A coragem de ser quem eu sou

Compartilhe este conteúdo:

Por muito tempo me escondi em um casulo

A escuridão parecia uma companhia segura

Deixei minha essência se tornar um segredo

Como se fosse um perigo aos demais

(Eu era ou eu sou?)

 

Como se a verdade deles ditassem a minha

Decidi silenciar cada medo e desejo

Vivi sob a sombra de quem estava ao meu lado

Porém me desconhecia

(Eu errei ou erraram?)

 

Se apenas tivessem a sensibilidade 

A mínima curiosidade

Teriam olhado nos meus olhos

Poderia ter sido descoberta antes de virar um caos

(Isso me salvaria ou me atormentaria?)

 

Antes das mentiras se tornarem insustentáveis

O passado pesar nas costas

E o perdão ser questionável

 

Antes do silêncio se tornar aceitável

Mas o grito sair inevitavelmente 

Ao bater de frente com os meus limites

 

Berrei, libertei um provável monstro

Que vivia em mim

E quando este saiu finalmente percebi

Que não havia monstruosidade e maldade nenhuma

 

Não sou o que eu acreditei

Não sou o que acreditam desde que me desencarcerei 

 

Mesmo assim não soltei todas as amarras

Muitos seguem na negação, atando os nós

Na insistente incompetência de engolir à seco a aceitação

 

Deve ser difícil viver capturado à crenças engessadas

Mais difícil ainda viver na possibilidade de me adequar

Esperando a desordem atenuar

Ponderando cada passo pois alguém criou a teoria 

De que certas coisas não podem ser vistas

 

Eu sei que um dia tudo pode mudar e ser como deveria

Mas e até lá?

Até lá eu me equilibro nessa linha tênue entre improvável e impossível

 

Até lá me contento com o fato de que  devo me resguardar 

Deixar que demonstrações de amor ocorram na escuridão

 

“A impossibilidade está à um beijo de distância da realidade”

Um beijo seria um ato revolucionário ou uma prática catastrófica?

 

Meu corpo inteiro teima em querer descobrir

“No momento certo” eu afirmo e afirmam pra mim…

Compartilhe este conteúdo:

Em “Vivarium” o micro e o macrocósmico se encontram na prisão da família e do casamento

Compartilhe este conteúdo:

Vivarium é um filme simbolicamente ambicioso por tentar criar uma visão cosmológica integrada: macro e micro se encontram naquele subúrbio que mais parece lembrar a cidade cenográfica de Seaheaven do clássico filme gnóstico Show de Truman.

“Para onde foi todo mundo?”, pergunta-se um jovem casal que foi conhecer a casa perfeita para comprar em um subúrbio de classe média. Mas que se veem de repente presos em um misterioso labirinto em loop de casas idênticas, estranhamente hiper-reais, com suas cercas brancas, grama verde e um céu azul com nuvens perfeitas que lembram os quadros surrealistas de René Magritte. Será que estão presos em uma armadilha hiperdimensional? Uma metáfora da prisão do casamento e da família no qual o micro e o macrocósmico se encontram? Esse é o filme “Vivarium” (2019), um curioso híbrido de ficção científica e terror, co-produção belga-irlandesa-dinamarquesa. Um filme ambicioso que pretende explorar um grande arco simbólico que começa com o Paradoxo de Fermi na Cosmologia (“para onde foi todo mundo?”) até chegar as alusões ao pintor Magritte, ao misticismo do número nove e da cor verde que domina aquele subúrbio – a síntese do sonho da classe média americana. Filme sugerido pelo nosso colaborador Felipe Resende.

Primeiro físico a controlar a reação nuclear, Enrico Fermi observou que existia uma contradição entre o crescente conhecimento do Universo e a ausência de contato com qualquer forma de vida existente: com bilhões de outras galáxias lá fora, muitas delas bilhões de anos mais velhas que a nossa, pelo menos uma não poderia já ter entrado em contato conosco?

“Onde está todo mundo?”, indagava o físico. Isso ficou conhecido como “Paradoxo de Fermi”. Agora, imagine um filme que construa um arco simbólico que ligue esse paradoxo com a natureza sufocante do casamento em um típico subúrbio de classe média.

Temos então o filme Vivarium (2019), dirigido e escrito por Lorcan Finnegan, um curioso híbrido de ficção científica e terror – um jovem casal está à procura da casa perfeita para iniciar uma vida a dois. Um excêntrico corretor de imóveis leva o casal para conhecer um lançamento suburbano de um conjunto de casas que mais parece uma obra do pintor surrealista belga Renné Magritte. Essa alusão será importante na compreensão do filme.

Inadvertidamente, o casal se encontrará prisioneiro em um misterioso labirinto de ruas e casas idênticas que sempre parecem se fechar em loop – repentinamente o casal se descobre prisioneiro em alguma dimensão fora do tempo e espaço, na mais típica atmosfera da série clássica Além da Imaginação.

O primeiro mistério: são dezenas e dezenas de sobrados, idênticos a se perder no horizonte. Porém, todos vazios e trancados. Aparentemente, só eles ocupam uma casa (a número nove, outra alusão simbólica). Sob um perfeito céu azul ensolarado, salpicado de nuvens ao estilo das obras de Magritte. E nunca chove. Só eles parecem ocupar aquele vasto condomínio de labirintos infinitos. Onde está todo mundo?

Também parece que aquela imensa estrutura foi criada especialmente para eles. Condenados a criar um bebê que surge do nada e viver todos os tropos e clichês da típica vida conjugal de classe média numa atmosfera claustrofóbica e sombria. Contraditoriamente, num cenário perfeito. Hiperrealisticamente perfeito em um subúrbio moderno pré-fabricado em dry wall.

  A casa dos sonhos pode ser uma armadilha. A vida conjugal perfeita pode ser a prisão de uma rotina entediante e opressiva.

Como veremos, Vivarium é um filme simbolicamente ambicioso por tentar criar uma visão cosmológica integrada: macro e micro se encontram naquele subúrbio que mais parece lembrar a cidade cenográfica de Seaheaven do clássico filme gnóstico Show de Truman.

Assim como o Paradoxo de Fermi seria uma das evidências de que o Universo seria uma gigantesca simulação computacional para aprisionar a humanidade, da mesma forma a sociedade e, principalmente, sua célula central (a família e o modelo único de vida conjugal) seria um constructo de realidade para nos manter contidos e operacionais em um sistema.

Quem criou tudo isso? Quem nos observa, atentos em nos manter vivos dentro desse horizonte de eventos que chamamos de realidade? Esse é o mistério que permeia Virarium e aguça a curiosidade do espectador.

Fonte: encurtador.com.br/yGNOZ

O Filme

O tema central de Vivarium é o típico subúrbio de classe média, símbolo do sonho americano de conformismo e alienação por trás de cercas brancas e gramados bem cuidados. Filmes como Blue Velvet, de David Lynch (uma orelha cortada achada no gramado é a ponta de um submundo muito além da normalidade) e Beleza Americana, de Sam Mendes (a descoberta do erotismo libertador para além da mediocridade cotidiana) são exemplos de narrativas de como necessidade s humanas podem ser suprimidas em relacionamentos coagulados.

Vivarium vai mais uma vez revisitar esse tema acompanhando o casal Tom (Jesse Eisenberg) e Gemma (Imogen Poots). Um casal comum: ela trabalha como professora em uma escola infantil – ama seu trabalho e ama crianças. Tom é um jardineiro que dirige para o seu trabalho, carregando suas ferramentas, no VW da mãe, embora planeje comprar um caminhão adequado.

Para eles, a vida e o trabalho ainda são divertidos nessa fase – nada ainda parece que foi oprimido pelo realismo das obrigações.

Até que um dia, depois da aula, Gemma encontra uma garotinha da sua turma muito triste: encontrou na grama um filhote de passarinho morto – parece que foi desalojado de seu ninho por um cuco predador (cuja ação predadora cruel vimos nos créditos iniciais). Esse início parece querer nos mostrar estranhos presságios para o que veremos adiante.

Fonte: encurtador.com.br/bBRTW

Pensando em morarem juntos para iniciar uma nova vida, eles encontram num estande de vendas um estranho agente imobiliário que os convence a visitar um lançamento chamado Yonder.

Chegando lá, vemos que Finnegan cria uma paisagem obviamente digitalizada de casas quadradas e idênticas pintadas de verde, criando uma pura hiper-realidade desorientadora. Visitando uma casa mobiliada, percebem que o corretor desapareceu… Bom, então vamos embora!, decidem.

Só que eles não conseguem mais encontrar a saída daquele labirinto de casas idênticas. Tom roda com o seu VW até a noite cair e a gasolina acabar. Eles apenas andaram em círculos, sempre parando em frente a casa número 9, na qual parecem terem sido condenados a morar para sempre.

Estranhas caixas de papelão surgem diariamente do nada na porta da casa, com alimentos congelados ou acondicionados à vácuo.

Até que um dia, chega mais uma caixa de papelão… dessa vez com um bebê com um bilhete: “Cuidem dele, para depois liberá-lo”.

A partir desse ponto, a dinâmica de Tom e Gemma naquela casa, cuidando do bebê, começa a assumir todas as situações e clichês do casamento: ela, cuidando do “pequeno mutante” (uma criança que cresce mais rapidamente do que o normal, tenta imitar as palavras e comportamentos dos “pais” e dá um grito ensurdecedor quando está com fome e reivindica comida) e Tom cavando obsessivamente um buraco no jardim para tentar encontrar uma saída daquele mundo.

Fonte: encurtador.com.br/cBCE0

Quando o micro e o macrocósmico se encontram – Alerta de spoilers à frente

É a metáfora da vida conjugal e das reponsabilidades da classe média: ela ocupada com o “filho” e ele no seu “trabalho” diário. Cavando, cada vez mais ansioso, estressado, desenvolvendo um comportamento obsessivo-compulsivo, enquanto vai desenvolvendo um problema respiratório “ocupacional”. É a própria condição profissional-existencial de muita gente insatisfeita e infeliz num emprego apenas para dar a segurança familiar da subsistência.

Literalmente cavará a própria sepultura para depois o garoto, agora adulto, falar para a “mãe” à beira da morte: “esse é o papel da mãe… cuidar do filho para o mundo, até liberá-lo”.

É a própria metáfora da “síndrome do ninho vazio” – depois que os filhos crescem e vão embora, simbolicamente os pais morrem.

A narrativa de Vivarium fundamenta-se em três simbolismos para fazer essa convergência gnóstica entre o micro e o macrocósmico: as sucessivas alusões ao surrealista René Magritte, a cor verde e o número 9.

As estranhas nuvens que emolduram a paisagem hiper-real (“elas não têm forma de nada, apenas de nuvens”, diz a certa altura Gemma) são uma óbvia referência à série de pinturas de Magritte chamada “Império das Luzes” (1947-1965). Magritte foi o mestre dos paradoxos visuais – embora o cotidiano possa dar a impressão de normalidade, existem anomalias em toda parte: uma esquisitice terrena que está por trás do dia-a-dia, e que deveria ser revelado pelo surrealismo.

Fonte: encurtador.com.br/GLN37

Esse é o propósito de Finnegan: o estranho lugar que Tom e Gemma ficaram prisioneiros por algum propósito inescrutável de um demiurgo alienígena, apenas revela o absurdo das relações conjugais institucionalizada pela ordem familiar que congelam e suprimem as necessidades humanas.

Ao lado do azul daquele céu surrealista, a cor verde é onipresente: gramados paredes das casas e ambiente. O verde está associado a algo quintessencial, a uma transmutação química que pode resultar tanto na vida quanto no envenenamento: de um lado a fotossíntese, ar e natureza; e do outro, processos tóxicos e veneno. Subúrbios de classe média são ambientes tóxicos e sufocantes.

E o número 9. Desde a música “Revolution 9” dos Beatles, esse número está associado na cultura pop a “loops” (da mesma forma como a música dos Beatles foi construída na engenharia de som), passando pelo filme Número 9 (The Nines, 2007) ou a animação 9 – A Salvação (2009).

Pela simbologia mística, o número 9 representa finais de ciclos – é o número de meses da gestação, por isso carregando o simbolismo do esforço e sinalizando o fim de um processo. Representa a jornada completa: seu início e término. Assim que termina, tem-se um novo início a partir do número 1.

Assim como o loop representado pelo final do filme no qual o garoto que cresceu compulsoriamente criado por Tom e Gemma assume o lugar do velho corretor de imóveis. Para levar mais jovens casais para a armadilha cósmica do subúrbio Yonder.

Aquele lugar que será a sua última casa, assim como o seu casamento, a família e o emprego.

FICHA TÉCNICA:

VIVARIUM

Direção: Lorcan Finnegan

Elenco: Imogen Poots, Jesse Eisenberg, Senan Jennings, Eanna Hardwicke

Ano: 2019

País: Bélgica, Dinamarca, Irlanda

Gênero: Ficção Científica/Mistério

Compartilhe este conteúdo:

“Semana surpresa” gera curiosidade entre alunos de psicologia

Compartilhe este conteúdo:

A surpresa ocorrerá entre os dias 5 e 10 de novembro

Com a semana de volta às aulas iniciada na segunda-feira (23) no Ceulp/Ulbra, os alunos do curso de Psicologia foram surpreendidos durante as apresentações das disciplinas ao ver que nas planilhas de conteúdos os dias 5 a 10 de novembro estão reservados para uma “semana surpresa” envolvendo todo o corpo discente do curso.  Os professores e a coordenação ainda não divulgaram nenhuma informação aos alunos sobre a programação para a semana.

O suspense em torno da semana gerou curiosidade entre os estudantes. Para a acadêmica Alessandra Araújo, “o curso de psicologia do Ceulp já é inovador em muitos aspectos e a coordenação tem ótimas idéias, mas uma semana surpresa com certeza gera muita curiosidade. Acredito que uma mudança na rotina é sempre muito bem vinda, vamos aguardar ansiosos”, pontua.

Fonte: https://bit.ly/2mUhek6

O curso de Psicologia do Ceulp/Ulbra tem como concepção a formação generalista do psicólogo fundamentada na integração de diversos conhecimentos teórico-metodológicos do campo psicológico. O curso tem como diferencial um quadro de professores capacitados engajados em ações de Pesquisa e Extensão, além das atividades de Ensino, prioridade para a interlocução teoria e prática desde o primeiro período com as vivências dos Estágios Básicos.

Compartilhe este conteúdo:

Surreal

Compartilhe este conteúdo:

O surrealismo brinca com a imaginação de quem observa, o mistério, curiosidade ou até mesmo a excentricidade é o que me deixa fascinado. Os meus desenhos não possuem títulos, o que os deixam bem subjetivos, para que qualquer um atribua ou tente decifrar algum significado ou mensagem que possa ou não estar contido neles.

[awesome-gallery id=25785]

Compartilhe este conteúdo:

Projeto Flórida: o mundo mágico da infância

Compartilhe este conteúdo:

Concorre com 1 indicação ao Oscar:

Melhor ator coadjuvante (Willem Dafoe)

Verdadeiro e de partir o coração” foi como o crítico Tim Grierson definiu a mais nova obra do ousado Sean Baker, diretor de Tangerine, este conhecido por ter sido produzido em um aparelho celular. Agora, com mais recursos, Baker volta com Projeto Flórida, simples, mas cheio de detalhes que se complementam e prendem o espectador na trama, que com sua sequência cotidiana, denota um aspecto quase documental ao filme.

Situado na cidade de Orlando, na Flórida, o hotel Magic Castle é o pano de fundo principal do filme. Próximo ao parque Disney World, o hotel (barato) foi praticamente transformado em um conjunto habitacional por pessoas que não têm as melhores condições financeiras. Isso ocorre a contragosto do gerente Bobby (Willem Dafoe), que deseja alavancar seu negócio, mas também se mostra um homem compassivo e generoso com todos no estabelecimento, transmitindo um clima de vida em comunidade.

Fonte: https://goo.gl/RyBJny

Nesse ambiente (que Baker faz questão de atenuar cada detalhe, principalmente as cores vibrantes do hotel) logo nos deparamos com a sapeca Moonee (Brooklynn Prince), uma garotinha de seis anos que, junto de seus amigos Scooty (Christopher Rivera) e Jancey (Valeria Cotto) faz traquinagens deliberadamente pelo hotel, pelas ruas, pela sorveteria e em outro hotel abandonado (que de alguma forma acaba sendo incendiado…).

Ao conhecermos a mãe de Moonee, a jovem Halley (Bria Vinaite) logo percebemos que somente amor e carinho não são suficientes para uma boa educação de uma criança. Sem emprego e sem perspectivas para o futuro, Halley trata Moonee como irmã, sem impor limites em suas travessuras, o que certamente reflete na personalidade e atitudes da garota, que faz coisas como colocar um peixe morto na piscina e desligar o registro de energia do hotel só para ver o que acontece, tal como agir com certa petulância e desrespeito com as pessoas ao seu redor.

Fonte: https://goo.gl/2ky24q

Entretanto, essa liberdade e essa curiosidade de Moonee demonstram um aspecto inocente que encontramos apenas na infância, que fazem das crianças “pequenos cientistas” no intento de descobrir o que o mundo tem a oferecer. Jostein Gaarder, em seu livro “O mundo de Sofia” (1995), diz que para nos tornarmos bons filósofos precisamos unicamente da capacidade de nos surpreender, e atribui essa capacidade às crianças. A pequena Moonee representa muito bem esse trecho, sendo capaz de transformar coisas que geralmente passam despercebidas aos olhos de adultos em grandes acontecimentos por meio da imaginação, inclusive influenciando sua amiga Jancey a buscar o novo e o desconhecido.

Segundo Girardello (2011), a imaginação é para a criança um espaço de liberdade e de decolagem em direção ao possível, quer realizável ou não. A imaginação da criança move-se junto — comove-se — com o novo que ela vê por todo o lado no mundo. Sensível ao novo, a imaginação é também uma dimensão em que a criança vislumbra coisas novas, pressente ou esboça futuros possíveis.

Fonte: https://goo.gl/3MjuFs

Com isso, percebemos a importância em se preservar esse aspecto da infância. No que tange à situação de Moonee, a imaginação, a inocência e a curiosidade de sua tenra idade parecem lhe conferir um arsenal de defesas para as coisas “adultificadas” demais, como os problemas financeiros, a falta de moradia fixa e o desemprego da mãe, que para conseguir o mínimo de dinheiro, finda-se por se prostituir em seu quarto no Magic Castle, o que leva a assistência social a visita-las a fim de levar Moonee para novas e melhores condições.

Em um ímpeto de desespero, Moonee se desvencilha da assistência social e foge para a casa de Jancey, dando início a uma das cenas mais marcantes do filme, na qual Moonee apenas chora na frente de sua amiga (a pequena atriz foi brilhante e muito autêntica) e essa entende que ambas precisam fugir. E fogem para onde? Para Disney World, o mundo da magia.

Fonte: https://goo.gl/nNbpjL

Baker genialmente finaliza o filme dessa forma, com as duas crianças correndo em direção ao parque mais representativo da infância, o que pode levar o espectador a ter vários insights, mas, principalmente, entender ou até mesmo se lembrar da própria infância, período em que coisas simples são incríveis, em que o impossível não existe e em que correr para um mundo de magia e/ou imaginação é a solução para tudo.

FICHA TÉCNICA

PROJETO FLÓRIDA

Diretor: Sean Baker
Elenco: Brooklynn Prince, Willem Dafoe, Bria Vinaite
Gênero: Drama
Ano: 2018

Referências:

GAARDER, Jostein. O Mundo de Sofia. São Paulo; Cia. Das Letras, 1995. GILES, Thomas Ransom.

GIRARDELLO, Gilka. Imaginação: arte e ciência na infância. Pro-Posições, Campinas, v. 22, n. 2 (65), p. 75-92, maio/ago. 2011.

Compartilhe este conteúdo:

Habemus Papam

Compartilhe este conteúdo:

Nesta terça-feira, 12 de março de 2013, reúnem-se vários candidatos, de diferentes etnias, oriundos dos mais variados países, porém professando somente uma crença, ao menos em tese. Ficarão todos encerrados em um mesmo ambiente, sem acesso à comunicação com o mundo externo. Não poderão ler jornais, nem revistas, muito menos acessar a internet. Inclusive, seus celulares serão confiscados e até uma barreira eletrônica será criada para evitar que possíveis bits escapem para fora. Sim, pois neste Big Brother eclesiástico não só os encarcerados não terão acesso ao que acontece do lado de fora, como também nós, simples e mundanos mortais, não poderemos dar aquela espiadinha. E é assim que se dá início a mais um conclave que elegerá o 226º Sumo Pontífice e sucessor de Pedro, conforme afirma a Igreja Católica Apostólica Romana.

Claro que uma espiadinha até que seria interessante, pois, independente da fé que professemos, estamos todos curiosos para saber o que acontece lá, enquanto não sai a tal fumacinha que indicará se a eleição resultou em uma indicação para o paredão ou não. Tal curiosidade advém do nosso interesse pelas cerimônias, vide a especial predileção por todo o aspecto formal ligado ao casamento que, por mais antiquado que aparente ser para alguns, sempre atrai olhares e atenção dada a pompa e circunstância, ficando no exemplo mais cliché.

Essa curiosidade, obviamente, tende a aumentar quando nos atiçam a curiosidade dizendo que alguma cerimônia é secreta e misteriosa, a maçonaria que o diga. Não seria diferente em um momento em que 115 cardeais, todos eleitores e também papas em potencial, estão fechados a chave (cum clave, no latim) na Capela Sistina, até que um novo papa seja escolhido.

Não são somente os mais de 1,2 bilhões de católicos que estão atentos ao que acontece em segredo na Capela Sistina. A eleição de um novo papa acaba por afetar, de alguma forma, milhões de pessoas mundo afora, mesmo os não católicos.

Seja por viverem em países teocráticos e que, por isso, tendem a uma relação mais próxima ou mais tumultuada, mas nunca totalmente isenta, com o representante maior da Igreja Católica; seja por serem de religiões que advieram do processo de reforma e que, por isso, tendem a observar com atenção o que pensa o novo chefe do catolicismo sobre muitos dos dogmas por eles combatidos; seja por serem agnósticos ou ateus e estarem curiosos para saber até onde suas opiniões podem ficar mais ou menos próximas daquelas expostas pelo novo papa; enfim, são muitos os motivos que levam a todos a participar como espectadores atentos ao processo de escolha de um papa.

E quando existe a possibilidade de ser escolhido um papa brasileiro, nossa pátria de chuteiras não se deixa esmorecer e parte para a torcida organizada. Não duvidemos se aparecer lá na Praça de São Pedro um seminarista brazuca vestido com a camiseta da seleção canarinho. Até porque, sendo o Brasil o país com o maior número de católicos do mundo, já estaria mais do que na hora de ser eleito um papa do país abençoado por Deus e bonito por natureza, mas que beleza. O porém talvez seja porque em fevereiro (em fevereiro) tem carnaval (tem carnaval) e daí a surgir um papa com um fusca e um violão, que seja flamengo e que tenha uma nêga chamada Tereza são dois pulinhos. Em tempo de vatileaks, melhor deixar quieto.

Este conclave, apesar dos inúmeros pontos que atraem as vistas dadas algumas novidades (pelo menos na contemporaneidade), como a renúncia do Papa Bento XVI e a sua permanência como papa emérito, traz em si ainda muito do que foi instituído lá em 1274, quando o Papa Gregório X criou as bases dos conclaves atuais. Especialmente a ideia de encerrar os cardeais a pão e água (tudo bem, isso foi modificado com o tempo) para que não houvesse muita demora para a escolha do novo Sumo Pontífice, tempo em que a cadeira de São Pedro fica vazia e a Igreja Católica intitula-se como Sé Vacante (Trono Vazio, no latim).


Com algumas alterações em detalhes de sua execução, tem-se o atual conclave acontecendo com a participação de 115 cardeais eleitores, todos com menos de 80 anos, condição para eleger e também para ser eleito papa. A partir desta terça ocorrerão eleições diárias, em uma média de duas pela manhã e duas durante a tarde, entremeadas por orações e, por que não dizer, por muitas conversas de bastidores que buscam influenciar na escolha deste ou daquele nome (não obstante dizer que, segundo a Igreja Católica, o Espírito Santo guia as ações de cada cardeal).

Em cada votação os cardeais escrevem sua opção de nome em um papel retangular branco que tem escrito na parte superior Eligo in summum pontificem (elejo como Sumo Pontífice). Deve-se escrever com caligrafia clara, em letras maiúsculas, e de tal forma que não seja possível reconhecer quem a escreveu.

Ao fim de cada votação, os votos são lidos em voz alta, registrados e contados, costurados um ao outro e, caso não alcancem dois terços dos votos, são queimados junto a palha molhada, para que saia pela chaminé uma fumaça preta, indicando que não se chegou ao nome do novo papa. No caso de um nome alcançar os dois terços exigidos, o cardeal decano (o mais ancião dos cardeais) pergunta ao cardeal indicado se este aceita tal responsabilidade: Acceptasne electionem de te canonice factam in Suumum Pontificem? (Aceitas a tua eleição canónica como Sumo Pontífice?).

O cardeal que, tendo recebido os dois terços dos votos, aceitar tal cargo, terá perante si um grande número de desafios para manter viva a Igreja Católica em tempos modernos, como as discussões sobre os abusos sexuais cometidos por membros do clero, o celibato, o divórcio, o sacerdócio de mulheres, a relação com a sexualidade. É claro que, ao se considerar uma instituição com dois mil anos de existência, todos os tempos serão tempos modernos e desafios existirão sempre. Também não se deve imaginar que o tempo de um papado seria o suficiente para se deixar morrer tal instituição. Entretanto, é justamente neste tempo, de um papado, que é dado início aos movimentos que definirão os rumos da Igreja Católica para os próximos anos, décadas, séculos. E, semelhante a um enorme navio, qualquer mudança de rumo não se dá de forma brusca e sim necessita de pequenos movimentos que, coordenados, darão o norte do que se pretende para muito tempo depois. Talvez seja esse o grande desafio do futuro papa: mexer hoje as peças que serão parte do jogo dos próximos anos.

Tendo o cardeal aceitado jogar este jogo, ou seja, sendo a resposta afirmativa, é perguntado o nome pelo qual deseja ser chamado, sendo seguido pelo ato de obediência, quando cada cardeal se prostra perante o papa eleito e beija-lhe o pé direito. Os votos são então queimados sem a palha molhada, para que pela chaminé saia a fumaça branca que indica a eleição de um novo pontífice. Minutos depois, na varanda da Basílica de São Pedro, é anunciada a boa nova: Habemus Papam!


PS. Como os últimos conclaves duraram de dois a cinco dias, possivelmente, ao ler este texto, você já tenha em mãos o nome do novo papa. Esta informação será atualizada aqui para informação geral com o risco de, sendo este papa brasileiro, suprimirmos um determinado parágrafo do texto para evitarmos eventual excomunhão de seu autor.

Sugestão de livro:

As Sandálias do Pescador, livro de Morris West, publicado em 1963, que se tornou filme em 1968. Este livro conta a história da eleição de um papa originário de um país do leste europeu (a Europa comunista) cujo papado mexeria com as estruturas de Igreja Católica e alteraria a ordem política mundial. Só para constar, Karol Józef Wojtyla, cardeal polonês, foi eleito papa em outubro de 1978, quando passou a ser chamado de Papa João Paulo II.

Sugestão de filme:

Habemus Papam, comédia leve italiana de 2011 que conta a história de um cardeal que, eleito papa, fica em pânico diante da possibilidade de assumir o comando da Igreja, se recusa a apresentar-se aos fiéis e acaba enfrentando uma sessão de terapia com um profissional declaradamente ateu.

Compartilhe este conteúdo: