“Bebê Rena” é um duro convite para enfrentar muitos demônios existenciais

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“Bebê Rena” apresenta-se como um título que provoca um misto de curiosidade e inquietação, refletindo a complexidade do ser humano. A série mergulha nas profundezas da psique, explorando os limites entre o ordinário e o patológico, o impulso e a violência, e nos leva a questionar as nuances de nossa própria existência. Criada e estrelada por Richard Gadd, a série é uma obra de exposição visceral. Gadd se desnuda diante de nós, revelando suas vulnerabilidades e contradições em uma busca incessante pela verdade

Ele personifica a dualidade do ser humano, onde a realidade e a ficção se entrelaçam de forma quase indissociável. Jessica Gunning, ao interpretar Martha, nos faz refletir sobre a natureza da obsessão e suas consequências devastadoras. Martha é uma mulher envolta em delírios, desenvolvendo uma paixão intensa por Donny e inundando-o com mensagens diárias. Essa dinâmica nos expõe à fragilidade das relações humanas e à dificuldade de estabelecer limites claros, especialmente quando há uma necessidade

O comportamento obsessivo de Martha pode ser analisado através do prisma do transtorno obsessivo-compulsivo (TOC) e outros transtornos de personalidade. A obsessão, nesse caso, não se limita aos pensamentos persistentes, mas evolui para um delírio, uma crença fixa e inabalável, alheia à realidade. Martha apresenta delírios, que são firmemente sustentados, mesmo diante de evidências comprovadas. Esses delírios podem ser classificados como eróticos, quando uma pessoa acredita que está apaixonada por ela. No caso de Martha, essa crença leva a um comportamento intrusivo e invasivo, não percebendo os sinais de desconforto e exclusão de Donny

“Bebê Rena” não é apenas uma narrativa sobre perseguição. É um convite a enfrentar nossos próprios demônios, explorando a relação intrínseca entre amor e violência. Em um mundo onde as fronteiras entre realidade e ficção estão cada vez mais difusas, uma série nos desafia a confrontar a complexidade de nossos sentimentos e ações. O relacionamento entre Martha e Donny revela a dificuldade de distinguir entre amor e violência. Martha, com sua obsessão patológica, é um exemplo clássico de stalker. Seu comportamento é intrusivo e violento, impulsionado por uma necessidade profunda de controle e posse sobre Donny. Esse tipo de comportamento muitas vezes é enraizado em experiências de desamparo aprendido, onde uma pessoa, ao longo do tempo, internaliza a ideia de que não tem controle sobre sua própria vida, buscando desesperadamente algum tipo de controle.

Donny, por outro lado, não é apenas uma vítima passiva nessa dinâmica. Ele também possui uma personalidade dúbia, que contribui para a complexidade da relação. Suas respostas à obsessão de Martha podem variar entre condescendência e exclusão, criando um ciclo vicioso de comportamento abusivo e ambíguo. Em alguns momentos, suas atitudes podem até, inadvertidamente, estimular os comportamentos de Martha, perpetuando a dinâmica disfuncional entre eles.

A obsessão de Martha é uma forma de violência psicológica, que pode ser tão prejudicial quanto à violência física. A constante invasão de privacidade e a pressão emocional que ela exerce sobre Donny criam um ambiente de medo e ansiedade, afetando gravemente sua estabilidade emocional e mental. Donny, por sua vez, envia sinais confusos para Martha, agravando a situação. Ele pode oscilar entre tentar ajudar Martha, sofrendo pena de seu sofrimento, e rejeitando-a, incapaz de lidar com a intensidade de sua obsessão. Essa dualidade cria uma confusão emocional para ambos. Martha, com seu comportamento controlador e obsessivo, assume o papel de algoz, enquanto Donny, com sua vulnerabilidade e respostas ambíguas, se encaixa no papel de vítima. No entanto, a complexidade da situação reside na interdependência dessas identidades, onde ambas são permitidas para a perpetuação do ciclo abusivo. Donny, embora vítima, tem um papel ativo na manutenção da dinâmica, seja por compaixão, medo ou conivência.

A história deles é um lembrete poderoso da importância de considerar sinais de comportamento obsessivo e abusivo, e buscar ajuda antes que a obsessão se transforme em algo ainda mais destrutivo. Em última análise, é um chamado à empatia e à compreensão, tanto para aqueles que sofrem quanto para aqueles que se encontram presos a essas dinâmicas adoecedoras. Muitas vezes, esses sentimentos podem parecer semelhantes, mas são basicamente opostos. A violência, com sua natureza contagiosa, perpetua-se através do tempo, representando um desafio constante para a humanidade compreender e romper esse ciclo

A beleza de “Bebê Rena” reside em sua capacidade de nos levar a uma reflexão profunda sobre nossa própria existência. Uma série, com suas nuances e complexidades, aborda aspectos fundamentais da condição humana, provocando introspecção e questionamentos sobre quem somos. “Bebê Rena” destaca a fragilidade da existência humana através dos desafios e adversidades enfrentadas pelos personagens. A luta pela sobrevivência, a vulnerabilidade diante das forças da natureza e dos conflitos internos refletem a precariedade da vida e a batalha constante para encontrar significado e propósito.

Os personagens são confrontados com suas próprias dúvidas e inseguranças, sendo solicitados a questionar suas opiniões, valores e o papel que desempenham no mundo. Essa busca por identidade é um aspecto universal da experiência humana, ressoando profundamente com o público. É enfatizada também a importância das relações humanas e das relações emocionais. A interdependência entre os personagens, suas interações e os laços afetivos que formam são centrais para a narrativa. “Bebê Rena” mostra como essas conexões podem ser fonte de apoio e conforto, mas também de conflito e dor, revelando a complexidade das relações humanas na realidade

A mortalidade é um tema recorrente em “Bebê Rena”, nos lembrando da impermanência da existência e da necessidade de valorizar cada momento. Apesar dos desafios e adversidades, “Bebê Rena” é uma ode à resiliência e à esperança. Os personagens demonstram uma capacidade notável de perseverar diante das dificuldades, encontrando força nas mesmas e nas suas relações

A série nos provoca uma introspecção sincera, uma análise de nossos comportamentos e motivações, em busca de uma transformação genuína e, neste processo, somos levados a questionar nossos interesses. Quais objetivos, conscientes ou inconscientes, nos impulsionam a agir de determinada maneira? Em “Bebê Rena,” uma análise das interessantes das personagens revela suas verdadeiras motivações. Isso nos desafia a reflexão sobre nossos próprios objetivos, promovendo uma autoavaliação que pode levar a uma mudança significativa em nós e em nossas relações.

Além disso, a série também provoca uma reflexão sobre a perda de privacidade na vida contemporânea. A invasão constante na vida de Donny por Martha reflete uma interferência crescente em nossa sociedade, onde a privacidade é frequentemente comprometida pela obsessão e controle de outros. Esta dimensão da trama ressalta a vulnerabilidade dos indivíduos em um mundo cada vez mais conectado e monitorado, onde a linha entre público e privado se torna cada vez mais tênue. A série, portanto, não explora apenas a profundidade da psicologia humana, mas também nos alerta sobre os desafios da privacidade na era moderna.

Por fim, há uma explicação subjacente de compreensão e busca de significado, onde Martha tenta dar sentido à sua vida através de sua relação com Dony, embora de uma maneira patológica. Esses elementos nos desafiam a entender as motivações profundas por trás de comportamentos aparentemente irracionais e abusivos. É um processo de autoconhecimento que busca não apenas respostas, mas uma transformação interior. A arte, assim como a vida, é uma busca contínua por sentido e compreensão.

“Bebê Rena” é mais do que uma série sobre obsessão; é uma viagem que nos desafia a enfrentar nossas sombras e a encontrar a luz através da facilidade e transformação de nossos aspectos mais sombrios. Nos mostra que, ao confrontarmos a nossa escuridão interior, podemos alcançar a transformação pessoal e, assim, nos aproximarmos do autoconhecimento e da harmonia interior que tanto buscamos.

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Manejo da ansiedade a partir da abordagem psicanalítica

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A ansiedade é um transtorno mental que afeta pessoas de todas as idades.

Para falarmos sobre o manejo de ansiedade na clínica psicanalítica, é interessante compreendermos o que de fato é essa tal ansiedade que tanto nos assola. Pois, entende-se que a compreensão dos sintomas por parte do analista e do paciente faz-se necessário para uma boa conduta clínica (ZIMERMAN, 2008).

Dessa forma, para que isso aconteça, a compreensão que há dois tipos de ansiedade, a “patológica” e a “normal” torna-se necessária. O processo de identificação de cada uma delas talvez seja complexo, em vista que ambos podem apresentar os mesmos sintomas ou semelhantes na hora do aperto. Contudo, vale salientar, na intensidade e no período de cada sintoma diante de algum conflito mental.

A ansiedade é traçada pela psicanalise pela tentativa do indivíduo de encontrar meios que solucionem seus conflitos, por meio disso, a construção de um manejo de ansiedade na clínica psicanalítica se faz em conjunto terapeuta-paciente para que se possa chegar, juntos, na mediação dos conflitos da melhor forma. A ansiedade muitas vezes leva o indivíduo a extrema angustia, em casos mais severos pode-se desenvolver transtornos generalizados.

                                                                                                                         Fonte: pixabay

Os transtornos ansiosos são uma reação emocional de uma ameaça do futuro.

 

Nesse viés, para conduzir da melhor forma um caso de ansiedade, embasado no livro de manual de técnicas psicanalítica escrito por Zimerman (2008), cabe ao terapeuta, juntamente com seu paciente, identificar quais os fatores estressantes, seja interno ou externo; e qual fator estimulou o desenvolvimento de uma angústia incontrolada que excede a capacidade que o individuo pode enfrentar naquele momento.

Após esse processo de identificação, o próximo trabalho analítico é acompanhado das ressignificações. Re-siginificar os conteúdos alarmantes e ambientais que a psique da pessoa atribui a um determinado trauma, gerando desconforto em certas situações, sem mesmo que possa perceber ou que pareça banal aos olhos do outro.

O analista tem a função, também, de proporcionar ao paciente a capacidade de ab-reagir, ou seja, trazer a memória os sentimentos, que estão permeando por longas datas, reprimidos inconscientemente, que foram despertados por algum fator estressante atual. Assim, essa forma de “libertar-se” por meio da fala, pode possibilitar ao individuo uma nova forma de significado, ou seja, novas representações daquilo que o deixava ansioso.

Na clínica, quando um paciente se encontra em grande estado de neurose de angustia é comum que haja a tentativa de convencimento da parte dele para com o analista, no sentido de que o ajude a esquecer de todos os sentimentos e traumas já vivenciados. Contudo, trabalhar esses aspectos emocionais que um dia causaram sofrimento pode ser uma forma de manejo que irá ajudá-lo, pois como conclui Zimmermann em seu trabalho “a melhor forma de esquecer seja justamente a de se lembrar”.

Ainda, na conduta psicanalítica, entende-se que o indivíduo tem a capacidade de se desenvolver sem a dependência do analista, dessa forma, cabe ao terapeuta em momento de crises do paciente fortalecer a capacidade de autocontinência, assim podendo dominar a sua própria angustia sem mesmo adentrar no estado total de pânico. Nesse viés, é interessante ressaltar a importância do fortalecimento do “eu”, pois em momentos conflituosos a força de ressignificação vem de dentro pra fora e não o contrário.

Por fim, concluímos que o manejo de ansiedade na clínica psicanalítica é uma construção, inicia-se na relação terapeuta-paciente, percorre o caminho do autoconhecimento, até chegar nas identificações e ressignificações. Essa trajetória o possibilita a liberdade do ser e o do o domínio do seu próprio eu. Vale lembrar, também, que a ansiedade não é algo ruim em si, pois a mesma pode servir como preparo a grandes eventos pessoais, contudo, reforça-se a atenção a intensidade aos sintomas presentes.

 

Referências

BAVIEIRA, Lucas. Angústia e ansiedade: leitura psicanalítica sobre as expressões contemporâneas de sofrimento. Dissertação, São Paulo, 2022.

ZIMERMAN, David Epelbaum. Manual de técnicas psicalítica: uma re-visão. Atmed, Porto Alegre, 2008.

 

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Relações humanas contidas no seriado “The Big Bang Theory”

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As relações humanas são o tecido que compõe a complexa tapeçaria da vida social. Elas são a essência da nossa existência, moldando quem somos e como interagimos com o mundo ao nosso redor. Essas interações variam desde os laços familiares mais íntimos até as conexões fugazes que estabelecemos com estranhos em nossa rotina diária. Neste sentido, temos vários tipos de aprendizagens através de nossa cultura e nada mais cultural na atualidade que filmes e séries televisivas. Para esta reflexão, nos centramos no seriado de humor norte americano de grande audiência no Brasil The Big Bang Theory.

The Big Bang Theory é uma sitcom americana que foi ao ar entre 2007 e 2019. Criada por Chuck Lorre e Bill Prady, a série segue um grupo de amigos detentores de altos títulos acadêmicos, mas desajustados socialmente. A trama começa com os dois amigos, Físicos, Leonard Hofstadter e Sheldon Cooper que vivem em um apartamento em Passadena na Flórida. Eles trabalham em uma Universidade, a Caltech e são apaixonados pela cultura nerd. O grupo de amigos é completado por Howard Wolowitz, um engenheiro aeroespacial e Rajesh Hoothrappali, um astrofísico indiano que não consegue falar com mulheres a menos que tenha consumido álcool.

A vida do grupo começa a mudar quando Penny, uma aspirante a atriz que trabalha como garçonete, se muda para o apartamento vizinho de Sheldon e Leonard. Logo Leonard desenvolve uma paixão por ela, o que cria uma dinâmica cômica entre eles devido às suas personalidades opostas. Sheldon, por sua vez, se desagrada pela nova vizinha que de certa forma veio “mudar” a rotina do prédio, uma vez que ele é avesso a mudanças, mas ao longo da história os dois desenvolvem uma bela relação de amizade. Futuramente, se juntam ao grupo mais duas personagens: Bernadette Rostenkowski que se tornará par romântico de Howard e Amy Farrah Fowler que desenvolverá uma relação com Sheldon.

Antes de tocarmos no foco principal deste texto: as relações contidas na série é necessário conhecer um pouco os principais personagens e entender a complexidade que foi atribuída a cada um deles

Sheldon Cooper é um dos personagens principais da série, é uma figura icônica conhecida por suas peculiaridades, inteligência excepcional e falta de habilidades sociais. Sheldon é um gênio em Física teórica, com um QI extremamente alto. Seu conhecimento é vasto e frequentemente desdenha aqueles que ele considera menos inteligentes. O personagem é muito ligado a rotinas e rituais, ele tem uma programação meticulosamente planejada, desde os horários para refeições até os momentos específicos para realizar certas atividades. Qualquer desvio de sua rotina pode causar desconforto e ansiedade para ele. Outra característica marcante é sua dificuldade em compreender e participar de interações sociais. Ele muitas vezes não entende sarcasmo, ironia e nuances nas conversas. Seu estilo de comunicação é muito direto e muitas vezes inapropriado. Sheldon muitas vezes coloca suas próprias necessidades e desejos acima dos outros, exibindo um grau limitado de empatia em relação aos sentimentos dos outros. Embora não seja explicitamente mencionado na série, muitos fãs e especialistas especularam que Sheldon pode ter características do Transtorno do Espectro Autista (TEA) ou do Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC), devido às suas características de personalidade e comportamento.

Leonard Hofstadter é outro personagem principal da série. Ele é um Físico experimental altamente inteligente e o melhor amigo de Sheldon e assim como seu amigo, Leonard é um cientista brilhante, com doutorado em Física experimental, trabalhando como pesquisador em uma a Universidade e lida com experimentos e estudos práticos, em contraste com a abordagem teórica do colega. Diferente de Sheldon, Leonard é mais sociável e tem um comportamento mais empático, ele é conhecido por ser um bom amigo, alguém disposto a ajudar os outros e fazer concessões para manter a harmonia no grupo. Leonard compartilha muitos dos interesses nerds do grupo, como quadrinhos, ficção científica e jogos de vídeo. Ele é um membro ativo dos encontros semanais de quadrinhos e jogos.

Howard é conhecido por suas excentricidades, estilo de vida peculiar e seu trabalho como engenheiro aeroespacial talentoso trabalhando na mesma Universidade que os colegas Leonard e Sheldon, sua especialidade é em sistemas de navegação e é alvo constante de piadas sobre ser Engenheiro e não possuir doutorado. Seu estilo de se vestir de modo considerado chamativo e muitas vezes extravagante combina com sua personalidade extrovertida. Outra característica marcante de Howard é seu flerte constante e suas tentativas de se apresentar como um “homem das senhoras”. Ele frequentemente faz comentários ousados e piadas de teor sexual, o que muitas vezes resulta em situações cômicas, uma vez que, para os atuais padrões de beleza masculina, ele não é considerado um modelo de beleza.

Rajesh Koothrappali, também conhecido como Raj, completa o quarteto de amigos da série. Raj é um astrofísico e trabalha no mesmo departamento da Caltech que seus amigos Leonard, Sheldon e Howard. Ele é conhecido por suas dificuldades em se comunicar com mulheres, especialmente quando está sóbrio, sofrendo de uma forma de mutismo seletivo que o impede de conversar com mulheres, exceto quando está sob a influência de álcool. Isso leva a situações cômicas e momentos constrangedores ao longo da série. Raj é frequentemente retratado como um indivíduo sensível e gentil. Ele valoriza a amizade e se preocupa com os outros, muitas vezes oferecendo apoio emocional a seus amigos em momentos difíceis. Se destacando, também, sua vida religiosa, pois Raj é de origem indiana, e sua cultura e religião são abordadas em vários episódios, isso inclui suas relações com sua família na Índia e como ele navega entre as expectativas culturais e a vida nos Estados Unidos. Assim como os outros personagens, Raj compartilha interesses nerds, como quadrinhos, ficção científica e videogames. Ele também tem um gosto pela moda e pelo luxo, muitas vezes exibindo roupas extravagantes e caras.

Sendo a primeira personagem feminina da série, Penny é uma garçonete aspirante à atriz e se torna vizinha de porta de Leonard e Sheldon. Ela é conhecida por sua personalidade extrovertida, carisma natural e senso de humor. Penny é amigável, acessível e em muitas ocasiões serve como uma figura de equilíbrio entre os personagens mais nerds e introvertidos.  Ela é uma personagem crucial para equilibrar a comédia da série, proporcionando um contraste entre o mundo acadêmico e a vida cotidiana. Sua jornada e interações adicionam camadas de humor e emoção à trama. Penny passa por uma jornada de autodescoberta e amadurecimento ao longo da série enfrentando desafios em sua carreira e vida pessoal, mas também desenvolve uma maior confiança em si mesma e toma decisões significativas em relação ao seu futuro.

Bernadette é introduzida na série como a namorada de Howard, eventualmente se tornando sua esposa. Ela é uma Microbiologista e é conhecida por sua voz aguda e aparência delicada. Bernadette é em muitas ocasiões subestimada devido à sua aparência fofa, mas ela frequentemente revela uma personalidade forte e assertiva. Mesmo sendo conhecida por sua doçura, também tem um lado sarcástico e até mesmo explosivo. Ao longo das temporadas, Bernadette passa por mudanças pessoais e profissionais, avançando em sua carreira, enfrentando desafios no trabalho e conciliando com a vida doméstica e a maternidade.

A última personagem fixa anexada à série, Amy é uma Neurobióloga que se torna amiga próxima do grupo de nerds. Sua profissão a coloca em um campo relacionado ao dos outros personagens e ela frequentemente se envolve em conversas acadêmicas com eles, sendo conhecida por sua personalidade peculiar e às vezes excêntrica. Inicialmente aparece como alguém com dificuldades em entender e expressar emoções, mas ao longo da série, ela se desenvolve emocionalmente e se torna mais conectada com seus sentimentos e com as pessoas ao seu redor. Amy passa por um notável desenvolvimento pessoal, aprendendo a expressar suas emoções e a se tornar mais independente. Ela cresce como cientista, amiga e a pessoa que consegue se manter ao lado de Sheldon mesmo em seus momentos mais difíceis.

                                                                                                                                          Warner Bros Company

 Poster de Divulgação: Warner Bros.

            A série conta ainda, com vários personagens secundários que adicionam momentos dramáticos e humorísticos às histórias individuais. As relações de amizades, amores românticos, conjugalidade, maternidade, trabalho, relações parentais. Tudo isso sendo distribuído entre os próprios dramas pessoais.

            As relações de amizades entre os rapazes que, em alguns momentos percebemos amor, mas também hostilidade e agressividade, piadas que envolvem a relação de trabalho, sexismo, etnia e religião foram bastante exploradas durante a história, de modo geral, sempre, ou quase sempre resolvidas através do desenvolvimento de conversas que acrescentaram seriedade à série.

Sheldon e Leonard, por exemplo, são melhores amigos, dividem o mesmo espaço e precisam se adequar um ao outro, sendo o primeiro uma pessoas com poucas habilidades sociais e rigidez em suas rotinas sendo necessário descrever tudo em “acordos escritos” para que nada fuja ao seus padrões de normalidade o que faz com que Leonard tenha que desenvolver cada vez mais sua tolerância. Tolerância essa que aprendeu desde a infância por ter sido criado por uma mãe exigente e nada carinhosa. Durante a história, percebe-se que a carência afeto e afago materno é permanente sendo “resolvido” em uma das últimas cenas do último episódio da série em que o filho finalmente consegue um abraço afetuoso de sua mãe.

            Em se tratando de relações parentais, observa-se que são diversos tipos de construção de maternidade, a mãe de Leonard sendo fria e distante o que se destoa totalmente da mãe de Howard, que mesmo nunca tendo aparecido em pessoa na história, desenvolve uma relação de codependência com o filho sendo justificado pelo fato de ter sido abandonado pelo pai na infância. Mesmo que sua mãe traga elementos de humor para a história é nítido como ela manipula o filho para que sempre fique junto a ela. Já a mãe de Sheldon é uma cristã praticante e também superprotetora que não aceita o fato do filho ser um cientista e não comungar de suas crenças religiosas. A mãe de Amy é a típica “mãe devoradora” que quer dominar a filha. Os pais de Raj não aceitam muito bem o fato de ele ter saído do país e se envolver com mulheres de outra etnia.

            As relações amorosas também são desenvolvidas no decorrer da história com toques de humor e drama mas que nos ensinam sobretudo que estas relações são construídas com base em tolerância e trocas. Algumas situações nos deixam a impressão que um “lado” sai perdendo, mas analisando o contexto geral vemos que existe sim uma relação de trocas. O relacionamento entre Sheldon e Amy é um exemplo disso.

            Sheldon é uma pessoa de padrões rígidos, tem aversão à mudanças, o contato físico é dispensável e relações sexuais são para ele é algo banal e desnecessário. Já Amy, embora tenha sido construída pelo estereótipo da “inteligente e esquisita” é muito mais pessoal, pensa e deseja sexo. Os dois se juntam em relação inicialmente de amizade e trocas científicas e desenvolvem a relação amorosa através do tempo. Amy faz tudo para agradar Sheldon que raramente retribui como ela gostaria, mas retribui como ele mesmo consegue devido às suas limitações. Após anos juntos ele finalmente se rende ao sexo e ao casamento, sem contudo, deixar de ser quem ele é.

            Leonard e Penny formaram o casal menos provável mas de muito carisma. Ele, cientista e sem traquejo social, ela garçonete e extrovertida. Os dois desenvolveram a relação com idas e vindas durante todo o percurso da série provando para o público que duas pessoas tão diferentes conseguem se dar bem em relacionamento amoroso. Ao contrário da união Amy/Sheldon entre Penny e Leonard é ele quem mais tende a ceder no relacionamento, embora tenham um final previsível com a gravidez de Penny que já havia deixado claro ao longo da história não ser um grande sonho.

            Já o relacionamento de Howard e Bernadette foi marcada pelos problemas habituais da conjugalidade. Inicialmente, pela influência da mãe dele, já que mantinham uma relação disfuncional e não queria que o casal vivesse em outra casa. Após, o fato de ela ganhar bem mais que ele e ainda ter que ser a responsável por toda a manutenção das tarefas domésticas, algo que a sobrecarrega. Mesmo assim, ela sempre demonstra admiração pelo marido e sempre estava ao seu lado quando ele sofria com as piadas dos amigos por ser o único que não tinha doutorado.

            Raj foi o único do grupo a não conseguir uma relação duradoura, mostrando que relacionamento amoroso nem sempre fará parte da vida. Ele é um imigrante com uma extrema timidez e tem muitas dificuldades até mesmo para falar com mulheres até chegar a ponto de concordar com um casamento arranjado por seus pais como é costume em sua cultura, algo que não deu certo e Raj terminou a história sozinho.

            Estas histórias nos mostram que relacionamentos são difíceis e necessitam, além de amor, tolerância e o diálogo constantes. Algo que foi mostrado durante o desenvolvimento de todos os relacionamentos contidos no decorrer da história. Em alguns momentos, podemos não concordar com certas atitudes e pensar que um saia ganhando em decorrência do outro, o que não se constitui como uma verdade, já que em todas as ocasiões de conflitos os personagens conseguem dialogar e resolver as questões que geravam estes conflitos.

            Enfim, relações humanas são de extrema dificuldade e esta série nos mostra, com muito humor e sensibilidade que se relacionar com outras pessoas é complexo e que conflitos e desajustes sempre irão ocorrer, e que manter relacionamentos, de qualquer natureza, há uma necessidade de utilizar uma das maiores armas que o ser humanos possui, a comunicação.

Referências:

ANAZ, S. A. L. CERETA, F. M. Ciência e tecnologia no imaginário de The Big Bang Theory: das imagens arquetípicas à atualização de mitos e estereótipos na “Era do Conhecimento”. Revista FAMECOS Porto Alegre, v. 21, n. 2, p. 647-674, maio-ago. 2014. Disponível em:  https://www.redalyc.org/pdf/4955/495551016013.pdf. Acesso em: 08/09/2023.

FRANCO OLIVEIRA, A. C. TONUS, M. Bazinga! Uma Análise Neotribal Da Sitcom The Big Bang Theory. Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação XVI Congresso de Ciências da Comunicação na Região Sudeste – São Paulo – SP – 12 a 14 de maio de 2011. Disponível em: http://www.intercom.org.br/papers/regionais/sudeste2011/resumos/R24-0340-1.pdf. Acesso em: 08/09/2023.

SOUSA, V. d. A Construção da Identidade Feminina no Texto Digital Transmédia de The Big Bang Theory. ENTRELETRAS, Araguaína/TO, v. 9, n. 2, jul./set. 2018 (ISSN 2179-3948 – online). Disponível me: https://run.unl.pt/bitstream/10362/65045/1/5915_Texto_do_artigo_28741_1_10_20181028.pdf. Acesso em: 08/09/2023.

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As lições de vida de Anne Shirley

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“Grandes palavras são necessárias para expressar grandes ideias”

A série canadense Anne with an E é baseada no livro Anne of Green Gables de L.M. Montgomery e se tornou um grande sucesso por abordar temas atuais em um contexto onde pouco era discutido sobre empatia, direitos humanos, respeito às diferenças e empoderamento feminino. A série é ambientada no século XIX, na década de 1890 e é protagonizada por uma menina órfã chamada Anne Shirley que com sua história e personalidade conquistou o coração de leitores e telespectadores da respectiva série. Neste trabalho serão abordadas três lições de vida que podemos aprender com Anne: a empatia, a quebra de preconceitos e a resiliência.

A história conta que Anne após a morte de seus pais, vai para um orfanato e que já foi adotada por outras famílias, mas que depois é devolvida para o orfanato. Lá ela sofre com o bullying das colegas por ser apaixonada por histórias que envolvem a imaginação e a poesia. Até que um dia ela é adotada por engano por um casal de irmãos idosos chamados Matthew e Marilla Cuthbert. Eles pensavam que estavam adotando um menino.

À primeira vista, Mattew ao conhecer Anne decide levá-la para casa, mas Marilla não a aceita pois queria que fosse um menino, para ajudar na produtividade da fazenda. Anne sofre, pois não quer ser rejeitada novamente e faz de tudo para que seja adotada pelos irmãos.

Osório (1996) ressalta que a família tem um papel muito importante na vida do indivíduo, sendo um modelo de referência que uma pessoa pode ter, além de exercer influência cultural, social, e no desenvolvimento em diferentes aspectos. Ter uma família, além de representar os papéis de pai e mãe, para Anne era uma forma de se sentir amada e acolhida.

Após ser aceita pelos irmãos Cuthbert, ela começa a frequentar a escola e faz uma amiga: Diana Barry e juntas fazem um juramento de amizade eterna. Na escola, Anne sofre preconceitos por ser órfã, ruiva e com sardas. Ela acreditava que essas características a deixavam mais feia que as outras meninas.

A primeira lição que podemos citar é a resiliência. Pois diante do preconceito por ser órfã e da rejeição das colegas, Anne teve que ter forças para prosseguir com seu sonho de frequentar a escola. Com o tempo, Marilla e Anne se tornam muito mais próximas fazendo com que ela se sinta mais segura para voltar a escola e seguir com sua vida.

Segundo Yunes (2001), a resiliência se refere a voltar ao seu estado de saúde mental ou de espírito após doenças, deficiências ou problemas. Também chamada de flexibilidade, pois fala sobre até que ponto um material ou uma pessoa podem suportar impactos e não sofrerem deformações.

Fonte: Imagem Divulgação Netflix

A empatia esteve presente em toda a história de Anne, podemos ver que ela nunca enxergou as outras pessoas como menores que ela ou piores, todos mereciam respeito e para ela, todos poderiam ser ótimos amigos. Com o tempo ela descobriu que as diferenças de gostos e sonhos faziam com que aproximasse ou afastasse as pessoas. Disputas amorosas também aconteceram, pois Ruby, uma garota apaixonada por Gilbert, percebe que ele trata Anne diferente e faz com que inicialmente sejam inimigas. Anne não se deixa abalar por isso e não trata Ruby diferente, pelo contrário ela tenta ser amiga. Anne também pratica a empatia quando ajuda Josie a se livrar do assédio de Billy. Mas sofre, pois foi apontada como culpada por Josie se tornar mal falada na ilha.

Em algumas situações, Anne se deixa levar pela sua revolta pessoal e impulsividade, tomava atitudes que para ela, beneficiaria a todos. Por mais que sua intenção fosse boa, afetou principalmente Josie que se sentiu exposta por um problema que era motivo de vergonha para a reputação dela.

Outro exemplo de empatia é quando ela faz amizade com Cole, um garoto que é homossexual e que se vê sem liberdade pois as pessoas não o aceitavam como ele era. Anne o entende e não o rejeita, e se emociona por saber que Cole encontrou um lugar onde pode viver sendo ele mesmo, após desistir de ir à escola devido ao preconceito das pessoas.

A empatia segundo Koss (2006) apresenta um significado que é “sentir de dentro de si”. Ales Bello (2004,2006) e Manganaro (2002), relatam que empatizar é se colocar no lugar do outro, simpatizar é compreender a vivência do outro como sendo sua. E que do ponto de vista fenomenológico, são reações do ânimo, portanto é um processo psíquico.

A quebra de preconceitos e a luta pelos direitos de liberdade de expressão são mais algumas das lições aprendidas com Anne. Enquanto ela acolheu Cole que lutava para encontrar seu lugar de aceitação, a chegada da professora que queria trabalhar, usar calças e andar de bicicleta, eram motivos de estranhamento para a época. Pois para a maioria das pessoas da época, as mulheres precisavam cuidar da casa, da família e ter aulas de etiqueta. Anne não deixou de sonhar com sua família, mas também não queria ficar refém de uma cultura padrão que em nada ajudava as mulheres.

Anne with an E — dailyawae: We are not here to provoke! We are...
Fonte: Imagem Divulgação Netflix

Anne e a turma da escola também lutaram contra a opressão que sofreram, pois, a educação que estavam tendo na escola, segundo os maiorais da cidade não era adequada. E por isso, a escola foi queimada e a professora foi praticamente expulsa e proibida de dar aulas. A turma conseguiu fazer um protesto para que as aulas voltassem e apresentaram para todos da ilha o que haviam aprendido com a professora. Por fim, conseguiram ter aulas novamente, e voltarem às atividades. Estes exemplos são de lutas que por anos foram necessárias para que nos dias de hoje tenhamos o direito à educação e liberdade de expressão na nossa democracia atual.

As autoras França, Santos e Sousa (2019), apontam que situações de preconceito são corriqueiras na nossa sociedade e que estão presentes em diversas áreas como as mídias sociais, instituições de ensino, nas famílias e nos demais grupos sociais. Dessa forma, o preconceito configura-se como um grande problema da sociedade. Faz-se necessário, cada vez mais, a compreensão e combate deste problema.

O combate se dá pelas estratégias de enfrentamento, como nas escolas onde pode ser trabalhada a superação das situações vividas pelas classes que mais sofrem, como por exemplo, as pessoas pretas, LGBTQIA + e as mulheres. Como também a conscientização de todos, principalmente daqueles que praticam o preconceito. Estas estratégias podem ser ampliadas para os grupos familiares também, onde dentro de casa as pessoas podem discutir e ensinar que somos diferentes e que cada um merece ser compreendido da forma que é, sem precisar ter que explicar o porquê de ser diferente (FRANÇA; SANTOS; SOUSA, 2019).

Ressalto que, a série nos mostra muitos valores que hoje em dia ainda integram nossas lutas, o preconceito sempre existirá na sociedade, e diante da modernidade líquida, que é a fragilidade das relações sociais (Bauman, 1999), a empatia com o outro e a resiliência para enfrentar as dificuldades do dia-a-dia se fazem muito importantes. Anne teve que vencer muitos obstáculos para que conseguisse realizar cada um dos seus sonhos. Sabemos que não são todas as pessoas que têm os mesmos privilégios. Muitos não têm acesso à educação, saúde básica, alimentação, e por isso não conseguem uma chance de realizar o que sonha.

Esta história nos inspira a lutar pelo que acreditamos, tudo o que sentimos e pensamos é importante, não podemos deixar de acreditar que iremos conseguir e que somos capazes de fazer acontecer o que tanto almejamos.

“Não é o que o mundo reserva para você, mas o que você traz para o mundo”

FICHA TÉCNICA

Anne with an E - Série 2017 - AdoroCinema

Título: Anne With An E (Anne com E)

Intérprete: Amybeth McNulty

Ano: 2017-2020

País: Canadá

3 temporadas

Gênero: Romance, Drama, Aventura

Duração dos episódios: 89 min.

REFERÊNCIAS:

Ales  Bello,  A.  (2004). Fenomenologia  e  ciências  humanas:  psicologia,  história  e religião(M. Mahfoud  &  M.  Massimi,  Orgs.  e Trads.). Bauru,  SP:  EDUSC.(Original  publicado  em 2004).

Ales  Bello,  A. (2006). Introdução  à  fenomenologia(J.  T.  Garcia  & M. Mahfoud,  Trads.). Bauru, SP: EDUSC.(Original publicado em 2006).

Bauman, Z. (2001). Modernidade líquida. Brasil: Zahar.

Koss, J. (2006). On the limits of empathy. The Art Bulletin, 88(1), 139-157

OSÓRIO, L. C. Família hoje. Porto Alegre: Artes Médicas, 1996.

Yunes, M. A. M. (2001). A questão triplamente controvertida da resiliência em famílias de baixa renda. Tese de Doutorado Não-Publicada, Programa de Psicologia da Educação, Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.

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