, L. T. Envelhecimento: processo biopsicossocial. Trabalho de Conclusão para o Curso Virtual “Educación para el Envejecimento”. 2008. Disponível em: http://www.psiconet.com/tiempo/monografias/b rasil.htm. Acesso em 04/06/2019.

MARTINS, Rosa Maria Lopes, RODRIGUES, Maria de Lurdes Martins. Estereótipos sobre idosos: uma representação social gerontofóbica. Ed. Instituto Politécnico de Viseu, 2004.

NASCIMENTO, Antonio Carlos do. O Envelhecimento e a sexualidade masculina. 2019. Disponível em: https://veja.abril.com.br/blog/letra-de-medico/o-envelhecimento-e-a-sexualidade-masculina/ Acessado em 10/06/2019.

ROCHA, Giovani. Você sabe o que é uma pessoa assexuada? 2018. Disponível em: <https://www.altoastral.com.br/voce-sabe-pessoa-assexuada/>. Acesso em: 10 jun. 2019.

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Circuito Universitário de Cinema debate o filme “Positivas” com Docente de Psicologia

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O debate acontece no dia 15 de maio às 17h na sala 407 do CEULP/ULBRA

“Positivas” é o filme que será debatido no “Circuito Universitário de Cinema”, que acontecerá no dia 15 de maio na sala 407, a partir das 17h. A condução do debate será pela Profa. Me. Cristina D’Ornellas Filipakis do curso de Psicologia do CEULP/ULBRA.

O projeto Circuito Universitário de Cinema tem como objetivo principal fomentar, no ambiente acadêmico, o diálogo e a reflexão sobre questões nacionais e históricas abordadas nas obras a serem exibidas. Tem a finalidade de trazer discussões dos direitos humanos em instituições de ensino do Brasil.

No Ceulp/Ulbra, a idealizadora do projeto é a acadêmica do curso de Psicologia Juliana Bezerra. 

Sobre o filme:

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SUS inicia distribuição da pílula do dia seguinte antiaids

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“MS lançará em dezembro um aplicativo com orientações sobre os postos de distribuição”


Após a publicação do Diário Oficial da União do novo protocolo de diretrizes terapêuticas, o Sistema Único de Saúde- SUS passa a distribuir a partir de hoje, 23, em seus postos a “pílula do dia seguinte” contra a aids. A medida prevê que pessoas que estiveram expostas a situações de risco tenham um atendimento mais rápido para evitar a doença.

Indicado para todos que tiveram risco de contato com o vírus causador da aids, a pílula é indicada nos casos de acidente ocupacional, como o de médicos que tiveram contato com o sangue de paciente, vítimas de violência sexual ou pessoas que tiveram relação sexual desprotegida.

Para que o método seja eficaz é preciso que o paciente, após a exposição procure uma unidade de saúde ainda nas primeiras duas horas ao ocorrido ou até 72 horas e o tratamento tem duração de 28 dias.

Apesar do importante passo o Ministério da Saúde (MS) ainda não tem estimativa de qual será o impacto da mudança e para facilitar o acesso aos serviços, lançará em dezembro um aplicativo com orientações sobre os postos de distribuição mais próximos. Em algumas cidades os antirretrovirais são fornecidos nos centros de serviços especializados em DST-Aids e também em unidades de emergência.

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Michel Foucault e a Loucura Normal

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Michel Foucault vem de uma família tradicional de médicos cirurgiões, mas como criticava a psiquiatria e a psicanálise moderna, decidiu tomar outro rumo em sua vida, tornou-se filósofo pela Universidade de Sobornne e sua tese de doutorado foi a obra História da Loucura em 1961. Embora já tivesse publicado o livro Doença Mental e Psicologia, foi com sua tese que se tornou conhecido.

Foucault era um jovem curioso e angustiado por sua existência, e isso fez com que tentasse suicídio por diversas vezes. Em 1951, quando assumiu aulas de psicologia na Escola Normal Superior na França, teve uma grande experiência no hospital psiquiátrico Saint-Anna, onde ficou internado por tentativa de suicídio. O autor escreve diversas obras em que julga as instituições como forma de dominação burguesa, pois elas estabelecem padrões para a dominação do comportamento humano.

Ele morre vítima da AIDS em 1984, deixando inacabado o terceiro volume de sua obra: “História da Sexualidade”, obra que o autor coloca o prazer sexual como forma de dominação.

Segundo Michel Foucault, em sua obra História da Loucura (2006), o louco era qualquer indivíduo da sociedade, alguns com uma loucura em um grau a mais que o outro, alguns sendo nomeados loucos pelo meio social em que viviam. A loucura para Foucault se torna algo natural, algo que nasce com o ser humano, e as instituições (estado, igreja, família e escola) são quem nomeia um mais louco que o outro, ou até que ponto sua loucura é considera normal.

Durante a Idade Média, poderiam ser considerados loucos aqueles que sorrissem fora da Igreja ou sem motivo católico, pois acreditava-se que Jesus era o único que poderia dar alegria aos indivíduos; eram loucos aqueles que dissessem a verdade; aquelas mulheres que por um deslize olhassem para outro homem que não fosse o seu marido; eram loucos aqueles que fugiam de casa por não concordar com as regras impostas por sua família e quisessem ganhar a vida de outra maneira; eram loucos aqueles que fugiam dos padrões impostos pelas instituição Estado/Igreja, que durante a Idade Média ainda eram uma só. Assim, ser louco está dentro de cada um, mas alguns com graus de normalidade e outros não.

A seguir, mostro-lhes um trecho da obra, onde resumidamente Foucault nos mostra o que é ser louco: “Os homens são tão necessariamente loucos que não ser louco significaria ser louco de um outro tipo de loucura.” (FOUCAULT; 2006, p. 36).

Aqui podemos perceber o quão natural Foucault considera a loucura, pois considera a loucura um fenômeno existente em qualquer ser humano e a sociedade em geral é que irá nominar as representações de loucura.

Podemos ainda, fazer uma análise histórica da representação da loucura em seus diferentes contextos, considerando o que é normal e anormal no decorrer da história. Era normal na Idade Antiga, por exemplo, ver a devoção dos indivíduos com seus supostos deuses, suas aparições ou a sua possível demonstração de que existe. Durante esse período, as pessoas consideravam fenômenos físicos e naturais como forma dos deuses provarem sua existência.

Esse comportamento seria considerado nos dias de hoje, como um tipo de loucura. Mas, analisando o contexto histórico da época, não podemos julgar as pessoas loucas, pois ainda não tinham a concepção do que é normal ou anormal. Fazendo um paralelo com esse fato, vemos hoje em algumas sociedades africanas, que são consideradas “anormais”, aqueles sujeitos que se dizem nunca ter sido possuído por demônio, e normais aquele que acreditam terem sido possuído por um demônio pelo menos uma vez na vida.

Percebemos nesse exemplo que a concepção de normal ou anormal muda em cada sociedade, pois, se esse fato africano ocorresse no Brasil, as pessoas logo considerariam loucos aqueles que acreditam ser possuídos por demônios, já que na sociedade brasileira, essas manifestações são consideradas anormais.

Já na Idade Média podemos ver o pensamento social referente à representação da loucura mudar de rumo. Pessoas que dissessem que tinham visões ou que professassem algum tipo de acontecimento eram julgadas como loucas, pois o Papa era a figura maior e ninguém poderia saber mais que ele. Como foi o caso da Inquisição Católica, em que queimaram as mulheres consideradas bruxas por praticarem outro tipo de profecia a não ser a católica. Ou seja, podemos fazer a relação em que aqueles que não seguissem as profecias católicas e dissessem ter visões que não fossem relevantes para a Igreja Católica, seriam considerados como loucos ou como bruxas e, assim, consequentemente seriam retirados do meio social em que viviam.

Vemos ainda na obra de Michel Foucault, no período da Idade Média, a loucura como algo criminalizado, banalizado e vulgarizado. Os considerados “normais” temiam aos loucos, não sabiam cientificamente o que acontecia com eles, então davam explicações religiosas, colocando-os a margem da sociedade, ou até mesmo, como o autor cita no primeiro capítulo de seu livro, dizendo que os loucos, sem família, deixados à margem da sociedade, eram colocados em navios e jogados no meio do oceano, vistos que estes não teriam contribuição nenhuma para a sociedade, a não ser a vergonha de encontrá-los nas ruas necessitando de ajuda e cuidados. Um ato desumano para nossa época, mas que para eles, era o correto a se fazer, já que a Igreja tinha o poder centralizado e era ela quem ditava as regras.

Após esse fato, criam-se instituições de caridade com o mesmo objetivo, fazer uma higienização social, ou seja, pegar todas as pessoas em situação de rua e colocá-las nestes abrigos, estas sendo loucos ou não, criminosos, hereges ou não. Estes indivíduos eram colocados nesse abrigo e tratados da mesma maneira.

Posteriormente, há uma divisão do doente e não doente, sendo classificados como loucos e como criminosos. O direito e a psiquiatria começam a trabalhar juntos, com o objetivo de caracterizá-los como tal e tentar tornar o sistema mais humanista, dividindo estes abrigos em alas de criminosos e insanos. Causou-se assim mais uma exclusão, tornando estes sujeitos – novamente – alvo de discriminação social.

No pensamento moderno, com o surgimento dos princípios capitalistas, industriais e modernos o conceito de loucura foi se cientificizando e começando a tornar-se uma patologia. Philippe Pinel que era médico atuante e apaixonado pela psiquiatria e ao ver a forma de tratamento das pessoas com transtornos mentais, um tratamento que era a base da discriminação e da dor, ficou descontente com a situação e passou a considerar essas pessoas como seres doentes e, assim, dizia que elas deveriam ser tratadas como doentes, e não a base de violência como à Igreja católica previa.

Ao analisar a história da loucura podemos perceber que o conceito de loucura se torna uma metamorfose, que se modifica dependendo do contexto social e histórico que está inserido. E esse conceito irá implicar nas formas de tratamento que as pessoas com transtorno mental teriam. Vemos na obra do Foucault, os loucos na Idade Clássica sendo tratados de forma degradante, sendo vítimas de torturas físicas e psicológicas. A Igreja católica previa que as pessoas com transtornos mentais eram também portadoras de grandes pecados e que quanto mais eles sofressem, mais fácil seria de alcançarem a salvação após a morte.

Estes eram princípios católicos fortes na época, o que a Igreja considerava certo pelo contexto histórico em que estes fatos estavam inseridos. Seria um grave anacronismo julgar essa forma de tratamento como errada, pois até mesmo os tratamentos dos dias atuais podem ser considerados incorretos futuramente, ainda não se sabe a etiologia dos transtornos mentais. Logo, também não saberemos a maneira correta de tratar essas pessoas.

Durante da Idade Média, não havia divisão de Estado e Igreja, ambos eram uma só instituição. Sendo assim, a Igreja obtinha o poder centralizado, sendo capaz de controlar a forma de vida, comportamento e pensamento das pessoas. Portando, loucura também estava relacionada ao confronto das ideias impostas pelo poder religioso, ou seja, aqueles que não obedecessem a doutrina católica eram considerados loucos e consequentemente jogados a margem da sociedade.

Essa ideia ocorre ainda hoje, mas com as instituições de poder (escola, Igreja, estado e família), que padronizam o comportamento humano, ou seja, aqueles que não forem a escola, não terem um trabalho, não terem uma religião ou não constituírem uma família, serão denominados loucos, por enfrentarem o padrão imposto e quererem viver como quiser.

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Festa beneficente Red Ribbon tem recorde de arrecadação para causa social

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a festa beneficente Red Ribbon arrecadou 4.160,00 reais que serão destinados ao projeto social, Casa 8 de Março.


Em comemoração ao Dia Mundial de Combate a AIDS, festa beneficente doará todo o valor arrecadado a entidade que assiste a prostitutas e travestis na prevenção e informação de DST’s

Com a casa cheia e sucesso de bilheteria, a festa beneficente Red Ribbon realizada pelo Lanterna Lounge Bar de Palmas, na noite do último sábado (29) arrecadou 4.160,00 reais que serão destinados ao projeto social, Casa 8 de Março, que assiste prostitutas, travestis e mulheres em situação de vulnerabilidade.

A festa contou com o publico de mais de 200 pessoas que ao som de quatro DJs avançaram a madrugada. Com a decoração temática, um grande laço vermelho foi colocado no espaço para reforçar o apoio a campanha de combate a AIDS.

Para Douglas Correia, proprietário do bar, a festa foi resultado de uma inquietação. Por isso, ele decidiu organizar a Red Ribbon, em parceria com a Secretaria de Saúde do Tocantins, por meio do Núcleo de Prevenção às DST’s. “Ficamos extremamente gratos ao prestigio de todos os clientes e amigos que compareceram na nossa festa, foi uma festa linda e realizada com muito carinho. Todo o valor que foi arrecadado será entregue a Casa 8 de Março”, destacou.

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Olhar fotográfico nos presídios

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Internos, internas e profissionais do Presídio Central de Porto Alegre/RS e da Penitenciária Feminina de Madre Pelletier produziram fotografias para a exposição “A liberdade de olhar”. A coletânea reúne cem imagens que retratam o cotidiano de detentos e funcionários de presídios da capital gaúcha.

Foto Divulgação

Foto: Letícia Bender

As fotografias foram produzidas entre agosto e outubro de 2013 e também apresentadas na IV Mostra Nacional de Experiências em Atenção Básica/Saúde da Família em Brasília – DF. A ação é organizada pelo Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (Unodc) e do Departamento de Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST), Aids e Hepatites Virais, do Ministério da Saúde, com apoio da Delegação da União Europeia no Brasil.

Foto Divulgação

Foto: Letícia Bender

“A liberdade de olhar” pretende dar visibilidade ao cotidiano de quem vive e trabalha em presídios e mostra a vulnerabilidade dos espaços e das relações. “Parece que a gente estava solta”, comenta uma jovem grávida que cumpre pena. Outro detento diz: “deixei de ser chamado de traficante para ser chamado de fotógrafo”.

Foto Divulgação

Foto: Letícia Bender

A organização do projeto percebe que, por meio das fotos, “aparece um debate crucial sobre direitos humanos, questões de gênero, violência e saúde, sobretudo diagnóstico, tratamento e prevenção ao HIV/AIDS, hepatites virais e tuberculoses”.

Foto Divulgação

Foto: Letícia Bender

Foto Divulgação

Foto: Letícia Bender

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Oziele Silva inova ao esclarecer dúvidas sobre HIV/AIDS para adolescentes evangélicos

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Foto de Zuleide
Foto: Maria Frô

Oziele Silva, acadêmica de enfermagem da Universidade Federal do Pará, foi uma das inúmeras boas surpresas da IV Mostra Nacional de Experiências em Atenção Básica/Saúde da Família. Ela veio a Brasília apresentar as experiências de um trabalho denominado “Árvore do Prazer”, que foi produzido dentro da estratégia de Saúde da Família do Bairro de Guamá, em Belém, cujo objetivo é esclarecer dúvidas sobre HIV/AIDS com o público adolescente da região. “Sabemos que para trabalhar com adolescentes, precisamos de meios e de estratégias diferenciadas. Por quê? Porque é comum nós encontrarmos nas Unidades Básicas de Saúde as gestantes, as mulheres, os idosos e as crianças, mas os adolescentes ainda são um público disperso”, explica Oziele, ao alertar que os profissionais de saúde precisam ir em busca deste público-alvo.

Pensando nisso, Oziele desenvolveu uma ação educativa que consiste em uma oficina em que se fixa numa raiz um desenho de uma árvore bem colorida, bem criativa, e se pede aos adolescentes que eles escrevam em três cartelas três formas de prazer que eles conheçam, como por exemplo comer, viajar, namorar, etc. “Após identificar esses prazeres, nós dizemos aos adolescentes que iremos fixar apenas aqueles que se identificam com o tema da dinâmica, que seria HIV e AIDS”, diz Oziele. Então, a árvore com os prazeres de namorar e beijar, por exemplo, ganha destaque, “porque procuramos mostrar que, em alguma medida, estes prazeres trazem riscos. E daí perguntamos para estes adolescentes quais os riscos que eles poderiam nos causar”, comenta Oziele.

É daí, desta aproximação, que se inicia um diálogo aberto em que os jovens vão percebendo e citando uma série de circunstâncias que podem decorrer dos prazeres-alvo da dinâmica. “Eles elencam a gravidez precoce, doenças, brigas… com isso, começamos a atuação, no sentido de mostrar que para manter esses prazeres, nós precisamos aprender a lidar com eles, precisamos aprender a superar e a conviver com os riscos”, explica a estudante.

Oziele diz que uma das etapas da dinâmica, é pedir que os jovens escrevessem numa cartela amarela as formas de prevenção dos riscos, e aparecem algumas sugestões, desde o acesso a informação, uso de preservativos, “mas ainda assim percebemos que há uma carência muito grande de informação, e também um bloqueio destes adolescentes porque eles faziam parte de uma comunidade evangélica”, observa. Novas estratégias são utilizadas nesta abordagem, com enfoque sobretudo no acolhimento, para gerar laços de confiança. “Percebemos que com o passar dos dias os jovens foram se sentindo mais confiantes, livres para trabalhar o tema conosco”, comemora Oziele, ao lembrar da forma dinâmica e criativa como toda a prática ocorreu.

Oficina disponível
Para os interessados em saber mais informações, ou até mesmo implantar a dinâmica, esta oficina está disponível no Programa de Saúde da Escola, do Ministério da Saúde, através do endereçohttp://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_content&id=16796&Itemid=1128. De acordo Oziele, a oficina pode ser adaptada para os jovens de todas as regiões do país. “O único apelo que eu faço, é para que todos os profissionais da área da saúde, em todos os setores, olhem com mais carinho para os nossos adolescentes, pois eles estão um pouco esquecidos. Que nós possamos avançar numa educação popular em saúde de qualidade, que atenda a todas as populações”, finaliza.

*Colaboração de Maria Frô

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Clube de Compras Dallas: na tragédia, a mudança

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Com seis indicações ao Oscar:

Melhor Filme, Melhor Ator (Matthew McConaughey) e Melhor Ator Coadjuvante (Jared Leto), Melhor Edição, Melhor Maquiagem e Melhor Roteiro Original.

 

 

O “Clube de Compras Dallas” (EUA – 2014), dirigido por Jean-Marc Vallée é um filme que soube explorar de forma criativa o sempre espinhoso tema da AIDS, já tão “batido” em Hollywood (lembremos de “Meu Querido Companheiro” (1989);“Filadélfia” [1993], com Tom Hanks; “Kids” [1995]; “Angels in America” [2003], com Al Pacino; “Yesterday” (2004), só para citar alguns). A trama, baseada em fatos reais, se passa no “difícil” Texas dos anos 80, estado norte-americano conhecido pela “rusticidade” de seus homens que trabalham nos inúmeros campos de petróleo (atividade até então ligada exclusivamente ao sexo masculino).

“Clube de Compras Dallas” tem como protagonista o eletricista Ron Woodroof (Matthew McConaughey), a personificação do “macho” que não demonstra ternenhum interesse pela vida, a não ser quando está acompanhado pelas prostitutas da região ou em cima de um touro. De resto, sempre que instado sobre a existência, não hesita em dizer que a verdade é que um dia “todos temos de morrer, seja do que for”. No entanto, num fatídico dia depois de ser acidentado no trabalho, Woodroof descobre (ao passar por exames simples no hospital) que contraiu o vírus HIV. Mais que isso: que já está com a AIDS instalada em seu organismo e que só lhe restam 30 dias de vida.

Homofóbico, o primeiro incômodo de Ron Woodroof não é com o diagnóstico em si, mas com a possibilidade de ser confundido com um homossexual, já que naquela época a síndrome era tida como uma espécie de “praga gay”, por ocorrer com maior frequência entre as pessoas deste tecido social. Apesar de estar muito magro (o ator McConaughey causou espanto ao perder 20 quilos para filmar o longa) e combalido por uma tosse persistente, Woodroof esnoba do diagnóstico e resolve voltar à rotina.

Neste momento o filme retrata um episódio comum já amplamente descrito pelos estudiosos da mente, de que diante de uma tragédia (nos anos 80, ser diagnosticado com AIDS era ter uma sentença de morte), uma das primeiras reações é negar-se a se ver em tal situação. E isso Woodroof tentou fazer desesperadamente, inebriando-se nas drogas e nas orgias. Num dado momento, percebe que não teria muitos dias caso não aderisse a um programa de tratamento. As fichas começam a cair para o cowboy hedonista. Perceber a fragilidade da vida e a possibilidade de uma extinção iminente, mesmo diante de uma existência que ele sempre negligenciou, fez com que Woodroof iniciasse uma jornada de vida ou morte em busca de um tratamento adequado.

 

 

Até então, o único medicamento autorizado pelo FDA (a agência que credencia os medicamentos nos EUA) era o famigerado AZT, que em suas altas dosagens mais matava que curava os portadores da doença. Woodroof se opôs a esse tratamento e inicia uma longa e desgastante, mas fascinante busca pela sobrevivência. No caminho, o protagonista tem que se deparar com todas as construções subjetivas que permeavam seu imaginário, sobretudo àquelas que lhe causavam repulsa. Aliás, ele não só teve que revisitar tais concepções, como aos poucos foi diluindo tais impressões. O laboratório para todas estas mudanças, além da terrível patologia, estava justamente no “Clube de Compras Dallas”, um dos grupos independentes que se proliferaram naquela época, cujo objetivo era encontrar em qualquer parte do mundo as maneiras alternativas de tratamento da AIDS.

 

 

No “Clube”, Woodroof estreita os laços com a travesti Rayon, interpretada brilhantemente por Jared Leto (também irreconhecível no longa), que gradualmente passa de objeto de desprezo para fiel escudeiro (ou escudeira) do cowboy. No decorrer dos dias, Woodroof começa a ver em Rayon mais que uma travesti; na partilha da mesma situação trágica, não havia diferença entre eles. E é neste ponto que o protagonista transforma a aversão numa amizade até então incomum.

Além deste fascinante enredo de alteridade, o filme toca por mostrar como as indústrias farmacêuticas agem para obter vantagens mesmo no mais terrível dos acontecimentos. Diante de uma anunciada pandemia de AIDS, e com vários estudos internacionais já demonstrando o alto grau de toxicidade das hiperdosagens de AZT (que já havia sido descartado do tratamento do câncer, nos anos 60, por destruir células sadias), a insistência na permanência deste protocolo ceifou muitas vidas (no Brasil, o caso mais conhecido foi o de Cazuza).

 

 

Enfim, no despertar para a vida Woodroof deve enfrentar não apenas o minúsculo mas altamente destrutivo vírus da AIDS; antes e/ou concomitantemente, também enfrenta o “dogmatismo cientificista” imposto pela indústria. Ele assume os riscos de provar em si próprio (e nos demais integrantes do “Clube”) os efeitos das drogas “alternativas” (porém, mais eficazes).

O cowboy, apesar de nesta altura já ter mudado de forma substancial sua visão sobre a vida, e sobre vários aspectos do mundo (como a sua antiga pré-concepção sobre a homossexualidade), ainda assim age sob a batuta do lucro (por ser o líder do “Clube”) e da busca pela própria cura. A mais profunda mudança ainda estaria por vir. E ela ocorre no momento em que Woodroof se dá conta de que ao se perder uma grande amizade, parte dele também fica irremediavelmente incompleto. Para as dores desta ainda mais trágica circunstância não haveria remédio.

 

 

Mesmo que Ron Woodroof tivesse que encarar pela frente um futuro de discriminação e de rigor no tratamento da doença, o “rito de passagem” havia se concluído. O egoísmo já estava dissolvido e a existência, enfim, se expressava como “vida” que pulsava – mesmo na doença. Antes, ao que parece, ele experimentava apenas as sombras da vida (para lembrar o estilo platônico). Um exemplo e tanto para nos fazer perceber que, de fato, grandes mudanças internas podem ocorrer em situações trágicas.

 

FICHA TÉCNICA:


Gênero: Drama
Direção: Jean-Marc Vallée
Elenco: Matthew McConaughey, Jared Leto, Jennifer Garner, Steve Zahn, Denis O’Hare
Fotografia: Yves Bélanger
Ano: 2013
País: Estados Unidos

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