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Meu filho doente no SUS: uma história de gratidão
Eu tive várias experiências com o Sistema Único de Saúde (SUS), algumas ruins outras boas, mas quero relatar sobre a melhor de todas que tive até hoje em minha vida. Tive o meu primeiro filho com 15 anos, e ele nasceu com pneumonia (pelo fato de não ter esôfago. Engoliu a urina que fez dentro da barriga e foi direto para o pulmão), devido a esse fato foi transferido para o hospital Dona Regina de Palmas –TO, e lá ele faz vários exames e raio-X, para verificar a proporção da pneumonia, só que foi nesse momento que o médico descobriu que ele havia nascido com Atresia Total de Esôfago.
E foi aí que começou nossas frequentes estadias e idas ao hospital. Ficou internado na U.T.I. desse mesmo local por 26 dias, e com apenas quatro dias de vida precisou passar por sua primeira cirurgia, para começar a se alimentar. Foi feita a cirurgia na qual, o médico fez uma pequena abertura (buraco) no pescoço para que a saliva tivesse por sair (para não cair direto no pulmão), e colocado uma sonda na barriguinha dele para que pudesse alimentar-se por ela.

Durante esses 26 dias tivemos todo o apoio dos médicos da U.T.I., do médico cirurgião pediátrico, do quadro de enfermeiros, nutricionista, psicólogas. Tinha uma base fortalecedora muito boa, em todos os âmbitos, um auxilio e um apoio por parte dessa equipe muito grande. Porém depois da alta, tínhamos que voltar no Hospital Dona Regina de 15 em 15 dias para fazer novos exames, para consultas pediátricas e consultas com o médico cirurgião. Esse processo quinzenal durou em média 4 meses, depois o período foi de 30 em 30 dias.
Quando o meu pequeno completou 1 ano e 6 meses, fomos avisados que ele iria partir para a segunda etapa do processo (de fazer um esôfago), ficamos internados antes da intervenção cirúrgica no hospital por duas semanas, para que todos exames fossem feitos, as dietas nutricionais adequadas fossem seguidas. Após todo protocolo seguidofoi realizada a segunda cirurgia, na qual o médico (fantástico) usou parte do intestino do meu filho e fez o esôfago, segundo ele foram feitas quatro emendas para que esse intestino se “transformasse” em esôfago. Porém a pequena abertura no pescoço agora eram duas, uma continuava sendo para a saída da saliva, e outra, a nova era o novo esôfago que estava preso ali, se ele vomitasse sairia por esse nova abertura (buraco), ele continuou com a sonda. Em meio a tudo isso, foram feitas duas dissecações de veias para que não fosse preciso fura-lo tantas vezes para passar o soro e os medicamentos.
Fui muito bem orientada sobre essas novas intervenções cirúrgicas, como deveria agir caso ele vomitasse (foi o que mais aconteceu). Foram longos anos nesse segundo processo, muitas idas e vindas ao hospital, consultas e exames a cada 30 dias, sem interrupções, mas sempre muito bem assistida pelo SUS. A última intervenção cirúrgica foi realizada dia 19 de abril de 2009, mas antes disso ficamos novamente internados no hospital para fazer os cabíveis procedimentos pré cirúrgicos. Em um desses momentos de “pegar” veia para colocar soro, teve um dia de muito sofrimento para todos, incluindo as enfermeiras do setor, ele foi furado 22 vezes, chorava tanto que no final já não mais forças, e só pedia para minha mãe orar pra Deus ajudar que desse certo. Muitas enfermeiras já estavam chorando junto conosco nesse momento difícil, mas deu certo.

Então dia 19 de abril ele foi operado pela última vez, Hospital Dona Regina, todas as cirurgias demoravam por volta de quatro horas e meia, porém essa demorou um pouco mais, eram horas e horas de espera por algum tipo de notícia, mas ela não vinha. Quando veio, foi dizendo que ele seria encaminhado às pressas para a U.T.I. do Hospital Geral de Palmas (HGP), foi um grande susto, mas novamente tivemos um grande apoio em todos os aspectos, não foi fácil, mas deu certo. Para nossa surpresa não foi tirada a sonda como imaginamos, ele continuava lá, e continuou por algum tempo. Ele precisava ficar sedado por dez dias, porque estava todo entubado, respirando por aparelhos, e era tão pequeninho ainda, não tinha nem 4 aninhos.
Assim começou as sedações na U.T.I. do H.G.P., ele ficou quietinho por dois dias, depois começou a se mexer, e a dose do sedativo foi tendo que ser aumentada cada vez, e não estava resolvendo, até que um dia eu chego no horário da visita (em U.T.I., não podia todo o tempo, ele dormia “sozinho”) ele estava com a mãozinhas e os pés amarrados, porque havia tentado tirar os tubos e os aparelhos que estavam ligados a ele.
A noite então o médico cirurgião (o mesmo sempre) me incumbiu de mais uma decisão difícil, segundo ele não poderia aumentar mais nenhuma gota do sedativo, pois ele já estava tomando dose de um adulto, e ele era apenas um “bebê”, ou tirava o sedativo e eu convencia esse bebê de três anos e poucos a ficar quietinho, sem mexer em nada que estava de estranho em seu corpo, pois se tirasse algum aparelho poderia morrer, ou continuar com o sedativo que poderia mata-lo. Claro escolhi pela retirado do sedativo, mas ele não ficou quieto, e tentava todo tempo tirar os aparelhos que lhe davam a sobrevivência.
Como previsto ele não ficou quieto, cheguei no outro dia e ele estava novamente amarrado, fiquei muito desesperada, as enfermeiras tentaram me acalmar, mas foi em vão. Mas um milagre aconteceu, ele ficou super quietinho, pois meu pai por telefone prometeu-lhe um cavalo quando ele saísse do hospital. Para nossa surpresa fomos transferidos novamente para o Dona Regina antes do esperado, devida a rápida recuperação que ele teve depois que tirou o sedativo e os aparelhos.

Voltamos, e lá ele ficou em um quarto separado, por alguns dias, depois fomos transferidos, para o quarto comum, mas ele pegou infecção hospitalar duas vezes, depois dessa transferência. Fomos novamente isolados em um quarto sozinhos e restringiram o contato, somente eu e minha mãe. A cirurgia que já tinha mais de 20 dias foi aberta no pescoço, devida uma das infecções, voltou a tomar vários medicamentos, e médico ia vê-lo duas ou três vezes ao dia. Foi um processo de uma semana muito longo, pareceu até mais, porém o médico achou melhor libera-lo, para que não pegasse mais nenhuma infecção hospitalar, mesmo com o pescoço aberto. Em meio todo esse processo ele ainda se alimentava por sonda.
Fomos para caso com vários tipos de medicamentos, em vários horários, o médico nos disse a seguinte frase “ele tem até um mês para se recuperar, e esse buraquinho no pescoço se fechar, ou senão teremos que fazer todo o processo novamente, desde o primeiro, e ele possivelmente não resistirá, antes ele era bem gordinho, hoje ele está bem magrinho”. Então fizemos nossa parte em casa e com 30 dias retornamos ao hospital, e o buraquinho havia fechado. Mas o médico então nos deu uma nova tarefa, “Vocês tem que faze-lo comer em 45 dias e retornem aqui dia 20 de setembro, pra eu ver ele comer pela boca.”
Durante esses dias íamos duas vezes na semana na fonoaudióloga, que o SUS nos disponibilizou, para auxiliar nesse processo, porém ele não obteve avanço com ela. Então paramos de ir e ficamos de casa tentando, minha mãe conseguiu fazer ele comer. Voltamos no médico dia 20 de setembro (no dia que ele completou 4 anos), e então ele disse que ele estava comendo bem pela boca, mas que iria continuar com a sonda até o próximo retorno com 30 dias, retornamos após esses dias e então a sonda enfim foi retirada.

Ele precisou fazer dilatações de esôfago por três vezes, fizemos todas disponibilizados pelo SUS, em Goiânia no Hospital das Clínicas. Essas dilatações tem o risco de estourar todas as intervenções cirúrgicas que ele já fez até hoje, mas é obrigatório faze-las, para que ele possa comer com mais facilidade. Pois o seu novo esôfago é como se fosse um canudo, não tem contração, não tem fechamento, é sempre um tubo liso. Devido esse fato ele tem refluxo desde antes dos 2 anos e terá para sempre.
Até hoje fazemos o acompanhamento com esse médico que operou desde a primeira vez, porém hoje com um espaço de tempo bem maior, nos últimos 4 anos, foram visitas anuais. Muito obrigada Deus, muito obrigada SUS, muito obrigada Dr. Renato.

A família como instituição de controle e disparador do comportamento suicida
O suicídio pode ser conceituado como uma morte resultante de um ato voluntário da vítima para si. Emile Durkheim faz desse fenômeno seu objeto de estudo em sua renomada obra “O Suicídio” (2000), livro que serve de base para esse ensaio acadêmico, e chega a conclusão de que, apesar de aparentar ser um ato privado, as causas do suicídio podem ser encontradas em fatores sociais.
Ao estudar as relações entre indivíduo e sociedade, Durkheim percebe que deve existir certo equilíbrio nas relações entre ambos. Quando os limites são atendidos, ou seja, quando o indivíduo possui um nível de integração com os seus grupos, essa relação se torna benéfica a ele, servindo até como um potencial controlador do comportamento suicida. Mas quando seus níveis de integração social saem do eixo, se tornando muito altos ou muito baixos, essa relação leva para o aumento de taxas de suicídios.
Para ele, toda sociedade oferece em seus elementos constituintes um contingente de suicídios que não age isoladamente, mas sobre grupos sociais. Porém, aquilo que oferece imunidade aos indivíduos, também pode servir de disparador do comportamento suicida, isso dependerá das relações indivíduo-sociedade e dos diferentes contextos sociais nos quais essas mortes voluntárias emergem.

Observando que a instituição familiar é uma das maiores e mais importantes constituintes da estrutura social, e levando em consideração a alta imunidade dos casados em relação ao suicídio em comparação aos solteiros, esse ensaio acadêmico propõe um enfoque na família e seus níveis de influência sobre o indivíduo enquanto desempenha o papel de instituição de controle do comportamento suicida, e também considerando as situações na qual ela faz o caminho inverso, sendo produtora do fenômeno.
Faz parte do senso comum a ideia de que pessoas casadas vivem uma vida mais difícil que as pessoas solteiras, pois um grande número de responsabilidades e privações que acompanham o casamento e a vida familiar atinge somente os primeiros e não os segundos. Seguindo essa lógica, a vida conjugal e familiar deveria favorecer a disposição do indivíduo.
No entanto, Durkheim desfaz esse ponto de vista em sua obra O Suicídio, através de uma detalhada comparação entre as taxas de suicídios de pessoas solteiras e casadas. Por meio dos dados expostos, torna-se claro que os casados não só se matam menos que os solteiros como obtém uma grande vantagem em relação a estes, ou seja, o matrimônio diminui consideravelmente o perigo de suicídio. E é esse curioso dado que irá direcionar o seguinte ensaio acadêmico. Além de discutir as causas dessa imunidade obtida pelos indivíduos casados, queremos saber em que situações ela também se faz perder dentro da vida conjugal e familiar.
Uma observação mais profunda da conjugalidade nos leva a perceber que existem dois diferentes elementos que compõem o meio doméstico: o cônjuge e os filhos. Conforme Durkheim (2000, p. 224-225): “Uma deriva de um contrato e de afinidades eletivas, a outra de um fenômeno natural, a consaguinidade”. Vendo que ambas têm diferentes naturezas, pode-se afirmar que elas também podem produzir diferentes efeitos e, por esta razão, Durkheim separa dois grupos: os casais com filhos e os casais sem filhos. Esse ato foi realizado justamente para medir a influência do casamento sobre o suicídio e descobrir de onde surge a imunidade observada no primeiro dado apresentado: se a pequena disposição ao suicídio é resultado apenas da relação conjugal, ou se ela está ligada a algum outro fator que a vida doméstica traz consigo.

Antes de expor as informações obtidas com a análise, é necessário explicar o significado da expressão coeficiente de preservação que irá aparecer com frequência no decorrer desse ensaio. Trata-se de um termo que indica quantas vezes um determinado grupo se mata menos que outro. Ou seja, quanto maior for o número do coeficiente, maior é a vantagem do grupo, pois seu número de suicídios em relação ao outro é muito menor.
A análise confirmou que o coeficiente de preservação dos homens casados sem filhos era maior do que os solteiros da mesma idade, porém o coeficiente chegava a dobrar quando se tratava dos homens casados com filhos. Outra informação importante obtida é a de que os homens viúvos com filhos apresentam uma imunidade maior ao suicídio que os homens casados sem filhos. É claro que a tendência ao suicídio aumenta após a morte do cônjuge, pois, independente da intensidade, instala-se uma crise no sujeito. Mas quando a morte do cônjuge não tem fortes repercussões nesses números, como notou na pesquisa, é correto afirmar que o matrimônio em si, apesar de ter uma influência positiva sobre os homens casados, não é quem contém a tendência ao suicídio.
Mas é no sexo feminino que a pouca eficácia do casamento se torna evidente quando não há a presença dos filhos. Na França, as mulheres casadas sem filhos se matam mais que a metade das mulheres solteiras de mesma idade. A mulher é, na maioria das culturas, desprivilegiada no casamento e o matrimônio pode até agravar sua tendência ao suicídio, mas é um fato que será discutido posteriormente. O que nos interessa agora é que os casamentos com presença de filhos amenizam esse mau efeito do casamento para as mulheres.

Percebe-se então que a imunidade dos indivíduos casados em relação aos solteiros se deve não à sociedade conjugal e sim à sociedade familiar, pois a presença de filhos no casamento aumenta o coeficiente de preservação consideravelmente. No entanto, vale lembrar que o matrimônio também tem sua influência sobre a imunidade dos indivíduos casados, porém ela é muito restrita ao sexo, mostrando-se mais influente no sexo masculino, já que as mulheres sofrem um agravamento nas taxas de suicídio quando não têm filhos.
Os cônjuges detêm desse privilégio não por desempenharem o papel de marido e mulher, e sim de pais e mães. Por isso a morte de um cônjuge aumenta a tendência do outro ao suicídio, pois a ausência de um resulta numa crise no meio familiar que se torna difícil adaptação. Ou seja, a sociedade doméstica é um potente preservativo contra o suicídio. E essa preservação é mais completa quanto mais densa é a família, e quando se fala de densidade não se refere somente ao grande número de filhos, mas também da participação regular deles na vida familiar. Esse fato contradiz completamente com o que foi dito inicialmente, pois a propensão ao suicídio diminui à medida que estes encargos na vida doméstica aumentam.
Uma família fortemente integrada possui uma energia particular difícil de dissipar, pois todas as consciências individuais que compõem a família experimentam os sentimentos coletivos, sentimentos esses que repercutem um sobre os outros. É por essa razão que a intensidade dessa energia torna-se mais forte quando número de consciências que estão compartilhando e reforçando os sentimentos, lembranças, experiências, tradições dentro desse grupo.

Essa imunidade relacionada a uma forte integração que compreende a sociedade doméstica não é exclusiva dela, mas também compreende outros grupos sociais como a religião e a política. O indivíduo fortemente integrado, seja na família ou em outras esferas, está menos propenso ao suicídio, pois uma sociedade fortemente integrada mantém os indivíduos sob sua dependência. Ou seja, quando o indivíduo está engajado e a serviço de tais grupos sociais, o “eu” pessoal não está acima do “eu” coletivo, portanto não colocam os seus fins acima dos fins comuns. É isso o que justifica a pequena tendência dos casados com filhos ao suicídio. A sociedade familiar tem poder sobre o indivíduo e não os permite dispor de seus interesses privados, pois a morte interrompe os deverem que esse indivíduo tem com ela.
Numa sociedade coerente e viva, há entre todos e cada um entre cada um e entre cada um e todos uma troca contínua de ideias e de sentimentos e como que uma assistência moral mútua, que faz com que o indivíduo, em vez de ficar reduzido as suas próprias forças, participe da energia coletiva e nela venha recompor a sua quando esta chega ao fim (DURKHEIM, 2000, p. 259).
Para que a vida seja suportável, o indivíduo precisa se ligar a algo, ele deve possuir alguma razão que lhe prenda a vida e veja valor nela. O homem não é capaz de viver por si só, pois a essência da vida é muito frustrante. O ser humano é limitado no espaço e tempo e não importa todos os nossos esforços em vida, no fim nada irá nos restar. Portanto, se não tivermos um objetivo fora de nós, resta ao homem somente si mesmo, o que não é suficiente para camuflar toda essa angústia e o apavoro que dessa inevitável anulação, e assim, o homem fica sem forças para agir.
Existem funções que só interessam ao indivíduo: as funções orgânicas; e as realizando, o homem se torna capaz de bastar a si mesmo. É o que ocorre durante a infância e velhice. Mas ao entrar na vida adulta e na civilização que a compõe, uma infinidade de necessidades que não dizem respeito a manutenção da vida física o inundam. Essas necessidades, sentimentos e ideias implantadas em nós (religião, moral, ética, política, etc), foram criadas pela própria sociedade e são a ela que se referem. Ou melhor, Durkheim diz que “são a própria sociedade encarnada e individualizada em cada um de nós” (2000, p. 263). E é por isso que para termos apego a vida, é necessário termos apego à sociedade.

À medida que os grupos sociais se desintegram ou perdem força sobre o indivíduo, ele se vê inclinado ao suicídio, pois o homem é físico e social. Quando o segundo se enfraquece, tudo o que há de social em nós também se perde. Se a única vida que o homem coletivo conhece se perdeu, e a única fundada no real (orgânica) não responde mais as nossas expectativas, o homem não encontra mais razões para viver. O tipo de suicídio que resulta dessa desintegração, onde o eu individual é preponderante ao eu social, é chamado de suicídio egoísta, justamente porque há uma individualização desmedida onde o sujeito não se vê mais dependente do social e estando dependente apenas de si mesmo, as regras de conduta que valem para ele são apenas aquelas que o interessam.
É parte da nossa constituição moral, dentro da sociedade na qual estamos inseridos, um objetivo que nos ultrapasse e determine o valor da existência. A família é uma das principais instituições que realizam esse papel com êxito, tornando-se uma instituição de controle do comportamento suicida. No entanto, em algumas situações, ela pode se tornar a disparadora desse comportamento.
Nos casamentos precoces (dos 15 aos 20 anos) há um enorme agravamento no coeficiente de preservação do número de suicídio, principalmente nos homens que, na França, chegam a se matar 473% que as mulheres. O número de suicídios começa a cair após os 20 anos, onde tanto os homens quanto as mulheres se beneficiam de um coeficiente de preservação, que cresce até os 40 anos, com relação aos solteiros. Pode-se perceber que o matrimônio serve como um disparador do comportamento suicida quando ele ocorre muito cedo, sendo muito mais prejudicial aos homens do que as mulheres.
Em outros casos, ou melhor, na maioria deles, a mulher é o sexo prejudicado no casamento. Ao comparar a participação de cada sexo nos suicídios das dois estados civis (solteiros e casados), percebeu-se que a imunidade entre os sexos é desigual: as mulheres casadas se matam mais na categoria de suicídio dos casados do que as mulheres solteiras na categoria de suicídios de solteiros. Isso não significa que a mulher casada está mais exposta ao suicídio que a solteira, e sim que a mulher se beneficia muito menos com o casamento do que o homem. Também como já foi apontado nessa discussão, a sociedade conjugal é prejudicial para a mulher quando há a ausência de filhos enquanto o homem, mesmo sem filhos, possui um coeficiente de preservação considerável. Ou seja, a vida familiar é a responsável pela minimização dos efeitos do matrimônio para a mulher.

Quando se fala em divórcios, sabe-se que os indivíduos não só se matam consideravelmente mais do que os casados, como também mais que os viúvos. Trata-se de um dado curioso, pois geralmente o divórcio é algo desejado. Ao analisar esses números, Durkheim percebe que o coeficiente de preservação das mulheres casadas aumentam à medida que os divórcios são mais frequentes. Já nas sociedades em que o divórcio é pouco praticado, as mulheres tendem a ser menos preservadas que o seu marido. O inverso acontece com o homem, ele é menos preservado à medida que o número de divórcios crescem.
Essas novas informações se relacionam com a já exposta: o casamento é benéfico ao homem, tão benéfico que quando ele o perde, sua propensão ao suicídio aumenta; enquanto a situação da mulher melhora à medida que o suicídio é praticado. Assim, entende-se que, o sexo masculino é o responsável por essa alta taxa de suicídio dos divorciados. Essa não é uma verdade absoluta em todas as sociedades, mas é uma realidade que se repete em muitas delas. Esses efeitos tão opostos do casamento sobre o sexo se dá porque seus interesses dentro desse regime são antagônicos.
A sociedade moderna é marcada por uma desorganização; há um estado de falta de objetivos e regras que se faz perder a identidade. Esse fenômeno é entendido por anomia. Para controlar os efeitos negativos da anomia na sociedade, instituiu-se diversas medidas que pudessem amenizá-las e conter os indivíduos, pois a ausência de limites gera uma perseguição interminável que nunca será satisfeita, consequentemente levando ao caos e muitas vezes ao suicídio. O casamento, principalmente o monogâmico, é uma das instituições que possuem essa função. Ele regula a vida passional do indivíduo, obrigando-o a se ligar a uma única pessoa e fechar seu horizonte. E como diz Durkheim (2000, p. 346), é disso que o homem tira vantagem:
É essa determinação que constitui o estado de equilíbrio moral de que o homem casado se beneficia. Por não poder, sem faltar seu dever, buscar outras satisfações além das que lhe são assim permitidas, ele limita a elas seus desejos. A disciplina salutar à qual é submetido faz com que deva encontrar felicidade em sua condição e, por isso mesmo, fornece-lhe os meios para isso.
O homem por culturalmente possuir uma liberdade maior, precisa ser regulado, pois definindo os seus prazeres, o homem irá garanti-los estabelecendo o equilíbrio mental que ele necessita. O que não acontece na vida do homem solteiro, onde a anomia assume um caráter sexual. Por não ter um regime que o regule, a vida de solteiro é repleta de frustrações porque, por não ter limites, o homem quer tudo e por isso, nada o satisfaz. “Quando não somos detidos por nada, não podemos deter a nós mesmos” (2000, p. 346).

E da mesma maneira que o homem não se dá definitivamente a ninguém, nada a ele pertence também, condenando-o a um futuro instável e incerto. Disso resulta um estado de perturbação e insatisfação que aumenta as probabilidades de suicídio. E é isso o que ocorre no divórcio. A regulamentação estabelecida no casamento se enfraquece e os limites que eram colocados aos seus desejos já não são tão rígidos, podendo facilmente se deslocarem. A estabilidade e tranquilidade que o homem casado experenciava dá espaço para uma inquietude por não conseguir se ater ao que tem.
Contudo, enquanto o homem possui uma intensa liberdade que deve ser contida para o seu próprio bem, a mulher precisa de liberdade. A mulher sempre esteve presa a moldes sociais que até hoje influenciam muito na nossa cultura, mesmo que aos poucos sejam quebrados pelo movimento feminista. As necessidades sexuais da mulher têm um caráter menos mental em comparação aos homens, pois não se permitia que isso se desenvolvesse nelas. Portanto, a mulher não precisa de um meio de regulamentação como o casamento, pois ela já o faz há muitos séculos por imposições sociais.
Não só a mulher sofre com essa limitação de horizontes trazida pelo matrimônio, o homem também se vê numa condição complicada. Mas enquanto o segundo ainda é capaz de obter privilégios com o rigor desse regime, a primeira só sai perdendo. Além do casamento não ser útil para conter seus desejos que já são naturalmente limitados pela sociedade machista, o casamento tira dela a esperança de um futuro diferente e que realmente almeja, pois historicamente as mulheres sempre estiveram mais inclinadas ao casamento, como uma obrigação. Por essa razão o matrimônio é muitas vezes intolerável para a mulher, pois é um encargo muito pesado e sem vantagem; e assim, qualquer coisa, como a presença de filhos, vem a suavizar essa desvantagem que explica sua propensão maior a suicídio quando a única coisa que ela tem é o casamento.

Em determinado momento da vida, o homem também é afetado da mesma maneira que a mulher pelo casamento, mesmo que por outras razões. Isso ocorre com os homens jovens, e é por isso que o número de suicídio de homens casados entre 15 a 20 anos é tão alto como dito anteriormente. Eles não são capazes de se submeter aos limites impostos pelo casamento, pois suas paixões são muito intensas e ele não as consegue controlar. Os efeitos positivos do casamento só se vem sentir mais tarde, quando a idade tranquiliza o homem e a disciplina passa a se fazer necessária. Mas mesmo com esse contraponto, é ao homem que a instituição do casamento favorece, pois ele que necessita de coerção, tem o que precisa; e ela que precisa de liberdade, se vê mais presa.
A liberdade à qual o homem renunciou só podia ser para ele uma fonte de tormentos. A mulher não tinha as mesmas razões para abandoná-la e, sob esse aspecto, podemos dizer que, submetendo-se à mesma regra, foi ela que fez o sacrifício (DURKHEIM, 2000, p. 353).
De modo geral, é assim que o matrimônio pode se tornar um disparador do comportamento suicida para a mulher, enquanto serve como uma instituição de controle para o homem. Por essa razão, o divórcio a protege a mulher do suicídio que recorre mais facilmente a ele, enquanto inclina homens à morte voluntária.
Considerações Finais
A imunidade que os indivíduos casados desfrutam em relação aos solteiros se deve, em sua maior parte, não ao matrimônio e sim à vida doméstica que surge dela. Os coeficientes de preservação aumentam consideravelmente quando há a presença de filhos no casamento e a imunidade se torna maior quanto mais densa for a família. Uma família fortemente integrada, onde as consciências individuais que a compõem estão reforçando seus laços, serve como uma instituição de controle do comportamento suicida. E quanto mais membros ativos existirem na vida doméstica para alimentar essa energia particular, mais benéfica essa instituição se torna. Quando há um elevado, mas ainda estável, nível de comprometimento dentro do seio familiar, eliminar a própria vida não se torna uma opção porque o “eu” social é mais forte que o “eu” individual, tamanha é a importância que a família tem para esse sujeito.
Entretanto, o suicídio varia inversamente a integração desse ser dentro nos grupos. Assim, quando a instituição familiar se desintegra e/ou perde sua força, o indivíduo se isola da vida social e os fins sociais não possuem mais importância que os fins próprios. Desta maneira, essa estrutura pode agir como disparador do comportamento suicida. Por si só, o casamento tem seus benefícios, contudo, ele só atende a um dos sexos, sendo o sexo masculino o beneficiado na maioria das vezes. É correto afirmar que o ser humano precisa de algo que o regule em todas as esferas, e no âmbito afetivo quem faz esse papel é o casamento.
O homem precisa do matrimônio, pois enquanto solteiro, seus desejos são ilimitados e insaciáveis e assim, as normas regem a sociedade não correspondem os seus objetivos de vida. Uma vez que o indivíduo não se identifica com essas normas sociais, o suicídio passa a ser uma alternativa. Por isso, ao limitar seus horizontes, o homem passa a ter apenas um objeto de desejo, e ao limitar a esse objeto seus desejos e ele proporciona a si meios de satisfazê-los. Por essa razão o casamento, ao fazer essa regulação social, serve como um dispositivo de controle.

Enquanto isso, o casamento atua como um disparador do comportamento suicida às mulheres. Ao contrário dos homens, por toda a história, a elas foi imposto que deveriam regular seus desejos, e assim elas os fazem naturalmente, sem a necessidade de uma instituição com esse papel. Por isso, quando elas se casam, a liberdade da qual elas necessitavam e da qual os homens sempre desfrutaram, se perde. Se vendo ainda mais presa e sem esperanças de um futuro que atenda suas necessidades, a mulher se torna mais propensa ao suicídio.
Diante dessas informações, podemos pintar um cenário desvantajoso para as famílias contemporâneas quando falamos sobre suicídio. À medida que os anos passam, o número de filhos por casal diminuem, filhos esses que saem da casa dos pais com muito mais facilidade; pais superocupados com uma rotina repleta de afazeres e obrigações e que, por consequência, não dão a devida atenção para o cenário familiar e filhos desamparados dentro de seus próprios lares. Tudo é mais “eu” e menos “nós”. Todos esses fatores que moldam a família pós-moderna, favorecem a sua desintegração e a fraqueza dos laços internos que, como pudemos ver nesse ensaio, favorece a propensão ao suicídio.
Já para as mulheres, o cenário é vantajoso. A grande força que o movimento feminista ganhou nas últimas décadas garantiu às mulheres um espaço muito maior do que elas detinham e uma liberdade até então nunca experienciada. Tendo em vista que é isso o que a mulher necessita, talvez a sua perspectiva do casamento se altere com o passar dos anos, e a realidade apresentada aqui mude.
REFERÊNCIAS:
DURKHEIM, Émile. O Suicídio: Estudo de sociologia. São Paulo: Martins Fontes Editora Ltda., 2000. 513 p. Tradução de: Monica Stahel.

Em “O menino feito de blocos”, autor se inspira na própria vida para contar história de reconexão com o filho autista graças ao Minecraft
No texto “A verdadeira história por trás de ‘O menino feito de blocos’”, Keith conta como a experiência de sua família inspirou a trama. Leia no Blog da Record: bit.ly/KeithStuart.
Keith Stuart virá ao Brasil em dezembro para falar sobre o assunto na Comic Con Experience. O autor participa da mesa “Games como conexão com mentes especiais”, no dia 3 de dezembro, às 15h30.
O jornalista britânico Keith Stuart é editor de games do jornal The Guardian e, portanto, acostumado a ter uma série de jogos e consoles espalhados pela casa. Zac, o filho de Keith, é autista. Aos 6 anos, ele descobriu o Minecraft, e a relação do menino com o jogo foi uma revelação para a família: a nova experiência o ajudou a se expressar e, principalmente, fez com que os pais entendessem melhor quem ele era. A história da vida real é a inspiração para o romance “O menino feito de blocos”, que chega às livrarias pela Record no fim de novembro.
Na trama, Keith conta a história de Alex, um homem que incorpora perfeitamente o sentimento de “estar perdido”. Casado há 10 anos com Jody, ele é o pai de Sam, um menino autista de 8 anos. Alex nunca soube lidar com o filho. Para se afastar de todo o choro, dos ataques de fúria e das reações inexplicáveis, se afundou num trabalho burocrático do qual nem gosta. Sua ausência deixa o casamento por um fio, e Jody decide que os dois precisam de uma “separação experimental”. Não ajuda muito o fato de Alex ainda guardar um trauma de infância: a morte de seu irmão mais velho, George, quando eram crianças.
Agora, Alex está vivendo no colchão inflável do melhor amigo e precisa dar um jeito de se reerguer. E, ele logo percebe, grande parte disso passa por conhecer de verdade o próprio filho. Um dia, por acaso, os dois começam a jogar Minecraft. O jogo é uma espécie de Lego mais elaborado e online, onde é possível construir mundos com blocos feitos de materiais diversos. Naquele ambiente, Sam se ilumina e se expressa como nunca fez antes. Ali, no “Mundo do Sam e do Papai”, como eles batizam sua criação, eles vão trabalhar juntos e se conectar de uma forma que acaba influenciando também a vida real, para além do virtual.
Keith narra com sensibilidade a jornada de Alex, um personagem que reflete de forma muito verdadeira algumas das angústias comuns aos adultos contemporâneos. Sua experiência também permite uma sinceridade tocante ao falar sobre as dificuldades de lidar com uma criança com autismo, e as delícias de conseguir criar uma relação verdadeira com os filhos.
O autor virá ao Brasil para participar da Comic Con Experience. Keith vai conversar com o apresentador Marcos Mion (que também tem um filho autista) e com o quadrinista Flavio Soares, que escreve uma história em quadrinhos sobre sua relação com o filho que tem síndrome de Down.
TRECHOS:
.“Enquanto trabalhamos, me dou conta de uma coisa. Em geral, quando brincamos juntos – nos preciosos momentos em que ele está disposto a se concentrar –, o que experimentamos é uma solidão compartilhada: ou eu observo, ou o guio, ou me preocupo com ele. Ou, quando brincamos com blocos de montar ou de LEGO, eu faço alguma coisa com a qual ele brinca por alguns minutos ou simplesmente a destrói. Mas aqui, por algumas horas, estamos trabalhando como se fôssemos um só – bem, contanto que eu faça o que tenho de fazer. Mas esse é outro ponto positivo. Nesse universo, onde as regras são precisas, onde a lógica é clara e infalível, Sam está no controle.”
.“Típico da Jody – ela sempre conseguiu explicar o mundo para o Sam, converter as experiências dele em uma linguagem que ele utiliza e entende. Isso é algo que vivo esquecendo – que, de várias maneiras, ele é um turista no nosso mundo, um viajante desorientado sem noção das peculiaridades e dos costumes do lugar. Ela é o Google Tradutor dele. Enquanto eu paraliso, recuo e me retiro, Jody o pega pela mão e o guia. Eu sou um merda. Tenho que parar de ser um merda.”
.
Keith Stuart é editor de games do jornal britânico The Guardian e escreve sobre o assunto desde 1995. Ele recebeu enorme retorno, de diversos pais com experiências semelhantes, depois de contar sobre sua dinâmica com o filho autista no jornal. A repercussão acabou rendendo um convite da editora inglesa para que escrevesse “O menino feito de blocos”.
FICHA TÉCNICA
O MENINO FEITO DE BLOCOS
Autor: Keith Stuart
Tradução: Ana Carolina Delmas
Páginas: 378
Editora: Record

Diálogos (Contemporâneos) – Entre Pai e Filho
CAPÍTULO I
– Filho, que tal um cinema amanhã?
– Ah pai, não vai dar, meu ritmo tá uma loucura. Escola de manhã, educação física à tarde, aula de inglês, academia, personal trainer; e à noite, estudar para o ENEM três vezes por semana…
– Pô filho, que e isso? Você tem 15 anos! Pega leve!
– Leve, pai, pirou? Tô estressadíssimo! Você já viu a concorrência? Não tenho tempo para vacilar. Se piscar, fico pra trás! Aliás, queria te pedir pra me arrumar consulta com uma nutricionista, pode ser?
– Estressadíssimo? Ficar pra trás? Nutricionista, pra que?
– Preciso regular minha alimentação e saber certinho quais os nutrientes adequados para ganhar massa magra no treino.
– Mas do que você tá falando, moleque? Que nutrientes? Que massa magra?
Ah, só me faltava essa! Filho, nutriente é pra vaca! Ser humano come comida, pois come também pelo prazer, pela fantasia, desejo, aparência da comida… Para com essa frescura de massa disso e daquilo e vive rapaz!
– Vai entender, pai! Canso de ouvir que é pra evitar fritura, açúcar, que devemos ingerir ômega 3, 6; malhar, não beber, não fumar, não engordar, estudar muito… Fui na psicóloga, fono, fisio, no muaythai, no judô; tomo ritalina, complemento alimentar; não fumo cigarro, um ‘beck’ de vez em quando, muito menos; transar, só de camisinha…E agora você vem e me fala tudo isso?? Pois eu não sou da geração saúde como vocês queriam?
– Pior que é filho! Mas, não precisa exagerar, entende? Você tá parecendo o menino robotizado em1984 de George Orwell que denuncia o pai para o Partido, ou da juventude maoísta que o acusa de gostar de música clássica… Que horror, que coisa mais pasteurizada e sem gosto que vocês se tornaram!
– O que você tá falando PAI????
– Nada filho, esquece, tô ficando deprimido com nossa conversa.
– Mas, eu tô fazendo algo de errado?
– Não, nada! Esse é o problema! Queria que você transgredisse um pouco, ficasse de bobeira sem fazer nada…sabe, sentar na praça com seus amigos, jogar conversa fora, falar de mulher, comer um espetinho na esquina, sei lá, deixar o tempo passar sem compromisso algum.
– Sem chance pai, vou perder tempo, além do que, a praça é ponto de droga e um menino foi esfaqueado outro dia lá. Prefiro ficar jogando no meu iphone em casa mesmo. E não esquece que comer porcaria é só um dia na semana. Não sabe mais o que é colesterol e gordura trans?
– Deus meu! Temos que parar o mundo. Estamos produzindo imbecis! Escuta filho, deixa tudo isso pra lá, faz o seguinte, no último fim de semana deste mês, vamos à praia relaxar e não fazer absolutamente nada, que tal?
– Xi véio, tenho grupo de estudo. Não dá pra faltar.
– Mas que droga moleque! Tem prova de que agora?
– Não é prova, é o grupo que se reúne para estudar pra faculdade.
– Que faculdade, filho? Você tem 15 anos ainda!!
– Véio, 3 anos passam voando!!
– Que merda, depois o véio sou eu! Chega de conversa. Quer saber? Vou tomar uma pinga e dormir. Boa noite filho.
– Toma vinho, pai, tem Polifenol que é bom para o coração.
– Eu mereço…

Maternidade x Vida Profissional
Correria, objetivos a serem alcançados, estabilidade financeira e liberdade. Quem não tem isso em mente? Além de todos esses desafios, muitas mulheres acrescentam mais uma missão, ser mãe. Mas, em um mundo imediatista em que vivemos, o projeto de ter filhos está sendo adiado, pois as mulheres precisam estudar e dedicar as suas carreiras. Ser mãe dá trabalho, é a dura opção de escolha entre maternidade e trabalho profissional.
O desejo de ser mãe é uma questão que circula pela cabeça de muitas mulheres, de ter e cuidar dos filhos, algumas desejam, mas sentem-se inseguras, acham que não estão preparadas, outras, ainda que desejem, não encontram espaço em suas vidas para ter um filho. Existem ainda aquelas que sempre sonharam com a maternidade e não podem.
*Carla Soares, estudante de Direito, soube que não podia ter filhos de forma inusitada. “Fiquei sabendo quando pensei que estava grávida, na verdade foi um grande susto, fui diagnosticada com ovário policístico.”
A síndrome de (SOP) é uma doença resultantes do desequilíbrio nos hormônios sexuais femininos, que pode causar alterações no ciclo menstrual, alterações na pele, pequenos cistos nos ovários, dificuldade para engravidar e outros problemas. “Os cistos estão bem menores, só que se eu tentar engravidar hoje as chances são mínimas, pode acontecer, esperança eu tenho, logo não tenho pressa para ter filhos”, diz Carla, que já faz tratamento há um ano.
Ao contrário dos homens, que produzem espermatozóides durante toda a vida, a mulher já nasce com todos os óvulos prontos. Com o tempo, os óvulos e os próprios ovários envelhecem, por isso, a taxa de fertilidade das mulheres cai após os 30 anos de idade. Estima-se que as chances de uma mulher engravidar até os 30 anos sejam de 20 a 30% por relação sexual, ou seja, de 100 mulheres menos de 30 delas conseguirão a fecundação. A gravidez tardia tem riscos altos como aborto, hipertensão, diabetes, parto prematuro e riscos do feto ter síndrome de down.
Glaucia Santos, funcionária pública, tem 29 anos e está no sexto mês da gravidez. Recentemente foi diagnosticada com diabetes insulino-dependente . “Tenho que manter o nível de açúcar no meu corpo bastante controlado por conta do bebê, a imunidade em quem é diabético é bastante debilitada, portanto na gravidez devido as alterações hormonais serem gigantescas, o cuidado é redobrado”, confirma.
Diabetes tipo 1 ou IDDM (diabetes mellitus insulino-dependente) é uma doença crônica do pâncreas onde são destruídas as células produtoras de insulina. Todas as células do corpo necessitam de insulina para a glicose entrar nas células, especialmente no fígado. Se a quantidade de insulina produzida pelo pâncreas é insuficiente, a glicose se acumula no sangue.
“Sempre quis ser mãe, estava nos meus planos, Deus me deu na hora certa”, diz a futura mamãe Glaucia, orgulhosa da chegada de Alicia. “Por ela vale a pena o risco, a sensação de gerar uma vida é maravilhosa, quem puder ter filhos que tenha”, aconselha.
Um filho traz muita alegria, mas também traz despesas, preocupações, escola, educação, caráter, escolhas erradas. Algumas pessoas optam em substituir a ausência de um filho por animais, viagens e compras, e ainda acham que se gasta menos com essas coisas, outras trocam a vida profissional pela maternidade.
Débora Andrade teve que abrir mão da vida profissional para cuidar dos dois filhos . “Acho que ainda tenho tempo pra isso, pode não ser como imaginava ou como queria, que era ter sucesso e reconhecimento na minha área, mas vejo que posso alcançar isso de outra forma”. De acordo Débora, a maternidade mudou seu modo de pensar. “Ser mãe é maravilhoso, todo o processo da barriga durante os nove meses é uma sensação inexplicável, desde o nascimento ao ouvir seu filho falar mamãe, é algo mágico. Quando se tem filhos parece que a vida ganha mais um sentido, aliás, o único sentido”.
Débora Andrade com os filhos – Foto: Arquivo pessoal
É provável que quem escolhe não ter filhos pode passar por momentos de olhar para trás e imaginar como seria se tivesse tido. Algumas podem ter tomado esta decisão devido a fatores como carreira, questão financeira ou talvez o peso da responsabilidade de uma forma geral. “Para aquelas que não querem ter filhos é uma opção, não que eu ache errado, sei que algumas mulheres dão valor a outras coisas e preferem conquistar uma carreira brilhante ou ter uma vida tranquila a cuidar de crianças, o que exige responsabilidade e dedicação”, finaliza Débora.