A gestalt-terapia e as múltiplas referências epistemológicas

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A Gestalt-terapia possui um grande campo teórico de contribuição para o manejo clínico no acompanhamento de pessoas que a buscam, e esse campo teórico é devido aos seus conceitos centrais (Ajustamento criativo, Awareness, Autorregulação Organísmica, Contato e Figura e Fundo). 

Uma das muitas teorias que englobam o grupo que compreende a Psicologia Humana é a Gestalt-terapia, que possui uma abordagem psicoterapêutica que se origina com o somatório de diferentes correntes terapêuticas, filosóficas e metodológicas com o intuito de ir ao encontro da realidade das pessoas em seu espaço e tempo, bem como facilitar a eclosão de processos de saúde e fluidez. Aplica-se a atitude clínica dessa abordagem para pessoas reais e com problemas reais inseridas em um ambiente real que anseia pela integração e crescimento de todas as suas questões.

Quando o cliente faz a solicitação do trabalho do terapeuta, ele normalmente busca pela atualização e compreensão desse novo campo de interação entre ambiente e organismo, do mesmo modo que a ressignificação da sua vida que possa estar difusa, com o comprometimento com novas maneiras de como estar presente no mundo (SCHNEIDER, 2006). Ao solicitar a jornada da imigração pelo próprio intercambista, ele esbarrará precisamente com o novo, com as coisas que precisam ser rejeitadas ou assimiladas, e por não estar em um lugar familiar, poderá enfrentar sofrimento e angústias ao fazê-lo.

Logo, além de elucidar a robustez da Gestalt-terapia como uma clínica contemporânea, o objetivo desse manuscrito foi realizar a descrição da Gestalt-terapia nos aspectos filosófico e histórico, empregando para essa finalidade o procedimento metodológico de revisão de literatura com a busca de materiais secundários compostos de trabalhos acadêmicos e científicos e livros que proporcionaram respostas para esse objetivo.

Fonte: encurtador.com.br/lDGZ5

GESTALT TERAPIA

De acordo com D’Acri e Orgler (2012), nomeou-se Gestalt-terapia – nome de batismo escolhido por Frederick Perls para uma nova terapia que tem sido desenvolvida desde 1946 – junto com o grupo de intelectuais que se intitulavam o “Grupo dos Sete” (Laura e Fritz Perls, Elliot Shapiro, Sylvester Eastman, Isadore From, Paul Goodman, Paul Weisz e Ralph Hefferlin). De fato, a Gestalt-terapia é uma síntese de diferentes vertentes terapêuticas, filosóficas e metodológicas, formando uma maneira particular de conceber as relações do indivíduo com o mundo a partir de uma verdadeira filosofia existencial, de caráter prático.

Pôde ser explicado nesse sentido por Weber (2012) que Frederick Perls foi um profundo conhecedor dos seres humanos, isto é, pesquisando como pôde sobre os conhecimentos essenciais para esses entendimentos; Frederick Perls foi influenciado pelas religiões orientais como Zen-Budismo e Taoísmo, bem como pela análise do caráter de Reich. Além disso, tanto a compreensão de pessoa quanto de mundo da Gestalt-terapia teve origem em elementos dos pressupostos filosóficos do Existencialismo, Humanismo e Fenomenologia, assim como das Teorias da Psicologia da Gestalt, do Campo e Osganísmica (MÜLLER-GRANZOTTO & MÜLLER-GRANZOTTO, 2007).

Entende-se que o Humanismo centraliza a figura humana em suas questões, como pressuposto filosófico, fazendo-se compreender e ser compreendido em uma concepção de existência e mundo. De acordo com Heidegger (2006), somente o ser humano tem a capacidade de se realizar e fazer. Com base no estudo de Ribeiro (2012), insere-se a Gestalt-terapia ao lado das psicoterapias humanísticas, dentro de tal pressuposto, em um patamar que valoriza o potencial positivo de cada ser humano, em que ao observar suas próprias limitações, é a partir do reconhecimento autêntico de tais limitações que o cliente tem o empoderamento do mundo e de si.

Ainda com base no estudo de Ribeiro (2012), tanto para a Gestalt-terapia quanto para o Existencialismo, somente o ser humano é visto como o único com capacidade de liberdade e escolha, sendo que, na busca terapêutica, este processo passa a ser responsável (clamar para si a responsabilidade da própria vida) e consciente. Há uma exposição do sujeito como resultado de uma experiência única  no Existencialismo, e para que haja sua compreensão é primordial que seja realizada a partir da manifestação do seu objetivo e de sua singularidade.

Nomeou-se esse novo método de maneira sucessiva como terapia da concentração, psicodrama imaginário, terapia do aqui-agora, psicanálise existencial, terapia integrativa e terapia experiencial. Por fim, sugeriu-se “Gestalt-terapia” por Fritz Perls que suscitou debates acalorados com seus colegas sobre esse nome que foi considerado muito esotérico e estrangeiro; ainda assim, ele foi escolhido e mantido por Perls (D’ACRI; IMA; ORGLER, 2012).

No início da década de 1970, a Gestalt-terapia começou a ser conhecida no Brasil; enfim, eram tempos sombrios e difíceis por causa da repressão e ditadura militar. Devido à forma horizontal de relação e à concepção de mundo e homem, a Gestalt-terapia imediatamente suscitou o interesse de um grupo de psicólogos que começou a estudá-la (FRAZÃO; FUKUMITSU, 2013).

De fato, a Gestalt-terapia possui um grande campo teórico de contribuição para o manejo clínico no acompanhamento de pessoas que a buscam, e esse campo teórico é devido aos seus conceitos centrais (Ajustamento criativo, Awareness, Autorregulação Organísmica, Contato e Figura e Fundo) e ao seu aporte epistemológico (Teoria Organísmica, Teoria do Campo e Teoria do Self). O arcabouço teórico da Gestalt-terapia, além de uma abordagem psicológica, torna mais fácil a “ida” do terapeuta ao encontro dessa experiência nos diferentes momentos em que ocorre, e em seus diversos campos, tais como: a clínica ampliada[1] e a clínica tradicional (SÁ, 2018).

Fonte: encurtador.com.br/hzFQ5

[1] De acordo com Senne (2011), ocorre a clínica ampliada dentro de um escopo de um trabalho mais abrangente que emprega a reorganização e a reforma de todo o serviço de saúde. Trata-se da vulnerabilidade ou risco das pessoas, e estão incluídos o apoio psicossocial e a educação em saúde. Esse autor também defendeu a importância da participação das pessoas em uma incessante busca por avanços nas condições sociais, ou seja, seria uma parte complementar do seu movimento pela saúde.

De acordo com o estudo de Ribeiro (2011), pôde ser complementado que essa abordagem, também representada como uma forma de psicoterapia, é uma teoria da pessoa e um método de trabalho, quando concebe a pessoa aqui-agora, em sua totalidade, como um organismo-meio, em um movimento processual, com o objetivo de atingir sua melhor performance.

Nesse sentido, a Gestalt-terapia tem a possibilidade de trabalhar os sentimentos da pessoa, e como principal propósito que essa pessoa, ou seja, o cliente possa cumprir sua missão, se enxergar como dinâmico e vivo, e especialmente completo de possibilidades infinitas. Assim, o Gestalt-terapeuta pode assumir a função de dinamizador da autopercepção do cliente, denominado como awareness, isto é, um redescobrimento de que está pronto e vivo com a possibilidade para “fechar velhas portas e abrir novas janelas” (MONTEIRO JÚNIOR, 2009).

Pode-se inicialmente dizer, com relação à Teoria do Campo, que o fato pelo qual uma pessoa pode se adaptar na relação com o meio, tem-se a comum resposta para a seguinte pergunta realizada pela linguagem mecanicista: “o ambiente cria o indivíduo ou o indivíduo cria o ambiente?”. Porém, não existe essa dicotomia na Teoria do Campo, uma das bases teóricas da Gestalt-terapia. Pode-se exemplificar que o campo indivíduo/ambiente pode ser criado como uma parte individual com influência no campo e vice-versa. De fato, qualquer fenômeno observado pode ser caracterizado como uma realidade objetiva de si; no entanto, pode também ser uma inter-relação global entre o meio-momento e o seu próprio fenômeno, ou seja, tudo está interligado. Dessa maneira, pode-se compreender toda experiência humana como uma interação dentro do campo organismo-meio, visto que a pessoa só pode existir dentro de um campo que a contém, porque a pessoa não é um sistema fechado (SANTOS FILHO; COSTA, 2016).

Indicar que entre o ambiente e o indivíduo existe uma influência mútua, tem como significado a afirmação de que a relação entre ambos é dialética. Desse modo, é reveladora e decorrente de características do campo, que se apresente como uma sistemática teia de relacionamento existente de maneira contínua no tempo e espaço. Infere-se que o campo conduz as experiências cujos resultados não podem ser preditos com base nos conhecimentos de cada estímulo, ao vê-lo como uma combinação no espaço e tempo de estímulos diversos (GINGER; GINGER, 1995).

Como exemplo, citando-se o estudo de Baroncelli (2012), ele também articulou a Teoria do Campo de Kurt Lewin com a teoria histórico-cultural, sendo que a Teoria do Campo compreende uma das bases da Gestalt-terapia, e evidencia-se que a adolescência é um fenômeno de campo e singular. Assim, essa teoria assegura que cada pessoa é única e pode ser somente entendida se for examinada dentro do campo do qual faz parte, isto é, denominado como o espaço vital de Lewin. Por outro lado, há discordância com as teorias do desenvolvimento humano que desconsideram ou atribuem pouca relevância aos fatores históricos, ambientais e sociais, enquadrando-se somente como uma etapa evolutiva rumo à maturidade.

Diante desse panorama, insere-se o indivíduo que vive no campo organismo/ambiente, como sendo constituído e se constituindo. Chama-se contato, o encontro entre o indivíduo e as partes do meio que lhes são inerentes, e como fronteira de contato o lócus onde se realiza esse encontro. Portanto, são necessários ao processo de evolução o indivíduo, a consciência (awareness) dessa fronteira, seus limites e possibilidades (CUNHA, 2018).

Fonte: encurtador.com.br/bwyDG

Evidencia-se que os recursos terapêuticos podem facilitar a awareness, que é denominada como um processo ininterrupto de conscientização, tendo em vista que toda pessoa está em constante transformação. Contudo, a awareness pode ser denominada como a consciência que a pessoa adquire ao longo dos diferentes ambientes de sua vida pela sua experiência, considerando a consciência como algo emocional, não apenas como racional. De fato, pode-se considerar a awareness como um dos objetivos principais do processo terapêutico (CARVALHO; LIMA, 2017).

Indagou Oliveira (2018) perante esse contexto, que o principal foco na clínica em Gestalt-terapia é a construção da awareness, visto que quando a awareness não é engrandecida, há dificuldades de contato nas relações e no relacionamento com o mundo. A definição de awareness está entre os conteúdos teóricos mais importantes, que se referem à possibilidade dos clientes de terem consciência sobre o quê estão fazendo, como fazem, e sobre como podem aprender a se aceitar, se valorizar e ao mesmo tempo se transformar.

Explicou Naranjo (2015), dentro de um cenário contemporâneo, que se vive em uma etapa de transição, sobretudo na fase da crise da hipertecnologia, em que existe um enorme progresso tecnológico; ao passo que há uma grande degeneração ética, no qual o progresso da mente sábia não caminha com o progresso da mente astuta. Diante desse panorama, há o aparecimento da Gestalt-terapia como uma maneira de mudar a mente comum para uma mente completa. O ensinamento da Gestalt-terapia tem uma intuição do perfeito. Com base no pensamento holístico, compreendem-se as coisas como Gestalt, ou seja, como um conjunto. E como pensamento intuitivo, o cérebro esquerdo, o pensamento não racional.

Há que se destacar o método fenomenológico, que pelo olhar de Merleau-Ponty (1945) aponta para a crítica de que exista, por si só, uma psicologia calcada numa consciência essencialista, como se o ser humano fosse produto de uma coisa, e não de suas experiências – que operam no campo do fenômeno, no aqui e agora que se descortina sobre os olhos deste sujeito. Desta forma, assim como ocorre no existencialismo sartreano – que também nega o essencialismo e  as estruturas pré-concebidas –, e experiência existencial passa a ser o tom da abordagem. O que haveria, então, é um campo de percepção do mundo, onde a experiência é revelada, vivida, “degustada”, “mastigada” e apreendida.

Fonte: encurtador.com.br/cDQ69

Isso é deveras libertador, sobretudo no campo clínico, porque coloca o cliente diante de uma possibilidade ímpar de abraçar a própria vida, assimilando-a naquilo que de fato configura-se como real – para ele, não para aquilo que se configura como o desejo do terapeuta. Neste ínterim, então, é importante abandonar as “verdades” previamente estabelecidas e reconhecer, no contato mesmo com o cliente e suas experiências, o fenômeno real a ser observador, assimilado, realçado e exaltado. Com isso, numa relação autêntica, vem o processo que nega as categorizações e aponta para a singularização do sujeito. É nesta singularização que ocorre o despertar/adesão a awareness (não como essência petrificada, mas como vida vivida, sem amarras). E tocar esta dimensão é, em tese, viver em consonância com o que há de frutífero e singular.

CONCLUSÃO

Concluiu-se que a Gestalt-terapia, por ter o olhar no ser humano em sua totalidade, propicia a abertura da consciência das pessoas para que as mesmas possam entender as implicações causadas por essa experiência, com o desenvolvimento de ajustes criativos e ampliações do contato com o mundo e consigo, e também com o próprio adoecer; no entanto, não apenas se percebendo como pessoas adoecidas, mas como sujeitos de possibilidade, orientados para a mudança, para a atualização.

Desse modo, pela metodologia gestáltica, a qual descreve a realidade como se apresenta e valoriza a realidade vivida, permite à pessoa o significado de sua experiência, direcionando-a a uma intersubjetividade criativa, que fornece uma imagem da situação real dela. Enfim, são abertas oportunidades para que a pessoa tenha contato com todos esses elementos, que podem não ser de aceitação afetiva e de fácil assimilação, para que ela trabalhe e reconheça os bloqueios que impedem melhores processos de autorrealização e ajustes.

Logo, atualmente a Gestalt-terapia é renovada e consolidada com técnicas eficientes no trabalho de descomplicar a conscientização do cliente com o mundo com o qual se relaciona, e consigo mesmo. Assim, validam-se os elementos teóricos para que os profissionais possam entender o que acontece com o cliente, principalmente com base nos seguintes fundamentos: aqui-agora; contato; fronteiras de contato; noção de campo e relação figura-fundo ou parte-todo. Existem inúmeros recursos psicoterápicos na forma de experimentos e técnicas dentro da abordagem gestáltica que propiciam a chance de o cliente ter contato de maneira consciente com suas dificuldades, mesmo que sejam evitadas, dolorosas ou traumáticas. Todo este conjunto teórico e técnicas subjacentes, deste modo, se apresenta como dispositivos imprescindíveis para a emancipação dos sujeitos na contemporaneidade, justamente porque exortam para uma das máximas existencialistas dispostas no campo teórico: a de que se torna adulto ao clamar para si a responsabilidade pela produção e condução da própria vida.

 

REFERÊNCIAS

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CUNHA, Auguѕto Carlos Rodrigues da. Geѕtalt-terapia e adolescêոcia na atualidade: uma reviѕão de literatura. 2018. Moոografia (Graduação em pѕicologia) – Ceոtro Uոiversitário de Braѕília. Braѕília, 2018.

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GINGER, S.; GINGER, A. Geѕtalt: uma terapia do coոtato. São Paulo: Summus. 1995.

MÜLLER-GRANZOTTO, Marcos José; MÜLLER- GRANZOTTO, Rosane LorenaPerls leitor de Freud, Goldstein e Friedlaender e os primeiros ensaios em direção a umapsicoterapia gestáltica. Estudos e Pesquisas em Psicologia, vol. 7, núm. 1, abril, 2007, pp. 45-58.

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SENNE, W. A. Psicologia e saúde: formação e profissão. Mnemosine. v. 7, n. 2, p. 89-103, 2011.

SCHNEIDER, Daniela Ribeiro. Liberdade e dinâmica psicológica em Sartre. Disponível em:http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1517-24302006000200002 . Acesso em: 25 nov. 2019.

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Eixos na Fenomenologia Existencial: uma revisão

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Awareness

Ao se utilizar o termo awareness, faz se necessário a busca por seu “significado”, no qual os textos descrevem de diversas formas tais como: presentificação, tornar-se presente, concentração, conscientização, tomada de consciência entre outros. No entanto este termo é de suma importância dentro da Gestalt terapi apois para Yontef (1998, p. 234) a awareness é um dos princípios que define a Gestalt Terapia. “A Gestalt Terapia é fenomenológica; seu objetivo é apenas awareness e sua metodologia é a metodologia da awareness”. Baseado nessa premissa pode-se conferir que awareness é a metodologia e o alvo da G.T.

Quando se refere a awareness é importante ressaltar que esta não se limita somente a tomada de “consciência mental”, pois envolve outros aspectos do organismo como um todo. Dessa forma a Gestalt Terapia privilegia uma nova maneira de abordar o cliente e utiliza-se de perguntas tais como: o que você está sentindo? O que você se dá conta nesse momento? Entre outras, formas de questionamento com o firme propósito de proporcionar a pessoa uma reflexão acerca do que ele sente naquele momento, ou seja, no aqui agora.

Fontes: https://bit.ly/2JQVlMw

Assim, awareness é uma forma de experienciar o “aqui agora”, ou seja, de se dá conta dos fenômenos recorrentes no atual momento. Na Gestalt Terapia awareness é de suma importância, pois nesta abordagem sem a toma de consciência é praticamente nulo atingir as metas deseja das dentro de uma psicoterapia.

É através da awareness, que o cliente se dá conta de possíveis gestalt abertas e começa a trabalhar consigo mesmo as possíveis soluções para estes fenômenos, e consequentemente fechar as gestalt que estão “encobertas”, ou mesmo as esquivas de contato, ou seja, ele precisa da awareness para descobrir em si seus “déficits” e suas potencialidades para haja um desenvolvimento saudável.

Vale ressaltar que trabalhando dessa maneira se possibilita, que, não somente o terapeuta haja de maneira fenomenológica, mas também o cliente vai agir de maneira fenomenológica.

Deflexão

Existem dois tipos de deflexão, a modal e a objetal. A modal é o ato de entrar em uma conversação com uma pessoa e não investir energia necessária para se conectar com aquele outro indivíduo, de forma a: evitar contato direto, desviar o olhar, desviando do assunto ou até debochando do que o indivíduo diz, por exemplo quando um casal está brigando e algum dos indivíduos fica revirando os olhos e desdenhando de tudo que o parceiro fala. E a objetal é a que o indivíduo expressa algo que queria dizer para uma 3ª pessoa e não para quem ele realmente quer direcionar aquele conteúdo, por exemplo quando um aluno reclama de algo da matéria com o amigo ao invés de reclamar com o professor.

Fonte: https://bit.ly/2HWsuo9

Existem também casos em que a deflexão pode ser útil, KAETEL 2015 cita POLSTER 2001 (p.103) “Se eu o insulto com palavrões no auge de minha raiva, isso não caracteriza necessariamente meus sentimentos permanentes a seu respeito. Confiança, tempo e conhecimento íntimo entre as pessoas farão uma ponte sobre esses momentos, mas sob circunstâncias em que eles não estejam disponíveis, pode ser sábio e necessário defletir a raiva.” Ou seja, alguns comportamento que aparentam ser deflexão modal, na realidade são uma forma de defletir algum sentimento, como no exemplo foi citado a raiva.

Organísmica: Auto-Regulação

A ideia de auto–regulação é advinda da Teoria Organísmica do neurologista alemão Kurt Goldstein, de quem Fritz Perls, o criador da Gestalt–terapia, foimédico–assistente. Perls foi bastante influenciado pelas novas teorias de Goldstein sobre o processo de readaptação de pacientes que haviam sofrido lesão cerebral na guerra, formuladas a partir da sua experiência no contato direto com este tipo de paciente no entanto as premissas básicas da teoria organísmica serão discutidas a seguir.

Kurt Goldstein, tratou da auto–regulação como uma das características fundamentais do funcionamento de qualquer organismo definia a auto–regulação organísmica como uma forma do organismo interagir com o mundo, segundo a qual o organismo pode se atualizar, respeitando a sua natureza do melhor modo possível. Segundo as palavras do próprio Goldstein (1995, p. 162): “Esta tendência a atualizar sua natureza e a si mesmo é o impulso básico, o único impulso pela qual a vida do organismo é determinada”, para que a auto–regulação aconteça, é fundamental que o organismo possa ter respostas novas para as situações pelas quais ele passa na sua permanente interação com o meio ambiente. Entretanto se pensarmos desse modo, nos parece que ser criativo é uma condição fundamental ao processo de auto–regulação, que é o principal critério para se considerar se o modo como uma pessoa está se relacionando com demandas do meio está sendo harmônico ou satisfatório.

Fonte: https://bit.ly/2JV5smJ

Conforme citação de Kurt Goldstein (1995, p. 50): “O meio–ambiente de um organismo não é absolutamente algo definido e estático, pelo contrário, está em metamorfose contínua, comensurável com o desenvolvimento do organismo e sua atividade”.  Portanto que os indivíduos se auto–regulamdando prioridade para a execução de ações que visem à satisfação das suas necessidades emergentes, e quando uma necessidade é satisfeita, esta deixaria de ser figural.

REFERÊNCIAS:

GOUVÊA, Graça. PSICOPATOLOGIA – MECANISMOS DE DEFESA E RESISTÊNCIAS. Disponível em: <http://www.gestaltemfigura.com.br/gestalt-terapia/psicopatologia-mecanismos-defesa-resistencias>. Acesso em: 19 out. 2017.

KAITEL, Alexandre. Abordagem Gestáltica #3: Mecanismos Neuróticos. 2015. Disponível em: <http://dialogizar.blogspot.com.br/2015/08/abordagem-gestaltica-3-mecanismos.html>. Acesso em: 19 out. 2017.

https://www.igt.psc.br/Artigos/teoria_organismica.htm

Goldstein, K. The Organism.  Nova York: Zone Books, 1995.

 

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Atendimento de Crianças com TDAH à Luz da Fenomenologia Existencial

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O presente artigo foi construído a partir de um levantamento bibliográfico, que consistiu na busca por pesquisas acerca do tema, como também na leitura base do livro, “Descobrindo Criança” de Violet Oaklander.A Gestalt-terapia tem como precursor principal o psicólogo alemão Frederick Perls, o qual assim nomeou uma nova terapia que havia desenvolvido desde 1946, juntamente com o grupo de intelectuais, denominado de “Grupo dos Sete”. O grupo era composto por: Isadore From, Paul Goodman, Paul Weisz, Sylvester Eastman, Ellliot Shapiro, Ralph Hefferline, Laura e Fritz Perls (DACRI; LIMA; ORGLER, 2012).

De acordo com Antony & Ribeiro (2004), a Gestalt-terapia é uma abordagem de origem holística-existencial-fenomenológica, a qual reúne elementos da Teoria do Campo, da Teoria Organísmica, da Psicologia da Gestalt e das concepções filosóficas do Humanismo, Existencialismo e da Fenomenologia. Essa teoria se caracteriza da dinâmica que é assumida pelo sujeito a partir das suas pretensões, anseios e necessidade que dão impulso para uma tensão interna, que ao se destacar gera uma figura, a qual instiga a energia do organismo. Caso isto necessite dos recursos oferecidos pelo meio que está inserido para que haja a realização. As funções de contato do indivíduo são acionadas e a consciência é despertada, fazendo com que o ser humano organize as experiências estabelecendo o tipo de contato.

Fonte: http://zip.net/bftLqL

O diverso tipo de contatos, que tem origem a partir de uma sensação, faz com que ocorram crescimento e desenvolvimento na vida do homem e para Gestalt-terapia contato é considerado um conceito chave. É importante ressaltar que toda formação de figura cria um novo saber fazendo com que o sujeito acumule mais vivências e com isso se modifique e o contato apenas encerra quando o organismo consegue chegar ao equilíbrio e com isso novas figuras são elaboradas para um novo processo se formar. Dessa maneira, diz-se que este processo que ocorre para formar uma figura fundo, alicerçado no campo organismo-meio, provoca o organismo como um todo e não de modo separado, gerando o contato.

Contatar é, em geral, o crescimento do organismo. Pelo contato queremos dizer a obtenção de comida, amar e fazer amor, agredir, entrar em conflito, comunicar, perceber, aprender, locomover-se, a técnica em geral toda função que tenha de ser considerada primordialmente como acontecendo na fronteira, num campo organismo/ambiente (PERLS, HEFFERLINE & GOODMAN, 1997, p. 179).

Segundo Dacri, Lima e Orgler (2012), a Gestalt-terapia é uma filosofia existencial autêntica que possui uma forma peculiar de conceber as relações do homem com o mundo, visando a manutenção e o desenvolvimento de um bem-estar harmonioso. Valoriza a criatividade e a originalidade do ser humano, com um olhar para além da cura. Já Antony e Ribeiro (2005), afirmam que a Gestalt-terapia estando inserida neste meio filosófico, possui uma compreensão ontológica do sujeito como um ser no mundo, vivendo sua existência com e para o outro. Fazendo parte de um mundo compartilhado, a existência manifesta a intersubjetividade como criadora do ser, buscando a constituição da sua essência.

Fonte: http://zip.net/bwtKXQ

Para essa abordagem a concepção existencial de ser humano é entendido como a capacidade do mesmo de se refazer, podendo escolher e organizar sua realidade e existência de forma criativa, porque para esta teoria, entende-se que o conhecimento humano o leva a capacidade de escolher seu próprio destino, transcendendo fronteiras, limites e até mesmo condicionamentos que foram impostos. Concernente a essa concepção, o funcionamento saudável pode-se dizer que, o indivíduo é entendido como um ser totalmente relacional, que está sempre em um processo de troca de vivências com o meio.

A Gestalt-terapia possui uma visão do comportamento humano como sendo o resultado da interação com o campo organismo/ambiente. Dessa forma, o indivíduo pode manifestar diversas possibilidades de comportamento de acordo com o campo ao qual está inserido, mantendo assim, uma relação de reciprocidade (ANTONY; RIBEIRO, 2005). “No viés gestáltico, o homem é visto como um ser de infinitas potencialidades para crescer e se desenvolver, estando diariamente em construção e, portanto, inacabado” (GUISSO; FABRO, 2016, p. 543).

Em seu aspecto clínico, a Gestalt-terapia se apresenta como uma terapia existencial-fenomenológica que objetiva aumentar a awareness do cliente, no aqui e agora da relação terapêutica, e, para isso, utiliza recursos como experimentos, frustração, fantasias dirigidas, e outros, facilitando o desenvolvimento do auto suporte, a capacidade de fazer escolhas e a organização da própria existência (DACRI; LIMA; ORGLER, 2012, p. 139).

Perls (1997) diz que palavra “awareness” está co-relacionada com a palavra consciência, podendo também expandir seu significado para os termos: compreensão, percepção, ampliação e até mesmo para “tomada de consciência”. Segundo Cavalcanti (2014) “awareness” ocorre no espaço que o corpo ocupa e na amplitude dos seus sentidos ancorado no momento do tempo presente. Em Gestalt-terapia o conceito de “awareness”, pode expressar a ideia central desta abordagem, “…trata-se de estar plenamente atento à situação em que se vive percebendo-se no conjunto daquilo que se está fazendo e como se está vendo a situação, no campo marcado pela interação entre organismo e meio em todos os seus níveis…” (CAVALCANTI, 2014, p.122).

Fonte: http://zip.net/bctLlT

Dessa maneira, percebe-se que ao desenvolver este conceito o organismo pode ser ajustado ao ambiente que está inserido, afim de que as condutas que se repetem não ocorra mais, pois a awareness é influenciada através das experiências que oportuna as relações de introspecção. A consequência deste ajustamento, que ocorre somente quando há ampliação da consciência, é o não bloqueio de contato com a realidade, possibilitando o ajustamento do aqui-agora.

Na gestalt-terapia, como nos mostra Cavalcanti (2014), a instigação que é feita a partir da awareness pode ajudar na localização de bloqueios e resistências que possam vir a ter após as experiências vivenciadas de sentimento de impotência e limitação, por exemplo. Pode-se afirmar que todo processo contínuo de tomada de consciência é acompanhado de novas informações. A configuração de novas formas de atuação que o sujeito adquire é decorrente da auto percepção e da sua capacidade de mudar a si mesmo.

 Para Fagali, este seguimento da awareness é:

Processo em que se leva em conta o valor da experiência no aqui e agora, a dinâmica intersubjetiva, as articulações entre a subjetividade e a objetividade e as diferentes dimensões de consciência tendo em vista os níveis de contato e de resistência das pessoas, sejam as que aprendem, sejam as que ensinam ou orientam (FAGALI, 2007, p.104).

No que se diz respeito ao awareness, conclui-se que quanto maior for este processo, maior será a possibilidade do indivíduo atuar como sujeito da sua intrínseca história, ou seja, protagonista da sua própria existência. Não se pode esquecer as contribuições que advém do meio social que tanto contribui, manifestando forte influência na formação das experiências, e ainda é importante ressaltar que o ser humano não pode ser apenas visto como um produto resultante do seu meio.

Diante destas conceituações, conforme Antony e Ribeiro (2005) a Gestalt Terapia ver o adoecer como decorrência de certo desequilíbrio relacional existente entre o individuo e o ambiente, visando ter um olhar holístico do adoecimento. “O enfoque gestáltico, assim, visa ir além da descrição dos sintomas, busca o sentido da patologia e as vivências subjetivas da pessoa adoecida” (p.187).

Fonte: http://zip.net/bttL8d

A abordagem fenomenológica existencial tem um papel importante na construção do pensamento psicológico, referindo a relação descrição do fenômeno, isto é, sentimento, pensamento ou fala que faz parte da totalidade do sujeito. O Transtorno do Deficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH) vem sendo foco de pesquisas para se conhecer sua etiologia e com isso aprimorar os critérios diagnósticos, visto que, a hiperatividade é muitas vezes analisada a partir de um olhar biologicista desconsiderando aspectos vivenciais do sujeito (ANTONY & RIBEIRO 2004, 2005).

De acordo Antony & Ribeiro (2004, p. 128):

Pesquisas mais recentes têm apontado para uma etiologia multidimensional diante da complexidade desse transtorno e da falta de evidências científicas sólidas que sustentem uma etiologia única e de base exclusivamente biológica. Estudiosos passaram a afirmar que a vulnerabilidade biológica e os fatores psicossociais interagem de um modo circular com relação à causa, gravidade e resultado do transtorno.

Nota-se que na sua etiologia, é um distúrbio que envolve a interação de aspectos biológicos e ambientais. No que concerne os fenômenos biológicos é tangível as contribuições genéticas para a ocorrência deste transtorno; e no que diz respeito aos fatores ambientais, deve-se considerar as questões psicossociais dentre eles os conflitos familiares, baixo poder aquisitivo, criminalidade dos pais dentre outros (CARVALHO, 2015).

Esse tipo de transtorno normalmente apresenta em crianças que estão em idade escolar, e durante muito tempo era tratado de maneira erronia por pessoas não capacitadas, que se baseavam somente nas queixas relatadas pelos pais e professores da criança. Porém nos últimos anos, surgiram pesquisas que aprimoraram os estudos nessa área, contribuindo de forma significativa para o entendimento da doença (SOUZA et al., 2007).

Fonte: http://zip.net/bctLlV

Souza et al. (2007) apresenta estudos que comprovam a complexidade do diagnóstico e do tratamento do TDAH, vendo mais além dos sintomas evidentes de desatenção e hiperatividade, mas também as comorbidades psicológicas que o paciente apresenta. O profissional responsável pelo diagnóstico e tratamento de crianças diagnosticada ou com suspeitas dessa patologia deve conter um bom embasamento teórico e está apto para atuar na prática.

Para diagnosticar o TDAH é necessária uma investigação clínica bastante apurada de toda a história do cliente, e também a utilização de alguns instrumentos, como os testes psicológicos, que facilitam ao profissional a identificar a existência ou não da patologia e as condições psicológicas, sociais e familiares do paciente (CALEGARO, 2002).

De acordo com Guisso e Fabro (2016) os processos de atenção e hiperatividade tem mudado ao decorrer do tempo, as crianças de tempos atrás viviam e brincavam de forma mais ativa que atualmente, tinham tempo e espaço para descarregar suas energias. Já com as crianças de hoje pode-se perceber que vivem cada vez mais envolvidas com atividades realizadas em ambientes fechados, sem muito contato com o ar livre. Produzindo assim uma atenção mais distante.

Fonte: http://zip.net/bgtLnT

Embasado nos referidos acima é possível verificar que o Transtorno do Deficit de Atenção com Hiperatividade é analisado a partir do aspecto histórico e do desenvolvimento individual de cada individuo, por meio das suas experiências de contato. Uma vez que, a Gestalt-Terapia compreende o TDAH como um problema do indivíduo em manter contato e/ou relações saudáveis com algo ou alguém (OAKLANDER, 2008).

A autora afirma em um de seus livros “Descobrindo crianças: a abordagem gestáltica com crianças e adolescentes” traz suas experiências e técnicas terapêuticas em atendimento com crianças, trabalhando de forma criativa para que o cliente expresse seus sentimentos e fantasias proporcionando um espaço livre, a fim de que os conflitos existentes possam emergir. Deste modo, para compreender a criança é importante que o terapeuta entre no seu mundo fantasioso, visto que, o processo de fantasia vivenciado por ela estar diretamente relacionado com a sua vida real. Ela evidencia os benefícios da atenção dada para a criança hiperativa, segundo ela quando alguém as ouve e as levam a sério é possível que haja uma redução nos sintomas hiperativos.

No trabalho com crianças hiperativas, o terapeuta utiliza-se de técnicas que buscam tranquilizar as crianças propondo atividades com materiais que proporcione uma experiência tátil, tendo como exemplo o uso de areia, água, argila, pinturas com os dedos, no processo terapêutico, Oaklander (1980) afirma ainda, que as experiências táteis auxiliam na concentração da criança possibilitando uma consciência de si mesmo e do próprio corpo.

Fonte: http://zip.net/bktLrL

No livro, a autora relata experiências e várias técnicas utilizadas com crianças hiperativas como por exemplo:

“Penso que qualquer experiência tátil ajuda essas criança a se concentrarem e se tornarem mais conscientes de se mesmas – de seus corpos e de seus sentimentos. Quando trabalhava em escolas com crianças emocionalmente perturbadas (“hiperativas” é “antissociais”),  empregava frequentemente a pintura com os dedos, com excelentes resultados. Pedia emprestadas bandejas de almoço do refeitório, colocava um pouco de goma líquida em cada uma, é respingava uma ou duas cores de tinta em pó sobre a goma. As crianças trabalhavam (geralmente em pé ao lado de mesas) lado a lado, com grande prazer. Nos seis anos que trabalhei nesse programa, usei esta atividade frequentemente, com muitos grupos etários é combinações diversas de crianças, bem como com os meus próprios grupos de terapia é sessões individuais. Nunca uma criança jogou tinta em outra ou nas paredes. Trabalhavam absortas, fazendo belos desenhos é experimentando misturas de cores, conversando entre si e comigo enquanto trabalhavam. Quando era ora de parar, pegávamos um grande pedaço de papel, é fazíamos uma maravilhosa impressão que deixávamos secar; depois a ajeitávamos é fazíamos uma moldura com uma cartolina de cor deferente. Cada criança limpava sua área  de trabalho é lavava a bandeja.

O valor desta atividade era amplo. As impressões feitas eram realmente bonitas, e naturalmente as crianças tinham muito orgulho delas e de si próprias… Devido a natureza tátil é cinestésica da atividade, as crianças experienciavam um elevado senso de seus próprios corpos. Pelo fato de se distraírem facilmente, e muitas vezes ficarem confusas pelos estímulos, essas crianças têm uma grande necessidade de experienciar uma volta ao senso de si próprias. Acredito que qualquer experiência tátil é cinestésica promove uma nova é mais forte consciência do eu é do corpo. Com um aumento de consciência de si mesmo, surge uma nova consciência dos sentimentos, pensamentos é ideias.”(OAKLANDER, 1980, p. 251 a 252).

O papel do terapeuta, de acordo com Oaklander (1980), é ajudar as crianças a ter consciência de si mesmo e da sua existência para fortalecer o seu eu e as funções de contato, ajudando-as a perceber o mundo real a sua volta, as diversas possibilidades de escolhas quanto a forma de se viver, apontando quando as escolhas são impossíveis.

Fonte: http://zip.net/bvtLSX

Violet Oaklander (1998), na sua prática clínica, também emprega outro método para se trabalhar com crianças hiperativas.

Se uma criança está irrequieta, passando de uma coisa para outra, etc., posso observá-la fazendo isso por algum tempo, e então estimular este comportamento – encorajá-la a olhar isto olhar aquilo. Chamarei sua atenção para o que ela está fazendo, de forma que não dê a entender um julgamento. Quero fixar aquilo que está fazendo, ajudá-la a tomar consciência e talvez reconhecer o que faz (p. 253).

Podemos concluir que, abordagem fenomenológica existencial tem o papel importante na construção do sujeito quando se trata da descrição do mesmo em sua totalidade. Pois o Transtorno de Deficit de Atenção e Hiperatividade muitas vezes é analisado a partir de um olhar biologicista, assim desconsiderando as vivências do sujeito. É sabido que por meio da relação terapêutica que se alcança a descrição desses fenômenos utilizando-se do método fenomenológico que busca a compreensão do homem em sua essência. No que podemos verificar a importância das técnicas utilizadas pela autora Violet Oaklander.

REFERÊNCIAS:

ANTONY, Sheila; RIBEIRO, Jorge Ponciano. A Criança Hiperativa: Uma Visão da Abordagem Gestáltica. Psicologia: Teoria e Pesquisa, Brasília, v. 20, n. 2, p.127-134, maio 2004.

ANTONY, Sheila; RIBEIRO, Jorge Ponciano. Hiperatividade: Doença ou Essência Um Enfoque da Gestalt-Terapia. Psicologia Ciência e Profissão, Brasília, v. 2, n. 25, p.186-197, jan. 2005.

CARVALHO, Mariana Coelho. PROGRAMA DE INTERVENÇÃO PSICOMOTORA PARA CRIANÇAS COM TRANSTORNO DE DÉFICIT DE ATENÇÃO E HIPERATIVIDADE – TDAH. 2015. 147 f. Tese (Mestrado) – Curso de Ciências Médicas, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, SP, 2015.

CAVALCANTI, Adriane. Gestalt-Terapia e Psicopedagogia. Construção Psicopedagógica, São Paulo, v. 22, n. 23, p.121-129, jan. 2014.

D’ACRI, Gladys; LIMA, Patricia; ORGLER, Sheila. Dicionário de Gestalt-Terapia: Gestaltês. 2. ed. São Paulo: Sumus Editorial, 2012.

GUISSO, Luciane; FABRO, Ana Carla. Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade: o olhar da Gestalt-terapia. Revista da Universidade Vale do Rio Verde, Três Corações, v. 14, n. 2, p.540-551, ago. 2016.

OAKLANDER, V. El Tesoro escondido. Chile: Cuatro Vientos, 2008.

PERLS, F.S. Gestalt-terapia Explicada. Trad. Br. George Schlesinger. São Paulo: Summus, 1997.

SOUZA, Isabella G. S. de et al. Dificuldades no diagnóstico de TDAH em crianças. Jornal Brasileiro de Psiquiatria, Rio de Janeiro, p.14-18, 2007. Disponível em: <https://www.researchgate.net/profile/Camilla_Pinna/publication/262635391_Challenges_in_diagnosing_ADHD_in_children/links/540f0bab0cf2f2b29a3dc3cf.pdf>. Acesso em: 07 jun. 2017.

ARAÚJO, Ariana Maria Leite – O diagnóstico na abordagem fenomenológica existencial.
Revista IGT na Rede, V.7, Nº 13, 2010, Página 315 de 323. Disponível em: <http://www.igt.psc.br/ojs/>. Acesso em 12 de maio de 2017.

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