A importância da Psicologia para as atividades esportivas

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JOSÉ EDUARDO BISPO DE OLIVEIRA – Acadêmico do curso de Psicologia do Centro Universitário Luterano de Palmas – E-mail: joseeduardobispo@rede.ulbra.br

ROBERTO MADUREIRA BURNS NETO – Psicólogo do esporte (CRP- 23/002381) Coordenador de Projeto de Associação Palmas Jovem – E-mail: burnsneto@gmail.com 

 

A psicologia do esporte é um ramo da psicologia que se originou a partir da necessidade de observar e entender de forma científica como pessoas poderiam lidar de uma maneira mais palatável com suas atividades. Gill e Williams (2018) pontuam que a psicologia do esporte identifica princípios e diretrizes para ajudar profissionais podendo ser aplicada para ajudar as pessoas envolvidas na atividade. Também, como a atividade física pode ser potencializada quando tem o emprego da psicologia com o atleta de alto rendimento e quais os benefícios na recuperação de indivíduos com limitações físicas ou cognitivas.

Outrossim, é fundamental delinear que a psicologia do esporte derivou em grande parte da Psicologia do Desenvolvimento, utilizando diversas técnicas do processo de aprendizagem e absorção de informações para deixar a prática do exercício um ambiente de satisfação e reduzir o processo de ansiedade que pode surgir quando se disputa grandes campeonatos. Assim, (Weinberg e Robert S. 2017) destacam que, em virtude dos psicólogos do esporte atuarem com a identificação dos objetivos do indivíduo e a partir disso, buscar potencializar as capacidades latentes. Esses psicólogos que adquirem experiência na prática esportiva são cotados também para trabalharem com o auxílio de tropas de elite militares e cirurgiões que buscam aperfeiçoar o desempenho.

Em outro momento, faz-se essencial, especificar a atuação da Psicologia Clínica do Esporte entre a Psicologia Educacional do Esporte. Enquanto a primeira recebe a qualificação para identificar e tratar indivíduos com transtornos emocionais e aplicar testes para averiguar os respectivos níveis de impactos que esses causem ao desenvolvimento do atleta.

Para a atuação da Psicologia Clínica do Esporte é necessário que seja respeitado os protocolos de garantia do sigilo e um ambiente apropriado para esculta e aplicação de testes que sigam a regulamentação do Conselho Federal de Psicologia (CFP).

Para a segunda, a Psicologia Educacional do Esporte, por atuarem de forma mais próxima das atividades de campo, como treinamentos e momentos de interação entre os atletas. Tem o papel de promover a qualidade da saúde mental dos atletas, tendo como fundamento entender quais fatores ambientais e emocionais influenciam de forma negativa e os elementos de estímulo para os indivíduos.

Especialistas em psicologia educacional do esporte são “treinadores mentais” que educam atletas e praticantes de exercícios sobre habilidades psicológicas e seu desenvolvimento. (WEINBERG, ROBERT S. 2017 p. 7-10.)

Dessa maneira, o Psicólogo Educacional consegue desde potencializar o desenvolvimento do atleta, até atuar na prevenção de transtornos como A Síndrome de Burnout voltada a prática esportiva. Por essa perspectiva, esse trabalho terá seu aprofundamento na Psicologia Educacional.

Foto: Pixabay

A saúde mental dos atletas

A linha teórica da Psicologia Educacional do Esporte e do Exercício, aborda que, para observar quais motivos influenciam o indivíduo é preciso observar cada pessoa e sua particularidade de maneira individual. Para que a partir disso, sejam implementados métodos e formas de perceber a pessoal de uma forma mais tangível. De acordo com suas vivências ambientais e práticas de vida.

Em primeiro momento, a saúde mental e como os atletas encaram o desafio, vão ter forte influência no seu desempenho e satisfação durante a prática esportiva. (Spielberger, 1966), destaca que a ansiedade é definida mais formalmente como estado emocional de apreensão e tensão que acompanham uma forte ativação do sistema nervoso. A partir dessa lógica, quando o atleta perde a capacidade de perceber esse aumento exponencial dos batimentos, que é um somatório para o quadro ansiogênicos, tem-se a perda de consciência dos seus objetivos e até esquecimentos das habilidades aprendidas.

Ademais, (Spielberger 1966), pontua que a ao destrinchar a ansiedade, surge o produto que seria o Traço de Ansiedade (TA). Que predispõe, um indivíduo a entender como uma circunstância ameaçadora uma situação que não é. Assim, um exemplo seria um jogador ao bater um pênalti, começa acredita de forma concentra que vai tropeçar e não conseguirá acertar na bola. A partir desse pensamento disfuncional, definido como (TA), por medo de não conseguir, os batimentos do atleta têm uma aceleração desproporcional ao momento em que ele se encontra e, por estar ansioso acaba de fato errando o pênalti.

Ao adentrar na perspectiva, um time que não tem um profissional de Psicologia Esportiva está alguns passos atrás na observação de traços ansiogênicos, que inicialmente podem se apresentar como leves. Contudo, com ausência de um acompanhamento maior pode se tornar uma crise maior, podendo vir a incapacitar o atleta de exercer suas funções por completo.

O estresse ocorre quando há um desequilíbrio substancial entre as demandas físicas e psicológicas impostas a um indivíduo e sua capacidade de resposta, em condições nas quais a falha em satisfazer a essas demandas tem consequências importantes. (WEINBERG, ROBERT S. 2017 p. 76.)

Desse modo, caminhando por um olhar Psicologia Positiva sobre o contexto ambiental que se dá a Psicologia Educacional do Esporte e do Exercício, tem-se mostrado como problema para os atletas que sofrem pressões tanto interna dos treinadores, equipe técnica, dos colegas de equipe e da família. Assim, os atletas por não conseguirem se desvincular das cobranças, acabam desenvolvendo síndromes associadas ao ambiente das práticas esportivas. Como a Síndrome de Burnout, associada a treinamentos excessivos e poucos níveis de descanso, gerando uma sobrecarga no atleta.

Quando o volume de treinamento é grande demais ou o atleta mostra ausência de repouso ou outros estressores físicos ou psicológicos, ocorrem adaptações problemáticas, que levam ao desempenho deteriorado. (WEINBERG, ROBERT S. 2017 p 470.)

Somado a isso, indo contra a crença popular de que quanto maior o esforço, melhor para o atleta. É demonstrado que, o descanso é fundamental para a recuperação e o desenvolvimento do atleta, tanto físico, quanto psicológico. Portanto, quando o tempo de descanso não é respeitado o atleta sofre uma série de consequências. Como, mais contusões e estresse durante a partida.

 

Burnout no esporte

Em competições esportivas, sempre tem uma série de pessoas envolvidas na preparação além dos atletas que são, a equipe técnica, a equipe de arbitragem que fica em campo e a que atua por vídeo. Assim, para obterem êxito nas suas atividades são exigidos altos níveis de treinamento desses indivíduos. Em grande parte, essas pessoas influenciadas pela crença popular de que quanto maior o volume de treino, tem-se um melhor resultado, acabam se sobrecarregando e gerando um maior desgaste pessoal e na equipe envolvida.

A teoria é quanto mais treinar, melhor, você tem de começar a treinar cedo, o ano inteiro, se quiser competir em alto nível. Os praticantes de exercícios, em sua busca de se sentirem e parecerem melhor, às vezes vão longe demais, treinam excessivamente e chegam a Burnout. (WEINBERG, ROBERT S, 2017,  p. 469).

Foto: Pixabay

Ademais, a Síndrome de Burnout, descrita como um estado de exaustão física e emocional relacionada ao trabalho, afeta não somente os ambientes de trabalho formal, como é difundido pela crença cultural. Tem impactos severos desde os atletas comuns até os de alto rendimento que, por muitas vezes acabam tendo uma queda significativa no rendimento. Fato que, em casos chegam a níveis tão prejudiciais que levam o atleta a encerrar sua carreira de forma precoce.

A despeito disso, Michael Phelps nadador americano, considerado um dos maiores atletas olímpicos de todos os tempos, ganhador de 28 medalhas olímpicas. Declarou em uma entrevista á Sports Ilustrated em 2017 que, a pressão para vencer e a atenção da mídia a todo tempo, “em momentos se sentiu como um rato em uma roda”, sentimento que o levou a um estado de esgotamento emocional que o levou a cogitar aposentadoria. Em adição, o jogador de futebol americano, Andrew Luck, que jogou na Liga Nacional de Futebol (NFL), tida como o apogeu do esporte, se aposentou aos 29 anos citando problemas de saúde mental e síndrome de Burnout como motivadores da decisão. Em entrevista coletiva em 2019 a ESPN, Luck mencionou que a tensão e o estresse se acumularam durante os anos, movimento esse que o levou a decidir se afastar de forma precoce da prática esportiva.

 Boa parte das pessoas, se prendem a imagem perfeita que é levantada sobre os atletas, eleitos como seres quase que perfeitos, sem erros e sem grandes desafios que não podem vencer. Não satisfeito, todos estão propensos a desenvolver Burnout, ansiedade ou um esgotamento emocional, em destaque, quando submetidos a condições ambientes de desgaste. É fundamental, explanar que o esgotamento emocional, pode acontecer se as condições forem desfavoráveis, com ambientes e rotinas que não proporcionam descanso, em que a vida do atleta fica resumida somente a se preparar para vencer e a felicidade condicionada a vencer campeonatos.

Caminhos para uma experiência satisfatória

Nas práticas esportivas, tem-se a construção do entendimento social que o estímulo constante por resultados levam aos fatores essenciais para uma vitória. Assim, educam atletas e os condicionam a vitórias e novos campeonatos, ao vencer um campeonato começa a preparação para o próximo, temporada 2022, temporada 2023. Esse constructo, faz com que o atleta se questione quais os motivos de buscar o próximo, e o sentimento de nunca conquistar o suficiente inunda.

Os desafios da competição podem ser estimulantes e prazerosos. Mas, quando derrotar o oponente toma precedência na mente sobre obter o melhor desempenho possível, a fruição tende a desaparecer. A competição só pode ser apreciada quando é um meio de aperfeiçoar as habilidades; quando se torna um fim em si, deixa de ser divertida. (MIHALY, 2020, p.66).

Em consequência disso, uma gama de atletas ficam adoecidos, por passarem anos treinando para ir a campeonatos importantes, e ao receberem o troféu e uma quantidade acima da media de dinheiro, ainda assim ficam insatisfeitos. Por essa ótica, (Mihaly 2020, 1ª ed, .68) pontua que, o esporte é um dos locais mais propícios para o desenvolvimento de um sentimento de envolvimento e autoconhecimento, fatores em conjunto podem ser elementos para uma sensação de satisfação e deixar o indivíduo se sentindo integrado do meio.

Assim, (Mihaly 2020, 1ª ed, .68), desenvolveu a teoria de que existem elementos que são importantes para que o indivíduo, consiga maiores momentos de satisfação. A primeira seria o confronto de tarefas que são possíveis de serem concluídas pelo atleta. Segundo, o atleta conseguir ter uma concentração no que deve ser alcançado. Terceiro e quarto, os treinadores possuírem metas objetivas que devem ser alcançadas por esse indivíduo. O que estimularia os atletas a estarem sempre em um apetite por se superar. Quinto, a partir da retirada do foco em conquistar troféus e, o desenvolvimento do foco em se auto aperfeiçoar, maiores fatores para uma vivência mais saudável e a motivação para se superar estaria renovada.

Considerações finais

Faz-se necessário, portanto, uma equipe da psicologia esportiva atuando na desconstrução desses padrões condicionados a resultados que já estão institucionalizados por boa parte dos times, comissões técnicas e comissões de arbitragem. Assim, ao ser demonstrado que o foco somente em conquistar troféus e campeonatos é um dos principais responsáveis pelo adoecimento psíquico, que pode desenvolver sintomas psicossomáticos e aposentadoria precoce dos jogadores, tem-se portanto, um passo a mais para reestruturar esse sistema. Proporcionando uma melhor saúde mental para esses atletas e a possibilidade para atingir e superar novos parâmetros nas performances. Já que, quando aliados a técnicas positivas e a atuação de psicólogos esportivos, os times demonstram índices de melhores resultados e maior adesão dos atletas.

 

REFERÊNCIAS

VIEIRA, L. VISSOCI, J. OLIVEIRA, L. VIEIRA, J. Psicologia do esporte: uma área emergente da psicologia. 2010. https://www.scielo.br/j/pe/a/dxqXV7GtH7zkCLkzYq7K7Wd/.

GUSTAFSSON, H. KENTT, G. HASSMEN, P. LUNDGVIST). Prevalence of burnout in competitive adolescent athletes. Journal of Athletic Training, 2020.

OLMDILLA- ZAFRA, A. GARCÍA-GONZALEZ. ORTEGA, E. Burnout and muscular-skeletal injuries among professional football players. Journal of Sports Sciences. 2019.

SPORTS ILLUSTRATE Michael Phelps Opens Up About Depression and Suicidal Thoughts. 2017. https://www.espn.com/olympics/swimming/story/_/id/26796317/phelps-wins-award-mental-health-advocacy

CNN,  Michael Phelps: I am extremely thankful that I did not take my life. 2018. https://edition.cnn.com/2018/01/19/health/michael-phelps-depression/index.html

CSIKSZENTMIHALY, MIHALY. Flow: a psicologia do alto desempenho e da felicidade – 1ª ed. Rio de Janeiro, 2020.

WEINBERG, ROBERT S. (2017) Fundamentos da psicologia do esporte e do exercício. 6ª ed. Porto Alegre, 2020.

 

 

 

 

 

 

 

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Dia Mundial da Saúde Mental: Anadem reforça alerta sobre a situação dos profissionais de saúde

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Pesquisa aponta que quase 1 em cada 3 médicos apresenta sinais de transtorno de ansiedade e apenas 20,4% nunca manifestaram sintomas de depressão

Estima-se que 12 bilhões de dias de trabalho são perdidos anualmente devido à depressão e à ansiedade, gerando para a economia global um custo de quase um trilhão de dólares. Os dados estão nas novas diretrizes sobre saúde mental no trabalho divulgadas nas últimas semanas pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e pela Organização Internacional do Trabalho (OIT).

As orientações contidas no documento possuem relação com o Dia Mundial da Saúde Mental, celebrado no próximo dia 10 de outubro, e incluem ações para enfrentar riscos, como longas jornadas, comportamentos negativos e outros fatores que criam angústia. Pela primeira vez, a agência de saúde recomenda treinamento de gerentes para prevenir ambientes estressantes e responder aos profissionais em sofrimento.

Pesquisa realizada entre junho e julho, com cerca de 3.500 profissionais, ratifica o cenário apresentado pela OMS e a OIT. Isso porque, segundo a apuração, a maioria dos médicos não possui um estilo de vida equilibrado. Apenas 35% afirmam dormir entre 6 e 8 horas de sono; 2/3 dos entrevistados dizem não ter tido momentos de lazer nas duas semanas que antecederam a entrevista e mais de 70% podem ser considerados sedentários.

“Os profissionais da saúde estão vindo de um período extremamente exaustivo e desgastante, que foi a pandemia, tendo que enfrentar uma carga horária excessiva, muitos inclusive sem tirar férias. Toda essa junção de fatores favorece o adoecimento físico e mental e, consequentemente, os leva a uma conduta mais passível de erros”, alerta Raul Canal, presidente da Sociedade Brasileira de Direito Médico e Bioética (Anadem).

A pesquisa corrobora a percepção do especialista em Direito Médico, uma vez que 57%, dos entrevistados dizem ter percebido que o nível de estresse impacta no desempenho no trabalho. 29,4% dos médicos observaram, inclusive, que o nível de estresse já levou a erros médicos. Um dos pontos mais alarmantes revela que pelo menos 1 em cada 3 médicos apresenta sintomas de Burnout, mas ainda não buscou ajuda.

Quando se trata de sintomas de depressão e ansiedade o número também é preocupante. Apenas 20,4% dos médicos nunca apresentaram sintomas. “É preciso agir com ações concretas para preservar a integridade física e, em especial, psíquica dessas pessoas. A Anadem acompanha a situação e, desde o início da pandemia, tem feito campanha contínua em prol de melhorias em suas condições de trabalho”, defende Raul Canal.

Fonte: Imagem no Freepik

Gestão

A pesquisa entre profissionais de saúde revela ainda que a relação entre pares não parece amistosa. Quase metade dos participantes afirmou que não pode contar com uma rede de apoio com seus colegas de trabalho. Em 50,4% dos relatos há uma percepção de abordagem punitiva e não formativa diante de eventos adversos relacionados à assistência.

“Uma boa gestão de pessoas e equipes é fator determinante para a manutenção da qualidade de vida no trabalho. Os benefícios são sentidos na rotina dos profissionais e influenciam na qualidade do atendimento e na segurança dos pacientes”, reforça o advogado e especialista em Direito Médico, Raul Canal.

Ele ressalta que a Anadem recentemente apoiou o lançamento do livro “A nova liderança na enfermagem: competências para excelência na gestão de pessoas e equipes”, em que justamente se discute o papel que profissionais de saúde que ocupam cargos de lideranças devem ter para potencializar suas equipes.

Anadem

A Sociedade Brasileira de Direito Médico e Bioética (Anadem) foi criada em 1998. Enquanto entidade que luta pela categoria e seus direitos, promove o debate sobre questões relacionadas ao exercício da medicina, além de realizar análises e propor soluções em todas as áreas, especialmente no campo jurídico. Para saber mais, clique aqui.

Mais informações para a imprensa

RS PRESS

Newton Silva – newtonsilva@rspress.com.br – (11) 9 5960-3543

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Ambiente de trabalho caótico: oficina de transtornos físicos e mentais

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Com o avançar da sociedade, as mutações presenciadas no setor industrial e de serviços, o crescimento exponencial das demandas em serviços necessários e voluptuários (supérfluos) tem criado um cenário profissional extremamente agitado de competição comercial para entregar o melhor produto e o mais eficiente para o consumidor.

Essa visão de produtividade e comprometimento com público-alvo é algo vem, como dito, se intensificando através dos anos, algumas empresas adotam a postura de aperfeiçoar o serviço desempenhado por seus colaboradores através de novas contratações ou supressões de etapas não essenciais na construção do seu objetivo.

Serviços e produtos que possuem grande demanda são encontrados em todos os seguimentos, por exemplo, automobilístico, aplicativos virtuais, suporte técnico, logística, até mesmo o delivery pode ser observado nesta ótica.

Mas nem tudo são rosas, uma das principais contrapartidas desse grande crescimento e até mesmo pressão dos consumidores em ter o melhor produto, na maior rapidez possível, com o custo-benefício extraordinário faz com que muitos empresários criem um cenário caótico entre seus colaboradores.

Obviamente que um cenário desordenado não é derivado somente da pressão causada pela sociedade em geral, muitas vezes o despreparo do gestor, a falta de uma equipe multidisciplinar que tenha ênfase em psicologia organizacional acaba por não conseguir evitar os atritos e pressões vivenciadas pelos trabalhadores.

As consequências dessa grande pressão, metas profissionais inalcançáveis torna um ambiente crítico que repercute diretamente na vida do indivíduo que exerce aquela atividade essencial para a satisfação direta ou indireta do público.

Fonte: Imagem no Freepik

Quem não se recorda, por exemplo, da comoção nacional para conscientização sobre os riscos dos Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho – DORT, popularmente conhecida como Lesão por Esforço Repetitivo – LER, que é resultante exatamente da grande “mecanização” do corpo humano na execução de uma atividade profissional. O DORT é apenas um dos riscos que já foram amplamente discutidos na mídia nacional. Contudo, outras situações também atingem a estima dos colaboradores, um ambiente de competitividade e cobrança desregulada cria na psique do indivíduo.

Excesso de cobrança, exaustão extrema, esgotamento físico são características da Síndrome de Burnout, uma condição que tem ganhado grande destaque em razão do grande risco à saúde dos profissionais no mercado de trabalho.

Fonte: Imagem no Freepik

De acordo com o próprio site governamental, a síndrome de Burnout causa depressão, exaustão física e mental, falta de vontade e energia, sentimentos de incompetência, priorização das necessidades de terceiros, alterações de humor, etc.

É uma condição que merece ser tratada com zelo e profissionalismo, vez que sua existência prejudica demasiadamente a vida íntima, pessoal e profissional do seu portador.

Medidas alternativas para construção de um ambiente de trabalho engajado e que entregue excelentes resultados da forma mais célere e eficiente possível já estão sendo estudados. Empresas que incentivam o desenvolvimento pessoal e trabalham de forma digna com a compensação de seus colaboradores já vem demonstrando sinais de melhor qualidade de vida organizacional.

Desta forma, o caos pode ser tratado, desestimulado e até mesmo transformado positivamente para o bem-estar daquele ambiente de trabalho.

REFERÊNCIAS

DESCONHECIDO. LER/DORT são as síndromes que mais acometem trabalhadores brasileiros. Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca. INFORME ENSP. Disponível em <https://informe.ensp.fiocruz.br/noticias/52793> acesso em 26 ago 2022.

MINISTÉRIO DA SAÚDE. Síndrome de Burnout. disponível em<https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/saude-de-a-a-z/s/sindrome-de-burnout> acesso em 26 ago 2022.

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Entorpecidos por desempenho: exaustos e dopados na sociedade do trabalho

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O sofrimento oriundo do “famoso” desempenho no trabalho hoje se eterniza mais que uma categoria a ser estudada pela psicologia, mas também como uma chave para ser entendida e percebida em uma dimensão subjetiva e com significado e sequelas bem mais profundas do que se imagina. Toda a exaustão provocada pela eterna necessidade de fazer acontecer no ambiente laboral tem tomado de contas da vida do sujeito trabalhador e por que não dizer do seu ser?

A cobrança por ser bom, por ser o melhor, por ser o mais dinâmico, pró-ativo, promovedor de situações novas no trabalho tem aberto um espaço para um sofrimento muitas vezes silenciado pelo próprio sujeito detentor da dor. Este é o retrato de muitos trabalhadores nos ambientes organizacionais contemporâneos. O ativismo laboral acirra a competição, o que por sua vez aciona um ciclo desenfreado de atitudes que mais tem a ver com autodestruição do que com desempenho laboral. Tenho que concordar com a escritora Eliane Brum (2016) que “conseguimos a façanha de abrigar o senhor e o escravo dentro do mesmo corpo”: Em nós!

Nesse ínterim quero aqui destacar dois fatores, um é o nosso corpo adoecido, maltratado, doído pelo excesso de trabalho e o outro é a nossa mente cansada, triste gritando: “estou entorpecida e dopada imergida na cobrança interminável por desempenho”.

Fonte: Imagem por wayhomestudio no Freepik

Os consultórios de psicologia lotam com encaminhamentos médicos de pacientes em busca de saúde mental para enfrentar a lide daria, semanal e mensal de trabalho. A intensidade e continuidade da reprodução laboral conduz o sujeito a estados de canseira mental prejudicando suas funções executivas: memória, atenção… O trabalho que hoje (quase) pós-pandemia parece que não acaba mais, com tanta demanda acumulada de tanta coisa que exige quase sempre uma “hora extra”, um “eu termino em casa” ou “eu faço a noite” ou “eu adianto mais tarde em casa”, enfim é sempre uma desculpa atrás da outra para patrões e empregados correrem atrás da mesma coisa: O desempenho exemplar no trabalho.

O problema é que ambos esquecem que enquanto se direcionam para as metas, muitas vezes intermináveis, escravizam a alma reduzindo o sujeito trabalhador a um mero reprodutor de operações. Situação que muito se assemelha com a história da reprodução sistemática do trabalhador em uma frente de esteira e máquinas de uma fábrica interpretada pelo ator Charles Chaplin no filme tempos modernos, onde mostra de forma crítica e cômica a alienação do trabalho causada pela busca de desempenho e intensidade laboral. E como aconteceu no filme, onde o ator foi parar no centro de saúde, acontece na vida real onde trabalhadores adoecidos pelo trabalho buscam saídas na medicalização e nas terapias psicológicas. Quando chega neste ponto o colaborador uma vez depressivo e exausto, consumido pelas demandas e metas de desempenho laboral, se torna o depressivo e inválido da guerra institucionalizada e internalizada da sociedade do desempenho. Sim ele é mais um na fila do INSS! Será esquecido logo e substituído por outro sujeito que aceite ser chicoteado. O mais importante nessa história é que nesta situação o agressor e vítima se fundem e a violência é instaurada de forma intensa, profunda e silenciosa. Neste ponto só resta uma coisa: Sofrer os impactos da depressão laboral ou hoje em dia muito conhecida como a síndrome de Burnout.

Devemos repensar sobre ser multitarefa, está em um lugar e em vários lugares ao mesmo tempo através de celulares, internet, vídeos-chamada, reuniões e mais reuniões que na maioria das vezes são acrescentadas à sua rotina física de trabalho, não sendo uma em detrimento a outra, mas o trabalho e a reunião ao mesmo tempo de trabalho. Para mim, por minha conta e risco, afirmo que ser multitarefa representa hoje em dia um atraso civilizatório, pois afeta a saúde mental e física não atendendo as demandas iniciais propostas pelo trabalho. O excesso de rotina produz um estado de dor e espasmos, onde de acordo com Eliane Brum (2016) um espasmo anula outro espasmo e quando tudo é grito, não há mais grito. Ou seja no final do dia, é só mais um final de dia com a sensação de ter lutado mais uma luta, intervindo em processos, repetido operações, estando esgotados e entorpecidos pelo desempenho no trabalho.

Fonte: Imagem de John Hain por Pixabay

Concordo com o autor Byung-chulhan em seu livro A Sociedade do cansaço que diz: “A sociedade do trabalho e a sociedade do desempenho não são sociedades livres. Elas geram novas coerções. A dialética do senhor e escravo está, não em última instância, para aquela sociedade na qual cada um é livre e que seria capaz também de ter tempo livre para o lazer. Leva, ao contrário, a uma sociedade do trabalho, na qual o próprio senhor se transformou num escravo do trabalho. Nessa sociedade coercitiva, cada um carrega consigo seu campo de trabalho. A especificidade desse campo de trabalho é que somos ao mesmo tempo prisioneiro e vigia, vítima e agressor. Assim, acabamos explorando a nós mesmos. Com isso, a exploração é possível mesmo sem senhorio”.

REFERÊNCIAS

Exaustos-e-correndo-e-dopados | Brasil | EL PAÍS Brasil (elpais.com)

https://www.culturagenial.com/tempos-modernos-filme/

https://Propessoas.ufg.br/

Workshop Síndrome de Burnout (hipnose-psicanalise.com.br)

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Um alerta sobre a Síndrome de Exaustão (Burnout)

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A leitura do livro Síndrome de exaustão Burnout nos leva a perceber o quanto o assunto é de extrema relevância no contexto social e profissional. A síndrome de burnout, em uma análise minuciosa evidencia-se através de uma série de aspectos a serem avaliados, visto a importância em analisarmos as próprias relações humanas, desde a maneira como nos relacionamos com o mundo, até a forma como lidamos com nós mesmos, as nossas fragilidades, nossas angústias e cobranças, inclusive o amontoado de sentimentos que carregamos ao longo da vida.

Os avanços da modernidade, as atualidades organizacionais, técnicas e tecnologias, ligadas ao aumento moderno e significativo do estresse ocupacional têm obrigado constantes adaptações das pessoas. Atualmente o estresse é reconhecido como um dos riscos ao bem-estar psicossocial do indivíduo, associado a alterações no estado de saúde (GUIDO et al., 2011).

Torna-se válido potencializar a percepção sobre como a humanidade tem vivido e criado hábitos próprios de lidar com as inúmeras demandas que a vida acaba exigindo diariamente de cada um de nós, e isto se mostra válido ao nosso trabalho, nossas demandas sociais e familiares. Observe abaixo alguns aspectos relevantes:

A despersonalização se torna uma tentativa de se defender da exaustão emocional, na qual esse indivíduo desenvolve uma insensibilidade emocional, de maneira que predomina a dissimulação afetiva, afastamento, impessoalidade, desinteresse, alienação e egoísmo. O fracasso profissional identificado pela auto avaliação negativa associada às próprias atividades laborais, implica sentimento de inadequação pessoal e profissional (FIGUEIREDO; SENTO SÉ; SILVA, 2017).

Fonte: encurtador.com.br/zLOZ4

Sabe-se que a síndrome de burnout é um distúrbio psíquico que ocorre a partir do momento em que a pessoa vivencia uma exaustão extrema no seu ambiente de trabalho, sendo que é possível analisarmos desde já os inúmeros aspectos que exigiram desde o princípio da humanidade que o homem fosse em busca de conquistar e desbravar o mundo na garantia por sobrevivência, todavia este mesmo trabalho não deve ser encarado sem que saibamos respeitar as nossas limitações físicas e mentais.

A realização da atividade profissional permeia dimensões físicas, sociais e emocionais que são propícios ao equilíbrio mental, satisfação e desenvolvimento de capacidades, no entanto também podem ser a causa de sofrimentos e esgotamento e que levam a alterações do estado de saúde do indivíduo (ALVES et al., 2014).

A fala do autor acima se mostra de grande relevância na discussão apresentada, visto que enquanto seres humanos acabamos nos esquecendo do quanto é importante vivenciarmos momentos de lazer, momentos em que apesar de termos de lidar com a necessidade de trabalhar por razões de sobrevivência, é preciso que saibamos o quanto as nossas relações com a família, amigos ou até mesmo com si próprio são fundamentais para o nosso bem-estar mental. Interessante nos atentarmos ao que o autor abaixo menciona:

Definida por um quadro de exaustão emocional. Sendo assim a primeira resposta causada pela sobrecarga de trabalho, conflito social e estresse decorrente das constantes exigências, o que pode acarretar, como estratégia de enfrentamento, o distanciamento emocional e cognitivo do profissional em relação ao seu trabalho (GASPARINO; GUIRARDELLO, 2015).

Atualmente deparamo-nos de maneira significativa com pessoas que trabalham horas exaustivas, em algumas situações, sem o mínimo de apoio para exercerem seus papeis e funções dentro do ambiente de trabalho. Para a maioria das pessoas, o ambiente de trabalho, pouco a pouco vai se tornando um lugar mais frequentado e vivenciado de maneira plena que o próprio lar, mas o artigo nos traz a discussão acerca de termos uma atenção especial para situações como esta.

Dentro desse contexto é preciso que saibamos o quanto é importante para o ser humano, uma compreensão satisfatória acerca das situações que podem ser uma ameaça significativa à sua própria saúde mental, e que saibamos priorizarmo-nos em situações como esta para que os sintomas não se tornem mais intensos e repetitivos. 

FICHA TÉCNICA DO LIVRO

Autores: Michael Delbrouck

Editora: Climepsi

Idioma: Português

ISBN: 9727962289 9789727962280

Formato: Capa comum

Páginas: 270

REFERÊNCIAS

ALVES, A.P. et al. Prevalência de transtorno mentais comuns entre profissionais de saúde. Revista enfermagem UERJ, v. 23, n. 1, p. 64-9, jan/fev. 2015.

FIGUEIREDO, R.P. et al. Burnout e estratégias de enfrentamento em profissionais de enfermagem. Revista arquivos brasileiros de psicologia, Rio de Janeiro, v. 67, n. 1, p. 130-145, 2017.

GASPARINO, R.C.; GUIRARDELLO, E.B. Ambiente da prática profissional e Burnout em enfermeiros. Revista Rene, v.16, n. 1, p.90-6, jan-fev. 2015.

GUIDO, L.A. et al. Estresse, doping e estado de saúde entre enfermeiros hospitalares. Revista da escola de enfermagem da USP, v. 45, n. 6, p. 1434-9, 2011.

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Relato de experiência: de cara com a balança

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Os anos de 2020 e 2021 trouxeram grandes desafios para a maioria das pessoas. O caos da catástrofe imposta pelo novo coronavírus modificou radicalmente a rotina de muitos, impôs adaptações a curtíssimo prazo a todos e também favoreceu o aparecimento de sintomas de ansiedade, depressão e pânico.

Isso se deu em decorrência das situações de luto, isolamento social, medos constantes do futuro, da doença, do desemprego e do outro que poderia portar o vírus. Além da exaustão causada pelo acúmulo de tarefas domésticas e laborais em decorrência do teletrabalho, das aulas remotas/online das crianças e das demissões em massa.  

Nesse sentido aponta a pesquisa do Observatório Febraban/Ipespe que ouviu três mil pessoas nas cinco regiões do país: “entre as principais mudanças na vida dos brasileiros provocadas pela pandemia do coronavírus, a saúde mental e emocional foi mencionada por 57%”.

 

Fonte: https://medicinasa.com.br/saude-mental-emocional/

É preciso esclarecer que a Organização Mundial da Saúde (OMS) aponta que no Brasil 11,5 milhões de pessoas sofrem com depressão e que até 2030 essa será a doença mais comum no país.  

E, ainda, neste sentido, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) pesquisou o impacto da pandemia e do isolamento social na saúde mental de trabalhadores essenciais e mostrou que sintomas de ansiedade e depressão afetam 47,3% desses trabalhadores durante a pandemia, no Brasil e na Espanha. Destaque-se que mais de 50% destes sofre de ansiedade e depressão ao mesmo tempo. Além disso, a pesquisa indica que 44,3% têm abusado de bebidas alcoólicas; 42,9% sofreram mudanças nos hábitos de sono; e 30,9% foram diagnosticados ou se tratou de doenças mentais no ano anterior. Por fim, a Associação Brasileira de Empresas de Saúde e Segurança no Trabalho (Abresst) aponta que a síndrome de Burnout ou esgotamento profissional também vem crescendo como um problema a ser enfrentado

 

Fonte: encurtador.com.br/qxEIS

Em resumo, trata-se de um tempo muito difícil, que, certamente, trará consequências ainda imprevisíveis à saúde física e mental dos envolvidos.

A minha experiência com a pandemia não foi tão aguda ou desafiadora de modo que eu me autorize a reclamar. Tenho consciência do privilégio que é estar atravessando a calamidade tendo emprego, filhos na escola particular, saúde física e, ainda, viver com relativa estabilidade no caos, apesar do ônus imensurável de ter perdido meu tio para COVID em março deste ano.

Contudo, tais regalias não afastaram o sofrimento mental, nem as consequências físicas da experiência na pandemia.  

Foram muitas crises de ansiedade, insônia continuada, irritabilidade, esgotamento físico e mental por excesso de trabalho, perda de concentração, cortisol nas alturas, compulsão alimentar e, de cara com a balança encontrei 10 quilos a mais. 

Fonte: encurtador.com.br/dBKS9

 

Situações de estresse, tensão, ansiedade e irritação, promovem uma liberação excessiva de cortisol no organismo para diminuir o estresse e restaurar o equilíbrio do corpo. Condições adversas, tais como a pandemia, aciona os mecanismos de fuga e alerta do organismo. 

Todavia, em excesso, como no meu caso, o cortisol pode ser muito prejudicial à saúde, pois faz com que o corpo mobilize as reservas de energia, o que retarda o metabolismo e o fluxo sanguíneo, dificultando o emagrecimento e o ganho de massa magra, aumentando as chances de doenças como infarto e diabetes.  

Para mim, o ganho de peso significou perdas importantes para a saúde física e mental. No campo físico, meu colesterol chegou a níveis recorde que me levaram a iniciar a trágica e necessária prática de tomar remédios para o resto da vida. E no campo mental, a minha autoestima era atacada pelo desafio de passar horas olhando o meu próprio rosto, cada dia mais gordo, na tela do meet durante mais de 12 horas por dia entre home office e aulas online na faculdade de psicologia. 

Confesso! Eu pensei que não fosse suportar quando: parei de me olhar no espelho; nenhuma roupa servia; procurei duas nutricionistas, fiz dietas e exercícios físicos, mas nada adiantava. Eu continuava a comer compulsivamente, especialmente nos dias e horários em que estava muito cansada. De um modo estranho, comer era uma forma desesperada de obter energia para continuar produzindo.

 

Fonte: https://veja.abril.com.br/blog/letra-de-medico/pandemia-engordavirus/

Eu pude fazer análise durante toda a pandemia. Mais um privilégio a ser anotado! E tenho certeza de que teria sido muito mais difícil sem esse precioso recurso. Porém, ainda assim eu estava sofrendo muito com o resultado no meu corpo.

Em agosto deste ano, após grande relutância e me sentindo vencida e impotente, procurei auxílio de médico endocrinologista e iniciei um tratamento medicamentoso, bastante invasivo, para perda de peso. Minha falta de autoestima e minhas crises de ansiedade haviam chegado ao ápice.  

O primeiro passo do tratamento que promoveria minha mudança foi a realização de uma bioimpedância. Um procedimento que apresenta os percentuais de gordura, massa magra, água e, considerando o funcionamento metabólico define a idade do organismo do paciente. No meu caso, mesmo com todos os privilégios, tinha ganhado 17 anos na pandemia.

Meus hormônios derivados do sistema de alerta (luta e fuga) estavam muito alterados e eu precisei de medicamentos para regulação de metabolismo, sono, apetite e, é claro, ansiedade.

Fiz dois meses do tratamento prescrito, em conjunto com a terapia, e perdi 8 dos 10 quilos. E sigo firme, mas muito assustada com a quantidade de intervenções que precisarei fazer no meu organismo afim de oportunizar a regularização do funcionamento hormonal e metabólico que foi severamente afetado pelo sofrimento emocional durante a pandemia. 

Por outro lado, esta experiência tem me feito refletir sobre a importância das técnicas não medicamentosas em psicoterapias e psicanálise a serem oportunizadas às pessoas em sofrimento decorrente dos sintomas que decorrem da experiência com a calamidade da COVID 19, bem como daqueles que advirão no pós-pandemia. 

Fonte: encurtador.com.br/dkCFK

 

De outro modo, também me pego pensando no texto de Eliane Brum “Exaustos – e correndo e dopados” que utiliza a teoria de Byung-Chul Han para nos localizar numa “sociedade do cansaço” e identificar nossa condição de escravo de nós mesmos advinda dessa necessidade de trabalho e desempenho sem que haja o devido tempo para o luto, a melancolia e o sofrimento. Sobre este ponto, me admirei da quantidade de psicofármacos que me foram ofertados pela equipe médica para que eu pudesse, mesmo nos dias difíceis, conseguir produzir muito, mais e até melhor que nos dias bons. Bastava uma pílula de um tarja preta e tudo ficaria controlado. Afinal, “o depressivo é o inválido da guerra internalizada da sociedade de desempenho” (Brum, 2016). Pois, o mercado de trabalho, os afazeres domésticos e a faculdade não podem esperar o reequilíbrio das baixas causadas pelo sofrimento emocional.

 Referencias Bibliográficas

BRUM, Eliane. Exaustos – e Correndo – e Dopados. https://brasil.elpais.com/brasil/2016/07/04/politica/1467642464_246482.html

CAMPOS, Lediomar Silva, LEONEL, Camila Ferreira Silva e GUTIERREZ, Denise Machado Duran, Relação entre estresse e obesidade: uma revisão narrativa. 2020. https://periodicos.ufam.edu.br/index.php/BIUS/article/view/8255 

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Síndrome de Burnout e o esgotamento no trabalho durante a pandemia

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Como diferenciar o cansaço cotidiano de um problema mais sério?

A Síndrome de Burnout teve aumento expressivo durante a pandemia e apenas em 2019 entrou para a Classificação Internacional de Doenças da OMS (Organização Mundial da Saúde).

O Médico Psiquiatra, Dr. Daniel Munhoz Moreira, explica que é comum confundir o cansaço rotineiro com a síndrome de Burnout e que a diferença está na intensidade em que os sintomas se apresentam no último caso:

“A Síndrome de Burnout envolve cansaço intenso, sensações de esgotamento unido a um distanciamento mental do trabalho e colegas. A pessoa se isola e tem a sensação de diminuição da eficácia no trabalho”, aponta.

O Dr. Daniel Munhoz Moreira também acrescenta que esses sintomas devem estar ligados principalmente ao trabalho, ou seja, não devem ser vivenciados em outros contextos, como é o caso do cansaço rotineiro comum.

Agravamento da síndrome diante do trabalho remoto

O especialista alerta que toda mudança gera naturalmente estresse e resistência, o que já se torna um desafio para as pessoas, junto à demanda do trabalho.

“A perda da rotina levou muitas pessoas a desenvolver o problema, ou seja, ter de ir ao local, encontrar pessoas, ter o momento para o café, almoço, a pausa para assuntos corriqueiros ou até mesmo relacionados ao trabalho”, explica.

O home office para a maioria das pessoas é compreendido como algo monótono e solitário, mas é necessário que sejam impostas regras sobre a nova rotina.

“É fundamental que as pessoas tenham horário para entrar e sair do trabalho, além disso, é preciso manter as pausas para descanso, que podem envolver diferentes atividades que trazem prazer e relaxamento como: meditação, escutar música, leitura, descontração com o animal de estimação, uma breve saída de casa, etc.”, acrescenta.

O Dr. Daniel Munhoz Moreira alerta que é importante se desligar totalmente do celular nesses momentos para experimentar de fato o relaxamento e a desconexão das pressões cotidianas do trabalho.

Fonte: encurtador.com.br/ghjl2

O que fazer quando bater a sensação de esgotamento que não passa?

O psiquiatra explica que primeiro é preciso identificar se o problema é apenas o esgotamento ou se vem acompanhado dos sintomas já mencionados anteriormente.

“Enfatizo a necessidade de inserir no dia a dia atividades prazerosas que incluem: atividade física, prática de esportes, passeio em família, assistir a filmes e séries, entre outras. Além disso, friso a importância da boa alimentação e dos cuidados com a rotina do sono, que varia de 6 a 8 horas por dia”, ressalta.

Tratamento nos casos diagnosticados como Síndrome de Burnout

O Dr. Daniel Munhoz Moreira ressalta que, quando diagnosticado o problema da síndrome de Burnout, é fundamental o tratamento junto a um profissional da área da saúde mental.

“Inicialmente o indicado é a psicoterapia, para que a pessoa consiga lidar com essas emoções relacionadas ao trabalho. Há muitas estratégias que podem auxiliar junto à psicoterapia como: acupuntura sistêmica, mindfulness e, em casos, mais graves, farmacoterapia (utilização de medicamentos)”, orienta.

O Dr. Daniel Munhoz Moreira acredita que a melhor maneira de cuidar da saúde mental é a prevenção que envolve inserir na rotina os momentos de descanso, de meditação (em que há um desligamento do que ocorre externamente) e até mesmo uma lista em que se escreva tudo aquilo pelo qual a pessoa se sente verdadeiramente grata.

“Vale lembrar que a busca por terapia não deve estar associada a um problema em si. Buscar por terapia é um passo importante para que a pessoa consiga ter um melhor entendimento sobre as suas emoções e sentimentos e para que possa mudar comportamentos disfuncionais”, conclui.

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O constante desafio para equilibrar trabalho e qualidade de vida

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Fonte:http://blogs.atribuna.com.br/euestudocerto/wp-content/uploads/2013/07/Sem-tempo.jpg

Atualmente, a palavra “Trabalho” possui vários significados. Segundo Albornoz (1986) é possível achar o significado desta palavra a partir de duas formas: a de realizar uma ação que expresse a identidade do ser humano em um determinado contexto; e a de esforço diário, sem liberdade e autonomia.

A tradução da palavra, quando carregada de significados e emoções, pode suscitar (variável de acordo com a cultura) lembranças de formas de atuar diferentes, remetendo a imagens de alguém que produz e recebe uma remuneração por isso (capital). Muito se associa também à dor, fardo e esforço, pois o homem realiza e transforma algo (matéria prima) em prol de sua sobrevivência na sociedade, criando e reciclando instrumentos (Albornoz, 1986).

Independentemente do significado cultural que é atribuído à palavra trabalho, muito se diz sobre os benefícios e\ as consequências (longas jornadas de trabalho a fio) que a atividade humana para determinados fins pode proporcionar. O filósofo Bertrand Russell (1872- 1970) relata que os seres humanos deveriam ter uma jornada de trabalho menor, e que isso propiciaria mais tempo para a manifestação e desenvolvimento de habilidades artísticas e educacionais de cada um. Essa redução da jornada de trabalho, para Russell, deixaria a população menos submetida à alienação e a grandes rotinas que proporcionam grandes desgastes físicos e mentais.

Fonte:http://euquerotrabalho.com/files/2011/06/Tempo1.jpg

Olhando para a história, é possível perceber que a luta pela redução da jornada de trabalho é tão antiga quanto o próprio capitalismo, afinal no século XIX, surgem às primeiras obras de grande repercussão sobre o tema.  A luta pela redução da jornada de trabalho é apresentada por Marx como um direito dos trabalhadores, que têm parte de sua força de trabalho roubada pelo capital, sendo esta a base da construção da riqueza na sociedade capitalista. A redução da jornada de trabalho, por outro lado, aparece como um importante instrumento na construção de uma sociedade socialista em que homens e mulheres possam dedicar seu tempo livre para atividades mais prazerosas de caráter cultural, artístico.

Outro pensador que aborda a mesma proposta de Karl Marx é Bertrand Russel, em O Elogio ao Ócio, publicado em 1935. Russel critica o que ele chama de “crença na virtude do trabalho”, que seria responsável por uma série de malefícios vivenciados pela humanidade. A ideia da virtuosidade do trabalho poderia ter seu sentido em um período em que as forças produtivas fossem pouco desenvolvidas, mas, depois do advento da revolução industrial, passariam a carecer de qualquer forma de sentido. Russel ponta que a solução definitiva estaria no socialismo internacional. Com uma unidade central os erros poderiam ser evitados. Ao invés dos lucros, as indústrias teriam como motivação o planejamento governamental. Com o socialismo pode se encontrar o equilíbrio impossível no sistema capitalista. Acabará a insegurança econômica, que faz com que surjam as guerras. E as pessoas democraticamente eleitas seriam responsáveis por garantir o equilíbrio entre o lazer e o conforto. “Quando o socialismo tiver se generalizado em todo o mundo civilizado, os motivos para guerras em grande escala não deverão ter força suficiente para superar as razões, muito mais óbvias, de se preferir a paz.” (RUSSELL, 2002: 124).

Existiriam, para Russel, dois tipos de trabalho: o primeiro tipo é o executado por aqueles que efetivamente trabalham, e em segundo lugar, o trabalho que consiste em mandar os outros executarem as tarefas para si. Russel propõe que a jornada de trabalho ficasse restrita á quatro horas, em que o trabalho executado neste período de tempo seria suficiente para que os indivíduos pudessem, no entender do autor, satisfazer suas necessidades elementares, bem como as suas necessidades de conforto exigido pela vida. Como todos de sua época, Russell foi criado com a mentalidade do trabalho, onde o ócio seria algo negativo.

Como muitos homens da minha geração, fui educado segundo os preceitos do provérbio que diz que o ócio é o pai de todos os vícios. E, como sempre fui um jovem virtuoso, acreditava em tudo que me diziam, e foi assim que a minha consciência adquiriu o hábito de me obrigar a trabalhar duro até hoje (RUSSELL, 2002:23).

Fonte:http://www.blogdacidadania.com.br/wp-content/uploads/2013/07/marionete.png

A partir da dedicação de apenas quatro horas diárias ao trabalho. Russel acredita que as pessoas poderiam dedicar mais tempo ao desenvolvimento de sua educação, de diversas habilidades, como a pintura e as artes em geral, alcançando a humanidade, enfim, a alegria de viver, ao invés de todo o desgaste físico e emocional à exaustão, a que a população é submetida pela estressante faina a que são obrigados a enfrentar diariamente, por quase toda a vida. E como não estariam cansadas, as pessoas poderiam buscar diversões que fossem exclusivamente monótonas.

Fonte: https://espacoviryasp.wordpress.com/2015/01/27/para-que-serve-o-ocio-criativo/

Os pensadores que seguem a linha marxista acreditam que a redução da jornada de trabalho é, senão a única, ao menos a principal proposta a ser tornada prática para equacionar a problemática da diminuição do trabalho vivo e, em consequência, do aumento acelerado do desemprego. Segundo Russell “A técnica moderna tornou possível a drástica redução da quantidade de trabalho necessária para garantir a todos satisfação de suas necessidades básicas” (RUSSELL, 2002:28)

Ainda nos dias atuais o modo de produção capitalista, é muito difícil os patrões aceitarem de bom grado a redução da jornada de trabalho, mesmo que o empresariado possa obter alguns benefícios com a diminuição da jornada, como o aumento da produtividade do trabalho, que propicia a expansão do consumo tanto pelos novos assalariados, bem como pela ampliação do consumo do ócio, por parte dos trabalhadores com maior tempo livre. Assim mesmo, a lógica do capital é opor-se à medida, se não for seguida da redução dos salários. A aceitação da redução da jornada de trabalho por parte da classe capitalista, com manutenção de salários, mostra-se pouco provável de ocorrer até nos dias atuais. Da mesma forma, nada indica que pelo fato de estarem ocorrendo transformações aceleradas no mundo do trabalho, fruto das inovações tecnológicas, com a necessidade da utilização de menos trabalhadores para a produção de uma mesma quantidade de mercadorias, que a diminuição da jornada de trabalho será posta em prática com maior facilidade. Para Russell

[…] A moderna técnica trouxe consigo a possibilidade de que o lazer, dentro de certos limites, deixe de ser uma prerrogativa de minorias privilegiadas e se torne um direito a ser distribuído de maneira equânime por toda a coletividade. A moral do trabalho é uma moral de escravos, e o mundo moderno não precisa da escravidão. (RUSSELL, 2002:27)

 O que se verifica é que o trabalho encontra-se cada vez mais precarizado, através da flexibilização dos direitos trabalhistas, e é nestas formas de organização produtiva que se observa a convivência entre as mais arcaicas formas de exploração do trabalho, acompanhadas pelas modernas. Assim sendo, pode-se concluir que a redução da jornada de trabalho e a ampliação do tempo livre a que o trabalhador poderia usufruir somente seria realmente viabilizada em proveito dos próprios trabalhadores sob a organização de uma sociedade em que não houvesse o predomínio da propriedade privada dos meios de produção. Do contrário, sempre alguém irá pagar pela redução da jornada de trabalho, e no caso do capitalismo, sempre o custo recairá sobre os trabalhadores de forma direta ou indireta. Para Russell, as pessoas precisam de maior tempo de lazer:

[…] Os prazeres das populações urbanas se tornaram fundamentalmente passivos: ver filmes, assistir a partidas de futebol, ouvir rádio e assim por diante. Isto ocorre porque as energias ativas da população estão totalmente absorvidas pelo trabalho. Se as pessoas tivessem mais lazer, voltariam a desfrutar prazeres em participassem ativamente (RUSSELL, 2002: 33).

Fonte: http://obviousmag.org/archives/2009/02/trabalho_no_mundo.html.jpg?v=20151117184946

Se trouxermos o tema redução do trabalho e ócio para os dias atuais, é possível dizer que o homem deixou de trabalhar para viver e passou a viver para trabalhar, houve uma queda criativa da capacidade do individuo, pois, ele não tem o ócio para realizar as coisas que realmente gosta. É possível dizer que hoje, o ócio é visto com maus olhos, com mediocridade, hoje, o ócio um sinônimo de vagabundagem ou de férias, de não fazer nada. É irônico que no próprio grego a palavra tenha sofrido essa distorção. Em grego, é psykhagogía, o que significa originariamente condução da alma. Por quê? Porque o ócio é o momento em que o indivíduo para refletir sobre a alma. No livro Sobre o Ócio, Sêneca mostra que esse é o momento da contemplação, da reflexão, do encontro do sujeito consigo mesmo, de pensar no sentido da sua existência – o que estou fazendo aqui, de onde vim, para onde vou. A função do ócio é renascer de si próprio e recriar-se constantemente no caminho da evolução. Em Fedro e em O Simpósio (erroneamente traduzido como O Banquete), Platão nos dá reflexões excelentes sobre isso. Ele queria recuperar o saber da verdadeira Paidéia, a arte de formar um homem não pelo conhecimento, mas pela ética e pela verdade – os princípios por excelência do pensamento arcaico como forma de educação. Portando, o ócio significa o momento de fazer uma viagem exterior e outra, interior, como dizia Sócrates. A viagem interior rumo à descoberta de si, para a pessoa se pôr para fora, a serviço do social e da realização – a fim de que ela parta daqui mais evoluída e deixe uma contribuição para a criação.

Com o passar do tempo, novas formas de trabalho são impostas e configuradas na sociedade. Atualmente, no Brasil, com a implementação do sistema capitalista, os homens devem produzir a fim de adquirir o lucro (capital). Quanto mais se produz, mais se ganha. Isso pode gerar indivíduos que buscam longas jornadas de trabalho a fio para poder adquirir mais recursos e adentrar ainda mais ao sistema vigente do país.

Hoje, uma grande discussão que envolve o trabalho como apenas mais uma atividade do homem é a qualidade de vida. Devido aos desgastes causados pela busca incessante de lucros, a qualidade de vida nos países emergentes tem se degradado. “A trama em que essa questão está envolta é quase evidente: a luta pela sobrevivência leva a uma jornada excessiva de trabalho, e as condições em que o trabalho se realiza repercutem diretamente na fisiologia do corpo.” (HELOANI; CAPITÃO, 2003)

Fonte: http://lainnois.blogspot.com.br/2007/09/captulo-ix-do-domnio-real-rousseau-fim.html

Bertrand Russell definiu o trabalho em duas esferas diferentes; A primeira tratava-se da esfera de trabalho braçal onde o trabalhador tinha como meta alterar a posição de uma matéria ou de transforma-la. Sendo este trabalho menosprezado e pouco valorizado. E a segunda é o daqueles que supervisionam os trabalhadores que fazem o serviço braçal, supervisionando e dando ordens, sendo este tipo de trabalhadores mais valorizados e melhor remunerados que os outros.

Russell argumentava que as pessoas trabalhavam dura a vida inteira, recebendo o mínimo em troca, somente o necessário para a sobrevivência. Enquanto as classes dominantes falavam na honra do trabalho como uma forma de lavagem cerebral das categorias trabalhistas que pegavam no pesado. Deste modo o homem passa a trabalhar mais para conseguir se manter.

Lembre-se que o tempo é dinheiro. Para aquele que pode ganhar dez shillings por dia pelo seu trabalho e vai passear ou fica ocioso metade do dia, apesar de não gastar mais que seis pense em sua vadiagem ou diversão, não deve ser computada apenas essa despesa; ele gastou, ou melhor, jogou fora mais cinco shillings (WEBER, Max, 1904).

Sendo que este trabalho excessivo pode acarretar desgaste físico, criativo, intelectual e emocional.  Assim o trabalhador se afasta da cultura em geral acarretando em um cidadão leigo, sem opinião. Estes conceitos apresentados por Russell refletem-se nos temas atuais sobre o trabalho como é o caso do estresse e síndrome de Burnout.

A síndrome de Burnout trata-se de um desgaste do indivíduo frente as atividades exercidas no âmbito de trabalho podendo provocar um desgaste emocional e estresse crônico, muitas vezes é confundido com a depressão, por isso torna-se necessário um diagnóstico detalhado. Comumente ocorrem mudanças de comportamentos como irritabilidade, tristeza, pessimista, falha de memória entre outros.

Fonte: http://apranchetadoguerreiro.blogspot.com.br/2006_10_01_archive.html

Alguns estudos demonstram que “[…] sobre as condições de trabalho na União Européia, informa que 28% dos trabalhadores tinham problemas de saúde relacionados com o estresse” e “São quase 41 milhões os trabalhadores por ano da União Europeia, de todos os ramos de atividades, afetados pelo estresse relacionado com o trabalho, o que equivale a 600 milhões de dias de trabalho perdidos devido a doenças relacionadas com a atividade laboral.” (AREIAS E. Q; COMANDULE).

Na sociedade em que vivemos, o trabalho assume um papel elementar na socialização como um todo, uma vez que se apresenta como um campo de relações e consequentemente de elaboração da subjetividade humana. Além disso, a profissão escolhida e suas características passam a fazer parte da identidade do indivíduo perante a sociedade.

A partir de então, percebe-se que a produtividade, a visão de respeito, a eficiência e competência do indivíduo tornam-se também importantes pontos de manutenção da autoestima. Logo, o ambiente em que o trabalho se dá e suas condições precisam ser favoráveis e as relações precisam ser construídas de maneira saudáveis, mesmo que isso seja desafiador na maioria das vezes.

Percebe-se então, que esse cenário atual foi configurado aos poucos e hoje abriga patologias psicológicas das mais diversas naturezas, como: depressão, ansiedade, síndrome do pânico, síndrome de Burnout, entre outros. Essa realidade contrasta com o ideal de qualidade de vida no trabalho e corrobora com a visão filosófica de Russell, que acredita que o homem não pode ser verdadeiramente feliz tendo o seu trabalho como atividade principal na vida e que precisa ter tempo para se desenvolver em outros campos.

Diante do assunto exposto nesse trabalho, podemos perceber que a felicidade passa necessariamente pela redução da jornada de trabalho. Buscamos a felicidade, e ela vem à medida que somos donos do nosso corpo, mente e tempo. Reduzir a jornada de trabalho é uma conquista que se faz necessária, embora seja difícil, por vivermos em uma sociedade capitalista que prega a todo instante que precisamos ser mais e mais.

Porém, ao pensar sobre a redução da carga horária de trabalho é preciso falar acerca dos benefícios que isso traz, afinal, são horas livres para o lazer, ócio, prática de esportes, estudo, descanso e até mesmo viagens.  Sabe- se que o trabalho interfere diretamente no bem estar das pessoas. Se elas estão sobrecarregadas ou se o trabalho não lhe permite tempo de sobra para outras atividades, a qualidade de vida será afetada.

Essa interferência do trabalho na qualidade e quantidade de tempo tem favorecido um comportamento de consumo que não é apenas autodestrutivo, mas é extremamente prejudicial ao planeta. Constantemente somos bombardeados pelas propagandas que nos dizem a todo o tempo que o bem estar consiste em consumir coisas, bens materiais, tudo volta- se ao consumir.

Como resultado, consumimos mais na tentativa de atingir ao ideal, um estilo de vida mediada por coisas e não por relações e momentos. O que gera o sentimento de insatisfação e vazio. Sem contar que este estilo de vida caro nos exige cada vez mais tempo de trabalho, que agora também ocupa nosso tempo livre. Chegamos a um ponto de diluição de fronteiras entre tempo livre e tempo de trabalho e com o avanço da tecnologia, essas fronteiras tendem a ser tornar ainda menos claras.

Todo esse ciclo vem sendo convenientemente sustentado por nosso modelo econômico, que obcecado por crescimento e riqueza, ignora os altos custos sociais e ambientais envolvidos. Portanto, acredita- se que com uma jornada de trabalho reduzida, sem afetar bi salário do trabalhador, ele poderia se dedicar mais ao lazer, aos seus projetos pessoais o que geraria menos pessoas doentes, mais felicidade e disposição para trabalhar.

REFERÊNCIAS

Antônio Flavio Pierucci (Ed.). São Paulo: Companhia de letras, 2004.

Albornoz, Suzana. O que é trabalho. 1ª edição. São Paulo: Brasilense, 1986.

Russell, Bertrand, O Elogio ao Ócio, ed. Sextante, ano de edição 2002.

WEBER, M. WEBER, Max. A Ética Protestante e o “espírito” do capitalismo.

AREIAS E. Q; COMANDULE, Alexandre Q. Qualidade de vida, estresse no trabalho e síndrome de Burnout. Disponível em: http://www.fef.unicamp.br/fef/sites/uploads/deafa/qvaf/fadiga_cap1.pdf – Acessado em 29/03/2016

HELOANI, José Roberto; CAPITÃO, Cláudio Garcia. Saúde mental e psicologia do trabalho. São Paulo em Perspectiva,[s.l.], v. 17, n. 2, p.102-108, jun. 2003. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0102-88392003000200011&script=sci_arttext>. Acesso em: 29 mar. 2016.

http://www.universopsi.com.br/dc036.html – Acessado em 04/03/2016

http://michaelis.uol.com.br/moderno/portugues/definicao/psicagogia%20_1029179.html – Acessado em 04/03/2016

Artigo sobre o ócio: http://www.portalanpedsul.com.br/admin/uploads/2010/Filosofia_e_Educacao/Trabalho/08_02_32_.OS_VICIOS_E_O_OCIO_NO_PROCESSO_FORMATIVO_DO_SABIO_SENEQUIANO.PDF – Acesso em 05/03/2016.

O Sétimo Continente. Disponível em http://www.osetimocontinente.com/2010/02/o-banquete-platao.html – Acesso em 05/03/2016.

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Quando a síndrome de burnout muda os planos de uma professora

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Uma colega chegou um dia na escola mostrando um estudo sobre a síndrome de burnout, o qual li mais por curiosidade, sem levar em conta se era científico ou não, e com o mesmo sentimento que se tem quando se lê o horóscopo. Fiz um comparativo do meu comportamento com os sintomas descritos e percebi, da mesma forma que percebo quando leio sobre o signo de leão, que muita coisa ali se referia a mim. E daí? Nada, continuar a fazer o trabalho de sempre, pois já havia batido o sinal e iria me atrasar.

Quando não convivia com a síndrome de burnout, como quase a totalidade dos seres humanos, os minutos, dias, semanas, meses e anos não tinham tempo definido como os matemáticos teimam em insistir. Eram momentos melhores ou piores, acontecimentos trágicos, dramáticos ou cômicos, como os teatrólogos descrevem. Eram saltos, giros, passos, como bem praticam os bailarinos. Eram notas breves ou colcheias como só os músicos entendem. Eram quadros de Miró, ora Kandinsky, Van Gogh, mas na maioria da vezes Leonardo e quase nunca Mondrian. À noite, invariavelmente, Dali.

E assim se passava minha vida… Eu nem sabia, não percebia, não pensava nela. Os altos e baixos, os cheios e vazios faziam dela o que eu pensava que era ela.

Eu seguia pintando, cantando, dançando a vida da forma mais bonita, gostosa, limpa e criativa que pudesse.

Muitos, Freud explica. Mas eu, sempre Veríssimo.

Um dia me vi com a péssima sensação de sentir cada segundo de cada minuto, cada minuto de cada hora, cada hora do dia e da noite, cada semana, mês, até ter se passado um ano.

Foi no ano de 2010, em que cada minuto teve sessenta segundos e o meu mundo caiu.

Começaram os pesadelos acordada e dormindo. Coincidentemente minha última aula foi sobre a diferença de sonhar acordado e de sonhar dormindo. Exemplifiquei com o discurso  “I have a dream” do Luther King e os quadros de Salvador Dali, passando pela psicanálise de Freud.

Todos os outros 28 anos começaram na escola da mesma forma, (que falta de criatividade), com a semana pedagógica que nos primeiros anos era no final de fevereiro e hoje é no começo. Naqueles anos eram 180 dias letivos e hoje são 200. Antes eram discussões para melhorar o ensino, hoje são massacres com leituras de textos que alguém tirou xerox e mandou a gente ler. São broncas, chamadas de atenção e pressões de vários tipos.

Até 2008, as palavras que me descreviam eram alegria, simpatia, satisfação, entusiasmo, saúde com poucos momentos em que tudo estava às avessas e todo mundo estranhava, geralmente TPM.

Aos poucos fui me transformando em uma pessoa amarga, insatisfeita, cansada, desanimada, que era dona de um caderninho cheio de anotações de minutos e horas que faltavam para ir para casa e sossegar. Comecei a brigar e fazer desaforos para quem passasse pelo meu caminho, a ter preguiça. Eu sofri várias desilusões com os alunos, fiquei inconformada com seus novos e terríveis comportamentos.

Perdi a fé no meu trabalho.

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