Teve início na manhã desta quarta, dia 3, a 6ª edição do CAOS – Congresso Acadêmico de Saberes em Psicologia, com o tema “Psicologia e Atuação Psicossocial em Situações de Emergência”, um tema que gerou muita expectativa ao ser divulgado. O esquenta cultural que começou as 08h45 dessa manhã de quarta-feira teve muita música com Victória Cardoso, e a cerimônia de abertura contou com a participação do Reitor Marcelo Müller, o pastor Heitor Stahnke e a coordenadora do curso de psicologia Dra. Irenides Teixeira.
Fonte: Divulgação CAOS
A palestra que tratou do Impacto na Atenção Psicossocial e Saúde Mental da População de Brumadinho Após a Tragédia, contou com a brilhante apresentação do especialista em saúde mental e Mestre em estudos psicanalíticos Bernardo Dolabella Melo e mediação do Prof. Me. Sonielson Luciano de Sousa, e foi transmitida pelo Youtube no canal do curso de Psicologia do Ceulp/Ulbra.
A tragédia que aconteceu em Brumadinho, no ano de 2019, não foi só um desastre ambiental, mas o maior acidente de trabalho no Brasil e tirou a vida de 264 pessoas e outras continuam desaparecidas. O rompimento da barragem da Vale S.A. teve impacto na economia, no abastecimento de água da região e impactos ambientais gigantescos, principalmente no Rio São Francisco e Paraopeba que mesmo após um ano continuam contaminados, mas o impacto social se sobressai, regiões inteiras tiveram que ser evacuadas e muitas pessoas perderam tudo que tinha, isso impacta diretamente na visão de futuro das pessoas, saúde mental e do senso de comunidade.
O Me. Bernardo Dolabella começou a palestra com uma introdução a história da psicologia dos desastres e emergências, uma área relativamente nova da psicologia que mostra como deve ser a atuação dos profissionais de psicologia nesses casos. Os estudos sobre os eventos de desastre e emergência são aproveitados para que os profissionais e a população estejam cada vez mais precavidos em eventos futuros, como disse o palestrante: “Todo caos gera um aprendizado”.
Fonte: CAOS
Durante a apresentação os participantes do congresso comentavam no chat, fazendo pontuações e questionamentos sobre o assunto. Isso ocorreu durante todo o evento, e o professor se mostrou disponível para esclarecer as dúvidas, que foram muitas já que ele participou pessoalmente do acidente em Brumadinho juntamente com uma equipe de 40 psicólogos voluntários. Segundo o Me. Bernardo Dolabella o principal objetivo dos psicólogos(as) nesses casos é oferecer um espaço para as pessoas depositarem suas dores e incentivar o resgate da autonomia.
O primeiro evento do CAOS resumiu bem o clima do congresso, assuntos muito interessantes, alunos e professores engajados em trabalhar juntos para compartilhar conhecimento, uma grande satisfação com a oportunidade de ter contato com essa área da psicologia que é tão importante atualmente e a empolgação para os demais eventos da semana. Para se inscrever basta entrar no site e seguir a programação.
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Caos 2021: A negligência na assistência psicossocial primária como fonte de psicopatologia
O Centro Universitário Luterano de Palmas – CEULP/ULBRA informa que irá de forma online promover o Congresso Acadêmico de Saberes em Psicologia- CAOS, que ocorrerá entre os dias 03 e 06 de Novembro de 2021, com o tema: A Psicologia e Atuação Psicossocial em situação de emergência. Inscrições pelo site. O evento irá ocorrer via Google Meet e também pelo Youtube.
Dentre as programações do congresso, haverá a mesa redonda com subtema: A negligência na assistência psicossocial primária como fonte de psicopatologia. A ocorrer dia 05/11 às 9h via Youtube.
Contará com a participação da Psicóloga Thays Stephanie Costa de Sousa, graduada pela Universidade Positivo direcionada à Psicologia Hospitalar e atualmente Residente em Urgências e Emergência em São José dos Pinhais-PR.
Fonte: encurtador.com.br/afiCF
Outra convidada a compor a mesa será a Psicóloga Dhieine Caminski, graduada pela Universidade do Vale do Itajaí (UNIVALI), Especialista em Atenção Básica/Saúde da família, tendo sido responsável pela Gerência de Saúde Mental da Secretaria da Saúde de Palmas/TO.
Fechando a composição da mesa; a psicóloga Marilena Ribeiro, graduada pelo Ceulp/Ulbra, egressa, com atuação no Centro de Referência da Assistência Social, no Centro de Atendimento Sócio Educativo do Governo do Estado/TO, psicóloga Redutora de Danos no Projeto Palmas Que Te Acolhe, atualmente psicóloga clínica.
Na mesa redonda será explorada a Atenção Primária em Saúde e a Assistência Psicossocial, considerando como parte indivisível da Instituição Saúde as demandas sociais; reconhecendo que o surgimento da Rede de Atenção Psicossocial se deu após a Reforma Psiquiátrica, onde adoecimento mental ganhou outro viés, reconhecendo variáveis sociais, e que psicopatologias não são isoladas em sinais e sintomas, destacando que quando saúde psicossocial é negligenciada vira situação de intervenção em urgência e emergência.
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CAOS 21: Documentário aborda o desastre de Brumadinho
21 de setembro de 2021 Maria Isadora Dama Silva
Mural
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Dentro do Congresso Acadêmico de Saberes em Psicologia – CAOS 2021 haverá o Psicologia em Debate com foco no tema “Recomeço Brumadinho”. O evento ocorrerá no dia 03 de novembro de 2021 das 14 às 17 horas, por meio de uma sala no Google Meet, com a presença da facilitadora Camila de Menezes Brusch. O Psicologia em debate é um espaço acadêmico, onde durante o Congresso serão abordados documentários com foco na temática sobre a Psicologia e Atuação Psicossocial em Situação de Emergência.
O desastre ambiental em Brumadinho ocorreu devido o rompimento de uma barragem da empresa Vale. Gerando uma liberação de vários litros de lama que ocasionou morte de dezenas de pessoas. Brumadinho está localizada no estado de Minas Gerais, a barragem rompeu no dia 25 de janeiro de 2019. No documentário de 30 minutos e 37 segundos, apresenta histórias dos sobreviventes e o fundamental trabalho da defensoria pública.
Fonte: encurtador.com.br/bijsy
A Defensoria Pública se instalou em Brumadinho devido ao desastre, antes não havia um na cidade. A Defensoria serviu como voz para os moradores que estavam aterrorizados, triste e desamparados, muitos dos sobreviventes não têm estudo, para lutarem pelos seus direitos. A Defensoria atuou cobrando da Empresa Vale indenizações, cobrando que arcassem com despesas médicas, de fisioterapeutas e psicólogos. Recomeçar segundo uma sobrevivente é impossível, mas aprenderam a lidar com a nova realidade, com apoio da Defensoria foi fundamental para retomada das vida cotidiana das pessoas.
Diante disto, qual o papel da psicologia após esse desastre? Como deve ser nossa atuação diante de uma situação de Emergência? Tema abordado terá como ênfase estes questionamentos. Para participar do evento cadastre-se pelo site, evento totalmente online que ocorrerá do dia 03 a 06 de novembro. O congresso de Psicologia tem como foco profissionais e estudantes da Psicologia.
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Violência autoprovocada – (En)Cena entrevista a psicóloga Laurilândia Silva
Violência autoprovocada é um assunto que requer muita atenção e precisa ser discutido entre o meio social, pois a cada dia as ocorrências desta prática ficam mais frequentes. Compreender sobre o processo, desenvolvimento e tratamento é fundamental para a qualidade de vida de quem apresenta essa demanda. Por isso, o Portal (En)Cena convidou a psicóloga Laurilânida O. Silva, Especialista em Saúde da Família Comunidade e atuante no atendimento de pessoas com comportamentos suicidas para uma entrevista sobre o tema.
Fonte: Arquivo Pessoal
Laurilândia O Silva, é psicóloga formada pelo Centro Universitário Luterano de Palmas/Universidade Luterana do Brasil e Especialista em Saúde da Família e Comunidade pelo Programa de Residências Integradas/PIRS FESP Palmas -TO. Possui experiência na área da saúde atuando em diferentes cenários como no Núcleo Ampliado de Saúde da Família e Atenção Básica (NASF-AB), no NUPAV – Núcleo de Prevenção de Violência e Acidentes e Promoção da Saúde, Centro de Educação Inclusiva com crianças e adolescentes com deficiência como bolsista do programa “Palmas Para Todos” no município de Palmas – TO. Atualmente atua como psicóloga, bolsista-pesquisadora do programa “Palmas para Todos”, em um projeto voltado ao público que apresenta comportamento suicida em Palmas – TO e no Nasf-AB.
(En)Cena – Defina o conceito de violência autoprovocada e suas formas.
Laurilândia O. Silva – O termo violência autoprovocada, também conhecido como violência autoinfligida é o ato de provocar algum dano a si mesmo, é uma autolesão deliberada, intencional que pode ser dividida em comportamento suicida e autoabuso.
O comportamento suicida é subdivido em pensamentos ou ideação suicida, tentativa de suicídio e o suicídio completo. Alguns autores definem o autoabuso como os atos de automutilação. Giusti, (2013) define a automutilação como “qualquer comportamento que envolva a agressão intencional ao próprio corpo, sem que haja intenção consciente de suicídio”.
A política Nacional de prevenção da automutilação e do Suicídio de abril de 2019, define por violência autoprovocada, o suicídio consumado, a tentativa de suicídio e o ato de automutilação, com ou sem ideação suicida. A pessoa que comete violência contra si próprio, pode não ter uma intenção suicida, ou seja, não apresentar a vontade de causar a morte.
Fonte: encurtador.com.br/dFL35
(En)Cena – Quais os fatores desencadeantes para as práticas de autoagressão?
Laurilândia O. Silva – O suicídio e as outras formas de violência autoinfligida “é um fenômeno multifatorial, multideterminado e transacional que se desenvolve por trajetórias complexas, porém identificáveis”, essa é a definição da organização das nações unidas em 1960.
Essas trajetórias complexas, podem ser chamadas de fatores de risco, de acordo com Botega (2015) a natureza desses fatores de risco é variável, há influência da genética, de elementos da história pessoal e familiar, de fatores culturais e socioeconômicos, de acontecimentos estressantes, de traços de personalidade e de transtornos mentais.
(En)Cena – Como ocorre o atendimento psicológico emergencial para quem pratica?
Laurilândia O. Silva – É importante estar atento aos sinais que a pessoa que tem a intenção de cometer suicídio emite, o suicídio pode ser previsível. Sinais como pedidos de desculpa e de perdão aos familiares, pequenos bilhetes, versículos da Bíblia e poesias, compras de certos objetos como cordas e escadas.
Se a pessoa apresenta ideação suicida, ou seja, ela tem pensado em cometer suicídio, ou tenha um plano elaborado para executar o suicídio e fala frases do tipo: “Tenho vontade de dormir e não acordar mais”, “sou um fracasso”, com planejamento ou não, é importante que a pessoa procure ajuda profissional.
Fonte: encurtador.com.br/blnx6
No serviço público essa pessoa pode procurar atendimento em uma Unidade Básica de Saúde ou CAPS- Centro de Atenção Psicossocial. Casos em que a pessoa realizou a tentativa de suicídio, a orientação é que ela procure, seja levada por alguém ou pelo SAMU ou Corpo de Bombeiros a um serviço de urgência e emergência como Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) e HGP- Hospital Geral de Palmas.
Recomenda-se que um familiar acompanhe o intento suicida nas consultas iniciais para receber orientações. No primeiro atendimento é importante avaliar o risco da intencionalidade em cometer o suicídio, realizar orientações para afastar meios letais, sensibilizar para a importância de seguir as orientações médicas e tratamento medicamentoso, identificar pessoas significativas para o intento suicida e obter apoio, essas são ações que são tomadas de imediato para prevenir uma nova tentativa com sucesso.
(En)Cena – Como pode ser constituída a rede de apoio desses pacientes?
Laurilândia O. Silva – O apoio de familiares e amigos, instituições religiosas, escolas e universidades, profissionais de saúde e trabalhadores do Sistema Único de Assistência Social, pode constituir a rede de apoio ao intento suicida.
(En)Cena – Quando e como os profissionais devem verificar se alguém está praticando a automutilação? E como as pessoas em geral, podem analisar? Se essa suspeita é confirmada, como deve proceder?
Laurilândia O. Silva – Muitos profissionais de saúde, amigos e familiares sentem receio em abordar o tema do suicídio e da automutilação, mas a estratégia é perguntar, é questionar em uma linguagem clara e direta. Muitas pessoas acreditam que perguntar sobre a intenção de tirar a própria vida, pode contribuir para que o suicídio aconteça, isso é um mito muito comum. Algumas sugestões de perguntas são: você pensa muito sobre morte, sobre pessoas que já morreram, ou sobre sua própria morte? Você pensou em suicídio durante essa última semana?
Fonte: encurtador.com.br/cfTY9
Outra estratégia para verificar se alguém está praticando a automutilação é observar cicatrizes nas partes do corpo, observar se houve mudança na forma como a pessoa se veste, por exemplo, começa vestir roupas de mangas compridas em um ambiente quente, na intenção de esconder machucados e cicatrizes. Ao perceber esses sinais os profissionais, familiares e amigos, podem perguntar sem julgamentos sobre o que está acontecendo e ofertar ajuda, procurando algum serviço de saúde.
(En)Cena – Como a família, escola, sociedade e instituições religiosas podem contribuir como rede de apoio a essas pessoas?
Laurilândia O. Silva – A família, escola, sociedade e instituições religiosas como dito anteriormente compõem a rede de apoio de uma pessoa que apresenta comportamento suicida. Essa rede pode contribuir na desmistificação de preconceitos e estigmas em torno da violência autoprovocada. Evitar compartilhar em redes sociais vídeos, fotos, cartas de despedidas e formas de praticar o suicídio, também são estratégias de contribuir para prevenção e apoio aos familiares do intento suicida. Promover espaços de reflexão e aprendizagem sobre o tema, com profissionais de saúde e estudiosos do tema. Incentivar a busca por ajuda.
(En)Cena – A partir da sua experiência, considera que o ensino acadêmico no curso de psicologia é eficaz para a prática profissional do psicólogo?
Laurilândia O. Silva – Com base na minha experiência acadêmica, percebi que o que aprendi sobre violência autoprovocada, aprendi na prática profissional, em supervisões, apoio técnico e leituras. O ensino acadêmico abordou pouco sobre o tema e não foi eficaz para a minha prática. Acredito que seja importante que o acadêmico de psicologia aprenda e desenvolva competências para atuação com o comportamento suicida, principalmente se o acadêmico pretende atuar na rede pública de saúde, no SUS.
(En)Cena – Deixo um espaço livre para indicações de leituras, orientações e sugestões.
Laurilândia O. Silva – Minha sugestão é que quem tiver curiosidades existem algumas organizações que trabalham ofertando apoio a sociedade, fazer parte dessas organizações ou procurar conhecer pode ajudar no entendimento sobre o tema:
Esse relato descreve a experiência mais traumática pela qual minha família passou: o meu marido (Andréia Nunes), caiu de uma altura de seis metros, no dia 22 de outubro de 2018, por volta das 11h40min, na região norte da cidade de Palmas -TO.
Fernando estava terminando um trabalho de manutenção de um ar condicionado em cima do telhado de um edifício quando, de repente, o telhado abriu debaixo de seus pés e ele caiu por esse buraco que foi aberto, quebrando o gesso, até cair em pé, de uma altura de 6 metros de altitude. Ao cair, outras pessoas que estavam no local, acionaram o serviço do corpo de bombeiro. Após 15 minutos, o resgate chegou e Fernando foi levado para o Hospital Geral de Palmas – (HGP).
Eu o esperava para o almoço, o qual ele não apareceu e nem avisou. Mal sabia eu que horas depois seria informada, pela nossa filha, de que ele não foi almoçar porque havia caído de uma altura de seis metros e estava todo “quebrado” no pronto socorro do HGP. Quando recebi essa notícia, já era por volta das 15h e me locomovi de imediato ao HGP, me recordo muito bem da maca amarela.
Como relatado anteriormente, ao chegar na ambulância, Fernando deu entrada no Pronto Socorro e, após procedimento de internação, começaram os exames, iniciando com uma tomografia. Bem, tomografia feita e as surpresas dolorosas começaram: fraturas com esmagamento de calcâneo, fraturas com achatamento de uma vertebra e fraturas nas demais vertebras. Assim, foi internado em quatro setores: neurocirurgia, ortopedia, cirurgia geral e clínica. Na maioria do tempo estava sob efeito de fortes remédios para aguentar a dor e acabava dormindo. O medo de que ele ficasse paralítico foi tomando conta do meu ser e o choro insistia em permanecer. Era um misto de aflição, angústia, de pavor mesmo, mas eu não deixava ele perceber.
Permanecemos no Pronto Socorro por 24hs, e por várias delas ele ficou em cima da maca amarela da ambulância do Corpo de Bombeiro, e eu em uma cadeira de “macarrão” emprestada, temporariamente, por uma acompanhante. Depois, conseguimos uma cama e a maca foi devolvida para a ambulância. Mesmo com os corredores lotados de pacientes em suas macas, os procedimentos eram feitos pelos médicos e guerreiros profissionais da enfermagem.
Em seguida fomos para outra internação, dessa vez na neurologia, até saber se ele iria fazer a cirurgia na coluna ou se o tratamento seria tradicional com uso de coletes e medicamentos. Então, permanecemos por mais quatro dias, seguindo com todos os protocolos e exames: dos mais simples, como medir a temperatura e a pressão arterial, aos mais complexos e de ponta, como a ressonância magnética e a tomografia computadorizadas.
O que mais me chamou a atenção no HGP foram os vários profissionais envolvidos no seu atendimento – equipe multiprofissional: a assistente social que nos acolheu muito bem, a nutricionista que trocava o cardápio ou colocava algumas frutas que ele gostava, a alimentação é um grande diferencial para os pacientes e era realmente muito saborosa, as enfermeiras e técnicas em enfermagem foram de um cuidado, atenção e carinho com o meu marido que em alguns momentos me deixava emocionada. Finalizamos a temporada nesse setor com a alta e a indicação do tratamento prescrito pelo médico neurocirurgião.
Apesar da graça de Deus e sabendo que realmente foi um milagre, pois meu marido não veio à óbito e nem ficou paralítico, as notícias ainda continuavam preocupantes. O medo e a ansiedade tomaram conta do meu ser, pois sabia que, quando chegasse a hora da internação no setor ortopédico, as coisas iriam se complicar. Naquele momento tinha uma lista de 162 pacientes esperando para fazer cirurgias ortopédicas e o nome do Fernando nem estava na lista ainda, frequentemente eu ouvia: “os ossos vão calcificar, terão que quebrar novamente, pode demorar meses”. Andando pelos corredores para me acalmar depois que ele dormia, resolvi subir mais um andar até chegar na ortopedia para saber como estava o nível de internação no setor e, mais uma vez fiquei preocupada, pois havia macas nos corredores com pacientes por todos os lados.
Após mais uma alta de internação e início da internação na Ortopedia, resolvemos com ajuda de colaboradores não aguardar a cirurgia ortopédica no HGP e recebemos alta total. Uma ambulância foi acionada para levarmos para casa e após três dias em casa a cirurgia no calcanhar (onde foi colocado sete parafusos e uma placa) foi realizada em um hospital particular. De volta para casa, uma equipe da atenção primária do Centro de Saúde da Comunidade do meu território, passou a atendê-lo com trocas de curativos por um longo período. (PORTARIA Nº 2.436, DE 21 DE SETEMBRO DE 2017. Diretrizes: cuidado centrado na pessoa, resolutividade, longitudinalidade do cuidado e coordenação do cuidado). Enfim, todo o processo de cura, entre cadeira de banho, coletes, cadeira de roda e muletas, durou aproximadamente um ano.
Esse relato de experiência é um dos muitos que vivi como consumidora dos serviços do SUS, desde o meu nascimento até os dias de hoje. Eu e minha família sempre usamos os serviços do SUS. Resolvi relatar essa experiência, pois foi a mais traumática e a que me fez ter a maior esperança que já vivi. Me fez refletir sobre a magnitude do atendimento prestado por aquele hospital para com os seus usuários. Infelizmente, algumas pessoas, não sabe ou que nunca precisou dos serviços do HGP, tem uma ideia muito negativa dos serviços prestados ali. Pois, recebe informações somente através da mídia, que geralmente denigre sem saber realmente da articulação e oferta de atendimento para quem de fato precisa.
Todos os exames e procedimentos possíveis foram realizados, mesmo não esperando a cirurgia do calcanhar, em nada ficamos desamparados. Minha família e eu fomos atendidos de acordo com os princípios de universalidade, integralidade e equidade, estabelecidos na Lei Federal nº 8.080/90. Todos os profissionais envolvidos no tratamento do meu marido enquanto permaneceu internado no HGP foi de muita ética e compromisso. Tenho certeza que o trabalho em equipe e o seu engajamento dos profissionais envolvidos trouxe tranquilidade para nós dois e principalmente fazendo com que a estadia no HGP transcorresse de uma forma mais amena, apesar do trauma que envolveu essa situação.
Muitos criticam o atendimento do HGP, mas foi lá que descobri que ele é um hospital de portas abertas e, talvez por isso, não conseguimos a cirurgia em tempo hábil. Tendo esse formato de atendimento, ele não atende somente a população de Palmas e dos municípios do Tocantins. Vários estados circunvizinhos procuram e usam as suas estruturas para socorrer a população que precisa do seu atendimento, impossibilitando cumprir a diretriz da Territorialização (Lei Federal nº 8.080/90).
De fato, é um grandioso hospital e, por esse motivo, parabenizo a todos aqueles que trabalham arduamente para tentar atender a todos e todas da melhor maneira possível e seguindo todos os preceitos e práticas preconizadas por esse grande Sistema Único de Saúde – SUS, que é referenciado e elogiado mundialmente.
O SAMU é o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência e tem como objetivo prestar atendimento pré-hospitalar de forma rápida e segura para as vítimas que sofrem ocorrências de urgência e emergência, além de conectar essas vítimas à uma unidade hospitalar. Tendo em vista a importância do serviço, que está compreendido na Rede de Atenção às Urgências e Emergências, o (En)Cena, em colaboração com acadêmicos de Psicologia do CEULP/ULBRA, entrevistou o coordenador do SAMU de Palmas/TO, Luciano Batista Lopes.
Foto: Luciano Batista Lopes (à direita)
Luciano é graduado em medicina, com pós-graduação em medicina intensiva e em cardiologia. Possui como área de atuação UTI e Urgências e Emergências, onde foi diretor técnico. Hoje atua como coordenador médico do SAMU de Palmas/TO, onde atua há três anos.
(En)Cena – Como funciona o SAMU dentro da rede de atenção à saúde?
Luciano Batista Lopes – O SAMU é um serviço de atendimento de urgência e emergência. Ele visa conectar as vítimas que precisam do atendimento de forma rápida e segura, tanto para o paciente quanto para a equipe. O objetivo é conectar esses pacientes à uma unidade hospitalar ou pronto-atendimento. Temos vários tipos de ocorrências que englobam o nosso serviço, desde causas externas, como ferimento por arma de fogo, acidentes, até urgências e emergências em clínicas psiquiátricas, gineco-obstétricas. Além disso, o SAMU tem um papel fundamental também na parte social, porque as vezes a gente acaba enviando uma ambulância para fazer um atendimento social. As vezes não tem nenhuma relação com a doença propriamente dita, mas com a questão de poder aquisitivo mais baixo, de não ter um transporte para estar procurando a unidade hospitalar.
(En)Cena – Qual a maior demanda de atendimento?
Luciano Batista Lopes – Sem dúvida alguma a maior demanda são causas externas, do tipo acidentes, principalmente envolvendo motos, e ferimento por arma de fogo, arma branca também.
(En)Cena – Em que casos se deve acionar o SAMU?
Luciano Batista Lopes – É uma boa pergunta. O SAMU é um serviço de urgência e emergência, então situações clínicas, exemplos: paciente com suspeita de AVC, suspeita de infarto, urgências e emergências externas que são os acidentes, gineco-obstétricas, sangramento em grande quantidade, trabalho de parto, psiquiátricos, pacientes com surto psicótico, agitados, agressivos, que possam causar problemas tanto para ele quanto para a população, a parte clínica também. Queimadura é uma das causas que podemos estar atuando, naquele grande queimado, caso leve não.
(En)Cena – Então o encaminhamento ocorre de acordo com a demanda?
Luciano Batista Lopes – Exatamente. Na verdade, é feita uma coleta de dados, temos os técnicos auxiliares em regulação médica, que na hora que você disca o 192 eles atendem ao telefone. Então eles são técnicos para estarem fazendo o primeiro cadastro. Eles cadastram o nome, o endereço e o apelido da ocorrência, qual que é o motivo. A partir daí eles encaminham para o médico da regulação, e o médico da regulação é quem faz a extração e a filtração das informações para estar encaminhando a viatura. Ele julga se há ou não a necessidade da viatura e qual o tipo da viatura que vai, porque nós temos a viatura que vai apenas o condutor e o técnico de enfermagem, que é o suporte básico, e temos a viatura que os componentes são: condutor, técnico de enfermagem, médico e enfermeiro, que essa é uma UTI. Tem todo o aparato, toda a monitorização de um tratamento intensivo.
Foto: Luciano em atendimento ao 192
(En)Cena – Quais são os órgãos que trabalham em conjunto com o SAMU?
Luciano Batista Lopes – Temos parceiros. O corpo de bombeiros, o CIOPAer, que é o serviço da segurança pública, acabamos atuando no serviço aero médico, a polícia militar também é muito importante, com os pacientes psiquiátricos principalmente, a guarda metropolitana também tem atuado com a gente, a INFRAERO, a ATTM que sempre que tem um acidente, a gente pede para o solicitante estar fazendo contato para evitar outros acidentes, sinalizando o local. São os nossos maiores parceiros.
(En)Cena – Tem algo que você acredita que possa ser melhorado no serviço?
Luciano Batista Lopes – A conscientização do que realmente é o serviço, do objetivo do SAMU.
(En)Cena – Então seria mais para a população?
Luciano Batista Lopes – Exatamente. Tanto no sentido de saber quais são as situações clínicas que precisa ser acionado o 192, que são situações de urgência e emergência, quanto a questão dos trotes também. Então precisa dessa conscientização da população.
(En)Cena – Acontecem muitos trotes?
Luciano Batista Lopes – Acontecem. Cerca de 12% dos nossos atendimentos são trotes.
(En)Cena – Certamente isso atrapalha o fluxo do serviço.
Luciano Batista Lopes – Sem dúvida nenhuma. Você ocupa uma linha que possa estar alguém tentando e não consegue ligar porque está ocupada por alguém passando trote e ocupa muitas vezes a ambulância. A equipe é treinada até para tentar identificar esses trotes, mas tem situações que passam e ambulância chega no local e não tem nada.
(En)Cena – Então é por isso que tem aquele interrogatório na ligação?
Luciano Batista Lopes – Exatamente. Por isso que a população as vezes acha um pouco chato. Você liga no SAMU, aí fala com um, fala com outro e demora. Mas é porque a gente realmente precisa filtrar as informações e racionalizar a ambulância, encaminhar para aquilo que realmente tem necessidade.
(En)Cena – Existe alguma demanda que você queira falar que mais te marcou, positiva ou negativamente?
Luciano Batista Lopes – Eu já fui em uma ocorrência depois de Taquaruçu, lá no Mirante. Ali teve um micro-ônibus que na curva passou reto e caiu lá embaixo. De início a gente pensou que como era seis horas da manhã, seria um ônibus com crianças indo para a escola, mas não era. Era um micro-ônibus que tinha apenas duas pessoas, uma já estava em óbito no local, e a outra ficou presa nas ferragens. Tivemos o apoio do corpo de bombeiros, da polícia militar e foi bem difícil fazer o resgate, mas conseguimos. O ônibus estava de ponta e dentro dele tinha duas pessoas, duas vítimas, e eles carregavam dentro do ônibus geladeira, televisão, então eles faziam do ônibus a casa. Então imagina, o ônibus de ponta e aquele tanto de coisa em cima de você e você tentando tirar uma pessoa que está ali, tendo que confiar muito no serviço do corpo de bombeiros para aquilo não cair. A gente teve que descer também para ofertar oxigênio, para medicar. Ele tinha um ferro transpassado na perna que o bombeiro não conseguiu tirar. Foram quase cinco horas de ocorrência. A gente conseguiu fazer o resgate, depois que colocamos ele dentro da ambulância, levamos para Taquaruçu, onde o serviço médico já estava aguardando. Essa para mim foi a mais marcante.
(En)Cena – Então não é um serviço fácil, tem que haver um preparo, um treinamento.
Luciano Batista Lopes – Sem dúvida nenhuma. Tem que estar preparado, tem que estar treinado e capacitado. Mesmo quem já está muito tempo no serviço, sempre tem coisa nova.
(En)Cena – E como acontece esse treinamento?
Luciano Batista Lopes – Aqui nós temos o núcleo de educação e urgência, que é o NEU e hoje é coordenado pela enfermeira Carla. Ele trabalha tanto a urgência e emergência, como ele capacita também na atenção primária. O núcleo é do SAMU, ele oferece cursos de atendimento pré-hospitalar, de emergências, é uma educação continuada, todo mês tem cursos. Como o SAMU atende tanto Palmas, quanto Porto Nacional, Paraíso, Miranorte, Miracema, Novo Acordo, Lajeado, o NEU é responsável por fazer a capacitação e treinamento de todos os profissionais que prestam serviço para o SAMU nas regionais. E Palmas treina quem está no SAMU e toda a rede de atenção primária também. Tem médicos e enfermeiros dentro do núcleo e eles são os responsáveis por estarem capacitando. E além disso eles fazem um serviço nas escolas, que é o SAMUzito, tentando conscientizar as crianças do real objetivo do SAMU e tentando conscientizar também sobre a questão dos trotes, onde a grande maioria é feita pelas crianças.
(En)Cena – Tem algum tipo de acompanhamento psicológico para os trabalhadores do SAMU?
Luciano Batista Lopes – Não.
(En)Cena – Você vê necessidade?
Luciano Batista Lopes – Sem dúvida. Tem necessidade, porque é um serviço estressante, você tem que lidar com várias situações, tanto situações catastróficas, no caso de acidentes graves ou situações onde tem acidentes com múltiplas vítimas, que as vezes tem um grave, tem outro que já está mais descompassado quanto a questão social também. Às vezes você chega em lugares insalubres, às vezes tem situações de maus tratos, principalmente com idosos e às vezes isso abala um pouco o emocional. Lidar com essas situações não é fácil. Da parte da psicologia a gente com certeza precisa. Se tivéssemos um serviço de atendimento, iria beneficiar muito o serviço e os servidores.
(En)Cena – Quais são as suas expectativas em relação ao SAMU?
Luciano Batista Lopes – São as melhores, porque é um serviço que a população sente que é sinônimo de esperança. Aquele que liga 192, no momento em que liga, o intuito dele e a esperança é de um desfecho satisfatório, positivo. Então é em cima disso que a gente trabalha. Expectativa das melhores, de sempre estar fazendo o melhor e tendo um desfecho positivo, que nem sempre é possível.
(En)Cena – Tem alguma mensagem que você gostaria de deixar para a população em relação ao SAMU?
Luciano Batista Lopes – Se você utilizar o serviço da forma correta, a gente consegue atender um número maior de solicitantes e de forma precisa e eficaz. Isso depende muito da conscientização da população.
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SAMU/DF oferece Curso de Intervenção em Crise
7 de agosto de 2018 Fernanda Karoline Bonfim
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Emergência em Saúde Mental é foco principal
O SAMU/DF oferece curso com o tema ´Emergências em Saúde Mental, uma Abordagem Multidisciplinar`. O curso acontecerá nos dias 07 e 08 de agosto, das 8h as 18h, com carga de 20h. O curso é gratuito e tem como público alvo profissionais de Saúde, Segurança Pública, Educação e outros profissionais com interesse.
O curso acontecerá na Universidade de Brasília (UnB) e discutirá temas, como: Apresentação do Núcleo de Saúde Mental do SAMU/DF e da Rede de Atenção Psicossocial do Distrito Federal no contexto da abordagem multidisciplinar; Comunicação terapêutica e primeiros socorros psicológicos; Comunicação de Más notícias; Comportamento suicida; Violência no contexto psicossocial e Atendimento a vítimas de violência; Ansiedade e Depressão; Álcool, outras drogas; Abordagem do paciente em agitação psicomotora e/ou comportamento violento; eCasos clínicos do SAMU/DF.
Clara Outeiral Taveira, acadêmica do 9º de Psicologia da UnB foi uma das selecionadas do curso. Clara tem um perfil no Instagram, @vida-psi, em que funciona como um diário e compartilha ´a dor e a delícia de uma vida psi`.Em relação ao curso, declara: ´Eu achei muito importante já que são cursos gratuitos na área de urgências em saúde. Espero aprender coisas práticas e aplicáveis, úteis para minha atuação profissional como Psicóloga`.