A importância da Psicologia para as atividades esportivas

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JOSÉ EDUARDO BISPO DE OLIVEIRA – Acadêmico do curso de Psicologia do Centro Universitário Luterano de Palmas – E-mail: joseeduardobispo@rede.ulbra.br

ROBERTO MADUREIRA BURNS NETO – Psicólogo do esporte (CRP- 23/002381) Coordenador de Projeto de Associação Palmas Jovem – E-mail: burnsneto@gmail.com 

 

A psicologia do esporte é um ramo da psicologia que se originou a partir da necessidade de observar e entender de forma científica como pessoas poderiam lidar de uma maneira mais palatável com suas atividades. Gill e Williams (2018) pontuam que a psicologia do esporte identifica princípios e diretrizes para ajudar profissionais podendo ser aplicada para ajudar as pessoas envolvidas na atividade. Também, como a atividade física pode ser potencializada quando tem o emprego da psicologia com o atleta de alto rendimento e quais os benefícios na recuperação de indivíduos com limitações físicas ou cognitivas.

Outrossim, é fundamental delinear que a psicologia do esporte derivou em grande parte da Psicologia do Desenvolvimento, utilizando diversas técnicas do processo de aprendizagem e absorção de informações para deixar a prática do exercício um ambiente de satisfação e reduzir o processo de ansiedade que pode surgir quando se disputa grandes campeonatos. Assim, (Weinberg e Robert S. 2017) destacam que, em virtude dos psicólogos do esporte atuarem com a identificação dos objetivos do indivíduo e a partir disso, buscar potencializar as capacidades latentes. Esses psicólogos que adquirem experiência na prática esportiva são cotados também para trabalharem com o auxílio de tropas de elite militares e cirurgiões que buscam aperfeiçoar o desempenho.

Em outro momento, faz-se essencial, especificar a atuação da Psicologia Clínica do Esporte entre a Psicologia Educacional do Esporte. Enquanto a primeira recebe a qualificação para identificar e tratar indivíduos com transtornos emocionais e aplicar testes para averiguar os respectivos níveis de impactos que esses causem ao desenvolvimento do atleta.

Para a atuação da Psicologia Clínica do Esporte é necessário que seja respeitado os protocolos de garantia do sigilo e um ambiente apropriado para esculta e aplicação de testes que sigam a regulamentação do Conselho Federal de Psicologia (CFP).

Para a segunda, a Psicologia Educacional do Esporte, por atuarem de forma mais próxima das atividades de campo, como treinamentos e momentos de interação entre os atletas. Tem o papel de promover a qualidade da saúde mental dos atletas, tendo como fundamento entender quais fatores ambientais e emocionais influenciam de forma negativa e os elementos de estímulo para os indivíduos.

Especialistas em psicologia educacional do esporte são “treinadores mentais” que educam atletas e praticantes de exercícios sobre habilidades psicológicas e seu desenvolvimento. (WEINBERG, ROBERT S. 2017 p. 7-10.)

Dessa maneira, o Psicólogo Educacional consegue desde potencializar o desenvolvimento do atleta, até atuar na prevenção de transtornos como A Síndrome de Burnout voltada a prática esportiva. Por essa perspectiva, esse trabalho terá seu aprofundamento na Psicologia Educacional.

Foto: Pixabay

A saúde mental dos atletas

A linha teórica da Psicologia Educacional do Esporte e do Exercício, aborda que, para observar quais motivos influenciam o indivíduo é preciso observar cada pessoa e sua particularidade de maneira individual. Para que a partir disso, sejam implementados métodos e formas de perceber a pessoal de uma forma mais tangível. De acordo com suas vivências ambientais e práticas de vida.

Em primeiro momento, a saúde mental e como os atletas encaram o desafio, vão ter forte influência no seu desempenho e satisfação durante a prática esportiva. (Spielberger, 1966), destaca que a ansiedade é definida mais formalmente como estado emocional de apreensão e tensão que acompanham uma forte ativação do sistema nervoso. A partir dessa lógica, quando o atleta perde a capacidade de perceber esse aumento exponencial dos batimentos, que é um somatório para o quadro ansiogênicos, tem-se a perda de consciência dos seus objetivos e até esquecimentos das habilidades aprendidas.

Ademais, (Spielberger 1966), pontua que a ao destrinchar a ansiedade, surge o produto que seria o Traço de Ansiedade (TA). Que predispõe, um indivíduo a entender como uma circunstância ameaçadora uma situação que não é. Assim, um exemplo seria um jogador ao bater um pênalti, começa acredita de forma concentra que vai tropeçar e não conseguirá acertar na bola. A partir desse pensamento disfuncional, definido como (TA), por medo de não conseguir, os batimentos do atleta têm uma aceleração desproporcional ao momento em que ele se encontra e, por estar ansioso acaba de fato errando o pênalti.

Ao adentrar na perspectiva, um time que não tem um profissional de Psicologia Esportiva está alguns passos atrás na observação de traços ansiogênicos, que inicialmente podem se apresentar como leves. Contudo, com ausência de um acompanhamento maior pode se tornar uma crise maior, podendo vir a incapacitar o atleta de exercer suas funções por completo.

O estresse ocorre quando há um desequilíbrio substancial entre as demandas físicas e psicológicas impostas a um indivíduo e sua capacidade de resposta, em condições nas quais a falha em satisfazer a essas demandas tem consequências importantes. (WEINBERG, ROBERT S. 2017 p. 76.)

Desse modo, caminhando por um olhar Psicologia Positiva sobre o contexto ambiental que se dá a Psicologia Educacional do Esporte e do Exercício, tem-se mostrado como problema para os atletas que sofrem pressões tanto interna dos treinadores, equipe técnica, dos colegas de equipe e da família. Assim, os atletas por não conseguirem se desvincular das cobranças, acabam desenvolvendo síndromes associadas ao ambiente das práticas esportivas. Como a Síndrome de Burnout, associada a treinamentos excessivos e poucos níveis de descanso, gerando uma sobrecarga no atleta.

Quando o volume de treinamento é grande demais ou o atleta mostra ausência de repouso ou outros estressores físicos ou psicológicos, ocorrem adaptações problemáticas, que levam ao desempenho deteriorado. (WEINBERG, ROBERT S. 2017 p 470.)

Somado a isso, indo contra a crença popular de que quanto maior o esforço, melhor para o atleta. É demonstrado que, o descanso é fundamental para a recuperação e o desenvolvimento do atleta, tanto físico, quanto psicológico. Portanto, quando o tempo de descanso não é respeitado o atleta sofre uma série de consequências. Como, mais contusões e estresse durante a partida.

 

Burnout no esporte

Em competições esportivas, sempre tem uma série de pessoas envolvidas na preparação além dos atletas que são, a equipe técnica, a equipe de arbitragem que fica em campo e a que atua por vídeo. Assim, para obterem êxito nas suas atividades são exigidos altos níveis de treinamento desses indivíduos. Em grande parte, essas pessoas influenciadas pela crença popular de que quanto maior o volume de treino, tem-se um melhor resultado, acabam se sobrecarregando e gerando um maior desgaste pessoal e na equipe envolvida.

A teoria é quanto mais treinar, melhor, você tem de começar a treinar cedo, o ano inteiro, se quiser competir em alto nível. Os praticantes de exercícios, em sua busca de se sentirem e parecerem melhor, às vezes vão longe demais, treinam excessivamente e chegam a Burnout. (WEINBERG, ROBERT S, 2017,  p. 469).

Foto: Pixabay

Ademais, a Síndrome de Burnout, descrita como um estado de exaustão física e emocional relacionada ao trabalho, afeta não somente os ambientes de trabalho formal, como é difundido pela crença cultural. Tem impactos severos desde os atletas comuns até os de alto rendimento que, por muitas vezes acabam tendo uma queda significativa no rendimento. Fato que, em casos chegam a níveis tão prejudiciais que levam o atleta a encerrar sua carreira de forma precoce.

A despeito disso, Michael Phelps nadador americano, considerado um dos maiores atletas olímpicos de todos os tempos, ganhador de 28 medalhas olímpicas. Declarou em uma entrevista á Sports Ilustrated em 2017 que, a pressão para vencer e a atenção da mídia a todo tempo, “em momentos se sentiu como um rato em uma roda”, sentimento que o levou a um estado de esgotamento emocional que o levou a cogitar aposentadoria. Em adição, o jogador de futebol americano, Andrew Luck, que jogou na Liga Nacional de Futebol (NFL), tida como o apogeu do esporte, se aposentou aos 29 anos citando problemas de saúde mental e síndrome de Burnout como motivadores da decisão. Em entrevista coletiva em 2019 a ESPN, Luck mencionou que a tensão e o estresse se acumularam durante os anos, movimento esse que o levou a decidir se afastar de forma precoce da prática esportiva.

 Boa parte das pessoas, se prendem a imagem perfeita que é levantada sobre os atletas, eleitos como seres quase que perfeitos, sem erros e sem grandes desafios que não podem vencer. Não satisfeito, todos estão propensos a desenvolver Burnout, ansiedade ou um esgotamento emocional, em destaque, quando submetidos a condições ambientes de desgaste. É fundamental, explanar que o esgotamento emocional, pode acontecer se as condições forem desfavoráveis, com ambientes e rotinas que não proporcionam descanso, em que a vida do atleta fica resumida somente a se preparar para vencer e a felicidade condicionada a vencer campeonatos.

Caminhos para uma experiência satisfatória

Nas práticas esportivas, tem-se a construção do entendimento social que o estímulo constante por resultados levam aos fatores essenciais para uma vitória. Assim, educam atletas e os condicionam a vitórias e novos campeonatos, ao vencer um campeonato começa a preparação para o próximo, temporada 2022, temporada 2023. Esse constructo, faz com que o atleta se questione quais os motivos de buscar o próximo, e o sentimento de nunca conquistar o suficiente inunda.

Os desafios da competição podem ser estimulantes e prazerosos. Mas, quando derrotar o oponente toma precedência na mente sobre obter o melhor desempenho possível, a fruição tende a desaparecer. A competição só pode ser apreciada quando é um meio de aperfeiçoar as habilidades; quando se torna um fim em si, deixa de ser divertida. (MIHALY, 2020, p.66).

Em consequência disso, uma gama de atletas ficam adoecidos, por passarem anos treinando para ir a campeonatos importantes, e ao receberem o troféu e uma quantidade acima da media de dinheiro, ainda assim ficam insatisfeitos. Por essa ótica, (Mihaly 2020, 1ª ed, .68) pontua que, o esporte é um dos locais mais propícios para o desenvolvimento de um sentimento de envolvimento e autoconhecimento, fatores em conjunto podem ser elementos para uma sensação de satisfação e deixar o indivíduo se sentindo integrado do meio.

Assim, (Mihaly 2020, 1ª ed, .68), desenvolveu a teoria de que existem elementos que são importantes para que o indivíduo, consiga maiores momentos de satisfação. A primeira seria o confronto de tarefas que são possíveis de serem concluídas pelo atleta. Segundo, o atleta conseguir ter uma concentração no que deve ser alcançado. Terceiro e quarto, os treinadores possuírem metas objetivas que devem ser alcançadas por esse indivíduo. O que estimularia os atletas a estarem sempre em um apetite por se superar. Quinto, a partir da retirada do foco em conquistar troféus e, o desenvolvimento do foco em se auto aperfeiçoar, maiores fatores para uma vivência mais saudável e a motivação para se superar estaria renovada.

Considerações finais

Faz-se necessário, portanto, uma equipe da psicologia esportiva atuando na desconstrução desses padrões condicionados a resultados que já estão institucionalizados por boa parte dos times, comissões técnicas e comissões de arbitragem. Assim, ao ser demonstrado que o foco somente em conquistar troféus e campeonatos é um dos principais responsáveis pelo adoecimento psíquico, que pode desenvolver sintomas psicossomáticos e aposentadoria precoce dos jogadores, tem-se portanto, um passo a mais para reestruturar esse sistema. Proporcionando uma melhor saúde mental para esses atletas e a possibilidade para atingir e superar novos parâmetros nas performances. Já que, quando aliados a técnicas positivas e a atuação de psicólogos esportivos, os times demonstram índices de melhores resultados e maior adesão dos atletas.

 

REFERÊNCIAS

VIEIRA, L. VISSOCI, J. OLIVEIRA, L. VIEIRA, J. Psicologia do esporte: uma área emergente da psicologia. 2010. https://www.scielo.br/j/pe/a/dxqXV7GtH7zkCLkzYq7K7Wd/.

GUSTAFSSON, H. KENTT, G. HASSMEN, P. LUNDGVIST). Prevalence of burnout in competitive adolescent athletes. Journal of Athletic Training, 2020.

OLMDILLA- ZAFRA, A. GARCÍA-GONZALEZ. ORTEGA, E. Burnout and muscular-skeletal injuries among professional football players. Journal of Sports Sciences. 2019.

SPORTS ILLUSTRATE Michael Phelps Opens Up About Depression and Suicidal Thoughts. 2017. https://www.espn.com/olympics/swimming/story/_/id/26796317/phelps-wins-award-mental-health-advocacy

CNN,  Michael Phelps: I am extremely thankful that I did not take my life. 2018. https://edition.cnn.com/2018/01/19/health/michael-phelps-depression/index.html

CSIKSZENTMIHALY, MIHALY. Flow: a psicologia do alto desempenho e da felicidade – 1ª ed. Rio de Janeiro, 2020.

WEINBERG, ROBERT S. (2017) Fundamentos da psicologia do esporte e do exercício. 6ª ed. Porto Alegre, 2020.

 

 

 

 

 

 

 

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FJP está com inscrições abertas para competição no ‘Olé Drogas’

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A Fundação Municipal de Juventude de Palmas (FJP) está com inscrições abertas até o dia 19 de outubro para o projeto ‘Olé nas Drogas de Futebol de Base’, que tem o objetivo de promover o intercâmbio entre equipes de jovens atletas, evitar que eles se envolvam com drogas e criminalidade, além de estimular a adoção de um estilo de vida saudável, a cooperação, a amizade e a disciplina. As inscrições podem ser solicitadas pelo e-mail olenasdrogas@gmail.com.

Os jogos estão previstos para acontecer entre 29 de outubro e 3 de dezembro deste ano, sempre aos finais de semana. A expectativa é que 864 crianças e adolescentes, com idades entre 11 e 15 anos participem. Além da faixa etária, os interessados ainda precisam participar de alguma escola ou time de futebol, associações públicas e particulares da cidade de Palmas ou de todo o Estado do Tocantins.

O presidente da FJP, Nélio Nogueira Lopes, diz que está muito animado para o resultado desse Campeonato. “Este grande evento esportivo ‘Olé nas Drogas’, será um marco para o futebol tocantinense e para os garotos que aqui vivem e precisam sair de seu estado para jogar competições Brasil a fora. Será um evento que será fixado no calendário para acontecer todos os anos”, afirmou.

Já o gerente de Políticas sobre Drogas, da FJP, Bruno Mendes, disse acreditar que o esporte é umas das ferramentas mais eficazes de prevenção contras as drogas. “Sabemos que o esporte é um balizador para a igualdade social e a idéia é que o projeto seja mais uma ferramenta para evitar que os jovens se envolvam com a criminalidade e drogas, além de prevenir sentimentos depressivos”, destacou Bruno.

O Projeto vai contemplar as grandes regiões do Município e abrange a região central de Palmas, no Campo Oficial da quadra Arse 62 (606 Sul ou 1BPM), região de Taquaralto e Aurenys no Campo Oficial da Aureny I, região norte no Complexo Esportivo da Arne 51 (404 Norte) e região de Taquarussu no Campo de Taquarussu.

As equipes de competidores serão organizadas em categorias SUB-11, SUB-13 e SUB-15, sendo que cada categoria poderá ter 16 equipes. O Congresso Técnico será realizado na semana de início dos jogos, na sede da FJP, localizada no Parque Cesamar. As equipes vencedoras em primeiro e segundo lugar receberão troféus e medalhas e os atletas destaques, artilheiros e melhores goleiros receberão troféus. 

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“Pequena Miss Sunshine”: um olhar psicológico

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O filme “Pequena Miss Sunshine”, dirigido por Jonathan Dayton e Valerie Faris, com roteiro de Michael Arndt conta a história da família Hoover, moradores do Novo México. O pai da família, Richard, é uma espécie de coaching, palestrante motivacional que está tentando vender seu programa de autoajuda chamado Nove Passos, que promete transformar qualquer pessoa em um vencedor. Richard repete sempre que só há dois tipos de pessoas: vencedores e perdedores.

Sheryl, a mãe é uma mulher que trabalha fora, faz as funções domésticas e é responsável por apaziguar os conflitos dentro da família.

Seus filhos são Dwayne e Olive. Dwayne resolveu fazer o voto do silencio até conseguir se integrar na escola de pilotos da força aérea: está sem falar há meses e segue o niilismo, um dos princípios presentes na filosofia de Friedrich Nietzsche. Se sente um incompreendido e gosta de ficar sozinho no seu mundo, sem ser incomodado. Olive é uma menina de nove anos que sonha em se tornar miss.

Fonte: encurtador.com.br/enJL2

Frank é irmão de Sheryl, um professor universitário que se diz maior conhecedor sobre a vida do escritor Marcel Proust, é gay, foi rejeitado pelo parceiro e recentemente tentou o suicídio. Completa o grupo Edwin, o pai de Richard, um senhor que foi expulso do asilo por ser viciado em heroína.

O conflito se inicia quando Olive recebe um telefonema para participar de um concurso chamado de Little Miss Sunshine, no sul da Califórnia. Mesmo com dinheiro insuficiente, a família decide partir para realizar o sonho da menina. Resolvem viajar todos juntos e se esforçam ao máximo para chegar no local em que ocorrerá o concurso de beleza.

Logo no início, o carro da família, uma Kombi amarela, quebra e eles são obrigados a empurrar toda vez que precisa dar partida no veículo. É nesse momento que se mostra a unidade da família. Apesar das diferenças, todos se unem para atingir o objetivo: realizar o sonho de Olive, um sonho incentivado pela cultura americana.

Fonte: encurtador.com.br/htxPR

Durante o trajeto, várias situações vão delineando um pouco da visão dos personagens. Por exemplo, quando param para lanchar e a garota Olive pede um sorvete, o pai tenta dissuadi-la da ideia, utilizando argumentos como o fato de que as modelos geralmente são mulheres magras. Antes ele havia perguntado à garota se ela estava competindo por competir ou competindo para ganhar, tendo ela concordado em competir para vencer o concurso.

Em uma cena anterior, a garota relata sobre seu medo de não vencer e de desapontar o seu pai. O avô explica a ela que perdedor é quem desiste de seus sonhos por medo, e que se ela vai tentar, não é uma perdedora. Ao longo da viagem, muitos contratempos acontecem, o primeiro deles é a decepção do pai, que precisa lidar com o fracasso e rejeição do seu programa de autoajuda. Richard vai até um hotel e procura o responsável, a fim de obter aceitação para o seu programa, numa cena que demonstra uma dualidade: Richard está sem os trajes adequados e os meios para persuadir alguém, está com uma moto que pegou de um estacionamento, contrariando totalmente o pacote de sucesso que pretendia vender, o que acentua a noção de fracasso.

Ao longo da viagem, o perfil dos personagens vai sendo construído: o silêncio de Dwayne, a depressão de Frank, o fracasso de Richard, o desejo de retorno ao passado de Hoover e a impotência de Sheryl se misturam para compor uma cena em que não se sabe o que esperar de cada personagem.

Fonte: encurtador.com.br/oJMQT

Durante esse meio tempo, o avô, Hoover, morre enquanto dormia o que desestabiliza ainda mais a família e gera outros contratempos, como o enterro do avô, que ocorre de forma conturbada e já dá um indício da essência transgressora da família.

Em seguida, numa brincadeira em que Olive pergunta sobre uma letra de cor vermelha no centro de um cubo, tio Frank descobre que Dwayne é daltônico, ocasião em que o garoto entra em desespero, grita, reclama da falta de estrutura da família e se afasta de todos, numa espécie de surto. Nesse momento, e expressa através da fala e quebra o silêncio com a família, vindo a expressar um processo de maturidade nas cenas seguintes.

Ao chegar a Califórnia, estão atrasados para as inscrições do evento e são rechaçados por uma das organizadoras do concurso, que demonstra a total falta de empatia pela garota e sua família. Conseguem realizar as inscrições graças a outro profissional, que critica a postura da senhora e se propõe a resolver a situação em poucos minutos.

Fonte: encurtador.com.br/qGW17

No início do concurso, já se observa uma deformação da realidade: um concurso de miss infantil, onde as crianças parecem plastificadas, com roupas, cabelos e trejeitos de adultos, em contraposição à pequena Olive, que é desengonçada e se comporta de forma espontânea. Seu figurino também se diferencia: enquanto as meninas usam roupas mais femininas, Olive se apresenta com um short, blusa, sobretudo, gravata e chapéu, compondo um figurino mais livre e irreverente.

A coreografia ensinada pelo seu avô é ousada e divertida, porém não agrada ao público bem-comportado e conservador, que vaia, faz tumulto e tenta impedir o fim da apresentação, numa resposta clara à transgressão da música/dança/comportamento.

Como forma de reação, os pais da menina invadem o palco a fim de impedir que ela seja retirada de lá e conseguem que ela termine a apresentação. Aqui chega-se ao clímax da narrativa, que tem como resultado a união crescente da família.

Fonte: encurtador.com.br/beiCD

 Apesar de não ter vencido o concurso, a garota demonstra alegria com o resultado, o que foi possível graças às palavras do avô, que desconstrói a ideia da competição, e ao incentivo da família.

Pode-se dizer que a viagem foi uma experiência reveladora, na medida em que vai descortinando a complexidade dos personagens, que estão longe de ser uma-visão-única-uma-coisa-só, que produzem no espectador uma sensação de afeto e compreensão diante dessas pessoas, a quem foi prometido o sonho americano, e das situações decorrentes da não- realização desses sonhos.

FICHA TÉCNICA

Título: Pequena Miss Sunshine
Título Original: Little Miss Sunshine
Origem: EUA
Ano de Produção: 2006
Gênero: Aventura/Comédia/Drama
Duração: 102 minutos
Elenco: Abigail Breslin, Greg Kinnear, Paul Dano
Direção: Jonathan Dayton, Valerie Faris

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O sofrimento deve ser consolado e não comparado

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Não existe uma escala para dimensionar a dor do outro. Cada pessoa é cada pessoa, cada dor é cada dor. Não há sofrimento pior ou melhor.

“E eu que já passei por coisa pior que isto” é uma frase comum entre pessoas que competem sofrimento. Em um mundo cheio de tanta tragédia, será que competir sofrimento virou motivo de orgulho? Mas o que será que impulsiona a competitividade? A competição seria inata ao ser humano? É comum dizer que só o fato de nascermos já somos vencedores, afinal somos fruto do esperma que venceu a corrida entre milhares.

Existem pessoas bem-intencionadas que ao ouvir uma história trágica de alguém, resolve contar sua história triste a fim de mostrar que passou por situação pior e sobreviveu. Apesar de muitas vezes a intenção ser boa, não existe uma escala para dimensionar a dor do outro. Cada pessoa é cada pessoa, cada dor é cada dor. Não há sofrimento pior ou melhor. Uma pessoa pode ter perdido o pai e outra pessoa pode ter perdido um rato, mas o sofrimento é para quem nele está, não há comparação nestas circunstâncias.

Muitas vezes a pessoa sabe que existem muitas outras pessoas em sofrimento, mas o intuito é ser consolada e não metralhada com os sofrimentos de outrem. Seria este comportamento um sintoma da pessoa que sempre se coloca no lugar de vítima?   Ninguém gosta de estar sempre por baixo, mas ser vítima sempre tem suas vantagens.

Fonte: encurtador.com.br/aboG6

Cada ser humano tem sua dificuldade, mas a vítima sempre é o “coitado”, é o merecedor dos holofotes. Pode acontecer de pessoas construírem um emaranhado de sofrimento e não conseguir sair, visto que seu ciclo de amizade seja apenas de pessoas que vivem em constante sofrimento e em constante competição.

Certa vez conheci uma pessoa que alegou estar sofrendo muito e não ter mais vontade de viver. Ao perguntar sobre seu círculo de amizade, a pessoa disse que tinha poucos, mas os que tinha eram todos muito sofridos. Disse ainda que eles tinham costume de se sentar e relatar sobre seus sofrimentos, e cada um contava uma história mais sofrida que outra. A pessoa assumiu que muitas vezes ficava ensaiando o sofrimento que iria contar.

Em um poema, Bráulio Bessa fala sobre o sofrer, o amparar e ser amparado:

Se por acaso você não conseguir caminhar

Se os seus pés enfraquecerem se a estrada se alongar

Sempre haverá um alguém capaz de lhe carregar

Se por acaso você sentir a alma sangrar

E se a alma ferida fizer o seu corpo chorar

Sempre haverá um alguém capaz de lhe consolar

Se por acaso você sentir o mundo escapar

Se tudo for solidão, se a solidão maltratar

Sempre haverá um alguém capaz de lhe abraçar

[…]Sempre haverá, meu povo

Sempre haverá amor

Sempre haverá o bem

Numa via de mão dupla, com a força de um trem

Alguém ajuda você

E você ajuda alguém

Repare. Já que sempre haverá alguém para…

Lhe entender

Lhe carregar

Lhe acalmar

Abraçar quando doer

Alguém para lhe confortar quando o mundo lhe bater

Já que sempre haverá alguém para lhe socorrer

Só é preciso ser justo e grato para perceber

que sempre haverá alguém precisando de você.

Fonte: encurtador.com.br/qtwKY

O que você prefere ser? o que consola ou o que compete dor? Pare de comparar a sua dor com a dor do outro. Respeite e valide a história do outro. Hoje você pode ser o alicerce de alguém, amanhã esse alguém pode ser seu alicerce. O sofrimento deve ser consolado e não comparado.

Referências:

GSHOW. Bráulio Bessa emociona com poesia sobre dor. Disponível em  https://gshow.globo.com/programas/encontro-com-fatima-bernardes/noticia/braulio-bessa-emociona-com-poesia-sobre-dor.ghtml

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