A importância da Psicologia para as atividades esportivas

JOSÉ EDUARDO BISPO DE OLIVEIRA – Acadêmico do curso de Psicologia do Centro Universitário Luterano de Palmas – E-mail: joseeduardobispo@rede.ulbra.br

ROBERTO MADUREIRA BURNS NETO – Psicólogo do esporte (CRP- 23/002381) Coordenador de Projeto de Associação Palmas Jovem – E-mail: burnsneto@gmail.com 

 

A psicologia do esporte é um ramo da psicologia que se originou a partir da necessidade de observar e entender de forma científica como pessoas poderiam lidar de uma maneira mais palatável com suas atividades. Gill e Williams (2018) pontuam que a psicologia do esporte identifica princípios e diretrizes para ajudar profissionais podendo ser aplicada para ajudar as pessoas envolvidas na atividade. Também, como a atividade física pode ser potencializada quando tem o emprego da psicologia com o atleta de alto rendimento e quais os benefícios na recuperação de indivíduos com limitações físicas ou cognitivas.

Outrossim, é fundamental delinear que a psicologia do esporte derivou em grande parte da Psicologia do Desenvolvimento, utilizando diversas técnicas do processo de aprendizagem e absorção de informações para deixar a prática do exercício um ambiente de satisfação e reduzir o processo de ansiedade que pode surgir quando se disputa grandes campeonatos. Assim, (Weinberg e Robert S. 2017) destacam que, em virtude dos psicólogos do esporte atuarem com a identificação dos objetivos do indivíduo e a partir disso, buscar potencializar as capacidades latentes. Esses psicólogos que adquirem experiência na prática esportiva são cotados também para trabalharem com o auxílio de tropas de elite militares e cirurgiões que buscam aperfeiçoar o desempenho.

Em outro momento, faz-se essencial, especificar a atuação da Psicologia Clínica do Esporte entre a Psicologia Educacional do Esporte. Enquanto a primeira recebe a qualificação para identificar e tratar indivíduos com transtornos emocionais e aplicar testes para averiguar os respectivos níveis de impactos que esses causem ao desenvolvimento do atleta.

Para a atuação da Psicologia Clínica do Esporte é necessário que seja respeitado os protocolos de garantia do sigilo e um ambiente apropriado para esculta e aplicação de testes que sigam a regulamentação do Conselho Federal de Psicologia (CFP).

Para a segunda, a Psicologia Educacional do Esporte, por atuarem de forma mais próxima das atividades de campo, como treinamentos e momentos de interação entre os atletas. Tem o papel de promover a qualidade da saúde mental dos atletas, tendo como fundamento entender quais fatores ambientais e emocionais influenciam de forma negativa e os elementos de estímulo para os indivíduos.

Especialistas em psicologia educacional do esporte são “treinadores mentais” que educam atletas e praticantes de exercícios sobre habilidades psicológicas e seu desenvolvimento. (WEINBERG, ROBERT S. 2017 p. 7-10.)

Dessa maneira, o Psicólogo Educacional consegue desde potencializar o desenvolvimento do atleta, até atuar na prevenção de transtornos como A Síndrome de Burnout voltada a prática esportiva. Por essa perspectiva, esse trabalho terá seu aprofundamento na Psicologia Educacional.

Foto: Pixabay

A saúde mental dos atletas

A linha teórica da Psicologia Educacional do Esporte e do Exercício, aborda que, para observar quais motivos influenciam o indivíduo é preciso observar cada pessoa e sua particularidade de maneira individual. Para que a partir disso, sejam implementados métodos e formas de perceber a pessoal de uma forma mais tangível. De acordo com suas vivências ambientais e práticas de vida.

Em primeiro momento, a saúde mental e como os atletas encaram o desafio, vão ter forte influência no seu desempenho e satisfação durante a prática esportiva. (Spielberger, 1966), destaca que a ansiedade é definida mais formalmente como estado emocional de apreensão e tensão que acompanham uma forte ativação do sistema nervoso. A partir dessa lógica, quando o atleta perde a capacidade de perceber esse aumento exponencial dos batimentos, que é um somatório para o quadro ansiogênicos, tem-se a perda de consciência dos seus objetivos e até esquecimentos das habilidades aprendidas.

Ademais, (Spielberger 1966), pontua que a ao destrinchar a ansiedade, surge o produto que seria o Traço de Ansiedade (TA). Que predispõe, um indivíduo a entender como uma circunstância ameaçadora uma situação que não é. Assim, um exemplo seria um jogador ao bater um pênalti, começa acredita de forma concentra que vai tropeçar e não conseguirá acertar na bola. A partir desse pensamento disfuncional, definido como (TA), por medo de não conseguir, os batimentos do atleta têm uma aceleração desproporcional ao momento em que ele se encontra e, por estar ansioso acaba de fato errando o pênalti.

Ao adentrar na perspectiva, um time que não tem um profissional de Psicologia Esportiva está alguns passos atrás na observação de traços ansiogênicos, que inicialmente podem se apresentar como leves. Contudo, com ausência de um acompanhamento maior pode se tornar uma crise maior, podendo vir a incapacitar o atleta de exercer suas funções por completo.

O estresse ocorre quando há um desequilíbrio substancial entre as demandas físicas e psicológicas impostas a um indivíduo e sua capacidade de resposta, em condições nas quais a falha em satisfazer a essas demandas tem consequências importantes. (WEINBERG, ROBERT S. 2017 p. 76.)

Desse modo, caminhando por um olhar Psicologia Positiva sobre o contexto ambiental que se dá a Psicologia Educacional do Esporte e do Exercício, tem-se mostrado como problema para os atletas que sofrem pressões tanto interna dos treinadores, equipe técnica, dos colegas de equipe e da família. Assim, os atletas por não conseguirem se desvincular das cobranças, acabam desenvolvendo síndromes associadas ao ambiente das práticas esportivas. Como a Síndrome de Burnout, associada a treinamentos excessivos e poucos níveis de descanso, gerando uma sobrecarga no atleta.

Quando o volume de treinamento é grande demais ou o atleta mostra ausência de repouso ou outros estressores físicos ou psicológicos, ocorrem adaptações problemáticas, que levam ao desempenho deteriorado. (WEINBERG, ROBERT S. 2017 p 470.)

Somado a isso, indo contra a crença popular de que quanto maior o esforço, melhor para o atleta. É demonstrado que, o descanso é fundamental para a recuperação e o desenvolvimento do atleta, tanto físico, quanto psicológico. Portanto, quando o tempo de descanso não é respeitado o atleta sofre uma série de consequências. Como, mais contusões e estresse durante a partida.

 

Burnout no esporte

Em competições esportivas, sempre tem uma série de pessoas envolvidas na preparação além dos atletas que são, a equipe técnica, a equipe de arbitragem que fica em campo e a que atua por vídeo. Assim, para obterem êxito nas suas atividades são exigidos altos níveis de treinamento desses indivíduos. Em grande parte, essas pessoas influenciadas pela crença popular de que quanto maior o volume de treino, tem-se um melhor resultado, acabam se sobrecarregando e gerando um maior desgaste pessoal e na equipe envolvida.

A teoria é quanto mais treinar, melhor, você tem de começar a treinar cedo, o ano inteiro, se quiser competir em alto nível. Os praticantes de exercícios, em sua busca de se sentirem e parecerem melhor, às vezes vão longe demais, treinam excessivamente e chegam a Burnout. (WEINBERG, ROBERT S, 2017,  p. 469).

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Ademais, a Síndrome de Burnout, descrita como um estado de exaustão física e emocional relacionada ao trabalho, afeta não somente os ambientes de trabalho formal, como é difundido pela crença cultural. Tem impactos severos desde os atletas comuns até os de alto rendimento que, por muitas vezes acabam tendo uma queda significativa no rendimento. Fato que, em casos chegam a níveis tão prejudiciais que levam o atleta a encerrar sua carreira de forma precoce.

A despeito disso, Michael Phelps nadador americano, considerado um dos maiores atletas olímpicos de todos os tempos, ganhador de 28 medalhas olímpicas. Declarou em uma entrevista á Sports Ilustrated em 2017 que, a pressão para vencer e a atenção da mídia a todo tempo, “em momentos se sentiu como um rato em uma roda”, sentimento que o levou a um estado de esgotamento emocional que o levou a cogitar aposentadoria. Em adição, o jogador de futebol americano, Andrew Luck, que jogou na Liga Nacional de Futebol (NFL), tida como o apogeu do esporte, se aposentou aos 29 anos citando problemas de saúde mental e síndrome de Burnout como motivadores da decisão. Em entrevista coletiva em 2019 a ESPN, Luck mencionou que a tensão e o estresse se acumularam durante os anos, movimento esse que o levou a decidir se afastar de forma precoce da prática esportiva.

 Boa parte das pessoas, se prendem a imagem perfeita que é levantada sobre os atletas, eleitos como seres quase que perfeitos, sem erros e sem grandes desafios que não podem vencer. Não satisfeito, todos estão propensos a desenvolver Burnout, ansiedade ou um esgotamento emocional, em destaque, quando submetidos a condições ambientes de desgaste. É fundamental, explanar que o esgotamento emocional, pode acontecer se as condições forem desfavoráveis, com ambientes e rotinas que não proporcionam descanso, em que a vida do atleta fica resumida somente a se preparar para vencer e a felicidade condicionada a vencer campeonatos.

Caminhos para uma experiência satisfatória

Nas práticas esportivas, tem-se a construção do entendimento social que o estímulo constante por resultados levam aos fatores essenciais para uma vitória. Assim, educam atletas e os condicionam a vitórias e novos campeonatos, ao vencer um campeonato começa a preparação para o próximo, temporada 2022, temporada 2023. Esse constructo, faz com que o atleta se questione quais os motivos de buscar o próximo, e o sentimento de nunca conquistar o suficiente inunda.

Os desafios da competição podem ser estimulantes e prazerosos. Mas, quando derrotar o oponente toma precedência na mente sobre obter o melhor desempenho possível, a fruição tende a desaparecer. A competição só pode ser apreciada quando é um meio de aperfeiçoar as habilidades; quando se torna um fim em si, deixa de ser divertida. (MIHALY, 2020, p.66).

Em consequência disso, uma gama de atletas ficam adoecidos, por passarem anos treinando para ir a campeonatos importantes, e ao receberem o troféu e uma quantidade acima da media de dinheiro, ainda assim ficam insatisfeitos. Por essa ótica, (Mihaly 2020, 1ª ed, .68) pontua que, o esporte é um dos locais mais propícios para o desenvolvimento de um sentimento de envolvimento e autoconhecimento, fatores em conjunto podem ser elementos para uma sensação de satisfação e deixar o indivíduo se sentindo integrado do meio.

Assim, (Mihaly 2020, 1ª ed, .68), desenvolveu a teoria de que existem elementos que são importantes para que o indivíduo, consiga maiores momentos de satisfação. A primeira seria o confronto de tarefas que são possíveis de serem concluídas pelo atleta. Segundo, o atleta conseguir ter uma concentração no que deve ser alcançado. Terceiro e quarto, os treinadores possuírem metas objetivas que devem ser alcançadas por esse indivíduo. O que estimularia os atletas a estarem sempre em um apetite por se superar. Quinto, a partir da retirada do foco em conquistar troféus e, o desenvolvimento do foco em se auto aperfeiçoar, maiores fatores para uma vivência mais saudável e a motivação para se superar estaria renovada.

Considerações finais

Faz-se necessário, portanto, uma equipe da psicologia esportiva atuando na desconstrução desses padrões condicionados a resultados que já estão institucionalizados por boa parte dos times, comissões técnicas e comissões de arbitragem. Assim, ao ser demonstrado que o foco somente em conquistar troféus e campeonatos é um dos principais responsáveis pelo adoecimento psíquico, que pode desenvolver sintomas psicossomáticos e aposentadoria precoce dos jogadores, tem-se portanto, um passo a mais para reestruturar esse sistema. Proporcionando uma melhor saúde mental para esses atletas e a possibilidade para atingir e superar novos parâmetros nas performances. Já que, quando aliados a técnicas positivas e a atuação de psicólogos esportivos, os times demonstram índices de melhores resultados e maior adesão dos atletas.

 

REFERÊNCIAS

VIEIRA, L. VISSOCI, J. OLIVEIRA, L. VIEIRA, J. Psicologia do esporte: uma área emergente da psicologia. 2010. https://www.scielo.br/j/pe/a/dxqXV7GtH7zkCLkzYq7K7Wd/.

GUSTAFSSON, H. KENTT, G. HASSMEN, P. LUNDGVIST). Prevalence of burnout in competitive adolescent athletes. Journal of Athletic Training, 2020.

OLMDILLA- ZAFRA, A. GARCÍA-GONZALEZ. ORTEGA, E. Burnout and muscular-skeletal injuries among professional football players. Journal of Sports Sciences. 2019.

SPORTS ILLUSTRATE Michael Phelps Opens Up About Depression and Suicidal Thoughts. 2017. https://www.espn.com/olympics/swimming/story/_/id/26796317/phelps-wins-award-mental-health-advocacy

CNN,  Michael Phelps: I am extremely thankful that I did not take my life. 2018. https://edition.cnn.com/2018/01/19/health/michael-phelps-depression/index.html

CSIKSZENTMIHALY, MIHALY. Flow: a psicologia do alto desempenho e da felicidade – 1ª ed. Rio de Janeiro, 2020.

WEINBERG, ROBERT S. (2017) Fundamentos da psicologia do esporte e do exercício. 6ª ed. Porto Alegre, 2020.