Quem tem medo de Olga Benário?

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A história de Olga Benário Prestes suscita reações intensas. Os espectros políticos classificam-na desde uma heroína, mulher corajosa que estava disposta a morrer pelo que acreditava até uma farsa construída pela “esquerda”. 

Passados 110 (cento e dez) anos de seu nascimento e 76 (setenta e seis) anos de seu assassinato, a vida, luta e morte de Olga Benário ainda suscita curiosidade, inspira militâncias e consagram-na como um dos maiores nomes dentro do comunismo na luta contra o nazifascismo.

Olga Gutmann Benário nasceu em uma família judia de classe média  na cidade de Munique, Alemanha, no dia 12 de fevereiro de 1908. Filha de um advogado conhecido por ajudar os pobres, Léo Benário, que era afiliado ao Partido Social-Democrata Alemão. Sua mãe Eugénie Gutmann Benário era uma socialite que sempre deixou claro suas divergências em relação ao posicionamento político da filha.

Olga começou cedo na militância. Aos 15 (quinze) anos de idade começou a fazer parte do Grupo Schwabing. Esse grupo era formado por jovens com menos de 18 anos ligados à Juventude Comunista. Foi aí que Olga conheceu Otto Braun, um professor, com quem começou a namorar e aos 16 anos, se mudou com ele para Berlim.

Em Berlim, Olga passou a atuar mais ativamente na organização comunista, ocupou o posto de secretária de Agitação e Propaganda de Berlim, e alcançou o posto de uma das figuras mais importantes do Partido Comunista Alemão. Cada vez mais engajada na luta, e com a ascensão do fascismo, acabou por se envolver em confrontos diretos, nas ruas, com grupos nazistas. Após um desses confrontos, foi presa, em 1926, juntamente com o namorado Otto. Olga foi libertada antes que o namorado, e junto com a juventude comunista, liderou a remoção e fuga dele da prisão.

Por este motivo, Olga teve que fugir do seu país, e se refugiar em Moscou, na Rússia, onde ingressou na Internacional Comunista, e recebeu treinamento militar e formação política. Foi em Moscou que Olga conheceu Luiz Carlos Prestes. Ele residia em lá desde 1931 e em 1934, sendo membro do Partido Comunista Alemão, foi incumbido de voltar ao Brasil para liderar uma rebelião contra o governo de Getúlio Vargas e instalar um governo socialista. Olga ficou encarregada da sua proteção pessoal. O disfarce para a viagem era de um casal em lua de mel. Nesta missão, a ficção virou realidade e Olga e Prestes se tornaram um casal.

A Intentona Comunista, liderada por Prestes, não obteve o sucesso desejado. Em novembro de 1935, eles incentivaram a revolta armada no Rio Grande do Norte, que deveria ser seguida pelo restante do país, mas apenas as unidades de Rio de Janeiro e Recife aderiram. Getúlio Vargas estava pronto para esmagar a revolta, e o casal passou a viver foragido da justiça.

O esconderijo deles foi descoberto em março de 1936, e há relatos de que mesmo nessa hora, Olga colocou entre o marido e a polícia, cumprindo as ordens a respeito de sua proteção pessoal. Há quem diga que isso também foi a garantia de que o marido sobreviveria, dado o fato de que haviam ordens de que ele fosse levado morto às autoridades.

Olga foi levada para a Casa de Detenção e lá descobriu que estava grávida. Como estrangeira alemã, foi ameaçada de ser deportada. Isso significava a sua imediata morte, pois sendo judia e comunista (naquele momento a Alemanha tomada pelo nazismo), certamente seria enviada para um campo de concentração.

Os familiares de Prestes iniciaram um movimento internacional pela libertação do casal e Olga foi julgada, atendendo ao pedido que o governo nazista fez para sua extradição. Mesmo que sua defesa tenha alegado que a prisioneira estava grávida e sua deportação significaria colocar um filho brasileiro sob um governo estrangeiro, o Supremo Tribunal Federal aprovou o pedido de extradição de Olga Benário.

Getúlio Vargas, então presidente, não assinou seu indulto e Olga, com gravidez avançada, foi deportada para a Alemanha juntamente com Elise Saborovsky, sua amiga, conhecida como Sabo. Foi transportada no navio cargueiro La Coruña, e aportando, já era esperada pelos oficiais da Gestapo.

Olga deu a luz à sua filha (Anita Leocádia) na prisão Barnimstrasse e conseguiu ficar com ela até o final da amamentação. Cedendo à pressão internacional, o governo nazista entregou Anita à avó Dona Leocádia, mãe de Luiz Carlos Prestes.

Anita Leocádia Prestes, aos 9 anos de idade, e o pai Luiz Carlos Prestes.
Fonte: encurtador.com.br/tATW1

Após a entrega de sua filha, Olga passou por campos de concentração, e de acordo com o Partido Comunista Brasileiro, desenvolveu atividades como aulas de ginástica e de história com as outras prisioneiras, como uma forma de resistir e exercer a solidariedade.

Em 23 de abril de 1942, já no campo de extermínio Bernburg, aos 34 anos de idade, Olga Benário Prestes foi assassinada em uma câmara de gás, juntamente com outras 199 prisioneiras. A família só receberia a notícia de sua morte em 1945.

A história de Olga Benário Prestes suscita reações intensas. Os espectros políticos classificam-na desde uma heroína, mulher corajosa que estava disposta a morrer pelo que acreditava até uma farsa construída pela “esquerda”. Não se pode negar, entretanto, que sua morte ocorreu em circunstâncias óbvias de privação de direitos e prevalência da vertente exponencialmente aumentada do fascismo, o nazismo.

Como milhões de judeus e judias, foi assassinada sob um governo que ignorava a democracia e acredita que as diferenças individuais deveriam ser condenadas. Atualmente, é possível observar, no mundo, vários governos ascendendo baseados no autoritarismo e desprezo aos direitos humanos.

Em resposta, várias Olgas também surgem. Pessoas corajosas que denunciam as atrocidades e que infortunadamente sofrem repressão e em diversos casos, são assassinadas por defenderem seus ideais. É preciso resistir e um trecho da última carta de Olga a sua filha Anita e seu marido, disponibilizada pelo Instituto Luiz Carlos Prestes, ela ensina isso dizendo:

Lutei pelo justo, pelo bom e pelo melhor do mundo. Prometo-te agora, ao despedir-me, que até o último instante não terão porque se envergonhar de mim. Quero que me entendam bem: preparar-me para a morte não significa que me renda, mas sim saber fazer-lhe frente quando ela chegue. Mas, no entanto, podem ainda acontecer tantas coisas… Até o último momento manter-me-ei firme e com vontade de viver. Agora vou dormir para ser mais forte amanhã (BENÁRIO, 1942)

A vida continuou, apesar de Olga não ter podido ver sua filha crescer, e nem se reencontrar com o esposo. Sua filha, Anita Leocádia Prestes é hoje uma historiadora, e publicou um livro sobre a vida da mãe, a partir dos documentos da Gestapo (a polícia alemã nazista).

Seguindo os passos da mãe, ela também se envolveu com a luta do pai e foi perseguida por seus ideais políticos. A semente que Olga plantou continua viva, com reconhecimento na Alemanha, no Brasil e no mundo, como exemplo de mãe que sofreu com o holocausto e de pessoa que está disposta a lutar pelos seus ideais.

Quem tem medo de Olgas, a ponto de querer, a qualquer custo, calar suas vozes, ainda não compreendeu que a despeito das adversidades, o sonho vale a luta.

 

REFERÊNCIAS CONSULTADAS

BENÁRIO, Olga. Ultima Carta de Olga Benário. 1942. Disponível em: <http://www.ilcp.org.br/prestes/index.php?option=com_content&view=article&id=93:ultima-carta-de-olga-benario&catid=29:sobre-olga&Itemid=158>. Acesso em: 17 jan. 2019.

FOLHA DE SÃO PAULO. São Paulo, 30 maio 2017. Disponível em: <https://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2017/05/1888523-filha-de-olga-benario-narra-morte-da-mae-a-partir-de-arquivo-da-gestapo.shtml>. Acesso em: 17 jan. 2019

MENDES, Giovana Oliveira. Olga Benário em duas narrativas biográficas: da história para a ficção. 2014. 143 f. Dissertação (Mestrado) – Curso de Letras, Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria, 2014. Disponível em: <https://repositorio.ufsm.br/bitstream/handle/1/9901/MENDES%2C%20GIOVANA%20OLIVEIRA.pdf?sequence=1&isAllowed=y>. Acesso em: 17 jan. 2019.

O GLOBO. [s.i], 03 jun. 2017. Disponível em: <https://oglobo.globo.com/cultura/livros/livro-traz-revelacoes-do-arquivo-da-policia-nazista-sobre-olga-benario-21430770>. Acesso em: 17 jan. 2019.

 

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Olga: sob o olhar da Psicologia Social

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O filme brasileiro Olga (2004), de Jayme Monjardim, retrata bem a resistência que os indivíduos provocadores de transformações podem enfrentar. Aborda especificamente a história de Olga Benário (Camila Morgado) e da trajetória política que vivenciou junto a Luís Carlos Prestes (Caco Ciocler). Recebeu prêmios como de melhor atriz e melhor diretor.

Olga, ativista comunista, nasceu em uma família judia alemã no dia 12 de fevereiro de 1908. Filha de uma dama de alta sociedade de Munique, seguiu o exemplo do pai, que se dedicava às causas trabalhistas como advogado social democrata, atuando na defesa dos operários que foram atingidos pela crise de 1929 (A Grande Depressão).

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A convicção contrária à da progenitora nos remete ao fenômeno da consciência de si.

Apenas quando formos capazes de, partindo de um questionamento deste tipo, encontrar as razões históricas da nossa sociedade e do nosso grupo social que explicam por que agimos hoje da forma como o fazemos é que estaremos desenvolvendo a consciência de nós mesmos (LANE, 2006, p. 17, 18).

Numa reunião com adeptos à causa, Olga brada: “Movimento fascista [1] está se alastrando, temos que fazer tudo para enfrentá-lo. Lutar por um mundo sem injustiças, sem miséria. E sem guerras! Viva a revolução!!!”

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Neste momento, fica claro que a identidade social de Benário já está desenvolvida. Para Lane (2006) é na pluralidade de papeis desempenhados nas relações de grupo que ela é estabelecida.

Deixou de ser um, entre muitos da espécie humana e passaram a ser pessoas com características próprias no confronto como outras pessoas – eles têm suas identidades sociais que os diferenciam dos outros (LANE, 2006, p. 14)

Olga recebe uma carta de Manuilski, convidando-a para uma revolução na América Latina. Acreditavam que em breve o mundo todo seria comunista. Então, foi encarregada de ir ao Brasil e cuidar da segurança pessoal de Prestes, que há pouco havia se engajado com a Coluna [2]. Aqui, torna-se perceptível a consciência de si que alcança o social, podendo, dessa forma, se tornar agente de transformação (LANE, 2006).

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Assim como Benário, Prestes também foi ensinado a lutar contra as injustiças. Debaixo de uma perspectiva mais comportamental, sabemos que a determinação do que é ou não reforçador vem a partir da história do grupo do indivíduo. Ou seja, Luís foi estimulado, a partir de seu contexto ambiental, a não ser passivo, não se calar diante de questões políticas e sociais (LANE, 2006).

Frases ditas por Olga como: “nunca tive tempo para essas coisas”, se referindo a ir à praia, cortejar etc e “O nosso sonho de felicidade é mudar o mundo”, além do comportamento diante de Carlos de entender a existência de sentimentos que poderiam impedir o trabalho efetivo na missão asseguram sua compreensão de que o homem pode sim “se tornar agente da história, ou seja, como ele pode transformar a sociedade em que vive” (LANE, 2006, p. 4).

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Prestes, numa outra reunião, leu o emblemático manifesto [3] que levou Getúlio Vargas a, amparado pela legislação (da Lei de Segurança Nacional), tornar ilegal o movimento, “garantindo a ordem”. O intuito era o de acabar com a Revolução Comunista.

Logo após, a ALN continua com suas atividades, apesar da atuação clandestina. [4] Noutras palavras, tem-se o início da Intentona Comunista.  Além disso, sabiam que, sem o apoio do exército, seria impossível estender a revolta para o resto do país. A possibilidade de o Governo iniciar uma forte repressão como resposta ao movimento levou-os à intensificação das atividades.

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Prestes, o líder bradou: “Nós nunca estivemos tão próximos da revolução! Vamos mudar esse país, mudar a história!”. Todavia, Vargas estabeleceu o 3° regimento, levando à derrota da revolta, que não foi expressiva, uma vez que o povo não se mobilizou, nem a aeronáutica, marinha e exército. No entanto, como já testificado por Silvia Lane (2006, p. 18),

este processo (o de viabilizar mudanças sociais) não é simples, pois os grupos e os papeis que os definem são cristalizados e mantidos por instituições que, pelo seu próprio caráter, estão bem aparelhadas para anular ou amenizar os questionamentos e ações de grupos, em nome da “preservação social”.

Pouco tempo depois os mais engajados foram presos, e Olga, deportada para a Alemanha [4] descobre que está esperando um filho. Depois do parto, fica com a filha durante 14 meses. E menina é entregue à avó paterna, enquanto sua mãe é enviada ao Campo de Concentração. E, Prestes, fica por 9 (nove) anos na prisão.

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Logo, o objetivo de Olga Benário não foi alcançado, uma vez que a representação de mundo dominante seguia uma linha nazi-fascista [7]. Porém, o legado de convicção, de perseverança na luta pelo fim da desigualdade social e o engajamento pela concretização de um mundo melhor foram de grande valia e até hoje fonte de pesquisas e inspiração.

REFERÊNCIAS:

LANESilvia T. Maurer. O que é psicologia social. São Paulo: Brasiliense, 2006.

[1] Tende ao autoritarismo exacerbado ou ao controle de ditadura.

[2] PRIBERAM, Dicionário da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2013. Disponível em:<https://www.priberam.pt/dlpo/fascismo>. Acesso em: 08/03/2017.

[3]Movimento político-militar brasileiro que visava mudança na República Velha (1924-1927) Disponível em:<http://acervo.oglobo.globo.com/fatos-historicos/coluna-prestes-prega-reformas-politicas-sociais-em-11-estados-brasileiros-1-9265523>. Acesso em: 07/03/2017.

[4] “A luta que se trava no Brasil é entre os libertadores de um país, de um lado e de outro, os traidores a serviço do imperialismo das grandes potências! Abaixo o fascismo! Abaixo Vargas! Por um governo popular nacional e revolucionário! Todo o poder à ALN! Pela justiça social e o fim da miséria! ”

[5] Por considerarem que há falta de liberdade no país, criaram a ALN (Aliança Nacional Libertadora), após o PCB (Partido Comunista do Brasil) ser considerado ilegal.

[6] Período de Segunda Guerra, envolvida pelo regime nazista (cabe rememorar que a mesma é judia).

[7] Governo de Mussolini e Hitler, na Itália e Alemanha, respectivamente. Características como totalitarismo, controle da propaganda e anticomunismo estão presentes em ambos. Disponível em: <http://www.historiadigital.org/curiosidades/10-ideologias-do-nazi-fascismo/>. Acesso em: 07/03/2017.

FICHA TÉCNICA DO FILME:

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OLGA

Diretor: Jayme Monjardim
Elenco: Camila Morgado, Caco Ciocler, Eliane Giardini, José Dumont
Ano: 2004
País: Brasil
Classificação: 14

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Karl Marx e o conflito essencial para a construção do sujeito histórico

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As ideias dominantes de cada época sempre foram as ideias de sua classe dominante.

Karl Marx

Para Karl Marx o motor da mudança era a luta entre classes. É importante reconhecer essa visão de Marx, onde não existia a concepção de consenso ou equilíbrio; ele acreditava que o conflito era necessário para a manutenção do sistema.

Marx acreditava que tinha alcançado um insight excepcionalmente importante sobre a natureza da sociedade através dos tempos. Abordagens anteriores da história tinham enfatizado o papel dos heróis e líderes individuais ou ressaltado o papel desempenhado pelas ideias, mas Marx focou numa longa sucessão de conflitos de grupo, incluindo aqueles entre antigos mestres e escravos, lordes medievais e servos, e empregadores modernos e seus empregados. Foram os conflitos entre essas classes, ele afirmou, que provocaram mudanças revolucionárias (BUCKINGHAM, 2011).

Para Magee (1998, p. 465), no tocante a questões humanas, o modo como Marx acreditava que a dialética operava era algo parecido com o que segue. A coisa inescapável que os seres humanos têm de fazer se quiserem viver é obter os meios de subsistência: devem ter como se alimentar, se vestir e se abrigar, e atender a outras necessidades básicas. Produzir essas coisas é uma tarefa que não pode ser evitada. Mas tão logo os meios de produção se desenvolveram além do estágio mais primitivo, tornou-se do interesse dos indivíduos especializar-se, porque descobriram que seria muito melhor se o fizessem. E isso os tornou dependentes uns dos outros.

A produção dos meios de vida torna-se uma atividade social e já não uma tarefa individual. Dentro dessa dependência mútua, que obviamente é a sociedade mesma, a característica definidora de cada individuo é a relação com os meios de produção: o que ele faz para viver determina boa parte das coisas básicas acerca de seu modo de vida. Determina também, quem mais, na divisão do produto social, tem os mesmos interesses que ele, e quem está em conflito com eles. Isso faz surgir as classes socioeconômicas, e também o conflito entre as classes. Todavia, os meios de produção estão num constante processo de mudança. Assim, a mútua relação entre as pessoas tendem a seguir mudando.

A cada grande mudança nos meios de produção, a composição das classes sociais se altera, e com ela o caráter do conflito de classe. Marx vê cada um desses níveis diferentes como se desenvolvendo dialeticamente. No nível da base, o determinante fundamental de toda mudança social e o desenvolvimento dos meios de produção. Em seguida, vem o desenvolvimento das classes sociais e o conflito entre as classes. Por fim, vem o que Marx chama de “superestrutura”: instituições sociais e políticas, religiões, filosofias, artes, ideias, todas essas coisas, diz ele, crescem na base da infraestrutura econômica e são, ao fim e ao cabo, determinadas por ela.

Como Marx viu o desenvolvimento da luta de classes, a luta entre as classes foi inicialmente limitada às fábricas. Eventualmente, dado o amadurecimento do capitalismo, a crescente disparidade entre as condições de vida da burguesia e proletariado, e a crescente homogeneização dentro de cada classe, lutas individuais se generalizaram a associações em fábricas. O conflito de classes cada vez mais se manifesta para vários setores da sociedade. A consciência de classe é aumentada, interesses e políticas comuns são organizados, e o uso de luta pelo poder político ocorre. Classes tornam-se forças políticas (RUMMEL, 1977).

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Fonte: http://www.galizacig.gal/avantar/opinion/2-6-2010/a-luta-de-classes-esta-de-volta

Marx escreveu o Manifesto Comunista com o filósofo alemão Friedrich Engels, que ele tinha conhecido quando ambos estudaram filosofia acadêmica da Alemanha, no final da década de 1830. Engels contribuiu com ajuda financeira, ideias e habilidade literária. Mas Marx foi reconhecido como o gênio por trás da publicação conjunta (BUCKINGHAM, 2011).

A história de toda a sociedade é a história de lutas de classes. [Homem] livre e escravo, patrício e plebeu, barão e servo [Leibeigener], burgueses de corporação [Zunftbürger] e oficial, em suma, opressores e oprimidos, estiveram em constante oposição uns aos outros, travaram uma luta ininterrupta, ora oculta ora aberta, uma luta que de cada vez acabou por uma reconfiguração revolucionária de toda a sociedade ou pelo declínio comum das classes em luta. Nas anteriores épocas da história encontramos quase por toda a parte uma articulação completa da sociedade em diversos estados [ou ordens sociais — Stände], uma múltipla gradação das posições sociais. Na Roma antiga temos patrícios, cavaleiros, plebeus, escravos; na Idade Média: senhores feudais, vassalos, burgueses de corporação, oficiais, servos, e ainda por cima, quase em cada uma destas classes, de novo gradações particulares. A moderna sociedade burguesa, saída do declínio da sociedade feudal, não aboliu as oposições de classes. Apenas pôs novas classes, novas condições de opressão, novas configurações de luta, no lugar das antigas. A nossa época, a época da burguesia, distingue-se, contudo, por ter simplificado as oposições de classes. A sociedade toda se cinde, cada vez mais, em dois grandes campos inimigos, em duas grandes classes que diretamente se enfrentam: burguesia e proletariado.Dos servos da Idade Média saíram os Pfahlbürger das primeiras cidades; esta Pfahlbürgerschaft desenvolveram-se os primeiros elementos da burguesia [Bourgeoisie]. (MARX, 1848, p.01)

A burguesia, controladora de todo o comércio, não estabelecia ligações entre as pessoas. Do contrário, o individualismo e o interesse próprio eram o que prevalecia. Segundo Marx o ser humano passa a não valer mais o que essencialmente de fato é, e sim o que possui. Os valores que existiam, eram apenas aqueles pagos em dinheiro. E o proletariado era a grande vítima da classe dominante. “De cada um, de acordo com suas capacidades, para cada um, de acordo com suas necessidades” (MARX, 1848).

Populariza-se a ideia de que entendendo o sistema de propriedade, independente da sociedade, independente da época, podemos obter a chave para a compreensão das relações sociais. Marx também acreditava que uma análise da base econômica de qualquer sociedade nos permite ver que, quando seu sistema de propriedade se altera, também mudam as “superestruturas”, política, leis, arte, religiões e filosofias. Estas se desenvolvem para servir aos interesses da classe governante, promovendo seus valores e interesses e desviando a atenção das realidades políticas (BUCKINGHAM, 2011). “A abolição da religião como felicidade ilusória do povo é necessária para a felicidade real” (MARX, 1848).

Assim, a história é o curso das relações autoritárias de reprodução de lutas de poder das classes sobre o status quo; há períodos de paz social, de mudança social incremental na adaptação às mudanças no saldo estrutural, e etc.. Possivelmente, a violência em toda a sociedade serve para criar um novo equilíbrio de autoridade (RUMMEL, 1977).

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Fonte: http://apoyomutuo.net/sindicalismo-y-trabajo/

A classe burguesa nasce do interior do mundo feudal, nega-o e supera-o, dando origem à sociedade capitalista. Mas, pela lei do devir dialético, o desenvolvimento do capitalismo comporta o surgimento do proletariado e das contradições que produzirão a sua superação.

Todas as sociedades que existiram até aqui se fundaram no antagonismo entre classes que oprimem e classes oprimidas. Contudo, para poder oprimir uma classe é preciso garantir-lhe ao menos as condições de manutenção da sua existência servil. O operário moderno, ao contrário, em vez de elevar-se graças ao progresso da indústria desce cada vez mais abaixo das condições da sua classe. O operário torna-se pobre e o pauperismo desenvolve-se ainda mais rapidamente do que a população e a riqueza. Daí se deduz que a burguesia não é capaz de continuar por muito tempo como a classe dirigente da sociedade. Não é capaz de dominar porque não é capaz de garantir a existência do próprio escravo nem mesmo dentro dos limites da sua escravidão. (NICOLA, 2005)

A condição essencial para a existência e o domínio da classe burguesa é a acumulação da riqueza em mãos privadas, a formação e o crescimento do capital; a condição do capital é o trabalho assalariado. O trabalho assalariado baseia-se exclusivamente na concorrência dos operários entre si. O capitalismo não é capaz de manter a sociedade unida. Sem revolução não existem possibilidades de melhoria para o proletariado. A tendência é o empobrecimento progressivo. O proletariado nada possui, nada tem a perder, por isso vencerá. (NICOLA, 2005)

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Fonte: http://www.opalheiro.com.br/luta-de-classes-e-classes-de-luta/

Marx raramente discutiu a possibilidade de que novas ameaças à liberdade pudessem surgir depois de uma revolução bem-sucedida: ele supunha a pobreza como única causa real da criminalidade. Seus críticos também alegam que ele não compreendeu suficientemente as forças do nacionalismo e que não explicou o papel da liderança pessoal na política. De fato, o movimento comunista do século XX, produziria cultos a personalidades poderosas em quase todos os países aonde marxistas chegaram ao poder. (BUCKINGHAM, 2011). Apesar das críticas e crises que as teorias de Marx provocaram, suas ideias foram muito influentes. Como crítico poderoso do capitalismo comercial e como teórico econômico e socialista “Marx ainda hoje é considerado relevante para a política e a economia”. (BUCKINGHAM, 2011)

De fato Karl Marx teve uma grande contribuição para o entendimento da economia no mundo. Com suas ideias, fez com que o capitalismo – apesar de ser uma corrente tão poderosa – fosse questionado por muitos. Além de contribuir com a influência do seu pensamento, para que o proletariado tivesse voz e direitos.

REFERÊNCIAS

BUCKINGHAM, Wiliian, 2011. KIM, Douglas, 2011. Livro da Filosofia. 1º edição. Editora Globo, 2010.

MAGEE, Bryan, 1998. História da Filosofia. 3º edição. São Paulo: Editora Loyola, 1999.

NICOLA, Ubaldo, 2005. Antologia ilustrada de Filosofia.  Editora Globo, 2010.

RUMMEL, R. J. Conflito na Perspectiva. 3º ed. Beverly Hills, CA: Sage Publications, 1968.

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