“Ele não está tão a fim de você” – expectativas sobre as relações e novas maneiras de viver

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À medida que as gerações vão passando novas maneiras de viver vão sendo estabelecidas, e as antigas percepções vão se transformando, mas ainda sim, quando se trata de relacionamentos amorosos, muitos de nós somos levados a acreditar que a nossa felicidade terá início quando encontrarmos alguém para passar o resto de nossas vidas, e isso pode nos levar a pensar que uma vez que encontramos esse alguém, nossa satisfação enfim será concretizada. Muitos de nós ainda somos levados pela ideia de que o sucesso, no âmbito relacional, está associado à formação daquilo que conhecemos como a família tradicional (pai, mãe e filhos), e tudo o que foge desse padrão acaba sendo taxado como um fracasso pessoal.

O Filme “Ele não está tão a fim de você” originalmente conhecido como “He’s just not That into you”, dirigido por Ken Kwapis e lançado nos cinemas no ano de 2009 veio para trazer uma reflexão de maneira leve e até certo ponto cômica sobre esses padrões estabelecidos sobre a vida amorosa. O filme vai contar quatro histórias diferentes que estão ao mesmo tempo interligadas, nelas encontramos Gigi, interpretada por Ginnifer Goodwin, que é uma romântica incurável buscando encontrar o grande amor da sua vida, nessa busca acaba se tornando amiga de Alex, interpretado por Justin Long, logo após não receber a ligação de Connor um cara que ela saiu na semana anterior, Alex apresenta a ela uma visão mais realista sobre relacionamentos amorosos e como eles funcionam. Também conhecemos a história de Beth e Neil, interpretados respectivamente por Jennifer Aniston e Ben Affleck que namoram há sete anos, Beth sempre demonstrava desejo pelo casamento, mas Neil nunca concordou com a ideia. As outras duas histórias que conhecemos são as de Connor (Kevin Connolly) que é apaixonado por sua amiga Anna (Scarlett Johansson), uma cantora que o vê apenas como um bom amigo, Anna por sua vez acaba se interessando por Ben (Bradley Cooper) que está casado com Janine (Jennifer Connelly).

Fonte: Divulgação HBO

Trazendo um enfoque na história da Gigi e da Janine, podemos refletir um pouco sobre os diferentes processos emocionais na vida de ambas as personagens. Vemos que a busca de Gigi desde sempre foi estabelecer uma relação amorosa algo que já havia se estabelecido na vida de Janine, que era casada com um homem dentro dos padrões de beleza e aparentemente bem sucedido financeiramente, ou seja, estava em uma relação que se encontrava dentro dos padrões construídos socialmente, mas mesmo assim não se via satisfeita devido vários problemas matrimoniais que possuíam.

Janine se coloca em um lugar de lutar pelo casamento, acreditando na melhoria da fase que se encontravam, isso é muito comum, pois uma vez que estamos em uma relação aquela realidade na maioria das vezes é considerada como nossa homeostase, ou seja, nosso equilíbrio e uma vez que isso precisa ser quebrado, nosso equilíbrio também precisará ser refeito, e nós naturalmente buscamos nos esquivar disso.

No final esperamos por vários desfechos, sendo que alguns personagens acabam conseguindo o que queriam, Gigi por exemplo encontra aquilo que ela tanto buscava, um grande amor, Beth é finalmente pedida em casamento por seu namorado Neil. Mas quando olhamos para o desfecho de Janine somos tentados a pensar que foi algo triste, pois o casamento que ela estava tentando “fazer dar certo” acaba chegando ao divórcio após a descoberta de uma traição.

Da mesma maneira, trazemos essas interpretações para a realidade que nos cerca ao impor que a satisfação e felicidade está em um relacionamento e acabamos perdendo a percepção de que muitas vezes há uma maior felicidade em fins do que em começos. Como por exemplo, alguém que há tempos se encontra sem saída dentro de algum relacionamento tóxico, o sentimento de realização ao conseguir sair dele pode vir a ser muito maior do que o de alguém que está prestes a se casar.

Fonte: Divulgação HBO

Não podemos nos encaixotar em ideias tão simplistas na construção da satisfação emocional e achar que apenas um modelo estático pode trazer essa felicidade, mas assim como apontado no filme devemos entender que cada pessoa vive um processo diferente, e buscar a cada dia mais nos afastar da ideia de que existe um modelo de relacionamento ideal e até mesmo de um momento ideal para entrar em um relacionamento, o que precisamos fazer é sempre levar em consideração que cada pessoa possui uma história de vida diferente, logo cada um terá processos diferentes.

Essa mudança de pensamento vem a partir das nossas reflexões sobre a realidade e a flexibilidade dos conceitos a nós apresentados ao decorrer da vida, por isso precisamos refletir sobre a rigidez dos padrões a nós apresentados e abrir portas para novos modelos de realidade.

 

 

 

 

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O Gato de Botas 2 e a representação do Puer Aeternus

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Cena de Gato de Botas 2: O Último Pedido. Foto: Universal Pictures/DreamWorks Animation. All Rights Reserved. © 2022

O Gato de Botas, originalmente publicado no século XVII, em 1697, pelo escritor e poeta francês Charles Perrault, é um conto que traz como personagem um esperto gato que ajuda seu dono a ter sucesso na vida.  Nesta versão cinematográfica, o estúdio da DreamWorks Animation apresenta uma adaptação do conto que vive uma nova aventura no universo Shrek quando o ousado gato fora-da-lei descobre que sua paixão pelo perigo e desrespeito pela segurança terão consequências.

O protagonista vive uma vida de prazeres, festas, bebedeiras, exibicionismo, aventuras perigosas, sem maiores preocupações, e está cada dia num lugar diferente. Expressa uma falsa humildade ao cantar “quem é o herói mais destemido”, só fazia o que lhe era conveniente, inconsequente, já que ele mesmo dizia: “Eu rio na cara da morte”, se autointitula “eterno 9 vidas”. Essas características e estilo de vida se assemelham muito com o arquétipo que Carl Jung denominou de puer aeternus, ou seja, a eterna criança.Von Franz (2005), grande continuadora do trabalho de Jung, explica que se trata de um deus da vida, da morte e da ressurreição — o deus da juventude divina.

Ao receber a notícia do médico de que tinha morrido e, constatar que esta era sua última vida, ele se revolta e saudosamente evoca lembranças nas quais se nomeia “amado por todos, mas ninguém específico”, justamente porque não se aprofunda nas relações, não se apega a nada, nem a ninguém, não tem e nem deseja ter um porto seguro. Apesar dele não perceber e justificar dizendo que “não consegue escolher uma pessoa só”. Esses comportamentos expressam muitas características do Puer que é inconstante com seus interesses, não conseguem se encaixar num trabalho, firmar compromissos, aprofundar relações.

Para fugir da morte iminente, representada por um lobo que o perseguia, ele vai em busca de um lar estável e com uma vida cotidiana em que a rotina é algo muito presente. Justamente a rotina e monotonia, da qual o Puer foge, concluindo que aquela não é a vida que ele queria ou procurava e, que no passado, nos tempos áureos de juventude, aí sim tudo era perfeito. Ideia esta que reforça mais ainda sua recusa em envelhecer e aposentar as botas.

Em outra cena bastante simbólica do filme, Gato de Botas enterra as roupas e espada que o caracterizavam como o herói de outrora. Na cena do sepultamento ele está sozinho e chora pelo que foi um dia. Lamenta o fim de uma vida com liberdade e sem nenhum limite, pois acredita que sua história chegou ao fim e nada mais pode ser feito, porque está velho. Até que conhece um amigo diferente nessa casa em que está. Uma amizade inusitada inicia-se com Perrito, um jovem cão, que insiste em manter uma amizade com o Gato, mesmo este fazendo questão de se manter distante e declarar que o “o gato de botas só anda sozinho”, mais uma vez demonstrando outra característica do Puer que não conseguem estabelecer relações a longo prazo e estão sempre em busca de coisas novas.

Ao descobrir uma forma de encontrar uma Estrela dos Desejos – uma espécie de lâmpada mágica que realiza qualquer desejo – Gato de Botas e Perrito partem para uma aventura em busca do que ele enxerga ser a panacéia para driblar a morte e “recuperar” sua juventude. No entanto, a jornada já vem cobrando o preço das vidas superficiais e inconsequentes vividas pelo personagem. O mapa para chegar até este lugar se adapta conforme a visão do personagem e para o que ele precisa, afinal, cada um viveu a vida de um jeito e precisa se defrontar com desafios diferentes. Representando com excelência o caminho da individuação, o qual é pessoal, profundo e com o preço das escolhas feitas ao longo da caminhada.

No caminho do Gato de Botas o mapa aponta para situações muito simbólicas como o Beco da Incineração – em que ele se depara com todas as vidas que displicentemente queimou -, o Vale das Almas Perdidas – no qual ele fica diante de todos os outros “eus” que ele foi, e o Barranco Matador –  onde ele encara e duela diretamente com a morte. Ilustrando didaticamente o que Von Franz, 2005 diz que o indivíduo identificado com esse complexo não vive suas experiências totalmente, permanece “inocente”, porque vive as experiências sem estar realmente nelas.

Para o indivíduo sequestrado por este complexo, a felicidade está atrelada à uma fantasia de prazer eterno, por isso não cria raízes em lugar nenhum e está sempre em busca de algo novo que o divirta. Ele nega a passagem do tempo e em algum momento a vida cobra essa conta tornando-se insustentável esse modo pueril de vida. Neste momento, então, o Puer entra em crise, não tendo um ego fortalecido torna-se impossível sustentar uma crise, podendo assim apresentar quadros ansiosos e/ou depressivos. Como apresentado por Gato de Botas ao descobrir que não há prazer eterno e que a morte chega para todos.

No decorrer da sua caminhada, o gato se vê diante da necessidade de ter humildade para pedir ajuda e explicar o que quer, afinal, antes ele esperava ser convencido e paparicado para conseguir o que ele mesmo precisava. O Puer Aeternus geralmente possui grandes dificuldades de adaptação a situações sociais, pois ele possui um individualismo anti-social devido ao fato de se sentir alguém especial. Von Franz explica que ele não sente necessidade de adaptar-se, pois as pessoas têm que adaptar-se a um gênio como ele (VON FRANZ, 2002).

Outra expressão característica do Puer é o “Don Juanismo” em que eles sonham eternamente sonha com a mulher maternal que o tomará nos braços e realizará todos os seus desejos. Isto é frequentemente acompanhado pela atitude romântica da adolescência, o homem identificado com esse complexo só relaciona com uma mulher de forma a buscar uma substituta da mãe. Von Franz esclarece que ele não quer uma mulher, mas alguém que cuide dele com amor maternal, pois o homem dominado por esse complexo é dependente da mãe. Sintoma este claramente notado no protagonista que, numa determinada cena, se apaixona novamente por Kitty quando ela maternalmente cuida da barba branca dele.

Gato de Botas também se depara com situações inacabadas do passado, em que já havia abandonado Kitty, sua ex-parceira e atual inimiga, no altar. Apesar de muita resistência e dificuldade, percebeu a necessidade de pedir desculpas a ex-parceira que também estava no caminho em busca da Estrela dos Desejos. Astutamente, Kitty rebate dizendo que não foi abandonada no altar porque ela também não foi ao próprio casamento, já que sabia que não poderia competir com o verdadeiro grande amor do Gato de Botas: ele mesmo! Kitty percebeu esse predicado comum aos Puers, o ego inflado e a crença de que merecem tudo fácil.

A caminhada não acaba por aí, e, paulatinamente, vai transmutando o ego do protagonista que está constantemente com medo, saudosista, recordando os dias de glória. O último “desafio” intitulado de Barranco Matador se dá  no confronto com a morte que o desafia a encará-la de frente e o provoca perguntando se ele vai escolher o caminho dos covardes e fugir para ter mais vidas ou se vai lutar com coragem, convidando assim o protagonista a abandonar a neurose infantil de viver “vidas provisórias”, como nomeou H. G. Baynes.

Em uma carta, Jung escreve sobre o Puer (2005):

“Considero a atitude do puer aeternus um mal inevitável. O caráter do Puer Aeternus é de uma puerilidade que deve ser de algum modo superada. Sempre leva-o a sofrer golpes do destino que mostram a necessidade de agir de maneira diferente. Mas a razão não consegue nada nesse sentido, porque o Puer Aeternus não assume responsabilidade por sua própria vida”.

Jung sugere como cura, tanto para a mulher quanto para o homem, o trabalho. No caso da mulher, pode também ser através da maternidade.

Caminhando para a reta final da sua jornada, Gato de Botas finalmente encara seu medo e aceita o duelo, momentos antes da luta o conteúdo do seu imaginário muda substituindo o passado que ele julgava glorioso pela vida atual que ele estava vivendo no presente, ou seja, todo o caminho de individuação que ele percorreu junto com Kitty e Perrito. Finalizando magistralmente com o manejo sugerido por Jung como cura deste complexo: o estabelecimento de compromissos, o cumprimento de rotinas, a dedicar à um trabalho ou à alguém. E o protagonista decide seguir a vida ao lado de Kitty pata mansa e Perrito, sem pedir mais vida e tratando a última que lhe resta de modo mais profundo e especial.

Cena de Gato de Botas 2: O Último Pedido.
Foto: Universal Pictures/DreamWorks Animation. All Rights Reserved. © 2022
Cena de Gato de Botas 2: O Último Pedido.
Foto: Universal Pictures/DreamWorks Animation. All Rights Reserved. © 2022

Referências

FRANZ, M.-L. V. Puer Aeternus- A luta do adulto contra o paraìso da infância

. 4. ed. São Paulo: Paulus, v. 1, 2011.

GRINBERG, L. P. Jung e os arquétipos: arqueologia de um conceito. In: CALLIA, M.; FLEURY DE OLIVEIRA, M. Terra Brasilis: Pré-história e arqueologia da psique. São Paulo: Paulus, 2006. p. 99-123.

HILLMAN, J. O livro do Puer: ensaios sobre o Arquétipo do Puer Aeternus. São Paulo: Paulus, 2008.

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Sete Crimes Capitais: a psicopatia de um criminoso astuto

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Filmes policiais sempre são aclamados pelo público em geral da cultura cinematográfica. Abordar a trama violenta, investigativa, psicológica e até cômica deste universo é sempre possível e aproveitável.

É inegável a fonte quase inesgotável de conteúdos que podem ser aproveitados por este gênero, principalmente dada a capacidade humana de sempre inovar e acentuar os piores traços de um indivíduo de mente perturbada.

Filmes desse gênero que abordam temas específicos como canibalismo (já sabem de qual estou falando, né?) ou psicopatia, são sempre aguardados com grande euforia pelo público e não poderia ter sido diferente com o clássico dos anos 1995, Sete Crimes Capitais (Seven), dirigido por David Fincher e roteirizado pelo incrível Andrew Kevin Walker.

O filme, que na tradução do título entregou boa parte da trama, discorre sobre um assassino em série, com fortes traços de psicopatia que possui um modus operandi peculiar, por assim dizer. Seus crimes e suas vítimas são escolhidas especificamente para identificar e classificar cada um dos conhecidos sete pecados capitais.

O filme tem como personagens principais o policial novato David Mills (Brad Pitt) e o veterano William Somerset (Morgan Freeman). William, um policial próximo de sua aposentadoria se torna parceiro do jovem e impetuoso David na investigação de uma série de crimes que tem ocorrido na cidade, cometidos pelo impetuoso John Doe (Kevin Spacey).

Fonte: Divulgação Prime Vídeo

Como descrito no texto Seven, “os sete crimes capitais” de David Fincher, a mente do psicopata, de Mercês Muribeca, publicado em 2008, John é uma pessoa que não apresenta indícios de sociabilidade, sendo considerado como portador de um Transtorno de Personalidade Antissocial que, pela Classificação Internacional de Doenças (CID) é identificado com o CID 10 F60.

Uma pessoa portadora deste Transtorno não necessariamente será um assassino frio e calculista, porém, a junção com outros transtornos, traumas e distúrbios criam a “formula perfeita” de um Assassino em Série sagaz como John.

A intelectualidade de John não é ignorada, assim como seu modo de operação é definido pelos pecados capitais, a escolha das vítimas e a execução dos crimes, tudo possui um significado intrínseco.

Os crimes são cometidos na seguinte ordem: Gula; Cobiça; Preguiça; Luxúria; Vaidade; Inveja e, por fim; Ira. A cadeia de eventos que se arrasta do primeiro ao último assassinato investigado apresenta a mente doentia de John para os policiais e para o público.

A trama principal do filme é desenvolvida após a quinta morte cometida por John. Ao se entregar para a polícia e informar que já possuía os corpos das vítimas que seriam utilizadas para cometer os últimos dois crimes (Inveja e Ira).

Fonte: Divulgação Prime Vídeo

Tudo ocorre repentinamente e cria uma atmosfera sombria e intensa onde todos os poros dos personagens transpiram o furor das emoções presenciadas. Em um ato cruel, John ceifou a vida da esposa do policial Mills, decapitando-a e, cruelmente, entregando a cabeça de sua falecida esposa para o agora viúvo policial.

John explica que cometeu o Pecado da Inveja, por invejar a vida do Policial Mills, principalmente por saber que este seria pai. Apesar de insano, o psicopata já havia se premeditado para aquele momento, pois, ao final, escolhera Mills para ser o executor do Pecado da Ira ao criar neste um turbilhão de emoções relacionadas ao Luto, perda, dor, ódio, rancor, insignificância. Tudo isso para preparar o campo ideal e Mills executar o último dos crimes.

Mills se vê diante de uma dúvida mortal, impedir a “conclusão da obra” do assassino ou vingar a perda de sua esposa e filho. O parceiro de Mills tenta dissuadi-lo de sua Ira, porém, John havia sido mais astuto e criado o cenário ideal para o desfecho perfeito de suas atrocidades e acaba sendo morto pelo policial Mills que não consegue controlar a Ira que residia em seu corpo.

O filme traz diversas mensagens que podem ser aproveitadas e estudadas até os tempos atuais. O clássico nunca será esquecido e criou um marco na história dos filmes do gênero policial dada a complexidade e riqueza do roteiro que é apresentado. A atuação dos atores é impecável, mostrando uma fidedignidade e realismo na incorporação dos personagens.

Título: Se7en (Original)

Ano produção: 1995

Dirigido por: David Fincher

Duração: 130 minutos

Classificação: 14 anos

Gênero: Policial/Suspense

País de Origem: Estados Unidos da América

REFERÊNCIAS

PENALVA, Nanna. Análise | Seven – os sete crimes capitais. Disponível em https://sessaodastres.wordpress.com/2018/10/29/analise-seven-os-sete-crimes-capitais/. acessado em 01 jun 2022.

MURIBECA, Mercês. Seven, “os sete crimes capitais” de David Fincher: a mente do psicopata. Cogito, Salvador, v. 9, p. 77-81, 2008. Disponível em <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1519-94792008000100017&lng=pt&nrm=iso>. acessos em  08  jun.  2022.

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Uma Mente Brilhante – quando a loucura inspira a genialidade

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Muitas figuras da história da humanidade que mudaram o curso social com descobertas, invenções, ou mesmo criando arte, possuíam algum tipo de transtorno ou distúrbio mental que foi adquirido ou herdado e desenvolvimento no ambiente que se cercava.

Várias destas personalidades já serviram de conteúdo para criação de obras cinematográficas que narraram suas histórias mostrando um pouco de suas contribuições para a sociedade e características particulares de cada indivíduo.

Alan Turing é um dos recentes exemplos de pessoas que mudaram os rumos da humanidade, mas que em sua vida particular possuía condições que não eram bem vistas (até mesmo consideradas crimes) pela sociedade.

Assim como a homossexualidade de Turing, famosos possuem características peculiares, doenças e transtornos como todo ser humano é passível de sofrer. Isso não foi diferente com o matemático John Nash que além de grande estudioso era esquizofrênico.

Fonte: encurtador.com.br/goFGW

Nash teve sua história de vida narrada no filme Uma Mente Brilhante (2001), dirigido por Ron Howard. O filme narra o início da vida de John (Russell Crowe), com suas descobertas brilhantes que são atrapalhadas pelos seus comportamentos controversos.

Quando ainda não possuía o diagnóstico de sua esquizofrenia, Nash era considerado como insano, muitas vezes até tido como louco, por ser incompreendido, acabara sendo afastado do meio em que atuava. Somente após anos de tratamento é que consegue dar a volta por cima e retornar à sociedade e conquistar o tão sonhado prêmio Nobel.

A esquizofrenia representada no filme é uma expressão fiel do que a maioria dos portadores desta doença têm de conviver constantemente. Os episódios de psicose e alucinações, quando não tratados e medicamentados, são frequentes nos portadores da esquizofrenia, mas, assim como outros indivíduos que são considerados gênios em suas respectivas áreas, tal doença é tida como um fator crucial para sua visão única do mundo, assim como foi com Van Gogh que teve o reconhecimento de sua genialidade post mortem.

O esquizofrênico é um ser normal que possui condições cerebrais distintas de um indivíduo considerado comum, o homem médio, porém, somente será um risco social ou para si quando não diagnosticada ou não houver o respectivo acompanhamento médico.

Título: A Beautiful Mind (Original)

Ano produção: 2001

Dirigido por: Ron Howard

Duração: 134 minutos

Classificação: 12 anos

Gênero: Drama

País de Origem: Estados Unidos da América

REFERÊNCIAS

CAIXETA, C. A. D.; NOGUEIRA, E. M.; SABIÃO, R. M. ANÁLISE DO FILME UMA MENTE BRILHANTE: as perturbações da esquizofrenia. Psicologia e Saúde em debate[S. l.], v. 5, n. Suppl.1, p. 6–6, 2019. Disponível em: http://psicodebate.dpgpsifpm.com.br/index.php/periodico/article/view/483. Acesso em: 14 jun. 2022.

Silva, Regina Cláudia Barbosa da. Esquizofrenia: uma revisão. Psicologia USP [online]. 2006, v. 17, n. 4 [Acessado 14 Junho 2022] , pp. 263-285. Disponível em: <https://doi.org/10.1590/S0103-65642006000400014>. Epub 30 Set 2010. ISSN 1678-5177. https://doi.org/10.1590/S0103-65642006000400014.

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O Lado bom da vida – Vícios, depressão e ‘bipolarismo’

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03O lado bom da vida é um filme que retrata a vida do jovem Pat Solitano Jr. (Bradley Cooper) que é diagnosticado com transtorno bipolar na vida adulta após ter presenciado um episódio de infidelidade com sua companheira Nikki (Brea Bee) e, por isso, acaba sendo preso por agressão.

Pat é uma pessoa extremamente explosiva, que busca encontrar meios de se ressocializar para reconquistar sua esposa que havia pedido medidas protetivas contra ele.

Ronnie (John Ortiz) é um grande amigo de Pat e por isso marcou um jantar em sua casa onde introduziu Pat para sua também amiga Tiffany Maxwell (Jennifer Lawrence), e ambos têm momentos intensos dada as condições emocionais de cada um.

Tiffany havia perdido seu companheiro e, por esta razão, estava em uma situação delicada, entrando em relacionamentos abusivos de homens oportunistas. Pat, por sua vez, vivencia um momento de extrema contenção de seus impulsos, de modo que ele sofre e acaba extravasando em vários momentos com seus amigos e familiares, inclusive, tendo uma briga calorosa com seu pai (vias de fato) por conta de um surto em que acabou machucando sua mãe acidentalmente.

Fonte: encurtador.com.br/dkzZ3

O pai de Pat, o Sr. Pat (Robert De Niro), é um apostador compulsivo e por diversas vezes demonstrou sinais de que seu vício em apostas prejudicou o lar, inclusive com prejuízos astronômicos e sempre culpou seu filho Pat pelos maus resultados que obtinha em suas apostas.

O bipolarismo de Pat Jr. é bem perceptível, vez que este oscila constantemente entre o maníaco e o melancólico. Nos momentos em que o personagem sofre com as cartas de sua companheira até o ápice revelador de um amor oculto que Pat sentia por Tiffany que se mostrou um apoio extremamente importante para o personagem obter a melhora necessária para seguir com sua vida.

A mensagem do filme é de uma superação inigualável de uma pessoa que sofreu desde sua infância com um transtorno desconhecido, além de um que demonstrou um comportamento obsessivo por apostas e que o culpava quando perdia suas riquezas em jogos de futebol.

O final do filme apresenta um novo Pat Jr. que consegue superar o amor por sua ex-companheira e se declara para seu novo amor, que se mostrou mais sintonizado com este que sua antiga parceira jamais fora.

Título: Silver Linings Playbook (Original)

Ano produção: 2012

Dirigido por: David O. Russell

Duração: 122 minutos

Classificação: 12 anos

Gênero: Comédia Romântica – Drama

País de Origem: Estados Unidos da América

REFERÊNCIAS

ALDA, Martin. Transtorno bipolar. Brazilian Journal of Psychiatry [online]. 1999, v. 21, suppl 2 [Acessado 2 Março 2022] , pp. 14-17. Disponível em: <https://doi.org/10.1590/S1516-44461999000600005>. Epub 04 Out 2000. ISSN 1809-452X. https://doi.org/10.1590/S1516-44461999000600005.

ZANIN, Carla Rodrigues e VALERIO, Nelson Iguimar. Intervenção cognitivo-comportamental em transtorno de personalidade dependente: relato de caso.Rev. bras. ter. comportamento. cogno. [on-line]. 2004, vol.6, n.1, pp. 81-92. ISSN 1517-5545.

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Amnésia: uma vida sem futuro

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Todo fã de filmes “cult” já assistiu ou ouviu falar do clássico Amnésia (Memento), lançado em 2001, uma obra cinematográfica dirigida por Christopher Nolan. O filme tem como história central a vida de Leonard Shelby (Guy Pearce), um Investigador de uma Companhia de Seguros que fora vítima de um assalto onde acabou perdendo sua esposa e sofrendo um traumatismo em seu cérebro que acabou lhe causando a chamada amnésia anterógrada, situação que lhe impede de criar novas memórias após o evento traumático.

Apesar da sua condição, Leonard desenvolve um método próprio para recordar dos eventos recentes. Ele faz anotações importantes em seu corpo, além de viver tirando fotografias com anotações para poder se recordar das coisas que sua memória não armazena.

A obra trata a história de forma bastante interessante, onde os momentos são divididos em preto e branco e outros coloridos. Os eventos em preto e branco são imediatamente após o acidente, ou seja, o passado do personagem, já os eventos coloridos começam com o desfecho da história e vão sendo retroagidos até se conectarem com o passado.

Leonard procura o algoz de sua esposa, por essa razão, dada a importância desta missão, ele tatuou em seu corpo todas as principais informações que possuía sobre o caso. Como ele próprio diz, as lembranças não são confiáveis, podem ser modificadas, os fatos são reais e imutáveis. E assim ele vai, dia após dia, buscando o máximo de informações possíveis para garantir a vingança de sua amada esposa.

Fonte: encurtador.com.br/qzH39

A ideia de memorizar as informações se dá por conta de um caso em que Leonard trabalhou como investigador, o caso o Sr. Sammy Jankis (Stephen Tobolowsky), que sofrera um acidente e acabou se tornando incapaz de armazenar qualquer informação por um período não superior a alguns minutos.

A condição mental do Leonard, como é visível no filme, não prejudicou seu discernimento, tampouco suas capacidades de deduções e interpretações das situações que experimenta. Além disso, Leonard desenvolveu uma incrível capacidade de criar novos hábitos, repetindo sempre determinados movimentos para que assim possa se guiar com a sua nova condição física.

A trama do filme, que apesar de antigo, não será tão facilmente entregue, se dá em uma confusão de histórias que o personagem tem com a do caso Sammy, como dito memórias não são confiáveis, os fatos são.

Casos de amnésia anterógrada, apesar de incomuns, ocorrem por todo o globo, pessoas que sequer lembram-se de ter tomado banho ou escovado os dentes, mesmo tendo acabado de fazê-lo. Sammy, a pessoa que Leonard tanto falava, acabou não conseguindo o seguro que deseja da empresa de Lenny. O caso de Sammy é extremamente importante para o desfecho da história.

Fonte: encurtador.com.br/przE6

Leonard toda vez narrava que Sammy sofrera um acidente de carro com sua esposa e por esta razão acabara perdendo a capacidade de armazenar novas memórias, com isto, Lenny sempre dizia que submeteu Sammy a diversos testes e, pois, acreditava que com as repetições de algumas situações, Sammy começaria a mudar suas escolhas e hábitos (este ponto é evidente quando ocorre a eletrificação de objetos que Sammy devia escolher).

No final, Leonard encerra essa história dizendo que negou o pedido de Sammy em razão dos problemas sofridos por estes eram da esfera psicológica e não estaria protegido pelo seguro. O fim da vida de Sammy é de que, uma vez, sua esposa querendo testar realmente sua memória, pediu para que ele aplicasse duas doses de insulina em um único dia, o que acabou levando-a a óbito.

O filme guarda grandes reviravoltas que até hoje são incríveis de se assistir e tentar compreender a complexidade da obra, dado que o fato da amnésia ser o epicentro de tudo, isso acaba ofuscando outras condições que o personagem possa vir a carregar consigo.

O filme apresenta que, apesar de tudo, Leonard só conseguirá se lembrar das coisas que anota, ou seja, mesmo que tivesse sua vendeta, somente saberia se tivesse um registro disso. Esse fato é comprovado em dois momentos cruciais.

Fonte: encurtador.com.br/lAKR5

Em determinado momento, Leonard tem uma discussão pesada com Natalie (Carrie-Anne Moss) que esconde todas as canetas disponíveis na casa e após ofende Leonard de todas as formas possíveis, inclusive sua falecida esposa. Leonard perde o controle e acaba agredindo Natalie e ela sai do recinto por alguns momentos – tempo suficiente para a memória de Leonard ser “resetada”.

Após isto, Natalie entra novamente na casa e cria uma nova história e, dada a condição de Leonard este acaba acreditando em sua palavra.

Um ponto interessante sobre a trama é que Leonard nunca diz há quanto tempo perdera sua esposa, ou apresenta maiores fatos sobre o episódio, somente se agarra um desejo insaciável de vingança que nunca será suprida.

Outro momento em que é perceptível que Leonard não possui a capacidade de armazenar memória é no último ato do filme (que também é o primeiro). Lenny discute calorosamente com Teddy, seu amigo policial que, desde o começo do filme, é apresentado para o público como o principal suspeito da morte de sua esposa.

No momento dessa briga, Leonard havia acabado de matar um traficante de drogas, achando que este era o seu alvo, Jimmy (Larry Holden), porém, quando Teddy lhe conta a dura verdade sobre seu caso e condição e a morte de sua esposa, Leonard não acredita nele e constrói uma nova narrativa pois estava ciente que no momento seguinte não recordaria de mais nada e “poderia” confiar nos fatos que havia registrado.

Por fim, mesmo sem ter conhecimento, Leonard acaba matando Teddy, cena apresentada no primeiro ato, achando ter conseguido alcançar sua vingança. É impressionante a forma que a amnésia anterógrada é abordada, a riqueza de detalhes comportamentais de uma pessoa vítima desta condição é fidedignamente representada.

Os aspectos jurídicos da conduta de Leonard são outro assunto, mas, fica a questão, ao manipular sua própria memória, Leonard apresentou um comportamento narcisista e homicida, sedento de vingança e que nunca estaria realmente satisfeito com a verdade pura e simples como alegava estar.

Ficha Técnica

Título: Memento (Original)

Ano produção: 2001

Dirigido por: Christopher Nolan

Duração: 116 minutos

Classificação: 16 anos

Gênero: Mistério – Filmes Noir – Suspense

País de Origem: Estados Unidos da América

REFERÊNCIAS

OLIVEIRA, Analucy Aury Vieira De. Perfil neuropisológico de uma amostra de voluntários sadios e de idosos e diagnosticados com a doença de alzheimer em Palmas-TO. 2012. Universidade de Brasilia. Disponível em <https://repositorio.unb.br/bitstream/10482/11233/1/2012_AnalucyAuryVieiradeOliveira.pdf> acesso em 25 mar 2022.

OLIVEIRA, Maria Gabriela Menezes; BUENO, Orlando F. A.. Neuropsicologia da memória humana. Psicol. USP,  São Paulo ,  v. 4, n. 1-2, p. 117-138,   1993 .   Disponível em <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1678-51771993000100006&lng=pt&nrm=iso>. acesso em  25  mar.  2022.

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Gênio indomável – a genialidade sufocada pelos traumas

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Gênio Indomável (Good Will Hunting) é uma obra de arte sem precedentes. Lançado em 1997, o filme tem como personagem principal o hoje renomado ator Matt Damon no papel de Will Hunting. Além de Damon, outros nomes de pesos são Ben Affleck (Chuckie Sullivan) e Robin Williams (Sean Maguire).

O filme aborda a vida do humilde Will, um rapaz que leva uma vida simples, fazendo coisas simples, sendo mais um na multidão de todos que vivem na grande Boston.

Will é apresentado quase como um “faz-tudo”, possui empregos distintos e nunca busca chamar a atenção, inclusive como um mecanismo de defesa, dada sua história. Acontece que Will é, por eufemismo da palavra um gênio da matemática. Tudo isso fica nítido quando este estava realizando a limpeza do Instituto de Tecnologia de Massachusetts e resolveu uma questão matemática deixado pelo professor de Pós-graduação, Professor Gerald Lambeau (Stellan Skarsgárd), para que seus alunos resolvessem, mas quem acaba desvendando é o próprio Hunting.

Intrigado, o Professor Gerald começa a observar o jovem rapaz e percebe um comportamento nada adequado a sua genialidade. Will, apesar de brilhante, vivia se metendo em encrencas, brigas e problemas além da conta, por último entrou em uma briga e acabou agredindo um policial e foi determinada sua prisão com fiança estipulada em US$ 50,000.00 (cinquenta mil dólares).

Fonte: encurtador.com.br/kuCP5

Gerald então resolve intervir, buscando reingressar o jovem rapaz em uma nova vida, porém o jovem apresenta diversos gatilhos defensivos resultantes de traumas da sua infância e com isso busca diversas ajudas com terapeutas, mas todos desistem do caso, até que reencontra seu velho amigo Sean, que decide ajudar com o tratamento de Will.

Sean tem diversos embates confrontando Will, que demonstra uma extrema dificuldade em se abrir, de aceitar que as pessoas entrem na sua vida.

Tudo é demonstrado no final do filme quando Will conta que sofria agressões do seu padrasto na infância, dizendo para escolher entre os objetos que seriam utilizados para apanhar. Sean tem um diálogo muito duro com Will, onde é dito repetida vezes que não era culpa do Will tudo que aconteceu com ele na infância, o momento é de grande impacto para Will, sendo o momento de quebrantamento das barreiras do jovem e seu ponto de ignição para uma vida melhor.

O filme reflete a realidade vivenciada por diversas pessoas, especialmente no Brasil, que sofreram com o estresse pós-traumático e situações críticas na infância o que impede assim destas pessoas de alcançarem seu potencial máximo.

Gênio Indomável, como dito é uma obra prima cinematográfica que demonstra uma superação de uma pessoa traumatizada que, mesmo sendo um gênio, tinha um extremo medo de se abrir.

Ficha Técnica

Título: Good Will Hunting

Ano produção: 1997

Dirigido por: Gus Van Sant

Duração: 126 minutos

Classificação: 16 anos

Gênero: Drama

País de Origem: Estados Unidos da América

REFERÊNCIAS

BATISTA, Alícia; FAVORETTO, Bruna; TIEPPO, Lucas. Resenha crítica do filme “gênio indomável”. Disponível em <https://februtieppo.blogspot.com/#:~:text=Como%20visto%2C%20%E2%80%9CG%C3%AAnio%20Indom%C3%A1vel%E2%80%9D%20trabalha%20em%20torno%20do,vazio%2C%20n%C3%A3o%20sabe%20como%20lidar%20com%20seus%20sentimentos.> acesso em 26 mar 2022.

HABIGZANG, Luísa Fernanda et al. Avaliação psicológica em casos de abuso sexual na infância e adolescência. Psicologia: Reflexão e Crítica [online]. 2008, v. 21, n. 2 [Acessado 31 Março 2022] , pp. 338-344. Disponível em: <https://doi.org/10.1590/S0102-79722008000200021>. Epub 01 Out 2008. ISSN 1678-7153. https://doi.org/10.1590/S0102-79722008000200021.

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Beleza Oculta: amor, tempo e morte

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O filme Beleza Oculta do diretor David Frankel, estreou no Brasil no ano de 2017, e sua história traz uma reflexão profunda questões que são fundamentais para a vida humana tais como: vida, amor e tempo.

O filme narra a estória de Howard, personagem de Will Smith, um profissional que exerce função de líder de motivacional para seus funcionários em sua empresa de publicidade. Uma das cenas iniciais do filme, Howard verbaliza a seguinte “ansiamos pelo amor, gostaríamos de ter mais tempo, e tememos a morte”.

Após a cena inicial, o filme mostra Horward em um momento de vida totalmente diferente, demonstrando-se desconectado da realidade que vive, aparentando uma certa desordem, tanto em relação ao profissional quanto pessoal, devido a perda de sua filha (Olívia) com 6 anos em consequência de uma doença rara.

A trama traz também outros personagens além de Howard, os 3 (três) amigos e sócios da agência de publicidade Claire (Kate Winslet), Simon (Michael Peña) e Whit (Edward Norton) que passam por dificuldades financeiras, em consequência da gestão de Howard após a perda da filha. O enredo conta ainda com Madeline (Naomi Harris) a ex-esposa de Howart, todos os personagens possuem uma singularidade com relação as questões do amor, tempo e morte.

Fonte: encurtador.com.br/lnEL3

Certamente amor, tempo e morte são os temas que permeiam o enredo do filme, tais abstrações são destacadas no filme como sendo as que conectam todos os seres humanos. Cabe aqui destacar o tema da morte que enquanto finitude está presente na morte de Olivia, na possibilidade de morte de Simon em decorrência da doença que o acometia, é presente ainda na possibilidade de falência da empresa de Howart, a morte está presente ainda na finitude da carreira da atriz que sonhava estrelar um grande papel e não conseguia mais visualizar esta oportunidade com o passar dos anos de sua vida.

A morte que faz com que Howard e Madelaine fiquem imersos a grande sofrimento em consequência da perda da filha (Olivia), no entanto, cada um deste vivencia o acontecimento de maneira singular, a mãe (Madeline) buscar participar de eventos com outras pessoas que passam por momentos de perdas, e esta consegue falar sobre sua perda, o pai (Howard) por sua vez, encara com o fechamento para o mundo. Diante dessa cena retratada no filme, infere-se que “a disposição intima corresponde, pois, a complexo funcional tão definido quanto a disposição externa” (STEIN, p. 119). Ainda de acordo com o autor citado, da mesma forma que “se nota a falta de uma disposição intima típica nos casos em quem os processos interiores são negligenciados, também uma disposição típica externa faz falta nos que constantemente ignoram o objeto exterior, as realidades dos fatos”.

Fonte: encurtador.com.br/lnEL3

Aos poucos e com a ajuda da ex-esposa Howard consegue falar sobre sua perda, mas segundo ele, ainda é difícil falar sobre o que passou. Assim como é difícil participar de grupos de apoio, pois ele simplesmente não quer verbalizar sua grande perda. É emocionante as falas do personagem. E quanto mais os amigos, a esposa, Amor, Tempo e Morte, se ocupavam e interagiam com ele, Howard pôde deixar seu estado de solidão e apatia para trás. Ele passou a frequentar o grupo terapêutico, interagir novamente com Madeline, expressar seus sentimentos reprimidos por Amor, Tempo e Morte, lidar com as responsabilidades de seu trabalho. E tudo isso permitiu-lhe atravessar os estágios do luto, encontrando uma nova forma de viver mais conectado ao mundo, contemplando a Beleza Oculta.

O filme “beleza oculta”, é uma obra riquíssima em detalhes que pode ser analisada de diversas perspectivas, pois aborda questões da vida humana que são tidas como centrais em diversas ciências, principalmente a filosofia que tem profunda influência nas demais ciências incluindo a psicologia.

Ficha técnica

Data de lançamento: 26 de janeiro de 2017

Duração: 1h 37min

Gênero: Drama

Direção: David Frankel

Roteiro Allan Loeb

Elenco: Will Smith, Edward Norton, Keira Knightley, Michael Peña, Naomie Harris, Jacob Latimore, Kate Winslet, Helen Mirren.

REFERÊNCIAS

BELEZA OCULTA.  Direção de David Frankel. País: Estados Unidos da America: Distribuição: Netflix, 2016. 1 DVD (1h 34min.).

STEIN, M. Jung – O mapa da alma. São Paulo: Cultrix, 2006.

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Hometown Cha-Cha-Cha: sobre trauma, simplicidade, cura e rede de apoio

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Série sul-coreana retrata de uma forma calorosa o recomeçar, as formas das quais uma pessoa lida com seus traumas, e a criação de novos laços.

Você está destinada a encontrar situações inesperadas na sua vida. Mesmo que você use um guarda chuva, você vai acabar encharcada. Só coloque suas mãos pra cima e dê boas vindas à chuva (Hong Du Sik)

Fonte: encurtador.com.br/myA09

Esse texto contém spoilers sobre a série e o final de alguns personagens, então tenha cuidado ao ler caso não goste de spoilers e essa série esteja na sua lista de para assistir.

Hometown Cha-Cha-Cha é uma série sul-coreana que foi lançada em Agosto de 2021, exibida no canal coreano TVN e distribuída internacionalmente pela Netflix. Com uma história contada de forma sensível, acolhedora e divertida, o k-drama foca na adaptação de uma dentista de Seul que se muda para o interior, para abrir uma clínica e um faz-tudo (literalmente) que viveu a sua vida inteira nesse vilarejo.

Yoon Hye Jin (Shin Min-a) é uma mulher adulta, dentista que perdeu a sua mãe quando era jovem. Ela atende em uma clínica popular de Seul, porém ao entrar em conflito com a sua chefe antiética (que fazia procedimentos nos pacientes sem necessidade, e cobrava a mais pelos procedimentos), ela pede demissão e vai parar em Gongjin, um vilarejo à beira do mar. O vilarejo é de certa forma significativo para Hye Jin, já que ela costumava ir lá com os seus pais antes de sua mãe morrer. Ela decide abrir uma clínica lá, como uma forma de ganhar dinheiro e ter independência empregatícia.

Já em Gongjin, Hong Du Sik (Kim Seon-Ho) é literalmente um faz-tudo no vilarejo, e possui licença para praticar quase todas as funções possíveis (desde barista à engenheiro). Extremamente atencioso, principalmente com os idosos, Du Sik trabalha ajudando todos do vilarejo, e tira folga um dia por semana. Du Sik foi abandonado pelos seus pais e criado por seus avós, mas um dia durante a sua infância o avô dele acaba falecendo e Du Sik se culpa pelo resto da vida por ter perdido.

Na análise do comportamento, nossos comportamentos são ditados por regras, contingências e consequências. De acordo com De-Farias (2010) e Skinner (1969/1984), regras são estímulos discriminativos verbais que descrevem ou especificam uma contingência. Contingências são relações do tipo “se… então…”.

Hong Du Sik, ao perder seu avô e ser abandonado pelos seus pais, desenvolve um repertório de contingências que representa um padrão de fuga de emoções e de se ter uma real proximidade com alguém através de qualquer tipo de amor. Se ele amar alguém, então essa pessoa definitivamente irá morrer ou irá abandoná-lo. Essa contingência se intensifica quando, ao já estar emocionalmente envolvido com Hye Jin, sua avó Kim Gam Ri morre dormindo. Du Sik é mais uma vez atingido pelo luto e suas contingências de abandono se intensificam.

Como telespectadores, é claro para nós que estamos de fora o quão distorcida a realidade é através das autorregras e contingências de Du Sik.

Um dos pontos mais calorosos sobre a série se trata dos moradores do vilarejo. Um trio de senhoras idosas (em que uma delas inclui sua avó) que ao mesmo tempo que demonstram sua idade e conhecimento, são como três melhores amigas adolescentes. Um cantor que só fez sucesso com uma música, e sua filha fã de um grupo de k-pop (grupo do qual mais tarde vai gravar um programa de TV no vilarejo). Uma mãe divorciada do seu marido que é prefeito do vilarejo, no qual ambos possuem uma amiga que na verdade é apaixonada pela mãe divorciada, quebrando assim estereótipos de heterossexualidade e nos apresentando de uma forma quase dolorosa a realidade de muitas mulheres lésbicas maduras. O melhor amigo de Du Sik e sua esposa que está grávida do segundo filho, da qual se sente negligenciada pelo marido por estar grávida e não ser tão bonita como antes.

Fonte: encurtador.com.br/bdmvB

A série é a demonstração mais clara de quão importante é uma rede de apoio. Cada personagem apresentado, mesmo que seja apenas por alguns minutos de cada episódio, serve como apoio para o outro ao praticar cuidados e atenciosamente ajudar uns aos outros a superar seus traumas e dificuldades. Du Sik, sendo o ponto em comum em todos eles ou não, tem dificuldade em aceitar apoio da sua rede quando está em sofrimento, mas aos poucos compreende que sozinho não consegue lidar com tudo, da mesma forma que as pessoas que ele ajuda.

“Você pode chorar se quiser. Deve ter sido tão difícil pra você. Você deve ter escondido a dor tão profundamente. Você carregou um fardo tão pesado. Você pode se sentir triste quando estiver comigo. Você pode me mostrar a sua dor. Você pode chorar.” (Yoon Hye Jin)

O drama nos faz refletir nos traumas e nos efeitos deles no presente, da mesma forma em que nos trás o calor ao ver o funcionamento de uma rede de apoio funcional, além de relacionamentos familiares funcionais e disfuncionais que refletem a realidade em uma abordagem não punitiva e não agressiva.

REFERÊNCIAS

Análise comportamental clínica: aspectos teóricos e estudos de caso. Ana Karina C. R. de-Farias & colaboradores. Porto Alegre : Artmed, 2010.

Hometown Cha-Cha-Cha: Série sul-coreana de drama aposta na simplicidade e serendipidade. Disponível em: <http://www.benoliveira.com/2022/01/hometown-cha-cha-cha-serie-coreana-drama-simplicidade-serendipidade.html>. Acesso em 26 de Fev. de 2022.

HOMETOWN CHA-CHA-CHA | ANÁLISE PSICOLÓGICA – YouTube. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=X7Y5M-gwcEc>. Acesso em 26 de Fev. de 2022.

The Best Quotes From The Korean Drama, ‘Hometown Cha-Cha-Cha’. Disponível em: <https://www.cosmo.ph/entertainment/hometown-cha-cha-cha-best-quotes-a4575-20211024>. Acesso em 26 de Fev. de 2022.

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