Avaliação Psicológica e testagem no contexto da adoção no Brasil

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Em 1996, comemorou-se pela primeira vez durante o 1º Encontro Nacional de Associações e Grupos de Apoio à Adoção o Dia Nacional da Adoção, que passou a compor o calendário oficial do país em 2002, através da Lei n.º 10.447. Desde então, o vigésimo quinto dia do mês de maio é uma data marcada por ações e campanhas que objetivam promover conscientização acerca do tema, e enquanto agente de transformação social inserido neste processo, é importante destacar o papel do profissional da psicologia neste contexto.

A adoção legal se dá em diferentes fases regulamentadas pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (1990) e a Lei 13.509/2017 (Brasil, 2017), que reconhecem a importância da avaliação e do profissional de psicologia nesse processo. Os interessados em adotar passam por uma avaliação psicológica com um perito da vara da infância, que irá averiguar as circunstâncias e condições sociais e psicológicas daqueles pretendentes para emitir um parecer, favorável ou desfavorável, sobre a habilitação daquele ou daqueles sujeitos. O laudo psicológico deve apresentar de forma sistemática a avaliação realizada de acordo com as normativas de Resoluções do CFP, o Código de Ética e a literatura científica, oferecendo estruturação, conteúdo e linguagem adequadas  e esclarecidas do percurso afetivo traçado no processo com objetivo de respaldar a decisão judicial. 

Mesmo com o aprimoramento constante desse processo, ainda existem desafios quando pensamos na burocratização e morosidade dele, além da subjetividade investida na análise. Existe também uma carência de pesquisas para além do laudo individual de cada processo que relatem de forma mais ampla as experiências de profissionais atuantes e pretendentes que passaram pelo mesmo, ou que investiguem as características, dificuldades e potencialidades dessa fase avaliativa, tanto em termos dos instrumentos empregados como no manejo das entrevistas e na condução das observações, nos permitindo lançar um olhar reflexivo sobre a variabilidade e complexidade da adoção. 

O rigor da avaliação deve ser quanto à aplicação e técnica, respaldada pelos princípios teóricos e éticos, sendo necessária uma compreensão não moralista e alienada em relação à consciência sócio-histórica da família para não incorrer em preconceitos, conscientes ou não, ao analisar os candidatos. Condições de ordem individual como orientação sexual, estado civil ou gênero não determinam as competências que serão analisadas no processo e o perito deve se ater a tais preconceitos e considerar os diversos arranjos familiares funcionais que formam a sociedade atual. 

Fonte: Pixabay

A autora Cintia Liana cita que “o olhar do observador deforma a realidade”, ou seja, não vemos as coisas como são, mas    como somos, o que representa um grande desafio ao lidarmos com questões abstratas. Nosso olhar, observações, análises, sentimentos e percepções frente às situações, são influenciados por nossa história pessoal. Dessa forma, não  existe neutralidade absoluta, mas o profissional deve ater-se em sempre priorizar o melhor interesse da criança ou adolescente, realizando seu trabalho de forma imparcial, por isso também a importância em seguir os preceitos avaliativos e de testagem a fim de manter a fidedignidade e validade do processo. Isso evidencia o caráter falível e limitante da avaliação psicológica e que mesmo o psicólogo mais bem preparado, munido dos melhores testes, aplicados com critérios rigorosos, pode incorrer em erro de hipótese, pois a realidade não é objetiva, previsível e estritamente quantificável. 

Normalmente a avaliação é feita em  forma de entrevista psicológica combinada com outras técnicas, onde são verificados estrutura familiar dos requerentes, comportamento, pensamentos, crenças, inseguranças, medos, preconceitos, fantasias, se as expectativas condizem com a realidade, perfil da criança desejada, os motivos do desejo deste perfil, o que pensam da paternidade, maternidade e educação, qual o lugar que será ocupado por essa criança/adolescente no imaginário parental, e o critério mais importante para grande parte dos avaliadores: a motivação verdadeira (inconsciente) que leva o requerente a pleitear a adoção, que deve ser baseada em um desejo legítimo de ter um filho. 

De acordo com Marcelo Tavares (2008), a entrevista clínica é muito importante no processo de avaliação psicológica pois é capaz de adaptar-se a diversidade de situações clínicas relevantes, e através da técnica explicitar particularidades que escapam a outros procedimentos, considerando as peculiaridades de cada caso, como testar os limites de aparentes contradições, observação atenta a expressões verbais e não verbais, além de conceder validade clínica às características indicadas pelos instrumentos padronizados. A entrevista é antes de tudo um contato social e a execução da técnica é influenciada pelas habilidades interpessoais do entrevistador, deste modo, depende do desenvolvimento destas para obtenção de êxito.

Fonte: Pixabay

O psicólogo pode utilizar ainda, por exemplo, técnicas de avaliação como testes psicométricos que avaliem por um viés quantitativo traços cognitivos, habilidades, interesses, motivações e necessidades, condutas sociais desviantes, ou mesmo testes projetivos de personalidade para a análise mais aprofundada da psiquê, ou que avalie crenças, valores e atitudes, processos afetivos e emocionais, na tentativa de resgatar e interpretar o inconsciente do indivíduo, além de instrumentos lúdicos para as crianças, questionários, reuniões e palestras para orientar os pretendentes e sanar possíveis dúvidas. Estes são apenas alguns exemplos, não há um teste específico utilizado para este contexto nem uma padronização da metodologia e é responsabilidade do psicólogo fazer a escolha do teste mais adequado ao contexto da avaliação e a população que se está avaliando, considerando também a linha teórica de sua atuação e se respaldando pela regulamentação vigente. 

A conduta profissional na Avaliação Psicológica deve ser orientada pelos princípios fundamentais e condutas do Código de Ética Profissional do Psicólogo, baseado nos direitos humanos universais, justiça social em diversos contextos e dignidade da atuação. Para além do conhecimento explicitado no Código e Resoluções do CFP, é de responsabilidade do psicólogo aperfeiçoar as competências necessárias para que desenvolva repertório suficiente que o permita agir diante de dilemas éticos (MUNIZ, 2018). Durante este processo cabe ao profissional avaliar, promover e acompanhar o amadurecimento da relação de  vínculo emocional e afetivo entre as partes, desmistificar preconceitos quanto à  história pré-adotiva da criança ou adolescente, despir-se de seus preconceitos e observar a situação através de uma perspectiva ampla, ética e sensível. Neste ponto evidencia-se a importância da formação em avaliação psicológica, bem como reciclagem e atualização profissional, como variável para diminuição das infrações éticas. 

Referências:

SILVA, Cintia Liana R. Psicologia de Família e Adoção: Avaliação Psicológica para Adoção. Joinville, SC. Disponível em:

<http://psicologiaeadocao.blogspot.com/2010/06/avaliacao-psicologica-para- adocao.html?m=1>, Acesso em: 25 maio 2021.

SATEPSI. Página institucional. Disponível em: <https://satepsi.cfp.org.br/>, Acesso em: 25 maio 2021.

BRASIL. Lei nº 13.509, de 20 de novembro de 2017. Dispõe sobre adoção e altera a Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990 (Estatuto da Criança e do Adolescente), a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), aprovada pelo Decreto-Lei nº 5.452, de 1º de maio de 1943, e a Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002 (Código Civil). Diário Oficial da União, Brasília, 22 de novembro de 2017; 196º da Independência e 129º da República.

CECÍLIO, M. S.; SCORSOLINI-COMIN, F. Avaliação de Candidatos Pretendentes no Processo de Habilitação para Adoção: Revisão da Literatura. Psico-USF, Bragança Paulista, v. 23, n. 3, p. 497-511, jul./set. 2018.

ALVARENGA, L.; BITTENCOURT, M.I. A delicada construção de um vínculo de filiação: o papel do psicólogo em processos de adoção. Pensando fam. vol.17 no.1 Porto Alegre jul. 2013.

ERTHAL, T. C. MANUAL. DE PSICOMETRIA. 8° Edição, 2003.

TAVARES, Marcelo. A entrevista clínica. In: CUNHA, Jurema Alcides. Psicodiagnóstico – V. 5 Porto Alegre: Artmed, 2008, p.45 – 56.

MUNIZ, Monalisa. Ética na Avaliação Psicológica: Velhas questões, Novas reflexões.  Psicol., Ciênc. Prof. (Impr). Out-Nov. 2018.

BRASIL. Lei nº 10.447, de 9 de maio de 2002. Institui o Dia Nacional da Adoção. Brasília, DF: Presidência da República, 1990.

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Avaliação Psicológica no Contexto da Cirurgia Bariátrica

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A cirurgia bariátrica é um procedimento médico que, tipicamente, é requisitado como método de tratamento da obesidade mórbida. Por causa de sua complexidade, esse procedimento abarca a atuação de vários profissionais, dentre os quais: o psicólogo. Em meio às inúmeras funções desse profissional, é realizada a avaliação psicológica no paciente que almeja ser submetido a bariátrica. Isto posto, será comentado a respeito da obesidade, o que é a cirurgia bariátrica e descrito o procedimento de avaliação psicológica nesse contexto.

Em primeiro lugar, é importante pontuar que, atualmente, a obesidade é descrita como doença crônica caracterizada pelo acúmulo excessivo de gordura corporal, associado aos riscos à saúde e comorbidades: dislipidemia, diabetes tipo 2, hipertensão arterial, apneia do sono etc. De acordo com a OMS (2016), a gravidade da obesidade pode ser categorizada em três níveis.

O primeiro é definido em relação ao Incide de Massa corporal (IMC) entre 30 e 34,9 kg/m². O segundo é quando o IMC está na faixa de 35 e 39,9kg/m². O terceiro é definido quando o IMC é superior a 40kg/m² (FLORES, 2014, p.59). Para além dos problemas físicos, a obesidade interfere nas relações interpessoais sob a forma de estigmas, discriminação e preconceito. Isso se dá porque a boa forma e a imagem corporal são aspectos enfatizados pela cultura ocidental, fator que aumenta o sofrimento das pessoas que destoam desse padrão.

Convém destacar que a orientação dietética, programação e inserção de atividade física na rotina do indivíduo, bem como o uso de fármacos anti-obesidade, apesar de serem os principais tipos de tratamento, muitos pacientes não respondem na manutenção da perda de peso. Portanto, perante a complexidade, o sofrimento e a gravidade da obesidade mórbida, a cirurgia bariátrica é uma abordagem indicada e eficiente para a redução e manutenção do peso nesses pacientes (SILVA, 2018, p.3).

Em segundo lugar, é importante esclarecer o que é a Cirurgia Bariátrica. De acordo com Flores (2014), no Brasil, o IMC acima de 40kg/m² ou maior que 35kg/m² com comorbidades são critérios que qualificam o paciente para a cirurgia, além de ter feito tratamento clínico insatisfatório por pelo menos dois anos. A cirurgia bariátrica pode ser definida como intervenções cirúrgicas para a redução do estômago aliadas a implantação de artefatos nessa localidade que visem proporcionar a redução do peso do paciente.

De modo geral, a cirurgia bariátrica pode ser categorizada em três tipos: gastroplastia vertical com bandagem, Lap Band, Cirurgia de Capella e Bypass. Tipicamente, os resultados esperados com essa intervenção são a perda de peso, redução das comorbidades e a melhora na qualidade de vida (APPOLINÁRIO; BENCHIMOL; COUTINHO e FANDIÑO. 2004, p.48). Paralelamente, de acordo com o Consenso Latino Americano de Obesidade, a avaliação dos candidatos no pré e pós-operatório deve ser feita por uma equipe multidisciplinar composta por nutricionistas, psicólogos, endocrinologista, cardiologistas, pneumologistas, psiquiatras e cirurgiões (Silva, 2018, p.4).

Em terceiro lugar, é importante pontuar o papel do psicólogo nesse processo. De acordo com o Conselho Federal de Medicina, o psicólogo e/ou psiquiatra que integram a equipe de avaliação pré-operatória, precisam averiguar a possibilidade de uso de substâncias, quadros psicóticos ou demenciais no paciente, bem como o nível intelectual e cognitivo de compreensão dos riscos da operação e cuidados necessários durante o procedimento durante o pós-operatório. Nesse sentido, Flores (2014) contribui na exposição de elementos fundamentais na processo de avaliação psicológica dentro do contexto da cirurgia bariátrica: fatores relevantes, recursos utilizados, tempo de duração e a sua importância.

Para a autora, os aspectos mais importantes para a se considerar um paciente apto ou inapto para a cirurgia são: a compreensão do paciente quanto à operação e as mudanças de estilo de vida necessárias; expectativas sobre os resultados; habilidade de adesão às recomendações do procedimento; comportamento alimentar; comorbidade psiquiátricas; motivos para a realização do procedimento; suporte social; uso de substâncias; status socioeconômico; satisfação conjugal; cognição; autoestima; histórico de trauma/abuso; qualidade de vida e ideação suicida.

Em termos de recursos, a entrevista clínica e a testagem psicológica são instrumentos fundamentais para a coleta de informações sobre o funcionamento psicológico do paciente, uma vez que a entrevista psicológica coleta dados subjetivos sobre o ajustamento psicológico do paciente, os quais, por sua vez, são complementados pelas medidas objetivas da testagem psicológica. Cabe pontuar que os instrumentos de avaliação mais citados na literatura são: o Inventário de Depressão de Beck e Inventário Multifásico Minnesota de Personalidade. Porém, além desses instrumentos não serem criados com o foco na avaliação doo paciente bariátrico, não são aprovados pelo Conselho Federal de Psicologia e, portanto, vedado o uso pelos psicólogos. Nesse sentido, instrumentos como o Boston Interview (protocolo de avaliação) e o PsyBari (teste psicológico) foram criados para suprir essas demandas, porém não são traduzidos e adaptados para a cultura do Brasil.

A respeito do tempo de duração, nota-se que não há consenso na literatura a esse respeito. Apesar disso, é possível, segundo a autora, inferir que esse procedimento exija mais do que uma sessão, uma vez que deverá ser aplicado testes e realizada a entrevista clínica.

Sobre a importância da avaliação psicológica, é pontuado que prepara o paciente para o período pós-operatório, aumentando a probabilidade dos resultados da cirurgia. Além disso, a avaliação psicológica prepara o paciente para procurar ajuda, caso perceba dificuldade após o procedimento. Vale destacar que nesse momento, realiza-se a psicoeducação sobre as mudanças consequentes à cirurgia bariátrica, bem como fornecido apoio psicológico e preparo ao cliente para as mudanças exigidas na fase pós-operatória.

Torna-se evidente, portanto, a necessidade da avaliação psicológica no contexto da cirurgia bariátrica e o papel do psicólogo nesse processo complexo. Contudo, é importante ressaltar a necessidade de pesquisas sobre o tema no sentido de traduzir e elaborar testes e prólogos de avaliação psicológica específicos para esse procedimento de acordo com a cultura brasileira. Dessa forma, os pacientes que buscam fazer a cirurgia bariátrica terão maior probabilidade de sucesso nesse procedimento.

REFERÊNCIAS

1 FANDIÑO, J. et al. Cirurgia Bariátrica: Aspectos Clínico-Cirúrgicos e Psiquiátricos. Revista de Psiquiatria do Rio Grande do Sul [online]. 2004, v. 26, n. 1 Acessado 22 Novembro 2022, pp. 47-51. Disponível em: https://doi.org/10.1590/S0101-81082004000100007

2 FLORES, Carolina AitaPsychological assessment for bariatric surgery: current practices. ABCD. Arquivos Brasileiros de Cirurgia Digestiva (São Paulo) [online]. 2014, v. 27, suppl 1 Acessado 22 Novembro 2022, pp. 59-62. Disponível em: https://doi.org/10.1590/S0102-6720201400S100015. ISSN 0102-6720. https://doi.org/10.1590/S0102-6720201400S100015.

3 SILVA, P. F. S. Avaliação Psicológica para Cirurgia Bariátrica. Revista On-Line IPGO: Goiânia – Ano 9, Edição nº 16 Vol. 0, (2018).

Autora: Jennifer Lorena Riveros Lima Mascarenhas

Coparticipação: Ana Paula de Lima Silva

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Os cuidados éticos da/o psicóloga/o na Avaliação Psicológica

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Ocorreu no dia 25/05 o 3º Simpósio Tocantinense de Avaliação Psicológica, que contou com uma mesa redonda para a abertura do evento

No dia 25 de Maio (25/05) ocorreu o 3º Simpósio Tocantinense de Avaliação Psicológica no CEULP/ULBRA. O evento, que durou o dia todo, contou com uma mesa redonda, oficinas, apresentação cultural e uma palestra de encerramento. O simpósio teve como pauta os diversos aspectos da avaliação psicológica nos âmbitos da prática profissional da Psicologia.

Como abertura do evento, foi realizada uma mesa redonda às 09h30. Essa mesa redonda contou com as psicólogas convidadas: Keila Barros Moreira, Ana Beatriz Dupré Silva, e com Ester Borges de Lima Dias como representante da Psicotestes, apoiadora do evento. A mediadora foi Ruth do Prado Cabral, docente de Psicologia da CEULP/ULBRA. O foco da mesa redonda foram as diversas técnicas e métodos utilizados na avaliação psicológica, e também como ela se dá na prática de cada uma das convidadas.

No início da mesa redonda, logo depois da apresentação de cada uma das convidadas, a psicóloga Ana Beatriz Dupré abriu levantando a Resolução 09/2018, que foi estabelecida pelo Conselho Federal de Psicologia como as diretrizes para a Avaliação Psicológica no exercício profissional da psicóloga e do psicólogo, regulamenta o Sistema de Avaliação de Testes Psicológicos.

Foram levantadas por Ana Beatriz Dupré também questões sociais como o fato de o psicólogo está como alguém que sempre está sendo avaliado socialmente, por ser uma pessoa que “sempre avalia”. A avaliação é o ponto de partida para as intervenções, e não a ‘chegada’, e não há a obrigatoriedade de entregar um laudo que possua um diagnóstico com DSM-V e CID-10. Ana Beatriz também frisa que é necessário focar no que é demandado, e não no que você vê além disso, por conta de isso gerar muitas ramificações dentro do processo de avaliação psicológica.

Fonte: Acervo da Autora

A psicóloga Keila Barros Moreira complementou a fala da psicóloga Ana Beatriz, levantando também questões da complexidade do percurso histórico. Existe algo de fundamental em entender a história que trouxe a sociedade ao momento presente, e os impactos que esses percursos geram nos avaliandos. Ela também levantou os questionamentos sobre como o psicólogo atua em relação aos fracassos escolares e as diferenças individuais, pois existem vieses diferentes. O psicólogo atua em uma forma de rotular e excluir, descontextualizar, ou de inclusão e compreensão? Tal contextualização é algo importante na formatização da avaliação.

Keila levantou também a necessidade de se trabalhar pela Avaliação Terapêutica, proposta por Stephen Finn, Constance Fischer, e colaboradores. Nessa proposta dos autores, é feita uma avaliação psicológica colaborativa entre o avaliando e o avaliador, no qual o teste psicológico é usado como centro de uma intervenção terapêutica de um tempo limitado, de uma forma que os testes servem para dar luz e incentivar o processo de melhora e/ou cura. Outra questão questionada por Keila Barros é a necessidade de se entender as diferenças nas vivências pessoais dos avaliandos, lembrando a todos os que assistiam a mesa redonda de eventos como a Apartheid, a supremacia branca, questões históricas e de gênero que trazem diferenças nas lentes das quais a pessoa que é avaliada vive, e os percursos feitos. Existe a necessidade na avaliação de enfatizar as potencialidades do avaliando, e não as dificuldades.

A psicóloga representante da Psicotestes, parceira do evento, trouxe como ponto importante a evolução do processo de avaliação psicológica por conta da possibilidade de avaliação e testagem de forma online, situação que foi necessária durante a pandemia e o isolamento social. A pandemia de COVID-19 tirou o psicólogo de sua zona de conforto, colocando-o para criar e inovar. Também tem a necessidade de atenção às orientações da APA (American Psychological Association) para a aplicação de testes.

A mesa redonda teve encerramento com perguntas por parte da plateia, que perguntaram sobre a adaptação para a modalidade online, assim como questões políticas.

Fonte: Acervo da Autora
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3º Simpósio de Avaliação: Avaliação psicológica e SUS

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No dia 25 de maio de 2022, às 14h, se deu início a oficina de avaliação psicológica e SUS ministrada pela psicóloga, Lissa Maciel, residente em saúde da família e comunidade, pós-graduada em Neuropsicologia. Em um espaço de conhecimento e grande abertura para eventuais dúvidas e perguntas, Lissandra nos levou a refletir ‘’Existe avaliação psicológica onde a gente acredita que existe’’.

Quando pensamos em avaliação psicológica muitas vezes nos limitamos a certos conceitos como a clínica, dentro do SUS pensamos em avaliação para um processo cirúrgico ou para um laudo específico. Essa oficina veio desmistificar essas crenças e ampliar nossos olhares.

Ao iniciar a oficina, foi feita uma dinâmica em que teria que ser dito, com uma frase ou palavra. O que se pensa, quando falamos de avaliação psicológica e SUS? Deixo aqui também essa pergunta, para que antes de você prosseguir com a leitura, possa refletir.

 

Fonte: arquivo pessoal

Logo depois, em um primeiro ponto, entendemos como se dá a estruturação do SUS. Sendo a unidade básica de saúde a porta de entrada do SUS, suas atividades são mapeadas por áreas de atuação e região, fornecendo um acompanhamento mais próximo à comunidade através dos agentes de saúde. Os principais serviços oferecidos pela UBS são consultas médicas, inalações, curativos, vacinas, coleta de exames laboratoriais, tratamento odontológico, fornecimento de medicação básica e o encaminhamento para outras especialidades clínicas. Entendemos também o SUS como sendo uma estrutura dinâmica, e para todos, existindo uma diversidade de usuários, atendendo desde quem não tem o que comer até quem anda de Mercedes. A atuação do psicólogo no SUS se da pelo NASF, que é o núcleo de apoio à saúde e à família. Esse núcleo é composto por profissionais de diferentes áreas do conhecimento que, atuando de maneira integrada às equipes de saúde da família.

Trabalhar no SUS é uma coisa tão linda e eficiente, me apaixonei por aquele fazer” – Lissandra Maciel

Em um segundo momento entendemos o conceito de avaliação psicológica , que de acordo com CFP (2018): ‘’ É definida como um processo estruturado de investigação de fenômenos psicológicos, compostos por métodos, técnicas e instrumentos com o objetivo de promover informações à tomada de decisão no âmbito individual, grupal ou institucional, com base em demandas, condições e finalidades específicas.’’ Onde compreendemos através da psicóloga mediadora a avaliação psicológica, como um processo sendo, que seu resultado final nem sempre é um laudo.

Fonte: arquivo pessoal

Outro ponto pautado foram as etapas da avaliação psicológica, que de acordo com Lissandra se dividem em; levantamento dos objetivos e das particularidades do indivíduo, coleta de informações, integração das informações e desenvolvimento das hipóteses iniciais, indicação das respostas à situação e motivador da avaliação e resultados.

Por fim o mais esperado, o contexto da avaliação psicológica dentro do SUS, onde entende-se a avaliação como parte necessária a demanda levantada pelo usuário, sendo abordados nessa prática a anamnese, histórico (prontuário eletrônico do e- SUS) discussão de caso com a equipe de referência, relatório escolares (quando preciso), relatório de outras instituições, atendimentos em grupos, jogos e instrumentos e atividades informais para a observação e análise clínica. Logo entendemos que a avaliação psicológica cabe em diferentes contextos, mesmo perante aos desafios, que dentro do SUS são muitos, entre eles uma estrutura fisicamente limitada, poucos recursos e materiais, muitas demandas e poucos profissionais.

Para fechar com chave de ouro, participamos de um estudo de caso.

Através dessa oficina aprendemos muito, refletimos e pensamos fora da ‘’caixinha’’ percebendo os diferentes caminhos que a avaliação psicológica pode ter. Além de todo o conhecimento Lissandra deixou uma dica valiosa para os acadêmicos: ‘’Aproveitem cada segundo dentro da graduação, daqui você vai se formar e viver o conhecimento que se tem lá fora’’.

Fonte: arquivo pessoal

REFERÊNCIAS

SECRETARIA DE SAÚDE. ”núcleo de apoio à família ‘’ . sidebar. 2020 Disponível em

< http://www.saude.ba.gov.br/atencao-a-saude/dab/nasf/> acesso em 30 de maio de 2022

CFP. Resolução 09/2018, que regulamenta a Avaliação Psicológica. cfp.ogr. 2018. Disponível em <https://site.cfp.org.br/nova-resolucao-sobre-avaliacao-psicologica/>. Acesso em 30 de maio de 2022.

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Psicologia Jurídica em pauta durante Simpósio

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Na tarde de quarta feira, vinte cinco de maio foi realizada a oficina  “Avaliação Psicológica no Contexto Forense: Um Olhar para Crianças e Adolescentes Vítimas de Violência”, como parte da programação do 3° Simpósio Tocantinense de Avaliação Psicológica, realizado nas dependências do Centro Universitário Luterano de Palmas – CEULP/ULBRA.

Com mediação da psicóloga Janinne Costa Rodrigues (CRP 23/1861), e colaboração da psicóloga convidada  Ana Flávia Drumond, a oficina trouxe inicialmente um panorama a respeito da psicologia jurídica. Especialidade da psicologia reconhecida pelo Conselho Federal de Psicologia por meio da resolução N.º 013/2007, a psicologia jurídica se desenvolve no âmbito da justiça “colaborando no planejamento e execução de políticas de cidadania, direitos humanos e prevenção da violência, centrando sua atuação na orientação do dado psicológico repassado não só para os juristas como também aos indivíduos que carecem de tal intervenção” (CFP, 2007, p.19). 

Foram apresentadas as diferentes áreas de atuação dentro da psicologia jurídica, a psicologia criminal, penitenciária, investigativa e psicologia forense. A avaliação psicológica no contexto forense tem o objetivo de dar respostas  a questões legais com requerimento realizado por parte de um magistrado, tal como dos órgãos de justiça (GUILLAND; LABIAK; CRUZ, 2021). Foi ressaltado a importância do profissional de psicologia forense em conhecer os aspectos relacionados à legislação, uma vez que a avaliação psicológica forense corrobora para produção de provas.  

As demandas de avaliação psicológica encaminhadas ao psicólogo forense são em grande parte de alta complexidade. independente da instituição de justiça que solicite a avaliação psicológica é necessário um olhar “altamente qualificado e de responsabilidade para que o operador do direito tenha a chance de ampliar seu entendimento sobre o dilema a ser julgado” (SILVA, 2020, p.52). Essas solicitações de avaliação psicológica costumam acontecer em um contexto de vulnerabilidade, disfuncionalidade e violência, sendo fundamental um posicionamento ético, que resguarde a dignidade dos avaliados.  

A oficina gerou provocações, um espaço de debate e conhecimento a  respeito da avaliação psicológica no contexto forense. Com essas e outras questões, foi promovido um espaço de interação e aprendizado entre os participantes. 

Referências

CONSELHO FEDERAL DE PSICOLOGIA. Resolução CFP N.º 013/2007. Institui A Consolidação das Resoluções Relativas Ao Título Profissional de Especialista em Psicologia e Dispõe Sobre Normas e Procedimentos Para Seu Registro.. Disponível em: https://site.cfp.org.br/wp-content/uploads/2008/08/Resolucao_CFP_nx_013-2007.pdf. Acesso em: 27 maio 2022.

GUILLAND, Romilda; LABIAK, Fernanda Pereira; CRUZ, Roberto Moraes. Avaliação psicológica de crianças vítimas de violência nas Varas Criminal e Infância e Juventude. Revista Plural, Florianopolis, v. 3, n. 2, p. 6-18, dez. 2021. Disponível em: https://crpsc.org.br/ckfinder/userfiles/files/Revista%20Plural_v1_n3_dezembro_2021_ok.pdf. Acesso em: 26 maio 2022.SILVA, Evani Zambon Marques da. Avaliação e perícia psicologica no contexto forense. In: HUTZ, Claudio Simon; BANDEIRA, Denise Ruschel; TRENTINI, Clarissa Marceli; ROVINSKI, Sonia Liane Reichert; LAGO, Vivian de Medeiros (org.). Avaliação Psicológica no Contexto Forense. Porto Alegre: Artmed, 2020. Cap. 4. p. 43-54. Disponível em: https://play.google.com/books/reader?id=KmXDDwAAQBAJ&pg=GBS.PT53.w.5.0.10_79&hl=en. Acesso em: 26 maio 2022.

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Avalição Neuropsicológica do Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade

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O 3º Simpósio de Avalição Psicológica Tocantinense ocorreu no dia 25/05/2022 e expôs temas extremamente atuais e relevantes para a sociedade moderna no quesito psicossocial.

Dentre os temas abordados, destaca-se a Avalição Neuropsicológica do Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade, que foi ministrado pela Psicóloga Karlla Garcia Ferreira, egressa do Curso de Psicologia do CEULP/ULBRA.

Por ser um transtorno que tem ganhado grande visibilidade, graças às redes sociais e a internet, discutir sobre o TDAH neste simpósio se mostrou muito assertivo, pois acrescentou grande conhecimento para os futuros profissionais da saúde mental.

Karlla mostrou dominância sobre o tema, expondo com maestria os fatos que rodeiam o TDAH, aqueles que são falsamente disseminados e os que realmente possuem embasamento científico.

Expor o que é o TDAH é um desafio para aqueles que desconhecem o tema, fazer entender para o paciente que sua falta de concentração não está ligada com preguiça ou desanimo é um papel fundamental do psicólogo.

O TDAH afeta uma gama imensurável de pessoas, vez que grande parte da população sequer sabe que porta tal condição, levando a vida, muitas vezes, como pessoas fracassadas ou sem propósitos.

Fonte: encurtador.com.br/jtQSY

Durante sua apresentação, expôs inclusive sobre os subtipos do TDAH, que são: a) predominantemente desatento; b) predominantemente hiperativo/impulsivo, ou combinado; e, c) uma combinação de ambos, tendo sintomas de desatenção e hiperatividade.

Explicou ainda que tanto os fatores genéticos quanto ambientais estão implicados e conferem vulnerabilidade ao transtorno. Um indivíduo não necessariamente carregará consigo as duas condições do TDAH, desatenção e hiperatividade.

Interessante ainda mencionar que Karlla trouxe um vídeo de uma rede social que publica recorte de entrevistas, ou, como são conhecidos, podcasts. Neste vídeo é explicado que, apesar de muitas vezes ser associado como alguém desatento, uma pessoa que possua o transtorno, na verdade, possui um grande nível de atenção, porém, não consegue sustentar sua atenção em uma única coisa. No vídeo ainda é indicado uma região do cérebro, o tálamo, que possui o papel de filtrar as informações sensoriais.

A palestrante ainda explicou a importância do diagnóstico, posto que mediante este será possível adequar o tratamento para minimizar os sintomas do TDAH no cotidiano do indivíduo portador deste transtorno, vez que é uma condição biológica que o acompanhará por toda vida.

Em suma, a convidada apresentou um tema extremamente importante, relevante e que pode atingir os profissionais da psicologia em geral para alcançar diversos pacientes que se sentem deprimidos por não possuírem a atenção que lhes são cobradas no ambiente de trabalho, familiar ou socialmente. Aquilo que muitas vezes é chamado de preguiça pela sociedade pode ser, na verdade, um transtorno que a pessoa que sofre sequer tem conhecimento e necessita de tratamento psicológico.

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(En)Cena entrevista a psicóloga Keila Barros Moreira

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No dia 25/05 o 3º Simpósio Tocantinense de Avaliação Psicológica irá contar com a psicóloga Keila Barros Moreira

O 3º Simpósio Tocantinense de Avaliação Psicológica contará com uma mesa redonda como abertura do evento, tendo como convidadas as psicólogas Ana Beatriz Dupré Silva, Keila Barros Moreira, e Ester Borges de Lima Dias. A psicóloga responsável pela mediação será Ruth Prado Cabral como mediadora. O tema a ser abordado é “Métodos e Técnicas da Avaliação Psicológica”.

Através da estagiária Giovanna Gomes, foi feita uma entrevista para o (En)Cena com a psicóloga Keila Barros Moreira, psicóloga que será uma das três convidadas a participarem da mesa redonda do 3º Simpósio Tocantinense de Avaliação Psicológica. Como uma forma de aproximar os inscritos dos convidados, a psicóloga respondeu algumas perguntas do (En)Cena.

Ao ser perguntada sobre a sua área e tempo de atuação, a psicóloga respondeu:

Atuo na clínica desde 2014 em consultório próprio, percurso que se materializou em 2019 na criação da – Nova Instituto de Psicologia, onde além de mim atendem mais 6 psicólogos.

 Sou Especialista em Atendimento Sistêmico de Famílias e Redes Sociais e mestranda do Programa de Pós-graduação em Ensino de Ciências e Saúde da UFT, onde estou pesquisando métodos educativos sobre luto para trabalhar transgeracionalmente com os idosos da Universidades da Maturidade – UMA e seus familiares.

Fonte: encurtador.com.br/fkqKP

Ao falar sobre como é a caracterização da avaliação psicológica no país, a psicóloga fala sobre a necessidade da Psicologia de superar o paradigma construído na história da Psicologia de rotular, diagnosticar, adequar, ajustar as pessoas em um perfil ou em perfis específicos.

Eu vejo que em nível de Brasil ainda precisamos superar o paradigma construído na história da Psicologia de rotular, diagnosticar, adequar, ajustar as pessoas em um perfil ou em perfis específicos. É uma luta histórica de a psicologia deixar de atuar nesse sentido e atuar respeitando as singularidades humanas e as diversas formas de manifestar tais singularidades.

Em nível de Estado, atuei como conselheira do Conselho Regional de Psicologia da 23ª Região – Tocantins, no triênio 2016 a 2019. Estive como presidente da COF – Comissão de Orientação e Fiscalização em parte desse período. Estive como membro da Comissão de Psicologia Clínica do CRP/23 de janeiro/2020 a fevereiro/2022.

Enquanto  conselheira, além de Palmas, visitei várias cidades do Tocantins, orientando e fiscalizando os profissionais.  O que víamos  com maior frequência, era a falta de conhecimento dos psicólogos sobre o processo de avaliação, o que acabava incorrendo em erros e faltas éticas.

É responsabilidade do profissional se qualificar, buscar conhecimentos e aceitar somente serviços para os quais esteja apto para realizar com rigor técnico e ético como prevê nosso Código de Ética.

Os CRP’s também devem fazer o que lhes cabe, orientar e fiscalizar. Porém, na prática, os Conselhos não têm ‘pernas’ para fazer o que deveriam.

O número de profissionais só tem aumentado e os Conselhos atuam com uma equipe muitas vezes reduzida e com pouca estrutura  para o tamanho das demandas, e apesar da boa vontade e dedicação dos  conselheiros e equipe  não dão conta de atender tudo o que deveriam.

Percebo que o CFP tem oferecido espaços de construção conjunta com os CRP’s na atualização das orientações à categoria. Eu mesmo participei desse processo de atualização da resolução que orienta a confecção dos documentos emitidos pelo psicólogo, incluindo os oriundos de avaliação psicológica, infelizmente esse momento ocorreu com pouca adesão da categoria, não só no Tocantins, mas em todo o Brasil. A resolução citada, é a 06 de 2019, que foi disponibilizada inclusive comentada, no intuito de fazer com que fosse acessível para o maior número de profissionais.

Eventos como o que irá acontecer têm um importante papel, de criar espaços de diálogos e trocas que possibilitem uma formação crítica, técnica e ética desses profissionais.

Fonte: encurtador.com.br/dwNOY

Ao ser perguntada sobre como é realizada a avaliação psicológica na prática de trabalho atual dela. Keila Barros aponta a necessidade de uma postura curiosa e provocativa, muito retratada dentro da Psicologia Sistêmica.

Para mim, o primeiro passo, a partir de uma postura curiosa, é buscar entender a demanda e provocar o demandante sobre os motivos que a(o) trouxeram para a avaliação psicológica. Não é incomum perceber que a demanda é externa e que não é o mais urgente no momento. Por exemplo, alguém que está sofrendo por não se enquadrar nas demandas escolares, e o nível de sofrimento se sobrepõe à necessidade do processo avaliativo. Talvez a situação exija outras formas de atuar, como a psicoterapia, orientação aos pais. Alguns questionamentos devem ser feitos inicialmente, como por exemplo: Porque buscaram a  avaliação? O que significa a avaliação? O que buscam avaliar? Como está o contexto desse indivíduo? O contexto tem influenciado na demanda?  Avaliação é uma necessidade de quem? Quais são as expectativas do processo avaliativo? Como se sentem com o que escutam de si e do outro sobre esse processo?  

Muitas vezes na sociedade competitiva e acelerada que vivemos, como pouco ou nenhum tempo de viver as emoções, os ciclos e processos, com o intuito de uma resposta/solução rápidas, buscamos diagnosticar comportamentos humanos e esperados em processos de mudanças como, por exemplo, a transição da infância para a adolescência, mudança de cidade e trabalho, separação, lutos…

O que estou tentando dizer, é que precisamos de um olhar crítico como psicólogos,  para não aderir mais ao lugar de avaliar e ajustar as pessoas, em prol da padronização ou de um sistema educacional ou político. Precisamos normalizar as nossas humanidades, que nos coloca como seres que tem qualidades, limites, vulnerabilidades e necessidades, que não vão saber ou dar conta SEMPRE, é isso não é um defeito ou atestado de incompetência, é nossa humanidade se manifestando, é deveria estar tudo bem. 

Quando necessária a avaliação psicológica precisa ser realizada com todos os critérios éticos e técnicos, levando em consideração seu caráter dinâmico e não cristalizado. Deve ser fundamentada na abordagem e pressupostos teóricos do profissional, o documento deve ter uma linguagem acessível, e deve ser construído a partir de um raciocínio que leve em consideração as singularidades, os diversos contextos relacionais e territórios sociais vivenciados pelo sujeito, a nível micro e macro.

Sobre existir algum aspecto da avaliação psicológica da qual ela considera mais importante de ser praticado com habilidade e/ou cautela, a psicóloga responde:

Devemos ser curiosos,  atentos, bom ouvintes, com a capacidade de realizar perguntas reflexivas e provocativas, de analisar e contextualizar, de distinguir as pistas do caminho percorrido com o avaliando sem a interferência das hipóteses levantadas pelo demandante e das nossas próprias crenças. Trata-se de um processo imprevisível, inédito e surpreendente!

Precisamos também ter questionamentos e críticas com relação ao processo avaliativo, se não, corremos o risco de incorrer nos mesmos erros do passado. 

A Avaliação Psicológica como campo do saber tem servido a que? Ou a quem?

Em que medida ainda temos servido aos desejos da normatização/adequação? Os diagnósticos psicológicos têm contribuído com o que ou quem? Qual o impacto dos diagnósticos na vida das pessoas? Um diagnóstico define alguém?

Recentemente houve a tentativa de incluir a velhice como patologia no CID 11, sem contar a patologização de comportamentos infantis e da adolescência,  não deveríamos questionar qual tem sido o nosso papel social em tudo isso? 

Apesar de ter construído algumas respostas a partir da minha experiência, meu objetivo aqui não é esse, dar respostas… mas sim,  provocar reflexões sobre o que temos feito, como temos feito e qual o impacto do que temos feito no outro, mas também em nós.

Fonte: encurtador.com.br/elvG9

Dentro da avaliação psicológica, existe sempre uma divergência entre a utilização ou não de testes. Por conta disso, foi levantada a pergunta entre a relação de vantagem e desvantagem da não utilização de testes, e a psicóloga respondeu:

Não colocaria dessa forma, é algo bem complexo para ser respondido de maneira simples.  A partir da identificação de qual é o objetivo da avaliação, da demanda, especificidades do avaliando e contexto, o psicólogo deve se questionar quanto aos métodos mais adequados para seus objetivos. Há uma diversidade de técnicas e instrumentos, entre eles os testes. Os testes cabem em todas as demandas? Penso que esta é uma boa pergunta para começar.

Por exemplo, uma avaliação para laqueadura, se com uma anamnese detalhada a pessoa demonstra ter um planejamento familiar, transmite segurança, tem consciência dos riscos de  fazer um procedimento irreversível, eu preciso aplicar um teste para confirmar o que já está claro? Ou os testes são uma forma de quantificar e validar as percepções do psicólogo?  Será que eles auxiliam para que os documentos psicológicos sejam mensuráveis e confiáveis?

Existe sempre a expectativa de que a avaliação psicológica deve fornecer respostas ou hipóteses de uma forma diretiva. Em relação a isso, Keila Barros responde e até mesmo cita autores contemporâneos como uma forma de reflexão e contribuição sobre o assunto.

Eu penso que a psicóloga(o) deve estar muito atenta, não só sobre quais são os objetivos e percurso da avaliação psicológica, mas também sobre a complexidade das pistas/respostas. É importante, como já disse, deixar claro o caráter não cristalizado do processo avaliativo. A avaliação psicológica, trata-se de um retrato do momento presente do indivíduo. Então ela não define, ela não restringe àquela pessoa há um jeito de ser e viver. Se isso não ficar claro para o profissional, infelizmente para o demandante ficará menos ainda.

Considero importante também,  enfatizar os aspectos positivos do indivíduo, e principalmente,  apresentar os aspectos tidos como ‘negativos’ como parte da constituição desse sujeito. Não é algo que deva ser negado ou excluído de nossa completude, ou do qual deveríamos nos envergonhar, faz parte de nosso universo interior. Mesmo que desejemos mudar comportamentos, não deveríamos vê-los como pecados capitais. Eu sei que essa tem sido uma construção social, buscar a perfeição, atender estereótipos/padrões pré-definidos etc. precisamos trabalhar arduamente para transpor esse paradigma de uma vez por todas.

Distingo que muitos autores e teorias contemporâneas convergem e contribuem nesse sentido. Maturana (2002), Rosenberg (2006), Aun, Vasconcellos e Coelho (2012), Bauman (2014), Brown (2013), Santos (2019)  trazem cada um à sua maneira, reflexões que nos levam à necessidade de acolher como parte de nós nossas vulnerabilidades e sentimentos que embasam comportamentos considerados negativos, que respaldam nossas necessidades, isso nos fortalece, nos liberta das prisões dos estereótipos sociais, nos conecta com nossa essência.

Primeiro porque as nossas multifacetas constituem nossa singularidade humana; segundo, eu só posso mudar em mim, o que reconheço existir; terceiro, é preciso distinguir, se a mudança é algo que escolho/desejo/necessito ou é uma demanda externa que busca me enquadrar em comportamentos padrões? Quarto, eu não me torno alguém defeituoso por ser diferente, por ser quem sou,   quando nós acolhemos, somos capazes de mudanças extraordinárias e também como assinala Maturana, de aceitar o outro como genuíno outro na relação.

No final da entrevista, foi feito o seguinte questionamento: Que competências um psicólogo necessita para realizar avaliação psicológica?. Do qual a nossa psicóloga entrevistada respondeu:

Acho que respondi essa na quarta pergunta rsrs! Além de muito do que já foi citado, precisa se identificar com os constructos do processo avaliativo, por favor, não fazer por fazer! Deve aprofundar, se qualificar, buscar conhecimentos que o capacitem para desenvolver um bom trabalho. Como já dito, respeitando os aspectos legais, éticos e técnicos do processo. E principalmente, tendo um olhar curioso e raciocínio crítico do processo avaliativo e de seus impactos no sujeito e sociedade.

REFERÊNCIAS

BAUMAN, Zygmunt. Amor líquido: sobre a fragilidade dos laços humanos. Rio de. Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2004.

MATURANA, H. Emoções e Linguagem na Educação e na Política. Tradução de José Fernando Campos Fortes. 3ª Reimpressão. Belo Horizonte. Editora UFMG, 2002.

SANTOS, E. Educação Não Violenta: Como estimular autoestima, autonomia, autodisciplina e resiliência em você e nas crianças. Editora: Paz & Terra, 2019.

ROSENBERG, Marshall B. Comunicação Não-Violenta: técnicas para aprimorar relacionamentos pessoais e profissionais. 2 ed. São Paulo: Ágora, 2006.

AUN, Juliana Gontijo, VASCONCELOS Maria José Esteves & COELHO Sônia Vieira. Atendimento Sistêmico de famílias e redes sociais: Volume I – Fundamentos Teóricos e Epistemológicos. 3ª edição, Ed. Belo Horizonte: Ophicina da Arte & Prosa, 2012.

BROWN, Brené. A coragem de ser imperfeito. trad. Ana Rita Mendes ; rev. Maria João Amorim. – 1ª ed. – Amadora : Nascente, 2013. – 237, [1] p. ; 24 cm. – Tít. orig.: Daring greatly. – ISBN 978-989-668-199-0

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Simpósio aborda Avaliação Psicológica no Contexto Forense

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Estão abertas as inscrições para o 3° Simpósio Tocantinense de Avaliação Psicológica, que acontece no próximo dia 25 de maio, nas dependências do Centro Universitário Luterano de Palmas – CEULP/ULBRA. O evento é aberto a acadêmicos, egressos e profissionais da área, e têm o intuito de abordar as nuances da aplicação da avaliação psicológica nos mais diversos contextos de atuação do profissional de psicologia.

As vagas são limitadas, e as inscrições para o evento devem ser realizadas por meio do site:  https://ulbra-to.br:8051/sig/extensao/acoes/629/detalhes/. A inscrição dá acesso a mesa redonda, 1 (uma) oficina, ao momento cultural e a palestra de encerramento.  A programação do evento terá início às 08h da manhã, com o credenciamento, a ser realizado no Hall do auditório central. Às 9h da manhã no auditório central ocorrerá a mesa redonda que abordará os “Métodos e Técnicas da Avaliação Psicológica”.

Às 14h serão realizadas oficinas, com temáticas que permeiam a Avaliação Psicológica, dentre elas a oficina de “Avaliação Psicológica no Contexto Forense: Um Olhar para Crianças e Adolescentes Vítimas de Violência”. A oficina contará com mediação da psicóloga Janinne Costa Rodrigues (CRP 23/1861)

Fonte: encurtador.com.br/aghjA

A oficina apresentará as nuances da avaliação psicológica aplicada na área forense, voltada para crianças e adolescentes vítimas de violência. Importante na atuação do psicólogo, a avaliação psicológica é definida como “processo estruturado de investigação de fenômenos psicológicos, composto de métodos, técnicas e instrumentos, com o objetivo de prover informações à tomada de decisão, no âmbito individual, grupal ou institucional, com base em demandas, condições e finalidades específicas” (CFP, 2018). No contexto forense o profissional de psicologia pode colaborar com seus métodos e técnicas para melhor compreensão de casos que tramitam no judiciário.

De acordo com Chianca e Amorim-Gaudêncio (2019) é fundamental ressaltar que o processo de avaliação psicológica no contexto forense se desenvolve de uma forma específica desde a chegada da demanda, a condução do caso, o tempo disponível para avaliação, os objetivos, entre outras particularidades inerentes a esse tipo de avaliação. O objetivo da avaliação psicológica forense não está voltado para um diagnóstico ou embasamento para tratamento clínico, mas prioriza dar respaldo às demandas legais, respondendo processos solicitados pelo poder judiciário (GUILLAND; LABIAK; CRUZ, 2021).

A oficina será realizada na sala 221, no dia 25 de maio de 2022, o evento contará ainda com momento cultural às 17h e palestra de encerramento às 19h.

Referências

CHIANCA, Lizandra Leiva de Lima; AMORIM-GAUDêNCIO, Carmen. A participação do setor psicossocial em processos de guarda e interdição judicial. In: JURÍDICA, Associação Brasileira de Psicologia. Cadernos de Psicologia Jurídica : Psicologia na prática jurídica. São Luís: Associação Brasileira de Psicologia Jurídica Uniceuma, 2019. p. 220. Disponível em: http://www.abpj.org.br/downloads/8d630e36afd6c80f898b84a222598dd6.pdf. Acesso em: 16 maio 2022.

GUILLAND, Romilda; LABIAK, Fernanda Pereira; CRUZ, Roberto Moraes. Avaliação psicológica de crianças vítimas de violência nas Varas Criminal e Infância e Juventude. Revista Plural: Avaliação psicológica, Florianópolis, v. 3, n. 2, p. 6-18, dez. 2021. Disponível em: https://crpsc.org.br/ckfinder/userfiles/files/Revista%20Plural_v1_n3_dezembro_2021_ok.pdf. Acesso em: 15 maio 2022.

Resolução N° 009, de 25 de abril de 2018 Estabelece diretrizes para a realização de Avaliação Psicológica no exercício profissional da psicóloga e do psicólogo, regulamenta o Sistema de Avaliação de Testes Psicológicos – SATEPSI e revoga as Resoluções n° 002/2003, n° 006/2004 e n° 005/2012 e Notas Técnicas n° 01/2017 e 02/2017. Brasília, DF: Conselho Federal de Psicologia. Disponível em: https://satepsi.cfp.org.br/docs/ResolucaoCFP009-18.pdf. Acesso em: 15 maio 2022

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Psicóloga Karlla Garcia Ferreira participa do 3º Simpósio Tocantinense de Avaliação Psicológica

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No dia 25/05 o 3º Simpósio Tocantinense de Avaliação Psicológica irá contar com a psicóloga Karlla Garcia Ferreira

O 3º Simpósio de Avalição Psicológica Tocantinense, que ocorrerá do dia 25/05/22, abordará diversos temas relevantes para o mundo acadêmico e profissional, dentre eles está a Avalição Neuropsicológica do Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade, que será ministrado pela Psicóloga Karlla Garcia Ferreira, egressa do Curso de Psicologia do CEULP/ULBRA.

Fonte: Arquivo Pessoal

Em entrevista concedida ao portal (En)Cena, a palestrante respondeu algumas perguntas sobre o universo da psicologia.

En (Cena) – Há quanto tempo atua no mercado como psicóloga? Quais são suas especialidades e áreas de atuação?

Karlla Garcia – Atuo como psicóloga há 1 (um) ano e 6 (seis) meses, atualmente estou pós-graduando em Neuropsicologia, possuo formações em diversos instrumentos psicológicos e Neuropsicológicos, em avaliação comportamental VB-Mapp e em manejo de comportamentos inadequados. Minha atuação é voltada para avaliação Neuropsicológica e Psicoterapia.

En (Cena) – Como a avaliação neuropsicológica do TDAH está presente na sua atividade profissional?

Karlla Garcia – A avaliação de modo geral está presente na minha vida profissional desde os estágios da faculdade, assim como o processo de estimulação cognitiva. No momento a demanda de avaliação para auxiliar no diagnóstico do Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade está presente de forma contínua, uma vez que atuo em uma clínica multidisciplinar voltada para avaliação e estimulação de pessoas com atrasos ou transtornos do neurodesenvolvimento.

En (Cena) – Qual foi o ponto crucial que te levou a escolher este tema para apresentar no 3º Simpósio de Avaliação Psicológica Tocantinense?

Karlla Garcia – A escolha do tema da oficina foi pautada tanto na minha habilidade e conhecimento sobre a área quanto na necessidade de abordar o assunto, uma vez que as redes sociais têm discutido bastante sobre diagnóstico, tratamento e a vida de pessoas com TDAH.

En (Cena) – Como é feita a avaliação neuropsicológica para a detecção do TDAH? A simples aplicação de testes é capaz de detectar o transtorno ou a expertise do profissional é crucial para identificar os indícios?

Karlla Garcia – A avaliação de transtornos do neurodesenvolvimento é multidisciplinar, logo é necessária avaliação de outros profissionais para chegar a um diagnóstico. No TDAH acontece dessa forma, conforme demanda de cada caso. Especificamente na Avaliação Neuropsicológica é investigado às funções cognitivas, especialmente a atenção, função executiva e memória operacional no TDAH, e ainda, aspectos comportamentais, a hiperatividade e impulsividade, tendo em vista que esses são critérios que caracteriza o transtorno. Logo, podemos considerar importante tanto os instrumentos psicológicos, quanto a observação clínica e expertise profissional, sendo essas ferramentas cruciais para o processo de avaliação, não negligenciando um ou outro.

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