A terapia ABA na intervenção precoce de crianças com autismo: um caminho promissor

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Como a Análise do Comportamento Aplicada pode ser um divisor de águas para a vida de crianças com autismo.

Nos últimos anos, a Terapia de Análise do Comportamento Aplicada (ABA) tem se consolidado como uma abordagem eficaz na intervenção precoce para crianças com autismo. Com a crescente evidência científica que apoia sua eficácia, essa metodologia proporciona esperança e desenvolvimento para muitas famílias, mostrando-se um recurso essencial no apoio a essas crianças e seus cuidadores.

Um estudo de Sella e Ribeiro (2021), publicado na revista Psicologia: Teoria e Prática, destaca que intervenções precoces baseadas em ABA resultam em avanços significativos nas habilidades sociais e de comunicação em crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA). Os autores ressaltam a importância da personalização das estratégias de ensino, afirmando que a adaptação às necessidades individuais de cada criança é fundamental para maximizar os resultados positivos. Essa abordagem individualizada permite que as terapias sejam mais eficazes, atendendo às particularidades de cada criança e promovendo um desenvolvimento mais harmonioso.

Além disso, outra pesquisa conduzida por Gomes e Silveira (2022), publicada na Revista Brasileira de Terapia Comportamental, aponta que a intervenção intensa e individualizada é crucial para o sucesso das terapias. O estudo revelou que crianças que participaram de programas ABA intensivos apresentaram melhorias substanciais em sua interação social e na redução de comportamentos desafiadores. Os resultados indicam que quanto mais cedo as intervenções são iniciadas, melhores são as chances de desenvolvimento de habilidades essenciais, como a comunicação e a interação com os pares.

Os benefícios da terapia ABA não se limitam apenas ao desenvolvimento comportamental. Duarte et al. (2023), em um artigo na Revista de Educação Especial, revelam que as intervenções em ABA também contribuem para o aumento da autoestima e independência das crianças. Os autores enfatizam que o envolvimento familiar é um componente essencial que potencializa o sucesso das terapias, criando um ambiente de aprendizado positivo e encorajador. Quando os pais e familiares estão engajados no processo terapêutico, as crianças se sentem mais apoiadas e motivadas a praticar as habilidades que estão aprendendo, resultando em um progresso mais notável.

 

                                                                                                                                                                                   Fonte: www.freepik.com

Além do papel da família, a formação e capacitação dos profissionais que atuam na terapia ABA também têm se mostrado fundamentais. Gaiato et al. (2021) discutem, em sua pesquisa na Revista Brasileira de Terapias Comportamentais, a importância da formação continuada para terapeutas. Os autores argumentam que a capacitação contínua permite que os profissionais se mantenham atualizados com as melhores práticas e técnicas baseadas em evidências, proporcionando um atendimento mais eficaz e inclusivo. Quando os terapeutas estão bem preparados, eles são capazes de criar ambientes de aprendizado estimulantes, adaptando suas abordagens para atender à diversidade das necessidades das crianças com TEA.

A pesquisa de Perez et al. (2022), publicada na Revista Brasileira de Educação Especial, também evidencia que a implementação de programas de ABA em ambientes escolares pode gerar impactos significativos. Os autores observam que, ao integrar estratégias de ABA nas salas de aula, os professores conseguem melhorar a inclusão e a participação das crianças com autismo, promovendo um clima escolar mais positivo. Essa integração não só beneficia as crianças com TEA, mas também melhora a dinâmica da turma como um todo, promovendo a empatia e a compreensão entre os colegas.

Em resumo, a terapia ABA se revela um recurso poderoso e transformador para crianças com autismo. Com intervenções baseadas em evidências e um enfoque centrado na criança, essas abordagens não apenas promovem o desenvolvimento de habilidades essenciais, mas também proporcionam uma mudança significativa na vida das famílias. A esperança é que, à medida que continuamos a avançar nesse campo, mais crianças possam aproveitar o potencial pleno de suas capacidades, vivendo vidas mais plenas e satisfatórias.

A importância da abordagem comportamental na intervenção ao autismo

Recentemente, a Associação Brasileira de Ciências do Comportamento (ABPMC) se manifestou contra críticas infundadas direcionadas às terapias comportamentais, especialmente à Análise do Comportamento Aplicada (ABA). Essas críticas muitas vezes se baseiam em desinformações e generalizações inadequadas sobre a eficácia e a abordagem da ABA, que tem se destacado na intervenção precoce para crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA).

A eficácia da terapia ABA é respaldada por diversas pesquisas. Por exemplo, um estudo de Sella e Ribeiro (2021) revela que intervenções precoces baseadas em ABA promovem avanços significativos nas habilidades sociais e de comunicação de crianças com TEA. A personalização das estratégias é fundamental para maximizar os resultados, pois cada criança tem necessidades únicas que devem ser atendidas para garantir um desenvolvimento harmonioso.

Além disso, a pesquisa de Gomes e Silveira (2022) destaca que intervenções intensivas e individualizadas são cruciais para o sucesso terapêutico. Os resultados mostraram que crianças que participaram de programas ABA intensivos melhoraram significativamente sua interação social e reduziram comportamentos desafiadores. Isso indica que intervenções precoces podem aumentar consideravelmente as chances de desenvolvimento de habilidades essenciais.

Os benefícios da ABA vão além do comportamento. Duarte et al. (2023) ressaltam que essas intervenções também ajudam a aumentar a autoestima e a independência das crianças. O envolvimento da família é um componente essencial, pois quando os familiares estão engajados no processo, as crianças se sentem mais apoiadas e motivadas, resultando em progresso notável.

A formação contínua dos profissionais que atuam na terapia ABA é outro aspecto crucial. Gaiato et al. (2021) enfatizam a importância da capacitação para que terapeutas permaneçam atualizados com as melhores práticas. Profissionais bem treinados são capazes de criar ambientes de aprendizado que atendem à diversidade das necessidades das crianças.

A implementação de programas ABA em ambientes escolares também gera impactos significativos, conforme apontado por Perez et al. (2022). A integração de estratégias ABA nas salas de aula melhora a inclusão e a participação de crianças com autismo, promovendo um clima escolar mais positivo. Essa abordagem não só beneficia as crianças com TEA, mas também melhora a dinâmica da turma, fomentando empatia e compreensão entre os colegas.

Em resumo, a terapia ABA é um recurso transformador para crianças com autismo. Com intervenções baseadas em evidências e foco nas necessidades individuais, essas abordagens não apenas promovem o desenvolvimento de habilidades essenciais, mas também proporcionam mudanças significativas nas vidas das famílias. O futuro é promissor, e com a dedicação e suporte adequados, mais crianças poderão atingir seu pleno potencial.

Conclusão

A jornada da terapia ABA é uma história de sucesso e esperança. Ao promover a personalização das intervenções, o envolvimento da família e a capacitação profissional, estamos construindo um futuro mais promissor para crianças com autismo. É essencial continuar a disseminar o conhecimento sobre essa abordagem, para que cada criança tenha a oportunidade de brilhar em sua própria singularidade. O futuro é animador, e com a dedicação e o suporte adequados, as possibilidades são infinitas.

Referências

DUARTE, C. P.; BOTELHO, D.; LUCEUMO. Intervenções precoces em ABA: Impactos no desenvolvimento de crianças com TEA. Revista de Educação Especial, v. 36, n. 2, p. 123-135, 2023.

GAIATO, M.; GOMES, C. G. S.; SILVEIRA, A. D. Formação continuada de terapeutas ABA: Um pilar para o sucesso das intervenções. Revista Brasileira de Terapias Comportamentais, v. 29, n. 1, p. 45-58, 2021.

GOMES, C. G. S.; SILVEIRA, A. D. A eficácia da ABA na intervenção precoce: um estudo de casos. Revista Brasileira de Terapia Comportamental, v. 30, n. 1, p. 89-102, 2022.

PEREZ, C.; SANTOS, M.; DUARTE, R. A inclusão escolar de crianças com TEA: A contribuição da ABA. Revista Brasileira de Educação Especial, v. 34, n. 1, p. 67-80, 2022.

SELLA, A. C.; RIBEIRO, D. M. ABA e a promoção de habilidades sociais em crianças com TEA. Psicologia: Teoria e Prática, v. 24, n. 1, p. 50-62, 2021.

DUARTE, C. P.; BOTELHO, D.; LUCEUMO. Intervenções precoces em ABA: Impactos no desenvolvimento de crianças com TEA. Revista de Educação Especial, v. 36, n. 2, p. 123-135, 2023.

GAIATO, M.; GOMES, C. G. S.; SILVEIRA, A. D. Formação continuada de terapeutas ABA: Um pilar para o sucesso das intervenções. Revista Brasileira de Terapias Comportamentais, v. 29, n. 1, p. 45-58, 2021.

GOMES, C. G. S.; SILVEIRA, A. D. A eficácia da ABA na intervenção precoce: um estudo de casos. Revista Brasileira de Terapia Comportamental, v. 30, n. 1, p. 89-102, 2022.

PEREZ, C.; SANTOS, M.; DUARTE, R. A inclusão escolar de crianças com TEA: A contribuição da ABA. Revista Brasileira de Educação Especial, v. 34, n. 1, p. 67-80, 2022.

SELLA, A. C.; RIBEIRO, D. M. ABA e a promoção de habilidades sociais em crianças com TEA. Psicologia: Teoria e Prática, v. 24, n. 1, p. 50-62, 2021.

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Intervenção com mães de filhos autistas na Associação Anjo Azul

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Venho através deste relatar um pouco das experiências que vivi nos encontros semanais com algumas mães de filhos autistas, na Associação Anjo Azul, situada em Palmas. Esses encontros ocorreram nos meses de março e abril de 2024, sob a supervisão do professor Sonielson Luciano de Sousa, discente da disciplina Intervenção em Grupos.  Atuando como organizadores dessa ação, formamos uma equipe acadêmica composta por Cícera Pereira Dos Santos Cavalcante, Luiz Gustavo Oliveira Vilardo, Nívia Fernandes Kruger, Vanusa Vera Coelho De Sousa, Victória Ribeiro Garcia de Aragão e eu, Leydiane Bezerra de Sousa Silva. Nosso objetivo foi fomentar um espaço de escuta e acolhimento para essas mães. 

Falar sobre o autismo nos últimos anos tem sido desafiador para mim. Uma mistura de sensações aflora toda vez que eu ou alguém à minha volta toca nesse tema. Interesso-me pelo assunto e busco conhecer cada vez mais sobre as nuances e peculiaridades dessa condição comportamental humana. Mas ao mesmo tempo, evito falar sobre, não por vergonha, mas por receio de passar a imagem de uma mãe que busca validação para o comportamento “diferente” do meu filho mais novo. 

Sim, tenho um filho autista, de 08 anos, o qual me lembra todos os dias que preciso ser mais paciente com ele, comigo mesma e com os demais à minha volta. Ele forjou de muitas maneiras, o meu caráter e do pai dele. Hoje, somos pais mais tolerantes, do que éramos há 18 anos, quando tivemos nosso primeiro filho. Tem sido uma caminhada difícil, mas cheia de aprendizado. Nosso filho caçula nos ensina muitas coisas, dentre elas, a celebrar pequenas conquistas, como sua recente estreia com direito a gol numa partida de futebol de uma escolinha da cidade, visto que antes ele não socializava com as outras crianças, apesar de ele amar futebol. Sua primeira apresentação semana passada, na escola bíblica, onde ele usou o microfone pela primeira vez, mesmo diante da incredulidade das professoras e coleguinhas. Ele nos leva a perceber que uma garrafa pet pode ter o potencial de uma bola de futebol. Sim ele ama jogar futebol com garrafa pet, sabe o nome de quase todos os jogadores e clubes nacionais e internacionais e conhece as regras do esporte. Ele joga todos os dias e nos ensinou a montar um time com miniaturas colecionáveis de carros. O brincar, assim como os outros aspectos da vida humana, é como um matiz: possui nuances diversas, só ainda pouco exploradas. E nós temos a oportunidade de acessar um pouquinho desse mundo novo, através do prisma singular do nosso filho.  

Essas experiências são vividas por mães de filhos autistas, mas busco trazer à memória, o fato de que esses filhos são pessoas diferentes, vivendo mundos, realidades diferentes, no âmbito interno e externo. As famílias constroem suas histórias, suas regras, seus legados. Seria leviano da minha parte, achar que por ser mãe de uma criança autista, eu poderia assumir e reter o lugar de fala, ser porta voz de todas as demais. Eis aqui o primeiro motivo para o meu receio quando a minha equipe decidiu atuar na Associação Anjo Azul. Confesso que o primeiro encontro foi tenso. 

Quando iniciamos o atendimento, mantive-me quieta, apática até, apenas como mediadora, por medo de ultrapassar a barreira do lugar de fala, que deve ser priorizada em especial na fase de acolhimento, às pessoas assistidas. Estava confiante que as falas das outras mães não iriam me atravessar, mas para minha surpresa, não tão agradável naquele momento, a cada relato, vinha uma enxurrada de sensações, e foi doloroso conter o choro. Senti-me impotente naquele momento, por não conseguir manejar minhas próprias emoções, percebi que precisava compartilhar o que estava acontecendo com os colegas da equipe, e assim o fiz algumas horas após o atendimento.  

No decorrer dos encontros seguintes, mantive a postura de mais ouvir do que falar. O receio de assumir o papel da mãe assistida sobre a pessoa que estava ali para acolher, ainda me consumia. Percebi que conhecer técnicas de manejos, estudos, pesquisas, relatos de mães fragilizadas não são suficientes para eu lidar com as minhas próprias fragilidades. 

Após uma conversa com os colegas e o professor Sonielson, entendi que poderia compartilhar no grupo, um pouco das minhas vivências. Confesso que foi libertador. Agradeço aos colegas e ao professor pelo acolhimento e pelas palavras de encorajamento. 

No penúltimo encontro abordamos sobre a importância da rede de apoio, e naquele momento, naquele espaço, pude discorrer um pouco sobre minha trajetória, no papel de uma mãe, que têm seus medos, dúvidas, e limitações, mas muita vontade e garra para evoluir nesse processo. Foram momentos de acolhimento, descontração, choro e muitas risadas. Compartilhamos a vivência de situações cômicas, engraçadas, constrangedoras, onde muitas pessoas e até profissionais despreparados, ainda não sabem lidar com o que foge do padrão. Sim, o mundo ainda engatinha no lidar com os desafios do TEA.  Mas está tentando. O que nos deixa esperançosos. É como um grande quebra cabeça. Vamos seguir encaixando as peças, uma a uma.  

Reafirmo, portanto, que essa intervenção me marcou de muitas maneiras, especialmente no quesito “tenho que elaborar minhas próprias questões para pensar em intervir sobre o outro”. Tal situação corrobora com a orientação de alguns professores no decorrer do curso de Psicologia: “a psicoterapia de vocês acadêmicos, precisa estar em dia”. Mais cedo ou mais tarde, vamos ter que lidar com essa verdade. Negligenciá-la não é o caminho mais assertivo. 

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O Modelo Denver de Intervenção Precoce (ESDM) para o tratamento do TEA

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Um novo modelo para a utilização na intervenção precoce para crianças com o Transtorno do Espectro Autista.

O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é caracterizado pelo indivíduo apresentar atrasos em várias áreas e habilidades do seu desenvolvimento. É provável que apresente frequentemente padrões repetitivos de comportamento, interesses restritos e atividades. A causa exata do TEA ainda não é totalmente compreendida, apesar de haver pesquisas que indicam que os fatores genéticos e ambientais influenciam este transtorno (Sella e Ribeiro, 2018).

O Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5) categoriza o TEA em três níveis de necessidade de suporte, com base nos déficits observados na comunicação social e nos comportamentos restritos e repetitivos. Esses níveis são designados como: nível 3 (requerendo suporte muito substancial), nível 2 (requerendo suporte substancial) e nível 1 (requerendo suporte).

O DSM-5 categorizou o TEA com três níveis de necessidade de suporte, diagnosticando-o com base nos déficits característicos de comunicação social e comportamentos restritos e repetitivos. Sendo eles: nível 3 (exigindo suporte muito substancial), nível 2 (requer suporte substancial) e nível 1 (requer suporte).

                                                        Fonte: imagem criada por Sarah Coelho utilizando elementos do Canva

Os sinais e o diagnóstico precoce do TEA

Os pais de crianças diagnosticadas com TEA frequentemente são os primeiros a perceberem discrepâncias no desenvolvimento de seus filhos, notando uma gama de sinais que podem surgir nos primeiros três anos de vida. Esses sinais podem inclusive ser observados desde o período neonatal, caracterizados, por exemplo, pela ausência no estabelecimento de contato visual (Mansur, 2017).

Essa observação inicial por parte dos pais desempenha um papel fundamental no encaminhamento precoce para avaliações clínicas e intervenções terapêuticas, possibilitando assim uma abordagem precoce e apropriada para o manejo do TEA, na qual há a possibilidade de reverter os atrasos e desenvolver determinadas habilidades.

Os estudos acadêmicos destacam fatores que podem contribuir para a demora no diagnóstico precoce do Transtorno do Espectro Autista (TEA), sendo a ampla variedade de expressões dos sintomas do TEA que pode dificultar sua identificação, especialmente em crianças em idade pré-escolar, onde as características típicas do desenvolvimento podem sobrepor-se aos sinais de TEA, desafiando a precisão diagnóstica (Mansur, 2017). Destaca-se também a falta de profissionais capacitados para reconhecer os sinais precoces do TEA e realizar avaliações adequadas. A escassez de profissionais especializados em TEA pode resultar em longos períodos de espera por avaliações diagnósticas e intervenções terapêuticas, prolongando o tempo até o diagnóstico e a implementação de tratamentos eficazes.

Outro fator determinante é a disponibilidade limitada de serviços especializados em TEA, especialmente em regiões economicamente desfavorecidas, sendo um obstáculo significativo para o diagnóstico precoce e o acesso a intervenções terapêuticas adequadas. Essa falta de recursos adequados pode resultar em atrasos no diagnóstico e tratamento do transtorno, comprometendo assim o desenvolvimento das crianças afetadas (Santos et al., 2020).

A importância do diagnóstico precoce, especialmente durante o período entre dois e seis meses de idade, é propícia para a implementação de intervenções precoces durante fases de maior plasticidade neural. Isso resulta no potencial de prevenir danos mais significativos no desenvolvimento futuro da criança (Steffen et al., 2020).

A realização de um diagnóstico precoce é de suma importância, pois amplia os benefícios decorrentes da intervenção realizada por uma equipe interdisciplinar, que pode ser composta por professores, terapeutas ocupacionais, fonoaudiólogos, aplicadores ABA, psicomotricistas, psicopedagogos, entre outros. Além disso, proporciona uma orientação adequada aos pais, o que contribui significativamente para a evolução do tratamento (Silva e Mulick, 2009).

  Fonte: imagem criada por Sarah Coelho utilizando elementos do Canva

O modelo que ganhou grande espaço na Intervenção Precoce do TEA

O Modelo de Intervenção Precoce de Denver (ESDM) é um método naturalista de intervenção que se baseia em atividades que refletem a rotina das crianças. Este modelo abrange um tratamento que se estende de 12 a 36 meses, seguido por uma fase subsequente dos 24 aos 60 meses de idade, com o propósito de reduzir os danos e/ou dificuldades em algumas áreas, e promover o avanço no conhecimento e no desenvolvimento infantil em todos os aspectos, como cognição, habilidades sociais, emocionais e linguísticas (Rodrigues et al., 2021 apud Rogers & Dawson, 2014).

A necessidade de intervenção precoce é uma grande hipótese de solução para proporcionar oportunidades de aprendizagem diversificadas, especialmente para crianças com comprometimentos no desenvolvimento. A intervenção precoce demonstra a capacidade de reduzir a severidade dos sintomas do transtorno do espectro autista (TEA) devido à neuroplasticidade cerebral (Rodrigues et al., 2021 apud Wallace & Rogers, 2010, citado em Rogers & Vismara, 2014).

O Modelo Denver de Intervenção Precoce é caracterizado por possuir um currículo de desenvolvimento específico, onde a criança irá percorrer diversas competências a serem ensinadas. Ele é realizado a partir de práticas que envolvem atividades colaborativas, fazendo uso da ludicidade como elemento central. A brincadeira e o jogo são recursos primordiais para estimular o aprendizado (Mayrink, 2021).

É importante destacar que essa intervenção é naturalística, por isso, a implementação pode ocorrer em uma variedade de contextos, que vão desde o ambiente doméstico da criança até escolas, clínicas e outros ambientes. É fundamental que o terapeuta se torne o foco de atenção da criança, assumindo o papel de um verdadeiro parceiro de diversão. E quanto mais envolvente e divertida for a atividade, maior será o nível de engajamento e processo de aprendizagem da criança (Mayrink, 2021).

Referências

AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION et al. DSM-5: Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais. Artmed Editora, 2014

DE CARVALHO MANSUR, Odila Maria Ferreira et al. Sinais de alerta para Transtorno do Espectro do Autismo em crianças de 0 a 3 anos. Revista Científica da Faculdade de Medicina de Campos, v. 12, n. 3, 2017. Disponível em: SINAIS DE ALERTA PARA TRANSTORNO DO ESPECTRO DO AUTISMO EM CRIANÇAS DE 0 A 3 ANOS | Revista Científica da Faculdade de Medicina de Campos (fmc.br). Acessado em: 13/04/2024

MAYRINK, Izabelle Bastos Ribeiro. A importância do Modelo Denver de Intervenção Precoce no tratamento de crianças com o Transtorno do Espectro Autista: uma revisão bibliográfica. Revista Ibero-Americana de Humanidades, Ciências e Educação, [S. l.], v. 9, n. 3, p. 2120–2133, 2023. DOI: 10.51891/rease.v9i3.9086. Disponível em: https://periodicorease.pro.br/rease/article/view/9086. Acessado em: 18/04/2024.

RODRIGUES, Andressa Aparecida; DE LIMA, Maísa Miranda; ROSSI, Jean Pablo Guimarães. Modelo Denver de Intervenção Precoce para Crianças com Transtorno do Espectro Autista. Humanidades & Inovação, v. 8, n. 48, p. 359-375, 2021. Disponível em: MODELO DENVER DE INTERVENÇÃO PRECOCE PARA CRIANÇAS COM TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA | Humanidades & Inovação (unitins.br). Acessado em: 18/04/2024.

SILVA, Micheline; MULICK, James A. Diagnosticando o transtorno autista: aspectos fundamentais e considerações práticas. Psicologia: ciência e profissão, v. 29, p. 116-131, 2009. Disponível em: SciELO – Brasil – Diagnosticando o transtorno autista: aspectos fundamentais e considerações práticas Diagnosticando o transtorno autista: aspectos fundamentais e considerações práticas. Acessado em: 19/04/2024.

STEFFEN, . F. .; DE PAULA, . F. .; MARTINS, . M. F. .; LÓPEZ, . L. . Diagnóstico precoce de autismo: uma revisão literária. REVISTA SAÚDE MULTIDISCIPLINAR, [S. l.], v. 6, n. 2, 2020. Disponível em: http://revistas.famp.edu.br/revistasaudemultidisciplinar/article/view/91. Acessado em: 19/04/2024.

 

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A inclusão do aluno autista no Ensino Superior Brasileiro

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Como o Brasil está promovendo a inclusão educacional no ensino superior para alunos com Transtorno do Espectro Autista, garantindo igualdade de oportunidades e acessibilidade conforme as diretrizes internacionais?

A inclusão educacional tem sido uma pauta essencial nas políticas públicas de educação no Brasil, em consonância com as diretrizes internacionais de educação inclusiva. O acesso ao ensino superior por alunos com deficiências, transtornos e condições atípicas, como o autismo, é garantido pela legislação brasileira, que preconiza a igualdade de oportunidades e a oferta de recursos de acessibilidade para atender as necessidades específicas de cada estudante.

O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é um dos transtornos do desenvolvimento e é caracterizado por déficits na interação social recíproca e comunicação, bem como por padrões restritos e repetitivos de comportamento, interesses ou atividades. O TEA é considerado um espectro porque engloba uma ampla gama de sintomas e níveis de gravidade, variando desde formas mais leves até formas mais severas (Dos Santos, Ferreira & Ferreira, 2019).

Geralt/Pixabay

Inclusão no ambiente acadêmico

O TEA é classificado como um transtorno do desenvolvimento devido aos seus efeitos nas áreas-chave do desenvolvimento infantil. As dificuldades de interação social e comunicação podem impactar o desenvolvimento de habilidades sociais, linguísticas e emocionais, que são essenciais para o crescimento saudável e para o funcionamento adequado em diferentes contextos, como na escola, em casa e na comunidade (Associação Americana de Psicologia, 2013).

No âmbito educacional, alguns dos desafios comuns que os alunos com Transtorno do Espectro Autista (TEA) podem enfrentar na escola incluem dificuldades na interação social e nas habilidades de comunicação. Eles podem ter dificuldade em estabelecer e manter relacionamentos com colegas, interpretar pistas sociais sutis e compreender regras sociais não escritas. A comunicação pode ser um desafio, tanto na expressão quanto na compreensão verbal e não verbal. Isso pode afetar sua capacidade de se expressar, seguir instruções verbais e participar de discussões em sala de aula (Carvalho, 2022).

Nos últimos anos, tem-se observado um progressivo aumento na presença de alunos autistas no ensino superior brasileiro. Esse crescimento pode ser atribuído a uma maior conscientização sobre a importância da inclusão, bem como ao acesso a programas e políticas de suporte educacional (Aguilar & Rauli, 2020; Dos Santos et al, 2020; Shibuta & da Costa, 2021).

As instituições de ensino superior têm buscado adaptar-se para acolher esses estudantes, oferecendo recursos de acessibilidade, formação para professores e equipes multidisciplinares para auxiliar na integração e no desenvolvimento acadêmico e social dos alunos autistas. Contudo, embora existam avanços nesse contexto, a efetivação da inclusão no ensino superior demanda a superação de barreiras que ainda persistem (Barbosa & Gomes, 2019).

A inclusão do aluno autista no ensino superior brasileiro ainda enfrenta desafios significativos. Questões relacionadas à infraestrutura, formação docente, conscientização da comunidade acadêmica e adaptação curricular demandam atenção contínua. Além disso, é essencial fortalecer a cooperação entre instituições de ensino, pesquisadores e órgãos governamentais para aprimorar políticas inclusivas e favorecer a inserção plena do aluno autista no contexto universitário (Nascimento, Kador & Teixeira, 2022).

A inclusão do aluno autista no ensino superior brasileiro é um tema de relevância crescente, mas ainda enfrenta desafios significativos. A maioria das pesquisas existentes concentra-se na educação básica, revelando uma lacuna significativa na literatura acadêmica referente à inclusão de estudantes autistas no ensino superior brasileiro.

As evidências disponíveis indicam que as metodologias ativas podem ser ferramentas valiosas para a inclusão do aluno autista, pois se fundamentam em abordagens pedagógicas participativas e colaborativas, proporcionando maior interação e engajamento entre docentes e discentes. No entanto, a escassez de estudos direcionados ao contexto do ensino superior brasileiro dificulta a compreensão abrangente dos desafios específicos que esses alunos enfrentam nesse nível educacional.

As lacunas encontradas nesta revisão narrativa sugerem a necessidade urgente de pesquisas mais aprofundadas e específicas sobre a inclusão do aluno autista no ensino superior. É essencial que pesquisadores e educadores direcionem seus esforços para investigar os fatores que impactam o acesso e o desempenho acadêmico de estudantes autistas nesse contexto. Além disso, estudos longitudinais que acompanhem a trajetória desses alunos ao longo de sua experiência no ensino superior podem fornecer insights valiosos sobre as estratégias pedagógicas e de apoio que melhor atendem às suas necessidades.

Outra lacuna importante identificada é a falta de enfoque nas perspectivas dos próprios alunos autistas. Compreender suas experiências, desafios e percepções é fundamental para a criação de um ambiente acadêmico verdadeiramente inclusivo. Pesquisas qualitativas que envolvam entrevistas, grupos focais ou outras abordagens participativas podem fornecer uma visão mais holística e humanizada sobre a inclusão desses estudantes no ensino superior.

Por fim, é fundamental que as instituições de ensino superior adotem uma postura proativa ao implementar políticas e práticas inclusivas, garantindo que estudantes autistas tenham acesso a recursos e apoios adequados para que possam prosperar em suas jornadas acadêmicas. A criação de programas de formação para docentes e equipe administrativa também é crucial para a construção de um ambiente educacional acolhedor e empático, que valorize a diversidade e as necessidades individuais de cada aluno.

A promoção de uma educação inclusiva requer o compromisso conjunto de pesquisadores, educadores e instituições para fornecer um ambiente de aprendizado que valorize e respeite a diversidade, garantindo que todos os alunos, incluindo aqueles com autismo, possam alcançar seu pleno potencial acadêmico e pessoal.

Miliana Augusta Pereira Sampaio

Doutora em Educação na Amazônia – EDUCANORTE / UFT

Mestra em Educação – UFT

Esp. em Analise de Comportamento Aplicada (ABA) ao Transtorno do Espectro do Autismo

Neuropsicopedagoga Clínica

Esp. em Neuropsicopedagogia e Educação Especial Inclusiva

Psicopedagoga Clínica

Esp. em Psicomotricidade

Esp. em Ludopedagogia

Esp. em Educação Especial e Educação Inclusiva

Esp. em Planejamento e Docência para o Ensino Superior

Mediadora de PEI I – Programa de Enriquecimento Instrumental – CBM – Israel (Reabilitação Cognitiva)

Habilitada no Trabalho Psicopedagógico de crianças com Autismo pela Ciência ABA e Método PECS

SCREENER – Avaliadora da Síndrome de Irlen e Distúrbios do Processamento da Visão

Mediadora do Método Glia e Piafex (Funções Executivas)

Mediadora de Neurofeedback

REFERÊNCIAS

Aguilar, C. P. C., & Rauli, P. F. (2020). Desafios da inclusão: a invisibilidade das pessoas com Transtorno do Espectro Autista no ensino superior. Revista Educação Especial36, 1-26.

American Psychiatric Association (APA). (2013). Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders: DSM-5 (5th ed.). Arlington: American Psychiatric Publishing.

Carvalho, F. V. B., et al. (2022). Um olhar sobre o autismo e sua especificação na educação infantil. Em Autismo: Avanços e Desafios-Volume 3, 3(1), 83-95.

Dos Santos, L. B., de Oliveira Ferreira, L. M., & Ferreira, M. R. A. (2019). Autismo e inclusão: A percepção de um grupo de docentes acerca da inclusão do aluno autista na Rede Municipal em Teresina-Piauí. Em Editora Realize (Ed.), Anais do VI Congresso Nacional de Educação (CONEDU), Campina Grande.

Dos Santos, W. F., Santana, V. S., Dias, L. D. S. S., Teixeira, C. M. D. Á., & Pondé, M. P. (2020). A Inclusão da Pessoa com Autismo no Ensino Superior. Revista Entreideias: educação, cultura e sociedade9(3).

Nascimento, S. M. C., Kador, C. L., & Teixeira, C. S. S. (2022). Formação em ensino superior e inclusão de alunos com Transtorno do Espectro Autista: uma revisão narrativa da literatura. Revista Eletrônica Acervo Saúde15(10), e11176-e11176.

Shibuta, V., da Costa, I. F., & dos Santos, F. P. (2021). Inclusão Do Autista No Ensino Superior Público. Psicologia e Saúde em debate7(2), 1-11.

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Desafios e estratégias para inclusão efetiva de alunos com TEA no Sistema Educacional Brasileiro

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Uma Análise Crítica das Barreiras Atuais e Propostas de Intervenção para Promover a Plena Participação e Desenvolvimento dos Alunos com Transtorno do Espectro Autista nas Instituições de Ensino do Brasil

No contexto educacional contemporâneo, a inclusão e garantia de direitos para alunos com transtorno do espectro autista (TEA) constituem um dos temas mais relevantes. O autismo, caracterizado como uma condição neurodiversa que influencia a comunicação e o comportamento, exige uma abordagem educacional especializada e sensível. As legislações e políticas educacionais brasileiras evoluíram significativamente para atender a essas necessidades, criando um ambiente de aprendizado mais inclusivo e equitativo para todos.

A Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva, estabelecida em 2008, garante o Atendimento Educacional Especializado (AEE), oferecendo uma gama de recursos e possibilidades para assegurar uma educação de qualidade que considere a diversidade dos alunos na sala de aula (Brasil; 2008). Garcia, Bacarin e Leonardo (2018) destacam que as escolas têm o compromisso de atender à diversidade humana, adaptando-se às necessidades individuais de cada aluno, sem excluir aqueles considerados “diferentes”.

As crenças e experiências dos professores exercem uma influência significativa sobre o processo ensino-aprendizagem. Conforme Sanini e Bosa (2015), as crenças dos educadores, moldadas por suas vivências, impactam diretamente na educação tanto de alunos com deficiência quanto daqueles sem deficiência. No entanto, apesar da existência de políticas públicas de inclusão, há desafios no processo de inclusão de crianças com autismo, como evidenciado em estudos brasileiros que apontam para as dificuldades enfrentadas pelos professores nesse contexto (Schmidt et al., 2016).

O ensino de crianças com TEA é complexo, devido aos desafios impostos pelo próprio espectro, que inclui déficits em comportamento, socialização e comunicação. Pimentel e Fernandes (2014) observam que, embora essas crianças apresentem desenvolvimento desadaptado nessas áreas, são capazes de extrair e internalizar algumas pistas do meio linguístico para uso contextual em sua vida social.

A inclusão eficaz de um aluno com TEA implica na necessidade dos professores de estabelecerem vínculos com seus alunos e entenderem a dinâmica das relações entre eles, para então elaborar estratégias de ensino que beneficiem a aprendizagem de toda a turma. Tais estratégias devem estimular a participação e interação entre os alunos (Favoretto; Lamônica, 2014).

Pesquisas indicam que estratégias diferenciadas adotadas pelos professores favorecem a aprendizagem de alunos com TEA (Aporta; Lacerda, 2018; Favoretto; Lamônica, 2014). No entanto, é comum que os professores criem representações sociais sobre o aluno com TEA, seu diagnóstico e desenvolvimento, influenciando a prática pedagógica. Favoretto e Lamônica (2014) sugerem a necessidade de os professores buscarem atualizações de conhecimento sobre o assunto, incluindo suporte de uma equipe interdisciplinar para lidar com as questões internas e aspectos relacionados à educação desses alunos.

As concepções dos professores sobre inclusão e a construção de vínculos com a escola e com o aluno são cruciais neste processo. Alves (2016) destaca a importância do trabalho colaborativo entre o professor da turma e o educador especial para favorecer o ensino-aprendizagem de uma criança com TEA.

Dessa forma, fica evidente que a inclusão de alunos com TEA no sistema educacional brasileiro é um processo complexo que requer não apenas políticas públicas robustas, mas também uma abordagem pedagógica adaptada e sensível por parte dos educadores, considerando as necessidades individuais de cada aluno e promovendo um ambiente de aprendizado inclusivo e justo para todos.

                                                                                    Fonte: Pixabay, imagem de Tho-Ge

A Lei Berenice Piana (Lei Federal n° 12.764/12) representa um marco significativo na educação inclusiva de pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA) no Brasil. Essa legislação aborda os mecanismos para a efetivação dos direitos à educação das pessoas com TEA, incluindo a garantia de diagnóstico precoce, tratamento, terapias, educação e proteção social (Souza Junior, 2023). No entanto, apesar dessas garantias legais, a inclusão efetiva desses indivíduos no sistema educacional enfrenta desafios práticos e conceituais.

No contexto do ensino superior, por exemplo, Tiago Abreu, mestre em Comunicação e autor do livro “O que é neurodiversidade?”, destaca a subnotificação de casos de autismo como um desafio significativo. Muitos indivíduos com autismo não se declaram como tal ou não são diagnosticados, resultando em uma evasão não identificada nas universidades. Essa situação é agravada pela falta de demanda concreta por ações que permitam a permanência desses estudantes no ambiente universitário (Vaz; 2023).

Além disso, William Chimura, ativista autista e pesquisador de Tecnologias Digitais para Educação, salienta que o conceito de aprendizagem, especialmente em relação ao autismo, é mais amplo do que a educação formal. A aprendizagem ocorre continuamente e de maneira atípica no autismo. Ele também destaca a importância da intersetorialidade no desenvolvimento de políticas e ações para o atendimento à pessoa com TEA, conforme preconizado pela Lei Berenice Piana (Vaz; 2023).

Essas análises evidenciam que, apesar dos avanços legais trazidos pela Lei Berenice Piana, ainda existem barreiras significativas para a efetiva inclusão educacional de pessoas com TEA. É necessário um esforço contínuo para superar os obstáculos práticos e conceituais, bem como promover uma conscientização mais ampla sobre as necessidades educacionais desses indivíduos.

As legislações e políticas educacionais brasileiras, como a Constituição Federal e a Lei nº 12.764/12, demonstram um compromisso com a inclusão e o acesso igualitário à educação para pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA). No entanto, essas medidas enfrentam desafios significativos na prática.

Um dos maiores desafios é a preparação dos professores para receber alunos com autismo. Muitas vezes, os educadores não estão adequadamente capacitados para lidar com as necessidades específicas desses alunos, o que pode comprometer o processo de inclusão (Oliveira, 2020). Além disso, alunos com TEA apresentam características variadas que podem afetar suas relações com outras pessoas e sua linguagem, exigindo apoio especializado no processo de ensino-aprendizagem (Oliveira, 2020).

Outro aspecto crítico é a necessidade de adaptar o currículo para atender às diferenças individuais dos alunos. Essa adaptação curricular é essencial para promover a aprendizagem e o desenvolvimento do aluno com autismo (Oliveira, 2020).

Além disso, é necessário desenvolver metodologias de aprendizagem específicas para que o aluno com TEA consiga se comunicar e se desenvolver adequadamente. Isso exige do professor não apenas formação acadêmica, mas também sensibilidade e perspicácia para compreender e trabalhar com esses alunos (Oliveira, 2020).

Portanto, enquanto as legislações e políticas estabelecem a base para a inclusão de alunos com TEA, a implementação efetiva desses direitos educacionais exige uma abordagem mais holística, que inclua capacitação profissional adequada, adaptações curriculares e metodologias de ensino especializadas.

A Constituição Federal do Brasil desempenha um papel crucial na garantia dos direitos educacionais das pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA). Ela assegura a educação como um direito de todos, estabelecendo a igualdade de condições de acesso e permanência na escola para todos, incluindo alunos com TEA. Essa garantia é reforçada pela Lei nº 12.764/12, que assegura direitos fundamentais como a vida digna, a integridade física e moral, a segurança e o lazer, além de proteção contra abusos e explorações (Jus.com.br, 2016).

No entanto, a inclusão efetiva de alunos com TEA vai além das garantias legais. Ela requer práticas educacionais adaptadas e professores capacitados para atender às necessidades específicas desses alunos. Isso envolve não apenas a adaptação curricular, mas também o desenvolvimento de um ambiente acolhedor e compreensivo, que respeite as particularidades do autismo. A realidade mostra que, apesar do arcabouço legal robusto, a implementação prática ainda se encontra distante do ideal, com lacunas nas políticas sociais, falta de informação, conscientização e capacitação profissional para lidar com alunos autistas (Viana, 2023).

Em conclusão, os direitos educacionais das pessoas com TEA no Brasil estão bem estabelecidos e protegidos por uma série de leis e políticas. Essas medidas são fundamentais para assegurar a igualdade de oportunidades e a inclusão efetiva no ambiente escolar. Contudo, a implementação desses direitos requer uma mudança cultural e a adoção de práticas pedagógicas inclusivas. A educação é um direito de todos, e garantir seu acesso a pessoas com TEA é um passo crucial para construir uma sociedade mais justa e inclusiva.

 

 

REFERÊNCIAS

  1. Alves, D. E. (2016). O autismo e o processo de inclusão na perspectiva escolar: análise de caso na escola Professora Ondina Maria Dias, em Tijucas/Santa Catarina. Curso de Especialização EaD Gênero e Diversidade na Escola. Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, Santa Catarina, SC, Brasil.
  2. Aporta, A.; Lacerda, C. B. F. (2018). Estudo de Caso sobre Atividades Desenvolvidas para um Aluno com Autismo no Ensino Fundamental I. Revista Brasileira de Educação Especial, 24(1), 45-58.
  3. Brasil. (2008). Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva. Brasília: MEC. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/arquivos/pdf/politicaeducespecial.pdf.
  4. Conteúdo Jurídico. (2023). A importância da Lei 12.764 para a efetivação do direito à educação da criança autista. Disponível em: https://conteudojuridico.com.br/consulta/artigos/50207/a-importncia-da-lei-12-764-para-a-efetivao-do-direito-educao-da-criana-autista.
  5. Favoretto, N. C.; Lamônica, D. A. C. (2014). Conhecimentos e necessidades dos professores em relação aos transtornos do espectro autístico. Revista Brasileira de Educação Especial, 20(1), 103-116.
  6. Garcia, R. A. B.; Bacarin, A. P. S., & Leonardo, N. S. T. (2018). Acessibilidade e permanência na educação superior: percepção de estudantes com deficiência. Psicologia Escolar e Educacional, 22(spe), 33-40. https://dx.doi.org/10.1590/2175-3539/2018/035.
  7. Jus.com.br. (2016). Lei nº 12.764/2012: Direitos da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista. Disponível em: https://jus.com.br/artigos/48333/lei-n-12-764-2012-direitos-da-pessoa-com-transtorno-do-espectro-autista.
  8. Lume UFRGS. (2023). Lei Berenice Piana: O direito dos autistas à educação, análise das opiniões de usuários sobre a efetividade da legislação e principais desafios. Disponível em: www.lume.ufrgs.br.
  9. Pimentel, A. G. L.; Fernandes, F. D. M. (2014). A perspectiva de professores quanto ao trabalho com crianças com autismo. Audiology: Communication Research, 19(2), 171-178.
  10. Portal CNJ. (2023). Lei Berenice Piana: Ensino para autistas demanda dados e iniciativa no sistema de ensino. Disponível em: www.cnj.jus.br.
  11. Revista Educação Pública. (2020). Autismo e inclusão escolar: os desafios da inclusão do aluno autista. Disponível em: educacaopublica.cecierj.edu.br.
  12. Sanini, C.; Bosa, C. A. (2015). Autismo e inclusão na educação infantil: Crenças e autoeficácia da educadora. Estudos de Psicologia 20(3), 173-183.
  13. Schmidt, C.; Nunes, D. R. P.; Pereira, D. M.; Oliveira, V. F.; Nuernberg, A. H.; Kubaski, C. (2016). Inclusão escolar e autismo: uma análise da percepção docente e práticas pedagógicas. Psicologia: teoria e prática, 18(1), 222-235
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Sexualidade do Sujeito Autista

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A sexualidade, um aspecto intrínseco à experiência humana, é uma dimensão complexa e multifacetada que permeia a vida de cada indivíduo. A expressão da sexualidade vai muito além do simples ato sexual, abrangendo um amplo espectro de emoções, identidades, relacionamentos e experiências. Ao longo da história, as sociedades têm moldado e redefinido concepções sobre a sexualidade, influenciadas por fatores culturais, religiosos e sociais. Neste texto, busca-se esta dimensão de sexualidade: um direito humano universal, abrangendo, inclusive, pessoas com que fogem do que a sociedade ou o DSM 5, classificam como “normal”.  Neste contexto, entendemos que as pessoas com Transtorno de Espectro Autistas são totalmente dotadas de capacidades de se relacionar afetivo/sexualmente.

De acordo com o DSM 5, o Transtorno do Espectro Autista – TEA, é caracterizado por déficits persistentes na comunicação e na interação social em vários contextos, juntamente com padrões restritos e repetitivos de comportamento, interesses ou atividades. Esses sintomas devem estar presentes na primeira infância, embora possam não se manifestar completamente até que as demandas sociais excedam as capacidades limitadas. Isso pode envolver dificuldades na reciprocidade socioemocional, na comunicação não verbal e no desenvolvimento e manutenção de relacionamentos. Além disso, o TEA apresenta-se por padrões restritos e repetitivos de comportamento, interesses ou atividades. Esses padrões podem se manifestar de várias maneiras, como estereotipias motoras, insistência na mesmice, interesses fixos e intensos em determinados temas, e hipersensibilidade ou hipossensibilidade sensorial a estímulos do ambiente. (DSM 5, 2014)

As dificuldades de comunicação e nas relações interpessoais apresentam uma ampla variação, podendo incluir desde um simples atraso na linguagem até a completa ausência de fala. Mesmo nos casos em que a habilidade verbal é preservada, observam-se desafios no uso da linguagem para comunicação efetiva. Por outro lado, a dificuldade na linguagem não verbal pode se manifestar por meio da redução ou ausência de contato visual, gestos e outras formas de comunicação não verbal.

Durante muito tempo se imaginou que o sujeito TEA não era capaz de se relacionar afetivo/sexualmente, uma vez que o transtorno afeta a comunicação e as relações interpessoais. No entanto, cada vez mais observa-se que a sexualidade não se limita à pessoas que seguem padrões sociais de normalidade. É certo que indivíduos TEA possuem dificuldades e necessitam de adaptações para se relacionar e a exploração da sexualidade desses indivíduos é um campo complexo que demanda um olhar sensível e adaptado, pois observamos que, a sexualidade das pessoas afetadas por TEA é reconhecida, embora com algumas limitações. Este parece ser um padrão geral na compreensão da sexualidade de indivíduos com deficiências ou necessidades especiais.

O início das pesquisas sobre sexualidade em indivíduos com autismo remonta a uma década após a inclusão do diagnóstico de autismo infantil no DSM-3, em 1980. Nesse período, as publicações frequentemente perpetuavam a ideia de que as pessoas com autismo eram consideradas inaptas, desinteressadas e inadequadas para receber educação sexual e manter relacionamentos românticos. Poucas abordam histórias de sucesso no campo da sexualidade e dos relacionamentos, com uma ênfase maior nos comportamentos sexuais considerados inapropriados. Vale ressaltar que essas publicações iniciais eram baseadas principalmente em relatos de pais e cuidadores, em vez de depoimentos diretos de indivíduos com Transtorno do Espectro Autista – TEA.(MALEBRA, 2020)

O tema da sexualidade em indivíduos com Transtorno do Espectro Autista – TEA, é frequentemente considerado um tabu para a sociedade e, sobretudo, para as famílias. Os pais, normalmente enfrentam dificuldades para lidar com a sexualidade de seus filhos de modo geral, muitas vezes descrevendo essa fase como desafiadora, em se tratando de indivíduos com TEA os tabus e dificuldades são um desafio a mais. Há temores relacionados à falta de habilidades sociais, preocupações sobre a possibilidade de seus filhos se tornarem vítimas ou autores de abusos sexuais.

A necessidade da socialização e a interação desempenham papéis preponderantes nesse processo, orientando o acesso e a vivência da sexualidade. Assim, as dificuldades no desenvolvimento ou estabelecimento das interações sociais, como ocorre nos TEA, têm o potencial de influenciar e prejudicar o desenvolvimento e a vivência da sexualidade.

Dessa forma, quando a sexualidade das pessoas com TEA é reconhecida, espera-se que ela se manifeste de maneira privativa e nominal, predominantemente por meio da masturbação individual. Isso implica que as expressões sexuais não devem se manifestar de forma inadequada, como toques genitais em locais públicos ou em situações inapropriadas, bem como o uso de palavras e gestos obscenos.

Nesse contexto, é crucial não negligenciar três preceitos fundamentais. Em primeiro lugar, o amplo domínio da sexualidade humana se manifesta de maneira variada em diferentes épocas, sociedades, civilizações e na trajetória histórica. Em segundo lugar, a sexualidade biológica não é tão inata quanto pode parecer, uma vez que, para os seres humanos, está sujeita à influência dos laços sociais, da cultura, dos registros de vida e morte, levando a linguagem a se desvincular das coordenadas naturais, conforme diversas epistemes destacam. Para a psicanálise, a anatomia não determina um destino, e a escolha sexual é encarada como uma decisão subjetiva para cada indivíduo. Em terceiro lugar, o sexo é um ato de expressão.

A sexualidade, por sua vez, abrange um vasto campo nas relações humanas, envolvendo dimensões biológicas, sociais, históricas, éticas, culturais, políticas e subjetivas. Este tema apresenta um desafio central, pois, ao contrário dos animais, para os quais um programa instintivo segue as leis naturais, a sexualidade humana necessita dos registros imaginário, simbólico e real para se concretizar. Essa concretização é marcada por mal-entendidos, pela falta, por desejos insatisfeitos e impossíveis, pelo gozo desmedido e excessivo, e pela discordância entre o conhecimento e a existência.

Questões culturais desempenham um papel significativo nas relações entre pais e filhos, contribuindo para que a sexualidade seja encarada como um tabu, o que representa um obstáculo considerável dada a relevância do tema. O silêncio em torno da sexualidade no ambiente familiar pode levar à desinformação e ao fortalecimento de concepções equivocadas sobre sexo, gravidez e doenças sexualmente transmissíveis. Neste contexto, se torna cada vez mais relevante e importante a educação sexual não apenas para os adolescentes, mas também para os pais, concentrando-se em desmistificar mitos, superar tabus e abordar crenças que podem influenciar essas relações, resultando em comportamentos de risco.

                                                                                                           Fonte: pexels.com.br

Considerando a família como uma teia de relações, afetos, sentimentos, ações e experiências transmitidas por meio da socialização, as representações e práticas relacionadas à sexualidade de uma geração têm impacto nas gerações seguintes. Assim, a família pode ser vista como uma instituição de significativa importância para orientar os relacionamentos pessoais e sociais. Especificamente no caso de famílias que têm membros com necessidades especiais, destacam-se as dificuldades enfrentadas ao lidar com a sexualidade. A dinâmica de relacionamentos e afetos dessas famílias é afetada quando um de seus integrantes apresenta alguma doença, transtorno ou disfuncionalidade. Em situações de doença, transtorno ou disfuncionalidade, as famílias geralmente interrompem suas atividades sociais habituais para que o indivíduo afetado possa se adaptar às especificidades impostas pela condição.

É fundamental adotar uma perspectiva familiar ao analisar o desenvolvimento, evitando separar o adolescente do contexto familiar que o envolve. O mito de que as pessoas com autismo seriam assexuadas está gradativamente sendo substituído pela percepção de que a maioria delas possui interesse em relacionamentos amorosos e experiências sexuais com parceiros. No entanto, a sexualidade desses indivíduos ainda é um tabu entre seus familiares, que muitas vezes mantêm a expectativa de que sejam assexuados ou que seus impulsos sexuais sejam controlados e domesticados. Essa abordagem infantilizada pode levar à percepção errônea e prejudicial de que são dependentes em aspectos relacionados à sexualidade.

Dificuldades na tomada de decisões, falta de flexibilidade, sensibilidade sensorial e desregulação emocional são obstáculos adicionais que dificultam as tentativas desses indivíduos de estabelecerem relacionamentos românticos. Além disso, as rotinas, que desempenham um papel crucial na vida dessas pessoas, podem ser desafiadoras de serem mantidas quando estão acompanhadas de outra pessoa. A inflexibilidade pode dificultar a adaptação às necessidades do parceiro, resultando em dificuldades de comunicação e compreensão das expectativas do relacionamento.

Além disso, os indivíduos afetados pelo transtorno do espectro autista (TEA) frequentemente apresentam interesses restritos e comportamentos repetitivos. Esses comportamentos incluem ações como o ato de balançar as mãos, a repetição constante de palavras ou frases, e a adesão a rituais e comportamentos rotineiros. Essas características constituem elementos distintivos do TEA, contribuindo para a complexidade desse transtorno.

Por outro lado, a gama de vivências nesse contexto é ampla, pois os indivíduos no espectro autista podem apresentar uma diversidade de desafios em habilidades sociais. Entender a sexualidade em pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA) exige uma compreensão das complexidades relacionadas às interações sociais, comunicação e regulação sensorial que caracterizam essa condição. Enquanto alguns no espectro podem enfrentar dificuldades na expressão e compreensão da sexualidade, outros podem desenvolver interesses específicos e expressar formas únicas de afetividade.

Referências:

MALERBA, V. de B. Sexualidade no Transtorno do Espectro Autista: perspectivas do adolescente, de sua mãe e de seu pai.  (dissertação de mestrado.) Dissertação de Mestrado apresentada à Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto – Universidade de São Paulo. Ribeirão Preto, SP, 2020. Disponível em: https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/59/59141/tde-08022021-192641/publico/Resumida_Victor_de_Barros_Malerba.pdf Acesso em: 20/11/2023.

Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais: DSM-5. 5. ed. Porto Alegre: Artmed, 2014.

MELO, L. M. L. Autismo e Sexualidade. Psicologia em Revista, Belo Horizonte, v. 25, n. 3, p. 1263-1273, dez. 2019. Disponível em: http://pepsic.bvsalud.org/pdf/per/v25n3/v25n3a20.pdf. Acesso em: 20/11/2023

TILIO, R. de. Transtornos do Espectro Autista e sexualidade: um relato de caso na perspectiva do cuidador. Psicología, Conocimiento y Sociedad 7(1) 36-58, (mayo 2017–octubre 2017) Trabajos originales ISSN: 1688-7026. Disponível em: http://www.scielo.edu.uy/pdf/pcs/v7n1/1688-7026-pcs-7-01-00036.pdf. Acesso em: 19/11/2023

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Explorando desafios educacionais de uma família atípica

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Deborah Dias compartilha sua jornada de desafios e potencialidades na educação de filhos neurodivergentes

O (En)Cena, entrevistamos Deborah Dias, natural de Paraíso-TO, psicopedagoga, assistente terapêutica e gestora de comportamento infantil. Casada com Robson, que possui TDAH, Autismo e Altas Habilidades, ela compartilha sua experiência única. Seu filho Pedro, de 10 anos, apresenta TDAH, AH e Autismo, enquanto Alice, de 6 anos, enfrenta desafios de Autismo e TDAH. Nesta conversa, a convidada destaca sua trajetória e insights relacionados à Educação e ao processo de aprendizagem de crianças atípicas.”

Arquivo pessoal, cedido pela convidada.

(En)Cena : Deborah Quais foram os maiores desafios enfrentados ao educar seus filhos autistas?

Deborah: Quanto à educação em casa os desafios são em separar o que é natural do desenvolvimento, o que é critério diagnóstico e o que não pode ser parte do comportamento aceito em casa. Sabendo disso, cabe a nós direcioná-los com as regras da família. Quanto a educação escolar sempre foi um desafio a maior parte das escolas insiste em colocar as crianças dentro de caixas e a diferença incomoda, cada direito precisa ser lutado para ser conquistado mesmo que seja ao respeito óbvio..

(En)Cena: Como você adaptou o ambiente de aprendizagem para atender às necessidades específicas de seus filhos?

Deborah: Quando tivemos o diagnóstico da Alice iniciou-se uma busca por informação e para conhecer o que poderia propiciar o desenvolvimento de forma mais eficiente, o primeiro passo foi identificar em que momento do desenvolvimento cada criança estava independente da idade cronológica e distribuir de forma estratégica ferramentas para que possam treinar suas habilidades com o mínimo suporte possível.
No banheiro havia suporte visual com imagens lembrando-se desde abaixar a roupa até lavar a mão, disponibilizamos quadros de rotina com imagens que também propiciam segurança e ajudaram muito com o controle da rigidez, fiz um curso de gestão de comportamento para criança com deficiência e foi fundamental para poder lidar com todas as crises sem enlouquecer.

(En)Cena: Como as instituições de ensino podem ajudar a reduzir o estigma em relação ao autismo?

Deborah: A função da escola é educar não apenas na questão curricular mas também ensinar habilidades para vida, sendo o primeiro ambiente social onde as crianças podem aprender muito sobre respeito, diferença, e tanto além do que há no Mundo, informar a comunidade através da aceitação diminuindo o abismo que há na diferença.

(En)Cena: Como você lida com questões de inclusão e interação social no processo de aprendizagem?

Deborah: Por lei existem muitas questões já asseguradas mas na prática ainda existe uma falta de formação, falta de obrigação e diria até de sensibilidade. Ser diferente aparentemente é uma dor de cabeça pros gestores e muitos agem como se tivessem fazendo favores, os profissionais encaminhados para lidar com a educação especial, com crianças de vários tipos de deficiência, professores auxiliares entram muitas vezes sem nem saber qual é a particularidade daquela criança, aprendem o que conseguem sem muito incentivo e quando vão colocar em prática ainda esbarram na barreira da burocracia.

(En)Cena: Pode compartilhar algumas estratégias ou recursos que tenham sido eficazes no processo de ensino de seus filhos?

Deborah: Rotina específica oferece segurança a eles, material adaptado para a particularidade de cada um, terapias em dia e sempre repetir as avaliações de desenvolvimento para que possamos mudar as estratégias de acordo com as evoluções e regressões das crianças.

(En)Cena: De que forma os professores podem ajudar a promover a interação social entre crianças atípicas e seus colegas?

Deborah: Conhecer sobre a diferença específica de cada criança pode parecer difícil mas ensinar sobre respeito a diferença, lidar com naturalidade quando algo acontece trás a possibilidade de espelhar um comportamento adequado às crianças que educa. Existem informações sobre autismo na internet, existem cursos gratuitos em muitos lugares, a escola tem uma psicopedagoga. Existem muitos caminhos para se adequar, mas o principal é a boa vontade.

(En)Cena: Qual é o papel dos pais na colaboração com as instituições de ensino para garantir uma educação adequada para crianças autistas?

Deborah: Em rotina e tratamento adequado a criança que entregamos pra escola estará desregulada e desamparada dificultando a concentração e aprendizagem, não é clichê dizer que é um trabalho de equipe e que precisa-se de uma vila inteira.

(En)Cena: Como você equilibra as necessidades individuais de cada criança em um ambiente familiar?

Deborah: Considerar cada criança como um indivíduo único mesmo que dividam o mesmo diagnóstico é a chave para que possamos ser ferramenta pro melhor desenvolvimento deles. Os rótulos trazidos com o diagnóstico podem atrapalhar que cuidadores enxerguem o momento do desenvolvimento que cada criança está e possa ajudar a desenvolver.

(En)Cena: Quais são os maiores desafios que as crianças autistas enfrentam em um ambiente escolar tradicional?

Deborah: O sistema tradicional de ensino é ineficaz, na minha opinião, inclusive para crianças típicas, esperam que crianças estejam dentro de caixas e que sejam equiparadas por idade, sem respeitar as individualidades de cada um, modo de aprendizado, cuidados externos , enfim desconsideram os fatores ambientais e mesmo as questões relacionadas ao diagnóstico, separam aqueles diagnosticados que passam a ser “problema” das educações especiais.

(En)Cena: Quais conselhos você daria a outras famílias que estão passando pelo mesmo processo que você?

Deborah: O principal é que não vai passar , viver com a diferença é parte que iremos ser , as famílias atípicas não podem viver esperando que haja uma melhora a ponto de terem crianças que parecem típicas ( muitas vezes só pra agradar os pais) ou pode aprender a conviver com a diferença e criar estratégias para que a vida mesmo com as particularidades do diagnóstico.
Eu tento levar a vida leve, da melhor forma que conseguir, para que possa oferecer esse ambiente de paz para eles. Se nós somos a base temos que nos cuidar também para ser por mais tempo. Famoso cuidar de quem cuida.

O (En)Cena agradece a participação da Deborah, em nossa recente entrevista. Foi um prazer aprender e levar informação através de suas experiências e convicções.

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Desafios adicionais na gravidez de mulheres autistas e implicações relacionadas à saúde mental

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A gravidez é para todas as mulheres um período de grandes mudanças emocionais e físicas. No entanto, para algumas mulheres este período pode ser bem mais desafiador devido a algum transtorno mental ou do desenvolvimento.

O TEA – Transtorno do Espectro Autista, é um transtorno do neurodesenvolvimento complexo e multifatorial, e suas causas ainda não são completamente compreendidas. Conforme a CID-11, o Transtorno é caracterizado por prejuízo na interação social, comunicação e comportamento, interesses e atividades restritos, repetitivos e estereotipados.

Estudos apontam que no mundo, 1 a cada 100 crianças tem autismo. Também mencionam que há uma proporção maior de casos entre meninos: 1 menina a cada 4 meninos. Nas mulheres, o transtorno tende a ser subdiagnosticados visto que os sintomas nelas são diferentes e, passam despercebidos pois na puberdade elas passam a praticar o “Masking”, que se trata de um comportamento de camuflagem dos sintomas, visando esconder suas dificuldades. Assim, a maior parte das mulheres costuma receber o diagnóstico de TEA quando adulta e durante ou após a maternidade.

                                                                                                                                             Fonte: Pixabay

A maior parte das mulheres costuma receber o diagnóstico de TEA quando adulta e durante ou após a maternidade

Mulheres que estão no espectro do transtorno podem apresentar muitos complicadores no período da gravidez devido a apresentarem características como:

  • Maior sensibilidade sensorial – São muito mais sensíveis a estímulos como som, cheiros, texturas, luz. As idas ao laboratório e ao médico tornam-se um grande problema, pois muitas são extremamente sensíveis ao toque e desta forma coisas como o tão sonhado momento de ultrassom para acompanhar o desenvolvimento do bebê ou as desejadas mexidas do bebê na barriga podem se tornar um pesadelo.
  • Problemas em relação a mudança de rotina – Normalmente os autistas necessitam de previsibilidade no seu dia a dia e as idas constantes ao médico e laboratório, bem como os ajustes nas atividades diárias podem se tornar um incômodo;
  • Incômodo com a interação social e a comunicação excessiva – Grávidas autistas podem ter dificuldades com a interação com profissionais de saúde o que gera por vezes ansiedade e pode necessitar de informações concisas e de um profissional mais atento e sensível às suas necessidades;
  • Níveis altos de ansiedade e estresse – Devido ao excesso de preocupações sobre o parto, os cuidados consigo e com a criança, as mudanças na rotina ou a falta dela nos primeiros meses;
  • Mudanças corporais – Podem apresentar dificuldade em aceitar e entender as mudanças que ocorrem no corpo e ter sua autoestima e autoimagem afetadas.

Além destas questões citadas acima, ainda há a presença de outros fatores de risco como: anormalidades estruturais cerebrais com diferentes causas e disfunção fisiológica e bioquímica; Epilepsia e TDAH – Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade, Depressão, Transtornos Afetivos Bipolar, Ansiedade e transtornos somáticos.    

                                                                                                                          

                                                                                                                    Fonte: Pixabay

O uso de drogas psicotrópicas e antiepilépticas durante a gravidez está associado a desfechos adversos

Um agravante em relação às grávidas que estão no espectro é que frequentemente são tratadas com drogas psicotrópicas e antiepilépticas e o uso destes medicamentos durante a gravidez está associado a desfechos adversos, como parto prematuro e cesáreo, aumento do risco de pré-eclâmpsia, peso anormal do bebê no nascimento e má adaptação neonatal.

Precisamos lembrar que cada mulher autista é única e que o TEA se manifesta de maneiras diferentes em cada uma delas.  Sendo assim, o desenvolvimento e experiências que envolvem a gravidez sofrerão influências individuais. O importante é que em sua individualidade, cada gestante obtenha atenção e apoio, bem como acesso a tratamento da saúde física e emocional garantindo o seu bem-estar e do bebê. Vale ressaltar que é de suma importância que sejam acompanhadas por profissionais de saúde que estejam atentos às necessidades específicas e que possam ajudar a promover uma gravidez mais positiva e tranquila, bem como avaliar o custo-benefício e adequação do uso de medicações psiquiátricas durante a gestação.

                                                                                                                                               Fonte: Pixabay

O Pré-natal psicológico é uma ferramenta extremamente necessária, pois auxilia a grávida a lidar com as mudanças e desafios da gestação

O Pré-natal psicológico torna-se uma ferramenta extremamente necessária, pois auxilia a grávida a lidar com as mudanças e desafios da gestação e a entender suas particularidades como alguém que está no espectro. Ele atua de forma preventiva e visa a promoção da saúde mental materna durante toda a gestação, no pós-parto ou puerpério. Pode ser realizado de forma individual ou em encontros grupais conduzidos por um psicólogo, podendo contar com uma equipe interdisciplinar. Tem caráter psicoeducativo e psicoterapêutico e visa desenvolver juntamente a gestante recursos e estratégias para lidar com suas emoções, comportamentos e dificuldades em relação ao medo, a ansiedade, as questões sensoriais e sua comunicação, dentre outras demandas.

No Brasil, temos o projeto de lei nº 2603/2022 que institui o programa de acompanhamento pré-natal e pós-parto no caso de gestante com transtorno do espectro autista – TEA em âmbito Federal. No projeto de lei, em seu artigo 2º diz que toda gestante no transtorno do espectro autista será considerada de alto risco e será atendida pela Atenção Secundária, com vistas a reduzir a taxa de mortalidade materna e infantil facilitando o diagnóstico e acompanhamento.

Sabemos que durante o período gestacional a mulher necessita de apoio e compreensão. No caso das autistas e devido as particularidades de seu transtorno vemos que este apoio e compreensão são redobrados.

 Pesquisadores tem contribuído através de seus estudos para que haja cada vez mais a adoção de políticas e práticas de saúde e assistência social, visando um maior acesso à informação e recursos que possam ajudar as mulheres grávidas que estão no espectro a vencer suas dificuldades nesta fase de suas vidas.

 

Referências:

CÂMARA DOS DEPUTADOS. Camara.leg, 2022. Disponível em: https://www.camara.leg.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=2335612. Acesso em 23 de outubro de 2023.

MULHERES AUTISTAS: GRAVIDEZ E PARTO. Instituto Inclusão Brasil, 2022. Disponível em: https://institutoinclusaobrasil.com.br/mulheres-autistas-gravidez-e-parto/#:~:text=As%20dificuldades%20com%20sensibilidade%20aumentada,indu%C3%A7%C3%A3o%20do%20trabalho%20de%20parto. Acesso em 23 de outubro de 2023.

MULHERES AUTISTAS: ELAS EXISTEM E PRECISAM DE ATENÇÃO. Instituto Singular. Org, 2023. Disponível em: https://institutosingular.org/mulheres-autistas/. Acesso em 23 de outubro de 2023.

MULHERES COM AUTISMO ESTÃO MAIS SUJEITAS A DESENVOLVER ANSIEDADE E DEPRESSÃO NA GRAVIDEZ, Academia médica.com, 2022. Disponível em: https://academiamedica.com.br/blog/mulheres-com-autismo-estao-mais-sujeitas-a-desenvolver-ansiedade-e-depressao-na-gravidez. Acesso em 23 de outubro de 2023.

GRÁVIDA E COM TEA: ATERRORIZADA COM A SENSAÇÃO DE TER ALGUÉM DENTRO DE MIM. Uol. Com, 2023. Disponível em: https://www.uol.com.br/vivabem/noticias/redacao/2023/02/24/gravida-e-com-tea-aterrorizada-com-sensacao-de-ter-alguem-dentro-de-mim.htm?cmpid=copiaecola. Acesso em 23 de outubro de 2023.

SAÚDE DA MULHER AUTISTA. Canal autismo, 2022. Disponível em: https://www.canalautismo.com.br/artigos/saude-da-mulher-autista/. Acesso em 23 de outubro de 2023.

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Relações amorosas no TEA

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Sim, pelo contrário do que muitos pensam pessoas autistas podem sim ter relações com outras pessoas

O autismo é um tema que traz muita curiosidade e interesse, mas também muitas dúvidas, como: O que é o autismo? Quais são as suas causas? Se essa pessoa pode se relacionar ou não? Essas são algumas das perguntas relacionadas às pessoas com TEA.

O autismo, ou transtorno do espectro do autismo (TEA), indica uma dificuldade que afeta as áreas da comunicação, socialização e do comportamento. As pessoas com autismo podem apresentar dificuldades para se expressar verbalmente e não verbalmente, para interagir com outras pessoas, para compreender regras sociais e para lidar com mudanças. Além disso, elas podem ter interesses por determinados assuntos ou atividades, e realizar movimentos repetitivos com o corpo ou objetos.

Não se sabe ainda as causas, mas acredita-se que exista uma forte influência genética, além de possíveis fatores ambientais que podem interferir no desenvolvimento cerebral, como uma má gestação, vícios como tabaco também podem influenciar. O autismo não tem cura, mas pode ser tratado com intervenções adequadas que visam melhorar a qualidade de vida das pessoas com essa condição e de suas famílias.

A palavra espectro autista indica que cada um é único, em sua forma de agir pensar, de interagir com as pessoas e a realidade a sua volta, por isso, é muito importante tratar cada um de uma maneira exclusiva, não generalizando seus comportamentos e sentimentos, pois cada um vê o mundo de maneiras diferentes.

 

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A palavra espectro autista indica que cada um é único, em sua forma de agir, pensar, de interagir com as pessoas(…).

Com isso podemos dizer que sim, a pessoa com espectro autista pode sim se relacionar com outras pessoas, tendo em vista que muitos autistas leves são diagnosticados muito posteriormente às vezes sendo confundida com uma pessoa tímida que não gosta de interagir.

O parceiro ou parceira de um(a) TEA tem que estar atento quanto a respeito as suas limitações, como a questão de se expressar sentimentalmente, às vezes pode ter uma dificuldade, mas também pode não ter, podem ter problemas para interpretar os sinais como gestos, expressões faciais os quais são importantes para um relacionamento. Além disso, eles podem ter preferências sensoriais diferentes, como gostar ou não de toques, abraços e beijos, o que pode afetar a forma como demonstram carinho e afeto.

Porém, os autistas possuem qualidades que podem ajudar nos relacionamentos os relacionamentos, como honestidade, lealdade, criatividade e sensibilidade. Eles também podem aprender a desenvolver habilidades sociais e emocionais com o apoio de profissionais, familiares e amigos.

 

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O amor é universal, e une perfeitamente todas as coisas.

Uma boa experiência para as pessoas conhecerem mais sobre esse assunto, é assistir um reality show que passa na Netflix, que tem o nome de “amor no espectro”, o que conta a história de casais autistas que procuram sua “alma gêmea”, e fala dos desafios mas também os prazeres dos casais, vale muito a pena conhecer.

Assim o autista sim pode ter seus  relacionamentos, o importante é que haja cooperação de ambas as partes. Cada um tem o seu jeitinho de amar e ser amado, a final o amor é para todos.

 

Referências Bibliográficas:

RELACIONAMENTOS AMOROSOS ENTRE PESSOAS TEA. Autismo e Realidade, 2023. Disponível em: <https://autismoerealidade.org.br/2023/06/12/relacionamentos-amorosos-entre-pessoas-com-tea/>. Acesso em: 29, agosto e 2023;

VARELLA, Dráuzio. POSSIVEIS CAUSAS DO AUTISMO. Uol.com.br, 2014. Disponível em: <https://drauziovarella.uol.com.br/drauzio/artigos/possiveis-causas-do-autismo-artigo/#:~:text=A%20explica%C3%A7%C3%A3o%20mais%20aceita%20para,que%20trafegam%20entre%20os%20neur%C3%B4nios.>. Acesso em: 29, agosto e 2023.

 

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