‘Ser psicólogo é desenvolver a empatia’: (En)Cena entrevista Ulisses Franklin

Ulisses Franklin Carvalho da Cunha é psicoterapeuta clínico. Mestrando no Programa de Pós-graduação em Ciências do Ambiente (UFT – 2018). Graduado em Licenciatura Plena em Geografia (UFT, 2011). Bacharel em Psicologia pelo CEULP/ULBRA (2017). Pós-graduado em Docência do Ensino Superior pela Faculdade Rio Sono e em Gestão Pública e Sociedade pela Universidade Federal do Tocantins – UFT. Atualmente exerce cargo efetivo de Técnico de Nível Superior junto à Universidade Estadual do Tocantins – UNITINS, atuando como psicólogo Educacional no Núcleo de Apoio Psicossocial e Educacional (NAPE).

Fonte: Arquivo pessoal

(En)Cena – Vi que antes de cursar psicologia você já era graduado em Geografia. O que te fez querer adentrar nesse universo tão vasto da psicologia?

Ulisses Franklin – Na realidade fazer Psicologia já era um sonho antigo, todavia, o curso era e ainda é de difícil acesso: nas Universidades públicas costuma ser em regime integral e nas particulares costuma ter um alto custo, então, não era acessível a mim de início; depois que me formei em Geografia e as formas de acesso à Psicologia se ampliaram foi que tive a oportunidade de entrar no curso.

(En)Cena – Como foi a experiência de concluir a faculdade? Você se deparou com uma realidade diferente do que imaginava? Como as enfrentou?

Ulisses Franklin – Como eu já tinha outra formação e conhecia como funcionava o mercado de trabalho não tive dificuldades em enfrentar os obstáculos de recém-formado. Quando concluí o curso já era servidor efetivo de uma universidade na área administrativa, então, quando concluí o curso de Psicologia pedi uma oportunidade para trabalhar como psicólogo e desta forma contribuir com a universidade e permitir que eu ficasse na minha área de formação recente.

(En)Cena –  Para além do CRP, o que te torna psicólogo?

Ulisses Franklin – Essa pergunta é bastante pertinente. Acredito que ser psicólogo é desenvolver a capacidade de enxergar o outro com as lentes da empatia, do não julgamento, da solidariedade e da humanidade; características estas que devem pautar o nosso fazer em qualquer uma das áreas de atuação.

(En)Cena –  Dentro do ramo da psicologia, quais suas áreas de atuação profissional?

Ulisses Franklin – Atualmente estou atuando como psicólogo educacional em uma universidade pública, trabalhando com processo de escuta clínica institucional à comunidade acadêmica (alunos, professores e servidores), bem como elaboração e implantação de projetos e ações de prevenção e cuidado em saúde mental. Também estou atuando como Psicoterapeuta Clínico na iniciativa privada em consultório particular. Também estou me dedicando a um Mestrado Acadêmico, visto que estar na condição de estudante é outra área de atuação que deve sempre fazer parte da nossa rotina enquanto profissionais da Psicologia.

(En)Cena –  Na sua atuação clínica, qual é o seu maior público? E qual a maior demanda?

Ulisses Franklin – Na clínica meu maior público são mulheres adultas jovens (entre 18 e 30 anos, em média) que me procuram com demandas relativas a relacionamentos afetivos conturbados, seja com as figuras paternas ou com seus companheiros.

(En)Cena – Você tem alguma filosofia de trabalho? Se sim, poderia nos falar mais sobre ela?

Ulisses Franklin – Eu diria que minha filosofia de trabalho é dar o melhor de mim sempre, procurar melhorar minhas habilidades de escuta, meus conhecimentos teóricos e práticos acerca do fazer psicológico.

(En)Cena –  Dentre todos os estigmas e preconceitos sociais que o trabalho do psicólogo clínico passa, qual é o principal conselho que você dá para as pessoas que precisam buscar ajuda, mas se sentem resistentes ao processo?

Ulisses Franklin – Infelizmente o senso comum e a maioria das pessoas ainda nos veem como profissionais que tratam da loucura e que só devem ser procurados quando o adoecimento psicológico já se encontra instalado e operando num nível patológico, onde a vida do sujeito se encontra comprometida pelo adoecimento; todavia, sempre que tenho a oportunidade de desconstruir essa visão limitada eu a faço: Buscar ajuda não é sinal de fraqueza ou incapacidade, pelo contrário, buscar ajuda é sinal de força e coragem! Problemas e sofrimento faz parte da vida de todos nós, a Psicologia é a ciência e profissão que busca encontrar métodos e estratégias para amenizar a dor, para ressignificar situações dolorosas, para fazer brotar dentro de cada um seu potencial de superação e de resiliência.

(En)Cena – Como profissional você sente que os pacientes/clientes chegam com um conceito diferente da profissão?

Ulisses Franklin – Às vezes eles depositam em nós todas as suas esperanças e acreditam que vamos dar respostas prontas e pontuais para os problemas que os trazem até nós, e às vezes se decepcionam quando descobrem que não é bem assim! O que fazemos é ajuda-los a descobrir essas respostas, o trabalho de psicoterapia é totalmente conjunto e colaborativo!

(En)Cena – Como Palmas ainda é nova, a importância do papel do psicólogo está começando a ser compreendida no momento atual. Quais as dificuldades você encontra diante de tal desafio?

Ulisses Franklin – Penso que os principais obstáculos que ainda temos a enfrentar está relacionado à ampliação do fazer da Psicologia para além do modelo clínico e curativo e também na ampliação dos campos de atuação do psicólogo, por exemplo, nas escolas da educação básica, onde ainda há alguns entraves à nossa atuação;

(En)Cena – Quais são os principais fundamentos teóricos que embasam sua maneira de atuar? Costuma-se usar técnicas estrangeiras? Qual a sua visão relacionada à construção de técnicas científicas nacionais?

Ulisses Franklin – Tive contato com os diversos teóricos e fundamentos epistemológicos que embasam a Psicologia ao longo da graduação; Posso dizer que conheço um pouco de cada uma das principais abordagens e dos principais autores desta Ciência; Embora esteja atuando na clínica dentro do referencial cognitivista, não me encerro somente nesta perspectiva, abrindo mão às vezes de técnicas e autores de outras perspectivas também, claro que sempre dentro da ética da profissão, do cuidado com o outro, enfim, antes de ser terapeuta de abordagem X ou Y, somos psicólogos e isso por si só já nos traz uma grande responsabilidade e seriedade. Com relação a técnicas estrangerias, como estou me aprofundando na TCC – Terapia Cognitiva Comportamental, que é de origem norte americana, acabo tendo contato com estudos e pesquisas vindo de lá, mas é claro que é preciso ter bom senso para fazer as devidas considerações observando que somos de contexto bem diferente. Considero que seja de vital importância o aprofundamento de pesquisas e estudos de base nacional para a consolidação da Psicologia aqui no Brasil.

(En)Cena – Quais as suas expectativas em relação ao futuro da profissão de psicologia?

Ulisses Franklin – As melhores possíveis, com certeza! Sonho com o dia em que nossa profissão será amplamente reconhecida e legitimada em todos os lugares e campos de atuação.

(En)Cena – Você tem atuação clínica, desenvolve projetos ou faz intervenções em grupos em prol de uma minoria, como comunidade LGBT, mulheres negras? Você tem um posicionamento militante quanto a isso? Faz parceria com grupos estaduais ou nacionais em defesa desses?

Ulisses Franklin – Atualmente devido à sobrecarga de trabalhos e atividades que desempenho não tenho estado envolvido com as demandas dos segmentos minoritários, como os que você cita na pergunta, mas é claro que sempre que tenho a oportunidade me coloco à disposição destes para falar em prol deles, em prol desta luta por direitos e reconhecimento, que é super válida, necessária e que deve ser uma luta de todos nós. Meu posicionamento acerca destas temáticas é sempre a do respeito às individualidades e do reconhecimento da diversidade humana.

(En)Cena – Para você, qual a importância do engajamento político da classe, principalmente dxs psicólogxs com atuação clínica?

Ulisses Franklin – Penso que todo ato de reconhecimento ou de luta por direitos é um ato político, em si. Não diria que somente os profissionais com atuação clínica devessem engajar-se em questões políticas, pelo contrário, pensar na construção e implantação de políticas públicas e de direitos da pessoa humana é dever de todos da categoria, independente da área de atuação.

(En)Cena – Qual a sua opinião sobre o sindicato dos psicólogos que foi recém-criado, em relação a importância desse órgão para a classe?

Ulisses Franklin – Penso que é uma iniciativa válida e necessária, todavia, considero que é importante ainda consolidar primeiramente a atuação do nosso Conselho Regional, tornando-nos mais participativos e presentes junto ao nosso órgão representante.

(En)Cena – Para finalizar, você poderia deixar um conselho para os futuros profissionais que pretendem atuar na área clínica?

Ulisses Franklin – A área clínica, embora ainda seja nosso carro-chefe, é a área onde mais se demora para consolidar na carreira e no mercado de trabalho, devido aos estigmas, às dificuldades iniciais e aos custos, todavia, acredito que essas dificuldades podem ser enfrentadas e vencidas, se tiveres um trabalho pautado na ética, no compromisso com a profissão, na seriedade e no respeito à figura humana. Ademais, sugiro estudar sempre, ampliar seus horizontes de atuação, seus conhecimentos e sua visão de homem e de mundo, para assim possuir maiores recursos e argumentos para se legitimar no mercado e ser reconhecido pelo que faz em prol da categoria e da profissão. Obrigado pela oportunidade!