Está ocorrendo a 21° edição do Big Brother Brasil (BBB), a versão brasileira do reality show Big Brother (nome e ideia inspirada no livro ‘1984’ de George Orwell) que consiste em confinar um número X de participantes em uma casa vigiada 24h por dia, na qual a única comunicação com o meio externo é o ‘’Big Brother’’ que seria o apresentador do programa que instrui os participantes, e durante 3 meses ocorrem diversos desafios e provas, nos quais semanalmente através dos paredões, elimina-se um participante, até que no final tenha o grande finalista (esse que atualmente ganha o prêmio de 1,5 milhão de reais).
A edição desse ano é a primeira que apresenta o maior número de pessoas negras, além de ter aberto muitos debates a respeito de raça, gênero, dentre as pautas sociais, e já na primeira semana de reality ocorreram desentendimentos entre os participantes, que levantaram temas e comportamentos para muito além do jogo que acontece dentro da casa. Toda a comoção interna e externa gerada pela casa mais vigiada e famosa do Brasil, trouxe-me diversos questionamentos e pensamentos que irei expor aqui, não tenho como foco tomar partido de nenhum participante.
encurtador.com.br/djCNZ
A começar pela ideia gerada na internet de enxergar a terapia como método calmante dos ânimos da pessoa ou a terapia como solução para os problemas da vida do indivíduo, duas concepções extremamente equivocadas, rasas e elitistas. Ocorre uma fetichização da terapia, na qual ela é vista como um mecanismo de tornar as pessoas agradáveis, domesticar e padronizar os sujeitos, como se através dela fosse possível (e necessário) alcançar uma regulação de comportamentos.
Alimentar a ideia de que a tristeza, choro, raiva (em situações diversas) é sinal de que se precisa urgentemente buscar um consultório psicológico, fomenta a visão individualista tanto de que a clínica é o único lugar existente para se lidar com essas emoções ‘adversas’ quanto se exclui todo o contexto sócio-histórico que se deve levar em conta, visto que em muitas situações se precisa garantir os direitos básicos humanos antes de pensar de maneira clínica.
encurtador.com.br/nsxNR
Outro ponto muito debatido, principalmente em redes sociais como o Twitter e Instagram, é sobre a militância e a cultura do cancelamento. Primeiro gostaria de fazer uma breve explicação sobre os termos: militância vem do latim ‘’militar’’ que significa servir como soldado, no sentido de combate, lutar por algo ativamente buscando uma transformação; a cultura do cancelamento é um termo criado pelos próprios usuários da internet que se remete à quando alguma pessoa comete algum erro (e esse é levado a público), e um grupo de pessoas não permite que o acusado se retrate ou que se defenda, impingindo-lhe xingamentos, linchamento ou exclusão dos ambientes.
É notável que nesse BBB está ocorrendo uma mistura/confusão entre essas duas posturas, chegando a níveis que ferem a saúde física e mental dos participantes. Há uma cobrança pelo processo de desconstrução, valendo ressaltar que esse é gradual e singular para cada pessoa, destruir um padrão e reconstituí-lo/ressignificá-lo pode ocorrer através tanto da vivência quanto pelo estudo, sendo também de suma importância trazer o lugar de fala nesse debate, uma vez que esse carrega em sua essência a consciência do papel dos sujeitos nas lutas, podendo ser de protagonista ou coadjuvante na discussão, mas deixando aberto o espaço para que diversas vozes sejam ouvidas; porém quando o debate e postura não sai do academicismo pode acabar banalizando/invalidando a experiência do outro, distanciando cada vez mais as pessoas da efetiva desconstrução.
Com isso, cria-se um cenário contraditório no qual de um lado há toda uma luta por direitos que respeitem a diversidade e resguardem a saúde mental e física dos indivíduos, porém, por outro há uma reprodução de violências e opressões dentro do ambiente que deveria ser de acolhimento e escuta, que por vezes dentro do próprio BBB, diz ser em nome de uma militância (atitude que acaba por banalizar o termo, tirando-o do seu real significado), assim eu questiono: que batalha em nome de uma justiça e garantia de direitos, oprime, intimida e retalia uma pessoa?
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Em parceria com Djamila Ribeiro, Boticário lança série “Como ser antirracista”
24 de novembro de 2020 Precisa Assessoria e Comunicação
Mural
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Iniciativa quer contribuir com reflexões sobre equidade racial e ampliar o acesso sobre o tema para a audiência. Durante quatro episódios, a filósofa e escritora fala sobre práticas e ferramentas para um mundo melhor, com mais respeito e empatia. A exibição será no programa Trace Trends, Rede TV!, e redes sociais da marca
Em parceria com a filósofa e escritora Djamila Ribeiro, o Boticário lança a série: “Como ser antirracista”. Em quatro diferentes episódios – de 5 a 7 minutos cada –, Djamila fala sobre práticas antirracistas para um mundo melhor. Autores negros reconhecidos são citados como referência no programa cocriado pela AlmapBBDO e pela Trace. Também responsável pela produção da série, a plataforma multimídia utiliza o entretenimento afro-urbano para conectar e capacitar a nova geração.
“Racismo Estrutural e Luta Antirracista”; “Branquitude e Privilégios”; “Subjetividades Negras” e “Feminismos e Masculinidades Negras” são os temas dos episódios. O projeto dá continuidade ao movimento pela equidade racial que a marca trouxe em 2020, em que aborda a temática na campanha de Natal, além de outras frentes como o apoio a representatividade racial como a apresentação do Prêmio Sim à Igualdade Racial, promovido pelo Instituto Identidades do Brasil (ID_BR) em outubro.
Há também iniciativas de sensibilização e treinamentos com colaboradores, e a conexão e cocriação de conteúdos com vozes relevantes como o ator Lázaro Ramos e influenciadores como Tia Má, Nathy Finanças, Família Quilombo e Ad Junior, entre outros.“Temos uma estratégia robusta em diversidade e vamos continuar firmes nessa construção, sabendo que ainda temos grandes desafios pela frente. Como a marca de beleza mais amada do Brasil* compreendemos que nosso papel é estimular e valorizar cada vez mais a pluralidade de pessoas”, comenta Alexandre Bouza, Head do Boticário.
“Como ser antirracista” estreia no dia 24, durante o programa Trace Trends, às 22h30, na RedeTV!. A cada terça-feira um episódio inédito será exibido no canal, além de disponibilizado também nas redes sociais da marca.
Fonte: Arquivo Pessoal
Os episódios e temas
No primeiro episódio, Djamila discute a existência de uma sociedade estruturada sobre um sistema racializado e racista, a qual todos nós fazemos parte. Cita, por exemplo, a diferença entre preconceito e racismo: “Preconceito é um julgamento antecipado, que não tem nenhuma razão ou justificativa. Racismo é um sistema de opressão, que nega direitos”, explica. Fala ainda sobre outros pontos como racismo individual, institucional e estrutural. E decorre sobre o tema ao citar Carolina Maria de Jesus, em seu livro “Quarto do Desejo”: “a desigualdade social no Brasil tem cor e método, atingindo principalmente a população negra”.
Já no episódio 2, “Branquitude e Privilégios”, Djamila comenta sobre as classes sociais perpetuadas sob uma sociedade racista e escravocrata, na qual quem é branco tem privilégios em relação às outras pessoas. “Não dá para avançar na luta e ação antirracista sem que as pessoas brancas reconheçam e desnaturalizem seus privilégios. E isso só é possível quando investigamos a origem social das desigualdades”, diz Djamila.
“Subjetividades Negras”, por sua vez, é o tema do penúltimo episódio desta série, e o destaque fica sobre a necessidade de cada um acabar com o opressor que existe dentro de si, conforme detalha Djamila. “No Brasil, que tem mais de 50% da sua população formada por afrodescendentes, a ausência ou pouca presença de pessoa negras em espaços de poder não costuma causar incômodo ou surpresa em pessoas brancas. A mesma coisa vale pra ausência de clientes negros em restaurantes, shoppings, aviões”, pontua a filósofa e escritora. “Pessoas negras têm capacidade para se destacarem em todas as áreas, não apenas como atletas ou artistas, numa lógica que reduz a potencialidade negra apenas ao talento ou a uma aptidão natural. É preciso romper com a estratégia do negro único. Para além de representatividade, a questão é de proporcionalidade. Quantas pessoas negras fazem parte do seu círculo pessoal? E do círculo profissional?”, questiona.
Fonte: encurtador.com.br/gpHY8
Djamila cita ainda a pensadora feminista negra Audre Lorde, ao dizer que “é necessário matar o opressor que há em nós, e isso não é feito apenas se dizendo antirracista: é preciso fazer cobranças. É preciso buscar conhecimento, aprofundar o debate. Consumir autores e influenciadores negros. Desconfiar de ambientes em que a ausência de pessoas negras não é questionada. Reconhecer a diversidade de pensamentos e histórias dentro da comunidade negra brasileira”.
No quarto e último episódio da série, “Feminismos e Masculinidades Negras”, Djamila reforça que a própria pauta feminina precisa se questionar sobre quem são as mulheres incluídas na sua luta. Destaca trechos do livro “Pele Negra, Máscaras Brancas’, de Frantz Fanon: “a gente não precisa ser igual e se engajar numa luta só. A gente precisa interligar todas as nossas lutas e ter mais diálogos”. Djamila finaliza com uma pergunta para todos nós: “De que forma, juntos, sem ignorar nossas diferenças, conseguimos pensar um projeto mais amplo para um mundo melhor?”
“Essa é uma série que tem muito a ensinar a todos nós. Um conteúdo rico, que contribui para a construção de uma sociedade melhor. E tem tudo a ver com a estratégia de comunicação do Boticário, que há muito tempo traz para a discussão temas relevantes para a sociedade, como a importância do combate ao racismo. Seja através de conteúdos como desta série, adotando o assunto como temas de suas campanhas ou mesmo trazendo a diversidade dos atores, diretores de cena, fotógrafos e equipes de produção em suas peças de comunicação ao longo do ano”, diz Camilla Massari, VP de atendimento da AlmapBBDO.
#OndeTemAmorTemBeleza #QueVocêSejaTudoQueDesejar
Fonte: encurtador.com.br/osQV4
Sobre Djamila Ribeiro
Djamila Ribeiro é mestra em Filosofia Política pela Universidade Federal de São Paulo. É coordenadora do Selo Sueli Carneiro e da Coleção Feminismos Plurais. É autora dos livros “Lugar de Fala” (Selo Sueli Carneiro/Pólen Livros), “Quem tem medo do Feminismo Negro?” e “Pequeno manual antirracista” (ambos pela Companhia das Letras). É também professora convidada do departamento de jornalismo da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Colunista do jornal Folha de S. Paulo e da revista ELLE Brasil, esteve secretária adjunta de Direitos Humanos de São Paulo em 2016. Foi laureada pelo Prêmio Prince Claus de 2019, concedido pelo Reino dos Países Baixos e considerada pela BBC como uma das 100 mulheres mais influentes do mundo.
Sobre O Boticário
O Boticário é uma empresa brasileira de cosméticos, unidade de negócios do Grupo Boticário. A marca de beleza mais amada e preferida dos brasileiros* foi inaugurada em 1977, em Curitiba (Paraná), e tem hoje a maior rede franqueada de cosméticos do país; com mais de 3.700 pontos de venda, em 1.750 cidades brasileiras, e mais de 900 franqueados. Presente em 15 países, há mais de 40 anos desenvolve produtos com tecnologia, qualidade e sofisticação – seu portfólio tem mais de 850 itens de perfumaria, maquiagem e cuidados pessoais. Eleita a marca mais lembrada em Diversidade e Inclusão** e comprometida com a beleza das pessoas e do planeta, o Boticário não realiza testes em animais e investe na melhoria contínua de produtos e processos, para torná-los cada vez mais sustentáveis.
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Jeremias da Turma da Mônica: reflexões sobre a negritude representada nas histórias em quadrinhos brasileira
Ao longo dos anos, com a intensificação das discussões sobre o racismo, diversos âmbitos da sociedade passaram a sofrer lentas modificações para contemplar as narrativas vinculadas à negritude. Nesse processo, o conceito de representatividade ganhou força, denotando a necessidade de que pessoas negras fossem incluídas em espaços de trabalho, cultura, lazer, mídia etc.
Essa demanda impulsionou, no âmbito do entretenimento, a criação de filmes, seriados e personagens voltados às raízes étnicas, culturais e religiosas da população negra. Isso, inevitavelmente, refletiu no processo criativo da série de histórias em quadrinhos Turma da Mônica, de Mauricio de Sousa, que, em 2017, introduziu uma personagem negra chamada Milena, que viria a assumir em algumas histórias o papel de protagonista.
Entretanto, apesar de ser recorrentemente referida como a primeira personagem negra da turma, há um outro, criado e desenvolvido por Maurício de Sousa antes mesmo dos protagonistas da turminha (Mônica, Cebolinha, Cascão e Magali). Trata-se de Jeremias, personagem inicialmente introduzido no ano de 1960, antes da própria criação da Turma da Mônica como hoje é conhecida.
Fonte: encurtador.com.br/sFI56
De acordo com Agostinho (2017), as primeiras aparições do personagem datam dos anos 1960. Seu papel nas histórias era quase sempre de coadjuvante, e, ao longo dos anos, passou a ocupar o espaço de figurante. A caracterização inicial de Jeremias era feita com tinta nanquim, quando as histórias ainda eram impressas em preto e branco. Posteriormente, após a década de 1970, com a criação da Turma da Mônica e o advento da impressão colorida, o personagem seguia sendo retratado com a coloração em nanquim, o que, nas palavras do autor, configura o fenômeno do blackface, que expressa a exageração dos traços negros com o intuito de estereotipar ou até mesmo, de modo velado ou não, ridicularizá-los.
Ao longo de sua trajetória como personagem, Jeremias nunca havia apresentado uma identidade sólida. Suas aparições pareciam atender à necessidade de incluir um personagem negro na história, e comumente, em diferentes histórias, o personagem era retratado de diferentes formas, variando suas características e comportamentos, o que denotava a ausência de uma personalidade construída.
Fonte: encurtador.com.br/gV135
Em uma história publicada em 1987, chamada Jeremim em O Príncipe que Veio da África, o personagem teve seu primeiro momento de protagonismo. A narrativa gira em torno do contexto histórico da escravidão, e posiciona o personagem como um príncipe africano levado para trabalhar como escravo. É um dos primeiros momentos da Turma da Mônica se apresentando como um veículo impactado pelos movimentos antirracistas, e nesse ponto, Jeremias era representado alternadamente com a cor nanquim ou em marrom, num movimento de ajuste do processo criativo das histórias, rumando às alterações suscitadas pela discussão racial.
Ao final da década de 1980, o tom de pele de Jeremias passou a ser retratado apenas na cor marrom, sem alternâncias com o nanquim, e assim permaneceu até hoje. Apesar de nítidas evoluções na caracterização e utilização do personagem nas histórias, Jeremias seguiu sendo ignorado em muitos contextos, e utilizado em outros em que precisava-se de um personagem negro. Em 2009, uma historinha chegou a retratá-lo como presidente do clubinho da turma, aludindo ao contexto histórico vigente na época, com a eleição de Barack Obama para presidente dos Estados Unidos.
Fonte: encurtador.com.br/corA3
Participando em diferentes produções de Mauricio de Sousa, o personagem poucas vezes chegou a ser desenvolvido claramente. É possível problematizar essa situação, partindo do pressuposto de que as criações culturais brasileiras muito foram e ainda são impactadas pelas intercorrências explícitas e veladas do racismo, o que reflete diretamente na construção e representação de personagens negros.
Entretanto, apesar do processo de invisibilização do personagem, reforçado pela introdução de Milena com a premissa de ser a primeira personagem negra da turma, há uma produção da Maurício de Sousa Produções (MSP), em formato de Graphic Novel, que merece atenção por abordar o personagem Jeremias de um modo até então jamais feito. Trata-se de Jeremias – Pele, lançada em abril de 2018, que o retrata como protagonista de uma história de luta contra o racismo. A graphic novel, pela qualidade e seriedade com que abordou a temática, chegou a ganhar o Prêmio Jabuti de Histórias em Quadrinhos.
Fonte: encurtador.com.br/mBF45
Levando em consideração a importância do conceito de representatividade, e pensando no público alvo dos gibis da Turma da Mônica, é imprescindível que personagens como Jeremias e Milena ganhem cada vez mais espaço e desenvolvimento. Para isso, é importante também que tais personagens não tenham suas narrativas circunscritas à questão racial, como se suas personalidades fossem definidas exclusivamente por isso, mas que cada vez mais sejam reconhecidos por suas paixões, aspirações, conquistas e particularidades, colaborando não só com a disseminação da representatividade, mas também com o rompimento de estereótipos vinculados à negritude que muitas vezes são refletidos nós âmbitos culturais.
Referência:
AGOSTINHO, Elbert de Oliveira. Que “negro” é esse nas histórias em quadrinhos?: uma análise sobre o Jeremias de Maurício de Sousa. Rio de Janeiro, fevereiro de 2017.
No sábado, 11 de maio de 2019, a Equipe (En)cena acompanhou a Turma de Estágio Básico I em uma visita a aldeia Salto do povo Xerente, localizada em Tocantínia-TO. A visita foi conduzida pelas professoras Muriel e Ana Letícia e pelo professor Rogério Marquezan (UFT). A visita teve como objetivo: oportunizar os acadêmicos a entrar em contato com a dimensão social do curso de Psicologia do Ceulp/Ulbra. A Equipe (En)cena foi convidada a fazer a cobertura do evento, e desde então já fiquei bastante animada.
O que vem à sua cabeça quando você escuta as palavras “índio” e “aldeia”? Na minha sempre vinha o que eu vi representado na literatura e alguns filmes. Ou seja, já imaginava vários índios nus, todos bem pintados, uma aldeia cheia de ocas, um rio enorme como fonte de alimento, peixe assado, muitas penas, flechas, um cacique bem idoso e nada de tecnologia. E foi com este pensamento que fui a aldeia indígena Salto, do povo Xerente, e quando cheguei lá, foi um momento de reflexão e desconstrução.
Ao chegar na aldeia já dei de cara com várias crianças e adultos vestindo roupas comuns, um galpão enorme para realizar reuniões e festas, várias casas de tijolos, um enorme campo de futebol, banheiro, energia e água encanada. Fiquei por um tempo tentando avistar o cacique, e logo descubro que o cacique estava do meu lado. Nunca imaginei, pois o homem que estava ao meu lado era jovem. Me perguntei: mas caciques não são caciques justamente por que têm mais experiência? Então por que não um idoso? Diante disto tudo fiquei um pouco confusa, confesso.
Ao visitarmos a casa da Dona Maria Madalena, índia, historiadora, professora e autora de alguns livros indígenas meu coração saltitava de alegria. Ela cantou uma música indígena linda para nossa chegada e disse com alegria o quanto estava feliz com nossa presença. A historiadora contou que na cultura Xerente tudo tem dono, um espírito, desde a água até a folha da árvore. Ou seja, é costumeiro pedir permissão para fazer uso de qualquer coisa. Caso o espírito não permita o uso, as consequências podem ser doenças físicas ou psicológicas. E a cura ou o tratamento é feita pelo pajé, que é considerado o médico dos médicos.
Dona Maria nos contou também que o respeito às diferentes famílias é muito importante. Em momento de reunião política, cada família tem seu momento de fala sem interrupções. Os mais velhos são ouvidos atentamente, e isto é ensinado desde a infância. Assim como a língua indígena Macro Jê, é ensinada as crianças até os 5 anos, e só depois disso que elas aprendem o português.
No fim do passeio fomos conhecer o rio. Descemos uma ladeira cheia de obstáculos em meio a natureza, com vários indiozinhos nos guiando. Ao chegar no local, que maravilha, uma água maravilhosa, com uma brisa sem explicação. Eu só queria mergulhar. Eu e alguns colegas entramos com a roupa que estávamos no corpo. Que sensação incrível, que prazer entrar e me banhar na mesma água que este povo forte e guerreiro também faz o mesmo. Me senti tão viva e aproveitei cada momento.
Ao chegar em casa eu refleti bastante. Pensei em toda história do índio no Brasil, da forma que a terra foi tomada de suas mãos. Foram feitos de escravos. E mesmo séculos depois, com toda tecnologia, a aldeia Salto do povo Xerente continua praticando sua cultura, aprenderam a conviver com a cultura do homem branco sem perder a identidade indígena, encontraram equilíbrio nas duas coisas.
Diante de toda experiência vivida, carrego no peito um emaranhado de sentimentos um tanto quanto ambivalente. É um misto de alegria com tristeza, pois a tristeza me invade quando penso no sofrimento que a história do índio no Brasil é contada. Mas meu coração também se enche de alegria ao ver de perto que cada índio daquela aldeia vive a identidade indígena, independente de morar em uma oca ou em uma casa de tijolo.
A visita me fez refletir sobre minha própria história enquanto mulher negra, descendente de escravos. Me fez pensar nos meus antepassados e ao invés de olhar com pena, olhei com admiração. Que povo forte. Que mesmo com o passar do tempo, que jamais percamos nossas raízes. Que o respeito à diferença seja uma lei de todos, pois independentemente da cor, raça, cultura e status, ninguém é melhor do que ninguém. Hoje sigo fortalecida e com o coração cheio de gratidão por quem fui, por quem sou e por quem serei.
O Sistema Único de Saúde. Sobre ele ainda existe muito a ser desconstruído pela população. E foi o que aconteceu comigo. Era muito distante do real o que minha cabeça pensava, o olhar era critico (e ainda é), mas estar de perto semanalmente conhecendo o funcionamento, as diretrizes e a luta dos servidores mudou a visão da estagiaria que vos fala.
Em fevereiro desse ano, na turma de estágio básico III, diante de três campos de atuação nossa turma elegeu o SUS e o trabalho lá dentro não seria no conforto de um ar condicionado, sentados e observadores. O desafio ia além de encarar o sol palmense, era saber como funciona um Centro de Saúde da Comunidade (CSC). A partir dali conheceríamos o trabalho de uma peça importantíssima e muitas vezes invisível nas equipes multidisciplinares: o trabalho dos Agentes Comunitários de Saúde (ACS).
Eu nunca tinha parado pra analisar o quão árduo e fundamental é o papel do ACS na atenção primária. Apesar das portas fechadas, da desconfiança dos moradores, do sol e das metas, os ACS constroem o elo entre a comunidade e a equipe do CSC, atualizando dados, levando informações aos moradores, acompanhando de perto e prioritariamente os doentes crônicos, as gestantes, as puérperas assim como as crianças até os 2 anos de idade entre outros.
Enquanto estagiária de psicologia, meu papel naquele meio era a observação, o envolvimento com a realidade e principalmente a elaboração de uma proposta de intervenção a fim de melhorar, seja o diálogo entre os colaboradores, ou formas de amenizar o estresse da categoria. O importante era olhar pela saúde mental dos ACS, visto que sofrem em sua grande maioria, com baixa autoestima por não possuírem lugar de fala e serem bodes expiatórios das equipes.
Existe um fator que como alunos não enxergamos com facilidade, que o SUS é a porta de entrada para estágios e vagas de trabalho para os recém-formados. Nunca paramos pra pensar no seguinte ponto: EM QUE A UNIVERSIDADE PODERIA AJUDAR O SUS COMO FORMA DE RETRIBUIÇÃO AS VAGAS DE ESTÁGIO? O estagiário gera gastos, muda a rotina da equipe, demanda atenção entre outras coisas, e a universidade pouco faz como forma de retorno usual as instituições que nos acolhe.
Pensando nisso, observei o quão funcional poderia ser o retorno que as propostas e as intervenções para aquele grupo de ASC enquanto estagiária de psicologia. Percebi o quão simples e ao mesmo tempo nobre seria que todos tivessem esse feeling em relação a gratidão pelo espaço e experiências que o SUS nos oferece.
E com esse sentimento, estou me preparando para a intervenção final naquele grupo, feliz e grata pela oportunidade e principalmente motivada a retribuir esses 6 meses de aprendizado.
Este trabalho tem por objetivo discorrer sobre o pós-estruturalismo de Jacques Derrida, concomitantemente, aspectos relacionados a sua biografia e as influências que ocorreram ao longo de sua trajetória. Serão elucidados conceitos de estruturalismo, como também as mudanças a este relacionadas. Derrida, em sua carreira, mobilizou a forma de organização da sociedade contemporânea, trazendo o termo “desconstrução”, considerando-o como uma desmontagem de ideias formadas, tidas como verdades absolutas. Foram abordados também críticas do pensamento moderno – logocentrismo e fonocentrismo, vislumbrando todo seu processo, e respectivamente, os princípios destacados, apresentando o conceito de fonemas e as configurações que norteiam as diferenças de escrita.
Para tanto, irá esclarecer o sentido e aplicação; operando a desconstrução, que tem em sua narrativa o conceito de centro, como também a diferença que existe entre différance e desconstrução, de antemão, o mesmo tem foco na escrita e em seu discurso defende a ideia de construir novos significados, possibilitando ver aspectos da verdade sobre um outro olhar. Uma das correntes filosóficas que influenciou o mundo contemporâneo, em meados do século XX, foi o Pós-Estruturalismo (BUENO, 2015). Essa linha de pensamento influenciou desde a arquitetura até a educação, abalando, assim, a forma de organização da sociedade moderna (SANCHEZ, 2012) . Distingue-se as ideias do pensamento pós-estruturalista como sendo múltiplo e vasto, tendo como característica particular a “desconstrução de ideias e teorias estruturadas” (CORRENTES FILOSÓFICAS, 2011).
Fonte: https://goo.gl/jBvfTC
A corrente que se destaca neste período intitulou-se Desconstrução, ideia de Jacques Derrida, pensador e filósofo francês. Lecionou na França e em grandes universidades estadunidenses, como Yale, Harvard e John Hopkins. Foi muito influenciado pelas ideias de Freud, considerando a teoria do inconsciente como sendo revolucionária para a filosofia moderna (UOL EDUCAÇÃO). Em 1966, ainda desconhecido, Derrida apresenta um ensaio onde criticava e contestava os conceitos do estruturalismo (MENESES, 2013). Mas o que vem a ser a Desconstrução? Derrida aponta que tentar entender a desconstrução como um conceito ou até mesmo um método seria contraditório, já que a corrente surge justamente com o intuitoo de alterar as ideias de conceitos e métodos (VASCONCELOS, 2003). Derrida (apud VASCONCELOS, 2003, p. 74) denomina a Desconstrução como uma estratégia
O que me interessava naquele momento [da escrita de La dissemination, La double séance e La mythologie blanche], o que tento continuar agora sob outras vias, é, a par de uma “economia geral”, uma espécie de estratégia geral da desconstrução. […]. É, pois necessário antecipar um duplo gesto, segundo uma unidade simultaneamente sistemática e como que afastada de si mesma, uma escrita desdobrada, isto é multiplicada por si própria, aquilo a que chamei em “La double séance, uma dupla ciência: por um lado, atravessar uma fase de derrubamento. […] aceitar essa necessidade é reconhecer que, numa oposição filosófica clássica, não tratamos com uma coexistência pacífica de um vis-a-vis, mas com uma hierarquia violenta. Um dos dois termos domina o outro (axiologicamente, logicamente, etc.), ocupa o cimo. Desconstruir a oposição é primeiro, num determinado momento, derrubar a hierarquia.
Assim, a Desconstrução além de uma interpretação, nem mesmo uma operação, mas uma “releitura do mundo”, abrindo uma gama de possibilidades e significâncias e assim não dando espaço a “limitações metodológicas” (MENESES, 2013, p. 183). Em se tratando das críticas do pensamento moderno, tem-se o logocentrismo, caracterizado por “(…)um conjunto de pressuposições em que se assenta a cultura do Ocidente. Bem de acordo com o percurso da lógica, o logocentrismo marca-se por um grupo de conceitos estabelecidos em categorias opositivas como mente/corpo, essência/circunstância, verdade/mentira” (GOULART, 2003, p.12).
Fonte: https://goo.gl/Aab1gu
Atrelado a essas noções que organizam o pensamento humano, que funcionam como elementos centrais, se concebe uma série de conceitos e ideias que dão ao homem uma espécie de realidade como um todo. Derrida utiliza-se muito da antítese no logocentrismo, afirma ainda que essas ideias centrais acabam sendo usadas como objeto de dominação e hierarquização
Nessa atitude, procede-se a uma hierarquização que tem por objetivo afirmar a superioridade de um termo em relação ao outro. Assim, nenhuma dúvida haveria em se pensar as oposições espírito/matéria ou Deus/diabo como produtoras de uma verdade que ilumina o primeiro elemento da oposição. Essa hierarquização também é vista por Derrida como um tipo de relação de poder uma vez que a predominância do elemento privilegiado denota um fundamentalismo que se impõe, autoritariamente, no sentido de propor-se como um centro inquestionável, única possibilidade de explicação da realidade e de explicitação da verdade, em termos absolutos, Derrida atua para avultar-se a concepção logocêntrica afirma o valor de um centro, em prejuízo de seu oposto, e metafísica atribui ao logos a possibilidade de afirmação da verdade e a própria explicação da origem do ser (GOULART, 2003, p.12).
Ao falar de fonocentrismo, Derrida faz uma crítica. Segundo ele, a linguagem na cultura ocidental tem o seu lado negativo, uma vez que ela subtrai as várias formas de linguagem. Critica ainda o fato de que a racionalidade e a razão são completamente ligadas a fala e que esta é um objeto direto de verdades conscientes. Isso é o que difere um indivíduo do outro, visto que a etiologia do fonocentrismo é a fala sobre a escrita, escrita essa que não está sujeita a autoridade de quem a escreve (GOULART, 2003). A esse respeito:
Nas suas investidas contra a metafísica, Derrida dedica um significativo espaço para a crítica ao fonocentrismo, ou seja, para mostrar tudo o que a fala tem de negativo, uma vez que ela contribui para a manutenção das condições que oblitera a manifestação multifacetada da linguagem. Por coisas como essas é que disse, acima, que a fala pode ajudar a compreender a presença, na medida em que a fala, por suas propriedades fônicas, atua como se estivesse legitimando a presença do falante, numa dinâmica que é a própria autenticidade, por estar, ali, sem artifícios e sem aparências, atestando uma presença e uma verdade (GOULART, 2003, p.13).
Fonte: https://goo.gl/M4Jokc
Portanto, segundo o autor, o idealismo favoreceu para as práticas escritas e verbais, como as verdades mais próximas do ser. Derrida afirma que o fonocentrismo está ligado inteiramente a Logocentrismo, pois os escritores o desafiam. Essa escrita que é responsável por excluir a polissemia. No entanto
A escrita não tem sentidos unívocos; ela produz sentidos os quais, mais do que múltiplos (polissemia), são sempre relacionais, incertos e não sabidos, diferentes e diferidos. Os conceitos desconstruídos por Derrida são os de significado, verdade, ser, essência. A esses conceitos, ele opõe as noções diferença (“différance”) e rastro (“trace”). A diferença é o próprio movimento do sentido, que só existe numa rede de elementos passados e futuros, numa economia de rastros” (PERRONE-MOISÉS, 1995).
O princípio que norteia o pensamento de Derrida sobre a Desconstrução dos centros é saussuriano, e ele admite na sua obra “Gramatologia”, conforme comenta Leal (LEAL, 2009), onde apresenta o conceito de fonema, segundo o qual o papel do significante apenas se torna perceptível em contraposição a outro significante, como exemplo, Deus é conhecido quando contrastado ao diabo, a partir das diferenças apresentadas atribui-se significados (DERRIDA, 2006, apud LEAL, 2009). Na acepção de Derrida (2006, apud LEAL, 2009), o significante caracteriza-se pela possibilidade de articulação do significado por meio da fala e da escrita e o significado é o conceito posto para a articulação. Derrida acrescenta ainda:
[…] não era um lugar fixo mas uma função, uma espécie de não-lugar no qual se faziam indefinidamente substituições de signos. Foi então o momento em que a linguagem invadiu o campo problemático universal; foi então o momento em que, na ausência de centro ou de origem, tudo se torna discurso – com a condição de nos entendermos sobre essa palavra – isto é, sistema no qual o significado central, originário ou transcendental, nunca está absolutamente presente fora de um sistema de diferenças (DERRIDA, 2002, p.232 apud PEDROSO JÚNIOR, s.d., p. 18).
Como mencionado acima, Derrida destaca as “margens”, a qual chama de “diferenças”, demonstrando a marginalização da literatura por questões geográficas ou opressões ideológicas. Com isso motivou a busca por pesquisas relacionadas à literatura e estudos culturais. A fala e a escrita são produtos das relações, e de acordo com Derrida, a linguagem é uma estrutura orientada. A desconstrução derridariana (DERRIDA, 2006, p. 265 apud LEAL, 2009)sobre o suplemento que é o fato de existir lacunas de ausências que existe na fala e somente a escrita contribui para complementá-la.
Fonte: https://goo.gl/x5Y8Xp
Na desconstrução tem como princípio da diferença, da referência e do contexto, desmembramento do mesmo conceito, em que o termo e seu outro são co-participantes do significado. Derrida coloca que a configuração do significado de bem depende do conceito de mal, cada um é definido a partir de sua diferença com seu outro (LEAL, 2009). Embora fosse herdeiro do estruturalismo, ele problematiza o conceito de centro, ou seja, se existia um centro é porque ainda permanece no estruturalismo e consequentemente é considerada uma verdade metafísica e que como todas as verdades devem ser colocadas em questão.
Interessava-se em discutir e explicar os termos denominados de desconstrução e différance, pois para ele era clara a diferença entre os dois. Cada palavra tinha seus sentidos próprios e o que elas representavam. “Différance é um termo que Derrida cunhou em 1968 à luz de suas pesquisas sobre a Teoria Saussuriana e estruturalista da Linguagem” (LECHTE, 2002, p. 125). Derrida dizia que havia uma grande complexidade entre a fala e a escrita, uma vez que os sons das palavras entram pelo córtex auditivo atravessam outras áreas e chegam ao córtex motor primário para o processamento da fala e nesse percurso distorções podem ocorrer, pois segundo Lechte (2002, p.126) “além disso, a afirmação de que a escrita fonética é inteiramente fonética ou de que a fala é inteiramente auditiva torna-se suspeita […]”.
Fonte: https://goo.gl/1US6F1
Em todas as suas obras Derrida teve o foco na escrita, pois inclui elementos pictográficos, ideográficos e fonéticos, sendo assim, ela não é semelhante em si mesma. A escrita é sempre multifacetada e desafia a identidade ou a ideia de originalidade. Derrida frisava quanto à “impureza” da escrita e seus diversos sentidos. No sentido da desconstrução percebe se a queda da linguagem da metafísica, pois através deste houve o rompimento do significado único das palavras e surge uma aplicação com maiores significados entre a palavra proferidas e escritas.
O Pós-Estruturalismo foi considerado uma desconstrução e uma quebra de paradigmas que perdurou por diversos anos. No entanto alguns pensadores como Derrida deram sua grande contribuição com ideias revolucionárias, que mudaram a postura do ocidente no campo da gramatologia e outros conceitos, no qual ele não concordava, pois os mesmos resumiam se a ideia de centro. As proposições de Derrida são consideradas um tanto quanto desafiadoras. Críticos questionam se o próprio filósofo teria incorrido naquilo que contesta, uma vez que seus conceitos também podem ter sido influenciados pelo contexto histórico e cultural, assim como aqueles sobre os quais ele debatia.
Fonte: https://infogr.am/desarrollo-sustentable4
A ideia de desconstrução supõe questionar aquilo que, predominantemente no mundo ocidental, é considerado como verdade absoluta. O questionamento das tais ocorre principalmente através da linguagem, uma vez que é a forma pela qual elas foram instituídas. Derrida critica as noções dualistas a partir das quais se limita e reduz as características da linguagem, tais quais os termos que, uma vez mencionados, implicam necessariamente em um oposto (Homem/mulher ou verdade/mentira, por exemplo). Para ele, é preciso mais que simplesmente contextualizar as produções e influências que estavam sob elas; indo além, faz-se necessário abrir-se às possibilidades de uma linguagem que é multifacetada.
REFERÊNCIAS:
BUENO, Sinésio Ferraz. Da teoria crítica ao pós-estruturalismo: breves apontamentos para uma possível confrontação entre Adorno e Deleuze. Educar em Revista. ed. Curitiba: UFPR. n. 56, p. 149-161, 2015. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/er/n56/0101-4358-er-56-00149.pdf>. Acesso em: 14 de mar. 2017.
LEAL, Edilene M. Carvalho. Jacques Derrida: pensador da desconstrução pensador da diferença – XV ENCONTRO NACIONAL ABRA11PSO, 2009, Maceio-AL. Anais. Faculdade Integrada Tiradentes-FITs, 2009. Disponível em: <https://goo.gl/RdhJZq>. Acesso em: 01 mar 2017.
LECHTE, John. Cinquenta pensadores contemporâneos essenciais: do estruturalismo à pós-modernidade. 2ª ed. Rio de Janeiro: DIFEL, 2002.
MENESES, Ramiro Délio Borges de. A desconstrução em Jacques Derrida: O que é e o que não é pela estratégia. Universitas Philosophica, n. 60, p. 177-204, 2013. Disponível em: <http://www.scielo.org.co/pdf/unph/v30n60/v30n60a09.pdf>. Acesso em: 01 mar. 2017.
PEDROSO JÚNIOR, Neurivaldo Campos. Jacques Derrida e a desconstrução: uma introdução. Revista Encontros de Vista. s.d. Disponível em: <https://goo.gl/lB9NyA> Acesso em: 01 mar. 2017.
PERRONE-MOISÉS, Leyla. Pensamento alterou rumos da crítica e da teoria. Outras Margens. Folha de São Paulo. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/fsp/1995/12/03/mais!/8.html>. Acesso em: 15 de mar. 2017.
SANCHEZ, Renata Latuf de Oliveira. Estruturalismo e Pós-Estruturalismo: diálogos entre Cinema e Arquitetura. Anagrama, v. 6, n. 1, p. 1-14, 2012. Disponível em: <https://goo.gl/JAsTnc>. Acesso em: 14 mar. 2017.
UOL EDUCAÇÃO. Biografias: Jacques Derrida. s/d. Disponível em: <https://educacao.uol.com.br/biografias/jacques-derrida.htm>. Acesso em: 15 mar. 2017.
VASCONCELOS, José Antonio. O que é desconstrução. Revista de Filosofia, v. 15, n. 17, p. 73-78, 2003. Disponível em: <http://www2.pucpr.br/reol/index.php/RF?dd1=117&dd99=pdf>. Acesso em: 14 mar. 2017.
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O Direito achado na rua – liberdade e movimentos sociais
A expressão “Direito achado na rua” criada pelo professor Roberto Lyra Filho é na realidade uma metáfora, ou seja, emprego de uma palavra em sentido diferente por próprio por analogia ou semelhança. O direito oriundo das ruas representa o direito no âmbito público e corrobora o ideal garantido pela Constituição de 1988 de que o direito emana do seu povo que em seu nome será exercido.
O termo “rua” é utilizado pelo autor como o espaço onde se constrói a socialização e a conscientização de cidadãos para o exercício e integração na democracia. O professor acredita na atuação direta dos sujeitos como protagonistas na conquista de direitos. Desse modo, haveria a ruptura da alienação e a não acomodação do social.
Para o autor, seria viável a desconstrução do positivismo jurídico, isto é, a quebra desse paradigma e, assim, exista a participação expressiva do povo no cenário de elaboração de leis, bem como, a integração da sociedade nas diversas formas de ideologias (econômica, étnica, moral, política, religiosa, jurídica, agrária, filosófica etc.).
Uma das críticas mais relevantes dessa teoria é ao Poder Judiciário no Brasil, uma vez que é considerado como uma das instituições historicamente mais conservadoras e menos democráticas do país, na qual predomina o princípio da autoridade e o apego a rituais e a termos de difícil compreensão para a maior parte da população. Faz-se necessário uma mudança para que prevaleça o ideal de inclusão social.
A teoria do professor Lyra Filho possui embasamento na liberdade e nos movimentos sociais, direito de ordem constitucional (fundamental), partindo do conceito de que são estes os contribuintes fiéis na confirmação da democracia, garantia e justiça. Elementos considerados importantes para aperfeiçoar o sistema de elaboração de leis.
Para Lyra Filho, o direito não se restringe relativamente à norma positivada, isto é, a lei usada frente à sociedade como preceito de regra, moral, boa conduta, enfim. O direito faz um intercalo aos costumes sociais e abrange significados incapazes de serem codificados no texto da legislação. Os movimentos sociais originam-se por inúmeras reivindicações, especialmente por necessidades não satisfeitas. A lei de nº 135/2012 é um exemplo nítido, onde 1.3 milhões de cidadãos descontentes com a corrupção existente nas campanhas eleitorais, por meio da ação popular criaram a Lei da Ficha Limpa. Apesar de a norma ter tido alteração em parte do seu conteúdo, o exercício da soberania popular foi significante.
O direito brasileiro é resultado de uma porção de lutas e conquistas de grupos revoltados com a forma de governo e com as desigualdades sociais. É necessário uma via de diálogo e participação entre o Estado e os movimentos sociais organizados, mantendo-se uma integração incessante, estabelecendo o ideal de justiça e democracia. A busca pela criação de normas e positivação estatal é o resultado idealizado pelos movimentos. Entretanto, nem sempre isso acontece. Por exemplo, em 2013 mais de 1,5 milhões de pessoas saíram às ruas para protestar e entre tantas reclamações, se destacaram a reforma política, a saúde e a educação. É inadmissível que o país anfitrião da copa do mundo de 2014 destine milhões para recepcionar um evento de tal importância mundial enquanto o restante da nação está à margem do descaso.
Sobretudo, o direito decorrente da rua mostra aos acadêmicos e estudantes que a lei e o direito garantido por ela nem sempre têm eficácia igual para todos. Entretanto, o empenho da sociedade em mudar essa situação, apesar de significante, ainda é pouco. A tese Lyriana, apesar de honrar a democracia a sua aplicabilidade é um tanto quanto complicada, mas não é impossível. Nas palavras do ex-reitor da UNB, José Geraldo de Sousa Júnior, é preciso deixar de vislumbrar o direito como um banco de enunciados legislativos. Faz-se oportuno pensar o direito como uma relação e criar condições para que as lutas dos movimentos sociais encontrem espaço politizado adequado para que se manifestem.