Algoritmos de Recomendação: como a personalização está moldando nossas escolhas online

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Os algoritmos de recomendação estão por toda parte, silenciosamente transformando nossa relação com o mundo digital. Eles não apenas facilitam nossas vidas, mas também influenciam profundamente como consumimos conteúdo e produtos. A personalização proporcionada por essas tecnologias tornou-se essencial para nossa experiência online, quase como se a internet “nos conhecesse” intimamente. Mas como, exatamente, isso funciona?

Pense na última vez que você abriu o Netflix ou rolou o feed no TikTok. Sentiu como se as recomendações fossem feitas sob medida? Isso não é coincidência. Essas plataformas utilizam sistemas de recomendação — aplicações de inteligência artificial que estudam nossas ações, interesses e até o tempo que passamos assistindo ou curtindo algo, para depois nos oferecer sugestões que parecem irresistivelmente precisas. Segundo o Netflix Tech Blog (2024), a análise detalhada de interações e padrões é o coração dessas tecnologias.

Figura 01: Fluxo da recomendação

O funcionamento desses sistemas se divide em dois tipos principais. Os modelos baseados em conteúdo analisam o que você já consumiu para sugerir itens similares. Por exemplo, se você assistir a um filme de ação, outros do mesmo gênero aparecerão na sua lista. Já os modelos baseados em colaboração observam comportamentos de outros usuários com gostos parecidos para indicar novos conteúdos. É aquela clássica abordagem do tipo “quem assistiu isso também gostou daquilo” (Resnick, 2024).

No entanto, essa conveniência não vem sem consequências. Embora seja fascinante encontrar algo que parece perfeito para você, esses algoritmos também moldam nossos hábitos. Eles criam ciclos de consumo em que ficamos presos ao que gostamos — ou ao que os sistemas acreditam que deveríamos gostar. Essa é a essência do “filtro bolha”, que limita nossa exposição a novas ideias e reforça nossos vieses, como apontado por O’Neil (2016).

Além disso, plataformas muitas vezes priorizam engajamento acima de qualidade, promovendo conteúdos polarizadores ou emocionais para capturar nossa atenção. Como destaca o Zendesk (2024), essa estratégia pode ser eficaz para manter os usuários conectados, mas levanta preocupações sobre seu impacto no comportamento e na saúde mental das pessoas.

Outro ponto crítico é a questão da privacidade. Para que essa personalização aconteça, as plataformas coletam grandes volumes de dados pessoais, como histórico de navegação, interações e até horários de uso. Como aponta Tera (2024), esses algoritmos processam tudo isso para criar perfis detalhados dos usuários, mas deixam dúvidas sobre até que ponto estamos confortáveis em trocar nossa privacidade por conveniência.

Figura 02: A tecnologia e os desafios da privacidade na coleta de dados.

Apesar desses desafios, a personalização tem seus méritos. Economiza tempo, facilita decisões e transforma experiências online em algo mais envolvente e prático. No entanto, como usuários, precisamos estar atentos. Como sugerido por O’Neil (2016), compreender o funcionamento dessas tecnologias e exigir mais transparência das plataformas são passos essenciais para usá-las de maneira consciente.

Mais do que aceitar passivamente o que nos é sugerido, podemos adotar uma postura de curiosidade e crítica. Por que fomos expostos a determinado conteúdo? Que alternativas poderiam estar ocultas? Ao entendermos os mecanismos por trás dessas recomendações, ganhamos mais autonomia e nos tornamos consumidores mais conscientes.

No fim, os algoritmos podem ser aliados, mas nunca substitutos para nossa capacidade de explorar, aprender e escolher de forma independente. A tecnologia é uma ferramenta, e o verdadeiro valor dela surge quando a usamos para ampliar nossos horizontes, e não para limitá-los. Em um mundo tão conectado, a melhor recomendação ainda é sermos protagonistas das nossas próprias decisões.

Referências:

ANDROMEDA TECH. Algoritmos de recomendação: guia completo. Disponível em: https://andromedatech.com.br/algoritmos-de-recomendacao-guia-completo/. Acesso em: 21 nov. 2024.

NETFLIX TECH BLOG. The evolution of the Netflix recommendation algorithm. Disponível em: https://netflixtechblog.com. Acesso em: 21 nov. 2024.

O’NEIL, Cathy. Weapons of Math Destruction: How Big Data Increases Inequality and Threatens Democracy. New York: Crown Publishing, 2016.

RESNICK, P. The effects of recommender systems. ACM Transactions on Computer-Human Interaction. Disponível em: https://dl.acm.org. Acesso em: 21 nov. 2024.

TERA. Sistemas de recomendação: como funcionam e exemplos práticos. Disponível em: https://blog.somostera.com/data-science/sistemas-de-recomendacao. Acesso em: 21 nov. 2024.

XP EDUCAÇÃO. Sistemas de recomendação: o que são? Como funcionam? Disponível em: https://blog.xpeducacao.com.br/sistemas-de-recomendacao. Acesso em: 21 nov. 2024.

ZENDESK. Recomendação personalizada: saiba como implementar na sua empresa. Disponível em: https://www.zendesk.com.br/blog/recomendacao-personalizada/. Acesso em: 21 nov. 2024.

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A Bolha Algorítmica: como os algoritmos moldam nossa percepção da realidade e impactam a saúde mental

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Na era digital, os algoritmos tornaram-se instrumentos poderosos na forma como acessamos informações e nos conectamos com o mundo. As plataformas digitais utilizam esses sistemas para personalizar conteúdos, mantendo usuários engajados e gerando lucro para as empresas. No entanto, essa personalização excessiva cria um fenômeno conhecido como “bolha algorítmica”, que limita a posição a diferentes perspectivas e reforça crenças pessoais. Estudos recentes apontam que os impactos desse fenômeno vão além da informação, afetando diretamente a saúde mental dos usuários [1].

Foto: Reprodução/Netflix

Os algoritmos desempenham um papel central na experiência digital. Conforme apresentado no documentário O Dilema das Redes e analisado pelo blog da PUC Minas [2], essas ferramentas não são neutras. Elas operam para maximizar o tempo de uso das plataformas, criando um ambiente onde os dados fornecidos pelos usuários são utilizados para exibir conteúdos alinhados a suas preferências. Esse processo, embora pareça conveniente, cria bolhas de informação que reforçam crenças pessoais e restringem o acesso a uma visão diversificada do mundo. 

O impacto psicológico dessa dinâmica é evidente. Como aponta o documentário, as bolhas algorítmicas intensificam a polarização social e alimentam a desinformação e teorias da conspiração. Essas práticas, relacionadas ao conceito de pós- verdade, tornam os usuários mais vulneráveis a conteúdos manipulativos, desconectando-os da realidade objetiva e promovendo instabilidade emocional. De acordo com o blog da PUC Minas, esse isolamento informacional faz com que os indivíduos interpretem suas crenças como verdades absolutas, criando um ambiente propício ao aumento da ansiedade e da desconfiança no outro.

Imagem: Getty Images

O TikTok exemplifica como os algoritmos podem moldar a saúde mental dos usuários. Segundo a Revista Galileu [3], a página “Para Você” da plataforma utiliza algoritmos sofisticados para recomendar conteúdos altamente personalizados, baseados no comportamento anterior do usuário. Embora essa personalização possa oferecer um espaço de autodescoberta para alguns, ele também apresenta desafios significativos. Muitos usuários relataram que o feed contínuo do TikTok cria um ciclo vicioso de consumo, onde conteúdos relacionados a padrões estéticos irreais ou experiências negativas são constantemente exibidos.

Esse fenômeno foi descrito por pesquisadores da Universidade de Minnesota como um “caça-níqueis de dopamina”, onde a plataforma manipula os circuitos de recompensa do cérebro para manter os usuários conectados. No entanto, essa prática também gera sentimentos de inadequação, ansiedade e, em casos mais graves, sintomas depressivos, especialmente entre adolescentes. Conforme relatado na pesquisa citada pela Revista Galileu, alguns usuários até tentaram reduzir o tempo de uso da plataforma, mas enfrentam dificuldades para escapar do ciclo viciante promovido pelo algoritmo [3].

Dentre os grupos mais afetados por esse ciclo, os adolescentes se destacam como os mais vulneráveis. Essa faixa etária, já naturalmente propensa a crises de identidade e comparação social, enfrenta um desafio adicional com o que o artigo do UOL VivaBem denomina como “ansiedade algorítmica” [1]. Esse conceito descreve o impacto emocional negativo causado pela busca incessante de validação nas redes sociais, onde likes, comentários e compartilhamentos se tornam indicadores de valor pessoal amplificados pelos algoritmos.

Esse ambiente de competição social contante pode ser prejudicial. Os adolescentes frequentemente se comparam aos conteúdos idealizados e exibidos nos feeds, acreditando que suas vidas são menos interessantes ou valiosas. Essa percepção distorcida alimenta sentimentos de baixa autoestima, isolamento e insatisfação com a própria vida. Além disso, a repetição desses padrões pode levar a uma desconexão emocional, dificultando o desenvolvimento de relações interpessoais saudáveis e a construção de uma identidade sólida.

Crédito: O que é a bolha social e como ela pode impactar na minha vida?

Embora os desafios sejam significativos, há maneiras de mitigar os efeitos das bolhas algorítmicas. É essencial promover a conscientização sobre o funcionamento dos algoritmos e incentivar práticas de uso consciente das plataformas digitais. Diversificar as fontes de informação, estabelecer limites para o tempo de tela e desconectar-se intencionalmente são algumas estratégias eficazes em nível individual.

Além disso, a responsabilidade recai também sobre as empresas de tecnologia. Como observado na pesquisa citada pela Revista Galileu [3], práticas mais éticas no design dos algoritmos e maior transparência no uso dos dados dos usuários podem reduzir os danos emocionais causados pelo modelo atual. A regulamentação governamental e o incentivo à plataformas centradas no bem-estar do usuário são passos cruciais para equilibrar os avanços tecnológicos com a saúde mental da sociedade. 

A bolha algorítmica é um reflexo das complexidades da era digital. Embora os algoritmos tenham sido projetados para conectar e engajar os usuários, frequentemente acabam isolando-os em realidades artificiais que limitam a diversidade de pensamentos e exacerbam problemas emocionais. O impacto desse isolamento na saúde mental é profundo, afetando especialmente os jovens, que já enfrentam desafios significativos na construção de sua identidade.

Como sociedade, temos a responsabilidade de questionar o papel das plataformas digitais e exigir mudanças que promovam um ambiente digital mais inclusivo e saudável. Reavaliar o funcionamento dos algoritmos, investir em educação digital e incentivar práticas mais éticas no setor são passos fundamentais para minimizar os efeitos negativos das bolhas de informação. Apenas assim poderemos transformar a tecnologia em uma aliada na busca por equilíbrio emocional e bem-estar coletivo.

Referências

[1] Ansiedade algorítmica: o efeito das redes na saúde mental de adolescentes – UOL VivaBem
[2] Análise crítica do documentário O Dilema das Redes – Blog FCA PUC Minas
[3] Como o algoritmo do TikTok impacta nossa saúde mental, segundo estudo – Revista Galileu

 

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