O impacto da audição na qualidade de vida

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Em 3 de março, é celebrado o Dia Mundial da Audição. O que deveria ser apenas um ato de conscientização, tem se tornado um importante alerta para a humanidade. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 466 milhões de pessoas sofrem de perda auditiva no mundo. A entidade afirmou ainda que, até 2050, o número pode aumentar para 900 milhões.

As razões mais comuns vão desde problemas genéticos a alta exposição aos ruídos, como também uso de medicamentos ototóxicos que possuem excesso de antibióticos e diuréticos, além de infecção por vírus e bactérias.

No entanto, os maiores vilões da audição podem estar em nossas mochilas, bolsas, pendurados em nossas orelhas ou em cima de nossas mesas: os fones de ouvido e aparelhos com som muito alto. Sabemos que há músicas que despertam diferentes sentimentos, alguns nos relembram paixões, outras ajudam a lidar com frustrações ou nos animam diante de desafios. Então, a pessoa se empolga e coloca o som lá nas alturas. O resultado é a perda de audição de maneira gradual.

Os primeiros sinais da doença aparecem quando a pessoa começa a solicitar repetições da fala, quando ela mesma começa a falar mais alto, esquece o que foi dito, irrita-se com alguns tipos de sons e, em alguns casos, passa a ouvir um zumbido frequente.

Fonte: encurtador.com.br/cktOT

Outro detalhe importante que pode ajudar é a identificação precoce, o que evita danos maiores. Vale lembrar que quem processa qualquer tipo de som é o nosso cérebro. Portanto, quando aumenta o tempo de privação de som, ele perde habilidades importantes de compreensão de fala, sendo mais difícil o tratamento. Além do mais, o adiamento do uso do aparelho auditivo pode ocasionar no maior agravamento da doença. Nesses casos de tratamento tardio, a tecnologia pode não ser suficiente.

Aqueles que estão mais expostos aos ruídos, no trabalho ou no trânsito, por exemplo, possuem riscos grandes de perder a audição ou parte dela. Caso esteja associada à genética, o risco é ainda maior. Para esses casos, o indicado é o uso de Equipamentos de Proteção Individuais (EPIs) para auxiliar e prevenir. Eles são capazes de diminuir o impacto de sons altos dentro do sistema auditivo.

No geral, o necessário é diminuir a exposição ao ruído e melhorar a alimentação. Hábitos saudáveis não auxiliam só a emagrecer, mas influenciam também em nosso corpo como um todo. Por exemplo, estudos mostram que a ingestão de zinco e magnésio podem colaborar com a prevenção para perda induzida pelo ruído. 

Outra sugestão é promover realmente um descanso auditivo.  Tente diminuir a exposição ao ruído. Caso o seu dia a dia o force a estar em lugares barulhentos, no seu momento de folga, diminua o volume do som. Ouça mais músicas de relaxamento.

Vale ressaltar que quando nossa capacidade auditiva diminui, sentimos a perda de algo importante em nossas vidas. Isso nos impede de nos comunicar e trocar experiências com outros. Há pacientes que se isolam, sofrem com pensamentos de autoestima baixa e podem enfrentar quadros de depressão. Fica claro que ouvir bem é um fator impactante na qualidade de vida, que deve ser escolha número um no ranking de prioridades de qualquer um.

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Autistas também praticam esportes

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Será que autistas podem praticar esportes? Será que eles conseguem se sair melhor que os outros? Geralmente, os autistas são pessoas que conseguem ter grandes ganhos ou grandes conquistas naquilo que fazem por serem hiper focados e altamente interessados. Por outro lado, tem pouca assertividade ou pouca flexibilidade social, pouca empatia e não sabem lidar muitas vezes com situações que exigem automaticamente uma boa percepção social.

Normalmente, autistas não têm boa performance motora, espacial e executiva para cumprimento de atividades que envolvam esportes. Então, ele só vai ter vantagem se for fascinado, hiper focado naquele esporte.  

Os benefícios da prática esportiva são vários. O primeiro é ajudar o indivíduo a se socializar. A grande maioria dos esportes são sociais, exigem o compartilhamento, exigem estratégia que depende do outro, isso traz benefícios de estimulação de interação social e a melhora no comportamento social.  

Fonte: encurtador.com.br/gkI89

Melhor ainda, pois faz o autista se movimentar, porque normalmente eles não gostam de fazer exercícios. Preferem ambientes fechados, restritos, silenciosos e que envolvam tecnologias. Isso faz com que eles se restrinjam a atividades sedentárias e eleve o risco de, na fase adulta, desenvolver processos crônicos causados por sedentarismo, aumento do colesterol, maior risco de diabetes e hipertensão e, consequentemente, pode vir a ter problemas de maior exposição a eventos ou distúrbios que são gerados por esses problemas como AVC e infarto.    

Muitos questionam, mas eles precisam ter cuidados ao praticar esportes? Não há especificamente nenhum cuidado que o autista tem que ter. Ele só precisa entender e ser explicado que a prática de esportes requer cumprir regras e seguir uma rotina.  Ele vai ter que trabalhar determinadas atividades esportivas juntos com os outros, compartilhando jogadas, compartilhando interesses, compartilhando um espírito de equipe. Isso para o autista é muito difícil.

Os cuidados que os profissionais têm de ter com o autista é saber que ele tem dificuldades de entender linguagem de duplo sentido. Tem também dificuldade de organizar dentro dos pensamentos dele a sequência de uma jogada ou a sequência compartilhada de um processo social. Além disso, em uma jogada, eles têm menos coordenação motora. Por isso, vão precisar de um pouco mais de compreensão do educador físico para trabalhar a parte da psicomotricidade.

Fonte: encurtador.com.br/hkwG9

Uma coisa importante de dizer é que quem tem autismo tem pavio curto, na maioria das vezes são indivíduos que mudam de humor de uma hora para outra e não toleram muito passar por disparates ou situações onde eles são contrariados.  O esporte que eu sugiro para o autista é aquele que o agrada, o que traga menos estímulos indesejáveis. As recomendações de esportes são os que ajudam a melhorar a capacidade de percepção social como os esportes jogados em grupo.

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Estresse e ansiedade causados pela quarentena são gatilhos para surgimento ou piora de doenças psicodermatológicas

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Sociedade Brasileira de Dermatologia alerta:

Vitiligo, psoríase e dermatite atópica são alguns exemplos de enfermidades que podem ser agravadas durante a pandemia pelo Novo Coronavírus

A confirmação de pandemia pelo Novo Coronavírus e a necessidade de realizar a quarentena com isolamento domiciliar trouxe muitos questionamentos, medos, ansiedade e estresse. Uma das consequência disso são as queixas, nos últimos dias, de surgimento ou piora das doenças psicodermatológicas, área da dermatologia que foca na interação entre as doenças de pele e a saúde mental dos pacientes. Alguns exemplos das queixas são a acentuação de queda de cabelos, piora da dermatite atópica, agravamento da psoríase e a volta das manchas brancas de vitiligo que já estavam pigmentadas.

Já é comprovado que estressores psicológicos são gatilhos para o aparecimento ou piora dos quadros cutâneos. “Emoções são importantes fatores em todas as doenças de pele. Os estressores tanto internos quanto externos rompem o equilíbrio do organismo estimulando uma série de reações do sistema neuroendócrino afetando vários aspectos imunológicos das doenças da pele”, explica a Dra. Márcia Senra, Coordenadora do Departamento de Psicodermatologia da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD).

Fonte: encurtador.com.br/GHJKV

Algumas pessoas com pouca resiliência, sensíveis ao estresse, portadores de transtornos ansiosos e depressivos, pioram muito com a experiência de quarentena, afastados de seus entes queridos, pela perda de liberdade, fobias desenvolvendo quadros de pânico, insônia pelas incertezas quanto à doença e ao futuro, inclusive levando à ideação suicida. “Com tantas emoções negativas, com toda certeza, as somatizações na pele irão aumentar enormemente justamente por essa inter relação entre a pele, o sistema nervoso e o psiquismo”, afirma Márcia Senra.

Diante do cenário, a SBD orienta que a população, nesse período de quarentena, invista em bons hábitos que vão ajudar a reduzir o estresse e prevenir alterações em sua pele, como prática de atividades físicas, ter um bom sono, se alimentar bem e ocupar a cabeça com atividades que causem prazer (desenhar ou realizar jardinagem, por exemplo).  Além disso, é importante ter uma rotina diária de cuidados com a pele.

Quanto ao profissional dermatologista, cabe a ele abordar tanto a pele quanto o psiquismo de quem o procura. “O dermatologista deve desenvolver a melhor relação médico paciente com total empatia, acolhimento, fornecendo ferramentas, oferecendo terapias complementares e indicando em alguns casos, o aconselhamento psicológico/psiquiátrico”, finaliza o Dr. Sérgio Palma, Presidente da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD).

Fonte: encurtador.com.br/muzMO
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Cuidadores de idosos redobram a precaução durante a pandemia de Coronavírus

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Especialista dá dicas para profissionais e alerta familiares sobre os cuidados na prevenção.

O Coronavírus tem mudado a rotina de todos os brasileiros. Além de cuidar de nós, devemos estar atentos ao próximo, principalmente ao grupo de risco que inclui idosos e portadores de doenças crônicas (Diabetes, Hipertensão, Asma). Mais do que nunca, a atuação de cuidadores se faz necessária para quem está isolado, mas não pode ficar sozinho, por causa de limitações físicas e outras necessidades especiais. No entanto, o momento exige prudência redobrada dos profissionais e atenção das famílias para o que deve ser seguido à risca. Izabelly Miranda, CEO da Cuidare Brasil, rede de cuidadores de idosos e pessoas com necessidades especiais, e enfermeira de formação, dá 12 importantes dicas de precauções que os cuidadores devem ter junto aos seus assistidos durante a pandemia. 

– Higiene pessoal: é muito importante se atentar para a higiene pessoal do cuidador, assim como à indispensável necessidade do banho, antes de iniciado o turno de serviço. O uniforme de trabalho deve ser utilizado após a primeira etapa. Essa medida é uma forma de minimizar a exposição dos assistidos aos agentes externos, como, por exemplo, com o deslocamento por meio do uso do transporte público;

– Acessórios: evite utilizar qualquer tipo de acessório;

– Lave as mãos frequentemente com água e sabão ou álcool em gel (respeitando os cinco momentos da higienização). O álcool em gel com concentração de 70% e a boa prática na higiene nas mãos são formas para evitar a contaminação;

Fonte: encurtador.com.br/tEGT6

– Cumprimentos: evite cumprimentos muito próximos, como apertos de mão e abraços;

– Nariz e boca: cobrir o nariz e a boca ao tossir e espirrar, usando a parte interna do antebraço ou lenços de papel sendo descartados após o uso; 

– Máscara: utilize máscara durante assistência direta; 

– Combinação para investir: máscaras são efetivas desde que combinadas à lavagem correta das mãos ou uso do álcool em gel. É importante reforçar que, antes de colocar a máscara, as mãos devem ser higienizadas; 

– Tempo de uso: substitua a máscara por uma nova assim que apresentarem sinais de desgaste, rasgos ou falha na utilização. Máscaras são descartáveis, ou seja, não devem ser reutilizadas;

– Descarte correto: para remover a máscara, retire-a por trás (não toque a parte frontal da máscara), descarte imediatamente em uma lixeira fechada e higienize as mãos em seguida;

Fonte: encurtador.com.br/zDEMU

– Uso de material compartilhado: equipamentos de uso compartilhado (por exemplo: estetoscópios, aparelho para aferição de pressão arterial e termômetros) devem ser limpos e desinfetados com álcool 70% após o uso, três vezes em movimento unidirecional por 20 segundos;

– Ambiente limpo: realize desinfecção de equipamentos e limpeza do ambiente com solução de hipoclorito de sódio a 1% em pisos e superfícies dos banheiros;

– Regra geral: oriente possíveis acompanhantes e/ou visitas quanto à importância da higienização das mãos ao adentrar no domicílio do assistido.

A Cuidare Brasil está presente em 20 estados com mais de 70 unidades franqueadas. Para mais informações sobre o profissional mais próximo da sua casa ou como adquirir uma franquia da marca, acesse o site. 

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Sexualidade e Sistema Único de Saúde abre as Mesas-Redondas do Caos

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A mediação ficará por conta da profa. Me. Izabela Querido, e contará com a participação das psicólogas Raphaella Pizabi Castor Pinheiro e Flávia Roberta Pereira de Oliveira.

Várias atividades ocorrem de modo simultâneo no Caos 2019. Dentre elas, três mesas-redondas compõem a programação. A primeira delas, ‘Sexualidade e Sistema Único de Saúde: da atenção primária aos cuidados de vítimas de violência sexual’ ocorre no dia 22/05, as 9h no auditório central do Ceulp/Ulbra.

A mediação ficará por conta da profa. Me. Izabela Querido, e contará com a participação das psicólogas Raphaella Pizabi Castor Pinheiro e Flávia Roberta Pereira de Oliveira, que irão se debruçar sobre educação sexual e o acesso ao planejamento reprodutivo a partir de políticas públicas desenvolvidas pelo SUS – Sistema Único de Saúde, além de enfatizar o papel do Estado no que se refere a conscientização quanto a comportamentos de prevenção e de cuidado pessoal que garantam a promoção de saúde.

A mesa-redonda também tem como foco a observação da preservação dos direitos sexuais e direitos reprodutivos de jovens e adultos, bem como informações sobre insumos para a prevenção das DST/HIV/Aids. Neste sentido, atualmente, o SUS garante a distribuição de métodos contraceptivos, o esclarecimento sobre o uso do preservativo feminino, para estimular a adesão, e o uso da caderneta de saúde, que contém orientações sobre direitos e saúde sexual e reprodutiva. – Com informações do Ministério da Saúde.

Fonte: Arquivo Pessoal

Sobre as debatedoras

 Flavia Roberta Pereira de Oliveira: Bacharel em direito e em Segurança Pública. 1ª Tenente QOPM. Comandante da Patrulha Maria da Penha de Palmas/TO.

 Raphaella Pizani Castor Pinheiro: Psicóloga formada pelo Uniceub (2008), com formação em psicanálise, psicologia hospitalar e terapia sistêmica, especialista e mestre em Saúde, atua como psicóloga hospitalar no hospital da Unimed e no HGP estando como responsável pelo núcleo de atendimento a pessoa em situação de violência no HGP.

Confira a programação completa do CAOS 2019. 

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Redução de danos como uma prática de cuidado às pessoas que usam drogas

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Quando suportamos a função de cuidador, navegamos por águas escuras e operamos manobras de alta complexidade.

Antonio Lancetti, 2006

O debate sobre RD remonta a meados da década de 1920, na Inglaterra, com a utilização da heroína no tratamento de usuários desta droga, que mantinham relação prejudicial, de modo a minimizar os efeitos prejudiciais da substância injetável e garantir o acesso a direitos básicos. Desta ação, foi produzido e publicado o Relatório Rolleston, em 1926, tornando-se um marco no tratamento do uso prejudicial de álcool e outras drogas (FONSECA, 2005).

Anos mais tarde, em 1980 na Holanda, a RD abriu possibilidade para novos diálogos sobre drogas, após uma ação comunitária perpetrada por um grupo de usuários de substâncias injetáveis (SOUSA; CARVALHO, 2015). À época, havia um número expressivo de usuários de drogas contaminados com Hepatite B, o que desencadeou a mobilização, tensionando o poder público a criar Programas de Trocas de Seringas, que consistia na troca de seringas usadas, por estéreis (FONSECA, 2005). Ainda segundo a autora, além da troca de seringas, o Programa passou a dispor de uma diversidade de insumos (algodão, água potável, bicarbonato de sódio), não somente nos centros de saúde, como também nas cenas de uso (FONSECA, 2005).

Na mesma época, nos Estados Unidos, os primeiros casos de HIV/AIDS começaram a ser detectados. “Com o desenvolvimento dos testes para detectar o HIV, a situação se revelou bastante mais grave: cerca de metade dos UDI (usuários de drogas injetáveis) de Nova Iorque estavam infectados pelo vírus da AIDS” (FONSECA, 2005). Na Europa, chegavam a 30% de pessoas infectadas entre usuários de substâncias injetáveis (TELLES, 2004 apud FONSECA, 2005), e as estratégias de RD foram ganhando força, agora não mais como foco na dependência de drogas, mas como prevenção de doenças infecciosas, como Hepatite B e HIV/AIDS.

Fonte: encurtador.com.br/fnyJL

No Brasil, a primeira tentativa de utilizar estratégias de RD se deu em Santos, em 1989 (PETUCO, 2014; FONSECA, 2005). No entanto, fazer redução de danos na época era tido como crime equivalente ao de traficar drogas, pois os operadores do direito compreendiam como “apologia ao uso”, baseados no argumento legal da Lei nº 6368/76 (FONSECA, 2005).

Em 1995, deu-se início o primeiro Programa de Redução de Danos no Brasil, na cidade de Salvador/BA, como projeto de extensão da faculdade de Medicina na Universidade Federal da Bahia (PETUCO, 2014; FONSECA, 2005). Em 1997, foi criada a ABORDA, constituída por profissionais redutores de danos de diversas áreas, usuários de drogas e pessoas comprometidas com a pauta (PETUCO, 2014; FONSECA, 2005).

Somente em 2005, as ações de RD foram regulamentadas, por meio da Portaria nº 1028, e mais tarde, foram incorporadas à Atenção Primária, com a Portaria nº 2488/2011, com as equipes de Consultório na Rua (TEIXEIRA et. al., 2017), e compreende enquanto eixos norteadores de atenção integral à saúde: a educação e informação, a assistência e a disponibilização de insumos de proteção à saúde (BRASIL, 2005).

Fonte: encurtador.com.br/elnB6

Desse modo, o artigo 9º da referida Portaria vem “Estabelecer que as ações de redução de danos devem ser desenvolvidas em consonância com a promoção dos direitos humanos, tendo especialmente em conta o respeito à diversidade dos usuários ou dependentes de produtos, substâncias ou drogas que causem dependência” (BRASIL, 2005).

Contrapondo a Portaria que versa sobre a Política de Redução de Danos, as práticas de recolhimento, vide exemplo da megaoperação policial realizada na cracolândia em São Paulo em junho de 2017, possuem intrinsecamente o propósito de higienismo social, internando involuntariamente usuários de drogas nas comunidades terapêuticas nas quais são submetidos a tortura, trabalho compulsório e punições severas. Os mecanismos de assujeitamento do “novo sujeito manicomial”, o usuário de droga, vincula o tratamento a noção de castigo, com bases em uma moral cristã fundante do Estado brasileiro.

A lógica da abstinência, e a consequente postura de negação do diálogo sobre o uso de drogas, está tão arraigada no discurso e postura dos serviços direcionados para usuários de drogas, que mesmo estes são capturados por esse discurso.

Fonte: encurtador.com.br/hnuE5

A Resolução N 01/2018 do Conselho Nacional de Política sobre Drogas (CONAD), implica em uma mudança significativa no que tange a política sobre drogas no Brasil, enfatizando a abstinência como única estratégia de intervenção e a internação como instrumento para atingir esse fim. Além disso, reforça o financiamento das comunidades terapêuticas, ao passo que propõe o sucateamento dos serviços substitutivos, como os CAPS AD e demais dispositivos de reintegração social sob a ótica da redução de danos.

Na atual configuração dos equipamentos de saúde, embora ultrapassada, em sua maioria agenciada pela lógica da abstinência, a RD busca ativar um movimento de afirmação política, uma vez que inaugura um dispositivo, que opera na prática novas formas de ver, pensar, agir e sentir sobre as drogas (SOUZA, CARVALHO, 2015). Nesse ínterim, a RD não se limita ao binarismo “sim às drogas” versus “não às drogas”, tal qual a abstinência, mas emerge como possibilidade de acolher os indivíduos em suas singularidades, aproximando-se do princípio da Universalidade preconizado pela Lei nº 8080, que institui o Sistema Único de Saúde (SUS).

Fonte: encurtador.com.br/qCK29

Em contrapartida, a lógica da abstinência entra em desacordo com a lei supracitada, uma vez que condiciona o acesso ao tratamento em saúde somente àqueles que desejam parar de usar drogas. Segundo Petuco (2014), a abstinência pode ser eventualmente alcançada no processo de tratamento, no entanto, não deve ser posta como objetivo final.

Para Souza e Carvalho (2015), a RD pressupõe três conclusões: nem todas as experiências com drogas são danosas; nem todos os indivíduos que têm experiências danosas com drogas desejam parar de usá-las; e os danos podem ser de diversas ordens, devendo as ações de saúde abarcá-las em sua integralidade.

Os trabalhadores que militam pela RD enquanto “trabalhadores afetivos”, tomando emprestado o conceito de Toni Negri e Michael Hardt (2000) são aqueles que fazem parte do território existencial e geográfico, promovem saúde onde a clínica (trans)borda, entram em sintonia com as pessoas e seus processos para, então, tornarem-se alternativa de autonomia e cuidado.

Fonte: encurtador.com.br/fpsEQ

Pensar a RD não é pensar uma prática fechada, reproduzida em estratégias fabris e em série, mas pensar um ethos de cuidado que valoriza a experiência particular dos sujeitos e é construída singularmente. É, portanto, um paradigma ético de experimentação e um dispositivo que opera uma nova prática.

Como se encontra a política sobre drogas atualmente?

Recentemente o Ministério da Saúde lançou uma nota técnica reafirmando a resolução número 01/2018. Nesta, instaura-se que as estratégias de tratamento deverão ser baseada na lógica da abstinência, excluindo qualquer ação voltada para a política de redução de danos.

Diante disso, retoma-se ou porque não dizer, intensifica-se, a conhecida guerra às drogas, que se apresenta como uma guerra desigual e ineficaz. Primeiro, por ter como alvo de seus principais ataques às populações pobres, negras e que “sujam” a sociedade. Segundo, por não levar em consideração a baixa eficiência dos tratamentos que objetivam a abstinência, visto que é alta a reincidência do uso após o período de reclusão em abstinência (SANTOS e COSTA-ROSA, 2007).

Fonte: encurtador.com.br/dwAQV

Outras decisões da nota técnica que não estão diretamente ligadas a política de drogas, mas estão ligadas a política de saúde mental como um todo, adotam a volta dos hospitais psiquiátricos, a volta do uso da Eletroconvulsoterapia, e ainda usa de termos como ´´manicômio“ e ´´superlotação de Serviços de Emergência com pacientes aguardando por vagas para internação psiquiátrica“, deixando claro o quanto a segregação das pessoas que possuem algum transtorno mental se mostra como uma possibilidade.

Tais mudanças representam um enorme retrocesso a todas as correntes quebradas e as que vinham se quebrando desde a Reforma Psiquiátrica, em relação ao oferecimento de tratamentos que enxergassem os sujeitos com um olhar biopsicossocial. Ainda, perde-se aos poucos a liberdade concedida aos pacientes que antes eram “limpados” da sociedade e depositados em instituições de reclusão com a justificativa de um bom tratamento, quando na realidade desejavam excluí-los dos ambientes sociais tradicionais.

Fonte: encurtador.com.br/ivBC9

Diante disso o Conselho Federal de Psicologia (CFP), entende que tal nota técnica representa um regresso às práticas de cuidados punitivas e segregacionistas e que estas vão de encontro ao princípio de respeito à liberdade, dignidade e integridade do indivíduo defendida pelo Código de ética da profissão. Portanto, no dia 8 de fevereiro foi lançada uma nota de repúdio dizendo que “O Conselho Federal de Psicologia (CFP) vem a público manifestar repúdio à Nota Técnica Nº 11/2019 intitulada “Nova Saúde Mental”, publicada pela Coordenação-Geral de Saúde Mental, Álcool e Outras Drogas, do Ministério da Saúde, na última segunda-feira (4). O teor do documento aponta um grande retrocesso nas conquistas estabelecidas com a Reforma Psiquiátrica (Lei nº 10.216 de 2001), marco na luta antimanicomial ao estabelecer a importância do respeito à dignidade humana das pessoas com transtornos mentais no Brasil. (CFP, 2019)”

REFERÊNCIAS:

MANGUEIRA, Suzana de Oliveira et al. PROMOÇÃO DA SAÚDE E POLÍTICAS PÚBLICAS DO ÁLCOOL NO BRASIL: REVISÃO INTEGRATIVA DA LITERATURA. Psicologia & Sociedade, Pernambuco, v. 27, n. 1, p.157-168, set. 2014. Disponível em: <http://submission.scielo.br/index.php/psoc/article/view/124187/9061>. Acesso em: 07 maio 2019.

PETUCO, D. R. da S.; MEDEIROS, R. G. Redução de danos: dispositivo da reforma? Boletim Drogas e Violência no Campo, [s.l.], [s.n.], mar. 2009.

SANTOS, Clayton Ezequiel dos; COSTA-ROSA, Abílio da. A experiência da toxicomania e da reincidência a partir da fala dos toxicômanos. Estudos de Psicologia, Campinas, v. 24, n. 4, p.487-502, dez. 2007. Disponível em: <https://repositorio.unesp.br/bitstream/handle/11449/29064/S0103-166X2007000400008.pdf?sequence=1&isAllowed=y>. Acesso em: 07 maio 2019.

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Rede Cegonha: Psicóloga Lhivia fala do projeto

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O Governo Federal, através do Sistema Único de Saúde – SUS, criou a Rede Cegonha por meio da Portaria n° 1.459, de 24 de junho de 2011, publicada pelo Ministério da Saúde que propõe uma melhoria no atendimento à mulher durante sua gravidez, durante o parto e o pós-parto.

O projeto ainda beneficia os recém-nascidos e às crianças com até 02 (dois anos) de idade. É um projeto que propõe uma maior disponibilidade de atendimento pré-natal, com garantia de realização de todos os exames necessários, inclusive um exame de ultrassonografia.

Além das questões básicas, a Rede Cegonha busca realizar encaminhamentos e atendimentos de casos que houverem complicações durante a gravidez. Assim, o intuito deste projeto governamental é poder levar o melhor atendimento para as gestantes que utilizam o SUS para uma boa gestação.

Considerando a importância da Rede Cegonha, acadêmicos de Psicologia do CEULP/ULBRA, com a colaboração do (En)Cena, entrevistaram Lhivia Lourençoni Barbosa, Psicóloga e Doula, Coordenadora da Equipe Matricial de Humanização do Hospital e Maternidade Dona Regina.

Foto: Hospital e Maternidade Dona Regina

(En)Cena – Porque é tão importante o pré-natal para a saúde da mãe e do bebê?

Lhivia Lourençoni Barbosa – Para evitar as morbidades para a mãe e a criança; preservar a saúde desta mãe para uma gestação saudável, oferecendo mais tranquilidade para mãe, consequentemente o bebê será mais saudável e terá melhor desenvolvimento. Para ter um parto mais seguro e saudável, a rede cegonha propõe uma continuidade pré-natal, parto e pós-parto, cuidando da criança até os 2 anos, preservando a saúde da mãe e do bebê para evitar mortalidade materna neonatal e infantil neste período.

(En)Cena – Já ouvi falar que o acompanhamento pré-natal se estende para os homens (pais) também. É verdade? Pode me explicar o porquê?

Lhivia Lourençoni Barbosa – A rede cegonha prioriza que a família viva o pré-natal junto. A mulher, se tiver alguma doença, precisa ser tratada em conjunto com parceiro. Ou seja, é estendido a ele também o acompanhamento tanto no pré-natal, parto e pós-parto. Ficam num alojamento para serem orientados nestes cuidados com o bebê, para eles saírem preparados para casa.

(En)Cena – O que mudou com a criação da rede cegonha?

Lhivia Lourençoni Barbosa – A mulher passou a ter direito ao acompanhante, de livre escolha dela. Ela pode escolher a posição do parto. É incentivado o trabalho de parto na posição vertical e oferecido o trabalho farmacológico de alívio da dor.

(En)Cena – Quais os benefícios que a rede cegonha trouxe para a saúde pública?

Lhivia Lourençoni Barbosa – O contato pele a pele, quando o bebê não requer cuidados especiais, ficando um período de 1 hora com mãe logo após nascer, amamentação na primeira hora de vida. O bebê que mama neste momento, tem amamentação mais prolongada em relação as outras crianças. É trabalhado o incentivo ao aleitamento materno pois isto gera consequências até na vida adulta do bebê. Alojamento conjunto com acompanhante. Para a saúde da mulher é muito melhor, pois quando ela é bem assistida acaba tendo benefícios evitando consequências ruins. A rede incentiva o parto normal que é um grande benefício para mãe e o bebê evitando a morbimortalidade (mobilidade + mortalidade).

(En)Cena – Qual o principal objetivo da rede?

Lhivia Lourençoni Barbosa – O principal objetivo é diminuir o índice de mortalidade materna e infantil neonatal.

(En)Cena – Você consegue ver alguma falha na rede cegonha? Se sim, quais?

Lhivia Lourençoni Barbosa – Como o próprio nome diz, a proposta é uma rede de cuidados, ou seja, cuidado continuado tanto do pré-natal, passando pelo hospital e retornando à unidade básica de saúde. Neste momento, na comunicação entre o hospital e a unidade básica de saúde é que a rede perde um pouco. Por mais que existam ações para esta atenção básica, na prática se perde esta mulher no meio do caminho, ou seja, na comunicação entre o hospital e a unidade básica.

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CAOS: População idosa também merece cuidados

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Nesta quinta-feira 24 de agosto, ocorreu na sala 405 do Ceulp/Ulbra as sessões técnicas com apresentações de trabalhos acadêmicos, no Congresso Acadêmico de Saberes em Psicologia – CAOS. Um dos trabalhos apresentados levava o título “As eventuais infrações contra o ordenamento jurídico brasileiro nas instituições de longa permanência de idosos no estado do Tocantins”, por Victor Hugo Martins Correa e Vinícius Renato de Paula Pires, acadêmicos de Direito da Faculdade Católica do Tocantins (FACTO).

Essas instituições de longa permanência de idosos (públicas ou privadas) são alternativas de cuidados para essa população, onde Estado e mercado dividem com a família essa responsabilidade. No entanto, essa não é uma prática comum no Brasil, sendo muitas vezes confundida com asilos. Através de pesquisa qualitativa, os autores do trabalho buscaram compreender, interpretar e sistematizar como ocorre o cuidado com a população idosa nessas instituições.

Os pesquisadores levantaram algumas necessidades dessa população, como “métodos de prevenção e asseguração em todos os setores e níveis de atuação, independentemente de quaisquer discrepâncias, como as socioeconômicas” e a atuação de profissionais da saúde, inclusive de psicólogos, que se faz imprescindível.

Os resultados e discussões demonstraram que os funcionários seguem as orientações de Tipificação Nacional de Serviços Socioassistenciais para o cuidado dos idosos, promovendo a autonomia, a inclusão social e a melhoria da qualidade de vida dos idosos e que, ainda que os cuidados com os idosos na instituição sejam simples, eles são adequados no que diz respeito as necessidades dos residentes.

Por fim, concluíram que os cuidados não se concentram apenas na área da saúde, mas também na moradia, proteção, alimentação, educação, cultura, lazer, respeito e nos demais direitos assegurados no Estatuto do Idoso, sendo esses adotados nos procedimentos de cuidados da instituição.

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Ações para o parto humanizado são fortalecidas

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Presidente Dilma no lançamento do programa Rede Cegonha

Lançada em março de 2011, pelo Ministério da Saúde, a Rede Cegonha entende que gravidez, parto e nascimento são importantes acontecimentos na vida da mulher e daqueles que estão à sua volta, sobretudo os familiares. A estratégia política, por meio do Sistema Único de Saúde, é ofertar atendimento adequado, seguro e humanizado a partir do momento que a gestação é confirmada, no pré-natal, no parto e até aos dois meses de vida do bebê.

Quem esteve no Seminário Norte de Humanização, em março, na capital Manaus(AM),  teve a oportunidade de participar também das discussões relacionadas a esse tema, com profissionais de vários estados da Região Norte do país, que vivem dificuldades, mas que também testemunham as ações de sucesso. Uma dessas pessoas é Loiana Melo, apoiadora da Rede Cegonha em Manaus, atuando em três unidades naquela Capital, entrevistada pelo Portal (En)Cena.

Loiana Melo em entrevista ao portal (En)Cena

(En)Cena – Como a Rede Cegonha percebe a questão do parto, sobretudo da forma como ele é feito hoje em boa parte dos serviços de saúde no Brasil?

Loiana Melo – Na verdade, temos evidências de que o modo como o processo de parto é executado no Brasil atualmente está equivocado. A maioria das práticas aceleram o trabalho de parto na tentativa de aliviar e/ou suprimir a dor. Existem evidências cientificas de que a gestante pode ingerir líquidos leves antes do parto; que a posição vertical é mais favorável ao trabalho de parto do que a posição horizontal etc. Quanto menos intervenções farmacológicas tivermos, melhor, pois o corpo da mulher é capaz de fazer esse trabalho sozinho. Em muitos casos só precisamos monitorar e apoiar a mulher.

(En)Cena – Como as mulheres percebem essas estratégias de parto?

Loiana Melo – O resgate do protagonismo da mulher no parto e a não patologização desse processo natural é uma proposta inovadora. Trabalhamos em rede com trabalhadores e serviços de saúde. Trabalhamos também com essa questão da inserção do usuário nesse processo, entendemos que a mulher e sua comunidade devem ser ativas nas suas escolhas e desejos. As informações têm sido divulgadas ao longo desse processo, mas muitas mulheres chegam à maternidade sem ter conhecimento de que têm direito ao acompanhante independente de sexo e parentesco, de conhecer o serviço anteriormente onde elas vão usufruir e ter o parto, assistência. Então nossas ações também perpassam a conscientização dos diretos na atenção a saúde.

(En)Cena – Ela pode conhecer o ambiente onde será o parto?

Loiana Melo – Sim, ela pode conhecer.

En)Cena– Mas os trabalhadores do serviço explicam os direitos que a mulher tem na hora do parto?

Loiana Melo – Nosso papel enquanto apoiadores da Rede Cegonha é de disparar esses movimentos dentro das maternidades. Colocar em roda, conversar com os trabalhadores, fazer com que eles compreendam que movimento é esse, quais os benefícios dessas ações para que possamos trabalhar junto também com os gestores e usuários desse serviço.

(En)Cena – Como é que tem sido essa receptividade, essa resposta dos trabalhadores e apoiadores à essa causa?

Loiana Melo – É um trabalho gratificante, mas é difícil porque a gente tem práticas arraigadas há anos. Então estamos trazendo um modelo diferente, onde o foco dessa atenção passa a ser a gestante e a criança que vai nascer. Na medida em que o trabalhador compreende o quanto podemos desenvolver uma estratégia digna e humana, o trabalho flui muito melhor, não só com o foco no usuário, mas com o foco em todo o processo de produção de saúde que é constituído por gestores, por trabalhadores e usuários.

(En)Cena – Mas para isso tem que se quebrar alguns tabus, né?

Loiana Melo – Sim, tem que se quebrar muitos paradigmas. O profissional era, até então, detentor do poder e o usuário era visto como paciente ou alguém que ficava submisso a todas as orientações que eram dadas. E agora a Rede Cegonha vem dizer que a mulher pode dizer como ela quer parir, dizer o que ela quer fazer, dizer quem ela quer que esteja com ela nesse momento tão significativo da sua vida.

(En)Cena – É um passo importante para mulher esse momento. Como isso se dá? 

Loiana Melo – Eu diria que é um passo importante não só para a mulher, mas eu diria que é um passo importante para a família. Porque a gente está ali naquele momento dando de volta um direito que aquela família tem em estar junta nesse momento tão especial, tão significativo, tão marcante na vida da família inteira, não só da mulher.

(En)Cena – Aí, então, quando a gente fala de tirá-la dessa posição de paciente, de estar submissa à essa equipe, você diz que ela tem escolhas, até mesmo de posicionamento na hora de ter o bebê. É mais ou menos por aí?

Loiana Melo – Isso! Ela tem direito de dizer, por exemplo, qual é para ela a posição mais confortável. Não necessariamente precisa ser numa posição verticalizada, embora essa posição seja favorável ao trabalho de parto, mas de dizer qual é a posição em que ela tem mais conforto ou que alivia a dor. Então o foco realmente se volta para isso, para a gestante.

(En)Cena – E em Manaus, como tem sido essa experiência?

Loiana Melo –  É um processo inovador. Esbarramos com algumas resistências. Resistências às vezes muito grandes, mas o papel do apoio é esse, de estar trabalhando para transformar essa resistência e fazer com que a gente possa valorizar o centro desse processo que é a gestante, a sua família e seu acompanhante. E não é que os trabalhadores não sejam importantes, não é isso. Todos são importantes nesse processo, mas a protagonista do parto é a mulher.

(En)Cena –  Tem alguma experiência que você pode trazer para gente? Algumas coisas mais curiosas que você tem acompanhado no dia a dia que podem servir até para outros trabalhadores da saúde?

Loiana Melo – Sim. Nas três maternidades apoiadas pelo Estado, o acolhimento com classificação de risco, que é uma organização desse atendimento na porta de entrada da maternidade, ou seja, antes, as usuárias chegavam na maternidade e eram atendidas por ordem de chegada. Então não era visto o grau de vulnerabilidade e de risco que elas apresentavam. Muitas estavam em melhores condições do que outras e acabavam sendo atendidas primeiro. Com o acolhimento com classificação de risco, essas mulheres são acolhidas e o seu grau de risco é classificado. E nem sempre aquela que chega primeiro é atendida primeiro que as demais e isso é uma estratégia de salvar vidas, porque aquela que chega em piores condições é atendida primeiro, dá-se prioridade à ela. As três Maternidades estão garantindo 100% de escolha do acompanhante, além da escolha da mulher e a gente vem trabalhando em relação às boas práticas, que são mudanças na assistência direta ao parto, como o direito dela (a gestante) de ingerir líquidos, de usar métodos não farmacológicos para alívio da dor, o direito dela deambular [caminhar], de não ter tantos procedimentos invasivos. E algumas maternidades já têm os PPP’s, que são partos privativos que garantem a privacidade dessa mulher nesse momento tão especial e após o parto a gente sente realmente que nesse espaço elas conseguem se sentir à vontade, que elas conseguem estabelecer vínculo com a equipe profissional e a gente consegue atingir o que a Rede Cegonha realmente vem propor, que é uma assistência humanizada, digna e respeitosa a essa mulher.

(En)Cena – Daria para se ter uma ideia da quantidade de partos e cirurgias feitos em Manaus, por exemplo? Ou seja, há mais partos normais ou com procedimentos cirúrgicos?

Loiana Melo – A média do parto cirúrgico hoje está menor do que a do parto normal. No início desse movimento, quando ainda era Plano de Qualificação das Maternidades, que depois virou Rede Cegonha, a gente tinha uma taxa de cesárias girando em torno de 60%. Hoje, temos maternidade que a taxa de cesariana é de 30% e outros que ainda continuam com 40% ou 48%. Mas esse número vem diminuindo à medida em que a gente vem avançando na implementação da Rede Cegonha no estado.

(En)Cena – Você poderia nos dizer qual a vantagem de ter um parto normal ao invés de cesariana?

Loiana Melo – A cesariana deve ser realizada quando há indicação precisa, ou seja, quando não há realmente possibilidade de se fazer um parto natural. E eu digo parto natural porque ele é realmente um processo fisiológico, ou seja, é o corpo da mulher que vai produzir todo esse processo. A intervenção de uma cesariana, no que o Ministério da Saúde vem propondo, é que só seja realizada quando se tem uma indicação precisa. Não por comodismo, como vinha sendo desenvolvido ao longo dos anos por conta de achar que seria interessante para o profissional ou até pela própria mulher, de querer casar [o nascimento do bebê] com uma data importante para ela, ou seja, por várias questões se optava pela cesariana. E até mesmo pelo próprio modelo de assistência com que essas mulheres eram tratadas. Ainda hoje perdura a ideia de que parto normal é sinônimo de dor e de sofrimento. A Rede Cegonha está dizendo que o parto normal é melhor porque é natural, a recuperação da gestante é mais rápida. Ela pode estar ali interagindo com a família, fortalecendo vínculo, tendo contato pele a pele com o seu bebê naquele momento.

(En)Cena – Na verdade, trata-se do resgate dos métodos antigos.

Loiana Melo – Sim. A Rede Cegonha busca trazer isso de volta. A Coordenação Nacional da Saúde da Mulher costuma dizer isso, que a gente está trazendo de volta, que a gente está devolvendo o parto pra quem é de direito, porque esse é um direito da mulher e é isso que a Rede Cegonha propõe.

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