Chris Gardner: A vivência nas ruas em busca de um sonho 

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Inspirado em uma história real, o filme “À Procura da Felicidade” (The Pursuit of Happyness), conta a história de Chris Gardner, um pai de família que trabalha duro, mas que não consegue dinheiro suficiente para pagar as contas do final do mês e vive pressionado pela sua esposa que se chama Linda, a procurar um emprego melhor. 

O casal tem um filho chamado Christopher Gardner Jr. que é uma criança de cinco anos. Com o aumento das brigas do casal, Linda decide ir embora deixando Christopher aos cuidados de Chris. 

Chris sempre foi muito determinado em sua vida, e mesmo trabalhando teve que enfrentar de cabeça erguida todas as dificuldades que passou juntamente com seu filho. Com as dívidas aumentando e sem poder pagar pela moradia, eles tiveram que ir para as ruas, dormir em bancos, praças, e no metrô.  Uma das cenas mais marcantes do filme, é quando eles dormem no banheiro do metrô e Chris para distrair o filho, fala que estão se escondendo dos dinossauros. No momento em que seu filho adormece, ele começa a chorar baixinho, e transmite a dor que ele está passando.

 

Fonte: Google Imagens

É comum que em cidades grandes, muitas pessoas que possuem emprego e família, não consigam manter um lar, ou não tenham dinheiro suficiente para pagar o aluguel, gás, energia, água e por isso vivem em situação de rua (ROCHA, OLIVEIRA, 2019).

Essas pessoas que estão nesta situação, muitas vezes de abandono, retaliação, encontram na rua um lugar onde elas possam ficar, muitas vezes fazem seu ciclo social nestes lugares, onde acabam encontrando parceiros de vida e de sonhos (BRASIL, 2012).

Chris nunca deixou de sonhar com uma vida melhor, mesmo com a tristeza e sofrimento de passar frio, fome e não ter um lugar para que seu filho e ele dormisse, ele trabalhava como corretor e queria muito uma oportunidade para poder ter uma vida digna. 

Pessoas que estão em situação de rua compartilham de sonhos de um dia saírem desta vida onde são invisíveis e desprezados pela sociedade. Não são todos, pois muitos deles, por estarem nesta situação se entregam ao sofrimento e não acreditam que podem ou que merecem ter uma saída. Muitas vezes fazem o uso prejudicial de álcool e outras drogas pois encontram neles, uma maneira de enfrentar ou até mesmo escapar da realidade vivenciada (BRASIL, 2020).

Rocha e Oliveira (2019), apontam que algumas situações como a fragilidade das relações familiares, socioeconômicas, desemprego e uso de substâncias químicas são os principais fatores que podem levar as pessoas a estarem em situação de rua. Chris e seu filho, tiveram que enfrentar uma avalanche de frustrações da vida, o abandono da esposa e mãe do filho, o desemprego, e as contas atrasadas, levaram eles a perderem tudo e irem para as ruas. 

A maior lição que podemos tirar deste personagem é a sua incrível força de vontade e determinação. Em nenhum momento vemos Chris desistindo, pelo contrário, ele luta, corre atrás e sonha. Sonhar é uma capacidade que muitas pessoas no dia-a-dia vão perdendo por causa das dificuldades, e Chris chegou a viver como uma pessoa invisível pela sociedade e mesmo assim escolheu não deixar de acreditar. 

Fonte: Google Images

Um ponto que chama a atenção é que Chris não ficou o tempo todo nas ruas, em certo ponto do filme, ele procurou abrigos onde teve que enfrentar uma fila para ser chamado e conseguir uma vaga para poder dormir com o seu filho. Aqui no Brasil, o SUS disponibiliza uma equipe denominada Consultório na Rua, que presta serviços de saúde, abordagem, acompanhamento de internações, pré-alta, pós-alta, agendamento de consultas, para promover o acesso de pessoas em situação de rua nos serviços de atenção básica em saúde (CAZANOVA, 2012).

O centro POP (Centro de Referência Especializado para População em Situação de Rua) e a Casa Acolhida são serviços de assistência social que auxiliam pessoas que estão em situação de rua e precisam de abrigo temporário ou de forma permanente (BRASIL, 2013). No decorrer do filme, a principal preocupação de Chris era não ter um lar e um teto para poder abrigar o seu filho. Naquele momento, apesar da tristeza que ele sentiu, foi visto que ele não teve a sua saúde mental abalada, mas preocupava-se principalmente com as necessidades básicas que eles precisavam no momento. 

A história de vida de Chris Gardner inspirou muitas pessoas a continuarem sonhando com uma vida melhor e após conseguir montar sua própria empresa de corretores denominada Gardner Rich & CO, se tornou um milionário e também se tornou um palestrante, onde conta sua história e de como conseguiu superar todas as dificuldades nesta etapa da vida dele. 

Apesar desta história ter sido usada como motivacional, precisamos lembrar que a maioria das pessoas que estão em situação de rua não tem o mesmo “final feliz” de Chris. Elas continuam nas ruas e mesmo sonhando em conquistar, elas não possuem oportunidades de sair dessa situação. Não podemos generalizar que em todos os casos, irá aparecer um Chris Gardner, mas o que podemos tirar de lição é que, mesmo que em uma minoria, existem pessoas que conseguem sair das ruas e tem uma vida onde podem desfrutar de teto, moradia, comida, água, energia, roupas e emprego. E as que não conseguem não significa que são piores ou que não batalham, é que faltam oportunidades para que elas possam ao menos tentar. 

 

Chris Gardner/Fonte: Google Imagens

 

Existe a necessidade de políticas públicas para que pessoas que estejam em situação de vulnerabilidade social, sejam acolhidas. Os CREAS (Centro de Referência Especializado em Assistência Social) são dispositivos onde essas pessoas podem procurar ajuda. Este dispositivo tem por objetivo, atender pessoas que passam por algum tipo de risco, violência e outras formas de violação de direitos.  A falta de documentação não impede que usuários procurem o serviço, que é gratuito. A Assistência Social é um direito de todos para que o acesso aos direitos e a ressignificação de valores da vida social do indivíduo sejam assegurados (BRASIL, 2021). 

Fonte: Google Imagens

FICHA TÉCNICA

Filme: À Procura da Felicidade (The Pursuit of Happyness)

Ano: 2006

Direção: Gabriele Muccino 

Intérprete: Will Smith 

 

REFERÊNCIAS: 

BRASIL. (2012). Manual sobre o cuidado à saúde junto à população em situação de rua. Brasília: Ministério da Saúde.

BRASIL. (2013). Centro POP- Centro de Referência Especializado para População em Situação de Rua. Brasília: Ministério da Cidadania. 

BRASIL. (2021). Centro de Referência Especializado em Assistência Social (CREAS). Governo do Brasil. 

CAZANOVA, R. F.. A Integralidade na Fonte do Consultório de Rua no SUS.

Orientadora: Leonia Capaverde Bulla. 2012. 151f. Dissertação (Mestrado em Serviço Social)

– Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Faculdade de Serviço Social, Porto

Alegre, 2012.

ROCHA, Felipe Coura; OLIVEIRA, Pedro Renan Santos de. Psicologia na rua: delineando novas identidades a partir do trabalho com a população em situação de rua. Pesquisas e Práticas Psicossociais, São João del Rei, v. 1, n. 15, p. 1-18, 01 mar. 2020.

SÃO PAULO (Estado). Brasil. Câmara Municipal de Adamantina. Entenda a diferença entre pessoas em situação de rua, “trecheiros” e moradores de rua. 2020. Disponível em: https://www.adamantina.sp.leg.br/institucional/noticias/entenda-a-diferenca-entre-pessoas-em-situacao-de-rua-trecheros-e-moradores-de-rua. Acesso em: 29 set. 2021.

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MP permite suspensão do contrato de trabalho por até quatro meses

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Texto integra conjunto de ações do governo contra efeitos da covid-19

Por Andreia Verdélio – Repórter da Agência Brasil – Brasília

O governo federal editou medida provisória (MP) com uma série de medidas trabalhistas para enfrentamento do estado de calamidade pública no país e da emergência em saúde pública decorrente da pandemia da covid-19. A MP já entrou em vigor neste domingo (22) ao ser publicada em edição extra do Diário Oficial da União, e tem validade de 120 dias para tramitação no Congresso Nacional, e caso não seja aprovada, perde a validade.

Entre as medidas estão o teletrabalho, a antecipação de férias, a concessão de férias coletivas, o aproveitamento e antecipação de feriados, o banco de horas, a suspensão de exigências administrativas em segurança e saúde no trabalho, o direcionamento do trabalhador para qualificação e o adiamento do recolhimento do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS).

Durante o estado de calamidade pública o contrato de trabalho poderá ser suspenso por até quatro meses, para participação do empregado em curso de qualificação profissional não presencial, oferecido pela empresa ou por outra instituição. Essa suspensão poderá ser acordada individualmente com o empregado e não depende de acordo ou convenção coletiva.

Nesse caso, não haverá pagamento do salário, mas a empresa poderá pagar ao trabalhador um ajuda compensatória mensal, em valor a ser negociado entre as partes.

De acordo com a MP, essas ações “poderão ser adotadas pelos empregadores para preservação do emprego e da renda” dos trabalhadores até 31 de dezembro, que é o prazo do estado de calamidade pública aprovado pelo Congresso Nacional.

De acordo com a MP, todos os acordos e convenções coletivas vencidas ou que vencerão em até 180 dias poderão ser prorrogados, a critério do empregador, pelo prazo de 90 dias.

A medida define que os casos de contaminação pelo coronavírus não serão considerados ocupacionais, exceto com comprovação do nexo causal.

Teletrabalho

Os empregadores poderão adotar teletrabalho independentemente da existência de acordos individuais ou coletivos. Entretanto, deve ser firmado contrato por escrito, previamente ou no prazo de 30 dias, sobre a responsabilidade pelo fornecimento dos equipamentos e infraestrutura ou reembolso de despesas arcadas pelo empregado.

Mesmo que o trabalhador não possua os equipamentos necessários ou o empregador não puder fornecer, o período da jornada normal de trabalho será computado como tempo de trabalho à disposição do empregador.

O regime de teletrabalho também poderá ser adotado por estagiários e aprendizes.

Férias e feriados

Os trabalhadores que pertençam ao grupo de risco da covid-19 terão prioridade para o gozo de férias, individuais ou coletivas.

Caso o empregador decida antecipar as férias, elas deverão ser de, no mínimo, cinco dias, poderão ser concedidas ainda que o período aquisitivo não tenha transcorrido. O empregador e o trabalhador poderão também negociar a antecipação de períodos futuros de férias. Nesses casos, a empresa poderá optar por pagar o adicional de um terço de férias junto com o 13º salário.

No caso de concessão de férias coletivas, o empregador está dispensado da comunicação prévia aos órgão trabalhistas e sindicatos.

As empresas poderão ainda antecipar feriados religiosos nacionais ou locais, mas isso dependerá da concordância do empregado. Nesse caso, os feriados poderão ser utilizados para compensação do saldo em banco de horas.

Já para os profissionais de saúde ou aqueles que desempenham funções essenciais, o empregador poderá suspender as férias ou licenças não remuneradas. A decisão deverá ser comunicada ao trabalhador preferencialmente com antecedência de 48 horas.

Banco de horas e qualificação

Os empregadores também poderão interromper as atividades e constituir um regime especial de compensação de jornada, por meio de banco de horas, em favor do empregador ou do empregado. A compensação deverá acontecer no prazo de até 18 meses, contado da data de encerramento do estado de calamidade pública, e poderá ser feita mediante prorrogação de jornada em até duas horas, que não poderá exceder dez horas diárias.

Fonte: encurtador.com.br/klz36

Segurança do trabalho

Também está suspensa a obrigatoriedade de realização dos exames médicos ocupacionais, clínicos e complementares, exceto dos exames demissionais. Entretanto, eles deverão ser realizados no prazo de 60 dias, depois do encerramento do estado de calamidade pública.

Caso o médico coordenador do programa de saúde ocupacional considere que a suspensão representa um risco para a saúde do empregado, ele deverá indicar a realização dos exames. No caso do exame demissional, ele também poderá ser dispensado caso o exame ocupacional mais recente tenha sido realizado há menos de 180 dias.

Os empregadores também estão desobrigados de realizar treinamentos periódicos e eventuais dos atuais empregados, previstos em normas de segurança e saúde no trabalho. Nesse caso, eles deverão ser realizados no prazo de 90 dias, após o encerramento do estado de calamidade.

Entretanto, esses treinamentos poderão ser realizados na modalidade de ensino a distância, desde que os conteúdos práticos sejam executadas com segurança.

FGTS

Está suspensa ainda a exigência do recolhimento do FGTS pelos empregadores, referente aos meses de março, abril e maio, com vencimento em abril, maio e junho, respectivamente. O recolhimento dos valores para o fundo poderá ser realizado de forma parcelada, em até seis parcelas mensais, sem incidência de multa e encargos, a partir de julho.

As empresas poderão utilizar esse benefício independente do número de empregados, do regime de tributação, da natureza jurídica, do ramo de atividade econômica ou da adesão prévia. Mas para isso, deverão declarar as informações até 20 de junho. Os valores não declarados serão considerados em atraso e, nesse caso, será cobrada multa e encargos.

A suspensão do FGTS não se aplica em caso de demissão do trabalhador.

Por 180 dias, também estão suspensos os prazos processuais para defesa e recurso em processos administrativos de autos de infração trabalhistas e notificações de débito de FGTS.

Atividades de saúde

Durante o estado de calamidade pública os estabelecimentos de saúde poderão prorrogar a jornada de trabalho dos funcionários e adotar escalas de horas suplementares no intervalo de descanso entre 13ª hora e a 24ª hora. Entretanto, as empresas deverão garantir o repouso semanal remunerado.

Nesses casos, deve haver acordo individual escrito entre as partes. A medida é válida mesmo para as atividades insalubres e para a jornada de 12 horas de trabalho por 36 horas de descanso.

As horas suplementares realizadas poderão ser compensadas por meio de banco de horas ou remuneradas como hora extra. A compensação deve ocorrer no prazo de 18 meses, após o encerramento do estado de calamidade pública.

Abono anual

Para 2020, o pagamento do abono anual aos beneficiários da previdência social que, durante este ano, tenham recebido auxílio-doença, auxílio-acidente ou aposentadoria, pensão por morte ou auxílio-reclusão será efetuado em duas parcelas, em abril e maio.

Caso já esteja previsto o fim do pagamento do benefício antes de 31 de dezembro, o valor do abono será proporcional. Caso o encerramento do benefício aconteça antes da data programada para os benefícios temporários, ou antes de 31 de dezembro de 2020 para os benefícios permanentes, “deverá ser providenciado o encontro de contas entre o valor pago ao beneficiário e o efetivamente devido”.

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Passo o ponto

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Nas minhas caminhadas, observo as placas de “passo o ponto”, que podem significar “passo meu projeto de vida” ou “o negócio passou do ponto” porque não vinga na era digital, e penso que muitas das pessoas que trabalhavam ali caíram no infortúnio do desemprego.

Fatores externos, fora de nosso controle, como crises que empobrecem um país e seu povo, podem tirar tudo da gente, menos o nosso entusiasmo, que depende só de nós. Temos de lutar para que tragédias econômicas não empobreçam nosso espírito e enriqueçam nossa descrença na vida.

Em 1989, pedi as contas de uma multinacional para abrir uma agência de eventos. Aí veio o Plano Collor e os eventos que mais organizei foram “falta de dinheiro”, “falência relâmpago” e “medo do despejo”.      

Fonte: encurtador.com.br/MQRV4

Para aumentar os infortúnios, capotei meu carro, quebrei a clavícula e ganhei um corpo tatuado de hematomas. Sem plano de saúde e falida, um médico recomendou repouso de três meses. Nem cogitei essa opção. Repouso era um luxo para mim.

Eram tantas as pedras no meu caminho que pensei em construir uma caverna para me enfiar lá. Sem dinheiro para condução, andava horas procurando emprego. Um dia, vi um anúncio de “Assistente de Marketing” e fui até a agência. A selecionadora achou que eu era qualificada para uma vaga de gerente administrativo-financeiro por ter sido empresária. Espantada, respondi-lhe que se tivesse talento para empresária não estaria me candidatando a uma vaga de assistente. Mas ela insistiu na maluquice de me indicar para a posição.

Fui para a entrevista e quando me apresentei ao diretor da empresa, achei que estava diante de outro doido, que fumava cachimbo, quando ele me disse que tínhamos um amigo em comum. Mas ele conhecia meu ex-chefe da multinacional e já tinha as minhas referências. Lembrei-me do velho ditado de sempre deixar uma portinha aberta ao sairmos.

Fonte: encurtador.com.br/ailAO

Porém, disse-lhe, honestamente, que abominava matemática e era incompetente com números. Sem se abalar e fumando seu cachimbo, ele me perguntou se eu tinha entusiasmo. Respondi que até de sobra. Então, ele falou que dominava matemática e que tinha paciência de sobra para me ensinar se eu tivesse entusiasmo para aprender. Aceitei o desafio e os números mudaram minha vida.

Se você me perguntar qual é a receita para se motivar diante dos obstáculos da vida, que a todo instante nos faz escolher entre agir ou reclamar, eu diria que, no meu caso, é a Fé inabalável em Deus, amor à vida e frases de sabedoria, como a de Albert Einstein: “Lembre-se que as pessoas podem tirar tudo de você, menos o seu conhecimento” e eu acrescentaria “menos o seu entusiasmo” também.

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Sem sentido: diversas formas para sobreviver ao mundo capitalista

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O filme em geral apresenta vários aspetos importantes. Um dos sub temas que deve ser levado em destaque é o sofrimento que o universitário passa para ter uma boa qualidade de estudo

O filme “Sem sentido” (1998) é baseado na vida de Deryll Witherspoon (Marlon Wayans) filho mais velho de uma mulher negra e pobre que foi abondonada pelo marido tendo de criar os cinco filhos; eles moram em Harlem bairro de Nova York. O filme, apesar de ter sido dirigido por uma mulher branca, Penelope Spheeris, não dá nenhuma variabilidade às mulheres, resumindo-as apenas como mães que criam filhos. O longa também mostra a visão dos brancos sobre os negros naquele período histórico (MENDONÇA, ROCQUE, 2016).

Deryll é aluno do curso de economia em uma universidade, onde faz todo tipo de trabalho para conseguir pagar seu curso e sustentar sua família pobre. Neste sentido, a participação de estudantes universitários no trabalho é uma realidade; pesquisa da Universidade Federal do Goiás (UFG) diz que a maioria dos estudantes conciliam estudo com o trabalho e contribuem na renda familiar.  O filme retrata claramente isso, porém esse estudante de economia vai além de um trabalho comum (TOSTA, 2015).

Uma das formas que Daryll acha para conseguir mais dinheiro é sendo doador de sêmen, cabelo, sangue. Esse ato é algo muito comum nos Estados Unidos. Com o desemprego, cada vez mais americanos procuram agências para venderem seus sêmens, óvulos, sangue e até cabelo para poderem sobreviver (GLOBO ECONOMIA, 2018). Pela busca por mais dinheiro, Daryll vê um anúncio convocando voluntários para uma experiencia cientifica, que busca testar uma nova droga com o objetivo de aumentar os cinco sentidos. Numa atitude desesperada ele torna-se cobaia e receberá um bom dinheiro.

Durante a Segunda Guerra Mundial, Hitler permitiu várias experiências cientificas absurdas forçadas em prisioneiros no campo de concentração. Apesar disso ser proibido atualmente, o filme retrata que essa prática ainda é frequente, porém a diferença é que atualmente essas experiências ocorrem com o consentimento do voluntário, com direito de saber os riscos e benefícios possíveis. As pessoas pobres, sem nenhum meio de sustento se submetem a isso em troca de uma boa quantia. As cobaias humanas são pessoas usadas para testes de novos remédios da indústria farmacêutica (GLOBO ECONOMIA, 2018).

Ao mesmo tempo que Witherspoon se submete a ser uma cobaia humano, surge um processo seletivo para ser analista júnior em Wall Street, porém ele foi excluído da competição por causa da sua condição econômica e social. Contudo o rapaz volta a disputa trapaceando e se beneficiando dos superpoderes conferidos pela droga experimental, passando por todo efeito colateral que ela proporciona e se torna o analista júnior do ano, mas confessa que trapaceou.

O filme em geral apresenta vários aspetos importantes. Um dos sub temas que deve ser levado em destaque é o sofrimento que esse universitário passa para ter uma boa qualidade de estudo apesar de ser de uma família pobre em uma sociedade capitalista, porém com esforço e foco ele consegue alcançar seus objetivos de conseguir um bom emprego. Isso remete a realidade de vários jovens no mundo.

FICHA TÉCNICA:

Direção: Penelope Spheeris
Elenco: Marlon Wayans, David Spade, Matthew Lillard;
Ano: 1998
País: EUA
Gênero: Comédia Romântica

REFERÊNCIAS:

O GLOBO ECONOMIA. Mais americanos procuram vender seu sêmen, sangue ou cabelo para chegar ao fim do mês. 2008. Disponível em: <https://oglobo.globo.com/economia/mais-americanos-procuram-vender-seu-semen-sangue-ou-cabelo-para-chegar-ao-fim-do-mes-3803403>.Acesso em: 30 setembro 2019.

TOSTA, Tania. A participação de estudantes universitários no trabalho produtivo e reprodutivo. Goiânia (GO), v. 47, n. 165, 2015. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/cp/v47n165/1980-5314-cp-47-165-00896.pdf>. Acesso em: 30 setembro 2019.

MENDONÇA, Lêda; ROCQUE, Lucia. A mulher e o “fazer ciência”: uma análise de filmes de comédia no ensino farmacêutico. Rio de Janeiro- RJ, 2016. Disponível em: <file:///C:/Users/evell/Downloads/22464-81845-1-PB.pdf>.Acesso em: 30 setembro 2019. P. 738.

YARAK, Aretha. “Ser cobaia humana virou uma profissão”, diz pesquisador

Roberto Abadie, autor de The Professional Guinea Pig, revela os bastidores do mundo das cobaias humanas. 2010. Disponível em: <https://veja.abril.com.br/saude/ser-cobaia-humana-virou-uma-profissao-diz-pesquisador/>. Acesso em: 30 setembro 2019.

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A depressão e o desemprego

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Em todo país, o desemprego atinge 12,6 milhões de pessoas. As filas com pessoas atrás de um novo emprego têm crescido cada dia mais. Quem está desempregado enfrenta não apenas a dificuldade de conseguir se recolocar em um mercado cada vez mais exigente, mas também a dificuldade salarial diante de um cenário tão crítico, visto que a falta de dinheiro traz sérios problemas emocionais para a vida das pessoas.

Um dos problemas emocionais mais comuns que atingem a população que se encontra em situação de desemprego é a depressão. Isso contribui para dificultar ainda mais as chances da pessoa conseguir uma recolocação, visto que esse transtorno pode ocasionar queda da energia, insônia ou hipersonia, o que não ajuda nem um pouco o candidato a chegar nas entrevistas no horário ou mesmo fazer os trâmites necessários no tempo exigido.

Apesar de serem os homens vistos ainda como principais provedores da família na sociedade atual, a depressão atinge as mulheres em maior número, embora o desânimo, a cada oportunidade perdida, seja mais evidente nos homens. Ainda há o fator agravante que são os sintomas depressivos que se intensificam quando o mesmo percebe que não há possibilidades compatíveis com seu perfil no mercado de trabalho.

Fonte: encurtador.com.br/jlFKX

Considerando essa imagem do homem como provedor, não é de se espantar que a autoestima fique extremamente prejudicada, influenciando inclusive sua vida familiar e conjugal, pois, costuma-se atribuir sua virilidade com a capacidade de prover a família. Não que a mulher seja capaz de manter a autoestima intacta em caso de desemprego, especialmente se a renda dela for a principal da casa, porém a habilidade de se lançar no mercado de forma independente, mesmo que por salários não compatíveis com sua qualificação, pode ser um fator que conte a favor nesse processo. Afinal, o empreendedorismo, apesar de não oferecer benefícios tradicionais que o regime CLT oferece, tem sido a saída mais utilizada pelos brasileiros para que consigam pagar suas contas e para diminuir a pressão de arrumar uma vaga no mercado de trabalho, com isso fazendo crescer a indústria de cursos profissionalizantes de curta duração.

Apesar dessas soluções, muitas vezes o desemprego vem quando a pessoa já tem um padrão de vida estabelecido. Nesses casos, solicitar auxílio financeiro de familiares e amigos pode ser necessário, ainda que possa gerar um grande desconforto, mas é aqui que a pessoa que se dispõe a auxiliar pode demonstrar seu apoio, não apenas financeiramente, mas de também de forma emocional, impulsionando a pessoa a não desistir de suas chances e incentivando que o mesmo abrace as oportunidades que surgirem, desta forma fica mais fácil enxergar o lado positivo das coisas e enxergar as oportunidades que outrora poderiam passar despercebidas.

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Os desafios da recolocação profissional

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A perda do emprego é algo que preocupa qualquer pessoa. Alguns ficam deprimidos e outros preocupados sobre o futuro. Mas é o grande momento para se repensar nos rumos da carreira. É preciso também lembrar do fato de que todo o conhecimento e experiência aprendidos anteriormente podem ser muito úteis em outras empresas.

Uma coisa que nunca pode ser jogada fora são os contatos. Muitas pessoas são tímidas e têm dificuldades de fazer networking. Mas ter bons relacionamentos profissionais podem ajudar a ser mais conhecido por outros e auxiliar na recolocação no mercado de trabalho. Sempre tem alguém que conhece um amigo comentando sobre uma vaga. Por isso, mantenha seus contatos atualizados e tenha, se possível, cartão de visita. Mantenha-se à vista de todos.

Estar com o currículo em dia é também essencial para recolocação. Mas não exagere nas informações. Caso comece a enfeitar muito e colocar experiências que não tem, pode ser ruim. A mentira tem perna curta. O entrevistador pode perceber no meio da conversa que aquelas informações no documento não são tão verídicas. Quando se perde a confiança, perde-se tudo. Por isso, não se deve esquecer de que, mesmo se não conseguir vaga naquela entrevista, podem surgir oportunidades futuras talvez na mesma empresa. Portanto, seja verdadeiro.

Fonte: encurtador.com.br/cdrxO

Cuide também da sua imagem, pois vale mais do que mil palavras. Essa expressão nunca foi tão usada como hoje com as redes sociais. As empresas observam o comportamento dos candidatos nas redes sociais e, dependendo do que vejam, pode influenciar muito na contratação ou não de um colaborador.

Por isso, tenha cuidado sobre o que você publica. Analise sempre que tipo de mensagem suas fotos ou comentários estão transmitindo sobre você. Rede social não é diário pessoal. Todos estão ali vendo, principalmente os recrutadores.

Durante uma entrevista, evite falar demais. Numa entrevista, quando o entrevistador pergunta muito, pode significar que o candidato está falando pouco. No entanto, é importante responder as perguntas de maneira objetiva, sem rodeios, sem falar muito da vida pessoal.  Quando começa a falar muito nesse tipo de assunto, a pessoa pode se desfocar e comentar coisas que não tem ligação com o que a empresa está buscando.

Fonte: encurtador.com.br/ktMP7

Há outro fator que pode atrapalhar a vida do candidato: o nervosismo. Uma dica é quando for para uma entrevista, tente contar devagar de 1 a 10 ou lembre o número do CPF, de outros documentos ou placas de carro. Esse tipo de exercício mental pode ajudar a se acalmar. A apreensão do momento pode fazer a pessoa falar muito e comentar coisas desnecessárias. Por isso, quanto mais à vontade e tranquila ficar, de maneira mais racional vai agir.

Por último, e mais importante, é a ética profissional. Caso já tenha uma experiência anterior, é importante não citar momentos desagradáveis ou negativos, pois vai acabar comprometendo a imagem da pessoa. Quando estiver comentando de algo assunto anterior, pense muito bem antes de falar. É preciso se focar em coisas positivas e nos aprendizados que teve. Apesar de ser difícil falar só do lado positivo, evite pensar em assuntos negativos. É a sua imagem e o primeiro contato que estão ali. A primeira impressão é a que fica.

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Em “La Casa de Papel” ladrões roubam o bem mais importante: o Tempo

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Diante de toda uma geração que vive sob o impacto do desemprego e da perda de direitos sociais desde o crash financeiro internacional de 2008,  a Espanha vem produzindo uma série de filmes que pensa essa condição. O mais recente é a série para TV “La Casa de Papel” (2017-), disponível no Netflix, que reflete a perplexidade de todos diante da natureza dessa crise: como conformar-se com bancos, agentes financeiros e especuladores capazes de fabricar, sem limites, o próprio dinheiro enquanto o restante da sociedade sofre as consequências? Um grupo de ladrões trajando macacões vermelhos e com máscaras do Salvador Dalí invade a Casa da Moeda da Espanha, liderado por alguém cujo codinome é “Professor”. Eles não vieram roubar, mas fabricar seu próprio dinheiro com a ajuda dos próprios reféns. Mas o “Professor” terá que roubar um bem menos tangível e muito mais importante: roubar o tempo do Governo, da Polícia e da grande mídia. Quais as conexões entre um sistema monetário-financeiro sem lastro e o controle do Tempo?

Se a sociabilidade é uma ficção necessária para que não retornemos à natureza, talvez o dinheiro seja a instituição social mais cercada de simbolismos, relações fetichistas, mágicas e religiosas, muitas vezes travestidas por conceitos da chamada “ciência econômica”. Paradoxalmente, porém, a crença que sustenta essa instituição é de cunho moral: o dinheiro conquistado é sempre fruto do nosso trabalho e merecimento, nas suas diversas formas como espécie, crédito, débito eletrônico etc. Mas, principalmente, a crença na sua intercambialidade, remuneração, valor, lastro, riqueza e assim por diante.

As sucessivas crises financeiras desde os anos 1990 (México, mercados asiáticos etc.) até chegar ao crash de 2008 e a subsequente crise do Euro que repercute até hoje, abriram fissuras na credibilidade do sistema financeiro: como conformar-se com bancos, agentes financeiros e especuladores capazes de fabricar, sem limites, o próprio dinheiro? Como entender que a moeda de referência mundial, o dólar, é arbitrariamente impressa pelos EUA e sem lastro desde 1971 quando Nixon rasgou o Acordo de Breton Woods?

Diante disso, a Espanha, um dos países europeus mais atingidos pelo crash financeiro com taxas de desemprego que chegaram a 30%, produziu nos últimos anos uma série de filmes que reflete todas essas questões: Hermosa Juventude (2014), 5 Metros Cuadrados (2011), La Chispa de la Vida (2011), El Mundo es Nuestro (2012) e Terrados (2011) são uma pequena amostra de como o cinema espanhol descreve o desemprego, a falta de perspectivas de toda uma geração e a perda dos direitos sociais.

Quem é bom? Quem é mau?

A série do canal espanhol Antena 3, La Casa de Papel (2017-) não é apenas mais um produto audiovisual que reflete esses tempos. É a mais contundente narrativa sobre um momento histórico no qual a linha que separa o bom dos maus desapareceu: como pensar a ilegalidade dos pequenos golpistas e falsários quando o próprio sistema global se funda na fabricação arbitrária de papéis, títulos, moeda e crédito? E mais: com as bênçãos de governos e grandes agências classificadores de risco como Moody’s, Standard & Pool e Fitch. Então, de que adianta pensar em um pequeno golpe como no filme argentino Nove Rainhas (2000) se poderíamos dar um grande golpe explorando as fraquezas das três entidades que ajudam a manter a ordem das coisas: governo, polícia e grande mídia.

Todas essas questões surgem na mente maquiavélica de um personagem chamado “O Professor” que tem a brilhante ideia de invadir a Casa da Moeda da Espanha com a intenção de fechar-se lá dentro e imprimir mais de dois bilhões de euros – sem matar ninguém ou roubar dinheiro dos contribuintes. Apenas fabricar o próprio dinheiro. Para isso recruta oito ladrões, de acordo com sua especialidade, que aceitam participar do maior roubo da História. Junto com o grupo recrutado, durante cinco meses o Professor planejou milimetricamente cada etapa da operação para que nada fosse deixado ao acaso. O único problema é que necessitarão de 11 dias dentro do edifício, junto com os reféns, para imprimir o dinheiro, procurar uma saída e fugir com o produto do roubo impossível de ser rastreado.

La Casa de Papel propõe uma curiosa questão: se os ladrões querem apenas roubar papel (sem lastro efetivo, assim como todos os títulos e papéis especulados no sistema financeiro global) o quê na verdade estão roubando? Resposta: o Tempo. Roubando o tempo da polícia, do Governo e da grande mídia, para distraí-los, enquanto imprimem bilhões de euros.

A questão que a série suscita é essa: seria o Tempo aquilo que o sistema nos rouba para manter toda essa ficção necessária para manter a sociabilidade?

A Série

Tudo começa quando um grupo trajando macacões vermelhos e máscaras de Salvador Dalí, fortemente armados com escopetas russas, invadem a Casa da Moeda e toma todos os funcionários de refém. Incluindo um grupo de um colégio de elite que fazia uma visita escolar monitorada. E o detalhe. Entre os alunos, o trunfo mais importante para o assalto: a filha de um diplomata da embaixada da Inglaterra na Espanha.

O grupo está determinado e todos os passos parecem que foram detalhadamente planejados: pedem a senha do cofre e começam a encher sacolas com o dinheiro. O desfecho parece previsível – fugirão antes que o alarme dispare. Mas algo estranho ocorre diante dos perplexos funcionários: os próprios assaltantes disparam o alarme e ficam parados, ao lado dos sacos de dinheiro, diante da porta à espera da chegada dos policiais. Que são recebidos à bala, enquanto o grupo sela todas as entradas do edifício. Para a Polícia e a mídia, parece que os assaltantes foram pegos de surpresa e estão desesperados e escudados por reféns. Mas tudo faz parte de um ardiloso plano criado pelo Professor (Álvaro Morte), planejado e treinado intensamente por cinco meses.

Narrado em of por um dos assaltantes chamado Tóquio (Úrsula Corberó – todos eles têm codinomes de cidades: Helsinque, Nairóbi, Oslo, Berlim etc.), através de vários flash backs o espectador vai montando o quebra-cabeças do plano e as motivações da operação. Nos 13 episódios dessa primeira temporada acompanhamos um verdadeiro jogo de xadrez entre o Professor e a inspetora responsável pelas operações policiais, Raquel Murillo – Itiziar Ituño. Raquel atravessa naquele momento um inferno pessoal: num mundo policial eminentemente masculino tem que aparentar força. Enquanto passa por uma dolorosa separação litigiosa e luta na justiça pela guarda da sua filha com o ex-marido. E o Professor saberá explorar ao máximo esse ponto fraco da oponente.

Enquanto o grupo de assaltantes mantém os reféns na linha, o Professor monitora de fora todas as operações através de câmeras internas do edifício, além de hackear as comunicações policiais. Todos os celulares foram desligados e as comunicações são unicamente analógicas por meio de cabos instalados nos meses que antecederam o assalto – tudo para evitar rastreamentos da inteligência policial. Tal como um Big Brother, da sua sala de controle, o Professor cria jogos e iscas para a polícia e a mídia morderem, enquanto ganha tempo – os dias necessários para as máquinas funcionarem a todo vapor para imprimirem os bilhões de euros.

Mas os episódios aos poucos revelarão também os pontos fracos do grupo: o líder Berlin (Pedro Alonso) é um narcisista esquizofrênico, Tóquio vive um romance tórrido com o jovem Rio (Miguel Herrán, o especialista em informática do grupo), Moscou (Paco Tous) sente-se culpado por trazer seu filho Denver (Jaime Lorente) para o assalto e assim por diante. E do lado dos reféns a tensão entre o Diretor da Casa da Moeda Arturo (Enrique Arce – o típico burocrata e infiel no casamento das estórias de Nelson Rodrigues) e sua secretaria Mónica (Esther Acebo), grávida depois de um caso com Arturo. Tensão que determinará as reações dos reféns ao assalto.

Tempo é o bem mais valioso

Tempo. É apenas isso que o Professor pretende roubar da Polícia. Por isso, La Casa de Papel lembra dois novos clássicos sobre assaltos: Quarto Poder (1997, quando John Travolta invade um Museu e pega reféns na tentativa desesperada de recuperar seu emprego) e Velocidade Máxima (Dennis Hopper monitora toda a operação pela tela da TV, intervindo em tempo real nas operações policiais – “É a TV do futuro!”, dizia cinicamente) de 1994. Mas na série espanhola o produto do roubo não é algo tangível e concreto como o emprego ou o dinheiro que garantiria a aposentadoria do ex-policial vilão. Como indica o próprio título da série, o que está em jogo é apenas papel, cédulas com a marca d’água da Casa da Moeda. Em si, tão sem lastro como todos os dólares, títulos e papéis nas transações especulativas do sistema financeiro global.

Mas se o Professor ganhar o tempo necessário, toda aquela papelada se perderá na circulação (e impossível de ser rastreada) e terá tanto valor quanto qualquer papel especulativo. E como ganhar tempo? Jogando migalhas para a grande mídia, assim como no filme Mera Coincidência (1997) no qual um produtor de cinema inventa uma guerra fictícia para o presidente dos EUA ganhar tempo, escapar de um escândalo sexual e ser reeleito. Por exemplo, o Professor vaza o áudio da intenção da Inteligência do Governo libertar unicamente a filha do embaixador, escandalizando a opinião pública: uma inglesa vale mais do que dezenas de espanhóis? Criando pequenos escândalos e jogando a opinião pública contra Governo e Polícia, habilmente o Professor ganha a coisa mais valiosa do que o dinheiro: Tempo.

Crono-economia

Por tudo isso, La Casa de Papel suscita uma reflexão em torno daquilo que poderíamos chamar de “Crono-economia” – em um sistema financeiro sem qualquer lastro na economia real, o valor da riqueza passa a ser determinado pelo controle do Tempo. O Tempo estruturando a organização do trabalho e a própria riqueza econômica. Por exemplo, com a crise das formas estabilizadas das relações de trabalho regidas por direitos trabalhistas passa a tomar o lugar as modalidades flexíveis de trabalho desregulamentadas: atividades comissionadas, remunerações por resultados por projetos de curto prazo, ganhos por produtividade etc.

O trabalho não é mais remunerado pela qualidade do produto, mas agora determinado pelo tempo do alcance de resultados por períodos curtos de tempo. Da remuneração do motoqueiro pela maior quantidade de entregas no menor tempo ao corretor de títulos e ações cuja diferença de segundos numa decisão pode ser a diferença entre a lucratividade e o prejuízo, a velocidade é o fator de sobrevivência. Seu salário não é baixo. A questão é de tempo: você leva 30 dias para receber aquele valor. Por isso a sobrevivência depende do domínio da velocidade. Dinheiro não é valor nominal, é um valor probabilístico dado pela circulação veloz. A logística da velocidade é o verdadeiro poder nas sociedades dromológicas (de “dromo”, “corrida”) em que vivemos. Quanto mais lentos, mais abaixo estamos na hierarquia determinada pelo controle do tempo.

Ficha Técnica

Título: La Casa de Papel

Diretor: Alex Pina, Jesus Colmenar

Roteiro: Alex Pina, Esther Martinez, David Barrocal

Elenco: Ursula Corberó, Itziar Ituño, Álvaro Morte, Alba Flores, Paco Tous, Enrique Arce, Miguel Hérran, Pedro Alonso

Produção: Vancoucer Media

Distribuição: Antena 3 Televisión, Netflix

Ano: 2017

País: Espanha

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A Partida: ressignificação da vida através do trabalho

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Este filme é de nacionalidade japonesa, com direção de Yojiro Takita. Gênero: Drama. Elenco: Masahiro Motoki, Tsutomu Yamazaki, Kazuko Yoshiyuki, Kimiko Yo, e outros. Daigo Kobayashi (Masahiro Motoki) é o protagonista, esse personagem tocava violoncelo, e diante das mudanças financeiras, a orquestra que trabalhava encerrou suas atividades, nesse ínterim necessitou se desfazer de seu instrumento, deparando-se com desemprego. Concomitantemente, mudou de cidade com sua esposa em busca de novas oportunidades, surgindo assim um novo emprego e, sem saber na íntegra como seria este trabalho, aceitou-o. Precisava estar empregado, ter dinheiro para sobreviver e tocar a vida. “Entre outros aspectos ligados à dimensão individual, surge o financeiro: o trabalho como elemento fundamental para garantir a sobrevivência.” (OLIVEIRA et al, p. 11).

No primeiro dia deparou-se com uma empresa funerária, o qual sua função era auxiliar de agente funerário. Experimentou um misto de sensações diante do contexto o qual estava, mas o momento em que Daigo se encontrava, não poderia se dar ao luxo de desistir de estar empregado, sua real situação não permitia. Porém, sua esposa não sabia de que se tratava seu novo trabalho, optou por esconder, pois precisava do emprego. “[…] o emprego é uma forma especifica de trabalho econômico (que pressupõe a remuneração), regulado por um acordo contratual (de caráter jurídico)” (BORGES; YAMAMOTO, p. 27).

Passou a enfrentar preconceitos, sua esposa o abandonou, encontrou-se sozinho e procurando forças para seguir em frente. Diante dos desafios e superações, Daigo traçou um novo começo, com significações, transformando todo seu contexto. Inicialmente era pela sua sobrevivência, precisava se manter, mas o sentido que este trabalho lhe proporcionou mudou toda sua história. “Identificado o significado do trabalho, é necessário saber o que motiva, incita o homem a realizá-la, ou seja, o sentido que ele dá ao seu trabalho.” (OLIVEIRA et al, p.6).

A cada tarefa realizada suas habilidades iam sendo aprimoradas, com a delicadeza de um músico, suas mãos pareciam dançar no corpo e nas vestes, com muita amabilidade, mudava o que estava sem vida, dando aos entes queridos o reconhecimento da pessoa que seu morto era quando estava entre eles, trazendo conforto aos familiares em seu último adeus. Para Daigo esse era o motivo que o impulsionava a seguir em frente, através dessas transformações o mesmo percebeu que sua vida mudou, ressignificando-a.  Seu novo emprego possibilitou encontrar-se consigo mesmo, enfrentar seus medos e reencontrar o pai, mesmo sendo para se despedir.

Gostar do que faz torna o trabalho prazeroso, mesmo sendo um emprego considerado um dos piores como era o de Daigo, sentia prazer em fazê-lo, enfrentou os obstáculo e conquistou seu espaço e respeito. Considerado o pior emprego, mas era o que mais fazia sentido, estava em jogo sentimento de perda, luto… Com tudo isso, percebeu nessa atividade a real importância de estar vivo e fazer o que realmente te faz bem, sem se importar com as dificuldades. O mesmo percebeu que era importante na tarefa que realizava, e isso fazia sentir-se bem. Executar um trabalho que goste, sinta prazer em sua execução, também é algo importante para que este faça sentido. Entretanto, se a pessoa realiza um trabalho que não é prazeroso, que ela não goste, não é possível encontrar sentido.” (OLIVEIRA et al, p. 10).

Cada ser humano pensa e age de forma diferenciada, o mesmo se aplica a concepção de trabalho para cada pessoa, ou seja, significação individual não o torna universal. A importância dada reflete na sua história de vida com o momento atual de cada sujeito. Compreendemos que cada indivíduo tem seu próprio conceito de trabalho, o que si estabelece uma variedade de conceitos e/ou significados, mas estes não são independentes do contexto histórico.” (BORGES; YAMAMOTO, p. 27).

Para Daigo não foi diferente, o sentido atribuído foi através de sua representação, despertou no mesmo algo que faltava, existia uma lacuna, e diante do inesperado, de musicista a agente funerário, ou seja, de um extremo ao outro, em caminho opostos encontrou a esperança, o saber fazer. Preencheu o vazio que faltava, encontrou a realização pessoal no trabalho que exercia. Mesmo ter se encontrado nesta profissão, pois houve identificação, tinha um pesar, existia sofrimento por parte dos familiares, e do próprio Daigo, era um momento intenso, cheio de angústias, e isso pairava no ar, era sentido por todos que estavam presentes.

Mas aquele trabalho era necessário e deveria ser feito com propriedade, mesmo sendo árdua a tarefa, mas Daigo fazia com destreza, pois era necessário e precisava dar o seu melhor. “[…]o trabalho humano, esta atividade determinada e transformadora tantas vezes penosa e contudo necessária.” (ALBORNOZ, p. 7). O filme também faz refletir sobre o trabalho nesse mundo totalmente capitalista, onde muitos irão ter sucesso e outros irão experimentar sofrimento por diversos motivos, pois a maneira acelerada do processo de globalização os torna alienados.

Este filme demonstra que a realidade do mercado de trabalho nos impulsiona a procurar alternativas para sobrevivência, nas mais diversas formas de trabalho, mas o que cada um procura além da sobrevivência? O filme nos mostra que o ‘sentido’ é chave da não alienação, da realização, e do encontro consigo mesmo. O trabalho por sua vez é demonstração de homem e individualidade, em sua criação o homem se transforma, se apropria, e torna realizador de sua atividade, dando a entender que ambos não se separam, é pela atividade que exerço que demonstro quem sou, e isso é uma forma de preencher a vida, de torná-la possível em um ambiente tão competitivo e alienador. Para tanto, este filme foi recheado de muita emoção, e aprendizado.

REFERÊNCIAS:

ALBONOZ, Suzana. O que é trabalho. São Paulo: Brasiliense, 6º ED. 2004, p.7.

BORGES, Lívia de Oliveira; YAMAMOTO, Oswaldo H.  MUNDO DO TRABALHO: CONSTRUÇÃO HISTÓRICA E DESAFIOS CONTEMPORÂNEOS, p.27.

OLIVEIRA, Sidinei Rocha, et al. Buscando o Sentido do Trabalho, p. 11,6,10.

FICHA TÉCNICA DO FILME: 

A PARTIDA

Diretor: Yojiro Takita
Elenco: Kazuko Yoshiyuki, Kimiko Yo, Masahiro Motoki, Ryoko Hirosue;
País: Japão
Ano: 2008
Classificação: 12

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