Livro da Galera Record ganha edição americana

Compartilhe este conteúdo:

O romance ‘Where we go from here’, publicado por uma das maiores editoras dos Estados Unidos, é tradução de ‘Você tem a vida inteira’, do brasileiro Lucas Rocha. A obra conta a história de três jovens entrelaçadas pelo vírus HIV. “O livro mostra que o principal desafio do soropositivo hoje é o estigma”, afirma a editora-executiva Rafaella Machado, que, à frente da Galera Record, consolida um trabalho pioneiro de dar voz à diversidade. 

Primeira editora a publicar um livro jovem com protagonista homossexual, a Galera Record teve seu trabalho reconhecido internacionalmente com a chegada ao mercado americano de ‘Where we go from here’, tradução de Você tem a vida inteira, de Lucas Rocha. O romance, que trata sobre o preconceito enfrentado por jovens soropositivos, foi apresentado por Rafaella Machado, editora-executiva da Galera Record, a David Levithan, diretor editorial da Scholastic, uma das maiores editoras dos Estados Unidos. “Conheci o David, que também é autor de livros para jovens, numa Bienal do Livro, e o apresentei ao título. O que mais chamou a atenção dele foi a forma como Lucas abordou a temática do HIV. É uma leitura importante para desconstruir o preconceito”, observa Rafaella Machado. O livro de Lucas Rocha foi um dos três selecionados para o Kit Gay, lançado pela Galera Record em 2018, e foi um dos títulos distribuídos pelo influenciador Felipe Neto na Bienal do Livro de 2019 em seu protesto contra a tentativa de censura do Prefeito Crivella.

A trama de Você tem a vida inteira começa com Ian, que recebe o resultado positivo do teste de HIV. No centro de tratamento onde fez o exame ele conhece Victor, cujo resultado foi negativo. Victor ainda está irado com Henrique, o rapaz com quem está saindo, por ele ter contado que era soropositivo apenas depois que eles transaram – embora tenha se precavido e usado camisinha em todos os momentos.  Já Henrique está gostando de verdade de Victor e, por isso, tomou a decisão de se abrir sobre o HIV. Suas experiências anteriores no assunto não foram muito boas, e ele ainda reluta em acreditar que possa amar alguém de novo. Por meio destes três personagens, ele narra os medos, as esperanças e o preconceito sofrido por quem vive com HIV. Tudo isso numa prosa delicada e embalada também por humor, referências pop e personagens secundários cativantes – de diversos gêneros, cores e sexualidades. “Ainda temos inúmeras vozes em silêncio na comunidade onde estou inserido – da sigla LGBTQIA+, a maior parte das narrativas que vejo são G, e vou ficar muito feliz quando todas as outras letras também tiverem seu espaço de destaque, principalmente na literatura jovem brasileira”, defende Lucas Rocha.

Destaque no exterior e SUS em debate

O editor brasileiro Orlando dos Reis, colaborador da Scholastic, em entrevista ao site Publisher’s Weekly, lembrou de quando leu o original em português pela primeira vez – e se encantou imediatamente: “Ao meio do capítulo quatro, comecei a traduzir. Pensei: ‘Alguém mais precisa ler isso. Não posso ser o único”, entusiasmou-se o editor brasileiro. Depois de publicado, o livro recebeu destaque da editora norte-americana. Em meio aos quase quatrocentos títulos publicados anualmente, a Scholastic escolhe três para “leitura obrigatória” aos funcionários para a convenção anual, e ‘Where we go from here’ foi uma delas. Rafaella Machado, que  participou da Convenção, a convite de Levithan, comenta o sucesso do título na nova casa. “Um ponto do livro que impressionou os funcionários da Scholastic, especialmente neste contexto de pandemia, é a assistência do serviço público brasileiro de saúde ao portador de HIV, que é uma referência mundial”. No livro, Lucas destaca na trama o desempenho do Sistema Único de Saúde brasileiro, o SUS.

3 perguntas para Rafaella Machado

A editora-executiva da Galera Record, Rafaella Machado, faz parte da terceira geração da família no comando do Grupo Editorial Record, fundado por seu avô, Alfredo Machado, em 1942 – Alfredo tinha o sonho de vender livros como ‘um produto de massa’, que todos pudessem comprar. Depois de passar pelo marketing da empresa, Rafaella assumiu a editora Galera Record com a missão de buscar novos autores, com a formação de novas gerações de leitores, sempre preocupada com a inclusão de temas e pautas de representatividade, e captar tendências editoriais.

Qual é a importância do livro do Lucas Rocha hoje?

Rafaella Machado: Há 20 anos, muitos livros e filmes para jovens falavam sobre o perigo do HIV. Agora que o vírus está sob controle, e o Brasil é referência no tratamento, existe uma carência de livros que falem sobre a verdadeira epidemia que circunda os soropositivos, que é o preconceito e a intolerância. O livro do Lucas mostra que o principal desafio do soropositivo hoje não é mais a doença e sim o estigma pessoal.

Como surgiu a ideia de apresentar o livro ao David Levithan?

R. M: Eu conheci o David aqui no Brasil, quando ele veio para a Bienal de 2018 e conversamos muito sobre a importância de livros LGBT contra o autoritarismo e homofobia, especialmente nos Estados Unidos do Trump. Quando acabou a Bienal, o David foi conhecer a sede do Grupo Editorial Record, em São Cristóvão, no Rio, e ele me perguntou qual livro do selo que mais me empolgou ultimamente. Entreguei um exemplar para o David e nunca pensei que ele encontraria alguém para ler o original em português.

Levithan é uma referência no mercado jovem. Como é sua relação com ele?

R. M: Eu me inspiro muito no trabalho dele. Foi para ele que liguei quando o Crivella tentou censurar os livros gays na Bienal e falar com ele reforçou para mim a responsabilidade social de um editor jovem na luta contra o silenciamento, o tabu e preconceito, seja de pessoas homoafetivas ou qualquer outro tipo de minoria.

Compartilhe este conteúdo:

Vice: quando homens ordinários conduzem a política de um país

Compartilhe este conteúdo:

Concorre com 8 indicações ao OSCAR:

Melhor Filme, Melhor Ator, Melhor Ator Coadjuvante, Melhor Atriz Coadjuvante, Melhor Diretor, Melhor Roteiro Original, Melhor Montagem, Melhor Maquiagem e Penteados

Vice, escrito e dirigido por Adam McKay, conta a história “real” de Dick Cheney, o 46º vice-presidente americano durante a era Bush (2001 a 2009). Já no início do filme, McKay esclarece em um tom satírico que Cheney é conhecido justamente por ser um dos líderes mais reservados da história, então, nestas condições, fez o melhor possível (em suas palavras: “But we did our fucking best”). De certa forma, o que McKay tenta mostrar nas duas horas do filme foi como um funcionário burocrático de Washington se tornou silenciosamente, como um fantasma, o homem mais poderoso do mundo quando foi vice-presidente de George W. Bush, remodelando a forma como o jogo do poder político era conduzido e promovendo interpretações obscuras da constituição americana. Para Wilkinson [1],

Vice não quer humanizar Dick Cheney. Então, em vez disso, (talvez) demoniza a América. Poucos filmes em 2018 foram mais polêmicos do que Vice, o conto do diretor Adam McKay sobre o moderno Partido Republicano, concentrado na pessoa do ex-vice-presidente Dick Cheney. As resenhas de críticos foram fortemente divididas entre aqueles que amaram o filme e aqueles que o desprezaram, assim como a abundância de comentários polarizados.

Dick Cheney é interpretado de forma magistral por um irreconhecível Christian Bale, que teve sua forma física alterada, ganhando mais peso, e sua face e cabeça remodeladas por próteses.  A história toda é narrada por um personagem fictício interpretado por Jesse Plemonse o tom como este conduz a narrativa mostra-nos, de certa maneira, a forma como o diretor enxerga a figura central do seu filme.

Em alguns pontos da narrativa, há recortes do passado de Cheney, mostrando-nos que antes dele se tornar uma figura tão poderosa, ainda nos idos de 1963, era apenas um estudante e esportista medíocre, que só conseguiu obter uma bolsa em Yale graças a ajuda de sua inteligente e focada namorada (e futura esposa) Lynne (Amy Adams, impecável). Mas as bebedeiras e sua inabilidade para os estudos acadêmicos acabam lhe rendendo uma expulsão da faculdade e o consequente retorno a Wyoming, onde trabalhou como eletricista. McKay, na voz do seu narrador, insiste em dizer que naquela época Cheney deveria ser considerado um moleirão inútil, já hoje o chamariam simplesmente de imbecil. Ou seja, tudo o afastava do seu destino de ser o homem mais poderoso do mundo, ainda que nossa recente história nos mostra que possivelmente por essas características ele teria muito mais chance de ser eleito presidente de um país.

Lynne tinha um foco bem definido na vida, queria ter uma vida extraordinária, e isso seria menos difícil se não tivesse nascido em uma época em que as mulheres vinham em segundo plano na política e em todo o resto. Logo, dedicou sua vida a fazer de Cheney um homem importante e, também, de se fazer importante nesse meio. De forma bem simplista, a reviravolta de Cheney é mostrada ao público, por exemplo, quando seu vício em álcool é substituído pelo vício em comida e, especialmente, pelo vício em um tipo específico de energia, aquela advinda do poder.

Sua escalada ao poder começa na era Nixon, quando iniciou o trabalho com o implacável Donald Rumsfeld (Steve Carell). Em sua primeira investida no universo político, Cheney não passava de um estagiário de Rumsfeld, que o seguia para todos os lados, permanecia em silêncio o suficiente para não ser descartado e tinha uma esposa que alegrava os jantares. Certa vez, quando o jovem Cheney perguntou a Rumsfeld em que ele acreditava? Ele riu. Ao final, parece que Cheney entendeu que na política as verdades estavam relacionadas com a interpretação dos fatos de quem detinha o poder, ou melhor dos fatos criados para produzirem verdades desejadas.

O início do filme traz o momento dos ataques terroristas de 11 de setembro, e depois de mostrar um pouco da fase jovem de Cheney, inicia-se a parte principal da história, que são as ações do governo seguidas das consequências imediatas aos ataques, já com Cheney como vice-presidente. O Cheney apresentado no filme é uma figura paradoxal, parece um funcionário público saído de um livro de Dostoiévsky, aparentemente calmo, quieto, monótono, que aceita ordens e as cumpre simplesmente porque elas vieram de uma figura superior, mas também é um predador voraz, que olha o inimigo ou quem ele considera idiota com menosprezo, e que é capaz de dar ordens para destruir um avião ou uma cidade com o mesmo tom de quem pede duas colheres de açúcar no café.

Para contrabalançar a figura política de Cheney, vimos, em alguns momentos, ele com sua família, mostrando-o totalmente devotado à sua esposa e filhas. Para Bradshaw, do The Guardian [2],

Vice é divertido e niilista, especialmente quando se trata do relacionamento de Cheney com sua amada filha Mary Cheney (Alison Pill), uma mulher gay e ativista do casamento entre pessoas do mesmo sexo. O tratamento final de Cheney com ela neste filme me fez pensar em Cidadão Kane ateando fogo em seu trenó de infância e dizendo que nunca gostou de equipamento de esportes de inverno com o nome de flores.

De certa forma, nem seus momentos de pescaria, ou carregando os netos, nem seu carinho pela filha caçula o tiram do foco. Se para candidatura da sua filha mais velha, esta precisaria dizer que era contra o casamento gay, pois estava fazendo campanha em um estado extremamente convencional, então ela diria. Nesse ponto, as cenas bucólicas da família são substituídas pelas ações que o mantêm como parte do tabuleiro político. Mesmo o trenó sendo tão significativo para Kane, ele o queimou. Mesmo Cheney tendo apoiado a filha quando esta revelou a sua homossexualidade, ele a traiu quando foi necessário fazer uma jogada no tabuleiro político em que estava inserido.

É difícil pensar em algum cenário que humanize Dick Cheney quando se entende o ambiente que ele ajudou a criar depois dos ataques terroristas de 11 de setembro, a partir do poder que exercia sobre o presidente (o aparentemente confuso George W. Bush) e sobre outras figuras importante do universo político americano.

Em uma síntese, McKay apresenta alguns fatos que compõem esse cenário nos momentos finais do filme: a Halliburton Company, uma empresa multinacional americana do ramo petrolífero, nos anos seguintes à invasão do Iraque aumentou o valor de suas ações em 500%; a gestão Bush-Cheney alegou ter perdido 22 milhões de e-mails, incluído milhões que foram escritos no período que precedeu a guerra do Iraque; os memorando do advogado John Yoo estabeleceram uma base legal para a tortura, descrito por Cheney em uma entrevista como “interrogatório aprimorado”. E, ainda o uso da Teoria Unitária do Poder Executivo, que segundo [3],  remete “a ideia de que nada que um presidente faça possa ser considerado ilegal e, portanto, este não pode ser processado (recentemente este argumento legal especioso foi reciclado por estudiosos conservadores e oportunistas em defesa do presidente Trump)”. É um tipo de política melhor descrita a partir da regra Reductio ad Absurdum, ou seja, cria inimigos, expõe sua própria força armada a experiências terríveis, mata civis, mas vai à igreja aos domingos orar pela família e pelo país.

Nos momentos finais do filme há uma cena de uma entrevista com Cheney e em um dado momento ele olha para a tela e diz: “Não vou me desculpar por manter suas famílias seguras. E não vou me desculpar por fazer o que precisava ser feito para que seus entes queridos pudessem dormir tranquilamente à noite. Tem sido uma honra servir a vocês. Vocês me escolheram e eu fiz o que vocês pediram.” E essa frase final é o que há de mais terrível, pois geralmente o mal extremo pode até ser articulado por uma pessoa ou um grupo, mas só acontece, de fato, quando o povo cegamente o permite (e o deseja).

FICHA TÉCNICA DO FILME:

VICE

Título original: Vice
Direção: Adam McKay
Elenco: Christian Bale, Amy Adams, Steve Carell, Sam Rockwell, Alison Pill, Jesse Plemons;
Ano: 2018
País: EUA
Gênero: Biografia, Drama

REFERÊNCIAS:

[1] https://www.vox.com/2018/12/21/18144605/vice-review-dick-cheney-adam-mckay-christian-bale-sam-rockwell-bush-steve-carell-rumsfeld

[2] https://www.theguardian.com/film/2018/dec/17/vice-review-christian-bale-dick-cheney-biopic

[3] https://www.spin.com/2018/12/vice-movie-review-dick-cheney/

Compartilhe este conteúdo:

Introdução a eCPR: um relato de experiência

Compartilhe este conteúdo:

No dia 01 de junho de 2017 deu-se início ao III Fórum Internacional: novas abordagens de saúde mental, no Rio de Janeiro – RJ. O evento que tem como linha teórica “práticas alternativas em Saúde Mental” e “boas práticas no Brasil em Saúde Mental”, objetiva debates e trocas com usuários do serviço de Saúde Mental, seus familiares e profissionais da área. No presente relato, discorrerei sobre a apresentação do norte americano Oryx Cohen.

Psicólogo, diretor do Centro de Assistência Técnica do Centro Nacional de Empoderamento (NEC) e ex-paciente psiquiátrico, Oryx Cohen fez uma introdução à abordagem CPR Emocional (eCPR), em que “o processo de conexão do eCPR envolve o aprofundamento das habilidades de escuta, a prática da presença e a criação de uma sensação de segurança para a pessoa que enfrenta uma crise” (eCRP, 2015). Para contextualizar tal abordagem, ele citou Carl Gustav Jung como o criador do arquétipo do curador ferido, e que assim como o autor, ele também se considera curador ferido, isto é, durante sua colaboração no processo de cura do outro desenvolve-se a cura de si mesmo, tudo isto através de uma conexão mútua.

O apresentador comentou o primeiro diagnóstico de doença mental foi o de drapetomania, na época da escravidão. Esta é, segundo o seu criador Dr. Cartwright (1851), “a causa na maioria dos casos, que induz o negro a fugir do serviço, é tanto uma doença da mente como qualquer outra espécie de alienação mental, e muito mais curável, como uma regra geral”. Uma das sugestões de tratamento era a amputação dos dedos hálux, de forma que impedisse equilíbrio e a fuga destes escravos.

Fonte: http://migre.me/wKO3Z

Do mesmo modo que tal diagnóstico de 1851 é considerado um absurdo atualmente, daqui a alguns anos futuros iremos considerar um despautério a grande quantidade de diagnósticos que são criados diariamente, principalmente nos Estados Unidos, afirmou o palestrante. Nesse sentido, vale ressaltar que “Pesquisadores e psiquiatras norte-americanos, argentinos, franceses e brasileiros têm denunciado o papel mercadológico da indústria farmacêutica em função das campanhas que têm desenvolvido para comercialização em massa de remédios voltados para a área de transtornos mentais e de comportamento” (CFP, 2012).

Para um modo de atuação mais sensato, onde deixa-se de enxergar estas pessoas como doentes mentais e foca-se na suposição de que elas estão apenas reagindo a problemas (sociais ou na comunidade), o apresentador propõe que precisamos aprender a ouvi-las. Isto caracteriza-se como uma forma de empoderamento, que é o que a própria sigla eCPR significa seus principais componentes: E – emocional, C – conexão, P – empoderamento; R – revitalização. Portanto, é através destes três passos que se torna possível amparar o outro através de uma crise emocional, de maneira que o ajude a recuperar sensação de segurança e propósito de vida (NEC, 2014,).

Nisso, o Emotional CPR mostra-se eficaz em seu método, pois possibilita uma conexão emocional com estes indivíduos, ao modo que a atenção ultrapassa o nível intelectual e utiliza-se da linguagem informal (do dia-a-dia).

Fonte: http://migre.me/wJmlF

“O eCPR baseia-se nos princípios encontrados para ser compartilhado por uma série de abordagens de suporte: cuidados informados por trauma, aconselhamento após desastres, apoio aos pares para evitar o contínuo desespero emocional, inteligência emocional, prevenção de suicídios e sintonização cultural. Foi desenvolvido com a contribuição de um grupo diversificado de líderes reconhecidos de todo os EUA, que eles mesmos aprenderam a se recuperar e crescer a partir de crises emocionais. Eles têm sabedoria pela graça da experiência de primeira mão” (eCPR, 2015).

REFERÊNCIAS:

CARTWRIGHT, S.A. Doenças e Peculiaridades da Raça Negra. Bow’s Review. Southern and Western States, Volume XI, Nova Orleans, 1851 AMS Press, Inc. Nova York, 1967. Disponível em: <http://www.pbs.org/wgbh/aia/part4/4h3106t.html>. Acesso em 01 jun. 2017.

Conselho Federal de Psicologia (CFP). (2012). Subsídios para a campanha Não à medicalização da vida: medicalização da educação. Brasília, DF: Conselho Federal de Psicologia. Centro de Referência Técnica em Psicologia e Políticas Públicas – CREPOP. (2007). Referência técnica para atuação do(a) psicólogo(a) no CRAS/SUAS. Brasília, DF: Conselho Federal de Psicologia.

eCRP. O que é eCPR? Disponível em: <https://www.emotional-cpr.org/about-ecpr.htm>. Acesso em 01 jun. 2017.

National Empowerment Center, Inc (2014). PR emocional: Salvando Vidas, Comunidades de Cura. Disponível em: <http://www.power2u.org/emotional-cpr.html>. Acesso em 01 jun. 2017.

Compartilhe este conteúdo:

III Fórum Internacional de Saúde Mental conta com conferencista norte-americano

Compartilhe este conteúdo:

No primeiro dia de junho de 2017, no South American Copacabana Hotel, Rio de Janeiro, deu-se início ao III Fórum Internacional de Saúde Mental. Com uma programação cheia durante todo o dia, destacou-se a participação do psicólogo norte americano Oryx Cohen, chefe de operações da NEC (National Empowerment Center) e coprodutor do documentário Healing Voices.

Ele iniciou sua fala abordando sobre o arquétipo do curador ferido, que segundo Jung (1919, apud NATEL, 2012) que indica que “a capacidade de curar o outro exige de cada curador o ato de curar a si mesmo”. Nesse sentido, Cohen disse que esse curar a si mesmo está relacionado com o aprender a ouvir melhor e que esse aprender a ouvir melhor pode aprimorar o ambiente para aqueles que convivem com vozes na cabeça (psicose) e que, em muitos casos, são discriminados por isso.

Sobre esta questão foi desenvolvido, nos Estados Unidos, com liderança de Oryx, o programa eCPR, com o intuito de ensinar pessoas a ajudar outras pessoas em momentos de crises emocionais, a partir de três passos: conectar, empoderar, revitalizar.

Cohen explanou sobre o significado de cada letra, em que o “C” leva a pessoa a se conectar emocionalmente com a outra, de coração para coração, apenas ouvindo, demonstrando que está junto dela. O “E” se refere ao ato de, junto da pessoa em crise, criar um ambiente favorável para que ela se empodere, com a premissa de que o poder está dentro de cada um. E finalmente, mas não menos importante, o “R” que induz a pessoa a revitalizar a outra, vendo essa “voltar a vida, voltar com o brilho nos olhos” (sentido figurado).

Esse programa propõe a mudança de pensamento e de discurso daqueles que julgam quem passa por esses momentos de crise, em que as vozes na cabeça surgem com intensidade. Essas pessoas são estigmatizadas como “loucas, doidas, doentes mentais” e afins. Cohen colocou que a pergunta é: “Essas pessoas estão doentes ou estão reagindo a algum problema? O problema está na pessoa ou na sociedade em que ela vive?”. Sociedade essa “que tapa os ouvidos” e todos os outros sentidos, geralmente procurando internação ou intervenção medicamentosa para quem está na crise.

Desse modo, agem de forma analógica a drapetomania, processo no qual, segundo Cohen, os escravos eram diagnosticados como “loucos” quando tentavam fugir e o “tratamento” era receber chibatadas e terem os dois dedões dos pés cortados.

Para finalizar, Cohen deixou duas frases que considera descritivas do programa: “Seja a mudança que você deseja ver no mundo”, de Mahatma Gandhi, e “a salvação do mundo está nas mãos daqueles que são criativamente desajustados”, de Martin Luther King.

O III Fórum Internacional de Saúde Mental continua nesta sexta, dia 2, com uma vasta programação. A equipe do (En)Cena está participando ativamente de todas as atividades e, neste sábado, dia 3, irá apresentar quatro trabalhos durante o evento.

REFERÊNCIA:

NATEL, R. M. G. L. O curador ferido: Xamã e Psicoterapeuta Junguiano, Aproximações do Mito na Formação Junguiana. Associação Junguiana no Brasil, Monografias, SP, 2012. Disponível em: <http://www.ajb.org.br/monografias.php?monografia=63>. Acesso em 01 mai. 17.

Compartilhe este conteúdo:

Abordagem CPR Emocional: o empoderamento do indivíduo em crise

Compartilhe este conteúdo:

Como parte da programação do III Fórum Internacional: Novas Abordagens em Saúde Mental Rio de Janeiro/RJ, a partir das 14h pôde-se acompanhar a apresentação do estadunidense Oryx Cohen, líder expoente da abordagem CPR Emocional, um programa desenvolvido com o objetivo de que pessoas ajudem umas as outras em situações de crise, de maneira mais humanizada e atenciosa.

Oryx definiu os peritos na abordagem através da perspectiva Junguiana do arquétipo do Curador Ferido, onde pessoas que se curaram das próprias feridas e desenvolvem a capacidade de ajudar outras pessoas passando por crises. Cohen, que se considera um Curador Ferido, aponta o problema de não se ouvir as pessoas que ouvem vozes e estão em situação de crise, sendo a aprendizagem da escuta completa a mensagem da CPR.

Citando dados dos Estados Unidos, o palestrante apontou os crescentes números envolvendo diagnósticos e definições de doenças mentais, levantando a hipótese de que essas doenças podem ser na verdade, reações a um mundo traumatizante. Assim como se descobriu que ao longo da história vários diagnósticos psicológicos foram na verdade errôneos e em uma visão presentista, absurdos seriam os diagnósticos atuais também equivocados?

Perpassando a dinâmica pós-moderna, onde se constata cada vez mais insatisfação quanto a modelos escolares, de trabalho e nas relações interpessoais, Cohen aponta um problema comunitário, de modo que os indivíduos apresentam reações ao seu ambiente.

Segundo Góis (1993, apud CAMPOS, 1996, p.11) “a psicologia comunitária […] estuda a atividade do psiquismo decorrente do modo de vida do lugar/comunidade, sendo seu problema central a transformação do indivíduo em sujeito”. Desse modo a produção de subjetividade que se faz a partir da inserção de um sujeito a um dado contexto social, apresenta características históricas, culturais e ideológicas, sendo que a atuação deve estar voltada para a tomada de consciência acerca dessa realidade singular, diluindo o que é despotencializante.

A abordagem CPR apresenta-se, portanto, alinhada aos ideais da Psicologia Comunitária, buscando transformar o indivíduo em sujeito ativo em seu meio, sendo ele o motor de sua própria cura. Isso seria possível, segundo Cohen, com um tratamento mais humano e autêntico, focado na conexão (Conect) com o outro; no empoderamento (emPower) desse indivíduo em crise; e a revitalização (Revitalize) da esperança e senso de pertencimento a sua comunidade (CPR).

A apresentação de uma abordagem que contempla uma perspectiva empoderadora, questionadora, e que sugere uma escuta completa e envolvida com o Outro, certamente merece atenção e reconhecimento. As ideias apresentadas por Cohen contemplam aspectos fundamentais para se pensar Saúde Mental e Psicologia, e, portanto foram extremamente proveitosas para fomento de pensamento reflexivo e para formação profissional.

REFERÊNCIA:

CAMPOS, Regina H. de F. (org). Psicologia Social Comunitária. Petrópolis: Vozes, 1996.

Compartilhe este conteúdo: