“Seja boa consigo mesma pois ninguém mais tem o poder de te fazer feliz” – George Michael
O Natal está chegando e com ele diversos filmes com temas natalinos despertam em nós uma chama de amor, bondade e sentimentos de mudança. Além dos tradicionais Movies de Natal outro elemento faz com que as pessoas despertem emoções que podem proporcionar uma atmosfera de felicidade verdadeira nas pessoas são as Músicas natalinas. Se misturar as duas coisas em uma só temos então um turbilhão de sensações, e esta é a proposta de Uma segunda chance para amar, uma comédia romântica inspirada nas músicas de George Michael, fazendo com que uma bela canção de amor valha a pena ser contada mais de uma vez.
O filme conta a história de Kate (Katarina) um ano após se recuperar de um trauma, ela vive em meio a sua autodestruição, afastada da família, amigos, cria problema no trabalho e não espera um milagre de natal. Trabalhando ainda em uma loja de produtos natalinos, Kate se frustra por não realizar seus sonhos e sente que depois do último natal nunca mais será a mesma. Eis que um rapaz surge em cena, não de modo convencional. Tom conhece Kate fora da loja e começa a questioná-la sobre seus desejos e perspectivas. A mesma não se apaixona de cara pelo Dom Juan, mas fica intrigada com suas concepções.
Tom é um londrino que vive a vida dia após dia, sem criar muitas expectativas, porém ele vive de tal forma que faz com que Kate se sinta bem, livre de preconceitos, ele apenas aceita ela como é, permitindo que sejam livres para viver intensamente seus sonhos. No entanto ele esconde um mistério, isso causará maior autonomia e autodeterminação em Kate, para que ela possa se libertar de seus medos e dúvidas que antes lhe causava dor e sofrimento.
Além de um romance presente no filme, as músicas de George Michael cativam o público pela autenticidade de contar histórias parecidas com a vida real. A música utilizada como enredo para o filme Last Christimas em parceria com Wham!, dita como a história seria no início da trama. Porém, a música que demonstra o crescimento e auto superação da protagonista é Heal the Pain, cuja amabilidade de outras pessoas podem criar condições adequadas para crescimento e mudança, embora o principal ingrediente para se alcançar o autodescobrimento é “Seja boa consigo mesma pois ninguém mais tem o poder de te fazer feliz”.
Outro tema tratado com igual relevância no filme diz respeito a xenofobia. No filme mostra que a família de Kate fugiu de sua terra natal, Iugoslávia, seus pais tentam se adaptar com as mudanças, contudo tiveram que fazer sacrifícios para cuidar das duas filhas. Uma outra questão mal resolvida na família é a sexualidade de sua irmã, que esconde de sua família sua orientação sexual, traçando um paralelo entre a aceitação homoafetiva do cantor diante de sua família.
Por fim temos a questão de caridade abordada na maioria dos filmes natalinos. Esse não é diferente, Kate muda depois que fica doente no último Natal, passando a ser uma pessoa bastante egoísta e indiferente com as questões alheias. Na sua jornada em busca de uma segunda chance a protagonista reflete sobre diversas questões inusitadas e uma delas é contribuir para que outras pessoas também tenham felicidade. Ela repara seus erros mais comuns e usa seu dom para ajudar as pessoas do abrigo e no fim junta todos da trama em um momento genuíno de altruísmo natalino.
Título – Uma segunda chance para amar/ Last Christmas (Original)
Ano produção – 2019
Dirigido por Paul Feig
Duração – 1h43min
Elenco – Emilia Clarke, Henry Golding, Emma Thompson
Melhor Design de Produção (John Myhre, Gordon Sim), Melhor Trilha Original (Marc Shaiman, Scott Wittman), Melhor Música Original (The Place Where Lost Things Go – Marc Shaiman, Scott Wittman), Melhor Costume Design (Sandy Powell)
‘O Retorno de Mary Poppins’ (2018), de Rob Marshall (o mesmo de ‘Chicago’, ‘Nine’, dentre outros), é um filme musical arrebatador. Na era digital conseguem-se efeitos visuais extraordinários, mas aqui estão servindo a uma belíssima história e não pairando, se sobrepondo a ela, como acontece bastante hoje, onde estes efeitos passam a ser os protagonistas das narrativas.
Até ‘Pantera Negra’ se perde nisto em correrias de carro e afins no país africano. O trabalho dos atores é excelente, principalmente o de Emily Blunt como Mary e do descendente de porto-riquenhos (do grande musical na Broadway, ‘Hamilton’) Lin-Manuel Miranda, como o acendedor de lampiões de ruas, numa Londres cinzenta dos anos 20, cenário de depressão econômica.
Os dois formam, como o filme precisava imperativamente, uma química surpreendente. Jack é quem mais entende Mary. A coreografia e as músicas são encantadoras. A interação com as animações também. E temos coadjuvantes de luxo como a prima Topsy de Mary, feita por Meryl Streep, que rouba a sequência toda, confirmando o quanto é uma excepcional atriz.
Aparições de Dick Van Dick (o acendedor do filme de 1964) e de Angela Lansbury soam deliciosas; algo bastante próprio da personagem Mary é manter uma carinhosa distância de todos e só fazer seus sortilégios quando ela mesma decide. Não atende pedidos de outros.
Ela mantém uma pose de arrogância bem inglesa, mas light, nos momentos em que aparece. Fica atenta numa sequência crucial até que decide agir. Isto acontece em outras situações. O clássico anterior se passava nos anos 1910 e o grande conflito da família Banks era amolecer o coração do pai workalic, bastante tirano com os filhos.
Neste filme de agora temos uma era de depressão econômica, com desemprego, protestos dos anos 20, uma casa a ser logo encampada por um banco, na ausência de pagamentos etc. Tudo isto nos remete ao nosso 2018, antes e no horizonte depois que temos pela frente. Daí a necessidade de filmes assim que evocam os poderes da imaginação, da fantasia, como forma de mitigar, afastar por alguns momentos, as agruras da vida.
Uma das coreografias musicadas com vários clones de Jack, bem longa, é arrebatadora. Só saberemos com o tempo se teremos um novo clássico, mas há um calcanhar de Aquiles neste filme de agora. Dentre outros trabalhos, Julie Andrews nasceu para fazer a noviça em ‘A Noviça Rebelde’ (The sound of music) e ‘Mary Poppins’!
Assisti ‘Mary Poppins’’ (1964) recentemente na sessão Clássicos Cinemark; por melhor que seja o trabalho de Emily Blunt como Mary em 2018, passa longe da grande magia de Julie em 1964. Inclusive, bem no final deste de 1964, Mary olha para trás e ela que sempre foi super-otimista, tem um leve e muito breve traço de melancolia, por ter de deixar a casa, os meninos, o pai já de coração amolecido, num breve e belíssimo plano, mas logo se recompõe e vai embora pelos céus com seu guarda-chuva e a valise. Não deixa de existir aí um elo bem forte entre os dois filmes.
A favor deste de 2018 está a ideia de que Mary, em seu retorno, está tanto motivada pela saudade da família Banks, como quer ajudá-los numa era de depressão econômica, onde uma casa pode ser perdida. Um dos grandes encantos dos dois filmes é não sabermos nunca para onde vai e de onde vem Mary Poppins. A menos que isto seja revelado numa continuação futura que já pode ser tida como péssima, por quebrar este cativante mistério.
Houve um filme, que passou batido no circuito, onde havia discussões de Walt Disney (Tom Hanks) com a escritora do livro em que se baseou o filme de 1964, P.L.Travers, composta por Emma Thompson. Trata-se de ‘Walt nos Bastidores de Mary Poppins’ (2013) de John Lee Hancock. Ela quer mais fidelidade à sua história, mais realismo. Walt, grande gênio da fantasia no Cinema e Quadrinhos, claro que não concorda. E venceu esta queda de braços.
De certa forma gostei bastante de não ter visto este filme, para não receber uma ducha de água fria e perder o encanto destes dois trabalhos admiráveis.
A tragédia, a partir de sua estruturação, deve ser considerada como parte integrante da revolução democrática que surgiu da explosão da inovação cultural.
Fonte: encurtador.com.br/evK28
A tragédia clássica teve origem na Grécia Antiga e representava uma expressão crítica a respeito das transgressões aos valores ideológicos que eram supervalorizados em Atenas, uma das cidades-estado mais influentes na história da dramaturgia como ícone do entretenimento. Os cidadãos naquela época estavam inteiramente preocupados com as questões sociais que os envolviam e que feriam os princípios da cidade. Com o passar do tempo, a tragédia foi alternada com a comédia e chegou a um ponto no qual as pessoas começavam a banalizar as expressões críticas do drama, considerando-os como um “mero entretenimento”, por que as exposições que eram feitas começaram a ser questionadas e confundidas. Assim, o que antes era considerado com um alto teor crítico, começou a ser confundido com diversão.
Rememorando
Durante muito tempo na história das artes, principalmente nos relatos sobre Atenas na Grécia clássica, a dramaturgia possuía como tema central os acontecimentos da época. A forma como as peças de teatro eram elaboradas e encenadas deu origem à expressão “tragédia”, ou “tragédia Grega”. Tal termo refere-se à violência e barbáries que ocorriam e eram apresentadas em forma de arte com o intuito de levar a plateia a refletir sobre os problemas que vigoravam naquela época. Vale ressaltar que cada sociedade expressa a sua tragédia de acordo com o contexto em que está inserida.
A tragédia clássica foi considerada a principal forma de entretenimento existente na Grécia, em que as questões sociais se sobressaiam de tal modo que os cidadãos gregos eram interessados em interagir e assistir às apresentações com um olhar crítico a respeito do que acontecia na época. Dessa forma, é interessante não somente compreender que cada sociedade tem sua forma de entretenimento, mas também como ela se vê e como podemos compreendê-la.
Fonte: encurtador.com.br/mvwEO
O entretenimento está intimamente ligado à visão que a sociedade possui de si mesma, a qual serve de alerta aos políticos, filósofos e reformadores sociais. Por esse motivo, o entretenimento cria uma luta para a regulamentação. Goldhill (2007), em seu livro “Amor, sexo e tragédia”, relembrou fatos históricos que mostravam o quanto as expressões de arte foram reprimidas e censuradas com a premissa de que o entretenimento é profundamente perigoso. Além disso, apesar de a democracia moderna ter sua parcela de censura, ela não é agressiva tal qual os regimes totalitários da história.
Sábato Magaldi discorre sobre as tendências contemporâneas no teatro brasileiro, e diz que houve um período em que a literatura dramática brasileira começou a ganhar forma, mas em 1964 aconteceu o golpe militar, o qual desencadeou uma censura às artes que porventura faziam alusão ao governo vigente. Só com Geisel na presidência foi que a dramaturgia pôde ganhar forças, não no sentido de crescer, mas como uma abertura para que a liberdade de expressão pudesse voltar e consequentemente que a dramaturgia se esfacelasse.
O Odeon de Herodes Atticus, antigo teatro grego na Acrópole de Atenas, Grécia – Fotografia por Marcovarro. Fonte: encurtador.com.br/emqG2
É válido ressaltar que existem preocupações quanto à forma como essa crítica é retratada, principalmente no que se refere às letras de rap, banalização da televisão e a exposição do sexo e da violência. Por esse motivo, existem confusões sobre o papel do entretenimento que começa a ser visto e considerado como um mero entretenimento ou fator de divertimento. Ou seja, o que antes era retratado como objeto de crítica perde parte de sua essência, pois as pessoas começam a vê-lo sem dar tanta importância.
Mesmo que o entretenimento esteja conforme o que se tinha nos primórdios da tragédia clássica, existe certo incômodo com os diferentes tipos de divertimento que determinada sociedade valoriza. A tragédia, a partir de sua estruturação, deve ser considerada como parte integrante da revolução democrática que surgiu da explosão da inovação cultural.
Em Atenas acontecia uma competição tanto entre patrocinadores quanto entre dramaturgos e atores, chamada “A Grande Dionísia”. Essa competição refletia a necessidade de se obter status e sucesso na presença dos cidadãos e acontecia todos os anos durante quatro dias em que os espectadores, em sua maioria, eram homens adultos com direito a voto e chefes de família.
Teatro de Dioniso – Atenas. Fonte: encurtador.com.br/irEGJ
O evento da Grande Dionísia era levado a sério de tal modo que celebrava quatro rituais antes das apresentações de teatro em si e com isso o teatro configurava-se como um espetáculo político grandioso. Eram feitos sacrifícios de leitões e o seu sangue aspergido no palco, jarros de vinhos derramados em oferta aos deuses. Além disso, é interessante ressaltar que eram dez generais os responsáveis por conduzir esse ritual.
No segundo ritual eram anunciados os nomes dos homens cívicos que durante o ano serviram muito bem ao estado a ponto de serem honrados. Essa cerimônia é vista sob a ótica de que a honra seria uma forma da cidade agradecer e encorajar os cidadãos a cumprirem os seus deveres. Além disso, o ritual passa a ser considerado uma maneira de expor e enaltecer os valores da cidade. O terceiro ritual era feito a partir do desfile de servos carregando lingotes de ferro, o que representava os tributos que as demais cidades pagavam, uma vez que Atenas, por possuir poder naval, tinha o direito de obrigar as demais cidades a pagar imposto para ela.
Já no quarto ritual, os filhos que tiveram seus pais mortos em guerra lutando pelo estado eram convidados a desfilar no teatro exibindo seus equipamentos militares concedidos pelo estado quando já estivessem perto de se tornarem homens de verdade, homens de guerra que deveriam pronunciar um juramento alegando que os mesmos apoiariam seus companheiros sempre que estivessem em combate. É clara a percepção do quanto esse espetáculo ateniense se propõe a exibir poder e prestígio como uma força político-militar dominante de Atenas.
Thespis de Icaria – um dramaturgo grego do século VI a. C. Fonte: encurtador.com.br/boIUX
Goldhill destaca que não só a tragédia, mas também a comédia retratam a destruição do mundo, com a civilização em ruínas em que os valores da cidadania projetam-se contra si mesmos em sinal de violência, desespero, confusão. O autor ainda cita que as cerimônias da sociedade atualmente nem sequer tornam-se comédias, uma vez que fazem zombarias da própria cidade pelos acontecimentos litigiosos, derrotas, líderes corruptos em consonância à ideia de Magaldi (1996). “As dificuldades quase insuperáveis para uma produção séria, hoje em dia, têm silenciado numerosos nomes promissores”.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O espetáculo e o teatro eram considerados uma forma de celebrar, a partir do momento em que se destacavam os valores existentes, e educar a cidade. Em Atenas, os cidadãos eram influenciados a serem competitivos e através dessa ideologia os atenienses recebiam honra; como consequência disso os espectadores eram levados a serem civilizados de tal modo que não iriam de encontro aos valores, mas sim mantendo a ordem e a disciplina diante das ideologias tão disseminadas através de encenações trágicas e de competições teatrais nos grandes eventos promovidos. Na contemporaneidade, pouco se fala em entretenimento com olhar crítico, uma vez que a maioria dos grandes dramaturgos brasileiros sentiu-se censurado e/ou desmotivado, justamente por causa da pouca seriedade com que são tratadas as artes que outrora promoveram reflexão.
REFERÊNCIAS
GOLDHILL, S. Isto é entretenimento!. In: GOLDHILL, S. Amor, Sexo e Tragédia. Como os gregos e romanos influenciam nossas vidas até hoje. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1ª ed. v.1 p. 195-233, 2007.
MAGALDI, S. Tendências contemporâneas do teatro brasileiro. Estudos Avançados. vol.10 no.28 :São Paulo, setembro de 1996.
O cinema nacional apresenta mais uma produção no gênero comédia. A fórmula: humor, somada a um roteiro leve e a um elenco de grandes atrizes/comediantes fizeram do “Loucas pra casar” uma das maiores bilheterias do ano de 2015 no cenário nacional. No longa, três mulheres: Malu (Ingrid Guimarães), Lúcia (Suzana Pires) e Maria (Tatá Verneck) dividem a atenção de Samuel (Márcio Garcia), o homem com quem elas querem se casar.
A primeira nuance apresentada é a de Malu, uma mulher inteligente, organizada, competente, comprometida e bem sucedida. Ela é secretária e braço direito do seu chefe, Samuel, com quem tem um relacionamento amoroso há três anos. Malu, apesar de uma independência pessoal e profissional, cultiva um sonho antigo, o de ter uma família com marido e filhos. Aos 40 anos ela sente que precisa realizar esse sonho o quanto antes, por causa de sua idade. Nesse momento, Malu começa a investir todas as suas fichas para que Samuel peça sua mão em casamento. Já Lúcia é uma mulher forte, determinada, que explora sua sensualidade para alcançar seus objetivos. Maria, por sua vez, apresenta através do seu semblante de pureza virginal, o estereotípico da mulher que nasceu para casar e constituir família.
A grande surpresa do longa-metragem se dá quando percebemos que as três mulheres, que carregam em si personalidades tão antagônicas, são na verdade a mesma pessoa: Maria = Lúcia = Malu. Em busca de uma compreensão para as múltiplas personalidades de Malu e de como elas vieram à tona nesse momento da vida da personagem, podemos levantar algumas hipóteses baseado nas informações que o filme nos apresenta.
Segundo o DSM V, O Transtorno Dissociativo de Identidade (TDI) é caracterizado, em outras coisas, por: amnésia assimétrica distorção de comportamento (geralmente ligadas a um histórico de abuso sexual na infância), manifestação de sintomas pós-traumáticos (por ex., pesadelos, flashbacks e respostas de sobressalto), automutilação, agressividade e/ou comportamento suicida também podem ocorrer. O tratamento envolve uma aproximação entre as personalidades distintas até o ponto em que elas possam convergir para uma única.
Se entendermos as múltiplas personalidades de Malu como facetas dela própria e nas quais seu ego entende que não há uma realização plena do Eu, as outras personalidades que apareceram ao mesmo tempo, quando ela iniciou o relacionamento com Samuel, são na verdade expressões de características que seu ego real considera necessárias em um relacionamento amoroso, mas com as quais seu superego não conseguia conviver.
Consta no DSM IV que a transição entre as personalidades das pessoas que apresentam TDI tem uma relação com situações de intenso estresse emocional. No caso da personagem o fato ocorreu em sua infância quando sua mãe, ao ser abandonada por seu pai, fala que a filha precisa ser independente.
Em uma análise mais profunda, podemos perceber que as três facetas de Malu: a mulher executiva, a mulher dona do lar e a mulher sexy se completam de tal forma que conquistaram o amor do mesmo homem. Mas, um fato marcante na infância de Malu a fez suprimir essas qualidades que não podiam coexistir em sua psique. Assim, para que essas características pudessem de fato coexistir, foi necessária a criação de novas personalidades. É preciso salientar que este processo é de todo inconsciente, e feito para manutenção da própria psique, evitando que ela se rompa.
Outro elemento que chama atenção é o fato de que Samuel, o pretendente, aos olhos da personagem também se mostrava como outra pessoa, com atributos físicos que ela valoriza nos homem, mas que na realidade, ele não os tinha. Podemos acreditar que Samuel era de fato o Animus de Malu, seu parceiro ideal, com atributos e características que ela busca no seu par (Emma Jung, 1991). Ela se identificava tanto com seu parceiro que preferiu projetar nele essas características que valoriza no par do que trocar de parceiro. E antes que alguém pense que isso é um comportamento exclusivamente patológico, preciso esclarecer que fazemos isso o tempo todo em nossos relacionamentos amorosos. Sempre que ignoramos em nossos pares uma gafe ou um comportamento que em outros contextos recriminamos, apresentamos um comportamento semelhante ao de Malu para com Samuel.
Com o desejo do casamento cada vez mais forte, a psique de Malu percebe que não tem mais como sustentar as múltiplas personalidades que disputam a atenção do mesmo homem. Enfim elas são obrigadas a conviver até o determinado momento em que elas convergem e Malu percebe que as três mulheres são, na verdade, Ela. Quando percebe sua situação, a personagem entra em choque, e pensa que só pode casar se for acompanhada das outras duas. Malu chega a tentar cometer suicídio. Esse ápice serve para que ela comece a rever seus valores e prioridades, assim, supervalorizar e investir todas as suas energias em um casamento sem antes considerar outras questões como sua própria felicidade, agora parece fora de questão.
FICHA TÉCNICA:
LOUCAS PRA CASAR
Direção: Roberto Santucci
Roteiro: Julia Spadaccin, Marcelo Saback
Elenco principal: Ingrid Guimarães, Tatá Werneck, Suzana Pires
Ano: 2015
REFERÊNCIAS:
JUNG, Emma.Animus e anima. (Tradutor. Dante Pignatari). Um volume (13×20 cm) com 112 páginas. São Paulo: Editora Cultrix, 1991.
AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION. DSM-V. Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais. 5 ed. Porto Alegre: ARTMED, 2014.
Sim Senhor é um longa-metragem norte-americano de 2008 realizado por Peyton Reed. O filme é uma adaptação de livro homônimo de Danny Wallace.
O filme conta a história de Carl Allen (Jim Carrey) que tem uma vida rotineira no seu trabalho, amigos cansados de suas desculpas e diz “não” a todas as possibilidades que lhe surgem. Sua vida muda quando vai numa palestra de auto-ajuda que o compele a falar apenas “sim” a todas as coisas. As situações que o envolvem são as mais variadas e cômicas possíveis, mas ele aprende que aceitar tudo de imediato pode colocá-lo em situações desconfortáveis.
Carl Allen tem apenas um hobbie: estar em sua casa assistindo filmes, saindo cotidianamente para uma locadora de vídeos. Sua vida é formada através da resposta reflexa “não” como desculpa e esquivas quando é chamado por seus poucos amigos para sair.
Depois de estar quase perdendo seus amigos e ter um sonho que o encontram morto em seu apartamento percebe que sua vida está passando sem que ele perceba. Então decide ir à palestra de auto-ajuda que lhe diz que tudo o que se deve fazer é dizer “sim” para tudo na vida.
Este filme trata com muita comédia um homem entediado com sua própria vida e inerte dentro de sua casa, que lhe sugere uma zona de conforto, apenas existindo, mas não conseguindo viver o que se passa ao seu redor e muitas vezes não percebendo o tempo passar, como se realmente estivesse morto. Após mudar sua percepção com o mundo externo, aceitando-o através do “sim”, ele fica, ao início, exposto as situações não planejadas e vivendo apreciadamente o mundo ao seu redor que nem ao menos sabia que existia.
A ansiedade e o controle acabam causando o infortúnio de estarmos vivenciando uma sensação prematuramente e pensamentos depressivos de (re)vivenciarmos situações e, ambos, nos fazendo optar por seguirmos caminhos predeterminados. Este filme expõe uma mudança de visão sobre a própria vida e que vivenciarmos o momento nos traz satisfação e nos leva a sair da rotina.
Não se trata de apenas “sim” ou “não”, na verdade trata-se da própria mudança, o fato de vivenciar novidades nos transforma. A mudança é essencial para nos renovar.
Às vezes tudo é tão rotineiro que não nos atemos aos detalhes do que está acontecendo. Será que estamos vivendo ou apenas existindo?
FICHA TÉCNICA DO FILME
SIM SENHOR
Diretor: Peyton Reed Elenco: Jim Carrey, Zooey Deschanel, Bradley Cooper, Danny Masterson, Terence Stamp, Sasha Alexander, Molly Sims, John Michael Higgins, Patrick Labyorteaux, Fionnula Flanagan, Rhys Darby, Nikki Giavasis, Rocky Carroll, Brent Briscoe, Maile Flanagan. Produção: Jim Carrey Roteiro: Nicholas Stoller, Jarrad Paul, Andrew Mogel, Danny Wallace Fotografia: Robert Yeoman Trilha Sonora: Mark Oliver Everett, Lyle Workman Duração: 104 min. Ano: 2008 País: EUA Gênero: Comédia Cor: Colorido Distribuidora: Não definida Classificação: 14 anos