Grace and Frankie: uma ode à meia idade, à amizade e ao recomeço

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“Nós somos como vinho, ficamos melhores com o tempo.” – Frankie

A série Grace e Frankie é uma refrescante comédia que narra a jornada de duas mulheres que se reinventam e desafiam paradigmas aos 70 anos. Após quatro décadas de casamento, suas vidas são viradas do avesso quando descobrem que seus respectivos maridos mantinham um relacionamento amoroso há 20 anos e agora decidiram se casar. Devastadas e sem rumo, Grace e Frankie — personalidades opostas — veem seus caminhos se entrelaçam ao serem forçadas a dividir a casa de praia que pertence a ambas as famílias.

O que começa como uma convivência turbulenta se transforma em uma amizade poderosa. Entre risadas, desentendimentos e descobertas, Grace e Frankie constroem um vínculo que as fortalece, recusando-se a aceitar imposições e limitações sociais. Juntas, exploram novos prazeres, redescobrem seus corpos e unem suas mentes brilhantes e criativas, provando que as mulheres são capazes de tudo — em qualquer fase da vida.  

Grace, sofisticada e controladora, e Frankie, uma artista livre e espirituosa, têm personalidades opostas, o que torna a convivência um desafio repleto de impasses e divergências. No entanto, essa relação também é sua maior força: suas diferenças as complementam e as desafiam, despertando uma na outra, potencialidades até então desconhecidas. A série aborda questões fundamentais como aceitação do corpo, desejo sexual e a importância de viver plenamente e com autenticidade.  

Quebrando barreiras, Grace e Frankie escancararam a invisibilização do desejo feminino em mulheres maduras e questionaram a ideia de que a sexualidade tem prazo de validade. A trama explora temas como masturbação, sexo a dois e a necessidade de produtos específicos para o prazer feminino nessa fase da vida, como lubrificantes e vibradores. Com sensibilidade e humor, a série reforça que intimidade e prazer não são exclusividade da juventude.  

Fonte: https://shre.ink/e4Gb

A dinâmica familiar também ganha destaque, explorando os desafios das relações intergeracionais. O convívio com os filhos revela nuances sobre diferentes tipos de maternidade, expectativas e individualidade. Filhos que amam suas mães, mas precisam lidar com suas próprias inseguranças e medos; mães que desejam ser cuidadas, mas se recusam a renunciar à própria independência. Ao longo da série, acompanhamos a luta de Grace e Frankie para provar que são perfeitamente capazes de cuidar de si mesmas. Com bom humor, teimosia e uma dose de caos, elas desafiam os estereótipos da velhice, mostrando que essa fase da vida pode ser sinônimo de vitalidade, ousadia e autodescoberta.  

Outro ponto central da trama é a relação com os ex-maridos, Robert e Sol. Assumidamente gays, eles precisam lidar com a culpa e a dificuldade de reconstruir laços com as ex-esposas e os filhos. Para Grace e Frankie, o impacto da revelação é devastador, levando-as a questionar suas próprias identidades e os papéis que desempenharam ao longo de seus casamentos. No entanto, ao longo da série, vemos essa dor se transformar: da mágoa e do ressentimento surgem a amizade, o respeito mútuo e novos formatos de relações familiares.  

As histórias românticas também assumem um papel importante. Depois de décadas de casamento, Grace e Frankie se veem solteiras e livres para explorar novos amores. Seus relacionamentos são retratados de forma leve e divertida, com momentos cômicos e situações inusitadas, mas a série também aborda temas como insegurança, medo da rejeição e a necessidade de se sentir desejada e amada, independentemente da idade. A trama desafia os estereótipos sobre amor e sexualidade na terceira idade, mostrando que relacionamentos intensos e significativos podem acontecer após os 70 anos.  

Ainda assim, o grande coração da série é a amizade entre Grace e Frankie. Juntas, elas descobrem que são revolucionárias, aprendendo sobre liberdade, amor e o direito de existir sem que suas identidades sejam anuladas no processo. Grace e Frankie é uma série arrebatadora que nos convida a refletir sobre como a cultura apaga e invisibiliza corpos, tornando essencial que essas vozes sejam ouvidas. Mais do que nunca, a série reforça que idade não define o potencial de uma mulher — e que ter alguém ao lado para segurar sua mão torna essa jornada ainda mais poderosa.  

Ficha técnica
 Título original: Grace and Frankie

Estrelando: Jane Fonda, Lily Tomlin, Martin Sheen

Criação: Marta Kauffman, Howard J. Morris

Ano de Produção: 2015

Gênero: Comédia e drama

País de Origem: Estados Unidos

Lily Tomlin conquistou quatro indicações ao Emmy e uma ao Globo de Ouro por seu papel nesta série de comédia.

 

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Uma Mente Brilhante – quando a loucura inspira a genialidade

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Muitas figuras da história da humanidade que mudaram o curso social com descobertas, invenções, ou mesmo criando arte, possuíam algum tipo de transtorno ou distúrbio mental que foi adquirido ou herdado e desenvolvimento no ambiente que se cercava.

Várias destas personalidades já serviram de conteúdo para criação de obras cinematográficas que narraram suas histórias mostrando um pouco de suas contribuições para a sociedade e características particulares de cada indivíduo.

Alan Turing é um dos recentes exemplos de pessoas que mudaram os rumos da humanidade, mas que em sua vida particular possuía condições que não eram bem vistas (até mesmo consideradas crimes) pela sociedade.

Assim como a homossexualidade de Turing, famosos possuem características peculiares, doenças e transtornos como todo ser humano é passível de sofrer. Isso não foi diferente com o matemático John Nash que além de grande estudioso era esquizofrênico.

Fonte: encurtador.com.br/goFGW

Nash teve sua história de vida narrada no filme Uma Mente Brilhante (2001), dirigido por Ron Howard. O filme narra o início da vida de John (Russell Crowe), com suas descobertas brilhantes que são atrapalhadas pelos seus comportamentos controversos.

Quando ainda não possuía o diagnóstico de sua esquizofrenia, Nash era considerado como insano, muitas vezes até tido como louco, por ser incompreendido, acabara sendo afastado do meio em que atuava. Somente após anos de tratamento é que consegue dar a volta por cima e retornar à sociedade e conquistar o tão sonhado prêmio Nobel.

A esquizofrenia representada no filme é uma expressão fiel do que a maioria dos portadores desta doença têm de conviver constantemente. Os episódios de psicose e alucinações, quando não tratados e medicamentados, são frequentes nos portadores da esquizofrenia, mas, assim como outros indivíduos que são considerados gênios em suas respectivas áreas, tal doença é tida como um fator crucial para sua visão única do mundo, assim como foi com Van Gogh que teve o reconhecimento de sua genialidade post mortem.

O esquizofrênico é um ser normal que possui condições cerebrais distintas de um indivíduo considerado comum, o homem médio, porém, somente será um risco social ou para si quando não diagnosticada ou não houver o respectivo acompanhamento médico.

Título: A Beautiful Mind (Original)

Ano produção: 2001

Dirigido por: Ron Howard

Duração: 134 minutos

Classificação: 12 anos

Gênero: Drama

País de Origem: Estados Unidos da América

REFERÊNCIAS

CAIXETA, C. A. D.; NOGUEIRA, E. M.; SABIÃO, R. M. ANÁLISE DO FILME UMA MENTE BRILHANTE: as perturbações da esquizofrenia. Psicologia e Saúde em debate[S. l.], v. 5, n. Suppl.1, p. 6–6, 2019. Disponível em: http://psicodebate.dpgpsifpm.com.br/index.php/periodico/article/view/483. Acesso em: 14 jun. 2022.

Silva, Regina Cláudia Barbosa da. Esquizofrenia: uma revisão. Psicologia USP [online]. 2006, v. 17, n. 4 [Acessado 14 Junho 2022] , pp. 263-285. Disponível em: <https://doi.org/10.1590/S0103-65642006000400014>. Epub 30 Set 2010. ISSN 1678-5177. https://doi.org/10.1590/S0103-65642006000400014.

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O Lado bom da vida – Vícios, depressão e ‘bipolarismo’

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03O lado bom da vida é um filme que retrata a vida do jovem Pat Solitano Jr. (Bradley Cooper) que é diagnosticado com transtorno bipolar na vida adulta após ter presenciado um episódio de infidelidade com sua companheira Nikki (Brea Bee) e, por isso, acaba sendo preso por agressão.

Pat é uma pessoa extremamente explosiva, que busca encontrar meios de se ressocializar para reconquistar sua esposa que havia pedido medidas protetivas contra ele.

Ronnie (John Ortiz) é um grande amigo de Pat e por isso marcou um jantar em sua casa onde introduziu Pat para sua também amiga Tiffany Maxwell (Jennifer Lawrence), e ambos têm momentos intensos dada as condições emocionais de cada um.

Tiffany havia perdido seu companheiro e, por esta razão, estava em uma situação delicada, entrando em relacionamentos abusivos de homens oportunistas. Pat, por sua vez, vivencia um momento de extrema contenção de seus impulsos, de modo que ele sofre e acaba extravasando em vários momentos com seus amigos e familiares, inclusive, tendo uma briga calorosa com seu pai (vias de fato) por conta de um surto em que acabou machucando sua mãe acidentalmente.

Fonte: encurtador.com.br/dkzZ3

O pai de Pat, o Sr. Pat (Robert De Niro), é um apostador compulsivo e por diversas vezes demonstrou sinais de que seu vício em apostas prejudicou o lar, inclusive com prejuízos astronômicos e sempre culpou seu filho Pat pelos maus resultados que obtinha em suas apostas.

O bipolarismo de Pat Jr. é bem perceptível, vez que este oscila constantemente entre o maníaco e o melancólico. Nos momentos em que o personagem sofre com as cartas de sua companheira até o ápice revelador de um amor oculto que Pat sentia por Tiffany que se mostrou um apoio extremamente importante para o personagem obter a melhora necessária para seguir com sua vida.

A mensagem do filme é de uma superação inigualável de uma pessoa que sofreu desde sua infância com um transtorno desconhecido, além de um que demonstrou um comportamento obsessivo por apostas e que o culpava quando perdia suas riquezas em jogos de futebol.

O final do filme apresenta um novo Pat Jr. que consegue superar o amor por sua ex-companheira e se declara para seu novo amor, que se mostrou mais sintonizado com este que sua antiga parceira jamais fora.

Título: Silver Linings Playbook (Original)

Ano produção: 2012

Dirigido por: David O. Russell

Duração: 122 minutos

Classificação: 12 anos

Gênero: Comédia Romântica – Drama

País de Origem: Estados Unidos da América

REFERÊNCIAS

ALDA, Martin. Transtorno bipolar. Brazilian Journal of Psychiatry [online]. 1999, v. 21, suppl 2 [Acessado 2 Março 2022] , pp. 14-17. Disponível em: <https://doi.org/10.1590/S1516-44461999000600005>. Epub 04 Out 2000. ISSN 1809-452X. https://doi.org/10.1590/S1516-44461999000600005.

ZANIN, Carla Rodrigues e VALERIO, Nelson Iguimar. Intervenção cognitivo-comportamental em transtorno de personalidade dependente: relato de caso.Rev. bras. ter. comportamento. cogno. [on-line]. 2004, vol.6, n.1, pp. 81-92. ISSN 1517-5545.

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Amnésia: uma vida sem futuro

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Todo fã de filmes “cult” já assistiu ou ouviu falar do clássico Amnésia (Memento), lançado em 2001, uma obra cinematográfica dirigida por Christopher Nolan. O filme tem como história central a vida de Leonard Shelby (Guy Pearce), um Investigador de uma Companhia de Seguros que fora vítima de um assalto onde acabou perdendo sua esposa e sofrendo um traumatismo em seu cérebro que acabou lhe causando a chamada amnésia anterógrada, situação que lhe impede de criar novas memórias após o evento traumático.

Apesar da sua condição, Leonard desenvolve um método próprio para recordar dos eventos recentes. Ele faz anotações importantes em seu corpo, além de viver tirando fotografias com anotações para poder se recordar das coisas que sua memória não armazena.

A obra trata a história de forma bastante interessante, onde os momentos são divididos em preto e branco e outros coloridos. Os eventos em preto e branco são imediatamente após o acidente, ou seja, o passado do personagem, já os eventos coloridos começam com o desfecho da história e vão sendo retroagidos até se conectarem com o passado.

Leonard procura o algoz de sua esposa, por essa razão, dada a importância desta missão, ele tatuou em seu corpo todas as principais informações que possuía sobre o caso. Como ele próprio diz, as lembranças não são confiáveis, podem ser modificadas, os fatos são reais e imutáveis. E assim ele vai, dia após dia, buscando o máximo de informações possíveis para garantir a vingança de sua amada esposa.

Fonte: encurtador.com.br/qzH39

A ideia de memorizar as informações se dá por conta de um caso em que Leonard trabalhou como investigador, o caso o Sr. Sammy Jankis (Stephen Tobolowsky), que sofrera um acidente e acabou se tornando incapaz de armazenar qualquer informação por um período não superior a alguns minutos.

A condição mental do Leonard, como é visível no filme, não prejudicou seu discernimento, tampouco suas capacidades de deduções e interpretações das situações que experimenta. Além disso, Leonard desenvolveu uma incrível capacidade de criar novos hábitos, repetindo sempre determinados movimentos para que assim possa se guiar com a sua nova condição física.

A trama do filme, que apesar de antigo, não será tão facilmente entregue, se dá em uma confusão de histórias que o personagem tem com a do caso Sammy, como dito memórias não são confiáveis, os fatos são.

Casos de amnésia anterógrada, apesar de incomuns, ocorrem por todo o globo, pessoas que sequer lembram-se de ter tomado banho ou escovado os dentes, mesmo tendo acabado de fazê-lo. Sammy, a pessoa que Leonard tanto falava, acabou não conseguindo o seguro que deseja da empresa de Lenny. O caso de Sammy é extremamente importante para o desfecho da história.

Fonte: encurtador.com.br/przE6

Leonard toda vez narrava que Sammy sofrera um acidente de carro com sua esposa e por esta razão acabara perdendo a capacidade de armazenar novas memórias, com isto, Lenny sempre dizia que submeteu Sammy a diversos testes e, pois, acreditava que com as repetições de algumas situações, Sammy começaria a mudar suas escolhas e hábitos (este ponto é evidente quando ocorre a eletrificação de objetos que Sammy devia escolher).

No final, Leonard encerra essa história dizendo que negou o pedido de Sammy em razão dos problemas sofridos por estes eram da esfera psicológica e não estaria protegido pelo seguro. O fim da vida de Sammy é de que, uma vez, sua esposa querendo testar realmente sua memória, pediu para que ele aplicasse duas doses de insulina em um único dia, o que acabou levando-a a óbito.

O filme guarda grandes reviravoltas que até hoje são incríveis de se assistir e tentar compreender a complexidade da obra, dado que o fato da amnésia ser o epicentro de tudo, isso acaba ofuscando outras condições que o personagem possa vir a carregar consigo.

O filme apresenta que, apesar de tudo, Leonard só conseguirá se lembrar das coisas que anota, ou seja, mesmo que tivesse sua vendeta, somente saberia se tivesse um registro disso. Esse fato é comprovado em dois momentos cruciais.

Fonte: encurtador.com.br/lAKR5

Em determinado momento, Leonard tem uma discussão pesada com Natalie (Carrie-Anne Moss) que esconde todas as canetas disponíveis na casa e após ofende Leonard de todas as formas possíveis, inclusive sua falecida esposa. Leonard perde o controle e acaba agredindo Natalie e ela sai do recinto por alguns momentos – tempo suficiente para a memória de Leonard ser “resetada”.

Após isto, Natalie entra novamente na casa e cria uma nova história e, dada a condição de Leonard este acaba acreditando em sua palavra.

Um ponto interessante sobre a trama é que Leonard nunca diz há quanto tempo perdera sua esposa, ou apresenta maiores fatos sobre o episódio, somente se agarra um desejo insaciável de vingança que nunca será suprida.

Outro momento em que é perceptível que Leonard não possui a capacidade de armazenar memória é no último ato do filme (que também é o primeiro). Lenny discute calorosamente com Teddy, seu amigo policial que, desde o começo do filme, é apresentado para o público como o principal suspeito da morte de sua esposa.

No momento dessa briga, Leonard havia acabado de matar um traficante de drogas, achando que este era o seu alvo, Jimmy (Larry Holden), porém, quando Teddy lhe conta a dura verdade sobre seu caso e condição e a morte de sua esposa, Leonard não acredita nele e constrói uma nova narrativa pois estava ciente que no momento seguinte não recordaria de mais nada e “poderia” confiar nos fatos que havia registrado.

Por fim, mesmo sem ter conhecimento, Leonard acaba matando Teddy, cena apresentada no primeiro ato, achando ter conseguido alcançar sua vingança. É impressionante a forma que a amnésia anterógrada é abordada, a riqueza de detalhes comportamentais de uma pessoa vítima desta condição é fidedignamente representada.

Os aspectos jurídicos da conduta de Leonard são outro assunto, mas, fica a questão, ao manipular sua própria memória, Leonard apresentou um comportamento narcisista e homicida, sedento de vingança e que nunca estaria realmente satisfeito com a verdade pura e simples como alegava estar.

Ficha Técnica

Título: Memento (Original)

Ano produção: 2001

Dirigido por: Christopher Nolan

Duração: 116 minutos

Classificação: 16 anos

Gênero: Mistério – Filmes Noir – Suspense

País de Origem: Estados Unidos da América

REFERÊNCIAS

OLIVEIRA, Analucy Aury Vieira De. Perfil neuropisológico de uma amostra de voluntários sadios e de idosos e diagnosticados com a doença de alzheimer em Palmas-TO. 2012. Universidade de Brasilia. Disponível em <https://repositorio.unb.br/bitstream/10482/11233/1/2012_AnalucyAuryVieiradeOliveira.pdf> acesso em 25 mar 2022.

OLIVEIRA, Maria Gabriela Menezes; BUENO, Orlando F. A.. Neuropsicologia da memória humana. Psicol. USP,  São Paulo ,  v. 4, n. 1-2, p. 117-138,   1993 .   Disponível em <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1678-51771993000100006&lng=pt&nrm=iso>. acesso em  25  mar.  2022.

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Gênio indomável – a genialidade sufocada pelos traumas

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Gênio Indomável (Good Will Hunting) é uma obra de arte sem precedentes. Lançado em 1997, o filme tem como personagem principal o hoje renomado ator Matt Damon no papel de Will Hunting. Além de Damon, outros nomes de pesos são Ben Affleck (Chuckie Sullivan) e Robin Williams (Sean Maguire).

O filme aborda a vida do humilde Will, um rapaz que leva uma vida simples, fazendo coisas simples, sendo mais um na multidão de todos que vivem na grande Boston.

Will é apresentado quase como um “faz-tudo”, possui empregos distintos e nunca busca chamar a atenção, inclusive como um mecanismo de defesa, dada sua história. Acontece que Will é, por eufemismo da palavra um gênio da matemática. Tudo isso fica nítido quando este estava realizando a limpeza do Instituto de Tecnologia de Massachusetts e resolveu uma questão matemática deixado pelo professor de Pós-graduação, Professor Gerald Lambeau (Stellan Skarsgárd), para que seus alunos resolvessem, mas quem acaba desvendando é o próprio Hunting.

Intrigado, o Professor Gerald começa a observar o jovem rapaz e percebe um comportamento nada adequado a sua genialidade. Will, apesar de brilhante, vivia se metendo em encrencas, brigas e problemas além da conta, por último entrou em uma briga e acabou agredindo um policial e foi determinada sua prisão com fiança estipulada em US$ 50,000.00 (cinquenta mil dólares).

Fonte: encurtador.com.br/kuCP5

Gerald então resolve intervir, buscando reingressar o jovem rapaz em uma nova vida, porém o jovem apresenta diversos gatilhos defensivos resultantes de traumas da sua infância e com isso busca diversas ajudas com terapeutas, mas todos desistem do caso, até que reencontra seu velho amigo Sean, que decide ajudar com o tratamento de Will.

Sean tem diversos embates confrontando Will, que demonstra uma extrema dificuldade em se abrir, de aceitar que as pessoas entrem na sua vida.

Tudo é demonstrado no final do filme quando Will conta que sofria agressões do seu padrasto na infância, dizendo para escolher entre os objetos que seriam utilizados para apanhar. Sean tem um diálogo muito duro com Will, onde é dito repetida vezes que não era culpa do Will tudo que aconteceu com ele na infância, o momento é de grande impacto para Will, sendo o momento de quebrantamento das barreiras do jovem e seu ponto de ignição para uma vida melhor.

O filme reflete a realidade vivenciada por diversas pessoas, especialmente no Brasil, que sofreram com o estresse pós-traumático e situações críticas na infância o que impede assim destas pessoas de alcançarem seu potencial máximo.

Gênio Indomável, como dito é uma obra prima cinematográfica que demonstra uma superação de uma pessoa traumatizada que, mesmo sendo um gênio, tinha um extremo medo de se abrir.

Ficha Técnica

Título: Good Will Hunting

Ano produção: 1997

Dirigido por: Gus Van Sant

Duração: 126 minutos

Classificação: 16 anos

Gênero: Drama

País de Origem: Estados Unidos da América

REFERÊNCIAS

BATISTA, Alícia; FAVORETTO, Bruna; TIEPPO, Lucas. Resenha crítica do filme “gênio indomável”. Disponível em <https://februtieppo.blogspot.com/#:~:text=Como%20visto%2C%20%E2%80%9CG%C3%AAnio%20Indom%C3%A1vel%E2%80%9D%20trabalha%20em%20torno%20do,vazio%2C%20n%C3%A3o%20sabe%20como%20lidar%20com%20seus%20sentimentos.> acesso em 26 mar 2022.

HABIGZANG, Luísa Fernanda et al. Avaliação psicológica em casos de abuso sexual na infância e adolescência. Psicologia: Reflexão e Crítica [online]. 2008, v. 21, n. 2 [Acessado 31 Março 2022] , pp. 338-344. Disponível em: <https://doi.org/10.1590/S0102-79722008000200021>. Epub 01 Out 2008. ISSN 1678-7153. https://doi.org/10.1590/S0102-79722008000200021.

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Beleza Oculta: amor, tempo e morte

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O filme Beleza Oculta do diretor David Frankel, estreou no Brasil no ano de 2017, e sua história traz uma reflexão profunda questões que são fundamentais para a vida humana tais como: vida, amor e tempo.

O filme narra a estória de Howard, personagem de Will Smith, um profissional que exerce função de líder de motivacional para seus funcionários em sua empresa de publicidade. Uma das cenas iniciais do filme, Howard verbaliza a seguinte “ansiamos pelo amor, gostaríamos de ter mais tempo, e tememos a morte”.

Após a cena inicial, o filme mostra Horward em um momento de vida totalmente diferente, demonstrando-se desconectado da realidade que vive, aparentando uma certa desordem, tanto em relação ao profissional quanto pessoal, devido a perda de sua filha (Olívia) com 6 anos em consequência de uma doença rara.

A trama traz também outros personagens além de Howard, os 3 (três) amigos e sócios da agência de publicidade Claire (Kate Winslet), Simon (Michael Peña) e Whit (Edward Norton) que passam por dificuldades financeiras, em consequência da gestão de Howard após a perda da filha. O enredo conta ainda com Madeline (Naomi Harris) a ex-esposa de Howart, todos os personagens possuem uma singularidade com relação as questões do amor, tempo e morte.

Fonte: encurtador.com.br/lnEL3

Certamente amor, tempo e morte são os temas que permeiam o enredo do filme, tais abstrações são destacadas no filme como sendo as que conectam todos os seres humanos. Cabe aqui destacar o tema da morte que enquanto finitude está presente na morte de Olivia, na possibilidade de morte de Simon em decorrência da doença que o acometia, é presente ainda na possibilidade de falência da empresa de Howart, a morte está presente ainda na finitude da carreira da atriz que sonhava estrelar um grande papel e não conseguia mais visualizar esta oportunidade com o passar dos anos de sua vida.

A morte que faz com que Howard e Madelaine fiquem imersos a grande sofrimento em consequência da perda da filha (Olivia), no entanto, cada um deste vivencia o acontecimento de maneira singular, a mãe (Madeline) buscar participar de eventos com outras pessoas que passam por momentos de perdas, e esta consegue falar sobre sua perda, o pai (Howard) por sua vez, encara com o fechamento para o mundo. Diante dessa cena retratada no filme, infere-se que “a disposição intima corresponde, pois, a complexo funcional tão definido quanto a disposição externa” (STEIN, p. 119). Ainda de acordo com o autor citado, da mesma forma que “se nota a falta de uma disposição intima típica nos casos em quem os processos interiores são negligenciados, também uma disposição típica externa faz falta nos que constantemente ignoram o objeto exterior, as realidades dos fatos”.

Fonte: encurtador.com.br/lnEL3

Aos poucos e com a ajuda da ex-esposa Howard consegue falar sobre sua perda, mas segundo ele, ainda é difícil falar sobre o que passou. Assim como é difícil participar de grupos de apoio, pois ele simplesmente não quer verbalizar sua grande perda. É emocionante as falas do personagem. E quanto mais os amigos, a esposa, Amor, Tempo e Morte, se ocupavam e interagiam com ele, Howard pôde deixar seu estado de solidão e apatia para trás. Ele passou a frequentar o grupo terapêutico, interagir novamente com Madeline, expressar seus sentimentos reprimidos por Amor, Tempo e Morte, lidar com as responsabilidades de seu trabalho. E tudo isso permitiu-lhe atravessar os estágios do luto, encontrando uma nova forma de viver mais conectado ao mundo, contemplando a Beleza Oculta.

O filme “beleza oculta”, é uma obra riquíssima em detalhes que pode ser analisada de diversas perspectivas, pois aborda questões da vida humana que são tidas como centrais em diversas ciências, principalmente a filosofia que tem profunda influência nas demais ciências incluindo a psicologia.

Ficha técnica

Data de lançamento: 26 de janeiro de 2017

Duração: 1h 37min

Gênero: Drama

Direção: David Frankel

Roteiro Allan Loeb

Elenco: Will Smith, Edward Norton, Keira Knightley, Michael Peña, Naomie Harris, Jacob Latimore, Kate Winslet, Helen Mirren.

REFERÊNCIAS

BELEZA OCULTA.  Direção de David Frankel. País: Estados Unidos da America: Distribuição: Netflix, 2016. 1 DVD (1h 34min.).

STEIN, M. Jung – O mapa da alma. São Paulo: Cultrix, 2006.

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Hometown Cha-Cha-Cha: sobre trauma, simplicidade, cura e rede de apoio

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Série sul-coreana retrata de uma forma calorosa o recomeçar, as formas das quais uma pessoa lida com seus traumas, e a criação de novos laços.

Você está destinada a encontrar situações inesperadas na sua vida. Mesmo que você use um guarda chuva, você vai acabar encharcada. Só coloque suas mãos pra cima e dê boas vindas à chuva (Hong Du Sik)

Fonte: encurtador.com.br/myA09

Esse texto contém spoilers sobre a série e o final de alguns personagens, então tenha cuidado ao ler caso não goste de spoilers e essa série esteja na sua lista de para assistir.

Hometown Cha-Cha-Cha é uma série sul-coreana que foi lançada em Agosto de 2021, exibida no canal coreano TVN e distribuída internacionalmente pela Netflix. Com uma história contada de forma sensível, acolhedora e divertida, o k-drama foca na adaptação de uma dentista de Seul que se muda para o interior, para abrir uma clínica e um faz-tudo (literalmente) que viveu a sua vida inteira nesse vilarejo.

Yoon Hye Jin (Shin Min-a) é uma mulher adulta, dentista que perdeu a sua mãe quando era jovem. Ela atende em uma clínica popular de Seul, porém ao entrar em conflito com a sua chefe antiética (que fazia procedimentos nos pacientes sem necessidade, e cobrava a mais pelos procedimentos), ela pede demissão e vai parar em Gongjin, um vilarejo à beira do mar. O vilarejo é de certa forma significativo para Hye Jin, já que ela costumava ir lá com os seus pais antes de sua mãe morrer. Ela decide abrir uma clínica lá, como uma forma de ganhar dinheiro e ter independência empregatícia.

Já em Gongjin, Hong Du Sik (Kim Seon-Ho) é literalmente um faz-tudo no vilarejo, e possui licença para praticar quase todas as funções possíveis (desde barista à engenheiro). Extremamente atencioso, principalmente com os idosos, Du Sik trabalha ajudando todos do vilarejo, e tira folga um dia por semana. Du Sik foi abandonado pelos seus pais e criado por seus avós, mas um dia durante a sua infância o avô dele acaba falecendo e Du Sik se culpa pelo resto da vida por ter perdido.

Na análise do comportamento, nossos comportamentos são ditados por regras, contingências e consequências. De acordo com De-Farias (2010) e Skinner (1969/1984), regras são estímulos discriminativos verbais que descrevem ou especificam uma contingência. Contingências são relações do tipo “se… então…”.

Hong Du Sik, ao perder seu avô e ser abandonado pelos seus pais, desenvolve um repertório de contingências que representa um padrão de fuga de emoções e de se ter uma real proximidade com alguém através de qualquer tipo de amor. Se ele amar alguém, então essa pessoa definitivamente irá morrer ou irá abandoná-lo. Essa contingência se intensifica quando, ao já estar emocionalmente envolvido com Hye Jin, sua avó Kim Gam Ri morre dormindo. Du Sik é mais uma vez atingido pelo luto e suas contingências de abandono se intensificam.

Como telespectadores, é claro para nós que estamos de fora o quão distorcida a realidade é através das autorregras e contingências de Du Sik.

Um dos pontos mais calorosos sobre a série se trata dos moradores do vilarejo. Um trio de senhoras idosas (em que uma delas inclui sua avó) que ao mesmo tempo que demonstram sua idade e conhecimento, são como três melhores amigas adolescentes. Um cantor que só fez sucesso com uma música, e sua filha fã de um grupo de k-pop (grupo do qual mais tarde vai gravar um programa de TV no vilarejo). Uma mãe divorciada do seu marido que é prefeito do vilarejo, no qual ambos possuem uma amiga que na verdade é apaixonada pela mãe divorciada, quebrando assim estereótipos de heterossexualidade e nos apresentando de uma forma quase dolorosa a realidade de muitas mulheres lésbicas maduras. O melhor amigo de Du Sik e sua esposa que está grávida do segundo filho, da qual se sente negligenciada pelo marido por estar grávida e não ser tão bonita como antes.

Fonte: encurtador.com.br/bdmvB

A série é a demonstração mais clara de quão importante é uma rede de apoio. Cada personagem apresentado, mesmo que seja apenas por alguns minutos de cada episódio, serve como apoio para o outro ao praticar cuidados e atenciosamente ajudar uns aos outros a superar seus traumas e dificuldades. Du Sik, sendo o ponto em comum em todos eles ou não, tem dificuldade em aceitar apoio da sua rede quando está em sofrimento, mas aos poucos compreende que sozinho não consegue lidar com tudo, da mesma forma que as pessoas que ele ajuda.

“Você pode chorar se quiser. Deve ter sido tão difícil pra você. Você deve ter escondido a dor tão profundamente. Você carregou um fardo tão pesado. Você pode se sentir triste quando estiver comigo. Você pode me mostrar a sua dor. Você pode chorar.” (Yoon Hye Jin)

O drama nos faz refletir nos traumas e nos efeitos deles no presente, da mesma forma em que nos trás o calor ao ver o funcionamento de uma rede de apoio funcional, além de relacionamentos familiares funcionais e disfuncionais que refletem a realidade em uma abordagem não punitiva e não agressiva.

REFERÊNCIAS

Análise comportamental clínica: aspectos teóricos e estudos de caso. Ana Karina C. R. de-Farias & colaboradores. Porto Alegre : Artmed, 2010.

Hometown Cha-Cha-Cha: Série sul-coreana de drama aposta na simplicidade e serendipidade. Disponível em: <http://www.benoliveira.com/2022/01/hometown-cha-cha-cha-serie-coreana-drama-simplicidade-serendipidade.html>. Acesso em 26 de Fev. de 2022.

HOMETOWN CHA-CHA-CHA | ANÁLISE PSICOLÓGICA – YouTube. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=X7Y5M-gwcEc>. Acesso em 26 de Fev. de 2022.

The Best Quotes From The Korean Drama, ‘Hometown Cha-Cha-Cha’. Disponível em: <https://www.cosmo.ph/entertainment/hometown-cha-cha-cha-best-quotes-a4575-20211024>. Acesso em 26 de Fev. de 2022.

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O Ódio que você semeia e o Racismo Estrutural

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“Ter coragem não quer dizer que você não esteja com medo. (…) Quer dizer que você segue em frente apesar de estar com medo”. Esta é uma das frases marcantes mencionadas no decorrer do longa “O ódio que você semeia” do diretor George Tillman Jr, baseado no livro da autora Angie Thomas. O filme retrata sobre os impactos do racismo através da história de Starr (Amandla Stenberg) que vê o seu amigo khalil (Alger Smith) ser assassinado por um policial que supôs que o jovem estava com uma arma, no entanto ele estava apenas com uma escova.

Partindo desse momento crucial do filme, a trama se desenvolve no confronto interno da jovem Star entre se entregar ao sentimento do medo, ou fazer aquilo que é correto. Em uma sociedade permeada pelo racismo estrutural, e por muitas vezes velado, evidenciar um filme como este é de uma grande importância, pois expõem uma realidade que ainda é vivenciada diariamente por diversas pessoas que por sua cor experiencia situações constrangedoras e por vezes humilhante, o que pode interferir diretamente na saúde mental desse grupo específico.

As pessoas alvo do racismo experimentam diariamente vários sintomas físicos e psicológicos causados ​​por estados permanentes de estresse emocional, angústia e ansiedade, bem como características transitórias de distúrbios comportamentais e de pensamento. Por fim, a exposição diária a situações humilhantes e constrangedoras desencadeia um processo caótico com muitos componentes psicológicos e emocionais 1.

Fonte: encurtador.com.br/dvKQY

A violência com que as autoridades policiais operam, repercute de forma direta na interrupção da vida de pessoas negras, pois em sua grande maioria a sua atuação é aliada à brutalidade direcionada em grande parte às pessoas negras pelo simples fato da pele da sua cor.

Segundo estudo da Fundação João Pinheiro em colaboração com o Ministério Público de Minas Gerais (MPMG), pessoas negras são quatro vezes mais propensas do que brancos a sofrer violência policial durante abordagem. Os pesquisadores traçaram o perfil dos envolvidos e determinaram que quase 7 das 10 pessoas abordadas pela polícia que foram mortas ou feridas eram negras. 36% dos mortos ou feridos pela polícia estavam desarmados. Em 65% dos casos, a vítima não atirou contra os policiais, que geralmente estavam mais presentes 2.

Atualmente a forma da abordagem policiais está sendo discutida de forma intensa, em decorrência de diversos casos de atuação violenta voltada às pessoas negras, tais como em casos como o de George Floyd, Breona Taylor e seu namorado, Kenneth Walker, o adolescente Guilherme Silva Guedes entre diversos outros casos ocorridos. Esses acontecimentos trágicos reforçaram os debates sobre o fenômeno do racismo e a discriminação institucional experimentada por uma das minorias que é a população negra.

Desse modo maiores discussões acerca da temática são necessárias, pois deve haver maior conscientização e compreensão de como o racismo funciona, a diversidade de suas manifestações e seu impacto nas pessoas. É importante estudar e reconhecer esse impacto para que as consequências da agressão racial não continuem sendo ignoradas, subestimadas e invisíveis.

Ficha Técnica

Título: O ódio que você semeia,  The Hate U Give (Original)

Ano produção: 2018

Dirigido por:  George Tillman Jr.

Estreia: 6 de dezembro de 2018

Duração: 132 minutos

Gênero:  Drama

Países de Origem: Estados Unidos da América

Referências

1 – FUNDAÇÃO JOÃO PINHEIRO. Violência contra população negra. Minas Gerais: Ministério Público de Minas Gerais (MPMG), 2018.Disponível em: <http://www.fjp.gov.br/index.php/servicos/81-servicos-cei/70-violenciapoluçãonegral-nobrasil>. Acesso em: 20 de fevereiro de 2021.

2 – Damasceno, Marizete Gouveia e Zanello, Valeska M. Loyola Saúde Mental e Racismo Contra Negros: Produção Bibliográfica Brasileira dos Últimos Quinze Anos. Psicologia: Ciência e Profissão [online]. 2018, v. 38, n. 3 [Acessado 20 fevereiro 2022], pp. 450-464. Disponível em: <https://doi.org/10.1590/1982-37030003262017>. ISSN 1982-3703. https://doi.org/10.1590/1982-37030003262017.

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Não olhe para cima: um olhar da Psicologia

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O filme conta a estória de dois astrônomos que descobrem um cometa mortal vindo em direção à terra e partem em um tour midiático e intensivo para alertar a todos do eminente acontecimento, porém quase ninguém de fato se preocupa. A notícia é dada à Presidente do país, atriz Meryl Streep que interpreta o papel da presidente dos EUA, que desconsiderou a gravidade da situação apocalíptica que se aproximava. Por outro lado o Astrônomo Dr. Mind e a Doutoranda Kate Dibiasky tentam desesperadamente alertar autoridades e a população sobre o choque do asteroide e a destruição do planeta. Os cientistas foram na televisão a fim de falarem à população sobre o asteroide descoberto no espaço de em média 9 km de largura, no que culminaria em uma grande catástrofe, situação em que foram pormenorizados e não tiveram atenção necessária, ficando muito desconfortáveis com o descaso e com as brincadeiras nada apropriadas que os repórteres fizeram no ar.

O enredo segue com a Presidente dos EUA não levando em conta a catástrofe que estava por vir e tentando descontruir a notícia criando uma comoção social contra os astrônomos. A saga dos cientistas no filme continua por tentar mostrar a todos que em pouco tempo a humanidade será extinta em decorrência deste cometa que está a caminho da terra. Infelizmente sem sucesso. Enquanto isso a Presidente busca seus próprios interesses políticos, fazendo campanha e jogos políticos, onde mente, esconde e até tenta fazer com que a população acredite que tudo é uma grande mentira dos cientistas, chegando ao ponto dos mesmos serem ridicularizados em memes e outras situações bem correlatas.

Fonte: encurtador.com.br/agBHX

(A partir daqui contém spoilers)

O desfecho ocorre quando finalmente o cometa se aproxima da terra e o Dr.Mind enxerga-o. Situação em que ele para o trânsito, aponta para cima e grita para todos ouvir: “Olhe para cima, olhe para cima…” Mesmo depois de a realidade estar visível aos olhos da humanidade, a presidente inicia uma campanha de negação do óbvio com o grito de guerra: “Não olhe para cima, não olhe para cima”. Exatamente aqui que destaco o nome do filme que já faz alusão à situação contrária ao teor do roteiro, revelando assim o propósito da crítica satírica do enredo cinematográfico.

O elenco de peso encena no filme e traz um assunto muito atual: O negacionismo da ciência! A Presidente e seus assessores de estado trazem em suas posturas a negação da ciência e a tentativa de promoção politica em cima de toda a história. A presidente se revelou ser tão maquiavélica e narcísica que enquanto a terra se aproximava da destruição, ela fez política e autopromoção através de showmícios. Comportamento compatível com traços narcísicos Freudianos. (FREUD, 2011 apud Rubini), no texto “A Psicologia das massas e a análise do eu”, Freud discorre que as antipatias e aversões não disfarçadas em relação a estranhos que estão próximos de nós, aquilo que é diferente no outro e me incomoda, são a expressão de um narcisismo que se sente ameaçado como se a diferença o criticasse. Esse suposto narcisismo é tão rígido e conservador que qualquer desvio trazido pelo outro é visto como uma afronta; é como se dissesse do inconsciente “tudo que é diferente de mim me ameaça”. Para Jung seria uma espécie de autoamor onanístico, a expressão comportamental da atriz.

Fonte: encurtador.com.br/dmpG9

Analisando a sociedade no filme em uma analogia com a modernidade líquida, onde autor Bauman (2001), discorre sobre como as pessoas na pós modernidade que jamais buscam o aprofundamento nos fatos e coisas, apenas tentam lidar com os sintomas de forma bem superficial. De acordo com Bauman (2001). A classificação “líquida” é atribuída em função das seguintes marcas da modernidade: volatilidades, incertezas, inseguranças, liberdade, felicidade e consumismo. Nesta perspectiva, entendemos que a liquidez além do frágil, refere-se à dificuldade em firmar laços profundos e a dificuldade de se identificar.

Tal teoria se aplica ao enredo do filme onde as pessoas brincam, comem, bebem e vivem normalmente como se não houvesse uma eminente e grave ameaça à vida e além do mais negam os fatos científicos! Retrato contemporâneo, onde a liquidez dos relacionamentos políticos é cínico, mentirosos, nada honestos e muito corruptos. Ali no filme, a Presidente esbanja interesse é “em se dar bem”. Se mostrando tão alheia à situação que não deu atenção para à descoberta do cometa asteroide, a ponto de até desconstruir o fato chegando a incitar a população em campanha para literalmente não olhar para cima, só para não enxergarem o óbvio! Situação bem parecida com líderes políticos atuais que por acreditarem em métodos não cientificamente ainda comprovados, desconstroem toda uma narrativa da ciência.

Filme: Não olhe para cima.

Ano de lançamento: 2021

Direção: Adam Mc Kay

Roteiro: Adam Mc Kay e David Sirota

Gênero: Questões sociais, ficção científica, drama e comédia.

Elenco: Leonardo Di Caprio, Jennifer Lawrence, Meryl Streep, Cate Blanchett,  Rob Morgan, Jonah Hill, Mark Rylance, Tyler Perry, Timonthée Chalamet, Ariana Grande, Scott Mescudi, Michael Chiklis, Melanie Lynskey, Himesh Patel, Tomer Siskey, Paul Guifoyle, Robert Joy.

Classificação Etária: Maiores de 16 anos

Indicações ao Oscar 2022: Melhor Filme, Melhor Roteiro, Melhor Trilha Sonora e Melhor Edição.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Bauman, Z. (2001). Modernidade líquida. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed.

JUNG, C. G. Símbolos de transformação. Petrópolis, SP: Vozes, 1989. (Obras completas volume 5).

Psicologia das massas e análise do eu. São Paulo, SP: Companhia das Letras, 2011. (Obras completas volume 15).apud Rubini: Feridas psíquicas, Jung e o Narcisismo, artigo publicado na Revista da Sociedade Brasileira de Psicologia Analítica, 1º sem. 2020 pg. 45

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