Juntos pela conveniência?

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Estima-se que as pessoas buscam a felicidade e fazem escolhas de forma que contribuem para chegar a esse destino. Mas por que um casal que não consegue se dar bem insiste em continuar a relação? É comum que as pessoas próximas parem de perguntar se estão juntos ou separados, porque o vai e vem se torna tão rotineiro que quase ninguém mais leva a sério as dificuldades conjugais que o casal vivencia.

Nesse tipo de configuração de relacionamento algo pode estar faltando como o sentimento do amor, vínculo afetivo ou até mesmo um senso de dignidade. Pode se ter perdido a consciência do relacionamento e o equilíbrio que é necessário para manter ele. Outro ponto que pode também ocorrer é a perda da noção de identidade, pois suas personalidades podem se emaranhar uma com a outra 1.

Por vezes a irracionalidade toma conta do casal, que fica à mercê de suas particularidades ou disfunções. Assim ambos perdem sua conjuntura de indivíduos que têm poder sobre sua própria história, e permanecem em um estado de inconsciência sobre o seu relacionamento. Algumas vezes na relação pode alternar momentos de equilíbrio, no entanto esse período torna-se passageiro e logo volta a configuração de antes 2.

Alguns sujeitos que estão inseridos nesse tipo de relação, às vezes permanecem por considerar que fará bem ao seu parceiro, mesmo que se sinta desprezado por ele. A noção de que o rompimento pode ocasionar um grande sofrimento emocional pode ser uma grande influência no momento de não optar pelo término do relacionamento2.

Ainda assim, alguns especialistas acreditam que o principal motivo para evitar rompimentos é o medo de ficar sozinho. Muitas pessoas relutam em admitir que existem problemas insolúveis, ou preferem ignorar que seu parceiro é a verdadeira fonte de infortúnio. Outra razão pode ser que algumas pessoas pensam que, se terminarem o relacionamento, serão vistas como uns perdedores sociais, por não conseguir manter um relacionamento1.

Fonte: Pixabay

A separação em sua maioria vem seguida de sofrimento psíquico, mesmo que o sentimento do amor tenha acabado e não haja mais motivos para manter o relacionamento. É por isso que muitos casais insistem em tentar manter um relacionamento que acabam ficando juntos (as) porque, emocionalmente, não conseguem ficar sozinhos (as). É necessário o amadurecimento, mas passar por esse processo pode ser doloroso, e necessita de esforço1.

O benefício de manter a relação e que com isso não é necessário aplicar esforço devido ao processo de individualização que pode ser evitado. Renunciar um relacionamento é abrir mão de seus sonhos e planos com a outra pessoa. A viagem do ano que vem, a casa que vão comprar, o negócio que vão abrir depois da aposentadoria. Tudo desmorona quando a união declara seu fim. Para quem está separando, deve cancelar todos os planos para o futuro e recomeçar. Ter filhos é ainda mais difícil. Além de começar uma nova vida sozinho, você também deve conviver com seu ex-parceiro, além disso quando um dos parceiros depende economicamente do outro parceiro, tem se o medo de diminuir o padrão de vida 2.

 Há muitas razões para permanecer em um relacionamento que terminou. No entanto, manter uma união sem sentimentos pode ter consequências negativas, a começar por viver em constante insatisfação. Compartilhar a vida, inclusive renunciar a alguns desejos, só é possível com sentimentos mútuos um para com outro e desejo de permanecer juntos. Viver juntos pode se tornar um sacrifício quando um relacionamento termina. A insatisfação afeta o relacionamento e a vida familiar. Se não for tratada, ambos ficam em sofrimento e afetam aqueles ao seu redor.

Por outro lado, é preciso avaliar se a relação realmente acabou. Se ainda há sentimentos, pode ser viável tentar encontrar uma solução. A distância que os casais constroem pode ser resultado de falta de comunicação, expectativas irreais um do outro e conflitos não resolvidos. Dê atenção especial a essas questões e, em alguns casos, pode ser possível reconstruir o relacionamento. O companheirismo e a amizade podem até sustentar um relacionamento. Mas depende de qual é a expectativa de vida de cada um que está inserido no relacionamento.

No entanto, se todas as tentativas de construir a felicidade e a convivência agradável falharem, talvez o melhor a fazer é enfrentar a mudança, apesar de o fim de um relacionamento ser em sua maioria um momento de sofrimento, posteriormente pode ser o recomeço de muitas de possibilidades, e se colocar como prioridade pode ser essencial.

Referências

JABLONSKI, B. Até que a vida nos separe: a crise do casamento contemporâneo. Rio de Janeiro: Agir, 1991.

KASLOW, F.; SCHWARTZ, L. As dinâmicas do divórcio: uma perspectiva do ciclo vital. Campinas: Editora Psy, 1995.

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Hometown Cha-Cha-Cha: sobre trauma, simplicidade, cura e rede de apoio

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Série sul-coreana retrata de uma forma calorosa o recomeçar, as formas das quais uma pessoa lida com seus traumas, e a criação de novos laços.

Você está destinada a encontrar situações inesperadas na sua vida. Mesmo que você use um guarda chuva, você vai acabar encharcada. Só coloque suas mãos pra cima e dê boas vindas à chuva (Hong Du Sik)

Fonte: encurtador.com.br/myA09

Esse texto contém spoilers sobre a série e o final de alguns personagens, então tenha cuidado ao ler caso não goste de spoilers e essa série esteja na sua lista de para assistir.

Hometown Cha-Cha-Cha é uma série sul-coreana que foi lançada em Agosto de 2021, exibida no canal coreano TVN e distribuída internacionalmente pela Netflix. Com uma história contada de forma sensível, acolhedora e divertida, o k-drama foca na adaptação de uma dentista de Seul que se muda para o interior, para abrir uma clínica e um faz-tudo (literalmente) que viveu a sua vida inteira nesse vilarejo.

Yoon Hye Jin (Shin Min-a) é uma mulher adulta, dentista que perdeu a sua mãe quando era jovem. Ela atende em uma clínica popular de Seul, porém ao entrar em conflito com a sua chefe antiética (que fazia procedimentos nos pacientes sem necessidade, e cobrava a mais pelos procedimentos), ela pede demissão e vai parar em Gongjin, um vilarejo à beira do mar. O vilarejo é de certa forma significativo para Hye Jin, já que ela costumava ir lá com os seus pais antes de sua mãe morrer. Ela decide abrir uma clínica lá, como uma forma de ganhar dinheiro e ter independência empregatícia.

Já em Gongjin, Hong Du Sik (Kim Seon-Ho) é literalmente um faz-tudo no vilarejo, e possui licença para praticar quase todas as funções possíveis (desde barista à engenheiro). Extremamente atencioso, principalmente com os idosos, Du Sik trabalha ajudando todos do vilarejo, e tira folga um dia por semana. Du Sik foi abandonado pelos seus pais e criado por seus avós, mas um dia durante a sua infância o avô dele acaba falecendo e Du Sik se culpa pelo resto da vida por ter perdido.

Na análise do comportamento, nossos comportamentos são ditados por regras, contingências e consequências. De acordo com De-Farias (2010) e Skinner (1969/1984), regras são estímulos discriminativos verbais que descrevem ou especificam uma contingência. Contingências são relações do tipo “se… então…”.

Hong Du Sik, ao perder seu avô e ser abandonado pelos seus pais, desenvolve um repertório de contingências que representa um padrão de fuga de emoções e de se ter uma real proximidade com alguém através de qualquer tipo de amor. Se ele amar alguém, então essa pessoa definitivamente irá morrer ou irá abandoná-lo. Essa contingência se intensifica quando, ao já estar emocionalmente envolvido com Hye Jin, sua avó Kim Gam Ri morre dormindo. Du Sik é mais uma vez atingido pelo luto e suas contingências de abandono se intensificam.

Como telespectadores, é claro para nós que estamos de fora o quão distorcida a realidade é através das autorregras e contingências de Du Sik.

Um dos pontos mais calorosos sobre a série se trata dos moradores do vilarejo. Um trio de senhoras idosas (em que uma delas inclui sua avó) que ao mesmo tempo que demonstram sua idade e conhecimento, são como três melhores amigas adolescentes. Um cantor que só fez sucesso com uma música, e sua filha fã de um grupo de k-pop (grupo do qual mais tarde vai gravar um programa de TV no vilarejo). Uma mãe divorciada do seu marido que é prefeito do vilarejo, no qual ambos possuem uma amiga que na verdade é apaixonada pela mãe divorciada, quebrando assim estereótipos de heterossexualidade e nos apresentando de uma forma quase dolorosa a realidade de muitas mulheres lésbicas maduras. O melhor amigo de Du Sik e sua esposa que está grávida do segundo filho, da qual se sente negligenciada pelo marido por estar grávida e não ser tão bonita como antes.

Fonte: encurtador.com.br/bdmvB

A série é a demonstração mais clara de quão importante é uma rede de apoio. Cada personagem apresentado, mesmo que seja apenas por alguns minutos de cada episódio, serve como apoio para o outro ao praticar cuidados e atenciosamente ajudar uns aos outros a superar seus traumas e dificuldades. Du Sik, sendo o ponto em comum em todos eles ou não, tem dificuldade em aceitar apoio da sua rede quando está em sofrimento, mas aos poucos compreende que sozinho não consegue lidar com tudo, da mesma forma que as pessoas que ele ajuda.

“Você pode chorar se quiser. Deve ter sido tão difícil pra você. Você deve ter escondido a dor tão profundamente. Você carregou um fardo tão pesado. Você pode se sentir triste quando estiver comigo. Você pode me mostrar a sua dor. Você pode chorar.” (Yoon Hye Jin)

O drama nos faz refletir nos traumas e nos efeitos deles no presente, da mesma forma em que nos trás o calor ao ver o funcionamento de uma rede de apoio funcional, além de relacionamentos familiares funcionais e disfuncionais que refletem a realidade em uma abordagem não punitiva e não agressiva.

REFERÊNCIAS

Análise comportamental clínica: aspectos teóricos e estudos de caso. Ana Karina C. R. de-Farias & colaboradores. Porto Alegre : Artmed, 2010.

Hometown Cha-Cha-Cha: Série sul-coreana de drama aposta na simplicidade e serendipidade. Disponível em: <http://www.benoliveira.com/2022/01/hometown-cha-cha-cha-serie-coreana-drama-simplicidade-serendipidade.html>. Acesso em 26 de Fev. de 2022.

HOMETOWN CHA-CHA-CHA | ANÁLISE PSICOLÓGICA – YouTube. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=X7Y5M-gwcEc>. Acesso em 26 de Fev. de 2022.

The Best Quotes From The Korean Drama, ‘Hometown Cha-Cha-Cha’. Disponível em: <https://www.cosmo.ph/entertainment/hometown-cha-cha-cha-best-quotes-a4575-20211024>. Acesso em 26 de Fev. de 2022.

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Comunicação Falha

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Fonte: Google Imagens

 

Em uma noite qualquer, um casal se dirige para um restaurante requintado de uma capital brasileira. A cidade estava em seu humor noturno resplandecendo várias luzes e vultos de carros, com seus faróis chamativos. O casal já se encontrava trajados apropriadamente para o evento superestimado, que era o jantar para comemorar os cinco anos de relacionamento.

Já estando no local, uma das parceiras estava ansiosa para escolher o prato. Olhavam atentamente a composição de cada opção do menu e se perguntavam já havia experimentado um mix de sabores semelhantes. Atentou-se também para as opções de sobremesa, e tentou combinar os sabores do prato principal à sobremesa, na qual buscava certo equilíbrio de sabores.  Perguntou à sua companheira se já havia feito a sua opção – ela negou.

Esta, por sua vez, estava concentrada e pensando sobre o assunto que iria abordar com a sua amada. 

Reparava em seus cabelos, em seu cheiro, em suas vestes, em sua pele, no detalhe das suas unhas e de como ela manuseava o menu, como fazia as expressões faciais ao se interrogar sobre as opções. E em seguida voltava a pensar como iria abordar o assunto que queria revelar, e mordia o lábio inferior com rigidez, além de apertar os dedos de forma inflexível, o que demonstrava seu nervosismo. 

 

Fonte: Google Imagens

 

Quando enfim a parceira que segurava o menu escolheu o prato, esticou-o para a outra, que não passou cinco minutos escolhendo, e pediu ao garçom anotar. Ele anotou e em seguida, a outra indagou:

-Ah meu bem! Estamos esquecendo-se de um detalhe importante, o vinho! Por favor, pode me trazer a Carta de Vinhos de vocês por gentileza? Direcionou-se ao garçom. Este confirmou e foi buscar. 

A que estava preocupada sobre o assunto que iriam conversar, demonstrou novamente aflição ao morder os lábios com mais força. A outra, que finalmente percebeu, perguntou:

– Amor, o que foi? Parece tão nervosa! Vai me pedir em casamento é? Riu disfarçadamente. 

A sua ouvinte esboçou uma cara de tremendo espanto, arregalando os olhos. E exclamou gaguejando nas palavras:

-Nossa! Bom.É…Então…Queria falar algo, mas vamos esperar o prato chegar, né? Riu nervosamente. 

Inesperadamente, o garçom chega servindo os pratos na mesa do casal. Em seguida, a moça que demorou escolher os pratos, complementa:

  • Enfim, você pode falar!

O que a parceira nervosa iria falar era que queria terminar a relação. Que queria um tempo para pensar no que ela realmente pretendia no relacionamento. Mas com o apontamento inesperado da sua companheira, ficou apreensiva a ponto de aceitar a proposta hipotética dela e disse:

  • Sim amor, é isso mesmo! Você aceita se casar comigo? Riu tão forçadamente e nervoso que começou a transpirar pela sua testa. 

A sua companheira esboçou um comprido sorriso, e deu várias tapinhas no ar de alegria, assim como baixos grunhidos. E em seguida exclamou

  • Já era hora! Claro que aceito! ENFIM NOIVAS!

Sua parceira retirou um lenço que estava na mesa e começou a enxugar as gotículas de suor em sua testa e rosto. A sua companheira disparou em falar sobre detalhes do evento do noivado, de como seria a vida delas morando juntas e de como iria anunciar a notícia aos familiares.  

A outra ficou extremamente pensativa e em uma postura introspectiva, apenas de corpo presente e em um profundo silêncio, e passando longos segundos sem até mesmo piscar seus olhos. Perguntou repetidamente em seus pensamentos o que estava fazendo, o que que ela acabou de fazer, o que que faria agora.

 Sem entender ou compreender, apenas absteve-se de falar ou de expressar qualquer expressão ou emoções. Ficou apenas imersa em seus pensamentos e com corpo de forma de estátua. A companheira, depois de passar algum tempo falando como forma de monólogo, percebeu a paralisação da sua companheira, e a perguntou:

  • O que foi? Nem para você a ficha caiu ainda? Aconteceu alguma coisa?

Rapidamente a companheira voltou em si e respondeu:

  • Ah, não, não. Só estou pensando como a comunicação falha.
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“Loucos de amor” e a relação entre pessoas do espectro autista

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O filme Loucos de Amor (Mozart and the Whale) é baseado na história verídica de Jerry e Mary Newport, narrada num artigo do Los Angeles Times em 1995. O filme reconta a história a partir dos personagens Donald e Isabelle, dois adultos jovens com Síndrome de Asperger, atualmente denominada como Transtornos do Espectro do Autismo (TEA) (APA,2014). Donald trabalha como taxista e é excelente com números, sendo capaz de resolver operações matemáticas complexas sem necessitar de qualquer auxílio; já Isabelle é uma cabeleireira que se destaca por sua aparência nos locais onde frequenta e ambos apresentam grande afeto por animais.

É possível observar que Donald apresenta um padrão de comportamento: ele não faz contato visual com outras pessoas e faz contas matemáticas constantemente, com números com os quais se depara ao longo do dia. Logo no início do filme Donald se envolve em um acidente, batendo o táxi no qual trabalha em outro carro. Donald então abandona o táxi e segue para o grupo de autoajuda, que ele criou, para pessoas com autismo e é neste grupo que ele conhece Isabelle, que relata que desde criança entende o que é dito por outras pessoas a sua volta de forma literal. Donald também conta a sua história e diz que cresceu em uma bela casa e que quando tinha 02 anos seus pais perceberam que ele era diferente, não sendo ele a criança normal que todos os pais desejam.

Fonte: https://bit.ly/3iYCgKn

A partir dos encontros no grupo, Donald e Isabelle se engajam em um relacionamento, que é confuso para Donald, que não sabe bem os passos que deve seguir, pois ele sempre cumpriu sua rotina específica e de certa forma solitária, não sabendo quais atitudes tomar diante de mudanças, como em um momento em que Isabelle resolve fazer uma surpresa para Donald, organizando e limpando o seu apartamento, além de redecorar algumas coisas que para ela eram consideradas lixo, mas para ele eram coisas de seu interesse específico. Aquele era o seu apartamento, seu modo de organização e, o principal, aquelas coisas eram relevantes para ele. Tudo isso faz com que Donald reaja com agressividade, pois a mudança o afeta, e ele só se acalma depois de um tempo, calculando e fazendo movimentos estereotipados com as mãos e se balançando, em pé, como se estivesse em uma gangorra. Para Isabelle o relacionamento parece uma aventura e ela sempre está muito entusiasmada, mas para os dois é um campo inexplorado.

Os protagonistas decidem ir morar juntos em uma casa alugada junto com os animais de estimação de ambos. Existe uma tentativa de compreensão, por parte dos dois, neste período em que vivem juntos. Donald deixa que Isabelle pinte as paredes de acordo com o que ela expressa em suas obras de arte, enquanto Isabelle não organiza as “bagunças” que Donald deixa pela casa. Apesar destas tentativas, ambos não conseguem ficar juntos e acabam se desentendendo, pois Donald pede para que Isabelle aja de forma “normal” durante a visita de seu chefe a casa deles e Isabelle fica ofendida com isso, discutindo com Donald, pois para ela não existe a possibilidade de pessoas autistas agirem de forma normal, pois eles não são “normais”.

Ambos sofrem muito com a falta do outro e, quando se entendem novamente, Isabelle pede para que ambos sejam apenas amigos, pois é tudo o que ela tem para oferecer. Mas Donald não consegue entender isso e acaba pedindo Isabelle em casamento, ao que ela reage mal, tentando cometer suicídio. A tentativa de suicídio não é bem sucedida e Isabelle recebe alta do hospital e sua terapeuta pede para que Donald não ligue nem a procure mais. Donald sofre muito com isso e tenta de todas as formas resistir à tentação de ligar para a amada, mas acaba encontrando-a no seu local de trabalho. Dessa forma, vai atrás dela para que possam se entender e para que possa lhe explicar o motivo pelo qual não ligou mais, após o que aconteceu.

Fonte: https://bit.ly/2CtPhe8

No final Donald e Isabelle resolvem ficar juntos, mas sem promessas de como será o futuro, pois não há como prever como se adaptarão às mudanças que a vida de casado irá exigir, porém o que se sabe é que ambos desejam permanecer um na companhia do outro como marido e mulher e o filme é encerrado com Isabelle celebrando juntamente com Donald e os demais integrantes do grupo de ajuda para autistas, a família que eles se tornaram.

A 5ª edição do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM- 5) (APA, 2014) expõe que a pessoa com TEA, apesar de uma aparência física que não indica déficits, se caracteriza pela inabilidade de desenvolver relacionamentos com pessoas, pelo atraso na aquisição da linguagem, no uso não comunicativo da linguagem após seu desenvolvimento, pela tendência à repetição da fala do outro, ecolalia, por uso reverso de pronomes, por movimentos repetitivos e estereotipados, na insistência obsessiva na manutenção da rotina rígida e um padrão restrito de interesses peculiares, pela falta de imaginação, pela boa memória mecânica.

Ficou notório na observação dos comportamentos dos protagonistas do filme déficits na reciprocidade socioemocional, dificuldades de estabelecer uma conversa típica, compartilhamento reduzido de interesses e dificuldades para iniciar ou responder interações sociais. Foi possível observar, ainda, déficits nos comportamentos comunicativos não-verbais usados para interação social, dificuldade no contato visual e linguagem corporal, dificuldade na compreensão e uso de gestos.

Fonte: https://bit.ly/2ZZE9xy

Desde criança, pessoas com autismo indicam menor frequência de habilidades sociais, comprometimento acentuado na interação social e comunicação, bem como um repertório restrito de comportamentos, atividades e interesses. O autismo tende a implicar sérios prejuízos na aprendizagem de habilidades sociais, influenciando outras áreas do desenvolvimento da criança (FREITAS; DEL PRETTE, 2013), desta maneira é importante que pessoas do espectro autista façam terapia e desenvolvam habilidades sociais.

De acordo com Silva, Del Prette e Del Prette (2013), as habilidades sociais são comportamentos que acontecem nas interações sociais e facilitam relacionamentos saudáveis, como por exemplo identificar emoções, expressar empatia e fazer amizades. Estas colaboram no processo de socialização, uma vez que favorecem o desenvolvimento e o ajustamento na sociedade, assim como integram recursos que facilitam a convivência.

Ainda de acordo com Freitas e Del Prette (2013), o Treinamento de Habilidades Sociais (THS) é essencial devido as associações positivas descobertas entre um repertório elaborado nessa área e diversos indicadores de funcionamento adaptativo, como por exemplo relações satisfatórias com pares e adultos, status social positivo no grupo e menor frequência de problemas de comportamentos.

Os Treinos de Habilidades Sociais devem ser realizados de acordo com a necessidade de cada pessoa, pois as intervenções com pessoas autistas devem levar em consideração as possibilidades de cada indivíduo. A pessoa autista que vai a terapia tem maior probabilidade de encontrar uma intervenção com uma etapa inicial que levante uma linha de base (descrevendo o repertório comportamental inicial), com uma avaliação funcional dos déficits e excessos comportamentais observados, sendo selecionadas metas para a intervenção e se fazendo análise de tarefas dessas habilidades específicas selecionadas, de forma a ser possível acompanhar progressos (DUARTE; SILVA; VELLOSO, 2018).

FICHA TÉCNICA: 

LOUCOS DE AMOR

Título original: Mozart and the Whale
Direção:Petter Naess
Elenco: Josh Hartnett, Radha Mitchell, Gary Cole, Sheila Kelley;
Ano: 2005
País: EUA
Gênero: Drama; Romance.

REFERÊNCIAS:

ASSOCIAÇÃO AMERICANA DE PSIQUIATRIA (APA). Manual diagnóstico e estatístico de transtorno mental: DSM-5. 5. ed. Porto Alegre: Artmed, 2014. 948 p. Tradução de: Maria Inês Corrêa Nascimento et al.

DUARTE, Cintia Perez; SILVA, Luciana Coltri e; VELLOSO, Renata de Lima. Estratégias da análise do comportamento aplicada para pessoas com transtornos do espectro do autismo. São Paulo: Memnon Edições Científicas, 2018.

FREITAS, Lucas Cordeiro; DEL PRETTE, Zilda Aparecida Pereira. Habilidades Sociais De Crianças Com Diferentes Necessidades Educacionais Especiais: Avaliações e Implicações Para Intervenção. Avances en Psicología Latinoamericana, v. 31, n. 2, p. 344–362, 2013.

SILVA, Ana Paula Casagrande; DEL PRETTE, Almir; DEL PRETTE, Zilda Aparecida Pereira. Brincando e aprendendo habilidades sociais. [S.l: s.n.], 2013.

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História de um casamento: uma análise psicanalítica

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Concorre com 6 indicações ao OSCAR:

Melhor Filme, Melhor Ator, Melhor Atriz, Melhor Atriz Coadjuvante, Melhor Roteiro Original, Melhor Trilha Sonora Original.

A maturidade de cada sujeito é que determina a capacidade de superação, onde devem separar os conflitos internos dos conflitos externos que foram compartilhados

O filme História de um casamento (Marriage Story) problematiza o fim do relacionamento e o processo de separação de um casal e a briga pela guarda do filho. Podemos ver Adam Driver como Charlie e Scarlett Johansson como Nicole dividindo cenas emocionantes de todo esse processo e o desgaste físico e emocional enfrentado pelo casal no decorrer do filme.

Texto contém SPOILERS!!!

Nicole, apesar de aparecer menos durante o filme, é a personagem que permite mais nos aproximar de sua história. Ela vem de uma família neurótica obsessiva que Freud (1907) define como pessoas que realizam algum tipo de ato obsessivo sem compreender o sentido principal ou mesmo sem perceber o que faz. Isso fica evidente na forma como a mãe é imparcial com suas regras, querendo impor sua visão sobre a filha. As duas filhas não ficam muito atrás, ambas têm dificuldade em mudar a forma como operam no mundo, um exemplo disso é quando Nicole pede a sua irmã que entregue o papel da intimação do divórcio ao Charlie, e elas acabam ensaiando a entrega desses documentos, mas acabam sendo interrompidas pela chegada dele na casa.

Ela diz no filme que se apaixonou por Charlie dois segundos após vê-lo e não deixaria de amá-lo mesmo que não fizesse sentido. Roudinesco (2000) fala que o sujeito contemporâneo busca de uma forma desesperada vencer o vazio sem tirar um tempo para refletir sobre a origem dele. E como no filme mostra que Nicole se sentiu bem inicialmente, mas ela passou a viver pelo Charlie, isso pode ser ligado a um medo de um abandono ou ansiedade de separação, que de acordo com a American Psychiatric Association (APA, 2000) essa ansiedade é algo exclusivo da infância e adolescência. É um estado de regressão em que ocorre uma ansiedade excessiva pelo afastamento de pessoas com quem existe um vínculo, ou alguém que represente essa figura.

A mãe de Nicole relata sobre brigas e a separação do marido, na tentativa de dar alguma dica para a filha, mas esta também parece viver um processo de preencher um vazio, pelo fato de manter amizade com ex-namorado da outra filha Cassie. Lemaire (2005) narra que alguns sujeitos buscam desesperadamente um modelo fusional presente nas primeiras etapas da vida, ou seja, manter-se unida as figuras que ocupam o lugar de cuidadores na nossa infância, para assim evita entrar em contato com o luto do rompimento.

Roudinesco (2000) relata também sobre um indivíduo depressivo, que faz de tudo para fugir do seu inconsciente e se preocupa em retirar de si a essência de qualquer conflito. Charlie se comporta assim em quase todo o filme, ele evita falar sobre a família, onde sabemos que existia violência e álcool. Há um comodismo da parte dele, uma zona de conforto que faz com que ele evite entrar em contato com conteúdos conflitantes. E ele dialoga se defendendo que tudo o que está fazendo é pelo bem do filho, enquanto mal houve o que a criança tem a dizer.

Fonte: encurtador.com.br/gkqIV

Durante o filme fica bem claro essa relação que Charlie tem com o filho, sempre distante, não sabe o que o filho gosta, o que ele quer, tomando decisões precipitadas. Por sua vez a criança apresenta diversas dificuldades, até mesmo a de ir ao banheiro. Mostrando que ele já vem herdando as neuroses familiares e como aponta Corrêa (2000) esses aspectos transgeracionais mostram a importância e o impacto da família na vida dos sujeitos. E de acordo com Granjon (2000) a transmissão psíquica transgeracional é a que apresenta aspectos traumáticos e sintomáticos, onde anteriormente não existiu uma chance de mudança, pois essas situações passadas foram ignoradas pelos pais.

A maioria das cenas em que foca o casal mostra uma distância e um vazio que ambos carregavam em si e o relacionamento aponta que era praticamente uma fonte de escape para isso. A cena em que eles estão conversando no novo apartamento parece ser uma crítica quanto a isso, pois as cores e a complexidade do ambiente são mínimas. O diálogo maior ocorre apenas no final do filme, onde eles saem das sombras de seus advogados e põem para fora tudo o que não colocaram antes, até a tensão do filme parece diminuir após isso.

Fonte: encurtador.com.br/jRUY2

O filme consegue nos levar para a pele do casal, onde quase sentimos como se vivêssemos uma separação. Além de diversas outras críticas, o filme mostra a importância do diálogo claro e aberto dentro do relacionamento. Segundo Cleavely (1994), a maturidade de cada sujeito é que determina a capacidade de superação, onde devem separar os conflitos internos dos conflitos externos que foram compartilhados.

O término de uma relação demanda uma grande energia psíquica, é como um processo de luto, e como tal deve ser enfrentado. Freud (1917) escreveu que o amor é o que faz os vivos se apegarem a vida, que uma pessoa se torna forte ao se sentir amada. Dessa forma, buscar se conhecer faz parte do processo de amar, pois assim deixamos de amar somente na fantasia para amar também no real. Para finalizar, Erich Fromm (1996) aponta que o amor verdadeiro tem por características o cuidado, responsabilidade, respeito e conhecimento, e somente pessoas maduras conseguem, de fato, amar.

FICHA TÉCNICA: 

Resultado de imagem para história de um casamento

HISTÓRIA DE UM CASAMENTO

Título original: Marriage Story
Direção: Noah Baumbach
Elenco: Scarlett Johansson, Adam Driver, Laura Dern, Merritt Wever, Azhy Robertson; 
Ano: 2019
País: EUA
Gênero: Drama

REFERÊNCIAS

AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION. Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM – IV-TR) (4a ed). Porto Alegre/RS: Artes Médicas, 2000.

CLEAVELY, E. Relationships: interaction, defences, and transformation. In: Ruszczynski, S. (org.). Psychotherapy with couples: theory and practice at the Tavistock Institute of Marital Studies (pp. 55-69). 2ªed. London: Karnac Books, 1994.

CORREA, O. B. R. (Org.). O legado familiar: a tecelagem grupal da transmissão psíquica. Rio de Janeiro: Contra Capa, 2000.

FREUD, S. (2006). Atos obsessivos e práticas religiosas. Obras completas, ESB, v. IX. Rio de Janeiro: Imago Editora. (Trabalho original publicado em 1907).

_______. Luto e melancolia. Obras completas. São Paulo: Companhia das Letras, 1917.

FROMM, Erich. A Arte de Amar. Belo Horizonte: Itatiaia, 1996.

GRANJON, E. A elaboração do tempo genealógico no espaço do tratamento da terapia familiar psicanalítica. In: O. B. R. Correa (Org.), Os avatares da transmissão psíquica geracional (pp. 17-43). São Paulo: Escuta, 2000.

LEMAIRE, J.-G. Comment faire avec la passion. Paris: Payot & Rivages, 2005.

ROUDINESCO, Elisabeth. Por que a psicanálise? Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2000.

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‘Namorados para sempre’ e a idealização do casamento

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O filme “Namorados para sempre” traz muitas questões pertinentes ao estudo das relações familiares e é necessário uma sensibilidade para entender, de fato, como ocorre o início do relacionamento

O filme “Namorados para sempre” conta a estória do casal Dean (Ryan Gosling) e Cindy (Michelle Williams), os quais se conheceram ocasionalmente numa casa de idosos e apaixonaram-se. A família é composta pelo casal e uma filha de aproximadamente 6 anos de idade.

De acordo com Gottman (1995), existem alguns modelos de casamento que levam à desintegração. No caso de Dean e Cindy, é possível perceber que com o tempo eles tomaram forma de casal hostil/distante, ou seja, um casal emocionalmente separado que se envolve em rápidos episódios de ataque e defesa.

É possível notar que há uma “patologia de triângulos” (ANTON,2000), a qual se consolida a partir da aproximação entre dois membros da família em oposição a um terceiro, pois percebe-se uma aproximação maior entre o pai e a filha, formando-se uma barreira entre o casal, o qual está em conflito.

Fonte: encurtador.com.br/yACSY

 

No filme, há uma cena em que Cindy e Dean conversam em um motel, já bêbados, e ela começa a falar sobre o “potencial” dele e critica a forma como ele vive. A conversa se resume a ataques e defesas, na qual ela afirma que Dean poderia ser mais, e ele diz não precisar disso por ser feliz com a vida que tem e não pretende mudar.

Iara Anton (2000) discorre sobre a idealização do casamento, que constitui em um constructo fantasioso, formado por desejos inconscientes e influências do ambiente. Cindy fazia parte de uma família nuclear tradicional, com um modelo rígido e autoritário. Quando Falke e Féres-Carneiro (2011) falam sobre transgeracionalidade, eles afirmam que, mesmo que distorcida, a prole tende a absorver os comportamentos dos genitores. Portanto, no momento em que Cindy questiona Dean sobre a profissão dele e o quanto ele poderia ser “melhor” subentende-se que ela toma como exemplo o próprio pai, o qual sustentava a família sozinho, e ela esperava que este fosse um dever de todos os homens.

Mediante essa perspectiva, Cunha e Alves (2014) ao falar sobre educação e violência nas relações de gênero, explica que há um estigma no qual os homens e mulheres possuem espaços definidos, sendo o privado para as mulheres e enquanto o homem seria o provedor das necessidades e deveria estar no espaço público. No entanto, essa perspectiva muda na medida em que as mulheres conquistam seus direitos. Cindy representa essa mulher que é enfermeira e luta por sucesso profissional enquanto Dean não demonstra ter uma perspectiva de futuro e se limita a trabalhos braçais.

Fonte: encurtador.com.br/ijBFT

 

Na cena em que mostra a discussão na clínica, a qual culmina na agressão de Dean ao médico, mostra um exemplo de violência conjugal. Porém, o que realmente acontece no casamento em questão é muito diferente do que é esboçado por quem vê a cena sem conhecer todo o arcabouço de eventos que levaram àquilo. Como Falke e Féres-Carneiro (2011) descreveram, é muito fácil ver simplesmente o homem como agressor e a mulher como a vítima e não levar em conta todo o contexto. Durante todo o roteiro, Dean não demonstrou ser um homem violento, autoritário, nem esboçou menosprezo em relação à Cindy, tampouco abusava de bebidas.

Cindy, por outro lado, parecia esperar outras atitudes “de homem” dele. Sob efeito do álcool, Dean expressa toda sua frustração quanto à expectativa de Cindy, ao derrubar as coisas da sala em que estavam enquanto repetia “você quer que eu seja um homem? Então tá, eu vou ser um homem. É assim que voce gosta?”. O soco que ele deu no médico foi estopim, sendo aquilo algo tão extremo para ele que prevaleceu a vergonha ao invés de raiva.

Na cena do término definitivo, onde os dois conversam na cozinha dos pais de Cindy, se repete algo que foi visto em outros momentos do filme, a influência entre o subsistema familiar conjugal e paternal, descritas por Turnbull e Turnbull (2001 apud SILVA, 2008). Para que haja uma boa qualidade nessa relação familiar, os autores destacam duas características: coesão, que consiste na ligação afetiva entre os membros e a liberdade de cada um deles, mantendo cada um sua individualidade sem perder o vínculo seguro; e a adaptabilidade, que é a resiliência da família sob crises e mudanças.

Fonte: encurtador.com.br/eHIUX

 

A conjugalidade de Dean e Cindy já estava muito comprometida, porém isso não deveria afetar a paternalidade deles com Frankie, mas várias cenas mostraram o contrário, por exemplo: a forma como eles se tratavam mesmo na frente da criança; os adultos comentavam sobre os problemas conjugais perto de Frankie, e quando ela perguntava o quê estava acontecendo, mudavam de assunto; Dean, nas últimas cenas, tentou utilizar Frankie como motivo para que eles mantivessem a conjugalidade; e, na cena final, o que fica para a criança é que ele não está se separando apenas de Cindy, mas dela também. Esse cenário, como afirma Weyburne (2004), pode gerar na criança um sentimento de culpa, que acarreta angústias traduzidas em tiques nervosos ou atitudes agressivas, além da possibilidade dela culpabilizar um dos pais.

O filme “Namorados para sempre” traz muitas questões pertinentes ao estudo das relações familiares e é necessário uma sensibilidade para entender, de fato, como ocorre o início do relacionamento bem como da crise que resultou na separação do casal. Puderam-se perceber vários fatores que contribuem para o esfacelamento dos matrimônios, não só dos personagens do filme, como também dos casamentos atuais.

FICHA TÉCNICA DO FILME

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NAMORADOS PARA SEMPRE

Título Original: Blue Valentine
Direção Derek Cianfrance
Elenco: Ryan GoslingMichelle WilliamsMike Vogel
País: Estados Unidos da América
Ano: 2010
Gênero – Drama Romance

REFERÊNCIAS

ANTON, Iara L. Camaratta. Contribuições da Teoria Geral dos Sistemas. In: A escolha do cônjuge: um entendimento sistêmico e psicodinâmico. Porto Alegre: Artmed, 2000. Cap. 5. p. 67 – 83.

CUNHA, Tânia Rocha Andrade. ALVES, Ana Elizabeth Santos. Educação e violência nas relações de gênero: reflexos na família, no casamento e na mulher. Rev Em Aberto. V. 27, n. 92, p. 69 – 88, jul/dez. 2014. Disponível em http://www.emaberto.inep.gov.br/index.php/emaberto/article/viewFile/2447/2404

FALCKE, Denise; FÉREZ-CARNEIRO, Terezinha. Reflexões sobre a violência conjugal. In: WAGNER, Adriana; et al. Desafios psicossociais da família contemporânea: pesquisas e reflexões. Porto Alegre: Artmed, 2011. Cap. 4. p. 72 – 85.

GOTTMAN, John. Por que os casamentos fracassam ou dão certo. São Paulo: Scritta, 1995.

SILVA, Nancy Capretz Batista da et al. Variáveis da família e seu impacto sobre o desenvolvimento infantil. Temas em Psicologia, São Paulo, v. 16, n. 2, p.215-229, jan. 2008.

TURNBULL, A. P.; TURNBULL, H. R. Families, professionals and exceptionality: Collaboration for empowerment. Columbus: Merrill Publishing Company,2001.

WEYBURNE, Darlene. O que dizer aos filhos sobre o seu divórcio. Rio de Janeiro: Ciência Moderna, 2004.

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CAOS: Reflexos da violência familiar sobre a criança

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Aconteceu no auditório central do Ceulp/Ulbra no dia 21 de agosto, durante os Seminários Clínicos do Congresso Acadêmico de Saberes em Psicologia (CAOS), a apresentação “Violência Física entre Casal: um olhar sócio-histórico sobre os impactos na vida da criança”, realizada pelo Psicólogo Ruam Pedro de Assis Pimentel sob orientação da Profª Me. Nara Wanda Zamora Hernandes.  Ruam apresentou o caso clínico de “Severininho”, nome fictício dado a uma criança de 6 anos que passou por 14 atendimentos na clínica escola do SEPSI.

O Psicólogo, que é egresso do Ceulp/Ulbra, adotou a visão sócio-histórica e sócio-interacionista, que compreende o ser humano como um constructo no qual a consciência parte das interações sociais e do contato com o outro, principalmente através da linguagem.

Primeiramente definiu o conceito de “Zona de Desenvolvimento Proximal” (ZDP), a qual resulta da relação entre o “ser atual” e o “ser potencial” através da mediação, no contato com o meio/outro. ‘Severininho’, segundo o relato de sua mãe, foi fruto de uma gravidez inesperada e seu pai desejava que fosse realizado um aborto. A criança teria presenciado agressões físicas e verbais do entre seus pais até os três anos de idade, quando os dois se divorciaram.  Através do uso de Ludoterapia, o psicólogo buscou atender a demandas como submissão excessiva, ansiedade, baixa autoestima e paralisia diante do medo.

Segundo Ruam, com a expressão através da linguagem e a externalização de necessidades e ansiedades por meio do brincar, puderam-se trabalhar as questões conflitivas da criança, possivelmente foram influenciadas pelo contato com a violência entre seus genitores. Após os atendimentos, ‘Severininho’ teria apresentado significativa melhora em relação à comunicação e autoestima, bem como adquirido maior capacidade de lidar com situações e avaliá-las, alcançando os aspectos que compunham a definição de “ser potencial” no inicio do tratamento.

O Congresso Acadêmico de Saberes em Psicologia (CAOS) acontecerá dos dias 21 a 25 de agosto.

O Congresso

A edição de 2017 do Congresso Acadêmico de Saberes em Psicologia – CAOS, tem como tema “As Faces da Violência – Psicologia, Mídia e Sociedade”. Será uma semana para refletir sobre o exercício da psicologia nos mais diversos campos de atuação, frente as mais diversas formas de expressão da violência, para além das fronteiras da saúde, da segurança pública e das ciências humanas. O tema se configura como objeto perene de investigação científica e profissional, sobretudo na Psicologia, com foco na emancipação das subjetividades.

Serviço:

O que: Palestra e mesas-redondas

Quando: 21 a 25 de agosto de 2017
Onde: Auditório Central do Ceulp/Ulbra

Realização: Curso de Psicologia do Ceulp/Ulbra

Apoio: Conselho Regional de Psicologia – CRP-23, Prefeitura de Palmas, Jornal O Girassol, Psicotestes, GM Turismo, Coordenação de Extensão do Ceulp/Ulbra, Coordenação de Pesquisa do Ceulp/Ulbra.

Mais informações:

Coordenação de Psicologia: Irenides Teixeira (63) 999943446
Assessoria do Ceulp/Ulbra: 3219 8029/ 3219 8100
Programação e Inscrições: http://ulbra-to.br/caos/

Notícias do Evento: http://encenasaudemental.com/mural

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Casamento contemporâneo: convívio entre individualidade e conjugalidade

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Em “Casamento contemporâneo: o difícil convívio da individualidade com a conjugalidade”, a autora Terezinha Féres-Carneiro aponta para a complexidade dos relacionamentos conjugais e da lógica do um ser dois e dois ser um. Segundo ela, a maior dificuldade em se tornar casal está no fato de serem dois indivíduos, duas perspectivas de mundo, duas histórias de vida, dois projetos de vida, duas identidades diferentes. Na relação amorosa, esses dois sujeitos se deparam com uma identidade de casal, um projeto de vida de casal, uma história de casal, perdendo um pouco da individualidade de cada um.

Fonte: http://zip.net/bxtJW4

 

O casamento sempre foi, antes de mais nada, um vínculo criado entre duas famílias com o intuito de garantirem a própria proteção, ao se tornarem mais fortes e unindo os bens considerados essenciais para a sobrevivência. Com isso, Levi-Strauss aponta que a proibição do incesto estava mais para uma regra de ceder a mãe, a irmã ou a filha para outrem, sendo esse um aspecto da formação e organização das sociedades humanas. Antes, como o casamento era um meio para manter a existência humana, seja pela união de famílias, seja pela procriação, era visto que o amor e o prazer estavam desvinculados dessa instância da vida dos sujeitos, sendo esse amor e prazer encontrados em uma vida extraconjugal. Logo, percebe-se que a fidelidade não era um quesito notável.

Porém, um novo modelo de casamento surge no Ocidente, repercutindo até os dias atuais.  É o casamento por amor, onde ambos os envolvidos precisam amar-se para dar esse grande passo. Também apresenta-se o amor-paixão, em que o erotismo entra na dinâmica  conjugal, sendo agora o casamento um espaço parao exercício do amor e do prazer. Então, a fidelidade conjugal passa a ser uma atitude esperada pelos casados. Por fim, a autora enfatiza a dificuldade do relacionamento conjugal contemporâneo, época em que as individualidades se fazem com forte presença. Assim, o casamento tornou-se mais um modo de satisfação de cada cônjuge do que a satisfação dos desejos em comum do casal. Dessa forma, a relação só se manterá enquanto ela estiver atendendo as necessidades individuais de cada um.

Fonte: http://zip.net/bmtHYk

 

Portanto, percebe-se que o casamento, hoje, está sob o livre arbítrio dos sujeitos, podendo eles escolherem com quem e se desejam realmente se casarem. É espaço para o amor e o prazer, mas continua sendo também espaço de proteção dos envolvidos. O fato é que, se escolher entrar nessa dinâmica, é necessário deixar um pouco de lado o individualismo, contribuindo assim para a manutenção da relação conjugal.

REFERÊNCIAS: 

CARNEIRO, F.  T. Casamento contemporâneo: o difícil convívio da individualidade com a conjugalidade. Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, 22.07.98.

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“E a vida continua…” Experiências de luto e viuvez…

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Sim, eu aceito. A partir de o momento em que o matrimônio é consumado, o casal aceita viver em boas ou ruins condições, aceita passar juntos, por toda e qualquer dificuldade, se prepara para um caminho seguido a dois e se espelha em atitudes que devem ser modificadas e mantidas, durante toda uma vida planejada com base no amor. A questão é que este planejamento gira em torno de pessoas que esperam uma possível separação, se preparam para as dificuldades que sempre surgem e trazem desconforto para o casal, pensam em filhos, nos problemas de saúde, nas traições, viagens, bodas, mas ninguém se prepara para a morte.

 

Viúvo ou viúva, esta parte do casal agora, passa a viver sozinha. Algumas vezes sem realizar muitos dos planos pensados juntos, sem dizer o que deixou para depois, sem comer aquilo que pensavam em comer juntos, ou sem conhecer aquele lugar que sempre esteve nos planos de viagem, sem contar aquela novidade e mesmo assim, deve de alguma forma, deixar de viver e planejar uma “vida a dois”.

Com quatro filhos adultos, a dona de casa, Divina Ferreira, de 62 anos, perdeu o esposo que sofria de arritmia cardíaca durante uma cirurgia no coração, realizada em dezembro de 2014. Ela conta que desde muito jovem, aprendeu a viver, dividindo tarefas e pensando em uma rotina com o marido, Angelo Sales Redondo que faleceu com 63 anos. “Perdi o chão! Nós nunca esperamos uma notícia dessas dentro de casa. Meu marido era um homem forte e trabalhador rural, tinha poucas dores, mas com o tempo, o coração dele passou a nos mostrar sintomas mais graves, prejudicando todo o corpo e até as atividades diárias, mesmo assim, estávamos todos tranquilos, pelo fato dele não apresentar sedentarismo ou fraqueza. Na cirurgia que deveria ser feita para acabar com todos estes problemas, ele sofreu hemorragia interna e veio a falecer”, conta Divina.

A dona de casa explica que para a família é um sofrimento que fica marcado, mas para o companheiro ou a companheira que vive o dia inteiro, que conhece as manias, a rotina, as ideias e os objetivos, o sofrimento não é passageiro, mesmo pensando diariamente que sim, a vida continua. Divina diz que com a presença de familiares e de amigos, aos poucos ela supera a perda e tenta manter o esposo em recordações boas que segundo ela, ficarão para sempre, mesmo que os planejamentos daqui para frente, sejam diferentes.

 

 

A psicóloga Clarissa de Franco fala sobre a importância do convívio com as demais pessoas, durante o luto. “Na verdade, podemos e devemos partilhar sentimentos e pensamentos, mas existe algo muito particular no modo como cada um vive esse momento. Essas circunstâncias de isolamento podem ser realmente necessárias, já que são possibilidades da pessoa entrar em contato com seus sentimentos. Entretanto, estes momentos devem ser alternados com horas de partilha, até para que a pessoa em luto não perca a referência sobre quem ela é. O luto pode ser tão violento que podem existir momentos de despersonalização, beirando à loucura. E a família e os amigos, por exemplo, trazem referências, ligando a pessoa ao seu mundo e à sua identidade”, destaca a psicóloga.

Clarissa ressalta ainda que é importante reconhecer-se no outro, mesmo que só por um instante. Para trazer conforto a quem sofreu uma perda muito grande, estar perto já é algo importante, respeitando também os momentos em que a pessoa quer estar sozinha. Além disso, são bacanas pequenos gestos de carinho, alguns convites que lembrem a pessoa que ela tem possibilidades de vida a seu dispor.

 

Fonte: Personare

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