Como usuária do SUS já vivenciei várias situações que marcaram a minha vida, e a mais recente delas ocorreu quando precisei ficar de acompanhante de um primo após um coma alcoólico no mês de agosto deste ano.
Cheguei ao Hospital Regional de Miracema- TO por volta das nove horas da noite de um sábado, com um misto de agonia e tensão, pois ainda não sabia o que tinha acontecido com meu primo Sérgio, apenas tinha recebido um telefonema para que pudesse encontrar a equipe do SAMU no hospital e ficasse como acompanhante. Não sabia como proceder diante daquela situação, a minha ansiedade era tanta, que não sabia quais informações perguntar ou onde esperar.
Sem saber se o pessoal do SAMU já havia chegado, resolvi ficar um pouco lá fora pegando um ar para então entrar na recepção, quando me sentir menos agoniante fui até a moça e perguntei se o paciente por nome de Sergio havia chegado naquela unidade, ela super prestativa e muito educada me respondeu que não, e pediu para aguardar na sala de espera que assim que o SAMU chegasse ela me avisaria, assim fiz, fiquei aguardando do lado de fora do hospital onde me dava uma visibilidade de entrada e saída de todos os veículos.
Por volta de 23 horas da noite avistei o carro do SAMU tão apressado quanto os meus batimentos cardíacos ao avistá-lo. Nesse momento comecei a ter todos os sintomas de ansiedade, pois era uma experiência nunca vivenciada antes, mas agora já era tarde para pensar em desistir. O SAMU adentrou as portas do fundo do hospital, e logo a moça da recepção me chamou, entramos e Sergio já estava sendo colocado em cima da maca do hospital pelo motorista é enfermeira do SAMU. Em seguida foi encaminhado para sala de urgência e emergência onde o médico iniciou os primeiros procedimentos como aferir sua pressão arterial, o nível de glicose e seus batimentos cardíacos, logo depois, foi recomendado um soro na veia para hidratar e acelerar a eliminação do álcool do organismo. Após esses procedimentos Sergio foi encaminhado para a sala de observação onde permaneceu durante dois dias.
Já estando na sala de observação, sendo mais ou menos uma da manhã, Sergio acordou muito agitado e gritando muito, rolava de um lado para o outro e eu já não sabia o que fazer, fui até a sala da enfermagem e pedi ajuda, elas de imediato foram lá no leito, conferiram a medicação, ajudaram quando precisei levar ele ao banheiro e me deu algumas dicas do que fazer caso algumas situações hipotéticas ocorressem. Na manhã do dia seguinte, Sergio já estava bem melhor, porém com fortes dores de cabeça, com isso o médico voltou a medicá-lo e o deixou em observação por algumas horas antes de dar alta definitiva.
Sergio já esteve internado no Hospital Geral de Palmas por tentativa de violência autoprovocada, mesmo a família tentando ajudá-lo sempre voltava para a situação precária na qual vivia, e por vezes demonstrava comportamento muito agressivo. A enfermeira ao ter acesso a essas informações chamou Sergio para uma conversa e entendeu que o abuso de substâncias químicas era proveniente de uma atenção e cuidado que ele recebia quando se encontrava em dada situação. A enfermeira apresentou o Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) para que ele pudesse receber um atendimento integralizado e especializado, onde passaria por assistente social, psicólogo, psiquiatra e outros atendimentos caso necessário, depois dessas informações os papeis de alta foram assinados e Sergio foi levado para casa de parentes.
As oito horas da manhã do diante seguinte, uma segunda-feira, estávamos nós no CAPS para tentar conseguir um atendimento, fiquei impressionada com o quanto foi rápido para ele ser atendido, visto que anos atrás tive algumas experiências que demonstraram uma falta de efetividade e tato na prestação dos serviços básicos de saúde.
No primeiro atendimento, Sergio passou pela assistente social e a psicóloga, no entanto existia uma resistência muito grande em conversar com essas profissionais. Ele ainda não estava se sentindo seguro para iniciar um diálogo, então foi marcado para o dia seguinte que ele retornasse no mesmo horário para uma nova tentativa. Chegando em casa fui conversar com Sergio e explicar a importância de ele responder as perguntas feitas pela assistente social e psicóloga, e no dia seguinte teve um resultado muito maior a volta ao CAPS, e logo foi encaminhado para uma consulta com o psiquiatra. Após a referida consulta com ele já estava com seus medicamentos em mãos e com um encaminhamento para um neurologista. Ficou marcado um retorno com o psiquiatra com a data de 90 dias após o início dos medicamentos, e sua consulta com o neurologista está marcada para o mês de dezembro de 2019.
Foi uma experiência agregadora, visto que pude constatar na prática como o SUS tem evoluído em todos os aspectos ao longo dos anos e de fato tem cumprido o que propôs a fazer que é oferecer desde o simples atendimento para avaliação da pressão arterial, por meio da Atenção Primária, até o transplante de órgãos, garantindo acesso integral, universal e gratuito para toda a população do país. Não é à toa que é considerado um dos maiores e mais complexos sistemas de saúde pública do mundo.
CFP atualiza normas para atendimento às pessoas transexuais e travestis
2 de fevereiro de 2018 Sonielson Luciano de Sousa
Notícias
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A Resolução foi publicada em 29 de janeiro de 2018
Com uma ampla fundamentação jurídico/legal e em referência a uma série de acordos nacionais e internacionais e à própria Constituição Federal, o Conselho Federal de Psicologia (CFP) publicou as novas normas referentes ao atendimento psicológico de pessoas transexuais e travestis. Na Resolução no. 1, de 29 de janeiro de 2018, o Conselho determina que as psicólogas e os psicólogos, em sua prática profissional, atuarão segundo os princípios éticos da profissão, contribuindo com o seu conhecimento para uma reflexão voltada à eliminação da transfobia e do preconceito em relação às pessoas transexuais e travestis. A ação reforça o caráter humanista, político e social do profissional de Psicologia.
O CFP ainda destaca, na mesma resolutiva, que as psicólogas e os psicólogos não podem exercer qualquer ação que favoreça a discriminação ou preconceito em relação às pessoas transexuais e travestis bem como, no exercício profissional, ser coniventes ou omissos perante a discriminação de pessoas transexuais e travestis. Com esta ação o Conselho dá uma resposta direta a um grupo de psicólogos que, em 2017, entrou na justiça para ter o direito de trabalhar com reversão sexual, o que popularmente ficou conhecido como cura gay. Neste sentido, fica vedado aos psicólogos exercerem qualquer ação que favoreça a discriminação ou preconceito em relação às pessoas transexuais e travestis. O CFP vai mais adiante e, no artigo 4º. determina que “as psicólogas e os psicólogos, em sua prática profissional, não se utilizarão de instrumentos ou técnicas psicológicas para criar, manter ou reforçar preconceitos, estigmas, estereótipos ou discriminações em relação às pessoas transexuais e travestis”.
A partir da resolução os profissionais de Psicologia estão impedidos de colaborar ou participar de eventos ou serviços que contribuam para o desenvolvimento de culturas institucionais discriminatórias em relação às transexualidades e travestilidades, bem como não poderão participar de pronunciamentos, inclusive nos meios de comunicação e internet, que legitimem ou reforcem o preconceito em relação às pessoas transexuais e travestis.
Para a coordenadora do curso de Psicologia, profa. Dra. Irenides Teixeira, a Resolução 01/18 é um avanço para a profissão. “Com esta ação, o CFP protege a prática profissional de distorções e assegura que a liberdade e a dignidade da pessoa humana sejam invioláveis, o que contribui para a diversidade identitária, algo que as psicólogas e psicólogos devem não apenas respeitar, mas lutar pela manutenção”, destaca Irenides.
Por fim, no artigo 8º. da Resolução, o CFP determina que fica vedado às psicólogas e aos psicólogos, na sua prática profissional, propor, realizar ou colaborar, sob uma perspectiva patologizante, com eventos ou serviços privados, públicos, institucionais, comunitários ou promocionais que visem a terapias de conversão, reversão, readequação ou reorientação de identidade de gênero das pessoas transexuais e travestis. (Com informações do CFP)
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Inaugurado primeiro Centro de Atenção às Pessoas com Autismo do país
28 de junho de 2016 Secretaria de Comunicação Social Governo do Estado da Bahia
Notícias
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Salvador é a primeira cidade brasileira a receber o Centro de Referência Estadual para Pessoas com Transtorno do Espectro Autista (CRE-TEA), inaugurado nesta segunda-feira (28). Localizado no Campo Grande, o espaço vai atender cerca de 200 pacientes por mês e ainda funcionará como um espaço para capacitação de profissionais. A iniciativa do Governo do Estado, por meio da Secretaria da Saúde (Sesab), levará tratamento e atendimento multiprofissional aos portadores de autismo, além de prestar apoio aos familiares dos pacientes atendidos, o que pode servir de modelo para todos os estados brasileiros.
Foto: Manu Dias/GOVBA
Quem quiser ter acesso ao serviço, que é gratuito, estarão abertos à demanda, já a partir desta terça-feira (29), o cadastramento e marcação via telefone (71) 3336-6147, diariamente, das 8h às 12h. Já o atendimento acontece de segunda a sexta-feira, das 8h às 18h. É preciso apresentar certidão de nascimento ou documento de identidade, comprovante de residência, cartão SUS e documento de identidade do responsável. Confira mais no link: https://goo.gl/kzs091
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Psicoterapia Infantil na Abordagem Centrada na Pessoa
Nos últimos anos, tornou-se frequente nas clínicas de psicologia a busca por atendimentos infantis. Nesse sentido, o presente texto discorrerá sobre os principais aspectos da psicoterapia infantil, embasando-se no referencial teórico da fenomenologia existencial, sobretudo na Abordagem Centrada na Pessoa (ACP), tendo como um dos autores principais Carl Rogers.
A abordagem humanista surge nos Estados Unidos, a partir de uma guerra tortuosa, onde as pessoas saíram desoladas, desnorteadas e fragilizadas. Dessa maneira, criou-se uma teoria que evidenciava os sentidos que os seres humanos atribuíam à sua própria vida, entendendo-os como responsáveis pelos seus atos (BEZERRA; BEZERRA, 2012).
Nessa direção, Rogers afirma tal abordagem e enquanto foco terapêutico preza pelo aqui e o agora, isto é, as experiências advindas no momento terapêutico é que ganham destaque. Assim, esta teoria defende o terapeuta como facilitador do processo, quando se torna participante direto na intervenção. Porém, ressalta que em alguns momentos, deve aparecer como observador “distante”, a fim de obter melhor análise acerca do caso (BEZERRA; BEZERRA, 2012).
Concomitante ao Humanismo tem-se o Existencialismo, que de acordo com a autora Natacha Miguel Monteiro (s/d), é também uma corrente filosófica no qual pressupõe o homem dotado de autonomia e liberdade em suas decisões e totalmente responsável pelas consequências destas (MONTEIRO, s/d).
Portanto, na Psicoterapia Infantil, o psicoterapeuta é um facilitador perante a criança, sendo que este deve ajudar a descobrir suas potencialidades por meio de um ambiente acolhedor, tendo o lúdico como material de apoio, pois a linguagem não-verbal do cliente mirim pode oferecer o conteúdo da realidade que o cerca (MONTEIRO, s/d; LIMA; LIMA, 2015).
Imagem extraída do site: http://www.zazzle.com.br/pontos_de_interrogacao_relogio_para_parede-256532000288651226
QUAL É A HORA CERTA DE TRAZER A CRIANÇA À PSICOTERAPIA?
Muitas são as dúvidas dos pais com relação ao momento em que deve procurar a psicoterapia para seus filhos. Em 1980, Violet Oaklander, publicou o livro “Descobrindo Crianças: a abordagem gestáltica com crianças e adolescentes” que descrevia suas experiências decorrentes do processo de psicoterapia infantil. Elucidou que não há motivo para que os pais corram para um terapeuta toda vez que aconteça qualquer conflito ou problema, uma vez que eles “precisam aprender a ser, num certo sentido, ‘terapeutas em casa’ (OAKLANDER, 1980, p. 206). Assim, em muitos casos, as intervenções resumem-se a orientar os pais em algumas sessões, a fim de propor um espaço reflexivo para que eles possam resolver a conflitiva dos filhos (OAKLANDER, 1980).
Virginia Axline é outra autora do universo da psicoterapia infantil, na qual foi parceira de Carl Rogers (1902- 1987), fundador da Abordagem Centrada na Pessoa. Ela adotava o método não diretivo na sua prática em atendimento com crianças. Publicou o livro “Ludoterapia” (1972) que discorria “os princípios que considera indispensáveis para os que se propõem a atender crianças e que dizem respeito muito mais à atitude do terapeuta do que a técnicas ou informações teóricas” (MATTAR, 2010, p. 82).
Seu papel não é passivo e sim de alerta, de sensibilidade e de constante apreciação daquilo que a criança diz ou faz. São necessários uma compreensão e um genuíno interesse pela criança, de modo a encorajá-la a compartilhar seu mundo interior. Mantém uma atitude profissional em seu trabalho e não revela as confidências da criança aos pais, professores ou quem quer que seja que pergunte sobre o que ela fez ou disse durante a sua hora de terapia. Esta hora é da criança, e o que faz ou diz é estritamente confidencial (AXLINE, 1972 apud MATTAR, 2010, p. 82).
Sobre a hora certa de trazer a criança à psicoterapia, Oaklander (1980, p. 206) questiona: “Como pode alguém determinar a “hora certa”, ou saber se o problema vai se resolver por si só?” A autora relata que não é algo fácil avaliar o momento adequado para levar uma criança à psicoterapia. Contudo, adianta que na maioria das vezes a criança começa a dar sinais, buscando chamar a atenção de quem está ao redor. Comumente, as escolas são as primeiras a perceber, mas hesitam em pedir ajuda enquanto a situação não se agrava.
Embasando-se na perspectiva de Axline (1972) acerca das atitudes que o psicoterapeuta deve ter junto à criança, Mattar (2010) sublinha que
a hora da terapia pertence à criança, para ser usada como ela quiser. A criança escolhe usar ou não usar o material, o terapeuta não a encoraja nem faz sugestões. O objetivo, segundo Axline, é levar à autossuficiência, independência e capacidade de autodireção. O terapeuta aceita o silêncio, como qualquer outra expressão. A criança, segundo a autora, resiste aos esforços para mudá-la, e, por vezes, o seu silêncio, ou o fato de não brincar podem ser “testes” para o terapeuta, quando a criança está atenta se ele também deseja modificá-la e se, de fato, ela é livre para agir ali como quiser (MATTAR, 2010, p. 82).
Mattar (2010) explana que Axline possui uma concepção não diretiva, fundamentada nos princípios da Psicologia Humanista, que preconiza a importância de espaço reflexivo que possibilite a atualização dos potenciais de crescimento da criança, bem como a sua capacidade libertação e tendência autorrealizadora, auxiliando o indivíduo a ser o próprio autor da sua vida.
Às vezes, a criança entra na terapia acompanhada de vários documentos (relatórios diagnósticos, procedimentos legais, registros escolares, etc.). E, apesar da leitura desses papéis serem interessante para o conhecimento da história do cliente, é importante ter cautela e não se ater às impressões e julgamentos descritos por outras pessoas. É necessário ter uma conduta apriorística ao iniciar com a criança, considerando as suas particularidades e entendendo-a como um indivíduo multifacetado, capaz de muitas formas de ser. Por exemplo, a criança pode demonstrar uma parte de si para o terapeuta que sinta dificuldade de expressar para os pais e/ou professores (OAKLANDER, 1980).
Oaklander relata que existe uma tendência dos pais em esperar muito até buscar o auxílio psicológico e que, na maioria das vezes, busca ajuda em virtude de uma situação muito difícil, quiçá intolerável, seja para os próprios pais e/ou para a criança. Por exemplo, a morte de um ente querido, maus tratos, acidente, etc.(OAKLANDER, 1980). Todavia, nos dias atuais essa prática de levar o filho ao psicoterapeuta tem sido bem mais recorrente talvez uma das primeiras alternativas, tendo em vista que a lógica de mercado, o capitalismo, o “fenômeno tempo”, os discursos midiáticos, a pressão escolar, etc. são catalisadoras dessa prática.
Imagem extraída do site: http://psicoitaim.com.br/tratamentos/psicoterapia-infantil/
RECURSOS PSICOTERAPÊUTICOS NA ACP
Diferentemente dos adultos que costumam se expressar verbalmente na psicoterapia, as crianças necessitam de recursos mais lúdicos para que consigam transmitir seus reais sentimentos (frustração, medo, tristeza, alegria, etc.). Desse modo, o brincar é considerado o meio mais comum da criança projetar ações que fazem parte do seu ser, logo, acaba tornando-se o instrumento de linguagem e conexão dela com o terapeuta (OAKLANDER, 1980; LIMA; LIMA, 2015).
Oaklander (1980) acrescenta que
o brincar das crianças no consultório do terapeuta é proveitoso para outros propósitos além do processo direto da terapia. Brincar é divertido para a criança e ajuda a promover a afinidade necessária entre o terapeuta e a criança. O medo e resistência iniciais por parte desta muitas vezes é drasticamente reduzido quando ela se defronta com uma sala cheia de brinquedos atraentes (OAKLANDER, 1980, p. 189).
Diante disso, um dos recursos a serem primordialmente pensados é o ambiente. O local onde será realizado o atendimento infantil deve trazer conforto, segurança e liberdade, para tanto, deverá obter espaço, claridade e cuidado com a privacidade (sala acústica). Assim sendo, estes aspectos se mostram relevantes por trazerem à criança condições facilitadoras para que elas expressem quem realmente são no processo terapêutico (BRANCO, 2001).
Nesse ínterim, alguns instrumentos que o terapeuta poderá utilizar no seu local de atendimento lúdico são: papéis (Ex: A4), lápis grafite e colorido, pincéis, jogos, bonecos (as), família de bonecos, carros, testes projetivos, entre outros, os quais, por sinal,deverão abarcar diferentes faixas etárias (BRANCO, 2001; OAKLANDER, 1980).
A título de exemplo, os jogos podem ser preciosas ferramentas para o envolvimento das crianças na terapia, haja vista que suscitam comportamentos referentes às situações diárias, além de servirem como quebra das resistências das crianças e fortalecimento do vínculo/confiança entre a mesma e o terapeuta, e vice-versa. Alguns jogos são tipicamente encontrados em clínicas psicoterápicas infantis, tais como: dama, dominó, jogo da velha, quebra-cabeça, jogo da memória, dentre outros (OAKLANDER, 1980).
Oaklander (1980) destaca que existem muitos instrumentos destinados para este público em situação terapêutica, contudo, eles não podem ser cristalizados e usados para um determinado fim, pois o profissional deve entender que o sujeito é singular e, logo, trará comportamentos peculiares e dignos de uma sessão imprevisível. Portanto, psicoterapia é uma arte e deve-se combinar conhecimento, preparo, experiência, sentido intuitivo e criativo, bem como gostar de criança para trabalhar com elas.
Imagem extraída do site: http://terapiaocupacionaleparalisiacerebral.blogspot.com.br/
INSERÇÃO DE LIVROS DE HISTÓRIAS NA PSICOTERAPIA INFANTIL
Em sua dissertação de mestrado, Taciane Marques Castelo Branco (2001) aborda os livros de histórias infantis como importante recurso na Psicoterapia centrada na criança. Para tanto, faz uma retrospectiva do surgimento dos livros infantis e os principais objetivos destes. Neste tópico, abordar-se-á a utilidade desses livros e seu benefício atrelado aos conceitos da Abordagem Centrada na Pessoa.
Os livros Infantis foram criados com a pretensão, por parte da Literatura, de ajudar as crianças a se desenvolverem e a se prepararem para as questões presentes e vindouras da vida humana. Portanto, unindo as forças, a Psicologia também pode atuar utilizando desses recursos para cumprir seu papel terapêutico de ajudar no emponderamento e surgimento de resiliências do cliente (BRANCO, 2001).
De acordo com Branco (2001), os livros pertencentes na Literatura Infantil Brasileira são
(…) livros que escolhem como problemática temas de sempre, – como a morte; ou temas mais recentes e não menos dolorosos, – como a separação dos casais e o problema dos filhos divididos; o problema dos tóxicos; as injustiças sociais; o racismo; as crianças abandonadas; a marginalização da mulher; etc. (BRANCO, 2001, p. 57).
É interessante notar que ao final das histórias infantis é possível verificar lições de vida que incentivam posicionamento moral frente às questões trazidas pelo conto. Além disso, essas questões trazidas como problemáticas podem ser as demandas presentes do cliente também. Cabe ao psicoterapeuta, a habilidade de observar se realmente este recurso é válido, e isso é possível a partir das correlações que o cliente faz das histórias com a sua própria vida.
Imagem extraída do site: http://revistacrescer.globo.com/Revista/Crescer/0,,EMI26334710536,00.html
DESAFIOS, ENTRAVES E ENCERRAMENTO NA PSICOTERAPIA INFANTIL
Independente do pressuposto teórico e prático seguido pelo psicoterapeuta, muitos são os desafios encontrados por esse profissional em seu fazer clínico, em especial no âmbito infantil. Levando em consideração as especificidades dessa área, Costa e Dias (2005) elucidam que um dos maiores obstáculos presentes na prática da psicoterapia infantil consiste nos entraves e dificuldades em obter o apoio dos pais. Assim, é presente a dificuldade de se estabelecer uma aliança de compromisso e parceria com os responsáveis e os outros membros significativos da rede social do cliente. Segundo os autores, o progresso terapêutico da criança fica, por vezes, estagnado o comprometido por questões particulares dos pais.
Somado a isso, Costa e Dias (2005) enfatizam que, atualmente, há um número relativamente baixo de profissionais que se dediquem a essa área de atuação, bem como ao estudo e pesquisa. Nesse ínterim, ocorre uma dificuldade nas trocas mútuas e nos encaminhamentos entre profissionais que atuam nessa especialidade. Logo, “se existem poucas pessoas trabalhando na prática clínica e, considerando que a teoria é fruto dela, então são também escassas as pesquisas bem como a literatura a respeito da prática infantil nas abordagens estudadas” (COSTA, DIAS, 2005, p. 47).
Quanto ao encerramento da psicoterapia infantil, Oaklander (1980) elucida que, em muitos casos, as crianças não devem permanecer por muito tempo em terapia. Segundo a autora, as crianças não possuem muitas camadas de problemas inacabados ou acumulados como se verifica com os adultos. Assim, notam-se progressos suficientes, entre o terceiro e sexto mês de psicoterapia que permitem o seu encerramento. Acredita-se que toda criança precisa de uma oportunidade para integrar e assimilar com seus próprios mecanismos de maturação e crescimento as mudanças resultantes da psicoterapia.
De acordo com Oaklander (1980), a criança começa a demonstrar indícios para quando chega a hora de encerrar o processo. Desse modo, o comportamento da criança começa a mudar e esse fato é expresso nos relatos dos pais e professores. Outro aspecto sublinhado consiste na possibilidade do cliente se envolver em atividades extras curriculares, como esportes, clubes e a psicoterapia começa a “atrapalhar” o caminho da criança, pois torna-se o tempo em que poderia ser preenchido com outras atividades.
Contudo, a autora destaca que uma melhora no comportamento da criança não pode ser motivo suficiente para encerrar a terapia. Nessa direção, todo o material que é evidenciado durante as sessões deve ser levado em consideração.
Outro aspecto relevante refere-se ao fato de que a criança precisa ser preparada para o encerramento da terapia, pois esta não pode ocorrer de forma abrupta. Embora cada terapeuta ajude o cliente a adquirir o máximo possível de independência e autossustentação, certamente, são estabelecidos vínculos afetivos mútuos, que devem ser bem trabalhados durante o encerramento final.
Oaklander (1980) elucida ainda que, nesses casos, o término da psicoterapia não precisa, necessariamente, apresentar a finalidade explícita do nome. Desse modo, término significa chegar a um lugar de parada, um final neste exato momento e não um adeus definitivo. De acordo com essa autora, algumas crianças precisam ter uma segurança de que poderão retornar ao processo terapêutico caso sintam necessidade (se isto for realmente possível e necessário).
Imagem extraída do site: http://mdemulher.abril.com.br/familia/claudia/devo-levar-meu-filho-ao-terapeuta
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O presente trabalho buscou discorrer acerca do processo psicoterapêutico infantil desde a chegada da criança, a utilização dos recursos facilitadores nos atendimentos, até a forma de finalização da psicoterapia à luz da Abordagem Centrada na Pessoa.
Sobre a forma como a criança chega à terapia, ficou evidente que a maioria das vezes ela não sabe o porquê de um atendimento psicológico e pode ser uma portadora de demandas dos pais e não dela, cabendo ao psicólogo orientar os genitores se esse for o caso.
Concernente aos recursos terapêuticos possíveis, a forma lúdica é considerada a mais apropriada quando se trata de atendimento infantil, uma vez que é por meio do brincar que a criança se comunica e expressa seus sentimentos. Aliado a isso, tem-se a sugestão da leitura de histórias infantis que, dependendo do cliente, pode suscitar identificação da criança com os personagens fictícios e posterior formulação de estratégias para lidar com suas situações conflitantes.
Quanto ao encerramento da psicoterapia, as crianças (maioria delas) não precisam de muito tempo de psicoterapia, afinal não possuem a mesma carga de problemas de um adulto que possui mais tempo de vida. Além disso, tratou-se também a respeito dos entraves dessa área, podendo ser caracterizada pela dificuldade de estabelecer compromisso entre os pais das crianças e o processo terapêutico, bem como a escassez em pesquisas que tratem do assunto.
Sugere-se, portanto, mais pesquisas de técnicas e recursos na psicoterapia infantil, para que dessa forma, seja possível um diálogo entre profissionais e melhoria nos atendimentos.
REFERÊNCIAS
BEZERRA, M. E. S; BEZERRA, E. N. Aspectos humanistas, existenciais e fenomenológicos presentes na abordagem centrada na pessoa.Rev. NUFEN, São Paulo, v. 4, n. 2, p. 21-36, dez. 2012 . Disponível em <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S2175-25912012000200004&lng=pt&nrm=iso>. acesso em: 20 de Abr. 2016.
BRANCO, T. M. C. Histórias infantis na ludoterapia centrada na criança. 2001. 220 f. Dissertação de Mestrado – Instituto de Psicologia e Fonoaudiologia, PUC – Campinas, Campinas. 2001. Disponível em:http://www.gruposerbh.com.br/textos/dissertacoes_mestrado/dissertacao05.pdf. Acesso em: 21 de Abr. 2016.
COSTA, M. I. M.; DIAS, C. M. S. B. A prática da psicoterapia infantil na visão de terapeutas nas seguintes abordagens: psicodrama, Gestalt terapia e centrada na pessoa. Estudos de Psicologia, Campinas, 2005. p. 43-51. Disponível em < http://www.scielo.br/pdf/estpsi/v22n1/v22n1a05.pdf>. Acesso em 21 de abril de 2016.
MATTAR, Cristine Monteiro. Três perspectivas em psicoterapia infantil: existencial, não diretiva e Gestalt-terapia.Contextos Clínic, 2010, vol.3, no. 2, p.76-87. ISSN 1983-3482
MONTEIRO, N. M.O ser terapeuta humanista-existencial e sua postura na psicoterapia infantil. In: Ser e existir: centro de estudo da pessoa, [s.p.], [s.d.]. Disponível em: file:///C:/Users/USF/Downloads/SEMIN%C3%81RIO+O(ser)terapeuta_h-e_e_sua_postura_na_psicoterapia_infantil.pdf. Acesso em 12 Abril. 2016.
OAKLANDER, V. O processo de terapia. In: OAKLANDER, V. Descobrindo crianças. São Paulo: Summus, 1980. p. 205-229.
OAKLANDER, V. Ludoterapia. In: OAKLANDER, V. Descobrindo crianças. São Paulo: Summus, 1980. p.183-204.
ROGERS, C. Alcançar o “insight”. In: Psicoterapia e Consulta Psicológica. Martins Fontes, SP, 1997, P. 175-219.