A importância da Psicologia para as atividades esportivas

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JOSÉ EDUARDO BISPO DE OLIVEIRA – Acadêmico do curso de Psicologia do Centro Universitário Luterano de Palmas – E-mail: joseeduardobispo@rede.ulbra.br

ROBERTO MADUREIRA BURNS NETO – Psicólogo do esporte (CRP- 23/002381) Coordenador de Projeto de Associação Palmas Jovem – E-mail: burnsneto@gmail.com 

 

A psicologia do esporte é um ramo da psicologia que se originou a partir da necessidade de observar e entender de forma científica como pessoas poderiam lidar de uma maneira mais palatável com suas atividades. Gill e Williams (2018) pontuam que a psicologia do esporte identifica princípios e diretrizes para ajudar profissionais podendo ser aplicada para ajudar as pessoas envolvidas na atividade. Também, como a atividade física pode ser potencializada quando tem o emprego da psicologia com o atleta de alto rendimento e quais os benefícios na recuperação de indivíduos com limitações físicas ou cognitivas.

Outrossim, é fundamental delinear que a psicologia do esporte derivou em grande parte da Psicologia do Desenvolvimento, utilizando diversas técnicas do processo de aprendizagem e absorção de informações para deixar a prática do exercício um ambiente de satisfação e reduzir o processo de ansiedade que pode surgir quando se disputa grandes campeonatos. Assim, (Weinberg e Robert S. 2017) destacam que, em virtude dos psicólogos do esporte atuarem com a identificação dos objetivos do indivíduo e a partir disso, buscar potencializar as capacidades latentes. Esses psicólogos que adquirem experiência na prática esportiva são cotados também para trabalharem com o auxílio de tropas de elite militares e cirurgiões que buscam aperfeiçoar o desempenho.

Em outro momento, faz-se essencial, especificar a atuação da Psicologia Clínica do Esporte entre a Psicologia Educacional do Esporte. Enquanto a primeira recebe a qualificação para identificar e tratar indivíduos com transtornos emocionais e aplicar testes para averiguar os respectivos níveis de impactos que esses causem ao desenvolvimento do atleta.

Para a atuação da Psicologia Clínica do Esporte é necessário que seja respeitado os protocolos de garantia do sigilo e um ambiente apropriado para esculta e aplicação de testes que sigam a regulamentação do Conselho Federal de Psicologia (CFP).

Para a segunda, a Psicologia Educacional do Esporte, por atuarem de forma mais próxima das atividades de campo, como treinamentos e momentos de interação entre os atletas. Tem o papel de promover a qualidade da saúde mental dos atletas, tendo como fundamento entender quais fatores ambientais e emocionais influenciam de forma negativa e os elementos de estímulo para os indivíduos.

Especialistas em psicologia educacional do esporte são “treinadores mentais” que educam atletas e praticantes de exercícios sobre habilidades psicológicas e seu desenvolvimento. (WEINBERG, ROBERT S. 2017 p. 7-10.)

Dessa maneira, o Psicólogo Educacional consegue desde potencializar o desenvolvimento do atleta, até atuar na prevenção de transtornos como A Síndrome de Burnout voltada a prática esportiva. Por essa perspectiva, esse trabalho terá seu aprofundamento na Psicologia Educacional.

Foto: Pixabay

A saúde mental dos atletas

A linha teórica da Psicologia Educacional do Esporte e do Exercício, aborda que, para observar quais motivos influenciam o indivíduo é preciso observar cada pessoa e sua particularidade de maneira individual. Para que a partir disso, sejam implementados métodos e formas de perceber a pessoal de uma forma mais tangível. De acordo com suas vivências ambientais e práticas de vida.

Em primeiro momento, a saúde mental e como os atletas encaram o desafio, vão ter forte influência no seu desempenho e satisfação durante a prática esportiva. (Spielberger, 1966), destaca que a ansiedade é definida mais formalmente como estado emocional de apreensão e tensão que acompanham uma forte ativação do sistema nervoso. A partir dessa lógica, quando o atleta perde a capacidade de perceber esse aumento exponencial dos batimentos, que é um somatório para o quadro ansiogênicos, tem-se a perda de consciência dos seus objetivos e até esquecimentos das habilidades aprendidas.

Ademais, (Spielberger 1966), pontua que a ao destrinchar a ansiedade, surge o produto que seria o Traço de Ansiedade (TA). Que predispõe, um indivíduo a entender como uma circunstância ameaçadora uma situação que não é. Assim, um exemplo seria um jogador ao bater um pênalti, começa acredita de forma concentra que vai tropeçar e não conseguirá acertar na bola. A partir desse pensamento disfuncional, definido como (TA), por medo de não conseguir, os batimentos do atleta têm uma aceleração desproporcional ao momento em que ele se encontra e, por estar ansioso acaba de fato errando o pênalti.

Ao adentrar na perspectiva, um time que não tem um profissional de Psicologia Esportiva está alguns passos atrás na observação de traços ansiogênicos, que inicialmente podem se apresentar como leves. Contudo, com ausência de um acompanhamento maior pode se tornar uma crise maior, podendo vir a incapacitar o atleta de exercer suas funções por completo.

O estresse ocorre quando há um desequilíbrio substancial entre as demandas físicas e psicológicas impostas a um indivíduo e sua capacidade de resposta, em condições nas quais a falha em satisfazer a essas demandas tem consequências importantes. (WEINBERG, ROBERT S. 2017 p. 76.)

Desse modo, caminhando por um olhar Psicologia Positiva sobre o contexto ambiental que se dá a Psicologia Educacional do Esporte e do Exercício, tem-se mostrado como problema para os atletas que sofrem pressões tanto interna dos treinadores, equipe técnica, dos colegas de equipe e da família. Assim, os atletas por não conseguirem se desvincular das cobranças, acabam desenvolvendo síndromes associadas ao ambiente das práticas esportivas. Como a Síndrome de Burnout, associada a treinamentos excessivos e poucos níveis de descanso, gerando uma sobrecarga no atleta.

Quando o volume de treinamento é grande demais ou o atleta mostra ausência de repouso ou outros estressores físicos ou psicológicos, ocorrem adaptações problemáticas, que levam ao desempenho deteriorado. (WEINBERG, ROBERT S. 2017 p 470.)

Somado a isso, indo contra a crença popular de que quanto maior o esforço, melhor para o atleta. É demonstrado que, o descanso é fundamental para a recuperação e o desenvolvimento do atleta, tanto físico, quanto psicológico. Portanto, quando o tempo de descanso não é respeitado o atleta sofre uma série de consequências. Como, mais contusões e estresse durante a partida.

 

Burnout no esporte

Em competições esportivas, sempre tem uma série de pessoas envolvidas na preparação além dos atletas que são, a equipe técnica, a equipe de arbitragem que fica em campo e a que atua por vídeo. Assim, para obterem êxito nas suas atividades são exigidos altos níveis de treinamento desses indivíduos. Em grande parte, essas pessoas influenciadas pela crença popular de que quanto maior o volume de treino, tem-se um melhor resultado, acabam se sobrecarregando e gerando um maior desgaste pessoal e na equipe envolvida.

A teoria é quanto mais treinar, melhor, você tem de começar a treinar cedo, o ano inteiro, se quiser competir em alto nível. Os praticantes de exercícios, em sua busca de se sentirem e parecerem melhor, às vezes vão longe demais, treinam excessivamente e chegam a Burnout. (WEINBERG, ROBERT S, 2017,  p. 469).

Foto: Pixabay

Ademais, a Síndrome de Burnout, descrita como um estado de exaustão física e emocional relacionada ao trabalho, afeta não somente os ambientes de trabalho formal, como é difundido pela crença cultural. Tem impactos severos desde os atletas comuns até os de alto rendimento que, por muitas vezes acabam tendo uma queda significativa no rendimento. Fato que, em casos chegam a níveis tão prejudiciais que levam o atleta a encerrar sua carreira de forma precoce.

A despeito disso, Michael Phelps nadador americano, considerado um dos maiores atletas olímpicos de todos os tempos, ganhador de 28 medalhas olímpicas. Declarou em uma entrevista á Sports Ilustrated em 2017 que, a pressão para vencer e a atenção da mídia a todo tempo, “em momentos se sentiu como um rato em uma roda”, sentimento que o levou a um estado de esgotamento emocional que o levou a cogitar aposentadoria. Em adição, o jogador de futebol americano, Andrew Luck, que jogou na Liga Nacional de Futebol (NFL), tida como o apogeu do esporte, se aposentou aos 29 anos citando problemas de saúde mental e síndrome de Burnout como motivadores da decisão. Em entrevista coletiva em 2019 a ESPN, Luck mencionou que a tensão e o estresse se acumularam durante os anos, movimento esse que o levou a decidir se afastar de forma precoce da prática esportiva.

 Boa parte das pessoas, se prendem a imagem perfeita que é levantada sobre os atletas, eleitos como seres quase que perfeitos, sem erros e sem grandes desafios que não podem vencer. Não satisfeito, todos estão propensos a desenvolver Burnout, ansiedade ou um esgotamento emocional, em destaque, quando submetidos a condições ambientes de desgaste. É fundamental, explanar que o esgotamento emocional, pode acontecer se as condições forem desfavoráveis, com ambientes e rotinas que não proporcionam descanso, em que a vida do atleta fica resumida somente a se preparar para vencer e a felicidade condicionada a vencer campeonatos.

Caminhos para uma experiência satisfatória

Nas práticas esportivas, tem-se a construção do entendimento social que o estímulo constante por resultados levam aos fatores essenciais para uma vitória. Assim, educam atletas e os condicionam a vitórias e novos campeonatos, ao vencer um campeonato começa a preparação para o próximo, temporada 2022, temporada 2023. Esse constructo, faz com que o atleta se questione quais os motivos de buscar o próximo, e o sentimento de nunca conquistar o suficiente inunda.

Os desafios da competição podem ser estimulantes e prazerosos. Mas, quando derrotar o oponente toma precedência na mente sobre obter o melhor desempenho possível, a fruição tende a desaparecer. A competição só pode ser apreciada quando é um meio de aperfeiçoar as habilidades; quando se torna um fim em si, deixa de ser divertida. (MIHALY, 2020, p.66).

Em consequência disso, uma gama de atletas ficam adoecidos, por passarem anos treinando para ir a campeonatos importantes, e ao receberem o troféu e uma quantidade acima da media de dinheiro, ainda assim ficam insatisfeitos. Por essa ótica, (Mihaly 2020, 1ª ed, .68) pontua que, o esporte é um dos locais mais propícios para o desenvolvimento de um sentimento de envolvimento e autoconhecimento, fatores em conjunto podem ser elementos para uma sensação de satisfação e deixar o indivíduo se sentindo integrado do meio.

Assim, (Mihaly 2020, 1ª ed, .68), desenvolveu a teoria de que existem elementos que são importantes para que o indivíduo, consiga maiores momentos de satisfação. A primeira seria o confronto de tarefas que são possíveis de serem concluídas pelo atleta. Segundo, o atleta conseguir ter uma concentração no que deve ser alcançado. Terceiro e quarto, os treinadores possuírem metas objetivas que devem ser alcançadas por esse indivíduo. O que estimularia os atletas a estarem sempre em um apetite por se superar. Quinto, a partir da retirada do foco em conquistar troféus e, o desenvolvimento do foco em se auto aperfeiçoar, maiores fatores para uma vivência mais saudável e a motivação para se superar estaria renovada.

Considerações finais

Faz-se necessário, portanto, uma equipe da psicologia esportiva atuando na desconstrução desses padrões condicionados a resultados que já estão institucionalizados por boa parte dos times, comissões técnicas e comissões de arbitragem. Assim, ao ser demonstrado que o foco somente em conquistar troféus e campeonatos é um dos principais responsáveis pelo adoecimento psíquico, que pode desenvolver sintomas psicossomáticos e aposentadoria precoce dos jogadores, tem-se portanto, um passo a mais para reestruturar esse sistema. Proporcionando uma melhor saúde mental para esses atletas e a possibilidade para atingir e superar novos parâmetros nas performances. Já que, quando aliados a técnicas positivas e a atuação de psicólogos esportivos, os times demonstram índices de melhores resultados e maior adesão dos atletas.

 

REFERÊNCIAS

VIEIRA, L. VISSOCI, J. OLIVEIRA, L. VIEIRA, J. Psicologia do esporte: uma área emergente da psicologia. 2010. https://www.scielo.br/j/pe/a/dxqXV7GtH7zkCLkzYq7K7Wd/.

GUSTAFSSON, H. KENTT, G. HASSMEN, P. LUNDGVIST). Prevalence of burnout in competitive adolescent athletes. Journal of Athletic Training, 2020.

OLMDILLA- ZAFRA, A. GARCÍA-GONZALEZ. ORTEGA, E. Burnout and muscular-skeletal injuries among professional football players. Journal of Sports Sciences. 2019.

SPORTS ILLUSTRATE Michael Phelps Opens Up About Depression and Suicidal Thoughts. 2017. https://www.espn.com/olympics/swimming/story/_/id/26796317/phelps-wins-award-mental-health-advocacy

CNN,  Michael Phelps: I am extremely thankful that I did not take my life. 2018. https://edition.cnn.com/2018/01/19/health/michael-phelps-depression/index.html

CSIKSZENTMIHALY, MIHALY. Flow: a psicologia do alto desempenho e da felicidade – 1ª ed. Rio de Janeiro, 2020.

WEINBERG, ROBERT S. (2017) Fundamentos da psicologia do esporte e do exercício. 6ª ed. Porto Alegre, 2020.

 

 

 

 

 

 

 

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Caos 2022 – Psicologia em debate aborda o tema “Trabalho, esporte e saúde mental”

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Aconteceu na manhã de quinta-feira dia 24/11/2022, as 09h30min, o Psicologia em debate, como parte da programação da 70 edição do CAOS – Congresso Acadêmico de Saberes em Psicologia, com o tema “Trabalho, esporte e saúde mental”

Em uma reunião via meet que teve início às 09h30min, foi apresentado o tema “Trabalho, esporte e saúde mental”,  pelo estudante de psicologia, José Eduardo Bispo que está na sua primeira graduação  e se mostra bastante comprometido a apresentar suas manifestações do que acredita que seja salutar para uma vida mais saudável e em consonância com o bem estar e uma mente mais sadia e próspera.

O evento teve como mediador o mestre Sonielson Luciano de souza mestre em Comunicação e Sociedade (UFT-2018 bacharel em Psicologia (Ceulp), bacharel em Comunicação Social (Publicidade – Ceulp/Ulbra); sócio-fundador do jornal e site O GIRASSOL (desde 1999) – http://ogirassol.com.br. É professor universitário (Ceulp/Ulbra); graduado em Psicologia pelo Ceulp/Ulbra. Pós-graduado (lato sensu) em Educação, Comunicação e Novas Tecnologias, com ênfase em Docência Universitária (Unitins/UFBA – 2006); Licenciado em Filosofia pela Universidade Católica de Brasília (UCB); Pós-graduado em Psicologia Analítica (Unyleya-DF); É coordenador e colaborador do Portal (En)Cena (http://www.encenasaudemental.net).

A apresentação nos presenteou com temas acerca da psicologia positiva-Flow, seus componentes principais, suas práticas nas áreas esportivas e a experiência humana quando envolvidos nesta temática. José falou com muita propriedade que o foco é tão grande que nada e ninguém te dispersa e, ao mesmo tempo você se sente bem e bastante produtivo. Parece que, simplesmente, tudo está “fluindo”, sem nenhum esforço e desgaste físico ou mental.  Tudo o que você sentiu não foi por acaso. Este é o estado de flow, em português “estado de fluxo”. Uma condição em que o seu corpo e a sua mente fluem em perfeita harmonia, te levando ao estado de excelência enquanto trabalha, estuda ou desenvolve um hobby.

LOW é um termo que vem do inglês Fluir e que pode ser traduzido como “experiências de fluxo”. O conceito de FLOW foi desenvolvido na década de 70 pelo psicólogo Mihaly Csikszentmihalyi, PhD e professor da Universidade de Chicago, para designar as experiências ótimas de fluxo na consciência. É como um estado mental onde o corpo e a mente fluem em perfeita harmonia, é um estado de excelência caracterizado por alta motivação, alta concentração, alta energia e alto desempenho, por isso também chamado de experiência máxima ou experiência ótima. As experiências de FLOW muitas vezes são lembradas como os momentos mais felizes da vida da pessoa, os momentos onde ela se sentiu no seu melhor.

Dentro do esporte, quando em estado ‘flow’, atletas ficam totalmente focados no que estão fazendo. Quando um atleta está no estado ‘flow’, os padrões químicos e elétricos no cérebro mudam levando-o ao seu estado ideal. Alterações ocorrem no cérebro que aceleram a tomada de decisões complexas.

O reconhecimento de padrões e a criatividade são aprimorados e ocorre uma impressionante variedade de alterações neuroquímicas, neuroanatômicas e fisiológicas que permitem aos atletas fazer as coisas melhores e mais rápidas. O estado ‘flow’ é a porta de entrada para o “mais” que a maioria dos atletas procura.

O evento contou com mais de cem participantes, que interagiram e se mostraram bastante interessados na temática, o que tornou a psicologia em debate um sucesso, com muita adesão e interesse dos participantes bastante significativa.

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É preciso discutir sobre a saúde mental em atletas profissionais

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Uma rotina intensa de treinos, assim explica-se o cotidiano de um atleta de alto rendimento para alcançar seu objetivo, que é a vitória na modalidade a qual atua.  Uma preparação cronometrada de exercícios físicos, dieta balanceada e muita dor física. Mas quando a dor é emocional, o que fazer? Esse ano, o mundo acompanhou de perto o drama da ginasta mais famosa dos últimos tempos, a norte-americana Simone Biles, que por decisão abandonou a participação nas fases de alguns aparelhos, em prol de sua saúde mental, nas Olimpíadas de Tóquio.  

Conforme entrevista aos veículos de comunicação, a ginasta disse não estar bem para competir nas finais de aparelho. Segundo a jovem, sua cabeça estava fora do lugar, enquanto estava saltando, e poderia sofrer um acidente, durante a execução do salto.  Sua atitude levou o mundo inteiro, a refletir sobre a necessidade de cuidar da saúde mental, e mesmo, atletas profissionais, acostumados a rotinas exaustivas de treinos precisam parar, no intuito de equilibrar as emoções.  Simone deixou o recado, cuide de sua mental, pois o não cuidado interfere no desempenho profissional, independe de qual seja o trabalho.

Ribeiro (2020) alerta que muitos atletas não cuidam da sua saúde mental motivadas pelo estigma, falta de conhecimento sobre o assunto e a sua influência no rendimento desportivo, bem como pela percepção da doença mental como uma fragilidade. “A maioria das organizações desportivas continua a descurar a importância do investimento na prevenção, identificação e intervenção precoce na psicopatologia dos atletas de alta competição” (Ribeiro, 2020). Nesse sentido, a postura de Biles, veio para questionar esse descaso das delegações com seus atletas, e mostrar para o mundo que, eles, também, têm suas fragilidades, seus questionamentos e dores.

Fonte: Instagram

 

Perturbação do sono, depressão, suicídio, ansiedade, compulsão alimentar, déficit de atenção, hiperatividade, bem como transtorno bipolar são os transtornos mentais mais decorrentes em atletas profissionais, informou a Declaração de Consenso do Comitê Olímpico Internacional (2019). Um alerta assustador, segundo o comitê, os sintomas depressivos em atletas variam entre 4 a 68%.

O que seria um atleta de alto nível? (Bäckmand, Kaprio, Kujala, Sarna, 2009) explicam que o alto nível é como uma atividade física extenuante e prolongada, para a qual os atletas precisam estar preparados para enfrentar uma série de fatores estressantes, no intuito de aprimorar, e alcançar os resultados esperados.  E para dar conta de todas essas atribuições, o profissional precisa estar em dia com a saúde mental, caso contrário irá desenvolver algum transtorno mental, como relatou o Consenso 2019.

A atividade física é um excelente aliado para auxiliar no equilíbrio da saúde mental, já o desafio dos atletas profissionais é conciliar, de forma saudável, a rotina puxada dos treinos com sua saúde mental, no sentido de equilibrar os níveis de estresse, até porque eles são cobrados pela comissão técnica e pela torcida de seus países.  No mais, todos querem é ver o atleta de seu país, brilhar no pódio, ao som do hino nacional de sua respectiva bandeira.

Fonte: Freepick

 

Referências

Bäckmand H, Kaprio J, Kujala U, Sarna S. Physical activity, mood and the functioning of daily living. A longitudinal study among former elite athletes and referents in middle and old age. Arch Gerontol Geriatr Suppl.(2009)

Portal G1 Notícias . O desafio da saúde mental dos atletas. Disponível em < https://g1.globo.com/sp/presidente-prudente-regiao/blog/psicoblog/post/2021/07/29/o-desafio-da-saude-mental-dos-atletas.ghtml>. Acesso: 21, de out, de 2021.

Revista Eletrônica, Abril.  O caso Simone Biles nas Olimpíadas e a saúde mental no esporte. Disponível em < https://saude.abril.com.br/blog/saude-e-pop/a-saida-de-simone-biles-das-olimpiadas-e-a-saude-mental-no-esporte/> Acesso 21, de out de 2021.

Ribeiro, Flávia. Doença Mental em Atletas: a utilização de instrumentos de rastreio e a importância da detecção de fatores de riscos(2020). Disponível, em https://repositorio-aberto.up.pt/bitstream/10216/128399/2/411774.pdf; Acesso 21, de out, de 2021.

Reardon CL, Hainline B, Aron CM, et al. Mental health in elite athletes: International Olympic Committee Consensus Statement (2019).

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II Congresso Internacional de Psicologia do Esporte, Desenvolvimento Humano e Tecnologias.

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Evento realizado pela Universidade Estadual de São Paulo (UNESP)

O congresso acontecerá em conjunto com o VII Seminário de Psicologia do Esporte e Motricidade Humana e o V Congresso Nacional de Psicologia da Motricidade Humana, Esporte, Recreação e Dança nos dias 25 a 27 de Agosto no Campus da UNESP-Rio Claro em São Paulo.

A programação do Congresso será dividida em palestras, mesa-redonda, debates, minicursos e apresentação de painéis.

Os assuntos abordados serão: Personalidade e Esporte, Psicologia e movimento humano, mentalização na atividade física, a importância da imagem mental no treinamento e competição entre outros.

Mais informações e inscrição podem ser realizadas no site do evento

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Quilômetros que transformam – (En)Cena entrevista Gustavo Andrade

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Muitos especialistas afirmam que a atividade física é um forte aliado na alteração no estilo de vida das pessoas, o que impacta diretamente na condição psicológica de quem à pratica.

Nos dias de hoje com academias cheias e praças lotadas de pessoas correndo, não é difícil encontrar alguém que defenda com unhas e dentes a prática esportiva como único caminho para uma transformação dos seres humanos, outrora deprimidos e reclusos. O (En)cena foi em busca de informações para tentar entender os estilo de vida de um jovem administrador de redes, que tem uma verdadeira paixão por esse esporte, Gustavo Andrade, 37 anos, “O pedal”.

Acordando às 5 da manhã e pedalando cerca de 1.000 KM por mês, Gustavo Andrade desperta reações diversas nas pessoas, da admiração a perplexidade por tamanha dedicação.

ASPEC grupo de ciclistas qual Gustavo faz parte / Arquivo Pessoal

(En)Cena:  Como o “pedal” entrou na sua vida?

Gustavo Andrade: Aprendi a pedalar com 6 anos de idade, me recordo que foi com muita insistência de meu pai, pois havia um certo bloqueio da minha pessoa, com relação a andar sem as ditas “rodinhas”. Pouco depois ganhei uma bicicleta BMX, e descobrir o bici-cross. Comecei a participar de campeonatos e ter resultados relevantes e desde então, nunca mais me separei da “magrela”.

Gustavo e suas primeiras pedaladas /  Arquivo pessoal

Com o passar dos anos, meu gosto por pedalar em estradas de chão, terrenos acidentados, trilhas e morros, apenas evoluiu dentro do esporte, passei do “bici-cross”, para o “Mountain Bike”, em 1991, e desde então sigo pedalando constantemente e buscando a evolução na mesma intensidade. No mountain bike, já pude ter a experiência de fazer expedições para o Jalapão (820 km), conhecer diversos atrativos turísticos de Palmas e região, bem como do Tocantins, pedalar na região litorânea da Bahia.

(En)Cena: Com que frequência pedala, qual é sua rotina?

Gustavo Andrade: Pedalo em média 5 vezes por semana, totalizando uma média de 1.000 km por mês, e na maioria das vezes antes do sol nascer, já estou pedalando. Gosto de alternar os treinos, visando uma melhoria do desenvolvimento muscular com uma média de 45 km, cada treino. Basicamente meus treinos são divididos em 3 tipos, são eles:

* Girar (pouca subida) sem fazer muita força;
* Muita força(muita subida);
* Longão misto (100 km +ou-)

(En)Cena: O que mudou na sua vida depois que começou a praticar esse esporte?

Gustavo Andrade: Fica difícil eu datar, quando comecei a pedalar, porque sempre me recordo de estar com uma bike! Mas dê 3 anos para cá, comecei a me preocupar mais com o meu desempenho, busquei orientações médicas e de profissionais de Educação Física. Desse período para cá, posso dizer que muita coisa mudou.

Comecei a me conscientizar e larguei hábitos antigos como beber constantemente, alimentar desregradamente, dormir tarde e consequentemente perdi muito peso, melhorei minha respiração, diminui o estresse, fiz novas amizades, me tornei uma pessoa mais feliz, reduzi meu colesterol, enfim ganhando uma qualidade de vida que anteriormente eu não tinha.

(En)Cena: Na sua opinião qual é o principal beneficio para quem pratica esse esporte?

Gustavo Andrade: Os benefícios são vários, vou enumerar alguns:

• Garante uma boa forma e ótima respiração;
• Melhoria do sono;
• Faz ser mais feliz;
• Evita o infarto;
• Combate o estresse e depressão;
• Molhara a relação sexual;
• Emagrece;
• Aumenta a imunidade;
• Trabalha os membros inferiores;
• Funciona como meio de transporte;
• Promove a sensação de liberdade.

(En)Cena: Algumas pessoas acham estranho sua dedicação ao pedal?

Gustavo Andrade: A maioria das pessoas acham um absurdo, quando relato como é minha rotina. Até mesmo quem está perto, muitas vezes não conseguem entender tanta dedicação e abdicação em prol do esporte. Estou cansado de ouvir: “Acordar 5 horas da manhã ? Pra pedalar? Em um sol desses? Tomando poeira? Correndo risco de me machucar??? Vou nunca…”

(En)Cena: Acredita que esse esporte possa colaborar para reversão de quadros depressivos?

Gustavo Andrade: O ato de pedalar envolve a qualidade de vida, e uma melhoria na saúde do ser humano, que já eleva e muito a chance da pessoa entrar em depressão. Mas tem um outro fator, que na minha opinião, ajuda bastante para isso também, que é o fator das amizades. Porque assim como existem pessoas que são “companheiras” para tantos outras atividades, para pedalar é da mesma forma. Você acaba se socializando muito e dificilmente ficará ou pedalará sozinho.

Gustavo Andrade / Arquivo Pessoal

(En)Cena: Entre todos os atrativos desse esporte, qual você destacaria, como o principal responsável por atrair tanta gente?

Gustavo Andrade: Dentre todos os benefícios que são muitos, seria até difícil enumerá-los, acredito que são 02 fatores são os principais e resumem bem o esporte, que são:

• Qualidade de vida absurda;
• Socialização.

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Don Diego Armando Maradona, um gigante entre os gigantes

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É fato que o futebol mundial teve e sempre terá muitos ídolos. Mas os genuínos astros do esporte, aqueles personagens que surgem como joias raras, e que possuem a capacidade ímpar de revolucionar o esporte tornando-se deuses, estes, são verdadeiramente escassos.

Diego Armando Maradona é uma destas joias raras que aparecerem uma vez em décadas. Um craque que possuía talento invejável na condução da bola, aliado a sua força física, velocidade estupenda e domínio impressionante da posse da pelota.

Argentino de nascimento, Maradona é reconhecido e cultuado pelo mundo como um dos maiores talentos da história do futebol. Uma de suas principais características e maiores virtudes era a garra, a fibra com que entrava em campo. Pode-se dizer que é a personificação perfeita do mais alto padrão de estilo de jogo argentino.

Maradona possui uma trajetória um tanto quanto messiânica em sua vida profissional e pessoal, e em função disto acabou por tornar-se não apenas um jogador de destaque, mas um dos ícones argentinos de todos os tempos, comparado em popularidade com figuras históricas como Eva Peron e Carlos Gardel. Como um herói de revistas em quadrinhos vagava do fundo do poço ao céu, numa vida repleta de altos e baixos.

Maradona nasceu em 30 de outubro de 1960, e fora revelado ao futebol pela Asociación Atlética Argentinos Juniors, equipe pequena, porém tradicional da capital Buenos Aires. Conta a história que seu talento quando criança era tão impressionante que pessoas vinham vê-lo jogar das mais variadas partes do subúrbio de onde morava.

Pela projeção que deu aos Argentinos foi rapidamente sondado pelo Boca Juniors, uma das mais tradicionais equipes da Argentina e do futebol mundial, e mais: seu time de coração, o qual defenderia por muitos anos. O Argentinos Juniors mais tarde, em reconhecimento ao grande craque, acabou por renomear seu estádio para Diego Armando Maradona.

Aliado as habilidades futebolísticas incríveis do jogador e a “passion” com que atuava, o futebol de Maradona foi se potencializando o que o levou a performances cada vez mais destacadas.

Aos 17 anos de idade Maradona já era convocado pela primeira vez para a seleção nacional de futebol e, nesta época, sua fama já se espalhava para além das fronteiras argentinas. Atuou dentro das quatro linhas como meio campista e atacante, na formação das jogadas e conclusões ao gol. Maradona possuía aptidão técnica espantosa, sendo um atleta muito diferenciado frente aos demais de sua época.

Quando apareceu para o futebol a Argentina vivia um momento especial no que se refere ao esporte, sagrando-se inclusive campeã mundial na Copa de 1978. Nesta oportunidade, o técnico da equipe era César Luis Menotti que não convocou “El Pibe de Oro” (O garoto de ouro) para o evento. Maradona viria a revelar depois que esta foi uma das maiores decepções de sua vida, uma vez que já brilhava como atleta apesar da precoce idade.

Talvez a principal característica de Maradona, aquilo que o diferenciou de fato dos demais, foi a sua incrível capacidade de arrancada aliado ao domínio de bola. Era como se a bola colasse em seus pés, assim ele poderia deferir velocidade espantosa para atacar os adversários.

Foi por várias oportunidades artilheiro de competições disputadas pelos clubes por onde passou, finalizando sua carreira com 365 gols apurados oficialmente.

O apogeu da carreira de Maradona ocorreu no ano de 1986. O jogador viria a se tornar a partir daí um dos imortais do futebol. Levou a seleção argentina à conquista do campeonato mundial do México. O contexto social e político na época eram conturbados para o país, que acabara de sair de uma guerra com a Inglaterra pela disputa da soberania do arquipélago das ilhas Malvinas, chamadas de Falklands pelos ingleses. Na ocasião houve cerca de 1.000 baixas militares, sendo dois terços deste montante de mortes argentinas (fonte:http://mundoestranho.abril.com.br/materia/o-que-foi-a-guerra-das-malvinas). A partida de maior destaque deste mundial não poderia ser outra senão justamente contra a seleção inglesa, e esta ocorreu durante as quartas de final da competição.

Após a Guerra das Malvinas esta seria a primeira oportunidade onde os rivais se enfrentariam dentro de campo. Foi então que Maradona protagonizou alguns dos momentos mais lembrados da história do esporte. Primeiro viria a marcar um gol com a mão, encobrindo o arqueiro Peter Shilton. Com o punho esquerdo cerrado alcançou altura acima do goleiro inglês, levando a bola ao fundo das redes. Este tento ficou conhecido como “La mano de Dios”, após Maradona declarar ao fim da partida que “Lo marqué un poco con la cabeza y un poco con la mano de Dios”. Aconteceria depois, então, um outro momento memorável do esporte, o segundo gol da seleção argentina, o qual recebeu a alcunha de “O gol do século”. Foi realmente eleito o gol mais bonito da história das Copas do Mundo. Maradona encarou uma fila de marcadores ingleses e foi deixando um a um os adversários para trás, com dribles curtos e rápidos, adentrou então à área e chutou para o fundo das redes defendidas por Shilton.

A Inglaterra ainda faria um gol, mas a vitória estaria assegurada e a Argentina passaria à próxima fase da competição.

A Argentina avançou após isto pela Bélgica e chegou a grande final contra a Alemanha Ocidental. A partida final foi também uma das mais memoráveis da história das Copas. A Argentina saiu ganhando por dois a zero, mas permitiu o empate no final do jogo. Foi então que Maradona serviu o companheiro Burruchaga que fez o terceiro gol argentino dando o título para a equipe.

O jogador foi laureado com o título de melhor jogador do mundo, honraria que receberia ainda em outra oportunidade por revistas especializadas. A FIFA criou o prêmio de melhor jogador do mundo somente em 1991.

Em clubes, foi pela Società Sportiva Calcio Napoli, da Itália, clube intermediário, sem grandes expressões no futebol italiano, que Maradona atingiria seu melhor momento. Maradona foi transferido para este clube após uma passagem com muitos altos e baixos pelo Barcelona. No Barça, Maradona chegou com grande expectativa na maior transação financeira do futebol até então. Porém, teve dificuldades de adaptação ao estrangeiro, além de sofrer lesões que lhe custaram períodos fora dos gramados e de se envolver em brigas dentro e fora de campo, as quais lhe renderem suspensões por tempos consideráveis. Apesar disso, a passagem de Maradona pelo clube catalão é lembrada pelos espanhóis, sendo que vestimentas e vídeos com gols do jogador são expostos no museu no clube, localizado nas dependências do estádio Camp Nou.

Maradona é, e sempre será lembrado no Napoli como um deus. A importância do atleta foi tamanha para a equipe, que o clube passou a ser uma das equipes mais importantes e famosas do planeta em sua época. Conduziu a equipe do Napoli ao título de dois campeonatos italianos e a conquista da Copa dos Campeões da UEFA, a Champions League no ano de 1989.

Para exemplificar a dimensão da popularidade de Maradona nesta época recorda-sea Copa de 1990, realizada na Itália. Maradona jogava então pelo Napoli e o jogador argentino, para a ira dos dirigentes italianos, chegou a fazer um apelo a população local para que torcessem pela Argentina e não para a Itália naquele mundial.

A repercussão do pedido tomou proporções mundiais, sendo alvo de críticas ferrenhas de boa parte da população italiana.

Por uma incrível ironia do destino a Argentina viria a enfrentar a Itália naquela copa na cidade de Nápoles! Após fazer uma primeira fase da competição medíocre, perdendo no jogo de estreia para a equipe de Camarões, classificou-se como melhor terceira colocada (pelas regras da competição na época).

Na segunda fase eliminou o Brasil, equipe que tinha até então 100% de aproveitamento na competição. O gol da desclassificação brasileira saiu com jogada de Maradona, que deixou Cláudio Caniggia livre para tirar a bola do alcance de Taffarel e, mandar para as redes brasileiras.

O jogo semi-final, contra a Itália foi decidido nos pênaltis, resultando com classificação da Argentina para a grande decisão. Maradona foi o principal jogador de uma equipe nacional de qualidade contestável, mas que ainda assim chegou ao vice-campeonato mundial perdendo o jogo final para a Alemanha, com um gol de pênalti numa marcação duvidosa.

A fama de Maradona vai muito além dos domínios das quatro linhas. Jogador polêmico envolveu-se em diversos escândalos públicos principalmente por problemas com uso de substâncias entorpecentes, em especial a cocaína. Este foi seu maior adversário em vida. Foi suspenso do futebol por períodos longos de tempo, após ser pego em exames antidoping, que acusaram uso da substância. No início da década de 90 tornam-se públicos seus problemas com o vício.

Amigo de figuras controversas como Hugo Chavez e Fidel Castro, Maradona procurou tratamento médico em Cuba no intuito de se livrar da dependência química.Em sua vida pessoal Maradona teve ainda dois filhos fora do casamento, os quais não reconheceu como seus. Chegou a declarar publicamente “Minhas filhas legítimas são Dalma e Gianina. Os outros são filhos do dinheiro ou do erro”. Esta figura carismática e controversa acumulou um histórico de brigas e acusações contra a FIFA e imprensa em geral. Chegou a atirar em um jornalista que fazia vigília em frente a sua casa, após um episódio de recaída do argentino em sua luta contra as drogas. Maradona literalmente quase morreu em várias oportunidades por problemas de overdoses.

Maradona foi eleito em 2002, pela FIFA, como o melhor jogador do século por votação na Internet. Na ocasião retirou-se da festa para não ter que cruzar com seu eterno desafeto, Pelé.

Dieguito recuperou-se das drogas e problemas de sobrepeso e, atacou ainda como apresentador na televisão argentina, no comando do programa de entrevistas e reportagens “La Noche Del Diez”. Seu primeiro convidado foi justamente o rival Pelé. Durante a atração Pelé e Maradona conversaram amistosamente sobre coisas ligadas ao futebol e sobre seus problemas com drogas, no caso de Pelé sobre seu filho Edinho, o qual foi preso por tráfico de drogas. Ao final trocaram passes de cabeça e cantaram juntos. Maradona receberia ainda no programa seu amigo Fidel Castro e outros ícones televisivos como Xuxa, e ídolos do esporte como Mike Tyson.

Após abandonar os gramados, viria a se tornar tempos mais tarde treinador de futebol, classificando a seleção nacional de seu país para a Copa do Mundo de 2010 disputada na África do Sul. A vaga foi obtida com dificuldades, com derrotas históricas para a Colômbia e Bolívia, e Maradona seria criticado pela forma como escalaria o time e treinava os atletas. A vaga foi conquistada em jogo derradeiro contra o Uruguai em pleno Estádio Centenário, na capital Montevideo.

Durante a Copa da África do Sul Maradona comandou a equipe que fez uma boa primeira fase, mas foi eliminado nas quartas de final com derrota incontestável para uma forte seleção da Alemanha por quatro gols a zero. Após a derrota Maradona foi demitido do cargo.

A saída de Maradona das atuações no gramado significou um vazio muito grande na história do futebol mundial e ainda mais na história do futebol argentino. Este ícone do esporte bailava em campo como um apaixonado pelo futebol como se dançasse um tango dramático, escrito por Gardel.

Em tempos onde se vive uma escassez de craques amantes do esporte, e aonde o dinheiro vem falando mais alto a cada dia, a saudade do futebol espetáculo, como o protagonizado por Maradona, fica cada vez mais latente. Sua perna esquerda será eternamente lembrada pelos lançamentos certeiros, dribles rápidos e chutes poderosos.

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mané guarrincha

Garrincha: o “anjo de pernas tortas”

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Nascido em 28 de outubro de 1933, Manoel Francisco dos Santos – o popular Mané Garrincha – é um dos principais nomes do “panteão dos grandes” do futebol mundial, reconhecido em todas as esferas históricas da Fifa (a polêmica e toda poderosa congregação mundial do futebol com sede na Suíça) como um atleta controverso, mas extremamente talentoso cuja atuação extrapolou os limites do futebol e acabou por marcar, inclusive, o imaginário de gerações de amantes do esporte.

Fotos: Foto-net/Fifa.com

A exemplo de outros grandes nomes em diferentes áreas de atuação, e em decorrência de um estilo de vida que desafia qualquer limite – afinal, quão difícil deve ser para um gênio suportar a contingência da vida –, Garrincha morreu jovem, com apenas 49 anos em janeiro de 1983. Em menos de 5 décadas, no entanto, suscitou as mais espantosas reações em todas as partes do globo. “Afinal, de que planeta ele veio”, teria questionado um jornalista chileno, sobre as habilidades do jogador.

Garrincha imprimia em campo algumas de suas características mais marcantes, como a imprevisibilidade, a agilidade, a velocidade e “uma inteireza de presença” que o tornava famoso não apenas no gramado, mas também entre integrantes da torcida feminina. E foi com este perfil que Mané Garrincha ajudou o país a conquistar dois campeonatos mundiais, o de 1958 (Suécia) e de 1962 (Chile). “Se, para os brasileiros, Pelé é o jogador tecnicamente perfeito, Garrincha será lembrado para sempre como o atrevimento em pessoa”, lembra a Fifa, no perfil dedicado ao ídolo. “Ousado, alegre e divertido, o ponta-direita arrancou sorrisos de milhares de torcedores em todas as suas atuações”, complementa.

Infância

Garrincha nasceu de família humilde em Magé, região metropolitana do Rio de Janeiro. Recebeu este apelido em decorrência de uma espécie de passarinho – de mesmo nome – que havia em grande quantidade naquelas plagas.

Desde pequeno se interessava pelo futebol, mas além de enfrentar as limitações financeiras também teve de “encarar” outro grande desafio, um problema físico. Com a perna esquerda seis centímetros mais curta que a direita, “nas visitas aos médicos, era sempre aconselhado a esquecer das ‘peladas’”. Por ironia do destino – ou por avidez e perspicácia do futuro jogador – foi justamente esta característica que o fez ter uma atuação originalíssima, responsável por encantar multidões.

As pessoas que conheceram o Garrincha menino não poderiam acreditar que aquele “moleque magro, manco, com os pés curvados e a coluna torta” poderia ter alguma chance nos clubes profissionais de futebol. E foram muitos os times que não se interessaram pelo craque, de cara por considerar que seu problema físico seria um empecilho irremediável. Até que, em 1953, por recomendação de um grande nome do futebol à época – Nilton Santos –, finalmente Garrincha é contratado pelo Botafogo, e num dos primeiros treinos provou que não estava para brincadeira ao humilhar o próprio Nilton Santos “com os seus dribles que mais pareciam números de mágica”.

E foi no Botafogo que “o ponta exibiu todo o seu repertório contra os defensores adversários e cansou de enganá-los com as suas arrancadas imprevisíveis”. O resultado foi imediato e a torcida logo se rendeu ao talento de Mané Garrincha, que também passou a ser conhecido como “A Alegria do Povo”.

Sucesso

Da atuação no time carioca para a defesa do país pela Seleção Brasileira o percurso de Garrincha foi rápido. Em 1955 o jogador disputa seu primeiro jogo, num duelo de Copa do Mundo contra o Chile que terminou em empate de 1 a 1. “Ao todo, com a camisa canarinha, foram 60 partidas e 17 gols. Apenas cinco anos depois de estrear na primeira divisão do Rio, ele se tornou campeão mundial na Suécia 1958”, lembra a Fifa.

Foi na Seleção que Garrincha passou a ser mundialmente conhecido ao compor um ataque que para muitos ainda é considerado como a melhor formação que os canarinhos já apresentaram. Na Copa da Suécia e ao lado de Didi, Vavá, Zagallo e Pelé (naquela época, com apenas 17 anos), Garrincha e a equipe brasileira pareciam imbatíveis. A equipe brasileira tornou-se, então, “a primeira campeã fora do seu continente a levantar a taça de forma invicta”.

Quatro anos depois, no Chile (1962), Garrincha conseguiu “espantar” o mundo com seus dribles excepcionais. A repercussão mundial das facetas do ídolo recebeu a ajuda da nascente e crescente transmissão pela TV. A atuação brilhante no Chile e a “conquista do bicampeonato mundial engrandeceram ainda mais a carreira do atacante do Botafogo no Brasil, onde muitas pessoas o consideram o segundo melhor jogador da história do país”, lembra a Fifa.

Garrincha ainda jogaria na Copa da Inglaterra, em 1966, sua última participação em uma Copa. Mas a campanha brasileira, sob a batuta do técnico Vicente Feola, foi uma das mais desastrosas. O país é eliminado já na primeira fase por duas seleções europeias, a de Portugal e da Hungria. O torneio parecia ser um prelúdio para o que viria ocorrer na própria vida do craque Mané Garrincha.

Decadência

Apesar de ter superado suas limitações físicas e de ter se tornado um dos maiores dribladores do mundo, com uma destreza inconfundível, no final dos anos 60 e toda a década de 70 Garrincha “se perdeu em uma vida tumultuada e cheia de vícios”. O “anjo de pernas tortas” – denominação que recebeu de Vinícius de Moraes – perdia a guerra para o consumo de álcool. “Apesar da incrível habilidade nos gramados, ele não conseguiu driblar o seu notório alcoolismo e o persistente gosto pela vida boêmia, que impediram um final à altura da sua brilhante carreira”, lembra a Fifa.

Esquecido e “judiado” por uma cirrose decorrente dos excessos, Mané Garrincha morre em 20 de janeiro de 1983. “O seu corpo foi velado no Maracanã, onde milhares de torcedores lhe deram o último adeus. Beijado por muitos, o seu caixão estava coberto pela bandeira do Botafogo”. Se estivesse vivo, contaria com 81 anos. Provavelmente estaria orgulhoso tanto dos cinco títulos conquistados pelo Brasil, quanto pelo país ser o centro do global do futebol ao realizar a 20ª. Copa do Mundo da Fifa. Na memória dos brasileiros, fica o registro de um atleta que, antes de tudo e para o bem ou para o mal, impingia garra e paixão em suas atitudes.

O anjo de pernas tortas – Vinicius de Moraes (1962)

A um passe de Didi, Garrincha avança

Colado o couro aos pés, o olhar atento

Dribla um, dribla dois, depois descansa

Como a medir o lance do momento.

Vem-lhe o pressentimento; ele se lança

Mais rápido que o próprio pensamento,

Dribla mais um, mais dois; a bola trança

Feliz, entre seus pés – um pé de vento!

Num só transporte, a multidão contrita

Em ato de morte se levanta e grita

Seu uníssono canto de esperança.

Garrincha, o anjo, escuta e atende: Gooooool!

É pura imagem: um G que chuta um O

Dentro da meta, um L. É pura dança!

Marcos Vinicius da Cruz e Mello Moraes, ou Vinicius de Moraes (Rio de Janeiro, 19 de outubro de 1913 – Rio de Janeiro, 9 de julho de 1980)

Carreira como jogador

Conquistas pela seleção

– 50 partidas pelo Brasil, com 12 gols

– Copa do Mundo da FIFA Suécia 1958, campeão

– Copa do Mundo da FIFA Chile 1962, campeão

– Copa do Mundo da FIFA Chile 1962, melhor jogador e artilheiro (quatro gols)

– Copa do Mundo da FIFA Inglaterra 1966, primeira fase

Clubes

– 1953 – 1966: Botafogo

– 1966 – 1967: Corinthians

– 1967 – 1968: Barranquilla (Colômbia)

– 1968 – 1969: Flamengo

– 1969 – 1971: Red Star (França)

– 1972 – 1973: Olaria

Conquistas pelos clubes

– Campeão carioca em 1957, 1961 e 1962

Referências:

Garrincha: Era mais do que apenas um (conteúdo da Fifa)– Disponível emhttp://pt.fifa.com/classicfootball/players/player=63868/ – acessado em 13/06/2014 .

Garrincha – biografia do UOL. Disponível emhttp://educacao.uol.com.br/biografias/garrincha.jhtm – Acessado em 14/06/2014.

O Anjo de pernas tortas. Disponível em http://oglobo.globo.com/pais/noblat/posts/2010/06/16/o-anjo-de-pernas-tortas-vinicius-de-moraes-298906.asp  – acessado em 14/06/2014.

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Vigorexia – Uma nova obsessão, um novo transtorno!

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Foto: Wlaquerley Ribeiro

Praticar exercícios físicos em todas as suas modalidades pode ser o caminho certo para uma melhor qualidade de vida. Mas, quando o excesso desses exercícios se tornam uma obsessão?  Nesses casos, entra a questão: esporte é saúde? Certamente temos uma opinião formada e uma reposta automática e positiva quanto a prática dos exercícios físicos.

Quando esse novo estilo de vida, disfarçado de antissedentarismo, ultrapassa os limites permitidos pelo corpo humano, pode gerar transtornos psicológicos chegando até mesmo à depressão. Nesse caso, o paciente já a ponto do complexo de inferioridade, pode ser diagnosticado com o Transtorno da Vigorexia

Também conhecida como Síndrome de Adônis, a vigorexia, ainda pouco conhecida pela ciência psicológica, é caracterizada por uma necessidade de estar sempre treinando, se fortalecendo, buscando mais ainda massa muscular. Mesmo já apresentando uma musculatura compatível com o corpo, o vigorexo que pode ser considerado um fanático por beleza atlética, chega a entrar em um estado psicológico anormal, criando necessidades vaidosas sem limites.

O estudante M.L.B, 23, conta que, logo depois que decidiu frequentar uma academia, teve um grande aumento de massa muscular. Mesmo assim, o estudante não conseguia visualizar e imaginava que nada tinha acontecido de mutação em seu corpo. “O pessoal falava que eu estava bacana, mas eu me via muito magro ainda, só percebia em algumas fotos que tinha mudado um pouco, na minha cabeça eu me sentia com o peso normal”, afirma, comentando ainda que a partir daí os familiares e amigos mesmo sem ter conhecimento da vigorexia o aconselharam a procurar um tratamento psicológico. “Eu procurei auxilio só pra provar que todos estavam errados e que eu não sofria de nenhum transtorno, quando comecei o tratamento percebi que realmente eu estava com uma certa obsessão por massa muscular”, conta.

A psicóloga Samira Brito Nogueira, relaciona a vigorexia similar com a anorexia – mulheres que são magras e sentem o desejo de emagrecer ainda mais –  também com a  bulimia e os transtornos alimentares, que são dismorfismos corporais e psicológicos. “Além do gasto exagerado de tempo na malhação, com outros sintomas é possível identificar um vigorexo através da preocupação desnecessária com alimentação, muito tempo se olhando no espelho, avaliando músculos e se sentindo pequeno, fraco e frágil, com um certo complexo de inferioridade”, diz.

De acordo com a psicóloga, o tratamento é multidisciplinar, podendo envolver um psicoterapeuta, nutricionista ou até mesmo um educador físico. “Com a psicoterapia ele pode estar procurando a área cognitiva comportamental que trabalha especificamente com pensamentos e comportamentos que o paciente apresenta para melhorar a obsessão”, explica a psicóloga lembrando ainda que, em alguns casos da vigorexia, indica-se também um profissional médico. “O médico estará indicando para esse paciente um medicamento do tipo um inibidor de seretonina, pois o paciente precisa trabalhar essa espécie de ansiedade, sendo que em alguns casos chega até mesmo a depressão”.

Thays Alves, professora de Educação Física de uma academia na cidade de Palmas-TO, afirma ser muito comum encontrar nas academias, homens com corpos grandes e definidos e mesmo assim sempre em busca do aumento obsessivo por massa muscular. “Muitas vezes para atingir esse objetivo eles esquecem da qualidade nos treinos e priorizam a quantidade, tanto de exercícios, quanto de peso”. A professora  explica ainda que, “os exercícios com cargas excessivas podem causar lesões, devido as sobrecargas nas articulações e coluna”.

Outro fator comum nas academias é o uso dos esteróides anabolizantes. De acordo com estudos dos profissionais da educação física, essas substâncias são proteínas que servem para aumentar o desempenho das atividades. “São vasos dilatadores que, usados de formas inadequadas, podem acarretar sérios riscos cardíacos, como arritmia e até infarto”, explica a profissional de Educação Física, Thays Alves.

“Sendo assim, a vigorexia é uma forma de provar que esporte nem sempre é saúde”, conclui a psicóloga Samira Brito Nogueira, acrescentando ainda que, em função desses esteróides anabolizantes, a pessoa pode ter disfunção sexual. “Podendo apresentar até dificuldade na ejaculação e indisposição para qualquer coisa que não seja a musculação”.

M.l.B, revela que, depois do tratamento que durou cerca de seis meses, consegue identificar possível obsessão da vigorexia em colegas de academia. “Eu não posso afirmar ou dar um diagnóstico que é vigorexia, mas hoje, depois do tratamento, percebo que alguns colegas sofrem desse transtorno e não aceitam o diagnóstico”, finaliza.

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Resiliência: da muleta para o triathlon

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Acidentes acontecem e quando acompanhados de sequelas físicas podem acarretar problemas de saúde mental, seja pela inatividade, por não aceitar a situação ou por outros motivos. No período pós-acidente, onde o paciente está em fase de recuperação, muitos deles precisam trocar sua rotina agitada por descanso e repouso. Nesse período, é fundamental que o paciente ocupe sua mente com outras atividades. Isso garante o bom funcionamento do cérebro e contribui para a preservação da saúde mental do indivíduo. Ser resiliente é importante.

A psicologia define a palavra resiliência como a capacidade de uma pessoa lidar com os seus próprios problemas, vencer obstáculos e não ceder à pressão, independente da situação. Em termos gerais, a resiliência é a capacidade de voltar ao seu estado natural, principalmente após alguma situação crítica e fora do comum.

Para mostrar que é possível mostrar resiliência em situações difíceis, o (En)Cena entrevistou Rafael Felipe, Analista de Comunicação, estudante de Publicidade e Propaganda e praticante de triathlon nas horas vagas. Em 2005 vivendo a plena juventude, Rafael sofreu um acidente jogando bola e depois de muitas complicações cirúrgicas ficou dois anos andando de muletas. Durante esse período, Rafael teve que abandonar todas suas atividades como trabalhar, estudar e praticar esportes, mesmo assim conseguiu manter sua saúde mental em perfeito estado.

Foto: arquivo pessoal

(En)Cena – Como era sua vida e suas atividades antes do acidente?

Rafael Felipe – Eu sempre pratiquei esporte como lazer. Jogava futebol, futsal, vôlei, tênis de mesa e nadava, mas nada com fins de rendimento ou algo parecido, apenas como lazer e diversão

(En)Cena – Em que ano foi o acidente e quantos anos você tinha? Como o acidente aconteceu?

Rafael Felipe – Foi em dezembro de 2005. Eu tinha 22 anos. O acidente aconteceu em uma noite de terça-feira, como era de praxe, fui jogar futebol society com meu irmão e amigos. Nos primeiros 10 minutos um rapaz que não conheço, por falta de perícia (habilidade mesmo), somado com a grama molhada da chuva, pulou em meu joelho. A pancada foi tão grande que o barulho foi gigante. Fiquei alguns minutos gemendo de dor. Meu primo chamou a SAMU, mas como o atendimento em Palmas é complicado, meu primo entrou com meu carro dentro do campo e me carregou para o hospital. Fui para o HGP que é bem complicado.

(En)Cena – Foi atendido no mesmo dia? Qual foi o diagnóstico?

Rafael Felipe – Fui atendido depois de muito tempo e minha mãe querer entrar com medicamento para dor. Fiquei algumas horas em uma cadeira de rodas. O primeiro diagnóstico falava que poderia ser uma ruptura ligamentar, mas fiz um raio-x que apenas mostrou que havia quebrado o fêmur bem na ponta, coisa pouca. Aí tive que fazer uma ressonância. Na época em Palmas não tinha, então dia 26/12 fui pra Goiânia e fiz a tal ressonância que confirmou a ruptura do Ligamento Cruzado Posterior e derrame da articulação devido a pancada e quebra do fêmur.

(En)Cena – Quais foram as consequências?

Rafael Felipe – Então, aí começam as complicações. Com a ruptura, deve-se de imediato fazer a cirurgia. Mas o médico ficou me enrolando por mais de 6 meses e eu fazendo fisioterapia. Por dois meses pela dor me locomovia com cadeira de rodas e depois sempre de muletas com um imobilizador de joelho que é de neopreme com barras de alumínio. Até que busquei uma segunda opinião.

(En)Cena – E a segunda opinião que você buscou constatou a mesma coisa?

Rafael Felipe –Não. Graças ao meu bom Deus o médico era bom e consciente. Falou que se ele fosse meu médico me operaria dias depois da lesão. Aí mudei pra ele. Ele foi muito ético, falou que eu tinha um médico e não podia ir direto pra ele. Eu falei “eu assumo e preciso resolver meu problema”. Fiz diversos exames até fazer as cirurgias.

(En)Cena – E ocorreu tudo bem nas cirurgias? Quais foram os resultados?

Rafael Felipe – Três dias antes da primeira cirurgia eu estava gripado e fui ao SAU. Falei pra uma médica e ela me receitou um medicamento forte. Tomei. Fiz os exames normalmente. Aí na primeira cirurgia a anestesia raquidiana deu rejeição com o medicamento que eu estava tomando. Então durante as 7h30 de cirurgia, todos os meus batimentos cardíacos ficaram acima de 175 por minuto. Só na hora da cirurgia que apareceu o problema. Acordei com aquele monte de aparelhos em volta de mim, caso meu coração parasse. Eu poderia ter morrido.  Mas como sempre falo, acho que bati na porta lá em cima e falaram: “putz, é o Rafael, ele é chato demais, manda de volta”. (risos)

(En)Cena – Deu tudo certo nessa cirurgia?

Rafael Felipe – Sim. No outro dia ainda internado foi feito novos exames que constaram que um dos pinos que foi colocado na minha perna, na verdade o tendão usado para ser o ligamento, rasgou. Ou seja, teria que fazer mais uma cirurgia. Porém isso era sexta à noite. O médico, devido ao problema no coração, só faria a outra cirurgia após a avaliação de um cardiologista. E pra variar aqui em Palmas tem uma máfia dos cardiologistas. Só tem um lugar que faz todos os exames e não funciona no sábado. Precisava dos exames para fazer a cirurgia no domingo cedo. Uma médica amiga conseguiu abrir o Cardiocenter no sábado pra me atender. Fiz os exames e não deu nada de errado. Foi apenas o medicamento que eu tinha tomado antes para gripe que causou o problema na cirurgia. Meu coração estava 100%. Aí fiz a cirurgia no domingo.

(En)Cena –  E como foi essa segunda cirurgia?

Rafael Felipe – Foi tudo beleza. Na segunda cedo o médico disse que eu estava há muitos dias no hospital e eu podia ir pra casa e ficar muito quieto. Mas é complicado. Chegando em casa, milhões de visitas e eu “quase não falo”. No mesmo dia à noite, em casa, comecei a sentir falta de ar e tive uma parada respiratória proveniente de uma embolia pulmonar. Na hora que minha mãe ligou pro meu médico, ele na hora mandou a esposa dele, pois pra minha sorte ela é pneumologista. E ele sacou na hora que deveria ser isso. Meu pai foi muito rápido também. Na hora que minha esposa falou pra ele que eu estava mudando de cor (risos), ele deu umas “porradas” em mim pra eu continuar respirando. Ele e minha mãe voaram para o hospital. Fiquei na UTI uma madrugada e parte do dia todo entubado. Fiquei uns dias no hospital e por 25 dias fiquei tomando anti-coagulante, uma injeção desagradável que dá na barriga. Aí depois disso foram mais 4 cirurgias mais tranquilas, mas todas com a tal anestesia chata.

(En)Cena – E depois de tudo isso, o que aconteceu que você ficou dois anos sem andar?

Rafael Felipe – Devido ter demorado a fazer a primeira cirurgia, o joelho criou um monte de coisas. Foram 6 cirurgias e cerca de 380 sessões de fisioterapia.

(En)Cena – Mas nesses dois anos você se locomovia de cadeiras de rodas, muleta ou de que forma?

Rafael Felipe – De muletas. Eu não conseguia andar pela dor e também porque perdi o movimento das pernas.

(En)Cena – O que mudou na sua rotina após o acidente?

Rafael Felipe – Tudo. Eu tinha uma vida bem ativa. Trabalhava, fazia faculdade. Vida bem agitada. Aí do nada, tinha que ficar paradão. Dependia dos outros pra fazer tudo. Nos primeiros dias, até banho era difícil.

(En)Cena – Como foi o desafio de viver com limitações durante o período pós-acidente? Quais eram suas principais dificuldades durante esse tempo?

Rafael Felipe – Nossa, eu que não parava, ficar na inércia em casa era bem complicado. Eu passei a maior parte do tempo em casa. E antes eu quase não ficava em casa.

(En)Cena – Psicologicamente, como você reagiu ao saber que ficaria sem andar por um tempo e não poderia ter a vida ativa que você sempre teve?

Rafael Felipe – A princípio parecia tranquilo. Mas com o tempo começou a pesar. Era um sentimento de impotência, de não poder fazer tudo que fazia normalmente.

(En)Cena – Você desenvolveu sentimentos como raiva, medo, angústia, tristeza, essas coisas?

Rafael Felipe – Eu sou muito zen. Fiquei sempre ansioso, isso sim.

(En)Cena – Em algum momento passou pela sua cabeça que você jamais poderia voltar a fazer suas atividades, como praticar esportes?

Rafael Felipe – Sim

(En)Cena – E quando você pensava nisso, o que imaginava? Que sentimentos você alimentava?

Rafael Felipe – Como te falei sou zen e sempre tive Deus comigo. Então sentimentos ruins foram poucos.

(En)Cena – E quais eram as expectativas médicas e as suas próprias expectativas?

Rafael Felipe – Então, depois de um ano que voltei ao normal, acabei virando amigo do médico e ele comentou comigo que não esperava que eu fosse voltar a ficar quase 100% como fiquei. E dei muito trabalho pra ele.

(En)Cena – Nesse período que você ficou inativo, você parou tudo? Inclusive faculdade e trabalho?

Rafael Felipe – Sim. Mas abre aspas, fiz minha filha (risos). Mas não podia trabalhar nem estudar. De manhã e tarde fisioterapia, mas na empresa eu não podia ir. Fiquei encostado pelo INSS.

(En)Cena – E o que você fez para passar o tempo, já que não podia fazer esforço físico?

Rafael Felipe – Comia e assistia filme (risos). Por isso cheguei a pesar 100kg.

(En)Cena – Estudos científicos revelam que para uma boa conservação mental, o indivíduo deve ocupar sua mente, para que ela esteja sempre trabalhando. Você não fez mais nada além de comer e assistir filme?

Rafael Felipe – Fiz sim. Como trabalho com computador, fiz vários projetos pela empresa do meu pai. Alguns freelas de publicidade mais voltados para web. Li alguns livros também.

(En)Cena – Qual foi o papel da sua família em sua reabilitação física e conservação da sua saúde mental?

Rafael Felipe – Fundamental. Apoio mais que 100%. Sem eles eu nem sei o que seria de mim.

(En)Cena – Após sua completa recuperação, que atividades você voltou a fazer? Começou algo novo?

Rafael Felipe – Em maio de 2007 fui pra Floripa assistir uma prova de triathlon e me apaixonei por aquilo. Mas com mais de 92kg era difícil. Aí comecei a nadar, pedalar e correr.

(En)Cena – Foi assim que emagreceu novamente e voltou ao peso normal?

Rafael Felipe – Exato.

(En)Cena – E hoje você pratica triathlon apenas por lazer ou profissionalmente?

Rafael Felipe – Por hobby, isso vicia. Profissionalmente nunca. (risos)

Fotos: arquivo pessoal

(En)Cena – Que dica você pode dar para os internautas no sentido de manterem sua saúde mental em perfeito estado, mesmo em situações semelhantes a que você passou?

Rafael Felipe – Ter fé e confiar no cara lá de cima, e buscar preencher a mente com algo.

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