Pica Pau: influência nos processos de desenvolvimento da criança

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Pica Pau é um personagem da série estadunidense produzido pelo estúdio Walter Lantz, distribuído pela Universal Pictures. Sua criação teve origem em novembro de 1940 pelas mãos dos produtores Walter Lantz e Ben Hardaway(desenhista). Sua primeira aparição foi de forma secundária em um desenho ( Andy Panda). Em 1957 ganhou seu próprio espaço com ” the woody woodpecker” de forma traduzida show do pica pau. Em um primeiro momento, pica pau aparece como um pássaro louco, de cores fortes e chamativas, porém com o passar do tempo, sofreu diversas modificações.

Fonte: encurtador.com.br/gsJ28

Um personagem de época marcante que ultrapassa gerações, embora alvo de críticas por muitos adultos, por ser considerado uma má influência nas crianças, graças a sua personalidade ambígua e teimosa. Muitas vezes taxado como louco, preguiçoso, inconsequente, agressivo, trapaceiro e desonesto, os adultos geralmente esperam que um desenho seja algo inocente com transmissão de alguma lição ou positividade. De acordo com a visão Bettelheim os contos de fada trazem, em suas versões originais, um conteúdo riquíssimo para a formação psicológica da criança. Porém, à medida em que estes contos vão sendo adaptados, com estranha finalidade de “agradar” a sociedade, eles perdem o que tem de mais precioso: sua essência.

É nessa essência que embora pareça um pouco conturbada, podemos notar as diferentes manifestações psíquicas que o desenho nos traz e sua importância no processo de desenvolvimento da criança.

Noção de identificação

O fato de que existem vários personagens que representam o “mal” reforçando a ideia de que, a criança precisa ter algo ou alguém para descarregar a raiva, principalmente a que sente dos pais quando eles a impedem de fazer alguma coisa que queira muito. Os diversos personagens a serem enfrentados, remete para a criança um sentimento de que, o medo ou raiva que sente não é apenas dos pais, e que as mesmas também experimentam esse sentimento com outras pessoas( tios, avós, coleguinhas..) Além do fato de que o Pica-Pau não é sempre o ‘’bonzinho’’ trazendo a ambiguidade que demonstra; pessoas são boas e más .

Fonte: encurtador.com.br/nIK29

Objetos transicionais

Segundo Winicott existem objetos transacionais, que são a representação do próprio ‘’eu’’. No caso do Pica Pau sem dúvidas é sua risada marcante, que além de contar um certo deboche traz à tona conteúdos caóticos. Em um de seus bordões temos a seguinte fala: “‘Siga aquela motoca, siga aquele cavalo, siga aquela carroça, siga aquele chinesinho, siga a flecha, siga o chefe siga-me, olha, eu sou um bombardeiro…” (Pica-Pau). Para a criança não existe o caos, quem controla o mundo é o adulto, por isso elas se identificam muito com as transgressões de ordem.

Aprendendo a lidar com as consequências

O pássaro de cabeça vermelha não mede forças para derrotar seus inimigos, para as crianças os inimigos são os “chatos” e “implicantes” que não deixam elas fazerem o que querem, quando querem, logo elas fazem uma projeção justificando que o ato feito por ele foi certo. Quando ele não se dá bem chegam a ficar um tanto quanto frustradas, porém ao se ”dá mal” mostra às crianças que as mesmas precisam arcar com seus atos.

Vivenciando as diferenças

Em alguns episódios quando se veste de mulher, pode trazer algo representativo para muitas crianças, principalmente aquelas que se encontram em conflitos sexuais. Cada criança aprende e absorve os conteúdos de diversas maneiras, tudo depende do sentimento que passam pela sua mente, de forma inconsciente. Dessa forma o fato do pica pau se vestir de mulher pode ser encarado naturalmente, promovendo uma diversidade e aceitação.

Fonte: encurtador.com.br/dmE39

Não devemos apenas enxergar o personagem com nossa ótica moralista, mas entender que os trajetos do mesmo podem ser um ideal do inconsciente de diversas crianças, embora cada criança seja afetada de formas diferentes, o efeito causado surge no inconsciente ou pré- consciente da criança, emergido de diferentes situações conflituosas. A reflexão que fazemos é que se por um momento mudássemos a ótica do desenho seu sucesso não seria o mesmo, Pica Pau carrega em si um significado passivo de apreensão, principalmente para aqueles que se identificam, mesmo não tendo a mínima intenção de trazer lição alguma.

REFERÊNCIAS

RIBEIRO, Natássia Thais; SANTOS, Márcio dos. Da fantasia à realidade: uma análise, à luz da psicanálise, do desenho animado pica-pau. Campina grande, p. 1-9, 7 out. 2021. Disponível em: https://editorarealize.com.br/editora/anais/conages/2014/Modalidade_1datahora_18_05_2014_11_08_50_idinscrito_311_8c139e981403facaf411691b7348b4d4.pdf

PACHECO. Elza. As metáforas do Pica pau. Pesquisa Fasep. 2000 disponível em:https://revistapesquisa.fapesp.br/as-metaforas-do-pica-pau/. Acesso em 07/10/2021.

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Steven Universo – o olhar da sociedade sob o ‘diferente’ em “Off Colors”

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Steven Universo (ou Steven Universe, nos Estados Unidos) é uma série animada norte americana produzida por Rebecca Sugar para o canal televisivo por assinatura Cartoon Network. Você pode conferir mais sobre o desenho neste link.

No episódio “Off Colors”, ou “Descoloridas” em português, temos uma abordagem sobre o olhar da sociedade sob as pessoas consideradas diferentes.

Sinopse: Depois de escapar das diamantes, Steven e Lars encontram e fazem amizade com as “Descoloridas”, que são um grupo de Gems “defeituosas” que vivem escondidas da sociedade Gem.

Após Steven e seu amigo Lars terem escapado das Diamantes, vilãs principais do desenho, eles se encontram presos em um planeta diferente e sem possibilidade de escapar. Ao tentarem se esconder dos robôs que os perseguiam, acabaram caindo em uma caverna profunda, onde encontraram uma Rutilite conjunta, como irmãos siameses.

Ela diz que quer ajudar, e mesmo surpresos com a aparência dela, Steven e Lars se encontram sem opções e aceitam. Seguem Rutilite pelos túneis até encontrar um Jardim de Infância abandonado, onde outras gems fugitivas se encontravam.

 

As gems eram Padparadscha, Rhodonite e Fluorite, que explicam ser um grupo de gems não pertencentes àquela sociedade, pois eram consideradas defeituosas e anormais. Padparadscha não conseguia prever o futuro como as Safiras, apenas conseguia dar previsões de coisas que já aconteceram.

 

Rhodonite é uma fusão entre uma Pérola e uma Ruby, na sociedade gem apenas gems iguais podem se fundir, nunca diferentes, elas então foram sentenciadas a serem destruídas.

O mesmo aconteceu com Fluorite, que é uma fusão de 6 gems diferentes que convivem em harmonia.

Elas foram taxadas de “Descoloridas”, gems que são consideradas anormais e defeituosas e não tem uso para a sociedade, sendo forçadas a se esconderem indeterminadamente para não serem destruídas.

Na sociedade gem, cada gem possui uma função predeterminada. A fusão é permitida, mas apenas em casos de gems iguais, sendo uma alusão aos relacionamentos heteroafetivos do mundo real. No desenho, a fusão de gems diferentes foi vista com total estranheza pela sociedade gem, sendo considerada obscena e uma ofensa. Qualquer gem que fizesse isso seria destruída.

Rutilite e Padparadscha também nasceram diferentes. Rutilite nasceu siamesa, o que logo causou medo em todas as Rutilites comuns, que ficaram com medo e se afastaram dela, as considerando uma abominação.

Pink, magical, old?? — The Rutile Twins

Padparadscha é um tipo de Safira, mas diferente delas não consegue prever o futuro, apenas eventos que já ocorreram, sempre falando coisas que acabaram de acontecer em momentos do episódio. Ela faz uma referência sutil a atrasos cognitivos, como pessoas que possuem TDAH, dislexia ou autismo, que também sofrem preconceito e estigmas na sociedade

 

Posteriormente, Steven se torna amigo e acolhe as Descoloridas, dizendo que a Terra é um lugar que também possui gems como elas, sendo um lugar livre para serem elas mesmas sem precisar viverem escondidas ou preocupadas com preconceitos, abrindo uma nova possibilidade de vida para o grupo.

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Steven Universo – diferentes configurações familiares em “Fusion Cuisine”

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Steven Universo (ou Steven Universe, nos Estados Unidos) é uma série animada norte americana produzida por Rebecca Sugar para o canal televisivo por assinatura Cartoon Network. Você pode conferir mais sobre o desenho neste link.

No episódio “Fusion Cuisine”, ou “Jantar em família” em português, temos uma abordagem sutil sobre família e suas novas configurações na contemporaneidade.

Sinopse: Steven vai conhecer os pais de Connie e para que isso aconteça, Steven pede para as Gems se fundirem para fazerem o papel de sua mãe.

O episódio começa com Steven e Connie assistindo uma série de televisão de drama hospitalar. Connie agradece por poder assistir com Steven, pois é uma série que sua mãe não a deixaria assistir em casa. Em seguida, sua mãe liga, pedindo para falar com a mãe de Steven, ele então explica que sua mãe não existe mais, pois desistiu de sua forma física para dar vida a Steven. Connie diz que não pode dizer isso para a mãe dela, então Steven pede para que Garnet finja ser a mãe dele no telefone, o que não dá muito certo pois Garnet fica ansiosa e entra em pânico.

No dia seguinte, Steven chama Connie para sua casa para assistir TV novamente, mas ela diz que seus pais a proibiram de saírem juntos enquanto não conhecerem os pais de Steven. Ele diz que poderia levar Garnet, Ametista e Pérola para um jantar com eles, mas Connie é contra a ideia, pois disse aos seus pais que Steven possui uma familia nuclear. Steven não entende e diz que sua família não é radioativa, mas Connie explica que uma família nuclear consiste em um núcleo de pai, mãe e filho(s). Steven diz para ela apenas explicar a situação das gems, mas Connie tem medo de seus pais acharem que ela está mentindo e a proibir de sair com Steven novamente.

Posteriormente, Steven tenta decidir quem levar para o jantar no papel de sua mãe, mas tem dificuldades pois diz que Ametista não tem muitos modos, Garnet é série demais e não conversa, e Pérola não gosta de comer. Com isso, Steven propõe que elas se fundam para acompanha-lo no jantar, pois considera as 3 como mãe, e embora elas rejeitem a ideia de primeira, logo acabam aceitando tendo em vista em como isso era importante para Steven.

No jantar, Steven aparece 20 minutos atrasados com seu pai Greg que apresenta Alexandrite, a fusão entre Ametista, Pérola e Garnet, como sua esposa. Steven começa a inventar histórias sobre como eles se conheceram e o que eles fazem, mas Connie se expressa muito descontente. Durante o janter, o comportamento de Alexandrite se apresenta instável, Connie então chama Steven para conversarem em outro lugar. Connie reclama por ele ter trazido uma fusão pro jantar, e Steven percebe que ela ainda utiliza óculos, mesmo ele há alguns dias tendo curado os problemas de visão de Connie com seus poderes. Ele então começa a suspeitar e questiona se Connie tem vergonha dele e de sua família, por não serem comuns, e eles retornam para a mesa.

De volta ao jantar, Alexandrite começa a desestabilizar ao tentar comer camarão, que Ametista gosta, mas Pérola não, e a discórdia acaba fazendo com que a fusão acabe. Garnet briga com as duas por terem colocado suas necessidades a frente dos desejos de Steven, enquanto os pais de Connie brigam com ela por ter mentido.

Connie e Steven saem correndo, querendo fugir para serem amigos sem precisar se preocupar com a desaprovação dos pais de Connie, mas Alexandrite se funde novamente e vai atrás deles, fazendo-os voltar.

Com isso, as gems dão uma bronca em Steven, explicando o quão perigoso seria se eles tentassem fugir, e dão um castigo nele, o deixando sem televisão. Steven fica triste, mas Greg e as gems dizem que fizeram isso porque amam Steven.

Os pais de Connie ficam impressionado com as habilidades da família de Steven em lidar com a situação, e os admiram pela demonstração de afeto, mesmo eles sendo uma família fora do comum ainda são funcionais a sua maneira. Eles ficam felizes por Steven possuir uma representação parental tão boa e permitem Connie de sair com Steven novamente.

Com isso, o episódio termina mostrando Steven e sua família fora dos padrões resolvendo uma situação cotidiana, de maneira funcional e natural. Connie e seus pais, que estavam receosos com a diferente configuração familiar de Steven por possuir um pai e três cuidadoras incomuns, passam a ficar tranquilos e familiarizados com as diferenças.

 

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Eugenia e etnocentrismo, uma sociedade segregada

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A luta pela sobrevivência deflagrou uma nova ideologia para melhorar a raça humana por meio da ciência.

Quando Charles Darwin escreveu sobre a seleção natural e difundiu a ideia de que a sobrevivência dos organismos dependia de sua adaptação no ambiente, importantes pensadores inclinaram-se sobre este conceito e destilaram novas teorias. A luta pela sobrevivência deflagrou uma nova ideologia para melhorar a raça humana por meio da ciência.

Francis J. Galton é o nome associado ao surgimento da genética e da eugenia, que significa “bem nascer”. Teorizando, seria o estudo dos fatores socialmente controláveis que podem elevar ou rebaixar as qualidades raciais das gerações futuras, tanto física quanto mentalmente. Por meio de casamentos e uniões seletivas, Galton acreditava que poderia modificar a natureza das pessoas, separando aqueles que supostamente eram “perfeitos” e preservando assim a qualidade das futuras gerações.

A degeneração biológica passou a ser uma preocupação e a proibição de uniões indesejáveis era algo bastante coercivo. Propostas políticas de higiene ou profilaxia social passaram a surgir em vários países, dentre eles o Brasil. Em 1923, foi fundada a Liga Brasileira de Higiene Mental, pelo psiquiatra Gustavo Riedel, que ganhou sustentação nos pressupostos eugenistas, atingindo, posteriormente, o campo social. A eugenia era vista por Riedel como o “paraíso terrestre”, reafirmando os pressupostos de Renato Kehl, o mentor da eugenia no Brasil.

Fonte: https://goo.gl/qmFsfJ

“A mulher é vigiada não apenas para ter um feto saudável, com saúde perfeita.” – — Breno Rosostolato

O aspecto cultural e social da eugenia é o que chama a atenção, em vários países, inclusive o Brasil. As explicações para as crises econômicas e políticas isentavam as elites e imputavam toda a responsabilidade ao povo. Ou seja, os problemas de uma sociedade eram justificados através de uma constituição étnica e na presença de raças inferiores.

Na Alemanha, a Lei de Nuremberg, alicerçada nos pressupostos eugênicos, proibia o casamento de alemães com judeus, o casamento de pessoas com transtornos mentais, doenças contagiosas ou hereditárias. Propunha-se a esterilização de pessoas com problemas hereditários e que poderiam comprometer a saúde da raça ariana, associado a isso toda a perversidade e crueldade de uma mente doentia de um ditador como Hitler, que desejava conquistar o mundo. O documentário “Homo Sapiens – 1900”, do diretor sueco Peter Cohen, aborda de maneira enfática as práticas eugênicas durante o holocausto. Um verdadeiro genocídio cruel e injustificável.

Esta concepção de eugenia traduz-se, hoje, no biopoder difundido por estudiosos e intelectuais, com o propósito de estudar estratégias de intervenção sobre a vida cotidiana. Entretanto, alguns preconceitos revelam-se como absurdos propagados pelo biopoder, pois se atribuem à marginalização de “raças inferiores” os conflitos sociais, a pobreza, o aumento da violência, as drogas e por aí vai. Questões como o racismo e o sexismo são reveladas. O aconselhamento genético, por esse ponto de vista, é um espaço de poder e controle, ancorado nas concepções dessa nova genética, determinando a subjetividade das pessoas, pois não temos identidade, mas bioidentidades.

Fonte: https://goo.gl/81DHAU

A mulher é vigiada não apenas para ter um feto saudável, com saúde perfeita. O seu corpo sofre muito mais intervenções médicas, comparado ao do homem. A identidade da mulher é influenciada por essas exigências. Na maioria dos casos, o homem permanece numa posição despreocupada. São inúmeros as técnicas e procedimentos resultantes do biopoder como controle populacional e de natalidade, fertilização in vitro, diagnóstico pré-natal e pré-implantação, aborto terapêutico e clonagem reprodutiva.

Métodos científicos estão a serviço da saúde e da sociedade e possuem como alicerces ideológicos um controle adequado e seguro de doenças, a ponto de antever o surgimento de deficiências ou patologias congênitas, do crescimento descontrolado da população e, por último, o mapeamento do DNA. A genética é a área que se utiliza desses estudos científicos, difunde conceitos, ponderações e determina os aspectos adequados para a existência humana. São métodos eugênicos que estão por trás desses propósitos de prever eventuais problemas.

Porém, a eugenia não cessou. Este movimento social reforça o conceito de etnocentrismo que impera no mundo. Sociedades segregadas por diferenças religiosas são motivos para guerras infinitas e exterminações sumárias. A intolerância sexual, como a misoginia e o antifeminismo, assassina mulheres simplesmente por serem mulheres. A homofobia, lesbofobia e transfobia são intransigentes quanto às identidades sexuais, uma visão rebuscada da heteronormatividade. O racismo é enraizado na sociedade e se manifesta de maneira escancarada, para quem quiser ver. Vivemos um momento social em que essas seleções naturais são praticadas sim, defendidas amplamente por extremistas, fanáticos e radicais. Um sectarismo que não admite a opinião contrária, uma pasteurização social que assola e enfraquece esta infeliz civilização. Civilização?

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Casamento contemporâneo: convívio entre individualidade e conjugalidade

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Em “Casamento contemporâneo: o difícil convívio da individualidade com a conjugalidade”, a autora Terezinha Féres-Carneiro aponta para a complexidade dos relacionamentos conjugais e da lógica do um ser dois e dois ser um. Segundo ela, a maior dificuldade em se tornar casal está no fato de serem dois indivíduos, duas perspectivas de mundo, duas histórias de vida, dois projetos de vida, duas identidades diferentes. Na relação amorosa, esses dois sujeitos se deparam com uma identidade de casal, um projeto de vida de casal, uma história de casal, perdendo um pouco da individualidade de cada um.

Fonte: http://zip.net/bxtJW4

 

O casamento sempre foi, antes de mais nada, um vínculo criado entre duas famílias com o intuito de garantirem a própria proteção, ao se tornarem mais fortes e unindo os bens considerados essenciais para a sobrevivência. Com isso, Levi-Strauss aponta que a proibição do incesto estava mais para uma regra de ceder a mãe, a irmã ou a filha para outrem, sendo esse um aspecto da formação e organização das sociedades humanas. Antes, como o casamento era um meio para manter a existência humana, seja pela união de famílias, seja pela procriação, era visto que o amor e o prazer estavam desvinculados dessa instância da vida dos sujeitos, sendo esse amor e prazer encontrados em uma vida extraconjugal. Logo, percebe-se que a fidelidade não era um quesito notável.

Porém, um novo modelo de casamento surge no Ocidente, repercutindo até os dias atuais.  É o casamento por amor, onde ambos os envolvidos precisam amar-se para dar esse grande passo. Também apresenta-se o amor-paixão, em que o erotismo entra na dinâmica  conjugal, sendo agora o casamento um espaço parao exercício do amor e do prazer. Então, a fidelidade conjugal passa a ser uma atitude esperada pelos casados. Por fim, a autora enfatiza a dificuldade do relacionamento conjugal contemporâneo, época em que as individualidades se fazem com forte presença. Assim, o casamento tornou-se mais um modo de satisfação de cada cônjuge do que a satisfação dos desejos em comum do casal. Dessa forma, a relação só se manterá enquanto ela estiver atendendo as necessidades individuais de cada um.

Fonte: http://zip.net/bmtHYk

 

Portanto, percebe-se que o casamento, hoje, está sob o livre arbítrio dos sujeitos, podendo eles escolherem com quem e se desejam realmente se casarem. É espaço para o amor e o prazer, mas continua sendo também espaço de proteção dos envolvidos. O fato é que, se escolher entrar nessa dinâmica, é necessário deixar um pouco de lado o individualismo, contribuindo assim para a manutenção da relação conjugal.

REFERÊNCIAS: 

CARNEIRO, F.  T. Casamento contemporâneo: o difícil convívio da individualidade com a conjugalidade. Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, 22.07.98.

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Educação inclusiva: saberes e práticas para lidar com as diferenças

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No dicionário podemos ler o significado de inclusão como o ato ou efeito de incluir. Ao lermos esse significado percebemos o quanto é necessário lutarmos para que haja verdadeiramente a inclusão dentro de nossa sociedade.

Aqui trataremos especificamente da inclusão de alunos com deficiências dentro das escolas. A presença cada vez maior de alunos com deficiência intelectual no sistema educacional convencional está fazendo com que as escolas reflitam sobre a necessidade de adaptar seus conceitos pedagógicos.  Segundo o Censo Escolar, entre 2005 e 2011, as matrículas de crianças e jovens com algum tipo de necessidade especial (intelectual, visual, motora e auditiva) em escolas regulares cresceu 112% e chegou a 558 mil.

O trabalho de inclusão de alunos com deficiência é um desafio para as escolas, uma vez que ainda é muito difícil lidar com a diferença, principalmente no ambiente escolar.

A inclusão é uma inovação, cujo sentido tem sido muito distorcido dentro das escolas e do ensino regular. Inserir alunos com déficits de aprendizagem dentro das salas de aula, nada mais é que garantir o direito de todos à educação, garantido pela Constituição.

Procuramos descobrir como de fato acontece essa inclusão dentro das Escolas de Ensino Regular e, para isso, fizemos algumas visitas à Escola Estadual Amâncio de Moraes, na cidade de Paraíso do Tocantins, que trabalha com salas de recursos para atender alunos com deficiência e também possui vários alunos especiais dentro das salas de Ensino Regular. A escola é referência no atendimento a alunos especiais, chegando até mesmo a ser procurada por outras escolas para auxiliar nesse trabalho.

O (En)Cena conversou com a Coordenadora Pedagógica da escola, Alcilene Caldeira, a fim de entender como é realizado esse trabalho tão desafiador.

(En)Cena Caldeira – Quantas crianças com algum tipo de necessidade especial estão matriculadas na escola?

Alcilene Caldeira – Atualmente são 21 alunos matriculados na sala de recurso, um local elaborado para atender os alunos com necessidades especiais. Além dos 21, há outros nove alunos que não estão inclusos na sala de recursos, pois não possuem laudo médico. Para que o estudante seja incluso na sala de recursos, é necessário que passe por um médico psiquiatra, psicólogo e neurologista, esses profissionais devem dar um laudo da doença.

(En)Cena – Quais os recursos adequados que a escola tem para dar assistência a esses alunos?

Alcilene Caldeira – Temos a sala de recursos, feita especialmente para os alunos especiais, na sala nós temos computador próprio para deficientes visuais e auditivos, jogos educativos acessíveis, ou seja, materiais apropriados pra eles. Também temos o privilégio de ter uma intérprete de libras.

(En)Cena – Quais os maiores desafios enfrentados por vocês professores em relação a lidar com os alunos especiais?

Alcilene – Diante das dificuldades, penso que a maior seja a da qualificação profissional ideal. Pelo fato de na sala de aula haver diversos deficientes, exigindo do professor uma capacitação adequada para cada tipo de deficiência, tornando o trabalho quase impossível..

(En)Cena – O conteúdo transmitido aos alunos especiais é o mesmo que é transmitido aos outros alunos?

Alcilene Caldeira  – O conteúdo passado para os alunos é o mesmo, a diferenciação vem na hora da avaliação.

(En)Cena – A inclusão aparece para mostrar que todas as pessoas são diferentes. Como a escola lida com essa diferença? Como é feita a inclusão na Escola Estadual Amâncio de Moraes?

Alcilene Caldeira  – Para que a escola possa lidar com essa diferença, o trabalho é contínuo. Aqui, os especiais são tratados normalmente. Claro que há problemas, pois os alunos são mais alterados que os demais, diante disso o cuidado com eles é redobrado, os horários entre os alunos são os mesmos, tanto no intervalo quanto nas salas de aula.

(En)Cena – Os alunos especiais sentem-se integrados com os demais alunos?

Alcilene Caldeira  – Os alunos especiais se sentem integrados diante dos outros. Escola nenhuma em Paraíso vocês encontram uma sala regular com alunos especiais. Alunos estes com Síndrome de Down, Deficiência Mental entre outras deficiências. Os pais ficam admirados com o trabalho que os professores fazem.

(En)Cena – A escola tem algum programa/programação específico(a) para os alunos com necessidades especiais?

Alcilene Caldeira – Quanto às programações específicas para os alunos, a escola desenvolve um projeto durante uma semana inteira voltado para os alunos especiais, todos se mobilizam para a realização do projeto.

(En)Cena – Como é o apoio do governo? O que ainda falta para melhorar o atendimento a esses alunos?

Alcilene Caldeira – Com relação à contribuição do governo, o auxilio é pouco. Porque em Paraíso, nós somos a única escola que trabalha com esta inclusão. Temos os alunos na sala de recursos, e também alunos matriculados na sala regular. Por exemplo, temos uma sala de 17 alunos onde 6 deles são especiais. É muito difícil pelo fato de ainda faltar material pedagógico e capacitação dos profissionais em sala de aula.

Ao conversar e vivenciar um pouco dessa realidade percebemos que a inclusão exige uma mudança de mentalidade de todos e requer muito mais que recomendações técnicas para que aconteça realmente. É necessário entendermos que somos seres humanos e vivemos em um contexto embasado na diversidade. Essa educação inclusiva só será feita verdadeiramente quando passarmos a valorizar a diversidade em que vivemos.

A escola inclusiva não faz distinção entre seres humanos, não seleciona, não diferencia baseado nos conceitos de perfeitos ou imperfeitos, “normais” e “anormais”. Ela oferece oportunidades livre de preconceitos.

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