Avaliação Psicológica no contexto organizacional: aspectos teóricos, práticos e éticos

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O 3º Simpósio de Avalição Psicológica Tocantinense que ocorrerá do dia 25/05/22 trará para debate temas atuais e relevantes para os estudos científicos. Destaca-se a Avaliação Psicológica no Contexto Organizacional: Aspectos Teóricos, Práticos e Éticos, que será ministrado pela Psicológica Fernanda Gomes de Oliveira.

A psicologia organizacional é um ramo dedicado em compreender os comportamentos humanos individuais e coletivos dentro do ambiente de trabalho de empresas ou grupos empresariais.

A função primordial do profissional que realiza as avaliações psicológicas nestes contextos é oportunizar o melhor e mais eficiente ambiente de trabalho, agindo desde a contratação até a melhor capacitação para execução de atividades específicas.

Fonte: https://images.app.goo.gl/GEMgVyyBdXNQUrwg9

A psicologia organizacional, apesar de complementar à psicologia do trabalho, possui algumas peculiaridades que diferem esta da outra, enquanto esta foca na gestão de conflitos e bons relacionamentos, a outra busca aperfeiçoar a equipe para um melhor desempenho das atividades. Ambas possuem uma relação simbiôntica, com visões complementares.

Com a intervenção do psicólogo(a) organizacional, o ambiente corporativo poderá se tornar mais dinâmico, incentivando um engajamento por parte da equipe em melhorar o desempenho da empresa, reduzindo estresses e imbróglios desnecessários e que prejudicam o bem-estar profissional.

REFERÊNCIAS

DIAS, Guilherme. O que é psicologia organizacional, para que serve e quais as áreas de atuação? acesso em 14 mai 2022. Disponível em < https://www.gupy.io/blog/psicologia-organizacional#:~:text=Psicologia%20organizacional%2C%20tamb%C3%A9m%20conhecida%20como,de%20indiv%C3%ADduos%2C%20grupos%20e%20institui%C3%A7%C3%B5es.>.

PIETRANI, Elina Eunice Montechiari; FEIJOO, Ana Maria Lopez Calvo de. A PSICOLOGIA ORGANIZACIONAL EM UMA PERSPECTIVA FENOMENOLÓGICA-HERMENÊUTICA: A PRODUTIVIDADE EM QUESTÃO. Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Psicologia em Estudo [online]. 2020, v. 25 [Acessado 16 Maio 2022], e42516. Disponível em: <https://doi.org/10.4025/psicolestud.v25i0.42516>. Epub 19 Jun 2020. ISSN 1807-0329. https://doi.org/10.4025/psicolestud.v25i0.42516.

 

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A Psicologia sob a Perspectiva do Terceiro Setor na Proteção Infantil

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O livro Manuais da psicologia – vol. 3 – psicologia organizacional aborda alguns aspectos acerca da atuação do psicólogo na ONG de proteção infantil, visto que certamente é um tema de grande relevância nos dias atuais, destacando-se a importância de conhecermos o público alvo da instituição e quais são as pessoas que utilizam os serviços dessa instituição. Sabe-se que as pessoas que utilizam os serviços são crianças no processo de interação e socialização com as demais, isso se deve ao fato do rompimento das práticas de convivência uns com os outros.

Importante salientar que seja no espaço social ou familiar sabe-se que a cada dia que passa, o distanciamento familiar vem tomando cada vez mais esse espaço, devido a vulnerabilidade social em que as famílias se encontram, pela falta de diálogo e por estar sendo cada vez mais deixado de lado a imposição de regras e limites por parte das famílias.

A ONG em linhas gerais conta com um cenário de crianças e são analisados seus contextos familiares, tendo acompanhamento social na realização de visitas e atividades interventivas, assistindo essas crianças de maneira integrativa e humanizada, algo que as faz sentir melhores consigo mesmas e aptas a encarar as adversidades da vida. Netto afirma em seus achados que: o limite parece claro: nenhuma ação profissional (e não só dos assistentes sociais) suprimirá a pobreza e a desigualdade na ordem do capital. Mas seus níveis e padrões podem variar, e esta variação é absolutamente significativa – e sobre ela pode incidir a ação profissional, incidência que porta as possibilidades da intervenção que justifica e legitima o Serviço Social. O conhecimento desses limites e dessas possibilidades fornece a base para ultrapassar o messianismo, que pretende atribuir à profissão poderes redentores, e o fatalismo, que a condena ao burocratismo formalista (2007, p. 166).

Fonte: encurtador.com.br/ixyQ8

As crianças que se apresentam como público alvo nesse cenário se encontram com déficits econômicos, sociais e culturais, exigindo alternativas que venham ajudar essas famílias a mudar em à forma que estão vivendo se distanciando cada vez mais umas das outras, fazer com que percebam as consequências que acarretarão com esse novo modelo de vida que está sendo adotado e que compreendam a necessidade de mudança, para que consigam reverter essa realidade e com isso possam melhorar a qualidade de vida familiar.

Na atuação do psicólogo é preciso compreender que é preciso que a relação entre a demanda e a cobertura do atendimento esteja voltada para se compreender as consequências que a falta desses vínculos pode ocasionar, visto que, é notória nos dias atuais uma grande e preocupante falta de socialização, onde as pessoas estão cada vez mais se distanciando umas das outras, mesmo as que moram na mesma casa.

FICHA TÉCNICA

Título: Psicologia Organizacional – Coleção Manuais da Psicologia para Concursos e Residências (Volume 3)
Autores: Camila Ferreira Oliveira / José Bonifácio do Amparo Sobrinho / Laila Leite Carneiro / Roberta Ferreira Takei

Páginas: 296
Edição:
Ano: 2018
Editora: Sanar

REFERÊNCIAS

IAMAMOTO, Marilda V. Psicologia em tempo de capital fetiche: capital financeiro, trabalho e questão social. 6 ed. São Paulo: Cortez, 2011.

NETTO, José Paulo. Desigualdade, pobreza e Psicologia. Rio de Janeiro: UERJ. Revista em Pauta. 2007. n. 19, p. 134-170.

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Abertura do CAOS 2021 aborda atuação da Psicologia na tragédia de Brumadinho

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Teve início na manhã desta quarta, dia 3, a 6ª edição do CAOS – Congresso Acadêmico de Saberes em Psicologia, com o tema “Psicologia e Atuação Psicossocial em Situações de Emergência”, um tema que gerou muita expectativa ao ser divulgado. O esquenta cultural que começou as 08h45 dessa manhã de quarta-feira teve muita música com Victória Cardoso, e a cerimônia de abertura contou com a participação do Reitor Marcelo Müller, o pastor Heitor Stahnke e a coordenadora do curso de psicologia Dra. Irenides Teixeira.

Fonte: Divulgação CAOS

A palestra que tratou do Impacto na Atenção Psicossocial e Saúde Mental da População de Brumadinho Após a Tragédia, contou com a brilhante apresentação do especialista em saúde mental e Mestre em estudos psicanalíticos Bernardo Dolabella Melo e mediação do Prof. Me. Sonielson Luciano de Sousa, e foi transmitida pelo Youtube no canal do curso de Psicologia do Ceulp/Ulbra.

A tragédia que aconteceu em Brumadinho, no ano de 2019, não foi só um desastre ambiental, mas o maior acidente de trabalho no Brasil e tirou a vida de 264 pessoas e outras continuam desaparecidas. O rompimento da barragem da Vale S.A. teve impacto na economia, no abastecimento de água da região e impactos ambientais gigantescos, principalmente no Rio São Francisco e Paraopeba que mesmo após um ano continuam contaminados, mas o impacto social se sobressai, regiões inteiras tiveram que ser evacuadas e muitas pessoas perderam tudo que tinha, isso impacta diretamente na visão de futuro das pessoas, saúde mental e do senso de comunidade.

O Me. Bernardo Dolabella começou a palestra com uma introdução a história da psicologia dos desastres e emergências, uma área relativamente nova da psicologia que mostra como deve ser a atuação dos profissionais de psicologia nesses casos. Os estudos sobre os eventos de desastre e emergência são aproveitados para que os profissionais e a população estejam cada vez mais precavidos em eventos futuros, como disse o palestrante: “Todo caos gera um aprendizado”.

Fonte: CAOS

Durante a apresentação os participantes do congresso comentavam no chat, fazendo pontuações e questionamentos sobre o assunto. Isso ocorreu durante todo o evento, e o professor se mostrou disponível para esclarecer as dúvidas, que foram muitas já que ele participou pessoalmente do acidente em Brumadinho juntamente com uma equipe de 40 psicólogos voluntários. Segundo o Me. Bernardo Dolabella o principal objetivo dos psicólogos(as) nesses casos é oferecer um espaço para as pessoas depositarem suas dores e incentivar o resgate da autonomia.

O primeiro evento do CAOS resumiu bem o clima do congresso, assuntos muito interessantes, alunos e professores engajados em trabalhar juntos para compartilhar conhecimento, uma grande satisfação com a oportunidade de ter contato com essa área da psicologia que é tão importante atualmente e a empolgação para os demais eventos da semana. Para se inscrever basta entrar no site e seguir a programação.

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Acadêmica de Psicologia é premiada no 13º concurso Marisa Decat Moura

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Diane Karen Lopes é estudante do décimo período do curso de Psicologia do Centro Universitário Luterano de Palmas – CEULP/ULBRA. Ingressou no ano de 2015 e ao longo da sua vida acadêmica tem desenvolvido o seu interesse pela pesquisa, tendo participado do Projeto de Iniciação Científica, da mesma instituição, onde o seu trabalho resultou em 2018 na premiação de primeiro lugar como Jovem Pesquisadora na área de ciências humanas na 18ª Jornada de Iniciação Científica, um evento que incentiva e valoriza a pesquisa no âmbito acadêmico.

Nessa fase final em que o estudante desenvolve o seu trabalho de conclusão de curso-TCC, Diane demonstrou interesse em dar continuidade ao seu viés de pesquisadora e como área de estudo escolheu a psicologia hospitalar, pois considera seguir para um mestrado logo após a sua graduação. Sob a orientação da professora doutora Renata Alves Bandeira realizou o seu trabalho voltado para o “adoecimento psíquico dos profissionais que prestam cuidados intensivos”, mas o objetivo era fazer desse estudo algo muito maior, que pudesse ser aplicado na realidade prática do contexto desses profissionais e publicado para fins de conhecimento e análise.

A estudante pesquisadora viu no XIII Congresso da Sociedade Brasileira de Psicologia Hospitalar (SBPH) ocorrido em 01 a 04 de setembro do corrente ano, a oportunidade de publicar a sua pesquisa, submetendo o seu trabalho ao concurso do 13º prêmio Marisa Decat Moura, sócia-fundadora da SBPH e homenageada do evento, em memória, que qualificava a inovação nos trabalhos científicos nessa área de atuação da psicologia.

Fonte: encurtador.com.br/hyGP8

O trabalho de Diane que inicialmente estava concorrendo à categoria pesquisador júnior do prêmio, que abrangia os acadêmicos ou com formação recente em psicologia, em análise da comissão para a classificação foi elevado à categoria sênior, que seria para psicólogos com maior tempo de formação, em razão da qualidade do estudo apresentado.

Diane Karen Lopes foi premiada em segundo lugar no 13º prêmio Marisa Decat Moura, que significa mais que uma menção honrosa e um valor em dinheiro, mas sim um reconhecimento por todo o empenho dessa estudante pesquisadora, que deu seus primeiros passos na academia, mas que segue em busca de mudanças na sua área de conhecimento que é a psicologia, por meio da pesquisa, de modo a contribuir para avanços e mudanças, no que se refere a prática do profissional psicólogo.

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Maisa Carvalho: os impactos da Pandemia do Covid-19 e a atuação do Consultório na Rua de Palmas-TO

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“É preciso dar visibilidade ao nosso trabalho, porque isso é importante, não só o fazer, mas também é necessário visibilidade” – Maisa Carvalho Moreira

A pandemia do novo Coronavírus gerou impacto em todos os contextos vivenciados pelos brasileiros, inclusive os que estão em situação de rua, alguns órgãos públicos de alguns municípios levantaram medidas para evitar uma possível infecção nas pessoas que permaneceram nas ruas, sem uma forma eficaz de isolamento.

Nesta entrevista para o (En)Cena, a Assistente Social Maisa Carvalho nos traz um conteúdo muito enriquecedor acerca do trabalho com as pessoas em situação de rua e os desafios para atuar nesse contexto na pandemia. Ela é graduada pela Universidade Federal do Tocantins – UFT (2016), especialista em Gestão de Redes de Atenção à Saúde pela Fundação Oswaldo Cruz – FIOCRUZ (2018), especialista em Saúde Mental pelo Centro Universitário Luterano de Palmas e Fundação Escola de Saúde Pública, através do Programa de Residência Multiprofissional em Saúde Mental – ULBRA/FESP (2020), Responsável Técnica do Programa Piloto de Justiça Terapêutica do Tribunal de Justiça do Tocantins, atualmente atua na equipe de saúde Consultório na Rua e é pesquisadora nas temáticas voltadas para Saúde e Direitos Humanos: saúde mental, população em situação de rua e feminização de substâncias psicoativas.

Fonte: Arquivo Pessoal

(En)Cena: Durante a pandemia como está sendo trabalhar com essas pessoas? Houve um isolamento inicial no Brasil inteiro, alguns municípios adotaram algumas estratégias para também evitar essa contaminação na população em situação de rua, como está sendo isso em Palmas?

A equipe faz orientações quanto as formas de prevenção além de articular com a rede quando surgem casos positivos para acompanhamento, além de haver propostas de um local de acolhimento que não sei exatamente como está o andamento.

Atualmente o atendimento continua in loco, com administração de medicação via oral ou intravenosa, avaliações clinicas pelo enfermeiro, atividades de promoção e prevenção em saúde, discussões de casos, articulações, visitas, acompanhamento em consultas, pedido de exames, etc. A mudança, porém é que não conseguimos estar transportando todos os pacientes devido ao risco mesmo, tanto para a gente como para eles. Não deixamos de transportar, no entanto se o paciente tem uma certa autonomia, se tiver passe livre, a gente prioriza encontrar no local do atendimento, mas sempre tem aqueles necessitam de um apoio maior.

Fazemos distribuição de máscaras de tecido seguido de orientações a respeito da transmissão e os serviços que devem buscar.

Basicamente o nosso trabalho em si ele não muda muito, muda nos serviços que são da saúde ou por serviços da rede intersetorial que atendem por agendamento, pois estão trabalhando com o número reduzido de profissionais em decorrência da Covid19, o que automaticamente também os números de pessoas atendidas reduzem. Aí dentro desse contexto a gente se adapta, liga, discute o caso, faz agendamento. Mas, não parou o funcionamento, não teve nenhum momento que esse atendimento parou devido a pandemia.

Fonte: encurtador.com.br/hwQ16

(En)Cena: Uma questão na qual muito tem se falado é sobre as pessoas em situação de rua que são imigrantes, como os venezuelanos; tem se visto muito nos sinais de trânsito da cidade, eles ficam com placas, geralmente levam crianças etc. Como funciona o atendimento a essas pessoas? O que se sabe sobre essas pessoas nesse momento em Palmas?

Os venezuelanos a princípio eram um público bem flutuante, eles iam e vinham. Não só em Palmas, mas no Brasil inteiro teve essa onda de imigração, e várias cidades receberam, vários estados receberam um número muito grande de pessoas da Venezuela. Aqui em Palmas agora tem um grupo fixo que já está morando, possivelmente vão continuar, próximo de 30 pessoas mais ou menos. Elas são assistidas também, pelo Consultório na Rua, pelos serviços de atenção básica, unidade de saúde… de que forma? Vacinação, consultas, disponibilização de insumos de higiene, máscara, álcool, sabonetes, pasta de dente. O acompanhamento depende da demanda, por exemplo, quando realizamos as visitas, a enfermagem observa as demandas de saúde e a partir daí nós articulamos com as unidades de saúde mais próximas. Uma vez, tinha uma criança com um furúnculo e nós levamos o caso para a unidade de saúde para realizarem uma visita com médico e/ou agendar consulta.

Eles estão ficando numa residência com propostas de ir para um outro local ofertado pelo município. Eles estão sendo assistidos pela saúde. Já foi realizado cadastramento de todos eles na unidade de saúde, todos têm cartão SUS. Todos eles têm CPF que foi um apoio do CREAS. Quanto as ações assistências não estou por dentro, mas quanto a saúde, não estão desassistidos.

 Quanto a questão de eles estarem nos semáforos com as crianças, pensa comigo, se você tivesse um filho e tivesse na situação deles, e fosse para a rua pedir algum dinheiro ou qualquer ajuda, sem ter onde deixá-los, o que você faria? Levaria com você né? Embora seja chocante ver essas pessoas com criança na rua, em pontos às vezes até em risco de atropelamento, que é uma realidade, é uma situação complicada. Inclusive, já discutimos isso em equipe sobre possíveis intervenções. A oferta de atendimento em saúde está acontecendo, quando eles precisam de qualquer demanda de saúde a gente pergunta, articula, fazemos o que está ao nosso alcance.

Fonte: encurtador.com.br/ryAVY

(En)Cena: Na equipe que trabalha com o consultório na rua não tem um Psicólogo.  Como é feito se eles precisam de um atendimento psicológico? A equipe já tem um preparo maior para as situações ali na hora e depois é feito encaminhamento? Como funciona?

Atendimento psicológico acontece nos demais serviços da rede, se for um caso mais leve o encaminhamento é para o NASF-AB, caso seja um caso mais complexo articulamos com os CAPS, visto que a equipe não dispõe de psicólogo. Há um acompanhamento mais de perto, quando os residentes passam pelo consultório na rua, pois consegue dar continuidade, visto que geralmente eles passam em torno de 4 à 8 meses, depende de como está a organização do Programa no momento. Mas é um profissional, que somaria muito se tivesse compondo a equipe, é uma categoria, que faz falta no nosso serviço.

(En) Cena: É um trabalho difícil nesse sentido, de articular muito, há um gasto de muita energia e tempo?

É desafiador, além de competência, o profissional precisa ter perfil

 (En) Cena: Poderia nos relatar alguma experiência, ou mais de uma, que tenha gerado um grande impacto em você, durante a atuação nesse campo?

Teve uma situação em que eu abordei um paciente que ele tem formação superior e ele está em situação de rua há muitos anos, e aí a gente o conheceu. Observei que ele tinha a escrita muito boa, conversava bem, muito esclarecido, um discurso muito bem organizado. Daí, conversando com ele em um acolhimento, tentando entender um pouco do histórico dele, perguntei porque que ele não voltava para casa, qual que era o motivo dele não retornar, talvez tentar reestabelecer essa vida que ele tinha. Ele olhou para mim e falou que ele tinha perdido a dignidade, se eu sabia o que que era perder a dignidade. Quando você perde a dignidade é algo que você não consegue acabar como se fosse a fome, “eu estou com fome, comi e voltou” e isso me marcou muito porque eu nunca tinha parado para pensar nisso. Às vezes, tem um problema você olha e você resolve, tipo, se eu estou desempregada eu vou trabalhar, é como se meu problema tivesse resolvido, eu estou doente eu vou cuidar da saúde, vou resolver. Mas quando eu me olho enquanto ser humano e vejo que eu perdi minha dignidade, por isso eu não consigo alçar voos maiores, isso é muito impactante. Esse paciente está em situação de rua por uma questão familiar. Ele não conseguiu se reestabelecer, está na rua e faz uso abusivo de álcool. Mesmo tendo formação, mesmo tendo todo um contexto, poderia estar em uma situação melhor do que está hoje. Mas que por diversos fatores, e segundo ele a da perda da dignidade, não se enxergava mais como um ser humano, isso é uma coisa que me marcou e eu segurei para não chorar, de verdade!

Fonte: encurtador.com.br/jvzN7

(En) Cena: Se você pudesse deixar algum recado, para profissionais e futuros profissionais, ou para a população em si qual seria?

Primeiramente eu convido os estudantes e acadêmicos, quem estiver finalizando para fazer a residência, em saúde mental especificamente, para passar pela gente, pelo Consultório na Rua, porquê é somente esse programa que permite viver essa experiência. A residência me abriu muito a mente, me permitiu me despir de muitos conceitos e muitos pré-conceitos. Quando você lida com outro em sofrimento psíquico, porque o uso de álcool e outras drogas traz também sofrimento psíquico… foi quando eu me tornei uma pessoa melhor de verdade. Não existe uma regra, mas para mim foi uma experiência muito positiva. Então, a primeira coisa é isso, faça uma residência, façam para saúde mental, conheçam os CAPS, conheçam o Consultório na Rua que vocês vão ter experiências ótimas, acredito que vão crescer muito profissionalmente e humanamente também.

Para os profissionais eu diria que a gente tem que ter muita empatia para trabalhar com os públicos vulneráveis. Eu trabalho com os moradores de rua, mas tem vários públicos vulneráveis. Acredito que quando a gente trabalha com eles precisamos nos despir, para entrar no mundo do outro. A saúde é isso, é tentar não medir a vida do outro com a minha régua, essa régua eu utilizo para medir a minha vida, nunca a do outro. Isso é a primeira coisa que a gente tem que pensar e colocar em prática, falar isso me emociona.

É preciso ter força, ter garra, porque não é fácil, o trabalho no SUS é lindo, mas ele é muito desafiador. A gente tem que ter muita força de vontade, precisa ter muita garra pra poder enfrentar e tentar desvendar e superar os desafios e os obstáculos que nos apresentam. Eu procuro sempre fazer isso em todos os locais que eu passo, tentar superar esses obstáculos. Não utilizar deles para estacionar, “não tem como, eu não vou fazer isso porque é muito burocrático”. Vamos superar, vamos tentar dar acesso. Porque se eu burocratizo aqui o meu trabalho, eu vou estar dificultando a vida de alguém, estar dificultando para que essa pessoa tenha uma qualidade de vida, tenha mais saúde, tenha mais acesso. É algo que é simples para a gente mas o pouco que fazemos faz muita diferença na vida do outro que a gente está atendendo ali.

Em relação à população e os serviços é preciso dar visibilidade ao nosso trabalho, porque isso é importante, não só o fazer, mas também é necessária visibilidade. Isso é importante tanto para as articulações em rede, quanto para o conhecimento do público que necessita do nosso trabalho.

REFERÊNCIA

SILVA, Tatiana Dias; NATALINO, Marco Antonio Carvalho; PINHEIRO, Marina Brito. População em situação de rua em tempos de pandemia: um levantamento de medidas municipais emergenciais. 2020.

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Paulo Gustavo e o amor pelo riso

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“Ame na prática, na ação. Amar é ação. Amar é arte” (Paulo Gustavo)

Paulo Gustavo Amaral Monteiro de Barros, 42 anos, foi um ator, comediante, roteirista, produtor e diretor, que invadiu nossas casas com suas diversas expressões de sentimentos e emoções, por meio de seus variados personagens, sendo o mais conhecido, o de Dona Hermínia, um papel que deu destaque ao ator e principalmente ofereceu um diálogo próximo da realidade de quem o assistia.

Iniciou sua carreira no teatro, onde teve a oportunidade de trabalhar em diversas peças, mas o encontro do ator com essa arte foi um verdadeiro presente para todos que o acompanhavam. Seus personagens eram pessoas vivas na vida do seu público, uma identificação surgia e cada vez mais Paulo Gustavo se tornava um vínculo afetivo, um ente querido, uma pessoa íntima, aquele que de alguma forma conhecia um pouquinho do que se passava no cotidiano de cada brasileiro.

Dona Hermínia e seu repertório, lembrando sempre alguém que a gente conhece, com um coração enorme, trazendo lições de respeito e aceitação, algo que refletia a própria vida do comediante. No personagem Valdomiro, o humor esperto, numa linguagem bem brasileira. A Mulher Feia era uma forma de falar ao seu público que a aparência é apenas um detalhe. Aníbal nos trouxe a amizade como algo primoroso e vários outros personagens que partilhavam afeto e naturalidade.

Fonte: encurtador.com.br/lxFNQ

O riso foi o seu combustível e como ele mesmo falava, o riso o preenchia e fazia o enlace entre ele e o seu público. Na sua amorosidade Paulo Gustavo demonstrava a importância de estar nos palcos de teatros pelo Brasil, se alimentando do riso de seu público e principalmente, oferecendo momentos marcados na memória de muitas pessoas.

Costumava trazer para sua arte a figura do seu cotidiano. Nascido e criado em Niterói, ambiente que o ator fazia constantemente uma releitura em seus filmes, mas sempre trazendo a imagem de algo que remetia as suas melhores lembranças e se aproximando ainda mais do seu público, nos permitindo sentir parte do cotidiano daquele que na sua simplicidade,  nos  chamava atenção para a valorização do simples, dos laços, das palavras, mas principalmente das ações, por isso retratou tão bem o seu cotidiano nas telas dos cinemas do Brasil, conquistando recordes de bilheteria, nos preenchendo com seu humor e modificando nossa forma de ver as relações afetivas.

Dona Hermínia invadiu nossas casas e também nossas vidas. Logo que surgia numa tela, mesmo sem falar nada, se expressava de uma forma que a comunicação se estabelecia. Um olhar, um cumprimento, um levantar, um abaixar, qualquer atitude era suficiente para que o diálogo entre dona Hermínia e seu público acontecesse. Em várias de suas entrevistas Paulo Gustavo relatou se sentir mais à vontade quando se apresentava através de seus personagens, por que ali ele conseguia expressar o seu amor pela sua arte e principalmente se alimentar daquilo que verdadeiramente o fazia feliz, o riso vindo do seu público.

Fonte: encurtador.com.br/sDIX0

Apesar do ator ser visivelmente “Hiperativo”, ligado no “220 volts”, tendo na sua trajetória o “Surto” criativo de trazer para a sala de nossas casas o riso, parafraseando os títulos de suas principais peças de teatro, Paulo Gustavo deixa um vazio intenso, uma falta de alguém tão próximo, que intimamente nos conhecia, que adivinhava nossos pensamentos e que o traduzia em palavras para tantas pessoas. O ator falava o que o seu público sentia, por isso a sua passagem por esse plano é tão cheia de amor, algo que ele repetia, declarava e agia.

No dia 04 de maio desse ano, esse ator que tão bravamente lutou pela vida nos deixou, vítima da COVID-19, levando o Brasil aos prantos. A alegria que muitas vezes invadiu nossas casas com seus filmes que nos pregavam sempre uma “peça”, deu lugar a tristeza. Fomos terrivelmente surpreendidos com a notícia de sua morte, algo que parecia ser inacreditável, principalmente por que o riso deu lugar ao choro, por que a presença deu lugar a ausência e agora também à saudade.

O legado de Paulo Gustavo é o amor pela vida, pela arte, pela família, pelas pessoas. Em todo o seu discurso, seja através dos seus personagens, ou mesmo quando estava somente de Paulo Gustavo sempre nos alertava sobre os valores como a caridade, a amizade, o afeto, o respeito, a aceitação, então podemos falar que o recado foi dado, precisa somente ser vivido. Seu talento e carisma estão marcados na história da arte do nosso país, mas principalmente no coração de todos os brasileiros.

Fonte: encurtador.com.br/sIVWZ

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A arte imita a vida?!

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Existem diversos relatos de atrizes e atores que nunca mais foram os mesmos após desempenhar determinados personagens, mostrando que a ficção afeta de várias formas a realidade de quem está ligado ao personagem

Seja no teatro ou no cinema, o desempenho do papel de um personagem é algo que não se encaixa com qualquer pessoa que o queira interpretar, nos levando assim a questionar o que torna uma atriz/ator boa/bom em determinado papel. Com os filmes de herói em alta, as críticas sobre papéis já desempenhados e que poderiam ter tido melhor performance, são um assunto presente no cotidiano de quem acompanha esse universo.

Em muitos casos os papeis desempenhados por essas atrizes e atores – em paralelo aos seus próprios estilos de vida pessoal – são motivos para as pessoas considerarem eles aptos ou não para vivenciarem certos papeis no cinema. Então, a experiência prévia, real ou fictícia pode ser algo que colabore para que um papel seja bem desempenhado.

Freud (1977 a) em sua obra “Personagens psicopáticos no palco” fornece análises de danças, poesia lírica, poesia épica, drama psicológico, comédia, tragédia em suas variações, e colocando que essas produções advém de conflitos dos seres humanos. Dessa forma, pode-se afirmar que os papéis desempenhados contém parte da vida pessoal de quem interpreta, ou seja, a atriz/ator revive uma experiencia anterior quando atua em algo novo.

Fonte: encurtador.com.br/BLNZ3

Existem diversos relatos de atrizes e atores que nunca mais foram os mesmos após desempenhar determinados personagens, mostrando que a ficção afeta de várias formas a realidade de quem está ligado ao personagem ou a obra completa. Winnicott (1975) defende que a fantasia ajuda no desenvolvimento e na construção da própria identidade, e nesse sentido quem atua levará consigo parte do que interpretou ou viveu na obra.

Desta maneira se analisar um personagem, encontrará traços da personalidade de quem o interpretou. Pondé (2015) afirma que a produção artística carrega a marca do subjetivo e é fonte de informação sobre o âmago do autor, e logo apresenta de quem interpreta a mesma. Por mais que se siga um roteiro, quem executa o papel tem certa autonomia para encaixar o que se pede com a personalidade que o papel exige, e é aqui que entra a subjetividade.

Por outro lado podemos nos perguntar o porque gostamos de tal pessoa em determinado papel ou como ficamos impactados com determinada cena. Ao mesmo tempo em que assistimos um filme, memórias que nem imaginávamos ter, cruzam com essas novas informações que Kaufmann (1996) afirma estar no psiquismo dos espectadores.

Fonte: encurtador.com.br/aly19

Parte do sucesso de filmes pode vir de uma ligação que ocorre entre o personagem e o espectador e que Freud (1974) chama de projeção, que é uma atribuição de conteúdo da pessoa para o objeto externo. Isso proporciona uma expansão do imaginário facilitando um encontro entre o drama representado no papel com a vida real. Freud (1977) diz que a arte é uma realidade onde os símbolos são capazes de provocar sentimentos reais. Dessa forma, quando assistimos a um filme, é como se estivéssemos conhecendo uma parte nova de nós mesmos que nos é apresentada.

 

REFERÊNCIAS

FREUD, Sigmund. Personagens psicopáticos no palco. Vol. VII, Rio de Janeiro: Editora Imago, (Escrito em [1905 ou 1906]) (Trabalho original publicado em 1945), 1977 a.

FREUD, Sigmund. Interesse científico da psicanálise. Vol. XIII Rio de Janeiro: Editora Imago. (Trabalho original publicado em 1913), 1977 b.

FREUD, Sigmund. Totem e tabu. In S. Freud. Edição standard brasileira das obras psicológicas completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago. (Originalmente publicado em 1913), 1974.

KAUFMANN, P. Dicionário enciclopédico de psicanálise – o legado de Freud e Lacan. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1996.

PONDÉ, Danit Falbel. Cinema no divã. São Paulo: LeYa, 2015.

WINNICOTT, D.W. O brincar e a realidade. Trad. José Octavio de Aguiar Abreu e Vanede Nobre. Rio de Janeiro: Imago 1975.

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‘Ser psicólogo é desenvolver a empatia’: (En)Cena entrevista Ulisses Franklin

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Ulisses Franklin Carvalho da Cunha é psicoterapeuta clínico. Mestrando no Programa de Pós-graduação em Ciências do Ambiente (UFT – 2018). Graduado em Licenciatura Plena em Geografia (UFT, 2011). Bacharel em Psicologia pelo CEULP/ULBRA (2017). Pós-graduado em Docência do Ensino Superior pela Faculdade Rio Sono e em Gestão Pública e Sociedade pela Universidade Federal do Tocantins – UFT. Atualmente exerce cargo efetivo de Técnico de Nível Superior junto à Universidade Estadual do Tocantins – UNITINS, atuando como psicólogo Educacional no Núcleo de Apoio Psicossocial e Educacional (NAPE).

Fonte: Arquivo pessoal

(En)Cena – Vi que antes de cursar psicologia você já era graduado em Geografia. O que te fez querer adentrar nesse universo tão vasto da psicologia?

Ulisses Franklin – Na realidade fazer Psicologia já era um sonho antigo, todavia, o curso era e ainda é de difícil acesso: nas Universidades públicas costuma ser em regime integral e nas particulares costuma ter um alto custo, então, não era acessível a mim de início; depois que me formei em Geografia e as formas de acesso à Psicologia se ampliaram foi que tive a oportunidade de entrar no curso.

(En)Cena – Como foi a experiência de concluir a faculdade? Você se deparou com uma realidade diferente do que imaginava? Como as enfrentou?

Ulisses Franklin – Como eu já tinha outra formação e conhecia como funcionava o mercado de trabalho não tive dificuldades em enfrentar os obstáculos de recém-formado. Quando concluí o curso já era servidor efetivo de uma universidade na área administrativa, então, quando concluí o curso de Psicologia pedi uma oportunidade para trabalhar como psicólogo e desta forma contribuir com a universidade e permitir que eu ficasse na minha área de formação recente.

(En)Cena –  Para além do CRP, o que te torna psicólogo?

Ulisses Franklin – Essa pergunta é bastante pertinente. Acredito que ser psicólogo é desenvolver a capacidade de enxergar o outro com as lentes da empatia, do não julgamento, da solidariedade e da humanidade; características estas que devem pautar o nosso fazer em qualquer uma das áreas de atuação.

(En)Cena –  Dentro do ramo da psicologia, quais suas áreas de atuação profissional?

Ulisses Franklin – Atualmente estou atuando como psicólogo educacional em uma universidade pública, trabalhando com processo de escuta clínica institucional à comunidade acadêmica (alunos, professores e servidores), bem como elaboração e implantação de projetos e ações de prevenção e cuidado em saúde mental. Também estou atuando como Psicoterapeuta Clínico na iniciativa privada em consultório particular. Também estou me dedicando a um Mestrado Acadêmico, visto que estar na condição de estudante é outra área de atuação que deve sempre fazer parte da nossa rotina enquanto profissionais da Psicologia.

(En)Cena –  Na sua atuação clínica, qual é o seu maior público? E qual a maior demanda?

Ulisses Franklin – Na clínica meu maior público são mulheres adultas jovens (entre 18 e 30 anos, em média) que me procuram com demandas relativas a relacionamentos afetivos conturbados, seja com as figuras paternas ou com seus companheiros.

(En)Cena – Você tem alguma filosofia de trabalho? Se sim, poderia nos falar mais sobre ela?

Ulisses Franklin – Eu diria que minha filosofia de trabalho é dar o melhor de mim sempre, procurar melhorar minhas habilidades de escuta, meus conhecimentos teóricos e práticos acerca do fazer psicológico.

(En)Cena –  Dentre todos os estigmas e preconceitos sociais que o trabalho do psicólogo clínico passa, qual é o principal conselho que você dá para as pessoas que precisam buscar ajuda, mas se sentem resistentes ao processo?

Ulisses Franklin – Infelizmente o senso comum e a maioria das pessoas ainda nos veem como profissionais que tratam da loucura e que só devem ser procurados quando o adoecimento psicológico já se encontra instalado e operando num nível patológico, onde a vida do sujeito se encontra comprometida pelo adoecimento; todavia, sempre que tenho a oportunidade de desconstruir essa visão limitada eu a faço: Buscar ajuda não é sinal de fraqueza ou incapacidade, pelo contrário, buscar ajuda é sinal de força e coragem! Problemas e sofrimento faz parte da vida de todos nós, a Psicologia é a ciência e profissão que busca encontrar métodos e estratégias para amenizar a dor, para ressignificar situações dolorosas, para fazer brotar dentro de cada um seu potencial de superação e de resiliência.

(En)Cena – Como profissional você sente que os pacientes/clientes chegam com um conceito diferente da profissão?

Ulisses Franklin – Às vezes eles depositam em nós todas as suas esperanças e acreditam que vamos dar respostas prontas e pontuais para os problemas que os trazem até nós, e às vezes se decepcionam quando descobrem que não é bem assim! O que fazemos é ajuda-los a descobrir essas respostas, o trabalho de psicoterapia é totalmente conjunto e colaborativo!

(En)Cena – Como Palmas ainda é nova, a importância do papel do psicólogo está começando a ser compreendida no momento atual. Quais as dificuldades você encontra diante de tal desafio?

Ulisses Franklin – Penso que os principais obstáculos que ainda temos a enfrentar está relacionado à ampliação do fazer da Psicologia para além do modelo clínico e curativo e também na ampliação dos campos de atuação do psicólogo, por exemplo, nas escolas da educação básica, onde ainda há alguns entraves à nossa atuação;

(En)Cena – Quais são os principais fundamentos teóricos que embasam sua maneira de atuar? Costuma-se usar técnicas estrangeiras? Qual a sua visão relacionada à construção de técnicas científicas nacionais?

Ulisses Franklin – Tive contato com os diversos teóricos e fundamentos epistemológicos que embasam a Psicologia ao longo da graduação; Posso dizer que conheço um pouco de cada uma das principais abordagens e dos principais autores desta Ciência; Embora esteja atuando na clínica dentro do referencial cognitivista, não me encerro somente nesta perspectiva, abrindo mão às vezes de técnicas e autores de outras perspectivas também, claro que sempre dentro da ética da profissão, do cuidado com o outro, enfim, antes de ser terapeuta de abordagem X ou Y, somos psicólogos e isso por si só já nos traz uma grande responsabilidade e seriedade. Com relação a técnicas estrangerias, como estou me aprofundando na TCC – Terapia Cognitiva Comportamental, que é de origem norte americana, acabo tendo contato com estudos e pesquisas vindo de lá, mas é claro que é preciso ter bom senso para fazer as devidas considerações observando que somos de contexto bem diferente. Considero que seja de vital importância o aprofundamento de pesquisas e estudos de base nacional para a consolidação da Psicologia aqui no Brasil.

(En)Cena – Quais as suas expectativas em relação ao futuro da profissão de psicologia?

Ulisses Franklin – As melhores possíveis, com certeza! Sonho com o dia em que nossa profissão será amplamente reconhecida e legitimada em todos os lugares e campos de atuação.

(En)Cena – Você tem atuação clínica, desenvolve projetos ou faz intervenções em grupos em prol de uma minoria, como comunidade LGBT, mulheres negras? Você tem um posicionamento militante quanto a isso? Faz parceria com grupos estaduais ou nacionais em defesa desses?

Ulisses Franklin – Atualmente devido à sobrecarga de trabalhos e atividades que desempenho não tenho estado envolvido com as demandas dos segmentos minoritários, como os que você cita na pergunta, mas é claro que sempre que tenho a oportunidade me coloco à disposição destes para falar em prol deles, em prol desta luta por direitos e reconhecimento, que é super válida, necessária e que deve ser uma luta de todos nós. Meu posicionamento acerca destas temáticas é sempre a do respeito às individualidades e do reconhecimento da diversidade humana.

(En)Cena – Para você, qual a importância do engajamento político da classe, principalmente dxs psicólogxs com atuação clínica?

Ulisses Franklin – Penso que todo ato de reconhecimento ou de luta por direitos é um ato político, em si. Não diria que somente os profissionais com atuação clínica devessem engajar-se em questões políticas, pelo contrário, pensar na construção e implantação de políticas públicas e de direitos da pessoa humana é dever de todos da categoria, independente da área de atuação.

(En)Cena – Qual a sua opinião sobre o sindicato dos psicólogos que foi recém-criado, em relação a importância desse órgão para a classe?

Ulisses Franklin – Penso que é uma iniciativa válida e necessária, todavia, considero que é importante ainda consolidar primeiramente a atuação do nosso Conselho Regional, tornando-nos mais participativos e presentes junto ao nosso órgão representante.

(En)Cena – Para finalizar, você poderia deixar um conselho para os futuros profissionais que pretendem atuar na área clínica?

Ulisses Franklin – A área clínica, embora ainda seja nosso carro-chefe, é a área onde mais se demora para consolidar na carreira e no mercado de trabalho, devido aos estigmas, às dificuldades iniciais e aos custos, todavia, acredito que essas dificuldades podem ser enfrentadas e vencidas, se tiveres um trabalho pautado na ética, no compromisso com a profissão, na seriedade e no respeito à figura humana. Ademais, sugiro estudar sempre, ampliar seus horizontes de atuação, seus conhecimentos e sua visão de homem e de mundo, para assim possuir maiores recursos e argumentos para se legitimar no mercado e ser reconhecido pelo que faz em prol da categoria e da profissão. Obrigado pela oportunidade!

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