Psicologia Social – Travessias e(m) Tessituras

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Desafiando Fronteiras: A Incursão da Psicologia na Mudança Social e a Perspectiva Contínua de Transformação em Diversos Âmbitos

Psicologia Social: Travessias e(m) tessituras é um livro construído por meio da contribuição de diversos profissionais das áreas das Ciências Humanas e Sociais. Faz uma análise de maneira ética, crítica, reflexiva e propositiva de uma variedade de temas que se entrelaçam com a Psicologia Social, além de abrir portas para outras áreas. Os elementos que formam os aspectos fundamentais da Psicologia Social, explorados neste estudo, evidenciam a complexidade, o aspecto histórico, as interconexões, a multidisciplinaridade e a interdisciplinaridade permitida para uma prática ético-política.

Logo na apresentação do livro, a organizadora, Aline Daniele Hoepers, faz um breve resumo dos capítulos que estão por vir, que podem ser descritos da seguinte maneira: no capítulo de abertura, intitulado “Psicologia Social: percursos, percalços e outros rumores”, são delineadas como jornadas determinadas no âmbito da Psicologia Social. Este capítulo destaca a importância crucial de assumir uma postura política, evidenciando a necessidade premente de luta pela transformação de uma realidade social desigual que se (im)posiciona.

No capítulo 2, intitulado “Políticas sociais: breve análise dos direitos sociais pós Constituição Federal de 1988″, destaca-se o contexto histórico e social essencial para uma análise crítica da construção dos direitos sociais e das políticas sociais no Brasil. O capítulo 3 , agência ‘Justiça social e direitos humanos: reflexões sobre o compromisso social da Psicologia’, continua nessa direção, enfatizando a necessidade de esforços contínuos para concretizar os direitos em meio às complexidades sociais. Com outras áreas e setores sociais, buscando uma realidade baseada na promoção dos direitos humanos e na justiça social.

Os capítulos posteriores levantam questionamentos e convidam a repensar abordagens teóricas que têm impacto direto na prática. No capítulo 4, intitulado “Psicologia Imaginal, pensamento decolonial e pedagogia cultural: por um resgate da ancestralidade”, uma abordagem crítica da Psicologia Imaginal é apresentada, destacando diálogos com epistemologias latino-americanas de origem indígena. Este capítulo convida à reflexão sobre a necessidade de uma ciência diversificada, culturalmente sensível e descolonizada.

Seguindo adiante, o capítulo 5, intitulado “Amor e cultura: discutindo a respeito do amor enquanto um produto cultural”, explora a intersecção entre amor e cultura. Destaca elementos presentes na construção sociocultural do amor, focando especialmente nos padrões direcionados às mulheres.

No capítulo 6, intitulado “Psicologia Social e sofrimento ético-político na atualidade: uma revisão bibliográfica”, o foco recai sobre as fontes geradoras de aflições, destacando o conceito de sofrimento ético-político. Este capítulo instiga à ação, convocando-nos a nos posicionar diante das opressões e disparidades sociais que persistem no cenário contemporâneo. Por outro lado, o capítulo 7, intitulado “A massa bolsonarista, uma massa da igreja?” aborda o contexto social e político atual do Brasil sob uma perspectiva distinta, destacando especificamente os traços que compõem o movimento da massa bolsonarista.

No capítulo 8, intitulado “A circularidade entre os polos subjetivos e objetivo: notas sobre a atuação do psicólogo organizacional e do trabalho”, são oferecidas reflexões sobre os desafios e potenciais no exercício profissional da Psicologia Organizacional e do Trabalho, enfatizando especialmente a delicada tarefa de mediar o esforço entre capital e trabalho. Enquanto isso, o capítulo 9, nomeado “Violências sexuais vividas por crianças e adolescentes: a atuação da escola na rede de atendimento e enfrentamento”, explora e problematiza os papéis desempenhados pelas instituições escolares na rede de proteção contra violências sexuais envolvendo crianças e adolescentes.

No capítulo 10, intitulado “O psicólogo no CRAS: refletindo sobre as práticas desenvolvidas junto às famílias vulnerabilizadas”, enfatiza-se a urgência de importância e buscar oportunidades para uma prática ético-política que seja socialmente comprometida com as famílias em situação de vulnerabilidade. Já no capítulo 11, chamado “Incorporar ou não? Quando o CREAS se torna um espaço de violação”, são discutidas experiências profissionais que merecem atenção, especialmente para evitar que uma população já fragilizada, atendida por essas instituições, não seja ainda mais vitimizada.

Os capítulos finais da obra trazem à tona, de maneira crítica e sensível, às experiências vividas durante a formação acadêmica em Psicologia no contexto comunitário. No capítulo 12, intitulado ‘Escuta coração da Chico: um relato de intervenções psicossociais realizadas com adolescentes em contexto comunidade durante a pandemia’, através da partilha de experiências de extensão universitária, destaca-se a importância da escuta ética e política das particularidades, que são moldadas por estruturas opressivas. Por outro lado, o capítulo 13, nomeado “Psicologia das Brechas: uma psicologia a partir de nós” baseado em relatos de experiências de estágio, convida à criação e abertura de espaços para a inovação, encontro e transformação social.

No conjunto dessas discussões e tensões, emerge não apenas a essência do compromisso social da Psicologia, mas também um convite à reflexão e à ação transformadora. As múltiplas abordagens e a diversidade de ângulos presentes nesses campos de atuação e pesquisa não apenas enfatizam, mas também reafirmam a importância do papel transformador e socialmente comprometido desempenhado pela Psicologia.

Este panorama não linear transcende os limites convencionais, convidando-nos não só a explorar e expandir as fronteiras da Psicologia, mas também a desbravar novos territórios e possibilidades. Em meio a desafios e oportunidades, essa obra ressoa como um convite para repensar constantemente os paradigmas estabelecidos, abrindo caminho para a evolução contínua e a inovação no campo da Psicologia. Essa multiplicidade de visões e abordagens não se limita a encerrar discussões, mas sim a abrir um vasto horizonte de possibilidades, convidando-nos a trilhar caminhos que nos conduzam a novas descobertas e avanços significativos na compreensão e na aplicação da Psicologia em nossas sociedades e comunidades.

REFERÊNCIA

HOEPERS, Aline Daniele et. al. PSICOLOGIA SOCIAL: Travessias e(m) tessituras. Editora BAGAI.  2023. Disponível em: <https://editorabagai.com.br/product/psicologia-social-travessias-em-tessituras/> Acesso em 27 de out. 2023.

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O Mundo de Sofia: um romance envolvendo a história da filosofia

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Com 600 páginas, este livro é uma obra extensa, mas também envolvente. Em poucas semanas, você se vê imerso em uma aula de filosofia, direitos e pensamentos humanos, entrelaçada com uma história misteriosa que te cativa e te deixa curioso pelo desfecho. No meio do livro, há uma reviravolta surpreendente, que te desafia a compreender o contexto em que o livro te coloca.

(Alerta de spoiler)

Sofia uma garota que está prestes a completar 15 anos, começa a receber cartas de um homem misterioso, e logo descobre que ele é um professor de filosofia, que a “pega pela mão” e a leva desde os princípios da filosofia, como Sócrates e Platão, até os filósofos da atualidade, e essa caminhada vem recheada de mistérios, e ainda entra uma outra personagem que se chama Hilde, e Sofia incessantemente tenta descobrir que é essa tal de Hilde, e o que ela tem a ver com as cartas, que receberá, essas cartas são divididas em dois grupos, um é do professor de filosofia e o outro vem de outro personagem desconhecido por Sofia, o mesmo aparenta ser o pai de Hilde. E nessa confusão de personagem que a história vai se completando e se encaixando, observe que agora temos quatro personagens relevantes para a história que são: Sofia e Hilde, o professor de filosofia é o pai de Hilde.

Sofia é uma menina curiosa e inteligente, que segue as pistas que encontra pelo caminho e aprende filosofia com seu misterioso professor. Ele se chama Alberto e, depois de se comunicar com Sofia em segredo, passa a encontrá-la pessoalmente. Juntos, eles se questionam sobre a identidade de Hilde e seu pai, que parecem estar por trás de tudo. (Spoile alert)

No final eles descobrem que são “apenas”, personagem de um livro que o pai de Hilde escreve para sua filha, a daí a história muda para a perspectivava de Hilde, que ganha o livro de seu pai que chama o mundo de Sofia, (amo ver o título do livro inserido na história), e com essa descoberta, Sofia e o professor de filosofia tentam fugir desse livro.

O livro por si só nos leva a refletir sobre várias coisas, como ver as coisas através de um outro ponto de vista como diz nesse trecho: “Talvez a verdade seja uma questão de ponto de vista e a mentira um ser mutável que igual à larva da borboleta com o tempo torna-se aceitável, ficando a critério de cada um escolher a sua verdade…”

Cada um vê o mundo de uma maneira diferente: “Tudo depende do tipo de lente que você utiliza para ver as coisas.”

O livro nos leva também a refletir sobre o valou da vida dependendo da morte para torná-la bonita: “Só quando sentiu intensamente que um dia ela desapareceria, é que pôde entender exatamente o quanto a vida era infinitamente valiosa. E quanto maior e mais clara era uma face da moeda, tanto maior e mais clara se tornava a outra. Vida e morte eram os dois lados de uma mesma coisa.”

Uma parte que vale ressaltar é que Sofia em meio da história tenta enfatizar as mulheres que fizeram parte da filosofia, algumas delas são Olímpia de Gouges( uma das pioneiras do feminismo no mundo) e Hildegar Von Bingen(polímata, escritora, compositora, filósofa), mostrando que a história não foi feita unicamente por homens, mas por mulheres que também que contribuíram e contribuem para a história até hoje, e são de grandíssima importância para os direitos que vemos hoje em dia, tanto pra homens quanto para mulheres. Entrelaçando com a filosofia, Sofia significa sabedoria, também o significado se refere ao lado feminino de Deus

Em conclusão, vale muito a pena ler o livro, é um livro de grande aprendizado e conhecimento histórico, que traz em si uma história envolvente, então não tenha medo das 600 páginas, pois ao final do livro vai querer que ele tivesse ainda mais páginas(pelo menos foi essa minha impressão), e tem o filme também que se baseia no livro, mais cai entre nós, não recomendo, o livro é muito melhor.

Referências:

Livro o mundo de Sofia. Indica livros. Disponível em: https://indicalivros.com/livros/o-mundo-de-sofia-jostein-gaarder. Acesso em: 17/10/2023.

AIDAR, Laura. O Mundo de Sofia: resumo e interpretação do livro. Cultura Genial. Disponível em: https://www.culturagenial.com/livro-o-mundo-de-sofia/. Acesso em: 17/10/2023.

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“O Pequeno Príncipe” – o essencial é invisível aos olhos

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07Escrito em abril de 1943, o livro “O Pequeno Príncipe”, do autor francês Antoine de Saint-Exupéry se trata de uma das maiores obras existencialistas do século XX, além de ser um dos livros mais traduzidos da história, perdendo apenas para o Alcorão e a Bíblia. Antes de se tornar escritor e ilustrador, Antoine de Saint-Exupéry ingressou no serviço militar no Regimento de Aviação de Estrasburgo, após ter sido reprovado na Escola Naval. Depois de um ano acabou obtendo a licença para pilotar e a partir disso foi se desenvolvendo na carreira de piloto, o que acabou influenciando na escrita de sua obra.

Seu livro se caracteriza como literatura infantil, mas possui um grande alcance no público adulto. Aborda diversas reflexões profundas, de forma leve e simples, sobre amizade, dinheiro, amores, entre outros assuntos. A narrativa gira em torno do personagem do Pequeno Príncipe, um jovem, não habitante da terra, que visita diversos planetas em busca de novas aventuras. Em uma dessas viagens ele acaba pousando no meio de um deserto do planeta Terra e lá conhece um piloto de avião que após um pouso complicado, se encontrou inesperadamente perdido neste mesmo lugar.

O livro apresenta a frustração do piloto por sentir que ninguém compreende suas ilustrações e à medida que ele vai se lamentando, o pequeno príncipe vai narrando as aventuras que viveu e trazendo diversas reflexões. Nesse contexto, cresce o elo entre o pequeno príncipe e o piloto perdido, e ambos começam a refletir juntos sobre assuntos tão importantes que acabam sendo esquecidos à medida que crescemos e tomamos outras responsabilidades. Para além de apenas mais uma trama infantil, a obra apresenta grandes reflexões sobre os valores que cultivamos e as prioridades que vão se perdendo ao decorrer do tempo. Por esse motivo, esse livro acabou alcançando em demasia o público adulto, ao abranger diversas interpretações que podem ser aplicadas ao contexto em que cada leitor se encontra.

                                                                                              Fonte: https://www.otempo.com.br/

Ilustração extraída do livro “O pequeno príncipe”

Em um momento da narrativa eles conversam sobre o afeto que o príncipe têm por sua rosa, a qual cuida com tanto carinho e zelo. Nesse contexto é dita uma das frases mais marcantes do livro: “Foi o tempo que dedicaste à tua rosa que a fez tão importante”. Dentre tantas coisas que essa frase nos leva a pensar, chamo a atenção para o tempo que gastamos com aquilo que tanto importa para cada um de nós. Em 2010, uma pesquisa feita pela International Stress Management Association Brasil apontou que 60% dos brasileiros carregam um sentimento recorrente de falta de tempo. Paralelamente a isso, a agência de marketing digital Sortlist analisou o uso médio de navegação dos brasileiros em diferentes aplicativos. Os dados revelam que os brasileiros gastam em média 10 horas diárias navegando na internet, sendo três horas desse tempo destinadas ao acesso de redes sociais.

Talvez você esteja se perguntando como todos esses dados e pesquisas se relacionam com a história do Pequeno Príncipe. O fato é que a mensagem das palavras desse personagem pueril não devem deixar de ecoar ou ao menos nos incomodar, por menor grau que seja. Assim como ele dedicou tempo à sua rosa, também dedicamos muito tempo às coisas ao nosso redor. No entanto, com a aceleração contemporânea, dificilmente comparamos como gostaríamos de estar investindo nosso tempo e como realmente estamos gastando.

                                                                                                       Fonte: https://www.otempo.com.br/

Imagem extraída do filme “O pequeno príncipe”

Cabe a nós, fazer uma autoanálise para entendermos como estamos gastando nosso tempo. Estamos negligenciando aquilo que deveria ser essencial em nossas vidas? Como por exemplo, os relacionamentos saudáveis que nos cercam, ou sonhos que por muitas vezes se encontram engavetados, ou até mesmo a apreciação das coisas ordinárias da vida? Um dia chuvoso ou ensolarado, um final de semana de descanso, um trabalho bem feito, entre tantas outras coisas que podem perder valor à medida que crescemos e amadurecemos. Quão estranho é pensar que quanto mais “amadurecemos” mais nos esquecemos dos nossos valores, de cuidar daquilo que verdadeiramente importa e de pôr em prática aquilo que o autor diz no livro:“o essencial é invisível aos olhos”.

Vamos crescendo e a busca desenfreada por algo que nos preencha e traga felicidade faz com que fixemo-nos em coisas perecíveis demais que são incapazes de nos realizar na proporção que desejamos. passamos a focar na felicidade como um objetivo a ser alcançado e não como uma consequência do caminho que trilhamos.

A leitura do pequeno príncipe nos traz de volta à consciência daquilo que realmente importa, sem menosprezar as necessidades que a vida nos impõe a viver. Longe de ser uma literatura apenas para crianças, o livro se faz ainda mais necessário para aqueles que entraram no modo automático da vida e sem perceber, encontram-se perdidos de si.

REFERÊNCIAS

Antoine de Saint-Exupéry: Escritor e piloto francês. eBiografia, 2003. Disponivel em:

https://www.ebiografia.com/antoine_de_saint_exupery/. Acesso em 31 de agosto de 2023.

Você tem ideia de quanto tempo passa nas redes sociais?. Blog Affix, 2023. Disponível em: https://www.affix.com.br/voce-tem-ideia-de-quanto-tempo-passa-nas-redes-sociais/#:~:text= Um%20estudo%20revelou%20que%20os,da%20rede%20em%20diferentes%20aplicativos.

Acesso em 31 de agosto de 2023

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Casamento às Cegas Brasil: A exposição do Complexo Materno e o Mito Afrodite – Eros

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Como o relacionamento de Veronica e Will foi atravessado pelo complexo materno e como o mito de Afrodite e seu filho Eros pode elucidar o contexto.

 

Divulgação Netflix

Will e Veronica no altar.

Casamento as Cegas: Brasil é um reality show da Netflix baseado na versão americana Love is Blind. O programa, que é chamado de experimento pelos apresentadores (Camila Queiros e Kleber Toledo), segue com 16 participantes homens e 16 participantes mulheres com o intuito de encontrar o amor de sua vida, sem prévio contato físico. No primeiro momento os participantes não sabem como é (fisicamente) a pessoa que está conversando, apenas ouvindo as nuances da voz, as histórias, as promessas e suas percepções dentro das cabines por 10 dias seguidos. Após a fase das cabines os casais fazem o pedido de casamento, se encontram numa passarela pela primeira vez e após isso vão para a lua de mel em um lugar paradisíaco por uns dias, até serem levados para a fase do “dia a dia”, colocados em um apartamento para conviverem até a data do casamento. Todo o processo dura 30 dias.

As cabines são chamadas de capsulas e os participantes vão de capsula-em-capsula atras do seu “amor”. O que ao primeiro olhar o programa se remete ao amor líquido descrito por Bauman e repostado exacerbadamente as quintas de #TBT, mas surpreendentemente o reality te prende e te faz sentir a sensação de alguém realmente encontrar o amor nessa forma peculiar. Bem estilo americano de encapsular sentimentos e vender como show, como já sabemos. Mas na segunda temporada um casal chamou bastante atenção devido seu match desde o primeiro encontro, o caminho apaixonado e de companheirismo e o final inusitado. Atenção: partir deste momento teremos spoilers.

Divulgação Netflix

Veronica e Will foram o primeiro casal a se “apaixonar” e a fazer o pedido para seguir para a nova etapa. Numa cena emocionante, onde o Will se ajoelha em frente a tela para pedir a “maravilhosa” – como ele a chama – em casamento. Ambos dizem sim e se preparam para o encontro aonde irão se ver pela primeira vez. No encontro há brilho nos olhos, paixão no primeiro beijo e reforço do sentimento construído nos dias das cabines. Nasce um casal apaixonado! Seguem para a lua de mel em um resort na Amazonia Brasileira, o que reforça ainda mais a química do casal, sendo um dos matchs mais reforçados da temporada pelos próprios participantes. Verônica tem 31 anos de idade é modelo e empresária e Will tem 26 anos de idade trabalha como analista e ambos moram na casa dos pais.

O casal apaixonado é direcionado para a “vida comum” para vivenciarem a vida a dois no dia a dia em um apartamento, onde ambos podem conhecer suas rotinas, jeito de ser, as famílias e suas casas. Em todos os momentos o casal se mostrava cada dia mais apaixonado e conectado. É nessa etapa que o casal é apresentado à mãe de Will, personagem importante nessa narrativa, que já se mostra desconfortável com a situação. Nada menos do que o esperado até então, afinal, um casamento é coisa séria, como reforçam quase todos da família ao se apresentarem, e colocar a vida em um experimento a nível nacional não é comum quanto se relacionar tradicionalmente. Até esse ponto a mãe de Will é apenas uma mãe preocupada com o direcionamento do filho, muito comum nos aspectos positivos do complexo materno, que se trata daquele amor materno que pertence às recordações mais comoventes e inesquecíveis da idade adulta e representa raiz de todo-vir-a-ser e toda transformação segundo JUNG, 1961.

Após muitos episódios que não cabem aqui, eis que chega o grande dia do casamento, noiva de vestido de noiva, emocionada, noivo vestido de noivo também emocionado. E uma cena muito peculiar do Will com os amigos (que são padrinhos) sentados à mesa comemorando a chegada do grande dia, onde Will diz que “está perdidamente apaixonado por essa mulher e nada vai fazê-lo dizer não”, os amigos brindam felizes, e uma amiga de Will pergunta, se ele se casará mesmo se a mãe não aprovar, ele refuta e diz que as escolhas dele são dele e que a decisão do “sim” já está tomada desde sempre.

Corta para a cena da família de Will chegando à mesa, arrumados para o casamento e a mãe pergunta se é isso mesmo que ele quer fazer, afirmando que ele é jovem, tem muitas ciosas para viver, novas pessoas para conhecer além de ter tudo o que ele precisa na casa dela. Segundo JUNG, 1875, os efeitos do complexo materno no filho se diferem entre alguns pontos, mas principalmente atitudes de imaturidade e de dom-juanismo (o conquistador sem profundidade), afinal se aprofundar pra que se tem “tudo” na casa da mãe? De modo inconsciente o filho fica preso à figura da mãe e essa é procurada inconscientemente “em cada mulher”. O que pode trazer efeitos maléficos para esse “futuro-homem”. Will tem 26 anos de idade, já é um homem, mas um dos efeitos do complexo materno negativo no filho é justamente esse “menino” nunca crescer e ficar enraizado no lar materno, o castrando da potencialidade da própria vida.

Como fenômeno patológico esse tipo de mãe tira do filho as possibilidades de vida e a própria vida se resume em trazer conforto, segurança ou “favores” maternais. Como no mito de Afrodite e seu filho Eros o deus da paixão (mais conhecido em algumas histórias com o formato de cupido) cuja sua única função ao ser criado foi vingar Afrodite (deusa da beleza), que estava invejada por uma mortal chamada Psique, considerada tão linda quanto uma deusa. Afrodite enviou Eros para flechar psique (as flechas de Eros tinham o poder de fazer alguém amar ou odiar de imediato), e em consequência se apaixonasse por um monstro, e de nada adiantaria sua beleza, por pura inveja. Porém ao ver Psique, Eros errou a flecha e se apaixonou por ela.

Divulgação Netflix

Voltando para história de Will e Veronica, após a conversa com a mãe que dizia que se ele dissesse “não” na hora do casamento ela estaria lá para receber ele e apoiá-lo.  E que ela não o julgaria, pois ele tem muita vida pela frente. Clima tenso percebido pela produção do programa, e o próprio apresentador, Kleber Toledo, foi conversar com Will e a mãe, dando seu próprio exemplo, de que sua vida só melhorou e andou para frente após seu casamento, que ele então era outro homem! A cena segue para a entrada do noivo com a mãe na cerimônia, os convidados sentados à espera da noiva que chegara radiante com seu vestido branco, sorrindo até ao altar. A cerimonialista em seu discurso pergunta à Verônica se aceita Will em casamento, ela reponde um emocionado “SIM”, e segue a pergunta para Will, que em hesitação reponde “maravilhosa, hoje será um não”.

Todos os convidados amigos próximos de Will se assustam, pois é o oposto que afirmou há alguns minutos atras em roda de conversa na mesa, indo contra toda a trajetória do casal, enquanto Veronica sai apressada pela passarela da marcha nupcial. A cena que se segue é de Will conversando com a mãe, onde ela o acalenta, afirmando que ele fez o que seu coração mandou e ninguém tem nada a ver com a sua vida, que ela sempre estará lá por ele e que há muita vida pela frente. Neste contexto, o complexo materno está diretamente ligado ao eros exacerbado (não o deus citado acima, mas a parte libidinal humana), a mãe devoradora, castra o filho da vida. Fantasiada de proteção ou amor maternal da parte sombria materna, pode inconscientemente levar o filho ao caminho de comodismo, não desenvolvimento (puer aeternus) e uma existência insipida, que ela acredita ser o melhor, mas não necessariamente.

Como visto no mito Afrodite – Eros, o filho a desobedeceu, não acertando a flecha em vingança à Psique, e sim, se apaixonou pela própria, indo contra tudo o que a mãe o criou para fazer. Eros e Psique mais à frente do mito se casam e tem uma filha chamada Hedonê, a deusa do prazer. Há um momento em que os filhos naturalmente, deixam o papel principal de filho e se tornam novos papeis principais, faz parte da jornada individual de todas as pessoas esse processo. O mito nos traz caminhos para respostas diante do complexo materno exposto no texto. Eros além de desobedecer a mãe para seguir sua vida casou-se com Psique e o casal deu à luz a deusa do prazer, Hedonê. Importante notar que do grego, Psiquê significa alma. Podemos então parafrasear que a desobediência de um homem adulto à mãe e o encontro com sua alma (psique) dá frutos para o gozo (Hedonê) da vida completa.

Faz parte da vida adulta desligar-se dos desejos parentais para viver seus próprios desejos. Já ligou para sua mãe hoje?

Referências

 

JUNG, C.G., 1875-1961. Quatro Arquétipos: mãe: renascimento: espírito: trickster; Tradução Gentil Avelino Titton, Petrópolis: Editora Vozes, 2021.

Noites Gregas, ep. 19, [Locução de]: Claudio Moreno. Porto Alegre. noitesgregas.com.br 21/10/2020.

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Transtorno Obsessivo Compulsivo em “Melhor é Impossível”

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A análise crítica de uma obra cinematográfica, com viés psicológico, demonstra um senso crítico interessante sobre o comportamento humano. Neste tipo de produção são explorados todos os aspectos emocionais e imaginários de um indivíduo.

Normalmente, obras de drama, suspense, terror e ação são as preferidas para abordarem questões complexas envolvendo algum distúrbio ou transtorno característico, estereotipando o portador de alguma enfermidade como uma pessoa monstruosa, como o caso da psicopatia.

Porém, não só de negatividade vivem os transtornos humanos, muitas vezes as situações podem ser representadas como cômicas e servir para entreter o público em geral. Esse foi o caso do clássico de comédia Melhor é Impossível (1998), dirigido por James L. Brooks.

O filme narra a história do excêntrico escritor Melvin Udall (Jack Nicholson) que é portador do conhecido Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC). Udall possui um senso de humor extremamente preconceituoso, principalmente com homossexuais, sendo seu alvo favorito o artista Simon Bishop (Greg Kinnear).

Fonte: Google Imagens

O TOC de Melvin está em um nível extremamente agravado, como é possível observar no filme, pois ele não pisa as linhas do chão; para trancar a porta de casa, ele gira a chave diversas vezes; somente lava a mão com água quente e dois sabonetes diferentes, que são descartados após o uso; seus chocolates são divididos em potes por cores.

Além disso, não encosta-se a ninguém e faz de tudo para evitar que toquem nele; só sai de casa para se encontrar com seu médico, editora ou para almoçar no restaurante de sempre, na mesma mesa, no mesmo horário, ser atendido pela mesma garçonete e comer a mesma coisa em talheres descartáveis que ele mesmo leva. O cenário do filme também expõe a gravidade de seu TOC, como sua coleção de discos e garrafas d’água organizadas.

Como é cediço, o Transtorno Obsessivo Compulsivo é uma condição que basicamente reúne a ansiedade com crises recorrentes de obsessões e compulsões. Fica muito explícito no filme essas situações quando Melvin apresenta seus “rituais” do cotidiano.

A obsessão de Melvin em repetir os mesmos padrões é uma característica marcante no personagem, sendo uma das razões para este ser sempre atendido pela mesma garçonete Carol Connelly (Helen Hunt), pois esta é a única que aparenta lhe suportar.

Udall, assim como muitas das pessoas portadoras destes transtornos, não fazia o acompanhamento médico adequado, tampouco fazia uso das medicações que lhe ajudariam a reduzir os sintomas.

Porém, dada situações inesperadas, Udall se vê obrigado a cuidar do pequeno cachorro de estimação do seu vizinho Simon. Inicialmente há muita relutância de sua parte, entretanto, o carisma do pequeno animalzinho acaba conquistando aos poucos Melvin.

Fonte: Google Imagens

Ademais, Udall se descobre apaixonado por Carol, a atendente do restaurante e, na tentativa de conquista-la, resolve retomar ao tratamento do seu transtorno. Imperioso destacar que Melvin se encontrava em uma situação totalmente desvantajosa no início do filme, falido e com uma necessidade gigantesca de se redescobrir como indivíduo para se conectar novamente com a sociedade.

É perceptível que já existia dentro deste os interesses de mudança, sem Carol, assim como o pet do seu vizinho, pontos de ignição para o despertar um novo e melhorado Melvin.

O filme até os dias atuais é aclamado pela extraordinária atuação dos atores, tendo sido um marco na vida do já famoso Jack Nicholson que levou o Oscar daquele ano pelo papel representado.

Fonte: Google Imagens

É possível extrair do filme um significado profundo sobre o comportamento humano, principalmente quando o indivíduo se afasta da ignorância de sua personalidade e descobre as razões que lhe levam a ter uma conduta excêntrica que muitas vezes é mal vista pelos seus pares. Também mostra como é possível, até para os mais difíceis casos, uma melhoria na qualidade de vida quando há o comprometimento e dedicação da pessoa portadora do TOC.

FICHA TÉCNICA

Título: As Good As It Gets (Original)

Ano produção: 1998

Dirigido por: James L. Brooks

Duração: 138 minutos

Classificação: Livre

Gênero: Comédia, Drama

País de Origem: Estados Unidos da América

 

REFERÊNCIAS

CORREA, Luanna Carolline Machado. Melhor é Impossível: análise funcional do comportamento de Melvin. Portal (EN)Cena. Disponível em <https://encenasaudemental.com/cinema-tv-e-literatura/melhor-e-impossivel-analise-funcional-do-comportamento-de-melvin/>. acesso em 01 jun 2022.

Rosario-Campos, Maria Conceição do e Mercadante, Marcos. Transtorno obsessivo-compulsivo. Brazilian Journal of Psychiatry [online]. 2000, v. 22, suppl 2 [Acessado 14 Junho 2022] , pp. 16-19. Disponível em: <https://doi.org/10.1590/S1516-44462000000600005>. Epub 24 Jan 2001. ISSN 1809-452X. https://doi.org/10.1590/S1516-44462000000600005.

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As quatro etapas da psicoterapia junguiana

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Em 1929, Carl Gustav Jung publicou o texto “Os problemas da psicoterapia moderna”, para o Anuário Médico Suíço o texto. Nele, que mais tarde veio compor o quinto capítulo do décimo sexto livro de suas obras completas: “A prática da psicoterapia”, Jung fala sobre as etapas do processo terapêutico, que em seu modelo teórico, teriam quatro fases. O presente texto é um resumo deste trabalho.

Na tentativa de englobar a psicanálise de Freud, a psicologia individual de Adler e outras tendências no campo da psicologia complexa, Jung entende o processo psicoterapêutico como um percurso que passa por diferentes momentos, e que em cada um deles, os diversos campos da psicologia podem contribuir para o processo.

“Devido à extrema diversidade das tendências da nossa psicologia, é imenso o esforço que temos que fazer para sintetizar os pontos de vista. Faço, portanto, esta tentativa de dividir as propostas e o trabalho, em classes, ou melhor, em etapas” (JUNG, 2013, § 122).

Segundo Jung (Ibid., § 123), “As origens de qualquer tratamento analítico da alma estão no modelo do sacramento da confissão.” Essa etapa passa pelo processo do sujeito se ver com seus segredos, que, diante do surgimento da parte oculta do psiquismo, devido à invenção da ideia do pecado, o segredo, a “coisa recalcada”, passa a ter um efeito deletério para a alma.

“O possuir um segredo tem o mesmo efeito do veneno, de um veneno psíquico que torna o portador do segredo estranho à comunidade” (Ibid., §124).

Fonte: encurtador.com.br/ajuNQ

Apesar do segredo, em doses baixas, ser salutar, por fazer um serviço à construção da individualidade, aquele que fica por demais restrito ao indivíduo, sem compartilhamento, pode ser destrutivo. Para Jung (Ibid., § 125), “este tem o mesmo efeito da culpa, segregando seu infeliz portador do convívio com os demais seres humanos.” Quando elevado a um nível radical, ele pode se tornar oculto até ao próprio sujeito. O conteúdo secreto já não é conscientemente encoberto, mas é oculto até perante si mesmo, e com isso separa-se da consciência na forma de um complexo autônomo, formando uma espécie de psique fechada, cuja fantasia desenvolve uma atividade própria, perturbando a atividade consciente.

Outra forma de contenção deletéria exercida é a dos afetos:

“O afeto contido, do mesmo modo que o segredo inconsciente atua como fator de isolamento e perturbação, e provoca sentimento de culpa. A natureza não nos perdoa, por assim dizer, quando, ao guardarmos um segredo, passamos a perna na humanidade. Do mesmo modo, ela nos leva a mal, quando ocultamos as nossas emoções aos nossos semelhantes” (Ibid., § 130).

Sendo o segredo e a contenção de ordem exclusivamente pessoal danosos para a alma, a natureza reage, enfim, por meio da doença.

“Esconder sua qualidade inferior, bem como viver sua inferioridade, excluindo-se, parece que são pecados naturais. E parece que existe como que uma consciência da humanidade que pune sensivelmente todos os que, de algum modo ou alguma vez, não renunciaram à orgulhosa virtude da autoconservação e da autoafirmação e não confessaram sua falibilidade humana. Se não o fizerem, um muro intransponível segregá-los-á, impedindo-os de se sentirem vivos, de se sentirem homens no meio de outros homens” (Ibid., § 132).

Esta etapa da confissão, dá ensejo para as primeiras descobertas da psicanálise. A catarse, que visa à confissão completa, não se limita a uma constatação intelectual dos fatos pelo pensamento, como também à liberação dos afetos contidos, “à constatação dos fatos pelo coração” (Ibid., 134).

Devido ao fato de que nem sempre é possível promover uma aproximação do paciente ao seu inconsciente, ao ponto de eles conseguirem perceber sua sombra através do método catártico, a prática da psicoterapia não pode se limitar a esse método. São muitos os indivíduos que são fervorosamente ligados ao seu consciente, não cedendo ao recuo dela e, portanto, não recorrem ao inconsciente. Nesse caso, se exige uma técnica toda especial para a aproximação do inconsciente (Ibid.).

Também há o fato de a catarse promover uma diminuição dos sintomas, porém não oferecer uma compreensão por parte do paciente dos processos que ocorrem em sua dinâmica psíquica, podendo gerar outras situações adversas, como o apego do paciente em relação ao psicoterapeuta, necessitando sempre do seu auxílio com o mesmo método, ou o apego ao seu próprio inconsciente, gerando uma fixação nociva em relação a ele (Ibid.).

Por isso, torna-se necessária a segunda etapa da psicoterapia: a compreensão. Para tanto, se dá atenção primeiramente às fixações, seguindo o método psicanalítico de Freud. Nos casos de dependência do terapeuta, se constata que esse vínculo corresponde, em sua natureza, à relação pai-filho, ou seja, um tipo de relação infantil que não se consegue evitar. Tratando-se de uma formação neurótica, um novo sintoma desencadeado pelo próprio tratamento, “FREUD acertou ao batizar esse sintoma de transferência (Ibid., § 139).

Fonte: encurtador.com.br/yMOP0

“Enquanto o método catártico, em sua essência, devolve ao eu conteúdos que normalmente deveriam fazer parte do consciente, o esclarecimento da transferência faz com que venham à tona conteúdos que, naquela forma, jamais teriam tido condições de se tornarem conscientes. Em princípio, é esta a diferença entre as etapas da confissão e do esclarecimento” (Ibid., § 141).

Já em outros casos, o sujeito, ao invés de se fixar ao terapeuta, se fixa às representações das fantasias do próprio inconsciente, e nele se emaranham. Este fato, revela que ele ainda se encontra em estado de identificação com os pais, lhe conferindo autoridade, independência e espírito crítico, o que lhe faz opor resistência à catarse.

“Aquilo que o paciente transfere para o médico tem que ser interpretado, isto é, deve ser esclarecido. Uma vez que o próprio paciente nem sabe o que está transferindo, o médico é obrigado a submeter a uma análise interpretativa todos os fragmentos disponíveis da fantasia do paciente” (Ibid., § 144).

Com o processo de esclarecimento das origens da fixação, o paciente, se deparando com a infantilidade e inutilidade de sua posição, desce a um nível mais modesto e de relativa insegurança, podendo gerar efeitos salutares. Pode também o fazer perceber que sua necessidade de fazer exigências ao outro é produto de um comodismo infantil, que deve ser substituído por uma maior responsabilidade pessoal (Ibid.).

“Armado da convicção de sua própria insuficiência, lançar-se-á à luta pela existência, a fim de ir consumindo em trabalhos e experiências progressivas todas aquelas forças e aspirações que até agora o tinham levado a agarrar-se obstinadamente ao paraíso da infância ou, pelo menos, a recordá-lo com saudades. As ideias que o nortearão moralmente daqui para a frente serão: adaptar-se normalmente e ter paciência com a própria incapacidade, eliminando as emoções e ilusões, na medida do possível” (Ibid., § 149).

Nesse novo estágio, o indivíduo com forte sensibilidade moral pode, devido sua elaboração, reunir um ímpeto mobilizador suficiente para fazer do processo terapêutico vivenciado um êxito. Isso pode despertar nele forças adormecidas, que poderão intervir favoravelmente em seu desenvolvimento. Porém, em pessoas com parca fantasia moral, tal insight em si pode de nada adiantar. “O método do esclarecimento ou elucidação sempre pressupõe índoles sensíveis, aptas a tirarem conclusões morais, independentes de seus conhecimentos” (Ibid., § 150).

Além disso, nem todas as pessoas podem ser analisadas sobre o espectro unilateral causalista freudiano, “Sem dúvida, todos têm esse aspecto, mas nem sempre é ele que predomina.” (Ibid., § 150). Aqui, adentramos na terceira fase do processo terapêutico: a educação para o ser social.

Há inúmeras neuroses que podem ser mais bem explicados sob o prisma do instinto do poder, idealizado por Alfred Adler, onde o indivíduo “arranja” sintomas para conseguir prestígio fictício, explorando sua neurose. Até mesmo sua transferência e demais fixações servem a sua vontade de poder. Por essa via, Adler visa a psicologia do oprimido ou do fracassado na sociedade, cuja única paixão é a necessidade de prestígio. “Estes casos são neuróticos, porque continuam achando que estão sendo oprimidos, e combatem moinhos de vento com as suas fixações, impossibilitando sistematicamente a consecução dos objetivos que mais almejam” (Ibid., § 151).

Fonte: encurtador.com.br/fivD7

A via Adleriana, segue onde para a última etapa. Para além do insight, se faz necessária a educação social, tentando tornar a pessoa normalmente ajustada, mediante todos os recursos da educação. Nessa parte, é possível que haja um certo distanciamento do inconsciente, visto que, visando o ajustamento em vias de adaptação e cura, é desejável que se aparte do lado que carrega as características sombrias e más da natureza humana.

“A educação vem por fim, e mostra que uma árvore que cresceu torta não endireita com uma confissão, nem com o esclarecimento, mas que ela só pode ser aprumada pela arte e técnica de um jardineiro. Só agora é que se consegue a adaptação normal” (Ibid., § 153).

Para satisfazer uma necessidade a mais, transcendendo tudo o que foi feito até então, Jung desenvolveu a quarta fase, e denomina-a como transformação. A finalidade dessa etapa passa pela exigência da alma de alguns sujeitos a tornar-se mais do que simplesmente socialmente ajustados.

“A simples noção de “normal” ou “ajustado” já implica limitar-se à média, que só pode ser sentido como progresso por aquele que, por si, já tem dificuldade em dar conta da sua vida dentro do mundo que o cerca, como, por exemplo aquele que, devido à sua neurose, é incapaz de levar uma existência normal” (Ibid., § 161).

Porém, para as pessoas cuja capacidade é superior ao homem médio, e suas realizações sempre foram mais do que satisfatórias, a ideia da normalidade pode não significar algo satisfatório.

“[…] significa o próprio leito de Procusto, isto é, o tédio mortal, insuportável, um inferno estéril sem esperança. Consequentemente, existem dois tipos de neuróticos: uns que adoecem porque são apenas normais e outros, que estão doentes porque não, conseguem tornar-se normais. (…) a necessidade mais profunda dessas pessoas é, na verdade, poder levar uma vida extranormal” (Ibid., § 161).

O confronto das personalidades do terapeuta e paciente, propicia o encontro de duas realidades irracionais, que, como a mistura de duas substâncias químicas diferentes, geram uma reação transformadora. Tais fenômenos são conhecidos por transferência e contratransferência, onde Jung defende a tese de que:

“De nada adianta ao médico esquivar-se à influência do paciente e envolver-se num halo de profissionalismo e autoridade paternais. Assim, ele apenas se priva de usar um dos órgãos cognitivos mais essenciais de que dispõe. De todo jeito, o paciente vai exercer sua influência, inconscientemente, sobre o médico, e provocar mudanças em seu inconsciente” (Ibid, § 163).

Nessa relação terapeuta-paciente, fatores irracionais promovem uma transformação mútua, sendo decisiva a personalidade do psicólogo ser aquela mais estável e forte. Ele acaba por ser parte integrante do processo psíquico do tratamento tanto quanto o paciente, estando também exposto a influências transformadoras. Segundo o autor, se o terapeuta se fecha a essa influência, ele também perde sua influência – que é inconsciente – sobre o paciente, abrindo uma lacuna em seu campo de consciência, impedindo-o de vê-lo corretamente.  É daí que se dá a necessidade de o terapeuta ser obrigatoriamente analisado, exigência feita por Jung e aderida por Freud quando ainda mantinham parceria (Ibid.).

Para Carl Jung, mais importa a personalidade e as condições psíquicas do terapeuta do que, propriamente, as linhas teóricas que ele utilizará no percurso terapêutico. “Você tem que ser a pessoa com a qual você quer influir sobre o seu paciente” (Ibid., § 167).

Ao longo de todo o percurso terapêutico, a relação psicoterapeuta-paciente será aquilo que norteará o tratamento. Dessa forma, para além desse ou daquele constructo teórico, bem como o que o psicólogo acredita ser o método adequado – catarse, educação ou seja lá o que for –, o que promoverá o tratamento será o encontro de duas almas, e, portanto, é muito mais importante preocupar-se com a convicção que o terapeuta tem acerca daquilo que acredita e segue como linha teórica.

Referência:

JUNG, Carl G.. A prática da psicoterapia. 16. ed. Petrópolis, Rj: Vozes, 2013. 156 p. (OC 16/1).

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O adeus à Anna O.

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Já nos aproximamos do final do semestre letivo. Todas as atividades se tornaram urgentes e inadiáveis e ontem vivi um desafio interessante: precisei me despedir da minha primeira paciente na clínica escola a quem chamarei simbolicamente de Anna O, em homenagem à analisanda de Breuer e Freud que inaugura os estudos de psicanálise.

Sobre verdadeira Anna O. é preciso dizer, ao menos, que também não tinha esse nome. Era Bertha Pappenheim, que aos 21 anos quando foi diagnosticada com histeria, doença exemplar da época Vitoriana, pelo médico Joseph Breuer.

A jovem estava recolhida em seu quarto sofrendo de contraturas, de paralisia no lado esquerdo do corpo, mergulhada em mutismo e delírios diversos quando recebeu os primeiros cuidados por meio de catarse e hipnose de Breuer.

Anos depois, em decorrência do tratamento de Freud, por meio da psicanálise, Bertha Pappenheim se tornou a primeira assiste social da Alemanha dedicando-se a acolher jovens judias pobres e inúmeras órfãs que eram levadas a prostituição.

O caso de Anna O. descrito por Freud no Livro Estudos Sobre Histeria, deixa claro que era preciso ouvir e interpretar as falas que vinham do inconsciente, o que os sonhos poderiam revelar e fazer de toda dor, sofrimentos banais. Com isso, Freud inaugura a psicanálise, tratamento que propõe a cura pela fala; inicia a noção da sexualidade na origem das neuroses, desenvolve a ideia da reversibilidade dos sintomas histéricos e, também, identifica evidências do amor de transferência.

Fonte: Imagem no Freepik

Voltemos à história da minha Anna O.!

Confesso que adiei o dia da despedida ao máximo, afinal, esses momentos propiciam os temíveis feedbacks e as avaliações. E eu estava insegura sobre qual seria a percepção da minha primeira paciente sobre o resultado do nosso ano de terapia.

Quanto a isso é preciso destacar que o trabalho desenvolvido com ela, que é estudante de psicologia, foi muito marcado pela transferência e pela contratransferência. Desde uma interação facilitada por uma transferência positiva iniciada nos primeiros contatos, até os desafios intensos do manejo continuado de transferência negativa, nos dois meses finais. Além, da inegável, contratransferência causada pelo fato de a minha Anna O. ser estudante de psicologia, conhecer das teorias e técnicas que eu aplicava nas sessões e, por fim, utilizar-se deste conhecimento como meio de resistência ao processo terapêutico.

Para o dia da despedida, eu ensaiei ao máximo todas as saídas previsíveis a fim de ter apoio em caso de dificuldades. E se ela não dissesse nada, isso significaria que ela não havia gostado do trabalho? E se ela fizesse uma crítica dura, ainda poderia ser interpretada como transferência negativa?

Enfim, como eu iria lidar com o meu ego narcisista de psicóloga em formação ante ao feedback da paciente que pegou o início da minha prática ainda tão rudimentar?

Foi assustador! Mas como os prazos não esperam, me lancei ao desafio.

E no final deu tudo certo. Ela chorou a sessão toda. Confessou que também tinha medo do dia da despedida. Agradeceu a disponibilidade e o trabalho desenvolvido: mais por ela do que por mim. Que fique claro! Disse ter ficado surpreendida com a clínica de ênfase em psicanálise, pois quando se dispôs a iniciar a terapia imaginava que ia apenas “se conhecer melhor” e não esperava que a experiência e a transferência fossem provocar tantas dores e tantas conquistas.

Fonte: Imagem no Freepik

Confesso que eu só não chorei, porque, afinal psicólogo não chora! Faz semblante de analista!

Mas que eu precisei lembrar disso várias vezes, eu precisei.

O bacana da experiência foi perceber na prática que o esforço do estudo, do empenho e da coragem de se arriscar mesmo sendo ainda tão iniciante trouxe resultado útil à paciente, apoiando-a a alcançar alterações concretas em suas relações e no manejo dos seus sintomas.

Quando eu lembro que perdi noite de sono preocupada com a possível ideação suicida de Anna O., mal consigo reconhecer a moça que falava comigo na última sessão. Sua libido não estava mais regredida, ela conseguiu trabalhar, não deixou a faculdade, não tinha mais crises de insônia ou de ansiedade, nem levantava a cada 10 minutos para ir ao banheiro durante a sessão.

Contudo ela ainda continua a ser minha Anna O. E como se dispôs a manter a terapia na clínica escola da Ulbra, na ênfase da psicanálise, certamente será o maravilhoso desafio de outro colega a partir do próximo ano.

REFERÊNCIAS

FREUD, Sigmund, 1856-1939. Obras completas, volume 2 : estudos sobre a histeria (1893-1895) em coautoria com Josef Breuer / Sigmund Freud ; tradução Laura Barreto ; revisão da tradução Paulo César de Souza — 1a ed. — São
Paulo: Companhia das Letras, 2016.

FREUD, Sigmund, 1856-1939 Cinco lições de psicanálise, Leonardo da Vinci e outros trabalhos (1909) / Sigmund Freud.

SANTOS, Manoel Antônio. A transferência na clínica psicanalística: a abordagem freudiana. Temas psicol. vol.2 no.2 Ribeirão Preto ago. 1994

ISOLAN, Luciano Ransier. Transferencia erótica uma breve revisão. 189 Transferência erótica – Isolan Rev Psiquiatr RS maio/ago 2005;27(2):188-195

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I LOVE PSICANÁLISE

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Eu não preciso recordar e nem repetir por que já foi elaborado

Não é um conteúdo reprimido e nem uma recordação do passado,

 O sintoma que se opera em mim não é inconsciente e foi confessado

É um amor sem mecanismos de defesa, que aos poucos foi plantado.

A elaboração deste sentimento repetido e não esquecido é puro e ardente

Foi em forma de transferência, sem conflito psíquico e foram latentes

Eu interpretei que seriam meus passos, e nem ofertei resistência

Eu elaborei minha escolha, com  facilidade sem a menor prudência 

Foi uma livre associação, um assim, preenchimento de lacunas

Um conteúdo manifesto que floresceu em hora oportuna

Agora se torna objeto de desejo nos meus impulsos instintuais

Não houve energia presa no sintoma, é energia solta, nas questões emocionais

Este sintoma me dá prazer, o compreendo, dele não abro mão, nem ensejo

Sou o próprio desejo do analista, intenso, e genuíno, carece de manejo

Mas se compraz em se manter desejante do outro, sentindo-se por ele atraído

Ele é puro, não faz valer o meu desejo é apenas  por ele totalmente  impelido.

Aceito meus processos inconscientes, reconheço a resistência do recalcamento

Considero a sexualidade e o complexo de Édipo, me analiso, tenho embasamento 

Ao voltar meu olhar para dentro de mim, contemplei minhas profundezas

Guiada pelo princípio do prazer, sem regras, dei vazão ao desejo e vi nisso riquezas.

Guiada pelos princípios de realidade meu ego não quis limitar minhas grandes pulsões

Viu razão no ID… Cedeu às suas exigências, porém de forma positiva não fez mediações

O superego não disse a mim que houvesse limite ele viu coerência no arrebatamento

Não houve conflito entre as estruturas, se entenderam  sem nenhum estranhamento.

Nesses versos expressando a linguagem do querer me construo enquanto indivíduo

Neste querer não sou ansioso, não sinto culpa, não sou neurótico. Sou assíduo

Neste querer não existe falha que afeta a percepção do meu pensamento

Logo, tão pouco sou psicótico, pode ser que nesse incremento

Seria eu um pervertido, derrubando a ordem natural, para assim me expressar

Fazendo um rebuliço nas estruturas e disso me valendo sem nenhum pesar.

O amor á Psicanálise é minha rota, me pego sempre pensando em amar

Agarrei-me a esta essência, a este amor, esta pulsão difícil de educar

Neste caminho já não me sinto doente, pois o amor me curou

 Minhas emoções falo sem medo, para a psicanálise meu coração eu dou.

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A Psicologia através do Homem-Aranha

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A tríade do Homem-Aranha, de Sam Raimi, bem como a nova série “O Espetacular Homem-Aranha”, se refere ao processo de desenvolvimento de Peter Parker, e também da nossa diferenciação, enquanto heróis da nossa própria vida. O primeiro filme aborda a aflição que origina o herói: o remorso pela morte do tio Ben. O segundo filme se trata sobre a insegurança de Peter se ele deve continuar sua trajetória de herói ou não. O terceiro é a resolução dessa dúvida, pois Peter se identifica com sua função de herói, o que distingui sua sombra: Venon, que terá que confrontar para o bem de sua integridade anímica. A série atual já modifica a ferida do herói para o abandono dos pais, fato que irá refletir em todos os filmes, principalmente na inseguridade e no sentimento de solidão de Peter. Um estudo mais categórico dessa série só é provável ao seu término, para encaixar um filme ao outro e verificar para onde a aventura está caminhando.

Peter, coerentemente, é um pesquisador, mas tem que responsabilizar-se de seus sentimentos, processos opostos às ideias. Enquanto aranha, ele “flutua” de um oposto anímico para outro, a fim de alcançar a condição de equilíbrio, sem se caracterizar com um ou outro, uma vez que ambos fazem parte da vida e da mente. O azul caracteriza-se à tranquilidade, à pureza, à exatidão, ao frio, à imaterialidade e à espiritualidade. O vermelho é associado à vida, aos instintos, à vigilância, à inquietude. Perceber-se com um deles, sejam eles quais forem, é querer tornar-se um deus, resolver tudo de uma só maneira, como em uma “receita de bolo”, o que nos torna impiedosos para com aqueles que se identificam com o lado oposto. Isso é bem ilustrado no Homem-Aranha 3, na forma como é cruel com Mary Jane e seu amigo. Por isso a aranha, que possui oito patas, faz uma mandala no peito do herói, um símbolo de integridade, de dimensão dos opostos.

Fonte: encurtador.com.br/dhFI4

No primeiro filme, Peter assume o arquétipo de herói, simbolizada pelo uniforme, e tem a identificação com esse arquétipo. No segundo, sente necessidade de coibir a vida de herói, pois acabou deixando outras carências de lado, como a paixão por Mary Jane. Com isso perde seus poderes e fica novamente uma pessoa ignorante e difícil de lidar. Mas a solução para saber conciliar a vida de herói e com as necessidades humanas é a disciplina, e não a repressão. Esta é utilizada pelo sentimento de medo de usar de maneira compulsória seus poderes. Isso só ocorre quando de forma inconsciente de possuir as qualidades opostas, devido à repressão de um dos privilégios. Porém, o Aranha só vai perceber isso no 3º filme, quando descobre o tamanho que pode ser sua maldade.

Os vilões que o Aranha desafia configuram obstáculos em seu psiquismo que ele precisa dominar. Todos eles podem ser classificados em duas categorias: ou são cientistas, ou são objeto/produtos de estudo científico avançado. De alguma forma estão relacionados à atividade intelectual, e acabam por sucumbir ao poder. Os vilões dos dois primeiros filmes e de “O Espetacular Homem-Aranha” são admiradores da performance intelectual de Peter, como que denunciando o perigo de se fixar apenas em uma função ou qualidade psíquica. As quatro funções psíquicas (pensamento e sentimento, sensação e intuição) são formas de orientação da consciência para adaptação à vida. Elas formam pares em oposição, e não podem se desenvolver sem prejuízo da função oposta, pois uma interfere no funcionamento da outra. Por isso, quando o sentimento se desenvolve, a função intelectual não progride, e vice-versa.

As funções que não progridem. alcançam uma feição inferior, primitiva. Caem totalmente ou em parte no inconsciente e a partir daí operam através do indivíduo de forma involuntária, podendo ocasionar acidentes e todo tipo de erro. Isso está explicado de maneira mais extensa na monografia “A intuição e a sensação em dependentes de droga na perspectiva da psicologia analítica”, onde os opostos intuição e sensação são explicados com mais propriedade. Como Peter desenvolveu mais a função pensamento, e é do tipo psicológico intelectual, mas ao mesmo tempo sente necessidade de evoluir seu sentimento, pois percebe que não consegue lidar muito bem com pessoas caras em sua vida. Harry e Marko parecem ser do tipo sentimento, e são os únicos vilões que Peter perdoa.

Fonte: encurtador.com.br/vBHNV

Além do mais (Norman, Otto, Curt e Max) morrem no final, pois configuram diretamente o uso descomedido da inteligência que precisa cessar da vida de Peter. É como se estes representassem personificações de seu intelecto que precisava ser mais objetivo para que ele pudesse perceber seu intelecto melhor.

A expressão do desfecho, é oportuno fazer um link das aventuras do Homem-Aranha com a ordenação das fabulas dos heróis em geral. O herói quase sempre é vencido pelo monstro na batalha final, o que acontece com Peter quando é “devorado” pelo Simbionte, que encobre seu corpo com a indumentária negra. Isso acontece com Jonas, profeta da bíblia. É no interior da baleia que este começa a ajustar contas com ela, que nada na direção do nascer do sol (JUNG, 1991d, §160). No caso, o Aranha ajustou contas com a sombra coletiva na igreja, e depois ao explodi-la, quando o sol desponta. Somente assim Peter perdoa o Homem-Areia, uma menção há renascença.

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